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13 de julho de 2025

EBD JOVENS | Lição 3: Paulo e sua chamada | 3° Trim 2025

 

Pb Francisco Barbosa (@Pbassis)

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TEXTO PRINCIPAL

E glorificavam a Deus a respeito de mim.” (Gl 1.24).

ENTENDA O TEXTO PRINCIPAL:

 E glorificavam a Deus a meu respeito. Paulo termina este trecho reafirmando que a transformação radical em sua vida, de perseguidor da fé para pregador do evangelho, era uma evidência do poder de Deus. Sua vida agora era motivo de glória para Deus e de edificação para os irmãos. A igreja reconhecia que somente o poder do Espírito Santo podia realizar tamanha mudança. Esse testemunho ilustra que o evangelho que Paulo pregava era autêntico e proveniente do próprio Cristo. (BEP)

 Glorificavam a Deus a meu respeito. Os crentes judeus reconheceram que a transformação de Paulo foi obra de Deus, e não o resultado de esforço humano. Isso reforça o argumento de Paulo: o evangelho que ele pregava era o verdadeiro evangelho, e sua missão vinha de Deus. O apóstolo enfatiza que sua vida não trazia glória a si mesmo, mas apontava para a graça de Deus operando por meio dele. (MACARTHUR)

 

RESUMO DA LIÇÃO

Paulo conta um pouco da sua história para defender seu ministério e mostrar que a mensagem que pregava não era estranha aos apóstolos de Jerusalém.

ENTENDA O RESUMO DA LIÇÃO:

 Paulo não apenas relembra sua história, ele a transforma em prova viva de sua autoridade apostólica. Ao narrar sua jornada da religião vazia à revelação gloriosa de Cristo, ele mostra que sua mensagem não nasceu de homens, mas do próprio Deus. Sua pregação não era um desvio do evangelho dos apóstolos de Jerusalém, mas a confirmação de que o mesmo Espírito que agia neles também operava nele. Seu passado, marcado por perseguição, agora se torna o palco onde a graça triunfa e a verdade é inegável: Paulo não era um eco religioso, era uma trombeta do céu. 

 

TEXTO BÍBLICO

Gálatas 1.11-24.

11. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens.

 Paulo declara que o evangelho que ele pregava não procedia de homens, nem foi aprendido de alguém, mas veio por revelação de Jesus Cristo. Isso reafirma sua autoridade apostólica e a autenticidade da sua mensagem. A ênfase está em que sua missão e mensagem são de origem divina, não humana. [Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD)];

 Paulo insiste que o evangelho que pregava não era humano. A origem, o conteúdo e o propósito do evangelho são inteiramente divinos. Ele não recebeu instrução de nenhum homem, nem mesmo dos apóstolos. Sua autoridade vem diretamente de Cristo, que pessoalmente lhe revelou o evangelho. [Bíblia de Estudo MacArthur (Editora Fiel)].

12. porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.

13. Porque já ouvistes qual foi antigamente a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava.

 Paulo declara que o evangelho que ele pregava não procedia de homens, nem foi aprendido de alguém, mas veio por revelação de Jesus Cristo. Isso reafirma sua autoridade apostólica e a autenticidade da sua mensagem. A ênfase está em que sua missão e mensagem são de origem divina, não humana. [Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD)];

 Ouviste qual foi a minha conduta… Paulo lembra sua reputação como perseguidor violento dos cristãos. Isso reforça a ideia de que sua conversão e ministério não poderiam ter vindo de homens. [Bíblia de Estudo MacArthur (Editora Fiel)].

14. E, na minha nação, excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.

 Paulo destaca seu zelo pela tradição dos fariseus. Ele foi educado por Gamaliel e excedia seus contemporâneos. Isso demonstra que ele não tinha nada a ganhar em abandonar o judaísmo. Só uma intervenção divina poderia tê-lo transformado. [Bíblia de Estudo MacArthur (Editora Fiel)].

15. Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça.

 Paulo reconhece que sua conversão e chamado foram atos soberanos de Deus, que o separou desde o ventre materno. A expressão “revelar seu Filho em mim” mostra que a revelação de Cristo foi íntima, profunda e transformadora. Ele afirma que não consultou carne nem sangue, ou seja, não buscou aprovação humana. [Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD)]

16. revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei carne nem sangue,

 “Aprove a Deus… revelar seu Filho em mim” — Isso mostra a soberania de Deus em chamá-lo e capacitá-lo. Paulo enfatiza que sua conversão e missão foram determinadas por Deus antes mesmo de seu nascimento. Sua visão de Cristo não foi uma informação recebida externamente, mas uma revelação direta e pessoal. [Bíblia de Estudo MacArthur (Editora Fiel)].

17. nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia e voltei outra vez a Damasco.

 O apóstolo menciona que não subiu imediatamente a Jerusalém, mas foi para a Arábia e depois voltou a Damasco. Só após três anos foi a Jerusalém, onde ficou apenas quinze dias com Pedro. Isso destaca sua independência em relação aos demais apóstolos quanto ao aprendizado do evangelho. [Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD)]

18. Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro e fiquei com ele quinze dias.

 Ao invés de procurar os apóstolos em Jerusalém, Paulo foi para a Arábia, e depois voltou a Damasco. Isso demonstra que ele não foi discipulado por homens. Só depois de três anos, e por breve período, foi a Jerusalém para conhecer Pedro. [Bíblia de Estudo MacArthur (Editora Fiel)].

19. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor.

 Paulo continua demonstrando que não recebeu instrução humana em sua missão apostólica. Ele só viu Tiago, irmão do Senhor. As igrejas da Judeia apenas ouviam falar de sua conversão e glorificavam a Deus por sua transformação. Sua vida agora era um testemunho do poder de Deus. [Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD)]

20. Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto.

 Paulo afirma com ênfase que não mentia sobre os fatos. Isso mostra sua preocupação com a credibilidade do seu ministério, que estava sendo atacado pelos judaizantes. [Bíblia de Estudo MacArthur (Editora Fiel)].

21. Depois, fui para as partes da Síria e da Cilícia.

22. E não era conhecido de vista das igrejas da Judeia, que estavam em Cristo;

23. mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia, agora, a fé que, antes, destruía.

24. E glorificavam a Deus a respeito de mim.

 Paulo foi para as regiões da Síria e da Cilícia, longe dos apóstolos e das igrejas da Judeia. As igrejas só sabiam dele por relatos, e glorificavam a Deus pela transformação daquele que antes as perseguia. [Bíblia de Estudo MacArthur (Editora Fiel)].

 

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INTRODUÇÃO

Paulo dá continuidade à Carta aos Gálatas, mas nesta seção, ele conta um pouco a sua história. E por qual motivo ele faria isso? O seu ministério e sua mensagem estavam sendo atacados por ele não ter sido um dos apóstolos de Jerusalém. A tática dos judaizantes era desqualificar Paulo como apóstolo, para depois desqualificar a sua mensagem. E de que forma tentaram fazer isso? Os inimigos de Paulo provavelmente conheciam o seu passado, e tentaram colocar isso em foco para descredibilizar o apóstolo. Por isso, ele entendeu ser necessário, ainda no início de sua Carta, apresentar uma parte da sua biografia, não para se exaltar, mas para mostrar o que a graça de Deus pode fazer por um pecador.

 Ao continuar sua carta aos gálatas, Paulo faz algo que pode parecer estranho à primeira vista: ele faz uma pausa para contar um pouco da própria história. Não é um desvio de assunto. Pelo contrário, é parte essencial do argumento que ele quer construir. A igreja estava sendo bombardeada por vozes judaizantes que tentavam destruir sua credibilidade apostólica. Afinal, ele não tinha andado com Jesus como os Doze. Não fazia parte do "núcleo original" de Jerusalém. E, para muitos, isso já bastava para questionar a autenticidade de seu ministério. Mas Paulo sabia que o Evangelho que ele pregava estava em jogo, e quando a verdade do Evangelho é ameaçada, calar-se não é uma opção. O ataque era sutil, mas perigoso: se eles conseguissem desacreditar o mensageiro, poderiam distorcer a mensagem. Por isso, Paulo nos leva de volta ao seu passado. Ele não tenta apagar quem foi. Não tenta disfarçar sua antiga vida. Ele a expõe. Com coragem. Com clareza. Com propósito. Porque sua vida antes de Cristo não era apenas um episódio vergonhoso; era um testemunho vivo do que a graça de Deus é capaz de fazer. No grego, ele usa a expressão νακεφαλαιώσασθαι (anakephalaiōsasthai), para indicar como tudo em sua vida agora é recapitulada em Cristo. O Evangelho não apagou sua história; ele a ressignificou completamente. Não se trata de autopromoção, e sim de uma defesa da verdade. O que Paulo está dizendo é: "eu fui transformado por uma revelação direta de Jesus Cristo" (Gl 1.12). Nenhuma tradição humana, nenhum discipulado apostólico o moldou, foi o próprio Cristo que o chamou, salvou e comissionou. E aqui está uma lição crucial para nós, professores e alunos da EBD: a autoridade espiritual não depende da aprovação de homens, mas do chamado soberano de Deus. Como lembra Hernandes Dias Lopes, "Paulo não se converteu ao cristianismo; foi conquistado por Cristo"1. Essa narrativa biográfica é, na verdade, um sermão vivo. Ela nos confronta com a pergunta: será que temos vergonha do nosso passado a ponto de ocultar o poder do Evangelho que nos alcançou? Será que nas igrejas locais estamos valorizando mais a performance dos homens do que o mover transformador da graça? O Comentário Bíblico Pentecostal observa que "Paulo se apresenta não para autopromoção, mas como prova de que Deus pode usar qualquer pessoa, desde que ela se submeta ao seu chamado"2. Se Deus pôde usar alguém que perseguia a Igreja, o que Ele pode fazer conosco, se estivermos dispostos? A graça que nos transforma também nos envia. Lembre-se: sua história importa, não porque ela te define, mas porque revela o quanto Deus é poderoso em redimir. Como ensinava o pastor Antônio Gilberto, "Deus não desperdiça experiências passadas, quando elas são colocadas aos pés da cruz"3. Olhe para Paulo. Olhe para si mesmo. E pergunte com seriedade: Minha vida é uma evidência da graça ou uma performance de fachada? Que essa reflexão seja o começo de uma profunda reavaliação espiritual em nossos grupos de EBD, porque talvez o maior testemunho que você possa dar nesta geração, não é o que você aprendeu... mas quem você se tornou em Cristo._______________

              1. LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: a carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2017.

