Pb Francisco Barbosa [@pbassis]
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TEXTO ÁUREO
“E perseveravam na
doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.”
(At 2.42).
Entenda o Texto Áureo:
- Esse versículo é muito mais do que uma descrição histórica da
Igreja Primitiva; ele é um manifesto divino de como o céu desce à terra quando
o povo de Deus se alinha ao padrão apostólico original. A palavra grega
traduzida por “perseveravam” é proskarteréo (προσκαρτερέω), que carrega a ideia
de uma constância resoluta, intensa devoção e apego contínuo, mesmo diante de
oposição, não é uma simples frequência dominical, mas uma fidelidade fervorosa
e teimosa a quatro pilares espirituais que sustentam toda igreja viva:
doutrina, comunhão, ceia e oração. A doutrina (didachē, διδαχή), aqui, não é
teórica, mas uma transmissão viva da verdade revelada ensinada pelos apóstolos
é o eco da voz de Cristo nos púlpitos, nos lares e nos corações. A comunhão (koinonia)
é mais do que convivência: é participação sacrificial na vida do outro, uma
mutualidade ungida pelo Espírito, como descreve Amos Yong: “O Espírito constrói
uma comunidade onde o dom do outro é essencial para o crescimento de todos.” O
partir do pão não se reduz à Ceia, mas evoca uma mesa carregada de significado
escatológico e memorial, um altar cotidiano onde o Cordeiro é celebrado e a
unidade é reafirmada. E a oração (proseuchai), no plural, aponta para uma vida
saturada de intercessão, súplica e comunhão vertical com o Deus que age
poderosamente. Como afirma Antônio Gilberto, “a igreja que ora é a igreja que
permanece.” O erro comum de hoje é admirar esse texto como ideal, mas não imitá-lo
como modelo. Poucos percebem que Atos 2.42 é a resposta de Deus para tempos de
frieza, superficialidade e perseguição: uma igreja inflamada por uma doutrina
viva, unida por laços de sangue e oração, imersa numa espiritualidade robusta.
Aplicação urgente: restaure essas quatro colunas em sua vida e ministério, e o
fogo de Pentecostes queimará de novo.
VERDADE PRÁTICA
A Igreja de Jerusalém, como igreja-mãe, tornou-se exemplo
para as demais. Um modelo a ser seguido por todas as igrejas verdadeiramente
bíblicas.
Entenda a Verdade Prática:
- A Igreja de Jerusalém não foi apenas a primeira, foi o
padrão eterno: uma comunidade firmada na Palavra, unida em comunhão, viva na
oração e centrada em Cristo. Sua estrutura não era institucional, mas
espiritual. Por isso, toda igreja verdadeiramente bíblica deve olhar para ela
como espelho e se perguntar: estamos vivendo como Atos 2.42 ou apenas
funcionando? Ser igreja é voltar ao modelo original, doutrina viva, comunhão
sincera, adoração partilhada e oração constante. Onde isso existe, o Espírito
Santo se move com liberdade e poder.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 2.37-47.
37. Ouvindo eles isto, compungiram-se
em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos,
varões irmãos?
- Compungiram-se em seu coração. Sentiram uma profunda convicção
de pecado por haverem crucificado o Messias prometido, e reconheceram sua
necessidade de salvação. Que faremos? É a pergunta que nasce
de um coração verdadeiramente tocado pelo Espírito Santo. Esta pergunta leva à
ação prática e ao arrependimento genuíno.
38. E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos,
e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados,
e recebereis o dom do Espírito Santo.
- arrependei-vos. A palavra grega para “arrepender-se” (metanoeō)
significa mudar de mente e direção. Envolve uma mudança radical no interior do
coração e na conduta exterior. E cada um de vós seja batizado. O
batismo, aqui, é o passo subsequente ao arrependimento. Não é a causa do
perdão, mas o sinal externo da salvação interna. E recebereis o dom do Espírito
Santo. A promessa do batismo no Espírito Santo é para todo crente
genuíno, não apenas para os apóstolos. O dom do Espírito é uma experiência
distinta da conversão, como mostram os capítulos seguintes de Atos.
39. Porque a promessa vos diz respeito
a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus,
nosso Senhor, chamar.
- A promessa é universal, mas condicionada ao arrependimento e à fé
em Cristo. Envolve os filhos (descendência), os que estão longe (gentios) e todos
quantos Deus chamar.
40. E com muitas outras palavras isto
testificava e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.
- Salvai-vos desta geração perversa. Pedro exorta a uma separação
radical dos valores e do estilo de vida ímpios do mundo. Essa separação é marca
distintiva da santidade cristã.
41. De sorte que foram batizados os que
de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três
mil almas.
- Os que de bom grado receberam a palavra foram batizados. Houve uma resposta
voluntária e imediata. Quase três mil almas. Demonstra o
poder do Espírito na evangelização. O Espírito Santo convence o mundo do pecado
(Jo 16.8).
42. E perseveravam na doutrina dos
apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.
- Este versículo descreve quatro marcas essenciais da igreja cheia do
Espírito:
1. Doutrina dos apóstolos:
ensino fiel e fundamentado.
2. Comunhão:
relacionamento espiritual e fraternal.
3. Partir do pão:
referência à Ceia do Senhor.
4. Orações: vida devocional
e dependência de Deus.
Essas práticas indicam uma igreja equilibrada, saudável e espiritual.
43. Em cada alma havia temor, e muitas
maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.
- Temor. reverência santa diante da presença manifesta de Deus. Muitas
maravilhas e sinais. as manifestações do Espírito não cessaram após o
Pentecostes, mas continuaram entre os crentes.
44. Todos os que criam estavam juntos e
tinham tudo em comum.
, A igreja primitiva praticava a generosidade radical e espontânea,
não por imposição, mas por amor. Isso revela uma comunidade verdadeiramente
cheia do Espírito, com compaixão prática e unidade profunda.
45. Vendiam suas propriedades e
fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade.
46. E, perseverando unânimes todos os
dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza
de coração,
- Perseverando unânimes. havia constância e unidade de propósito.
De
casa em casa, os crentes mantinham uma vida espiritual ativa e
relacional, além dos encontros no templo.
47. louvando a Deus e caindo na graça
de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se
haviam de salvar.
- Louvando a Deus. o louvor era uma marca contínua da igreja. Caíam
na graça de todo o povo. a igreja vivia de forma tão impactante e
coerente que até os de fora reconheciam sua beleza. O Senhor acrescentava à igreja.
o crescimento da igreja era obra direta de Deus, e não de métodos humanos.
