UM COMENTÁRIO APROFUNDADO DA LIÇÃO, PARA FAZER A DIFERENÇA!

Nosso objetivo é claro: disponibilizar, semanalmente, um subsídio fiel à Bíblia, claro, conciso, profundo e prático. Aqui, professores e alunos da Escola Bíblica Dominical têm acesso a conteúdo confiável e gratuito, preparado com excelência acadêmica por um Especialista em Exegese Bíblica do Novo Testamento, utilizando o que há de melhor da teologia em língua portuguesa. Obrigado por sua visita! Boa leitura e seja abençoado!

Classe Virtual:

7 de julho de 2025

EBD ADULTOS | Lição 2: A Igreja de Jerusalém: Um Modelo a Ser Seguido| 3° Trim 2025

 

Pb Francisco Barbosa [@pbassis]

 

Tenho dinâmica para esta aula! Se desejar receber, mande-me um e-mail. É o mesmo da chave PIX!

TEXTO ÁUREO

E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (At 2.42).

Entenda o Texto Áureo:

- Esse versículo é muito mais do que uma descrição histórica da Igreja Primitiva; ele é um manifesto divino de como o céu desce à terra quando o povo de Deus se alinha ao padrão apostólico original. A palavra grega traduzida por “perseveravam” é proskarteréo (προσκαρτερέω), que carrega a ideia de uma constância resoluta, intensa devoção e apego contínuo, mesmo diante de oposição, não é uma simples frequência dominical, mas uma fidelidade fervorosa e teimosa a quatro pilares espirituais que sustentam toda igreja viva: doutrina, comunhão, ceia e oração. A doutrina (didachē, διδαχή), aqui, não é teórica, mas uma transmissão viva da verdade revelada ensinada pelos apóstolos é o eco da voz de Cristo nos púlpitos, nos lares e nos corações. A comunhão (koinonia) é mais do que convivência: é participação sacrificial na vida do outro, uma mutualidade ungida pelo Espírito, como descreve Amos Yong: “O Espírito constrói uma comunidade onde o dom do outro é essencial para o crescimento de todos.” O partir do pão não se reduz à Ceia, mas evoca uma mesa carregada de significado escatológico e memorial, um altar cotidiano onde o Cordeiro é celebrado e a unidade é reafirmada. E a oração (proseuchai), no plural, aponta para uma vida saturada de intercessão, súplica e comunhão vertical com o Deus que age poderosamente. Como afirma Antônio Gilberto, “a igreja que ora é a igreja que permanece.” O erro comum de hoje é admirar esse texto como ideal, mas não imitá-lo como modelo. Poucos percebem que Atos 2.42 é a resposta de Deus para tempos de frieza, superficialidade e perseguição: uma igreja inflamada por uma doutrina viva, unida por laços de sangue e oração, imersa numa espiritualidade robusta. Aplicação urgente: restaure essas quatro colunas em sua vida e ministério, e o fogo de Pentecostes queimará de novo.

 

VERDADE PRÁTICA

A Igreja de Jerusalém, como igreja-mãe, tornou-se exemplo para as demais. Um modelo a ser seguido por todas as igrejas verdadeiramente bíblicas.

Entenda a Verdade Prática:

A Igreja de Jerusalém não foi apenas a primeira, foi o padrão eterno: uma comunidade firmada na Palavra, unida em comunhão, viva na oração e centrada em Cristo. Sua estrutura não era institucional, mas espiritual. Por isso, toda igreja verdadeiramente bíblica deve olhar para ela como espelho e se perguntar: estamos vivendo como Atos 2.42 ou apenas funcionando? Ser igreja é voltar ao modelo original, doutrina viva, comunhão sincera, adoração partilhada e oração constante. Onde isso existe, o Espírito Santo se move com liberdade e poder.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 2.37-47.

37. Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos?

Compungiram-se em seu coração. Sentiram uma profunda convicção de pecado por haverem crucificado o Messias prometido, e reconheceram sua necessidade de salvação. Que faremos? É a pergunta que nasce de um coração verdadeiramente tocado pelo Espírito Santo. Esta pergunta leva à ação prática e ao arrependimento genuíno.

38. E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.

arrependei-vos. A palavra grega para “arrepender-se” (metanoeō) significa mudar de mente e direção. Envolve uma mudança radical no interior do coração e na conduta exterior. E cada um de vós seja batizado. O batismo, aqui, é o passo subsequente ao arrependimento. Não é a causa do perdão, mas o sinal externo da salvação interna. E recebereis o dom do Espírito Santo. A promessa do batismo no Espírito Santo é para todo crente genuíno, não apenas para os apóstolos. O dom do Espírito é uma experiência distinta da conversão, como mostram os capítulos seguintes de Atos.

39. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar.

- A promessa é universal, mas condicionada ao arrependimento e à fé em Cristo. Envolve os filhos (descendência), os que estão longe (gentios) e todos quantos Deus chamar.

40. E com muitas outras palavras isto testificava e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.

Salvai-vos desta geração perversa. Pedro exorta a uma separação radical dos valores e do estilo de vida ímpios do mundo. Essa separação é marca distintiva da santidade cristã.

41. De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas.

- Os que de bom grado receberam a palavra foram batizados. Houve uma resposta voluntária e imediata. Quase três mil almas. Demonstra o poder do Espírito na evangelização. O Espírito Santo convence o mundo do pecado (Jo 16.8).

42. E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.

- Este versículo descreve quatro marcas essenciais da igreja cheia do Espírito:

            1. Doutrina dos apóstolos: ensino fiel e fundamentado.

            2. Comunhão: relacionamento espiritual e fraternal.

            3. Partir do pão: referência à Ceia do Senhor.

            4. Orações: vida devocional e dependência de Deus.

Essas práticas indicam uma igreja equilibrada, saudável e espiritual.

43. Em cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.

Temor. reverência santa diante da presença manifesta de Deus. Muitas maravilhas e sinais. as manifestações do Espírito não cessaram após o Pentecostes, mas continuaram entre os crentes.

44. Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.

, A igreja primitiva praticava a generosidade radical e espontânea, não por imposição, mas por amor. Isso revela uma comunidade verdadeiramente cheia do Espírito, com compaixão prática e unidade profunda.

45. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade.

46. E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,

Perseverando unânimes. havia constância e unidade de propósito. De casa em casa, os crentes mantinham uma vida espiritual ativa e relacional, além dos encontros no templo.

47. louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.