              2. ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (eds.). Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

              3. GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. 

 

I. O EVANGELHO DE PAULO

1. Paulo faz sua defesa. A história de vida de uma pessoa tem importância. De onde ela veio, o que aconteceu na sua vida, que adversidades enfrentou e que tipo de acontecimentos moldaram o que a pessoa é hoje podem nos servir de exemplo. Paulo se preocupa em estabelecer as suas credenciais narrando um pouco a sua história, mas por um motivo nobre: falsos mestres que tinham ido à Galácia tentavam desqualificar o seu ministério. É comum, em nossos dias, que um indivíduo chegue a uma determinada posição na sociedade e que terceiros, desconhecedores de sua história, o avaliem como alguém que teve sorte, que teve ajuda, que no fundo não merece a posição que ocupa ou que a sua história não corresponde à função em que está. Por isso, devemos ser cautelosos em nossas opiniões, e pensar bastante antes de falar coisas, desconhecendo fatos. Paulo não conta a sua história para impressionar os gálatas. Ele não faz com o objetivo de comover os seus leitores, e sim para mostrar que ele tinha autoridade para pregar e defender o Evangelho aos gentios. Histórias e testemunhos sempre nos fazem lembrar de que as nossas lutas podem ser muito parecidas com as de outros irmãos, e no caso de Paulo, é possível que os gálatas não tivessem, quando foram evangelizados, conhecido com detalhes o seu passado como perseguidor. A expressão “já ouvistes” é um indicativo de que Paulo falou um pouco de sua história provavelmente enquanto os evangelizava, mas o que ele vai descrever a seguir reforça a sua autoridade apostólica, visto que recebeu o Evangelho do Senhor Jesus, e não de homem algum. Ele não fora comissionado pela igreja de Jerusalém, mas pelo próprio Cristo.

 Nem sempre damos atenção à história de alguém. Às vezes, olhamos para a posição que a pessoa ocupa hoje, sem considerar de onde ela veio, o que enfrentou e o que a moldou. Mas Paulo, ao escrever aos gálatas, sabia que contar sua trajetória não era vaidade, era necessidade pastoral. Havia falsos mestres infiltrados entre os crentes da Galácia, e sua estratégia era simples: desacreditar o apóstolo para desfigurar a mensagem. Se conseguissem diminuir Paulo, poderiam relativizar o Evangelho que ele havia anunciado. Por isso, Paulo abre o coração e conta como a graça o alcançou. Ele não busca empatia. Não está tentando impressionar. Está afirmando, com toda a clareza: “o Evangelho que eu preguei a vocês não veio de homens, mas por revelação de Jesus Cristo” (Gálatas 1.12). A expressão grega usada aqui, “δι’ ποκαλύψεως ησο Χριστο” (di’ apokalypsēōs Iēsou Christou), é decisiva. Paulo não aprendeu com Pedro, nem foi treinado em Jerusalém. Ele foi interrompido e transformado por uma intervenção direta do próprio Cristo glorificado. Os judaizantes queriam pintar um quadro onde Paulo era um rebelde solitário, inventando doutrina à parte dos outros apóstolos. Mas ele não estava isolado; estava em missão. Como destaca Alexandre Coelho em seu comentário expositivo sobre Gálatas, “Paulo não recebeu um chamado humano. Ele recebeu uma comissão celestial, e isso dava legitimidade à sua autoridade apostólica”¹. E aqui está a lição para nós: o valor do ministério não está em quem o aprova, mas em quem o chama. E se é Cristo quem chama, nenhuma acusação pode invalidar o que Ele mesmo iniciou. Infelizmente, ainda hoje julgamos sem conhecer. É comum ouvirmos frases como: “Fulano só chegou onde está porque teve sorte”, ou “Alguém ajudou, sozinho ele não conseguiria”. E talvez pensemos isso de líderes, professores, pastores… sem saber que, por trás do púlpito ou da sala de aula, há cicatrizes, batalhas, madrugadas de oração e uma longa estrada de renúncias. Paulo mostra que testemunhos não servem para autopromoção, mas para edificação. Seu passado perseguidor (cf. Gl 1.13) não o desqualificava, era justamente o palco sobre o qual a graça brilhou mais forte. A nossa história, quando entregue a Cristo, se torna ferramenta de autoridade e não de vergonha. Como ensinava o pastor Antônio Gilberto, “a história do homem sem Deus é caos, mas quando a graça entra, ela escreve uma nova narrativa, cheia de propósito”². Que nossos jovens, professores e líderes entendam que Deus não apaga nossa história, Ele a redime. E quanto mais conscientes formos da profundidade da graça que nos alcançou, mais ousados seremos em viver e ensinar o verdadeiro Evangelho._______________

              1. COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.

              2. GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

 

2. Ele não pregou o Evangelho dos apóstolos de Jerusalém. Que tipo de Evangelho Paulo estava ensinando e pregando? O Evangelho é um só, mas judeus e gentios tinham culturas distintas, e foi necessário mostrar que da mesma forma que o Evangelho dos irmãos de Jerusalém tinha como fonte o Senhor Jesus, o dos gentios também tinha o Senhor Jesus como fonte. A mensagem de Paulo não era diferente do Evangelho dos apóstolos em Jerusalém, a base e origem da Igreja. A salvação continuava sendo pela fé em Jesus, pois o Evangelho é o “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu, e do grego” (Rm 1.16). Grupos culturais diferentes, mas o mesmo Evangelho da salvação. É possível que, em nossos dias, haja pessoas que aleguem ter recebido uma nova mensagem da parte do próprio Senhor Jesus. Entendemos que Deus pode nos trazer revelações específicas por meio de dons do Espírito, mas nunca essas interações serão contrárias ao que está escrito na Palavra de Deus.