Os versículos de Atos 2.42,47 formam um modelo bíblico para a igreja cheia
do Espírito, demonstrando:
1. Fidelidade
doutrinária,
2. Comunhão real,
3. Vida devocional
profunda,
4. Amor prático,
5. E crescimento
espiritual e numérico dado por Deus.
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INTRODUÇÃO
Por ser a Igreja-mãe, Jerusalém torna-se o modelo para as
demais igrejas que foram implantadas. É de Jerusalém que partem as decisões que
buscam, por exemplo, disciplinar e padronizar determinadas práticas cristãs. A
igreja de Jerusalém já nasce forte! Sendo de origem divina, cheia do Espírito Santo
e supervisionada pelos apóstolos, essa igreja é bem alicerçada. Isso fica claro
no ministério da Palavra, a quem os apóstolos se devotaram inteiramente e ao
exercício dos diversos dons que abundavam no seu meio. É, portanto, uma igreja
da Palavra e do Espírito. E mais — é uma igreja onde a observância das
ordenanças de Cristo é praticada na esfera do culto cristão. Assim, a igreja
cristã primitiva exibe marcas que se tornaram um padrão para todas as igrejas
em todas as épocas e lugares.
- A Igreja em Jerusalém não foi apenas a primeira, ela
foi o modelo. Como igreja-mãe, serviu de referência para as demais comunidades
cristãs que surgiriam. É dali que fluem as primeiras decisões pastorais e
doutrinárias, como vemos no concílio descrito em Atos 15, onde se buscou a
unidade do corpo de Cristo diante de práticas controversas. Mas o que fazia
dessa igreja um exemplo? Sua força não vinha de estrutura humana, mas de sua
origem divina. Ela nasce no fogo do Pentecostes, cheia do Espírito, debaixo da
autoridade apostólica e centrada na Palavra. Desde o início, vemos uma
comunidade que respira a presença de Deus. Os apóstolos, profundamente
comprometidos com o ensino das Escrituras, se dedicavam com exclusividade ao
ministério da Palavra e à oração (At 6.4). Isso não era mero academicismo, era
uma prática espiritual vital. A Palavra era o fundamento, e o Espírito Santo, a
fonte da vida. Craig Keener observa que “a devoção dos apóstolos ao ensino e à
oração reflete uma igreja moldada tanto pela revelação quanto pela comunhão
sobrenatural”¹.
O que mais impressiona é o equilíbrio saudável entre Palavra e Espírito. Não há
dicotomia entre teologia e experiência. A igreja de Jerusalém é profundamente
doutrinária e intensamente carismática. Os dons do Espírito fluíam com liberdade
e reverência, e havia uma clara ênfase na obediência às ordenanças de Cristo,
como o batismo (At 2.41) e a ceia (At 2.42,46). A expressão usada em Atos 2.42,
“perseveravam na doutrina dos apóstolos”, no original grego é proskarteréo
(προσκαρτερέω), que carrega a ideia de dedicação constante, firmeza incansável.
Não era algo ocasional, mas o ritmo natural de uma Igreja enraizada em Cristo. Essa
igreja primitiva se tornou o padrão. Não por imposição institucional, mas por
encarnar uma vida cristã autêntica. Como afirma o pastor Antônio Gilberto, “a
Igreja primitiva era uma comunidade de fé, de poder e de ação, profundamente
centrada na pessoa de Cristo, sustentada pela doutrina e impulsionada pelo
Espírito”².
O que vemos em Jerusalém é o retrato de uma Igreja viva, bíblica, espiritual e
missional. Hoje, em qualquer lugar onde a Igreja busca ser fiel à Escritura,
aberta ao mover do Espírito, comprometida com a adoração verdadeira e com a
vida em comunhão, o modelo de Jerusalém continua vivo. Que nós, como mestres e
alunos da Palavra, sejamos inspirados a seguir esse padrão com o mesmo fervor,
a mesma fidelidade e o mesmo poder._______________
1. KEENER,
Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento: Atos dos Apóstolos. Vol. 1. Rio
de Janeiro: CPAD, 2014.
2. GILBERTO,
Antônio. O Perfil da Igreja que Deus Abençoa. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
Palavra,Chave: MODELO
- O termo "modelo" tem origem no italiano
"modello", derivado do latim vulgar "modellus", que por sua
vez vem de "modulus", um diminutivo de "modus",
significando medida.
1. Imagem, desenho ou
objeto que serve para ser imitado (desenhando ou esculpindo).
2. Molde, exemplar.
3. [Figurado] Coisa ou
pessoa que é ou merece ser imitada. = EXEMPLO
_______________
"modelo",
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008,2025,
https://dicionario.priberam.org/modelo.
I. UMA IGREJA COM SÓLIDOS ALICERCES
1. Uma igreja com
fundamento doutrinário. A igreja de Jerusalém era uma igreja bem doutrinada. Lucas
diz que, antes de ascender aos céus, Cristo deu “mandamentos, pelo Espírito
Santo, aos apóstolos que escolhera” (At 1.2). Uma igreja genuinamente cristã
reflete a prática e os ensinos dos apóstolos. É exatamente isso o que o livro
de Atos diz da primeira igreja: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At
2.42). Uma igreja só pode ser considerada genuinamente cristã quando ela
consegue ensinar e doutrinar seus membros de tal forma que eles passem a
refletir o caráter de Cristo.