Louvando a Deus. o louvor era uma marca contínua da igreja. Caíam na graça de todo o povo. a igreja vivia de forma tão impactante e coerente que até os de fora reconheciam sua beleza. O Senhor acrescentava à igreja. o crescimento da igreja era obra direta de Deus, e não de métodos humanos.

Os versículos de Atos 2.42,47 formam um modelo bíblico para a igreja cheia do Espírito, demonstrando:

            1. Fidelidade doutrinária,

            2. Comunhão real,

            3. Vida devocional profunda,

            4. Amor prático,

            5. E crescimento espiritual e numérico dado por Deus.

 

Este ministério nasceu de um chamado:

Levar a Palavra de Deus a todos: — grátis, sem barreiras.

Cada estudo, cada palavra, é fruto de oração e dedicação para alimentar sua fé. Mas para continuar, preciso de você.

            Se este conteúdo foi útil para você, transforme gratidão em ação.

Sua contribuição, por menor que seja, mantém essa luz acesa. Não deixe que essa missão pare. Seja parte da transformação!

Chave PIX: assis.shalom@gmail.com

Juntos, iluminamos vidas. Obrigado por caminhar comigo.

 

INTRODUÇÃO

Por ser a Igreja-mãe, Jerusalém torna-se o modelo para as demais igrejas que foram implantadas. É de Jerusalém que partem as decisões que buscam, por exemplo, disciplinar e padronizar determinadas práticas cristãs. A igreja de Jerusalém já nasce forte! Sendo de origem divina, cheia do Espírito Santo e supervisionada pelos apóstolos, essa igreja é bem alicerçada. Isso fica claro no ministério da Palavra, a quem os apóstolos se devotaram inteiramente e ao exercício dos diversos dons que abundavam no seu meio. É, portanto, uma igreja da Palavra e do Espírito. E mais — é uma igreja onde a observância das ordenanças de Cristo é praticada na esfera do culto cristão. Assim, a igreja cristã primitiva exibe marcas que se tornaram um padrão para todas as igrejas em todas as épocas e lugares.

A Igreja em Jerusalém não foi apenas a primeira, ela foi o modelo. Como igreja-mãe, serviu de referência para as demais comunidades cristãs que surgiriam. É dali que fluem as primeiras decisões pastorais e doutrinárias, como vemos no concílio descrito em Atos 15, onde se buscou a unidade do corpo de Cristo diante de práticas controversas. Mas o que fazia dessa igreja um exemplo? Sua força não vinha de estrutura humana, mas de sua origem divina. Ela nasce no fogo do Pentecostes, cheia do Espírito, debaixo da autoridade apostólica e centrada na Palavra. Desde o início, vemos uma comunidade que respira a presença de Deus. Os apóstolos, profundamente comprometidos com o ensino das Escrituras, se dedicavam com exclusividade ao ministério da Palavra e à oração (At 6.4). Isso não era mero academicismo, era uma prática espiritual vital. A Palavra era o fundamento, e o Espírito Santo, a fonte da vida. Craig Keener observa que “a devoção dos apóstolos ao ensino e à oração reflete uma igreja moldada tanto pela revelação quanto pela comunhão sobrenatural”¹. O que mais impressiona é o equilíbrio saudável entre Palavra e Espírito. Não há dicotomia entre teologia e experiência. A igreja de Jerusalém é profundamente doutrinária e intensamente carismática. Os dons do Espírito fluíam com liberdade e reverência, e havia uma clara ênfase na obediência às ordenanças de Cristo, como o batismo (At 2.41) e a ceia (At 2.42,46). A expressão usada em Atos 2.42, “perseveravam na doutrina dos apóstolos”, no original grego é proskarteréo (προσκαρτερέω), que carrega a ideia de dedicação constante, firmeza incansável. Não era algo ocasional, mas o ritmo natural de uma Igreja enraizada em Cristo. Essa igreja primitiva se tornou o padrão. Não por imposição institucional, mas por encarnar uma vida cristã autêntica. Como afirma o pastor Antônio Gilberto, “a Igreja primitiva era uma comunidade de fé, de poder e de ação, profundamente centrada na pessoa de Cristo, sustentada pela doutrina e impulsionada pelo Espírito”². O que vemos em Jerusalém é o retrato de uma Igreja viva, bíblica, espiritual e missional. Hoje, em qualquer lugar onde a Igreja busca ser fiel à Escritura, aberta ao mover do Espírito, comprometida com a adoração verdadeira e com a vida em comunhão, o modelo de Jerusalém continua vivo. Que nós, como mestres e alunos da Palavra, sejamos inspirados a seguir esse padrão com o mesmo fervor, a mesma fidelidade e o mesmo poder._______________

1. KEENER, Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento: Atos dos Apóstolos. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

2. GILBERTO, Antônio. O Perfil da Igreja que Deus Abençoa. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

 

Palavra,Chave: MODELO

- O termo "modelo" tem origem no italiano "modello", derivado do latim vulgar "modellus", que por sua vez vem de "modulus", um diminutivo de "modus", significando medida.

            1. Imagem, desenho ou objeto que serve para ser imitado (desenhando ou esculpindo).

            2. Molde, exemplar.

            3. [Figurado] Coisa ou pessoa que é ou merece ser imitada. = EXEMPLO

_______________

                        "modelo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008,2025, https://dicionario.priberam.org/modelo.

 

I. UMA IGREJA COM SÓLIDOS ALICERCES

1. Uma igreja com fundamento doutrinário. A igreja de Jerusalém era uma igreja bem doutrinada. Lucas diz que, antes de ascender aos céus, Cristo deu “mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera” (At 1.2). Uma igreja genuinamente cristã reflete a prática e os ensinos dos apóstolos. É exatamente isso o que o livro de Atos diz da primeira igreja: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Uma igreja só pode ser considerada genuinamente cristã quando ela consegue ensinar e doutrinar seus membros de tal forma que eles passem a refletir o caráter de Cristo.