 Ao escrever aos gálatas, Paulo deixa algo inegociável bem claro: ele não pregava um “Evangelho paralelo”. A mensagem que anunciava entre os gentios não era diferente daquela proclamada pelos apóstolos em Jerusalém. Mesmo não tendo sido discipulado por Pedro, João ou Tiago, Paulo declara que o Evangelho que ele recebeu veio diretamente de Jesus Cristo (Gl 1.12). Ou seja, a fonte era a mesma: o próprio Senhor ressuscitado. Isso é fundamental, porque embora judeus e gentios tivessem culturas, histórias e hábitos religiosos distintos, havia um só Evangelho, e uma só fé. A mensagem de Paulo não era um produto cultural moldado para agradar o público grego, mas o mesmo poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, tanto do judeu quanto do grego (Rm 1.16). O termo usado por Paulo para “poder” no grego é δύναμις (dýnamis), que dá origem à palavra “dinamite”. Ou seja, o Evangelho não é apenas informação, é transformação que explode as barreiras humanas e culturais. A diferença não estava na mensagem, mas no campo de atuação. Como observa Hernandes Dias Lopes, “Paulo pregava a mesma fé, com a mesma autoridade, mas a um público diferente”¹. A missão aos gentios não era um plano B, era parte do plano eterno de Deus. A aliança agora se expandia. Como explica o Comentário Bíblico Pentecostal, “a igreja se tornou o lugar onde judeus e gentios, pela fé, são feitos um em Cristo”². Essa unidade não apagava as diferenças culturais, mas demonstrava que o Evangelho é suficientemente poderoso para alcançar todos, sem alterar sua essência. Nos nossos dias, ainda precisamos lembrar disso. Há quem apareça dizendo ter recebido uma “nova revelação”; um “Evangelho mais moderno”, mais adaptado, mais palatável. Mas o verdadeiro Evangelho não precisa ser reinventado. Ele precisa ser reconhecido, vivido e pregado com fidelidade. Como bem destaca o teólogo pentecostal Gordon D. Fee, “o Espírito Santo jamais contradiz o que já revelou na Palavra”³. Sim, cremos nos dons, nas revelações, nas direções sobrenaturais de Deus. Mas tudo precisa passar pelo crivo das Escrituras. Nenhuma profecia, visão ou pregação que negue a suficiência de Cristo e a autoridade da Bíblia pode ser considerada inspirada. A aplicação aqui é simples e poderosa: não há dois Evangelhos, um “para a igreja tradicional” e outro “para os jovens”, ou um “mais pentecostal” e outro “mais reformado”. Há um só Evangelho. E esse Evangelho nos foi entregue pelos apóstolos, confirmado pelo próprio Cristo e registrado nas Escrituras. Se quisermos ver uma geração transformada, precisamos parar de adaptar a mensagem ao gosto do povo e começar a formar o povo pela verdade do Evangelho._______________

         1. LOPES, Hernandes Dias. Gálatas – Comentários Expositivos Hagnos: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2017.

         2. ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

         3. FEE, Gordon D. Ouça o Espírito, Ouça a Palavra. São Paulo: Vida Nova, 2007.

 

3. O Evangelho que Paulo pregava havia sido aprovado pelos apóstolos em Jerusalém. A mensagem de Paulo, como já dissemos, era a mesma dos apóstolos, mas o público era diferente. E os apóstolos de Jerusalém reconheceram o ministério de Paulo e a mensagem que ele pregava, o apóstolo comenta que “deram-nos às destras, em comunhão, comigo e com Barnabé, para que fôssemos aos gentios, e eles, à circuncisão” (Gl 2.9).