- A Igreja em Jerusalém não foi construída sobre
estruturas visíveis, mas sobre um fundamento invisível e inabalável: a doutrina
apostólica viva. Não era teoria engessada. Era ensino encarnado, ministrado por
homens que haviam andado com o Cristo ressurreto e agora estavam cheios do
Espírito Santo. Em Atos 2.42, Lucas utiliza o verbo grego proskarteréō
(προσκαρτερέω), que carrega a ideia de uma perseverança intensa, quase
obstinada, na didachē (διδαχή) a doutrina. Não uma doutrina fria, acadêmica,
mas a verdade que molda o coração, que forma o caráter e gera transformação
real. Essa solidez doutrinária não veio de manuais ou tratados sistemáticos,
mas do próprio Jesus, que, segundo Atos 1.2, instruiu os apóstolos "pelo
Espírito Santo". Isso revela que a teologia da Igreja nascente era, desde
o início, pneumática (inspirada e capacitada pelo Espírito), cristocêntrica
(centrada na obra redentora de Cristo) e prática (voltada para a vida e a
missão da Igreja). A igreja nasce, assim, no meio de um fervor escatológico
judaico, mas responde não com especulações, e sim com a proclamação ousada de
um Reino presente, real e centrado em Jesus. O que tornava aquela Igreja
admirável não era o número de conversões — embora elas fossem notáveis —, mas a
firmeza no ensino. Como bem afirma Gordon D. Fee: “A teologia em Atos é tanto
narrativa quanto normativa; é uma doutrina vivida no poder do Espírito.”¹
Doutrina e experiência não se opõem, se completam. Uma igreja que não doutrina,
deforma. Uma igreja que não ensina, enfraquece. Por isso, tudo girava ao redor
da Palavra: a comunhão, a ceia, a oração, a missão — todas essas práticas
fluíam de um eixo comum: o ensino apostólico. Hoje, infelizmente, vemos muitas
igrejas fascinadas por crescimento, visibilidade e inovação, mas que
negligenciam o ensino sólido. O resultado? Comunidades repletas de consumidores
religiosos, mas carentes de discípulos moldados à imagem de Cristo. A seguir, John
MacArthur propõe um alerta com precisão: “Quando a doutrina é diluída para
agradar, o Evangelho deixa de ser transformador e passa a ser decorativo.”² A
doutrina apostólica não era apenas uma série de ideias organizadas, era a
explicação fiel da obra de Cristo, guiada pelo Espírito e aplicada à vida da
Igreja. Ensinar a doutrina é, na prática, formar Cristo em cada crente, até que
todos cheguemos à “medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13). Isso exige
mestres bem preparados, púlpitos fiéis e igrejas comprometidas com o discipulado
profundo. E aqui cabe uma pergunta sincera e urgente: a igreja que frequentamos
tem uma espinha dorsal doutrinária saudável? Há um ensino sistemático,
cristocêntrico, coerente? Os crentes estão sendo moldados ou apenas entretidos?
Se a resposta preocupa, então é hora de restaurar, urgentemente, a centralidade
da Palavra, do ensino bíblico e do discipulado que transforma. Igrejas
doutrinariamente firmes são, invariavelmente, espiritualmente fortes._______________
1.
FEE, Gordon D. Paulo, o Espírito
e o Povo de Deus. São Paulo: Vida, 1996.
2.
MACARTHUR, John. O Pastor como
Teólogo. São José dos Campos: Fiel, 2019.
2. “Perseveravam na
doutrina dos apóstolos” (At 2.42). A expressão diz muito sobre o processo de discipulado da
igreja de Jerusalém. Era uma igreja bem doutrinada, e, portanto, bem
discipulada. A palavra “doutrina” traduz o termo grego didaché, que significa
“ensinar” e “instruir”. Tem a ver, portanto, com o discipulado cristão. O
discípulo é alguém que consegue reproduzir, isto é, levar adiante o que
aprendeu de seu Mestre. Os apóstolos aprenderam de Cristo; a igreja cristã
primitiva aprendeu dos apóstolos e agora vivia isso a fim de transmitir a
outros o que aprendeu. A tragédia da igreja acontece quando ela não consegue
ser discipulada, nem tampouco discipular.
- “Perseveravam
na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Essa curta declaração de Lucas é mais
do que um detalhe histórico, é uma radiografia precisa da saúde espiritual da
igreja em Jerusalém. A palavra usada para "doutrina", didachē
(διδαχή), carrega um sentido que vai muito além de conteúdo teológico; ela
aponta para um processo contínuo de formação espiritual, vivo, encarnado e
transmissível. Em outras palavras, a doutrina ali não era só ensinada, era
vivida. Nesse contexto, discipulado não era um curso de integração para novos
membros, mas um estilo de vida. A doutrina apostólica era absorvida com
reverência, praticada com fidelidade e transmitida com exatidão. Havia uma
cadeia de discipulado, dos apóstolos aos crentes, dos crentes uns aos outros,
que mantinha a integridade da fé sem deformações. Os apóstolos não formavam
frequentadores, formavam discípulos. E, como destaca Robert P. Menzies, “a
igreja cheia do Espírito é uma comunidade de ensino, o Espírito e a Palavra
operam juntos para formar discípulos de Jesus.”¹ Essa fidelidade doutrinária
funcionava como uma ponte sólida entre o Cristo histórico e a Igreja presente.
Gordon D. Fee afirma com precisão: “a fidelidade doutrinária é a ponte entre o
Cristo histórico e a igreja atual.”² Sem essa ponte, o colapso é inevitável. E não é
isso que temos visto em muitos contextos? Igrejas que tentam evangelizar sem
ensinar, converter sem discipular, crescer sem moldar caráter. O resultado é
preocupante: fé rasa, crentes frágeis e um cristianismo diluído. Precisamos
entender: didachē não diz respeito apenas ao que se ensina, mas a como se vive
o que se ensina. Discipulado autêntico é mais do que transferência de
conhecimento, é formação de identidade cristã. A Palavra, quando recebida com o
auxílio do Espírito, transforma cada área da vida. Como ensinou o saudoso
pastor Antônio Gilberto: “doutrina não é uma ideia fria; é a vida de Cristo
sendo moldada no coração do discípulo.”³ Esse trecho de Atos 2.42 é um chamado urgente
para reavaliarmos o processo de ensino em nossas igrejas. O conteúdo que está
sendo ministrado está formando Cristo nos discípulos ou apenas informando sem
transformar? Os líderes que se levantam são frutos de discipulado profundo ou
de treinamentos rápidos e superficiais? Se o discipulado morre, a Igreja se
torna apenas um ajuntamento sem identidade. O caminho de volta está claro:
restaurar a centralidade da doutrina apostólica, reviver o discipulado
relacional e formar uma geração que saiba viver, encarnar e transmitir o
Evangelho com fidelidade, poder e paixão._______________
1. MENZIES, Robert P. Empowered for Witness: The
Spirit in Luke,Acts. London: T&T Clark, 2004.
2. FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People
of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.
3. GILBERTO, Antônio. A Doutrina do Espírito Santo.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
3. Uma igreja
relacional e piedosa. A igreja de Jerusalém perseverava na “comunhão” (At 2.42).