A Igreja em Jerusalém não foi construída sobre estruturas visíveis, mas sobre um fundamento invisível e inabalável: a doutrina apostólica viva. Não era teoria engessada. Era ensino encarnado, ministrado por homens que haviam andado com o Cristo ressurreto e agora estavam cheios do Espírito Santo. Em Atos 2.42, Lucas utiliza o verbo grego proskarteréō (προσκαρτερέω), que carrega a ideia de uma perseverança intensa, quase obstinada, na didachē (διδαχή) a doutrina. Não uma doutrina fria, acadêmica, mas a verdade que molda o coração, que forma o caráter e gera transformação real. Essa solidez doutrinária não veio de manuais ou tratados sistemáticos, mas do próprio Jesus, que, segundo Atos 1.2, instruiu os apóstolos "pelo Espírito Santo". Isso revela que a teologia da Igreja nascente era, desde o início, pneumática (inspirada e capacitada pelo Espírito), cristocêntrica (centrada na obra redentora de Cristo) e prática (voltada para a vida e a missão da Igreja). A igreja nasce, assim, no meio de um fervor escatológico judaico, mas responde não com especulações, e sim com a proclamação ousada de um Reino presente, real e centrado em Jesus. O que tornava aquela Igreja admirável não era o número de conversões — embora elas fossem notáveis —, mas a firmeza no ensino. Como bem afirma Gordon D. Fee: “A teologia em Atos é tanto narrativa quanto normativa; é uma doutrina vivida no poder do Espírito.”¹ Doutrina e experiência não se opõem, se completam. Uma igreja que não doutrina, deforma. Uma igreja que não ensina, enfraquece. Por isso, tudo girava ao redor da Palavra: a comunhão, a ceia, a oração, a missão — todas essas práticas fluíam de um eixo comum: o ensino apostólico. Hoje, infelizmente, vemos muitas igrejas fascinadas por crescimento, visibilidade e inovação, mas que negligenciam o ensino sólido. O resultado? Comunidades repletas de consumidores religiosos, mas carentes de discípulos moldados à imagem de Cristo. A seguir, John MacArthur propõe um alerta com precisão: “Quando a doutrina é diluída para agradar, o Evangelho deixa de ser transformador e passa a ser decorativo.”² A doutrina apostólica não era apenas uma série de ideias organizadas, era a explicação fiel da obra de Cristo, guiada pelo Espírito e aplicada à vida da Igreja. Ensinar a doutrina é, na prática, formar Cristo em cada crente, até que todos cheguemos à “medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13). Isso exige mestres bem preparados, púlpitos fiéis e igrejas comprometidas com o discipulado profundo. E aqui cabe uma pergunta sincera e urgente: a igreja que frequentamos tem uma espinha dorsal doutrinária saudável? Há um ensino sistemático, cristocêntrico, coerente? Os crentes estão sendo moldados ou apenas entretidos? Se a resposta preocupa, então é hora de restaurar, urgentemente, a centralidade da Palavra, do ensino bíblico e do discipulado que transforma. Igrejas doutrinariamente firmes são, invariavelmente, espiritualmente fortes._______________

1.         FEE, Gordon D. Paulo, o Espírito e o Povo de Deus. São Paulo: Vida, 1996.

2.         MACARTHUR, John. O Pastor como Teólogo. São José dos Campos: Fiel, 2019.

2. “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). A expressão diz muito sobre o processo de discipulado da igreja de Jerusalém. Era uma igreja bem doutrinada, e, portanto, bem discipulada. A palavra “doutrina” traduz o termo grego didaché, que significa “ensinar” e “instruir”. Tem a ver, portanto, com o discipulado cristão. O discípulo é alguém que consegue reproduzir, isto é, levar adiante o que aprendeu de seu Mestre. Os apóstolos aprenderam de Cristo; a igreja cristã primitiva aprendeu dos apóstolos e agora vivia isso a fim de transmitir a outros o que aprendeu. A tragédia da igreja acontece quando ela não consegue ser discipulada, nem tampouco discipular.

Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Essa curta declaração de Lucas é mais do que um detalhe histórico, é uma radiografia precisa da saúde espiritual da igreja em Jerusalém. A palavra usada para "doutrina", didachē (διδαχή), carrega um sentido que vai muito além de conteúdo teológico; ela aponta para um processo contínuo de formação espiritual, vivo, encarnado e transmissível. Em outras palavras, a doutrina ali não era só ensinada, era vivida. Nesse contexto, discipulado não era um curso de integração para novos membros, mas um estilo de vida. A doutrina apostólica era absorvida com reverência, praticada com fidelidade e transmitida com exatidão. Havia uma cadeia de discipulado, dos apóstolos aos crentes, dos crentes uns aos outros, que mantinha a integridade da fé sem deformações. Os apóstolos não formavam frequentadores, formavam discípulos. E, como destaca Robert P. Menzies, “a igreja cheia do Espírito é uma comunidade de ensino, o Espírito e a Palavra operam juntos para formar discípulos de Jesus.”¹ Essa fidelidade doutrinária funcionava como uma ponte sólida entre o Cristo histórico e a Igreja presente. Gordon D. Fee afirma com precisão: “a fidelidade doutrinária é a ponte entre o Cristo histórico e a igreja atual.”² Sem essa ponte, o colapso é inevitável. E não é isso que temos visto em muitos contextos? Igrejas que tentam evangelizar sem ensinar, converter sem discipular, crescer sem moldar caráter. O resultado é preocupante: fé rasa, crentes frágeis e um cristianismo diluído. Precisamos entender: didachē não diz respeito apenas ao que se ensina, mas a como se vive o que se ensina. Discipulado autêntico é mais do que transferência de conhecimento, é formação de identidade cristã. A Palavra, quando recebida com o auxílio do Espírito, transforma cada área da vida. Como ensinou o saudoso pastor Antônio Gilberto: “doutrina não é uma ideia fria; é a vida de Cristo sendo moldada no coração do discípulo.”³ Esse trecho de Atos 2.42 é um chamado urgente para reavaliarmos o processo de ensino em nossas igrejas. O conteúdo que está sendo ministrado está formando Cristo nos discípulos ou apenas informando sem transformar? Os líderes que se levantam são frutos de discipulado profundo ou de treinamentos rápidos e superficiais? Se o discipulado morre, a Igreja se torna apenas um ajuntamento sem identidade. O caminho de volta está claro: restaurar a centralidade da doutrina apostólica, reviver o discipulado relacional e formar uma geração que saiba viver, encarnar e transmitir o Evangelho com fidelidade, poder e paixão._______________

1. MENZIES, Robert P. Empowered for Witness: The Spirit in Luke,Acts. London: T&T Clark, 2004.

2. FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.

3. GILBERTO, Antônio. A Doutrina do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

3. Uma igreja relacional e piedosa. A igreja de Jerusalém perseverava na “comunhão” (At 2.42). A maioria dos intérpretes entende que a palavra grega koinonia, traduzida aqui como “comunhão” é uma referência às relações interpessoais dos primitivos cristãos. A primeira igreja era, portanto, uma igreja relacional. Assim, perseverar na comunhão tem o sentido de “se dedicar” à construção de bons relacionamentos. Tem a ver com o modo de vida dos crentes. Sem o cultivo de relações interpessoais fortes, a igreja cai em um mero ativismo. Há muita atividade, mas sem o calor humano que caracteriza a verdadeira vida cristã. A mesma igreja que perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão era a mesma igreja que vivia em oração (At 2.42). A igreja de Jerusalém orava! Assim, Pedro e João foram ao templo na hora nona de oração (At 3.1); os apóstolos estabeleceram como prática dedicar-se à oração (At 6.4) e a Igreja reunida na casa de Maria, mãe de Marcos, se dedicava à oração (At 12.5).