 Embora tivesse recebido sua comissão diretamente de Cristo, Paulo não agia de forma isolada. Ele sabia que a unidade da Igreja dependia da clareza doutrinária e da comunhão entre os que anunciavam o Evangelho. Por isso, foi até Jerusalém, não para buscar aprovação humana, mas para confirmar que o Evangelho que pregava entre os gentios era, de fato, o mesmo anunciado pelos apóstolos entre os judeus (cf. Gl 2.1–2). E o resultado dessa visita foi marcante: em vez de divisão, houve reconhecimento mútuo e comunhão real. Quando Paulo diz que “nos deram as destras da comunhão” (Gl 2.9), ele usa uma expressão que, no contexto cultural da época, simbolizava aceitação, aliança e parceria. Era um gesto de confiança. Pedro, Tiago e João, reconhecidos como colunas da igreja em Jerusalém, estenderam a mão a Paulo e Barnabé, não como estranhos, mas como irmãos que compartilham o mesmo chamado, servindo em contextos diferentes, mas sob o mesmo Senhor. Como afirma o Comentário Bíblico Beacon, “o reconhecimento de Paulo não foi meramente institucional, mas espiritual, baseado na evidência da graça que operava em seu ministério”¹. Essa cena é profunda: homens com histórias, perfis e públicos distintos, mas unidos por uma mensagem única: o Evangelho da graça. A missão de Paulo era alcançar os gentios; a dos demais, os judeus. Mas a essência era a mesma: Cristo crucificado, ressurreto, e suficiente para a salvação de todos os que creem. Não havia um “Evangelho judaico” e outro “gentílico”. Havia apenas o Evangelho de Cristo que atravessa culturas sem perder sua identidade. E essa unidade doutrinária é um exemplo poderoso para nossos dias. Quantas divisões nas igrejas poderiam ser evitadas se compreendêssemos que a diversidade de públicos não exige diversidade de mensagens, mas sim sabedoria pastoral para aplicar o mesmo Evangelho com fidelidade e sensibilidade. Como observa o exegeta e teólogo pentecostal ítalo-americano, Anthony D. Palma (1926-2023), “a missão da igreja é universal, mas o conteúdo da sua mensagem deve permanecer inalterado”². Aqui há uma lição preciosa para nós: comunhão verdadeira só é possível quando o Evangelho é o mesmo. Precisamos entender que a base da nossa unidade não está nos métodos, nas tradições ou nas preferências culturais, mas na fidelidade ao Evangelho tal como nos foi entregue, uma mensagem que continua sendo o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). Que a nossa geração seja conhecida não por reinventar o Evangelho, mas por vivê-lo com fidelidade e proclamá-lo com coragem._______________

         1. BEACON HILL PRESS. Comentário Bíblico Beacon: Gálatas. Vol. 9. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

         2. PALMA, Anthony D. A Obra do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

 

 

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SUBSÍDIO I

Professor(a) dê início ao tópico fazendo a seguinte pergunta: “Por que Paulo conta sua história de vida para os gálatas?”. Incentive a participação dos alunos e depois explique que “Paulo não conta a sua história para impressionar os gálatas. Ele não o faz com o objetivo de comover os seus leitores, e sim para mostrar que ele tinha autoridade para pregar e defender o Evangelho aos gentios. As circunstâncias ruins que foi preciso enfrentar não ditaram como Paulo escolheu vê-las. Seu serviço a Cristo lhe trouxe tristeza, privação, e pobreza, mas em meio a todas estas circunstâncias, nunca perdeu de vista a perspectiva divina. Este conhecimento permitiu que se regozijasse nas tristezas, percebendo que através de sua pobreza trouxe a riqueza do céu para as almas empobrecidas. Embora o mundo o visse como não possuindo nada, Paulo sabia que possuía ‘todas as bênçãos espirituais’ em Cristo (Ef 1.3)”. (Adaptado de Comentário Bíblico Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, pp.1098,1099).

 

II. RELEMBRANDO O PASSADO

1. Escolhido por Deus. Paulo fora escolhido, mesmo com o seu currículo questionável antes de conhecer Jesus. O que ele fazia como perseguidor da Igreja é relatado por ele mesmo quando discursa ao rei Agripa: “[...] E, havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e, quando os matavam, eu dava o meu voto contra eles” (At 26.10). Paulo se voltara contra os seguidores de Jesus, e com autorização dos líderes judeus, prendeu muitos crentes, e deu seu voto favorável até para a execução de alguns deles. Ele ainda acrescenta: “E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui” (At 26.11). Como se fosse pouco o que havia feito, ele se recorda de que utilizou as sinagogas como ambiente de castigo aos seguidores de Jesus, e fez com que crentes chegassem a blasfemar do nome do Salvador. Ele não limitou sua perseguição a Jerusalém, e relata que perseguiu cristãos até em cidades que não faziam parte dos limites de Israel. É possível ser uma pessoa cumpridora dos seus deveres, religiosa e, mesmo assim, detestar Jesus e a sua Igreja.

 É interessante a abordagem que as Escrituras fazem dos grandes personagens da fé. O que fazer com um passado vergonhoso? Ignorar? Esquecer? Disfarçar? Todos eles são expostos na narrativa bíblica, e com Paulo não é diferente. Ele encara sua história com honestidade e nos ensina a fazer o mesmo. Ao testemunhar diante do rei Agripa, ele não suaviza os fatos. Conta, sem rodeios, que prendeu cristãos, votou pela morte de alguns deles e, tomado de ódio, invadiu sinagogas para forçar seguidores de Jesus a negarem a fé (Atos 26.10, 11). E como se não bastasse, levou sua fúria além das fronteiras de Israel, perseguindo os discípulos até em cidades estrangeiras. A expressão usada em Atos 26.11, no grego, é forte: μμαινόμενος (emmainómenos), traduzida como “enfurecido”. Ela carrega a ideia de alguém fora de si, tomado por ódio incontrolável. Essa era a fúria de Paulo contra Cristo e contra a Igreja. E, no entanto, foi esse homem que Jesus escolheu. Não apesar disso, mas justamente para mostrar até onde a graça pode ir. Como afirma o autor do Comentário Bíblico Pentecostal NT, French L. Arrington, “a conversão de Paulo demonstra que nenhum passado é irrecuperável para Deus”¹. Isso precisa nos confrontar. Vivemos dias em que o cristianismo muitas vezes se reduz a comportamentos religiosos, aparência de piedade e boa reputação. Mas Paulo mostra que é possível ser profundamente religioso, zeloso e obediente às tradições e ainda assim estar lutando contra o próprio Cristo. Ele cumpria rituais. Tinha autoridade dos líderes judeus. Mas era inimigo da cruz. Como ensinava o pastor Antônio Gilberto, “há muitos que vivem na igreja, mas ainda não passaram pela cruz”². O Evangelho não escolhe com base no passado, mas na soberania de Deus e na eficácia da graça. Paulo não foi salvo porque merecia. Foi salvo para que todos soubessem que ninguém está além do alcance da misericórdia. Como destaca Douglas Oss, “a narrativa de Paulo é um testemunho poderoso de que o Espírito Santo pode redirecionar até mesmo os mais endurecidos corações”³. E você? Tem tentado esconder suas feridas? Tem evitado contar o que Deus te tirou? Paulo nos ensina que quando a graça entra, o passado deixa de ser peso e se torna plataforma de testemunho. O Senhor não te chama porque você é bom. Ele te chama para mostrar como Ele é bom. E isso muda tudo._______________