A maioria dos intérpretes entende que a palavra grega koinonia, traduzida aqui
como “comunhão” é uma referência às relações interpessoais dos primitivos
cristãos. A primeira igreja era, portanto, uma igreja relacional. Assim,
perseverar na comunhão tem o sentido de “se dedicar” à construção de bons
relacionamentos. Tem a ver com o modo de vida dos crentes. Sem o cultivo de
relações interpessoais fortes, a igreja cai em um mero ativismo. Há muita
atividade, mas sem o calor humano que caracteriza a verdadeira vida cristã. A
mesma igreja que perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão era a
mesma igreja que vivia em oração (At 2.42). A igreja de Jerusalém orava! Assim,
Pedro e João foram ao templo na hora nona de oração (At 3.1); os apóstolos
estabeleceram como prática dedicar-se à oração (At 6.4) e a Igreja reunida na
casa de Maria, mãe de Marcos, se dedicava à oração (At 12.5).
- A Igreja de Jerusalém não apenas ensinava a verdade,
ela a vivia intensamente, em profunda comunhão e oração fervorosa. O termo
grego koinōnia (κοινωνία), usado em Atos 2.42, vai muito além de simples
amizade ou socialização. Ele aponta para uma partilha radical da vida, dos
recursos, da fé e do coração. Cada membro se entendia como parte indispensável
de um só corpo, não como um frequentador individual, mas como um participante
ativo de uma comunidade viva. Como define French L. Arrington, “a koinonia da
igreja primitiva era um reflexo do próprio relacionamento trinitário, uma
unidade dinâmica em meio à diversidade.”¹ Perseverar na comunhão não era um acessório
devocional, era uma necessidade espiritual. Sem vínculos reais, a doutrina se
torna teórica; sem afetos cristãos, o culto vira performance. A comunhão era
piedosa porque nascia de um povo que orava. E a oração (proseuchē, προσευχή),
longe de ser formalidade, era o oxigênio da fé cristã. A igreja orava no templo
(At 3.1), nas casas (At 12.5), em tempos de perseguição (At 4.24,31) e como
prioridade ministerial (At 6.4). Isso revela uma verdade profunda: quanto mais
se ora, mais se ama; quanto mais se ama, mais se intercede. Como bem disse
Frank D. Macchia, “o Espírito Santo forma uma comunidade orante onde a presença
de Deus é experimentada no meio do povo.”² Infelizmente, em nossos dias, vemos muitas
igrejas que priorizam agendas e programas, mas negligenciam relacionamentos e
intercessão. O ativismo substitui o afeto. O culto se enche de tarefas, mas esvazia-se
de toques espirituais. E aqui está o problema: há oração sem comunhão (fria) e
comunhão sem oração (frágil). Ambas são incompletas. A igreja de Jerusalém nos
ensina que comunhão e oração caminham juntas e sustentam, invisivelmente, tudo
o que é visível. Koinōnia, no Novo Testamento, também envolve “participação em
algo sagrado”. Gordon Fee observa que, para Paulo, a comunhão cristã é
“compartilhamento na graça, no sofrimento, na missão e no Espírito”³, não
uma conexão casual, mas um pacto espiritual com implicações eternas. Por essa
razão, é urgente a necessidade de restaurar esse eixo fundamental. Algumas
ações podem nos levar de volta ao padrão de Atos:
a) Redescobrir o poder das relações intencionais e da
oração constante.
b) Criar grupos que não apenas ensinem, mas conectem.
c) Estimular uma cultura de intercessão mútua: onde orar
um pelo outro seja o normal.
d) Encorajar os membros a orarem juntos: nas casas, nos
bastidores, antes e depois dos cultos.
Lembre-se: igrejas frias têm
eventos, igrejas vivas têm encontros. Igrejas mornas têm programações, igrejas
piedosas têm oração. Se queremos viver como Atos, precisamos orar como Atos,
juntos, sempre, com fervor. A verdadeira comunhão começa quando Deus é colocado
no centro da mesa._______________
1.
ARRINGTON, French L. Unidade na
Diversidade: A Teologia da Comunhão no Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD,
2003.
2.
MACCHIA, Frank D. Baptized in the
Spirit: A Global Pentecostal Theology. Grand Rapids: Zondervan, 2006.
3.
FEE, Gordon D. Paul, the Spirit,
and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.
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SINOPSE I
A igreja de Jerusalém tinha como
característica a perseverança na doutrina, comunhão e oração. Isso fazia dela
uma igreja piedosa.
AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO
“A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS [...] COMUNHÃO [...]
O PARTIR DO PÃO [...] ORAÇÕES. Hoje em dia, muitas igrejas desejam seguir o
modelo da igreja do Novo Testamento, esperando vivenciar o mesmo poder,
crescimento e eficácia que ela teve. Esta passagem nos proporciona uma visão
geral das características que permitiram que a igreja do Novo Testamento
vivenciasse o milagroso poder de Deus (v.43) e um crescimento consistente
(v.47). O que é admirável é que essas características eram bastante simples e
práticas. (1) A doutrina dos apóstolos (v.42a). Os primeiros cristãos eram
profundamente devotados à mensagem de Cristo. [...]; (2) Comunhão (gr.
koinōnia; v.42b). Os seguidores de Deus na igreja primitiva não somente eram
dedicados ao seu relacionamento básico e predominante com Deus, como também
estavam comprometidos em construir relacionamentos abertos, honestos e
espiritualmente encorajadores com o povo de Deus [...]; (3) O partir do pão
(vv.42c,46). Esta expressão poderia se referir, simplesmente, às refeições
feitas nas casas, uns dos outros [...] (ou) à refeição do amor ágape (veja 1Co
11.21, nota), ou à Ceia do Senhor (isto é, à comunhão) propriamente dita. [...]
(4) Oração (v.42d; cf. 1.14; 4.23,31). A oração era, claramente, uma grande
prioridade e uma parte vital da vida da igreja primitiva” (Bíblia de Estudo
Pentecostal — Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p.1932).
II. UMA IGREJA OBSERVADORA DOS SÍMBOLOS CRISTÃOS
1. O Batismo. Após o primeiro sermão do apóstolo
Pedro na igreja de Jerusalém, e como resposta a uma pergunta, ele disse ao
povo: “arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo
para perdão dos pecados” (At 2.38). Naquela época, a primeira igreja batizava
quem se convertia. Ela sabia que o batismo era uma das ordenanças de Jesus e
que ele era um dos principais símbolos da fé cristã (Mc 16.16). O batismo era
um dos primeiros passos da fé cristã, um rito de entrada para a nova vida em
Cristo. Mas para ser batizado, a pessoa precisava ter se arrependido dos seus
pecados e crido em Jesus. Era preciso ter consciência do sentido desse símbolo
de fé. Assim, o batismo era um testemunho público de que a pessoa havia se
convertido. Por meio dele, os cristãos de Jerusalém mostravam ao mundo que sua
vida agora era diferente, que eles tinham uma nova vida em Cristo.