A Igreja de Jerusalém não apenas ensinava a verdade, ela a vivia intensamente, em profunda comunhão e oração fervorosa. O termo grego koinōnia (κοινωνία), usado em Atos 2.42, vai muito além de simples amizade ou socialização. Ele aponta para uma partilha radical da vida, dos recursos, da fé e do coração. Cada membro se entendia como parte indispensável de um só corpo, não como um frequentador individual, mas como um participante ativo de uma comunidade viva. Como define French L. Arrington, “a koinonia da igreja primitiva era um reflexo do próprio relacionamento trinitário, uma unidade dinâmica em meio à diversidade.”¹ Perseverar na comunhão não era um acessório devocional, era uma necessidade espiritual. Sem vínculos reais, a doutrina se torna teórica; sem afetos cristãos, o culto vira performance. A comunhão era piedosa porque nascia de um povo que orava. E a oração (proseuchē, προσευχή), longe de ser formalidade, era o oxigênio da fé cristã. A igreja orava no templo (At 3.1), nas casas (At 12.5), em tempos de perseguição (At 4.24,31) e como prioridade ministerial (At 6.4). Isso revela uma verdade profunda: quanto mais se ora, mais se ama; quanto mais se ama, mais se intercede. Como bem disse Frank D. Macchia, “o Espírito Santo forma uma comunidade orante onde a presença de Deus é experimentada no meio do povo.”² Infelizmente, em nossos dias, vemos muitas igrejas que priorizam agendas e programas, mas negligenciam relacionamentos e intercessão. O ativismo substitui o afeto. O culto se enche de tarefas, mas esvazia-se de toques espirituais. E aqui está o problema: há oração sem comunhão (fria) e comunhão sem oração (frágil). Ambas são incompletas. A igreja de Jerusalém nos ensina que comunhão e oração caminham juntas e sustentam, invisivelmente, tudo o que é visível. Koinōnia, no Novo Testamento, também envolve “participação em algo sagrado”. Gordon Fee observa que, para Paulo, a comunhão cristã é “compartilhamento na graça, no sofrimento, na missão e no Espírito”³, não uma conexão casual, mas um pacto espiritual com implicações eternas. Por essa razão, é urgente a necessidade de restaurar esse eixo fundamental. Algumas ações podem nos levar de volta ao padrão de Atos:

            a) Redescobrir o poder das relações intencionais e da oração constante.

            b) Criar grupos que não apenas ensinem, mas conectem.

            c) Estimular uma cultura de intercessão mútua: onde orar um pelo outro seja o normal.

            d) Encorajar os membros a orarem juntos: nas casas, nos bastidores, antes e depois dos cultos.

Lembre-se: igrejas frias têm eventos, igrejas vivas têm encontros. Igrejas mornas têm programações, igrejas piedosas têm oração. Se queremos viver como Atos, precisamos orar como Atos, juntos, sempre, com fervor. A verdadeira comunhão começa quando Deus é colocado no centro da mesa._______________

1.         ARRINGTON, French L. Unidade na Diversidade: A Teologia da Comunhão no Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

2.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology. Grand Rapids: Zondervan, 2006.

3.         FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.

 

Quer ter acesso ao mesmo material que utilizo para escrever estes comentários?

Adquira seu acesso vitalício à Minha Superbiblioteca!

Milhares de livros e e-books indispensáveis para formação cristã e recomendados por instituições de ensino reunidos em um só lugar que aprimora a experiência de leitura.

VOCÊ ENCONTRARÁ:

📚 TEOLOGIAS SISTEMÁTICAS DIVERSAS

📚 COMENTÁRIOS BÍBLICOS DIVERSOS

📚 COLEÇÃO PATRÍSTICA

📚 COLEÇÃO ERA DOS MARTIRES

📚 CAPACITAÇÃO DE OBREIROS (CURSOS TEOLÓGICOS)

📚 57 BÍBLIAS DE ESTUDO DIVERSAS

📚 TEOLOGIA NÍVEL MÉDIO – BACHAREL – MESTRADO , DOUTORADO

Tenha acesso a tudo isso por

APENAS R$ 30,00!

🔑 Chave PIX: assis.shalom@gmail.com

🤝 Após o pagamento e recebimento do comprovante, será enviado via WhatsApp o link do material

 

SINOPSE I

A igreja de Jerusalém tinha como característica a perseverança na doutrina, comunhão e oração. Isso fazia dela uma igreja piedosa.

 

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

 “A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS [...] COMUNHÃO [...] O PARTIR DO PÃO [...] ORAÇÕES. Hoje em dia, muitas igrejas desejam seguir o modelo da igreja do Novo Testamento, esperando vivenciar o mesmo poder, crescimento e eficácia que ela teve. Esta passagem nos proporciona uma visão geral das características que permitiram que a igreja do Novo Testamento vivenciasse o milagroso poder de Deus (v.43) e um crescimento consistente (v.47). O que é admirável é que essas características eram bastante simples e práticas. (1) A doutrina dos apóstolos (v.42a). Os primeiros cristãos eram profundamente devotados à mensagem de Cristo. [...]; (2) Comunhão (gr. koinōnia; v.42b). Os seguidores de Deus na igreja primitiva não somente eram dedicados ao seu relacionamento básico e predominante com Deus, como também estavam comprometidos em construir relacionamentos abertos, honestos e espiritualmente encorajadores com o povo de Deus [...]; (3) O partir do pão (vv.42c,46). Esta expressão poderia se referir, simplesmente, às refeições feitas nas casas, uns dos outros [...] (ou) à refeição do amor ágape (veja 1Co 11.21, nota), ou à Ceia do Senhor (isto é, à comunhão) propriamente dita. [...] (4) Oração (v.42d; cf. 1.14; 4.23,31). A oração era, claramente, uma grande prioridade e uma parte vital da vida da igreja primitiva” (Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p.1932).