         1. ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

         2. GILBERTO, Antônio. Introdução à Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

         3. OSS, Douglas. In: STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

 

2. Dias em Jerusalém. Paulo menciona que esteve 15 dias em Jerusalém, e nesses dias, esteve com Pedro e Tiago. Não nos é dito muito acerca desse tempo, mas a menção dos nomes de Pedro e Tiago é importante, por serem colunas da Igreja (Gl 2.9). Os que se opuseram a Paulo até poderiam ignorá-lo ou descredibilizá-lo. Mas em vez disso, não somente o receberam como também reconheceram que os gentios poderiam ser alcançados pela sua pregação. Era uma forma clara de dizer que ele não estava pregando sem o conhecimento da igreja de Jerusalém.

 Pode parecer um detalhe pequeno, mas Paulo faz questão de mencionar que passou quinze dias em Jerusalém (Gl 1.18). Não foi uma visita protocolar, nem uma tentativa de buscar aprovação. Foi um tempo breve, mas significativo. Nesse período, ele esteve com Pedro (Cefas) e Tiago, dois dos nomes mais respeitados da igreja primitiva, líderes considerados colunas da fé (Gl 2.9). Essa informação não é decorativa; ela é estratégica. Paulo estava mostrando aos gálatas que sua mensagem não era solitária nem oculta, mas reconhecida pelos principais líderes da igreja em Jerusalém. A visita a Jerusalém serve como uma ponte entre o chamado celestial e o reconhecimento terreno. Paulo já havia recebido o Evangelho por revelação direta de Cristo (Gl 1.12), mas esse encontro com Pedro e Tiago reforça que não havia contradição entre o Evangelho que ele pregava e o Evangelho dos apóstolos originais. Como observa o Comentário Bíblico Pentecostal, “o ministério de Paulo não era isolado nem divergente, mas complementar ao dos demais apóstolos”¹. A aceitação que recebeu em Jerusalém mostra que ele não agia fora da comunhão da Igreja mesmo que sua missão fosse a campos ainda não alcançados. Os opositores de Paulo poderiam tentar desacreditá-lo, dizendo que ele não fazia parte do grupo original. Mas ele desmonta essa crítica com simplicidade: foi até Jerusalém, foi recebido, e foi reconhecido. Nenhum dos apóstolos o censurou. Nenhum contestou sua mensagem. Pelo contrário, entenderam que Deus estava agindo por meio dele para alcançar os gentios, assim como agia entre os judeus através deles. Isso reforça uma verdade essencial: o chamado de Deus pode ser pessoal, mas não é isolado, ele é confirmado na comunhão do Corpo. Essa breve menção de quinze dias nos ensina algo profundo. O tempo com pessoas maduras da fé não precisa ser longo para ser significativo. O que importa é o alinhamento com a verdade. Paulo não foi a Jerusalém para ser discipulado, mas para afirmar a unidade do Evangelho. Como ensina Anthony D. Palma, “a harmonia entre os ministérios apostólicos é fruto da obra do Espírito, não de um acordo humano”². A comunhão verdadeira nasce da fidelidade à mensagem, não da uniformidade de métodos. O ministério que nasce da revelação deve caminhar em aliança com a Igreja local e com a comunhão dos santos. Paulo não agia como um “pregador independente”. Ele era livre, mas submisso ao Evangelho. Esta é uma lição necessária a todos nós: a unção pessoal nunca pode ser desculpa para caminhar longe do Corpo de Cristo. A graça que chama também ensina a caminhar em unidade. _______________

         1. ARRINGTON, French L. et al. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

         2. PALMA, Anthony D. A Obra do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

 

3. Pedro e Tiago. Como vimos, Paulo faz menção de Pedro e Tiago, homens de Deus que lideravam a igreja em Jerusalém. Essa menção fez com que os gálatas fossem informados de que o apóstolo conhecia os ministros de Jerusalém, e que os respeitava. Ele não se considerava superior a eles e pode não ter sido ordenado apóstolo por eles, mas nunca os desprezou, pois na época em que eles começaram o ministério apostólico, Paulo nem mesmo era convertido, razão pela qual jamais poderia ser apóstolo no lugar de Judas. Deus havia reservado uma outra perspectiva ministerial para Saulo.