- A Igreja de Jerusalém compreendia com clareza que o
batismo não era um mero ritual, mas uma poderosa declaração pública de fé e
arrependimento. Em Atos 2.38, Pedro, cheio do Espírito Santo, convoca a
multidão com uma ordem inequívoca: “arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados.” O verbo grego
baptisthētō (βαπτισθήτω), no imperativo passivo, carrega o peso de um
mandamento divino, não de uma sugestão opcional. O batismo era a resposta
visível a uma fé autêntica e a um arrependimento verdadeiro (metanoeō,
μετανοέω). Como afirma Craig S. Keener, “o batismo em Atos é inseparável da fé
e do arrependimento, ele selava a conversão com testemunho público e identidade
comunitária.”¹ A
Igreja primitiva era diligente em batizar logo após a profissão de fé. Para
eles, o batismo era o selo externo da regeneração interna (Tt 3.5). Não era
tratado como um evento administrativo, mas como parte inseparável do
discipulado. Era obediência visível à ordem de Jesus (Mc 16.16), um símbolo
poderoso de morte com Cristo, sepultamento e ressurreição para uma nova vida
(Rm 6.3,4). Como afirma Anthony D. Palma: “para os primeiros cristãos, o
batismo não era um acessório da fé, mas sua expressão natural e esperada.”² Infelizmente,
em muitos contextos atuais, o batismo foi reduzido a uma formalidade litúrgica
ou a um marco social. Pior: em algumas igrejas, batizam-se pessoas sem
arrependimento genuíno, sem discipulado, sem sequer compreender o Evangelho.
Isso enfraquece o testemunho e esvazia o símbolo. O batismo sem fé viva é como
um selo em um contrato inexistente. Uma igreja que banaliza seus símbolos perde
sua voz profética. O batismo, para a Igreja em Jerusalém, era também uma
confissão de risco. Ser batizado epi tō onomati Iēsou (ἐπὶ τῷ ὀνόματι Ἰησοῦ) <<
“em nome de Jesus” >> era declarar publicamente fidelidade a um Messias
rejeitado. Em um contexto hostil e religioso, isso exigia coragem, ruptura e
convicção. Como destaca Gordon D. Fee, “o batismo cristão em Atos é carregado
de significado escatológico e comunitário, uma inserção pública no povo do
Messias.”³ Não era um passo neutro —
era um grito de pertencimento, um sinal de nova identidade. O batismo marcava o
fim de uma velha vida e o início de uma nova caminhada sob o senhorio de
Cristo. Por isso, ele era celebrado com urgência, reverência e alegria. Hoje,
mais do que nunca, precisamos resgatar o batismo como discipulado visível.
Ensinar com profundidade antes de batizar, exigir arrependimento real,
discipulado sério e clareza de fé. Celebrar o batismo como ele merece: com
solenidade, alegria e compromisso. Uma igreja viva não apenas realiza batismos,
ela forma discípulos que vivem o que professam e professam o que vivem. O
batismo é o primeiro grito público da nova criatura, e esse grito deve ecoar
com convicção, clareza e poder._______________
1.
KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary.
Grand Rapids: Baker Academic, 2012.
2.
PALMA, Anthony D. A Obra do Espírito Santo.
Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
3.
FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The Holy
Spirit in the Letters of Paul. Peabody: Hendrickson, 1994.
2.
A Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor é a outra ordenança dada por Jesus e que
foi observada pela igreja de Jerusalém. “E perseveravam... no partir do pão”
(At 2.42). A maioria dos estudiosos concorda que esse texto é uma referência à
prática da Ceia do Senhor entre os primeiros cristãos. Donald Gee, um dos
principais mestres do pentecostalismo britânico, disse que, quando tomada
corretamente, a Ceia leva a Igreja ao próprio coração de sua fé; ao próprio
centro do Evangelho; ao objeto supremo do amor de Deus. Portanto, quão
abençoado é esse “partir do pão”! Parece provável que os primeiros cristãos,
combinando essa ordenança simples com a “festa do amor” de sua refeição comum,
lembravam assim a morte do Senhor “todos os dias” (At 2.42,46).
- A expressão “e perseveravam... no partir do pão” (At
2.42) vai muito além de uma referência a refeições comunitárias, ela carrega o
peso sagrado da Ceia do Senhor, praticada com frequência e profundidade pela
Igreja de Jerusalém. O termo grego κλάσει τοῦ ἄρτου (klasei tou artou) revela
uma ação litúrgica e simbólica, não apenas social. Era o momento em que a
comunidade se reunia em torno da cruz, para lembrar, com reverência, o
sacrifício vicário de Cristo. Como afirma Donald Gee, “quando celebrada
corretamente, a Ceia leva a Igreja ao próprio coração de sua fé, ao centro do
Evangelho e ao objeto supremo do amor de Deus.”¹ Para a igreja primitiva, a Ceia
não era um evento esporádico, mas uma parte viva da espiritualidade comunitária
e escatológica. Era memorial, mas também antecipação. Em cada pedaço de pão e
cálice compartilhado, a Igreja celebrava a cruz, experimentava a graça e
apontava para o banquete final. A Ceia era cristocêntrica, cheia de sentido
teológico, onde o pão partido tornava visível a graça invisível. Frank D.
Macchia observa: “a Ceia do Senhor é um sacramento do Espírito, ela renova a
comunidade, une os irmãos e aponta para o banquete final no Reino de Deus.”² Essa
prática se integrava às ágapes, as festas do amor, revelando que o Evangelho é
celebrado à mesa: com simplicidade, comunhão, reverência e unidade. Não havia
separação entre mesa e altar, entre comunhão fraterna e culto. Tudo era um. A
Ceia unia o partir do pão com a partilha da vida. Entretanto, muitos hoje
tratam a Ceia como um ritual engessado, relegado a domingos específicos, sem
ensino, sem exame do coração, sem discernimento do corpo. Isso esvazia sua
força formativa e espiritual. Como Paulo adverte (1Co 11.27,30), tomar da Ceia
sem discernimento espiritual traz consequências reais, espirituais, físicas e
comunitárias. É fundamental lembrar que o partir do pão era, para a Igreja de
Atos, um ensaio do céu. Cada Ceia era uma lembrança do passado, uma experiência
no presente e uma esperança do porvir. Gordon D. Fee afirma: “a Ceia é o
momento em que a Igreja experimenta novamente a presença do Cristo crucificado
e ressuscitado, no poder do Espírito.”³ Ou seja, é mais do que um memorial, é um
encontro. Um altar de renovação, arrependimento e esperança. Por isso, urge
restaurar o valor da Ceia do Senhor como parte essencial da vida e culto
cristão. Isso inclui:
• Ensinar com profundidade o seu significado bíblico.