 

II. UMA IGREJA OBSERVADORA DOS SÍMBOLOS CRISTÃOS

1. O Batismo. Após o primeiro sermão do apóstolo Pedro na igreja de Jerusalém, e como resposta a uma pergunta, ele disse ao povo: “arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados” (At 2.38). Naquela época, a primeira igreja batizava quem se convertia. Ela sabia que o batismo era uma das ordenanças de Jesus e que ele era um dos principais símbolos da fé cristã (Mc 16.16). O batismo era um dos primeiros passos da fé cristã, um rito de entrada para a nova vida em Cristo. Mas para ser batizado, a pessoa precisava ter se arrependido dos seus pecados e crido em Jesus. Era preciso ter consciência do sentido desse símbolo de fé. Assim, o batismo era um testemunho público de que a pessoa havia se convertido. Por meio dele, os cristãos de Jerusalém mostravam ao mundo que sua vida agora era diferente, que eles tinham uma nova vida em Cristo.

A Igreja de Jerusalém compreendia com clareza que o batismo não era um mero ritual, mas uma poderosa declaração pública de fé e arrependimento. Em Atos 2.38, Pedro, cheio do Espírito Santo, convoca a multidão com uma ordem inequívoca: “arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados.” O verbo grego baptisthētō (βαπτισθήτω), no imperativo passivo, carrega o peso de um mandamento divino, não de uma sugestão opcional. O batismo era a resposta visível a uma fé autêntica e a um arrependimento verdadeiro (metanoeō, μετανοέω). Como afirma Craig S. Keener, “o batismo em Atos é inseparável da fé e do arrependimento, ele selava a conversão com testemunho público e identidade comunitária.”¹ A Igreja primitiva era diligente em batizar logo após a profissão de fé. Para eles, o batismo era o selo externo da regeneração interna (Tt 3.5). Não era tratado como um evento administrativo, mas como parte inseparável do discipulado. Era obediência visível à ordem de Jesus (Mc 16.16), um símbolo poderoso de morte com Cristo, sepultamento e ressurreição para uma nova vida (Rm 6.3,4). Como afirma Anthony D. Palma: “para os primeiros cristãos, o batismo não era um acessório da fé, mas sua expressão natural e esperada.”² Infelizmente, em muitos contextos atuais, o batismo foi reduzido a uma formalidade litúrgica ou a um marco social. Pior: em algumas igrejas, batizam-se pessoas sem arrependimento genuíno, sem discipulado, sem sequer compreender o Evangelho. Isso enfraquece o testemunho e esvazia o símbolo. O batismo sem fé viva é como um selo em um contrato inexistente. Uma igreja que banaliza seus símbolos perde sua voz profética. O batismo, para a Igreja em Jerusalém, era também uma confissão de risco. Ser batizado epi tō onomati Iēsou (ἐπὶ τῷ ὀνόματι Ἰησοῦ) << “em nome de Jesus” >> era declarar publicamente fidelidade a um Messias rejeitado. Em um contexto hostil e religioso, isso exigia coragem, ruptura e convicção. Como destaca Gordon D. Fee, “o batismo cristão em Atos é carregado de significado escatológico e comunitário, uma inserção pública no povo do Messias.”³ Não era um passo neutro — era um grito de pertencimento, um sinal de nova identidade. O batismo marcava o fim de uma velha vida e o início de uma nova caminhada sob o senhorio de Cristo. Por isso, ele era celebrado com urgência, reverência e alegria. Hoje, mais do que nunca, precisamos resgatar o batismo como discipulado visível. Ensinar com profundidade antes de batizar, exigir arrependimento real, discipulado sério e clareza de fé. Celebrar o batismo como ele merece: com solenidade, alegria e compromisso. Uma igreja viva não apenas realiza batismos, ela forma discípulos que vivem o que professam e professam o que vivem. O batismo é o primeiro grito público da nova criatura, e esse grito deve ecoar com convicção, clareza e poder._______________

1.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary. Grand Rapids: Baker Academic, 2012.

2.         PALMA, Anthony D. A Obra do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

3.         FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The Holy Spirit in the Letters of Paul. Peabody: Hendrickson, 1994.

2. A Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor é a outra ordenança dada por Jesus e que foi observada pela igreja de Jerusalém. “E perseveravam... no partir do pão” (At 2.42). A maioria dos estudiosos concorda que esse texto é uma referência à prática da Ceia do Senhor entre os primeiros cristãos. Donald Gee, um dos principais mestres do pentecostalismo britânico, disse que, quando tomada corretamente, a Ceia leva a Igreja ao próprio coração de sua fé; ao próprio centro do Evangelho; ao objeto supremo do amor de Deus. Portanto, quão abençoado é esse “partir do pão”! Parece provável que os primeiros cristãos, combinando essa ordenança simples com a “festa do amor” de sua refeição comum, lembravam assim a morte do Senhor “todos os dias” (At 2.42,46).

A expressão “e perseveravam... no partir do pão” (At 2.42) vai muito além de uma referência a refeições comunitárias, ela carrega o peso sagrado da Ceia do Senhor, praticada com frequência e profundidade pela Igreja de Jerusalém. O termo grego κλάσει τοῦ ἄρτου (klasei tou artou) revela uma ação litúrgica e simbólica, não apenas social. Era o momento em que a comunidade se reunia em torno da cruz, para lembrar, com reverência, o sacrifício vicário de Cristo. Como afirma Donald Gee, “quando celebrada corretamente, a Ceia leva a Igreja ao próprio coração de sua fé, ao centro do Evangelho e ao objeto supremo do amor de Deus.”¹ Para a igreja primitiva, a Ceia não era um evento esporádico, mas uma parte viva da espiritualidade comunitária e escatológica. Era memorial, mas também antecipação. Em cada pedaço de pão e cálice compartilhado, a Igreja celebrava a cruz, experimentava a graça e apontava para o banquete final. A Ceia era cristocêntrica, cheia de sentido teológico, onde o pão partido tornava visível a graça invisível. Frank D. Macchia observa: “a Ceia do Senhor é um sacramento do Espírito, ela renova a comunidade, une os irmãos e aponta para o banquete final no Reino de Deus.”² Essa prática se integrava às ágapes, as festas do amor, revelando que o Evangelho é celebrado à mesa: com simplicidade, comunhão, reverência e unidade. Não havia separação entre mesa e altar, entre comunhão fraterna e culto. Tudo era um. A Ceia unia o partir do pão com a partilha da vida. Entretanto, muitos hoje tratam a Ceia como um ritual engessado, relegado a domingos específicos, sem ensino, sem exame do coração, sem discernimento do corpo. Isso esvazia sua força formativa e espiritual. Como Paulo adverte (1Co 11.27,30), tomar da Ceia sem discernimento espiritual traz consequências reais, espirituais, físicas e comunitárias. É fundamental lembrar que o partir do pão era, para a Igreja de Atos, um ensaio do céu. Cada Ceia era uma lembrança do passado, uma experiência no presente e uma esperança do porvir. Gordon D. Fee afirma: “a Ceia é o momento em que a Igreja experimenta novamente a presença do Cristo crucificado e ressuscitado, no poder do Espírito.”³ Ou seja, é mais do que um memorial, é um encontro. Um altar de renovação, arrependimento e esperança. Por isso, urge restaurar o valor da Ceia do Senhor como parte essencial da vida e culto cristão. Isso inclui:

Ensinar com profundidade o seu significado bíblico.

Preparar espiritualmente os corações para recebê-la.

Celebrá-la com reverência, alegria e consciência.

Torná-la um momento de unidade, não apenas um item da liturgia.

Uma igreja que parte o pão com entendimento, parte da cruz com poder. Onde a Ceia é honrada, a cruz ensanguentada é central, e onde a cruz é central, Cristo é exaltado, a fé é fortalecida e o Espírito age com liberdade._______________

1. GEE, Donald. The Fruit of the Spirit. London: Gospel Publishing House, 1942.

2. MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology. Grand Rapids: Zondervan, 2006.

3. FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.

 

SINOPSE II

Na igreja de Jerusalém, os símbolos essenciais da fé cristã, o Batismo e a Ceia do Senhor, eram reverentemente observados.

 

III. UMA IGREJA MODELO

1. Uma igreja reverente e cheia de dons. É dito da igreja de Jerusalém: “Em cada alma havia temor” (At 2.43). A palavra grega traduzida como “temor” é phóbos, que também significa “reverência, respeito pelo sagrado”. Havia um forte sentimento da presença de Deus! Havia um clima da presença do sagrado, do que é santo, o mesmo sentido que teve Moisés quando o Senhor o mandou tirar os sapatos dos pés porque o lugar “é terra santa” (Êx 3.5). Precisamos aprender com a primeira igreja! Não podemos perder o respeito pelo sagrado. Lucas destaca que “muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). “Sinais (gr. Téras) e maravilhas (gr. Sémeion)” são as mesmas palavras usadas pelo apóstolo Paulo para se referir aos dons do Espírito Santo que se manifestavam em suas ações missionárias (Rm 15.19). Os dons espirituais ornamentavam a igreja cristã primitiva.

A igreja de Jerusalém era, por excelência, uma comunidade onde o céu tocava a terra — marcada pela reverência profunda e pelo mover abundante dos dons espirituais. Em Atos 2.43, Lucas declara: “Em cada alma havia temor” e o termo grego phóbos (φόβος) aqui não sugere pânico, mas reverência consciente, santa inquietação diante da presença manifesta de Deus. Era o mesmo sentimento de Moisés diante da sarça ardente (Êx 3.5): um reconhecimento visceral de que Deus estava ali. A espiritualidade daquela igreja não era ruidosa por fora e vazia por dentro, mas cheia de temor, cheia de glória, cheia de Deus. Como afirmou Amos Yong, “onde há temor reverente, há espaço para o Espírito agir com liberdade e ordem.”¹ A reverência não anulava o poder, ela o canalizava. Lucas prossegue dizendo: “Muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). As palavras gregas usadas são sēmeia (σημεῖα, sinais) e terata (τέρατα, prodígios), frequentemente ligadas ao exercício dos dons espirituais. Esses sinais não eram pirotecnia espiritual, mas testemunhos visíveis do Reino irrompendo na história. Os apóstolos, como vasos de barro cheios do Espírito, manifestavam curas, libertações e milagres como extensão da autoridade de Cristo. Como observa Frank D. Macchia: “os sinais e maravilhas na igreja primitiva eram sacramentos do Reino, vislumbres do mundo vindouro no presente.”² Hoje, muitas igrejas querem os dons sem a reverência, ou a reverência sem os dons. Umas buscam o poder, mas perdem o temor. Outras prezam pela ordem, mas sufocam o Espírito. Esse desequilíbrio gera igrejas frias ou desordenadas. A igreja modelo é aquela que une temor e poder, reverência e manifestação, santidade e autoridade. O temor do Senhor era o “solo sagrado” onde os dons floresciam. Não havia show, nem manipulação, nem banalização do sagrado. Como aponta French L. Arrington, “o ambiente do temor é o ambiente da verdadeira manifestação do Espírito, os dons fluem onde Cristo é honrado e o Espírito é reverenciado.”³ O que ornamentava a igreja primitiva não eram estruturas, mas o Espírito Santo derramado com liberdade, entre um povo que sabia que estava em terreno santo. Onde há temor e fé, os céus se abrem, os dons se manifestam e a igreja se torna o que nasceu para ser: um povo cheio de glória, santidade e poder.

_______________

1.         YONG, Amos. Renewing the Church through the Holy Spirit: Pentecostal Ecclesiology and the Renewal of the Church. Grand Rapids: Baker Academic, 2000.

2.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology. Grand Rapids: Zondervan, 2006.

3.         ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

2. Uma igreja acolhedora. Dentre as muitas marcas de uma igreja relevante, o acolhimento aparece como uma das suas principais. Uma igreja, para se tornar relevante, necessariamente deve ser acolhedora. A igreja de Jerusalém é um modelo de igreja acolhedora. Além de estarem juntos, o texto bíblico diz que naquela igreja “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum” (At 2.44). Não é fácil partilhar, muito menos acolher. A nossa tendência é nos fechar em nosso mundo e deixar de fora quem achamos ser inconveniente. Numa igreja acolhedora, os membros se sentem acolhidos e parte do grupo.