 Ao mencionar Pedro e Tiago em sua carta, Paulo não está apenas listando nomes conhecidos. Ele está enviando uma mensagem de respeito e comunhão. Esses dois homens eram reconhecidamente líderes da igreja em Jerusalém, eram tidos como colunas firmes da fé (Gl 2.9). A citação de seus nomes era suficiente para mostrar aos gálatas que Paulo não caminhava sozinho, nem em rebeldia. Ele sabia quem eram esses homens de Deus, os conhecia pessoalmente e os honrava. Mesmo sem ter sido ordenado apóstolo por eles, Paulo jamais os desprezou. Paulo também não se colocava como superior. Ele sabia exatamente o tempo e o modo como Deus o chamou. Quando Pedro, Tiago e os demais estavam iniciando o ministério apostólico, Paulo nem sequer era convertido. Ele mesmo admite que, naquele tempo, perseguia a Igreja com fúria (Gl 1.13; At 26.10–11). Portanto, nunca reivindicou o lugar de Judas, o apóstolo traidor. Esse lugar foi preenchido por Matias (At 1.26), por decisão e oração dos onze. O chamado de Paulo era outro. Deus o reservou para uma missão à parte: levar o Evangelho aos gentios, aos que estavam longe, fora das fronteiras de Israel (cf. At 9.15). Essa distinção não gerou divisão, mas complemento. Como afirma Hernandes Dias Lopes, “Pedro foi o apóstolo dos judeus; Paulo, o apóstolo dos gentios. Dois ministérios diferentes, mas um só Evangelho”¹. Paulo não queria competir com Pedro, nem substituí-lo. Ele compreendia que Deus levanta diferentes ministros para diferentes campos, com um só propósito: glorificar Cristo e edificar a Igreja. E aqui está uma lição prática para nossos dias: reconhecer o próprio chamado nunca deve nos levar a desprezar os que vieram antes. Em tempos de disputas ministeriais, comparações e vaidades, Paulo nos dá um exemplo de equilíbrio: firme em sua autoridade apostólica, mas cheio de reverência por aqueles que Deus também havia levantado. Como ensina Antônio Gilberto, “a humildade é o adorno indispensável de quem foi verdadeiramente chamado por Deus”². A verdade prática aqui é simples, mas profunda: ninguém precisa se impor quando foi de fato enviado por Deus. Paulo sabia quem era, mas sabia também quem os outros eram. Não havia necessidade de rivalidade, apenas de fidelidade. Que assim também seja entre nós, que sejamos líderes e alunos que honram, que caminham em unidade e que vivem para que Cristo seja visto, não o ego de ninguém._______________

         1. LOPES, Hernandes Dias. Gálatas – Comentários Expositivos Hagnos: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2017.

         2. GILBERTO, Antônio. Manual do Obreiro. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.

 

III. A DIFERENÇA DE UMA VIDA TRANSFORMADA

1. Paulo, desconhecido na Judeia. Em sua defesa, o apóstolo comenta que não era “conhecido de vista das igrejas da Judeia”. Diferente do que temos em nossos dias, onde as redes sociais costumam expor as fotos dos donos de perfis tornando-o conhecido, no primeiro século uma pessoa só seria conhecida se aparecesse presencialmente em um lugar, se fosse uma figura pública ou se já fosse conhecida anteriormente. Apesar de não ter seu rosto manifesto, Paulo sabia que a sua fama de perseguidor chegara a vários lugares, inclusive na Judeia.

 Paulo, ao defender seu ministério, menciona algo curioso: ele não era conhecido “de vista” pelas igrejas da Judeia (Gl 1.22). Em outras palavras, os irmãos de lá sabiam quem ele era pelo que tinham ouvido, mas nunca tinham visto seu rosto pessoalmente. Isso pode soar estranho para nós, que vivemos na era das redes sociais, onde basta uma imagem de perfil ou um story para “conhecer” alguém. Mas no primeiro século, ser conhecido envolvia presença real, convivência, testemunho visível. Mesmo assim, a fama de Paulo já o havia precedido. Mas não era uma fama boa. Era conhecido como o antigo perseguidor, aquele que aterrorizava os seguidores de Cristo. Seu nome ainda carregava peso, mas era um peso negativo: medo, dor, memória de prisões e mortes. Como destaca o Comentário Bíblico Beacon, “o passado de Paulo não precisava de foto para ser lembrado, bastava o nome”¹. E ainda assim, o que se espalhava agora não era mais o terror que ele causava, mas a transformação radical que a graça de Deus havia operado em sua vida. Isso nos ensina algo poderoso: não é necessário ser visto para ser lembrado, quando a graça de Deus está operando em nossa história. Paulo nos mostra que o testemunho autêntico vai além da aparência; ele toca corações mesmo à distância. Como observa Douglas Oss, “a autoridade espiritual não se constrói com visibilidade pública, mas com integridade diante de Deus”². O rosto de Paulo era desconhecido, mas a mudança em sua vida era inegável. E era disso que as igrejas falavam. Em uma geração que valoriza likes, visibilidade e influência digital, Deus continua procurando corações transformados, não perfis populares. A verdadeira influência cristã não está em ser reconhecido por muitos, mas em ser irrepreensível diante de Deus. Como dizia o pastor Antônio Gilberto: “O que você é diante do espelho do céu é mais importante do que a imagem que projeta diante dos homens”³. Paulo nos lembra que a graça muda nossa identidade mais do que qualquer imagem pública. O que as igrejas da Judeia diziam era simples, mas profundo: “Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé que outrora procurava destruir” (Gl 1.23). E isso diz tudo. A sua história também pode ser contada assim. A pergunta é: o que será lembrado sobre você, sua aparência ou sua transformação?