• Preparar espiritualmente os corações para recebê-la.
• Celebrá-la com reverência, alegria e consciência.
• Torná-la um momento de unidade, não apenas um item da liturgia.
Uma igreja que parte o pão
com entendimento, parte da cruz com poder. Onde a Ceia é honrada, a cruz ensanguentada
é central, e onde a cruz é central, Cristo é exaltado, a fé é fortalecida e o
Espírito age com liberdade._______________
1. GEE, Donald. The Fruit of the Spirit. London:
Gospel Publishing House, 1942.
2. MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A
Global Pentecostal Theology. Grand Rapids: Zondervan, 2006.
3. FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People
of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.
SINOPSE II
Na igreja de Jerusalém, os
símbolos essenciais da fé cristã, o Batismo e a Ceia do Senhor, eram
reverentemente observados.
III. UMA IGREJA MODELO
1. Uma igreja
reverente e cheia de dons. É dito da igreja de Jerusalém: “Em cada alma havia temor”
(At 2.43). A palavra grega traduzida como “temor” é phóbos, que também
significa “reverência, respeito pelo sagrado”. Havia um forte sentimento da
presença de Deus! Havia um clima da presença do sagrado, do que é santo, o
mesmo sentido que teve Moisés quando o Senhor o mandou tirar os sapatos dos pés
porque o lugar “é terra santa” (Êx 3.5). Precisamos aprender com a primeira
igreja! Não podemos perder o respeito pelo sagrado. Lucas destaca que “muitas
maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). “Sinais (gr. Téras) e
maravilhas (gr. Sémeion)” são as mesmas palavras usadas pelo apóstolo Paulo
para se referir aos dons do Espírito Santo que se manifestavam em suas ações
missionárias (Rm 15.19). Os dons espirituais ornamentavam a igreja cristã
primitiva.
- A igreja de Jerusalém era, por excelência, uma
comunidade onde o céu tocava a terra — marcada pela reverência profunda e
pelo mover abundante dos dons espirituais. Em Atos 2.43, Lucas declara: “Em
cada alma havia temor” e o termo grego phóbos (φόβος) aqui não
sugere pânico, mas reverência consciente, santa inquietação diante da
presença manifesta de Deus. Era o mesmo sentimento de Moisés diante da
sarça ardente (Êx 3.5): um reconhecimento visceral de que Deus estava ali. A
espiritualidade daquela igreja não era ruidosa por fora e vazia por dentro, mas
cheia de temor, cheia de glória, cheia de Deus. Como afirmou Amos Yong,
“onde há temor reverente, há espaço para o Espírito agir com liberdade e
ordem.”¹ A reverência não anulava o
poder, ela o canalizava. Lucas prossegue dizendo: “Muitas maravilhas e
sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). As palavras gregas usadas são sēmeia
(σημεῖα, sinais) e terata (τέρατα, prodígios), frequentemente ligadas ao
exercício dos dons espirituais. Esses sinais não eram pirotecnia espiritual,
mas testemunhos visíveis do Reino irrompendo na história. Os apóstolos,
como vasos de barro cheios do Espírito, manifestavam curas, libertações e
milagres como extensão da autoridade de Cristo. Como observa Frank D. Macchia:
“os sinais e maravilhas na igreja primitiva eram sacramentos do Reino,
vislumbres do mundo vindouro no presente.”²
Hoje, muitas igrejas querem os dons sem a reverência, ou a reverência sem os
dons. Umas buscam o poder, mas perdem o temor. Outras prezam pela ordem, mas
sufocam o Espírito. Esse desequilíbrio gera igrejas frias ou desordenadas. A
igreja modelo é aquela que une temor e poder, reverência e manifestação,
santidade e autoridade. O temor do Senhor era o “solo sagrado” onde os dons
floresciam. Não havia show, nem manipulação, nem banalização do sagrado. Como
aponta French L. Arrington, “o ambiente do temor é o ambiente da verdadeira
manifestação do Espírito, os dons fluem onde Cristo é honrado e o Espírito é
reverenciado.”³
O que ornamentava a igreja primitiva não eram estruturas, mas o Espírito
Santo derramado com liberdade, entre um povo que sabia que estava em terreno
santo. Onde há temor e fé, os céus se abrem, os dons se manifestam e a
igreja se torna o que nasceu para ser: um povo cheio de glória, santidade e
poder.
_______________
1.
YONG, Amos. Renewing the
Church through the Holy Spirit: Pentecostal Ecclesiology and the Renewal of the
Church. Grand Rapids: Baker Academic, 2000.
2.
MACCHIA, Frank D. Baptized in
the Spirit: A Global Pentecostal Theology. Grand Rapids: Zondervan, 2006.
3.
ARRINGTON, French L.; STRONSTAD,
Roger. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de
Janeiro: CPAD, 2003.
2. Uma igreja
acolhedora. Dentre as
muitas marcas de uma igreja relevante, o acolhimento aparece como uma das suas
principais. Uma igreja, para se tornar relevante, necessariamente deve ser
acolhedora. A igreja de Jerusalém é um modelo de igreja acolhedora. Além de
estarem juntos, o texto bíblico diz que naquela igreja “todos os que criam
estavam juntos e tinham tudo em comum” (At 2.44). Não é fácil partilhar, muito
menos acolher. A nossa tendência é nos fechar em nosso mundo e deixar de fora
quem achamos ser inconveniente. Numa igreja acolhedora, os membros se sentem
acolhidos e parte do grupo.