A igreja de Jerusalém não cresceu apenas por sua doutrina, poder e oração; ela floresceu porque era uma comunidade profundamente acolhedora. Atos 2.44 nos revela um retrato de unidade rara: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.” O verbo “estar juntos” no grego (epi to auto, ἐπὶ τὸ αὐτό) aponta para mais que proximidade física, indica profunda comunhão de vida, propósito e afeto. Era uma comunidade onde ninguém era invisível, ninguém era estranho, ninguém era deixado de fora. Como observa Gordon D. Fee, “a koinonia da igreja primitiva expressava,se na partilha concreta, a comunhão era tão espiritual quanto material.”¹ Ser uma igreja acolhedora não é uma estratégia de marketing, é uma expressão do Evangelho encarnado. Jesus acolhia pecadores, crianças, mulheres marginalizadas e estrangeiros, e a igreja seguiu o mesmo padrão. A generosidade e a hospitalidade da igreja de Jerusalém não eram impulsos emocionais, mas frutos de uma espiritualidade viva e relacional. Como ensinou Antônio Gilberto, “o amor fraterno é o primeiro sinal visível de uma igreja cheia do Espírito.”² Muitas igrejas caem no formalismo frio, são bíblicas na doutrina, mas hostis no afeto. Acolhem os “nossos”, mas ignoram os quebrados, os pobres, os difíceis. Criam grupos fechados onde o novo convertido ou visitante é um intruso. Esquecem que a comunhão cristã é o testemunho mais poderoso do Reino em ação (Jo 13.35). O acolhimento cristão é um ato de discipulado. Receber alguém no meio da comunhão é declarar: “Você pertence.” Isso quebra barreiras emocionais, cura rejeições e transforma igrejas em lares espirituais. Como afirma Craig S. Keener, “a comunidade cristã era o ambiente onde o novo convertido aprendia não apenas sobre Cristo, mas a viver como Cristo.”³ Uma igreja que acolhe como Cristo transforma corações com o toque do Reino. O abraço pode ser tão evangelístico quanto o sermão.

_______________

1.         FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.

2.         GILBERTO, Antônio. A Bíblia Através dos Séculos. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

3.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary. Grand Rapids: Baker Academic, 2012.

3. Uma igreja adoradora. A igreja de Jerusalém era também uma igreja adoradora: “louvando a Deus” (At 2.47). “Louvando”, traduz o verbo grego aineo. É o mesmo termo usado para se referir aos anjos e pastores que louvavam a Deus por ocasião do nascimento de Jesus (Lc 2.13,20); é usado também para descrever o paralítico que louvava a Deus depois que foi curado junto à Porta Formosa do Templo (At 3.8). É, portanto, uma expressão de júbilo e de gratidão. Louvar é muito mais que simplesmente “cantar”; é uma expressão de rendição e total entrega! É o reconhecimento da grandeza de Deus e de seus poderosos feitos.

A igreja de Jerusalém é um modelo incomparável de adoração vibrante e sincera, evidenciada em Atos 2.47, onde “louvando a Deus” (aineō, αἰνέω) revela uma prática de júbilo que transcende o mero cantar. Esse verbo grego é o mesmo usado para descrever o cântico dos anjos na vinda do Messias (Lc 2.13,20) e a expressão espontânea de gratidão do paralítico curado na Porta Formosa do Templo (At 3.8). Louvar é, assim, uma resposta integral de alma, um ato de reconhecimento da majestade, poder e bondade de Deus, que envolve rendição plena, gratidão profunda e entusiasmo santo.¹ Louvar não é simplesmente música; é um estilo de vida. É a expressão viva de um coração rendido, consciente da soberania divina e do agir poderoso de Deus na história e na vida pessoal. Como bem pontua Gordon D. Fee, “aineō é mais que elogio verbal, é a prática cotidiana do louvor que molda o caráter da igreja e a fortalece para o testemunho.”² A adoração da igreja de Jerusalém não era ritual vazia ou emocionalismo superficial, mas a manifestação do amor pela presença do Deus vivo que transforma e sustenta. Em muitos lugares confundem louvor com entretenimento, reduzindo-o a performances técnicas ou modismos culturais. Esquecem que louvar é postura de reverência e entrega, não mero espetáculo. O verdadeiro louvor vem de um espírito quebrantado e uma alma cheia de gratidão, não de luzes ou volume alto. O louvor bíblico une o culto interno e externo, o emocional e o racional, a experiência e a teologia. Louvar é exercer domínio espiritual sobre a ansiedade, o medo e o desânimo, declarando a soberania do Deus que governa todas as coisas. Como explica Craig S. Keener, “a igreja primitiva adorava não apenas com voz, mas com vida, um louvor que ecoava em atos de justiça, amor e comunhão.”³ Precisamos cultivar uma adoração integral em nossa igreja. Encoraje os crentes a louvar não apenas nos cultos, mas na vida diária, no trabalho, em casa, nas lutas. Ensine o significado profundo do verbo aineō para que o louvor não seja um evento, mas a pulsação vital do corpo de Cristo. Quando a igreja aprende a louvar com alma, ela se torna luz e sal no mundo, transformando vidas e glorificando a Deus com poder.

_______________

1.         FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.

2.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary. Grand Rapids: Baker Academic, 2012.

3.         ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

 

SINOPSE III

Os princípios da Igreja de Jerusalém nos ensinam a viver a dimensão espiritual, do acolhimento e da adoração.

 

AUXÍLIO BÍBLICO—TEOLÓGICO

“O PROGRESSO SE REPETE. [...] Os primeiros discípulos — a maioria composta por judeus — continuavam a adorar diariamente no templo (46). Isto era natural. Posteriormente, a perseguição aos judeus expulsou-os do Templo, e também das sinagogas. Eles também partiam o pão em casa. O texto grego também poderia ser traduzido como ‘de casa em casa’. Não havia edifícios para igrejas no início, e a maioria das reuniões de adoração era conduzida nas casas. Louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo (47) é uma combinação desejada na igreja de todos os tempos e lugares. O Senhor estava acrescentando diariamente novas pessoas ao número de crentes. Esta era uma igreja em crescimento. A última frase, aqueles que se haviam de salvar, é uma tradução completamente injustificável. Não existe aqui nenhuma indicação de predeterminação ou predestinação. O texto grego diz claramente: ‘todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que estavam sendo salvos.’ Isto simplesmente afirma que aqueles ‘que estavam sendo salvos’ uniam-se ao crescente grupo de discípulos em Jerusalém” (Comentário Bíblico Beacon — João e Atos. Volume 7. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.225).