- A igreja de Jerusalém não cresceu apenas por sua
doutrina, poder e oração; ela floresceu porque era uma comunidade
profundamente acolhedora. Atos 2.44 nos revela um retrato de unidade rara: “Todos
os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.” O verbo “estar juntos”
no grego (epi to auto, ἐπὶ τὸ αὐτό) aponta para mais que proximidade
física, indica profunda comunhão de vida, propósito e afeto. Era uma
comunidade onde ninguém era invisível, ninguém era estranho, ninguém era
deixado de fora. Como observa Gordon D. Fee, “a koinonia da igreja primitiva
expressava,se na partilha concreta, a comunhão era tão espiritual quanto
material.”¹
Ser uma igreja acolhedora não é uma estratégia de marketing, é uma expressão
do Evangelho encarnado. Jesus acolhia pecadores, crianças, mulheres
marginalizadas e estrangeiros, e a igreja seguiu o mesmo padrão. A generosidade
e a hospitalidade da igreja de Jerusalém não eram impulsos emocionais, mas
frutos de uma espiritualidade viva e relacional. Como ensinou Antônio Gilberto,
“o amor fraterno é o primeiro sinal visível de uma igreja cheia do Espírito.”² Muitas
igrejas caem no formalismo frio, são bíblicas na doutrina, mas hostis no afeto.
Acolhem os “nossos”, mas ignoram os quebrados, os pobres, os difíceis. Criam
grupos fechados onde o novo convertido ou visitante é um intruso. Esquecem que
a comunhão cristã é o testemunho mais poderoso do Reino em ação (Jo 13.35). O
acolhimento cristão é um ato de discipulado. Receber alguém no meio da comunhão
é declarar: “Você pertence.” Isso quebra barreiras emocionais, cura
rejeições e transforma igrejas em lares espirituais. Como afirma Craig S.
Keener, “a comunidade cristã era o ambiente onde o novo convertido aprendia não
apenas sobre Cristo, mas a viver como Cristo.”³ Uma igreja que acolhe como
Cristo transforma corações com o toque do Reino. O abraço pode ser tão
evangelístico quanto o sermão.
_______________
1.
FEE, Gordon D. Paul, the
Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.
2.
GILBERTO, Antônio. A Bíblia
Através dos Séculos. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
3.
KEENER, Craig S. Acts: An
Exegetical Commentary. Grand Rapids: Baker Academic, 2012.
3. Uma igreja
adoradora. A igreja
de Jerusalém era também uma igreja adoradora: “louvando a Deus” (At 2.47).
“Louvando”, traduz o verbo grego aineo. É o mesmo termo usado para se referir
aos anjos e pastores que louvavam a Deus por ocasião do nascimento de Jesus (Lc
2.13,20); é usado também para descrever o paralítico que louvava a Deus depois
que foi curado junto à Porta Formosa do Templo (At 3.8). É, portanto, uma
expressão de júbilo e de gratidão. Louvar é muito mais que simplesmente
“cantar”; é uma expressão de rendição e total entrega! É o reconhecimento da grandeza
de Deus e de seus poderosos feitos.
- A igreja de Jerusalém é um modelo incomparável de
adoração vibrante e sincera, evidenciada em Atos 2.47, onde “louvando a Deus”
(aineō, αἰνέω) revela uma prática de júbilo que transcende o mero
cantar. Esse verbo grego é o mesmo usado para descrever o cântico dos anjos na
vinda do Messias (Lc 2.13,20) e a expressão espontânea de gratidão do
paralítico curado na Porta Formosa do Templo (At 3.8). Louvar é, assim, uma
resposta integral de alma, um ato de reconhecimento da majestade, poder e
bondade de Deus, que envolve rendição plena, gratidão profunda e entusiasmo
santo.¹
Louvar não é simplesmente música; é um estilo de vida. É a expressão viva de um
coração rendido, consciente da soberania divina e do agir poderoso de Deus na
história e na vida pessoal. Como bem pontua Gordon D. Fee, “aineō é mais
que elogio verbal, é a prática cotidiana do louvor que molda o caráter da
igreja e a fortalece para o testemunho.”² A adoração da igreja de Jerusalém não era ritual
vazia ou emocionalismo superficial, mas a manifestação do amor pela presença do
Deus vivo que transforma e sustenta. Em
muitos lugares confundem louvor com entretenimento, reduzindo-o a
performances técnicas ou modismos culturais. Esquecem que louvar é postura de
reverência e entrega, não mero espetáculo. O verdadeiro louvor vem de um
espírito quebrantado e uma alma cheia de gratidão, não de luzes ou volume alto.
O louvor bíblico une o culto interno e externo, o emocional e o racional, a
experiência e a teologia. Louvar é exercer domínio espiritual sobre a
ansiedade, o medo e o desânimo, declarando a soberania do Deus que governa
todas as coisas. Como explica Craig S. Keener, “a igreja primitiva adorava não
apenas com voz, mas com vida, um louvor que ecoava em atos de justiça, amor e
comunhão.”³
Precisamos cultivar uma adoração integral em nossa igreja. Encoraje os crentes
a louvar não apenas nos cultos, mas na vida diária, no trabalho, em casa, nas
lutas. Ensine o significado profundo do verbo aineō para que o louvor
não seja um evento, mas a pulsação vital do corpo de Cristo. Quando a igreja
aprende a louvar com alma, ela se torna luz e sal no mundo, transformando vidas
e glorificando a Deus com poder.
_______________
1.
FEE, Gordon D. Paul, the
Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.
2.
KEENER, Craig S. Acts: An
Exegetical Commentary. Grand Rapids: Baker Academic, 2012.
3.
ARRINGTON, French L.; STRONSTAD,
Roger. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de
Janeiro: CPAD, 2003.
SINOPSE III
Os princípios da Igreja de
Jerusalém nos ensinam a viver a dimensão espiritual, do acolhimento e da
adoração.
AUXÍLIO BÍBLICO—TEOLÓGICO
“O PROGRESSO SE REPETE. [...] Os
primeiros discípulos — a maioria composta por judeus — continuavam a adorar
diariamente no templo (46). Isto era natural. Posteriormente, a perseguição aos
judeus expulsou-os do Templo, e também das sinagogas. Eles também partiam o pão
em casa. O texto grego também poderia ser traduzido como ‘de casa em casa’. Não
havia edifícios para igrejas no início, e a maioria das reuniões de adoração
era conduzida nas casas. Louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo (47)
é uma combinação desejada na igreja de todos os tempos e lugares. O Senhor
estava acrescentando diariamente novas pessoas ao número de crentes. Esta era
uma igreja em crescimento. A última frase, aqueles que se haviam de salvar, é
uma tradução completamente injustificável. Não existe aqui nenhuma indicação de
predeterminação ou predestinação. O texto grego diz claramente: ‘todos os dias
acrescentava o Senhor à igreja aqueles que estavam sendo salvos.’ Isto
simplesmente afirma que aqueles ‘que estavam sendo salvos’ uniam-se ao
crescente grupo de discípulos em Jerusalém” (Comentário Bíblico Beacon — João e
Atos. Volume 7. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.225).
CONCLUSÃO
Vimos, nesta lição, algumas características que marcaram a
primeira igreja. Frequentemente, nos referimos a ela como a “Igreja Primitiva”.
Vemos como sendo uma igreja ideal, modelo para todas as outras. De fato, ela é
a igreja-mãe. Isso, contudo, não significa dizer que a igreja de Jerusalém não
tivesse problemas. Pelo contrário, veremos em outras lições, que havia alguns
bem desafiadores. Nada, contudo, que tire o seu brilho e nos impeça de nos
espelharmos nela.
- Nesta lição, exploramos as características que
imprimiram à igreja de Jerusalém seu perfil singular — uma igreja profundamente
doutrinada, relacional, piedosa, reverente, cheia do Espírito e comprometida
com os símbolos da fé. Por isso, frequentemente a chamamos de “Igreja
Primitiva”, não apenas por sua posição histórica, mas por ser o modelo
primordial que ilumina o caminho de todas as igrejas genuínas ao longo dos
séculos. Ela é a igreja-mãe, matriz espiritual da qual todos somos
descendentes e à qual devemos retornar com humildade e reverência para aprender
os fundamentos da fé viva. Todavia, reconhecer sua excelência não significa idealiza-la
sem crítica. Como em toda comunidade humana, a igreja de Jerusalém enfrentava
desafios reais e conflitos que testavam sua fé e unidade. Esses obstáculos, longe
de enfraquecê-la, mostram que a igreja verdadeira é sempre um organismo em
crescimento, maturação e transformação constante. Mais que perfeição
institucional, ela revela uma dinâmica vital — a presença perseverante do
Espírito Santo guiando um povo que, apesar das fraquezas, escolhe refletir a
glória de Cristo. Por isso, o brilho da igreja primitiva não nos cega para os
problemas, mas nos inspira a uma imitação fiel e apaixonada, com coragem
para enfrentar desafios e compromisso com a santidade, a comunhão e o poder do
Espírito. Que seu testemunho não seja apenas história para ser admirada,
mas chama que reacende a paixão pela igreja que somos chamados a ser hoje.
Meu
ministério aqui é um chamado do coração — compartilhar o ensino da
Palavra de Deus de forma livre e acessível, para que você, irmão ou irmã em
Cristo, possa crescer na fé e no conhecimento das Escrituras, sem barreiras,
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REVISANDO O CONTEÚDO
1. Qual a expressão bíblica que diz
muito sobre o processo de discipulado da igreja de Jerusalém?
A expressão é: “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At
2.42). Isso demonstra que a igreja de Jerusalém era bem doutrinada e
discipulada, refletindo os ensinamentos dos apóstolos.
2. O que significa a palavra grega
koinonia, mencionada no texto em referência à igreja de Jerusalém?
Koinonia significa “comunhão” e se refere às relações
interpessoais dos primeiros cristãos, destacando que a igreja era relacional e
dedicada à construção de bons relacionamentos.
3. Como o batismo era visto na igreja
de Jerusalém?
O batismo era considerado uma ordenança de Jesus e um dos
principais símbolos da fé cristã. Ele representava um rito de entrada para a
nova vida em Cristo, sendo um testemunho público de conversão.
4. O que Donald Gee diz a respeito da
Ceia do Senhor?
Donald Gee afirmou que, quando tomada corretamente, a Ceia
leva a Igreja ao próprio coração de sua fé, ao centro do Evangelho e ao objeto
supremo do amor de Deus.
5. O que a igreja pode fazer para se
tornar relevante?
Uma igreja, para se tornar relevante, necessariamente deve
ser acolhedora.
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
IGREJA DE JERUSALÉM — UM MODELO
A SER SEGUIDO
Estimado(a) professor(a), a paz
do Senhor. A lição desta semana tem como finalidade apresentar a igreja
primitiva como modelo de fé e relacionamento cristão aos irmãos da igreja
atual. Ao observarmos o livro de Atos, identificamos vários aspectos que
revelam a face da igreja primitiva como uma igreja doutrinariamente sólida, que
perseverava nos ensinamentos introduzidos pelos apóstolos, e na qual os seus
membros desfrutavam de uma comunhão salutar; e, não menos importante, oravam
assiduamente (At 2.42). Dessa forma, o trabalho realizado por esses irmãos
resultava no avanço da pregação do Evangelho, mesmo em meio às perseguições
(2Ts 3.1,3). Além de ser uma igreja que gozava da manifestação abundante dos
dons espirituais, bem como da operação contínua de sinais, prodígios e
maravilhas, havia uma característica muito marcante que a tornava pujante. A
igreja primitiva era uma igreja “acolhedora”. Em linhas gerais, o termo
acolhedor, de acordo com o Dicionário Houaiss (2009), significa “oferecer ou
obter refúgio, proteção ou conforto físico, amparo; dar hospitalidade”. No
contexto da igreja primitiva, significava acolher os pecadores, oferecer a
oportunidade de perdão e reconciliação com Deus. Além disso, significava também
que a igreja não fazia acepção de pessoas, nem mesmo fomentava o preconceito
seja qual fosse a condição de pecado em que a pessoa estivesse (At 10.34,35; Rm
2.11); mas, pelo poder regenerador do Espírito Santo, tornava cada pecador
arrependido em um discípulo de Cristo (Mt 28.19,20). Aprendemos com a igreja
primitiva que devemos acolher o pecador e ensinar que Jesus cura, salva,
liberta, batiza no Espírito Santo e voltará para buscar Seus servos para
estarem para sempre com Ele. Nesse sentido, a Declaração de Fé das Assembleias
de Deus, documento que traz os fundamentos doutrinários de nossa denominação,
discorre que “entendemos que é responsabilidade da igreja a obra missionária. A
edificação é realizada por meio do ensino da Palavra nas reuniões da igreja,
como o culto de ensino, da escola bíblica dominical. A igreja também exerce o
ministério de socorro e misericórdia, que inclui o cuidado dos pobres e dos
necessitados, e não somente dos seus membros, mas também dos não membros.
Enquanto membros da igreja, somos o sal da terra, proporcionando sabor à vida e
evitando a putrefação da sociedade ao combatermos o pecado e a corrupção”
(2017, p.123). Que o compromisso de acolher os pecadores não seja furtado de
nossos corações. Jesus nos libertou e salvou para que, uma vez regenerados por
Seu Espírito, tenhamos o prazer de levar outras vidas a Ele. Uma igreja
acolhedora prioriza alcançar vidas para o Reino de Deus.