 

CONCLUSÃO

Vimos, nesta lição, algumas características que marcaram a primeira igreja. Frequentemente, nos referimos a ela como a “Igreja Primitiva”. Vemos como sendo uma igreja ideal, modelo para todas as outras. De fato, ela é a igreja-mãe. Isso, contudo, não significa dizer que a igreja de Jerusalém não tivesse problemas. Pelo contrário, veremos em outras lições, que havia alguns bem desafiadores. Nada, contudo, que tire o seu brilho e nos impeça de nos espelharmos nela.

Nesta lição, exploramos as características que imprimiram à igreja de Jerusalém seu perfil singular — uma igreja profundamente doutrinada, relacional, piedosa, reverente, cheia do Espírito e comprometida com os símbolos da fé. Por isso, frequentemente a chamamos de “Igreja Primitiva”, não apenas por sua posição histórica, mas por ser o modelo primordial que ilumina o caminho de todas as igrejas genuínas ao longo dos séculos. Ela é a igreja-mãe, matriz espiritual da qual todos somos descendentes e à qual devemos retornar com humildade e reverência para aprender os fundamentos da fé viva. Todavia, reconhecer sua excelência não significa idealiza-la sem crítica. Como em toda comunidade humana, a igreja de Jerusalém enfrentava desafios reais e conflitos que testavam sua fé e unidade. Esses obstáculos, longe de enfraquecê-la, mostram que a igreja verdadeira é sempre um organismo em crescimento, maturação e transformação constante. Mais que perfeição institucional, ela revela uma dinâmica vital — a presença perseverante do Espírito Santo guiando um povo que, apesar das fraquezas, escolhe refletir a glória de Cristo. Por isso, o brilho da igreja primitiva não nos cega para os problemas, mas nos inspira a uma imitação fiel e apaixonada, com coragem para enfrentar desafios e compromisso com a santidade, a comunhão e o poder do Espírito. Que seu testemunho não seja apenas história para ser admirada, mas chama que reacende a paixão pela igreja que somos chamados a ser hoje.

 

Meu ministério aqui é um chamado do coração — compartilhar o ensino da Palavra de Deus de forma livre e acessível, para que você, irmão ou irmã em Cristo, possa crescer na fé e no conhecimento das Escrituras, sem barreiras, com subsídios preparados por um Especialista em Exegese Bíblica do Novo Testamento.

            Todo o material que ofereço é fruto de oração, estudo e dedicação, e está disponível gratuitamente para que a luz do Evangelho alcance ainda mais vidas sedentas pela verdade. Porém, para que essa missão continue firme, preciso da sua ajuda.

Chave PIX: assis.shalom@gmail.com

Juntos, podemos fazer a diferença. Conto com você!

 

REVISANDO O CONTEÚDO

1. Qual a expressão bíblica que diz muito sobre o processo de discipulado da igreja de Jerusalém?

A expressão é: “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Isso demonstra que a igreja de Jerusalém era bem doutrinada e discipulada, refletindo os ensinamentos dos apóstolos.

2. O que significa a palavra grega koinonia, mencionada no texto em referência à igreja de Jerusalém?

Koinonia significa “comunhão” e se refere às relações interpessoais dos primeiros cristãos, destacando que a igreja era relacional e dedicada à construção de bons relacionamentos.

3. Como o batismo era visto na igreja de Jerusalém?

O batismo era considerado uma ordenança de Jesus e um dos principais símbolos da fé cristã. Ele representava um rito de entrada para a nova vida em Cristo, sendo um testemunho público de conversão.

4. O que Donald Gee diz a respeito da Ceia do Senhor?

Donald Gee afirmou que, quando tomada corretamente, a Ceia leva a Igreja ao próprio coração de sua fé, ao centro do Evangelho e ao objeto supremo do amor de Deus.

5. O que a igreja pode fazer para se tornar relevante?

Uma igreja, para se tornar relevante, necessariamente deve ser acolhedora.

 

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

IGREJA DE JERUSALÉM — UM MODELO A SER SEGUIDO

Estimado(a) professor(a), a paz do Senhor. A lição desta semana tem como finalidade apresentar a igreja primitiva como modelo de fé e relacionamento cristão aos irmãos da igreja atual. Ao observarmos o livro de Atos, identificamos vários aspectos que revelam a face da igreja primitiva como uma igreja doutrinariamente sólida, que perseverava nos ensinamentos introduzidos pelos apóstolos, e na qual os seus membros desfrutavam de uma comunhão salutar; e, não menos importante, oravam assiduamente (At 2.42). Dessa forma, o trabalho realizado por esses irmãos resultava no avanço da pregação do Evangelho, mesmo em meio às perseguições (2Ts 3.1,3). Além de ser uma igreja que gozava da manifestação abundante dos dons espirituais, bem como da operação contínua de sinais, prodígios e maravilhas, havia uma característica muito marcante que a tornava pujante. A igreja primitiva era uma igreja “acolhedora”. Em linhas gerais, o termo acolhedor, de acordo com o Dicionário Houaiss (2009), significa “oferecer ou obter refúgio, proteção ou conforto físico, amparo; dar hospitalidade”. No contexto da igreja primitiva, significava acolher os pecadores, oferecer a oportunidade de perdão e reconciliação com Deus. Além disso, significava também que a igreja não fazia acepção de pessoas, nem mesmo fomentava o preconceito seja qual fosse a condição de pecado em que a pessoa estivesse (At 10.34,35; Rm 2.11); mas, pelo poder regenerador do Espírito Santo, tornava cada pecador arrependido em um discípulo de Cristo (Mt 28.19,20). Aprendemos com a igreja primitiva que devemos acolher o pecador e ensinar que Jesus cura, salva, liberta, batiza no Espírito Santo e voltará para buscar Seus servos para estarem para sempre com Ele. Nesse sentido, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, documento que traz os fundamentos doutrinários de nossa denominação, discorre que “entendemos que é responsabilidade da igreja a obra missionária. A edificação é realizada por meio do ensino da Palavra nas reuniões da igreja, como o culto de ensino, da escola bíblica dominical. A igreja também exerce o ministério de socorro e misericórdia, que inclui o cuidado dos pobres e dos necessitados, e não somente dos seus membros, mas também dos não membros. Enquanto membros da igreja, somos o sal da terra, proporcionando sabor à vida e evitando a putrefação da sociedade ao combatermos o pecado e a corrupção” (2017, p.123). Que o compromisso de acolher os pecadores não seja furtado de nossos corações. Jesus nos libertou e salvou para que, uma vez regenerados por Seu Espírito, tenhamos o prazer de levar outras vidas a Ele. Uma igreja acolhedora prioriza alcançar vidas para o Reino de Deus.