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         1. BEACON HILL PRESS. Comentário Bíblico Beacon: Gálatas. Vol. 9. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

         2. OSS, Douglas. In: ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de        Janeiro: CPAD, 2004.

         3. GILBERTO, Antônio. Erros que os Pregadores Devem Evitar. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.

 

2. Uma vida transformada. Que poder é capaz de transformar a vida de uma pessoa? Por quais experiências uma pessoa pode passar e fazer com que ela adquira um novo hábito, uma nova perspectiva de vida? Existem formas, humanamente falando, com as quais uma pessoa muda, como a de conclusão de um curso superior, a maternidade, a formação militar, ou mesmo um desafio profissional. Em nossos dias, muitas pessoas tomam tempo em nossos cultos contando, quando têm oportunidade, sobre o seu passado. Passam bastante tempo falando as coisas que cometeram, e deixam pouco espaço para falar o que Jesus fez. Se observarmos os escritos do apóstolo, ele menciona, sim, parte da sua história, mas somente quando estritamente necessário. As Cartas de Paulo no Novo Testamento se ocupam extensivamente não da sua vida pessoal e do que ele era ou fazia antes do Evangelho, mas sim do poder de Deus em sua vida e da forma como esse poder estava disponível para salvar e transformar todos os homens. Não é difícil qualificar uma pessoa pelas coisas que ela fez ou faz. Paulo tinha sido um perseguidor até que se encontrou com Jesus. Não foram poucas as mazelas que ele cometeu contra os santos e, num primeiro momento, a sua conversão foi colocada em dúvida. Mas ele foi paciente e deixou que Deus tratasse do seu passado.

 Que força é capaz de mudar, de verdade, a trajetória de uma vida? Há experiências que realmente marcam uma pessoa: a formatura de um curso, a chegada de um filho, um desafio profissional superado, a disciplina de uma formação militar. Tudo isso transforma, sim. Mas há uma transformação que vai além da superfície. Há uma mudança que não apenas altera hábitos, mas redefine identidade. E essa mudança só pode ser explicada pelo Evangelho de Jesus Cristo. Paulo sabia o que era ter um passado pesado. Ele tinha sido perseguidor, violento, implacável com os cristãos. Ainda assim, em suas cartas, quase nunca vemos Paulo fazendo longos relatos sobre sua antiga vida. Ele só menciona seu passado quando é estritamente necessário para defender a pureza do Evangelho ou confirmar a ação da graça em sua vida (cf. Gl 1.13, 14; At 26.10, 11). O foco de seus escritos não é ele mesmo. É Cristo em ação, o poder de Deus que transforma perseguidores em proclamadores. Isso contrasta com o que vemos em muitos cultos hoje: testemunhos longos sobre o que a pessoa fazia no mundo e apenas uma frase apressada sobre o que Jesus fez depois. Paulo jamais faria isso. Ele nos ensina que o poder do Evangelho não está no tamanho do pecado passado, mas na profundidade da graça que nos alcançou. Como diz a Bíblia de Estudo Pentecostal: “O Evangelho de Paulo gira em torno de Cristo crucificado, ressuscitado e entronizado, não em torno do próprio Paulo”¹. A transformação verdadeira é aquela que deixa de tentar limpar o passado com palavras e deixa que Deus o trate com tempo, frutos e silêncio humilde. Paulo não forçou sua aceitação. Ele não exigiu que os outros o entendessem logo. Ele deixou que o tempo mostrasse quem ele era agora. Como observa Gordon D. Fee, “a nova criação é evidenciada mais pelas ações atuais do que pelas palavras sobre o passado”². O seu testemunho mais poderoso não é o que você diz que foi, é o que você vive agora, no poder do Espírito Santo. O verdadeiro Evangelho não gira em torno da sua história, mas da história de Jesus em você. E é essa história que o mundo precisa ouvir._______________

         1. BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Edição com comentários doutrinários. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

         2. FEE, Gordon D. Ouça o Espírito, Ouça a Palavra. São Paulo: Vida Nova, 2007.

 

3. O que as pessoas dizem acerca de você? Paulo diz que os irmãos da Judeia glorificavam a Deus pela vida dele. Em que aspecto residia a alegria daqueles irmãos? No fato de que a fé em Jesus Cristo havia alcançado o coração do perseguidor, e que ele estava anunciando a fé. Apesar da fama que ele havia adquirido como algoz dos santos, Deus havia mudado a sua história de perseguidor para perseguido. Paulo era um fariseu que encontrou o seu Messias, e defenderia a sua mensagem até à morte. Enquanto a igreja era perseguida por Paulo, Deus estava trabalhando. Foi Ele que conduziu Saulo para estrada de Damasco. Os irmãos daquela localidade já sabiam da sua fama, mas o que parecia ser uma extensão da perseguição dos crentes que residiam em Damasco seria o ponto final na vida do perseguidor, que seria transformado em perseguido por causa do Evangelho.

 É provocativa a pergunta deste subtópico, no entanto, necessária! O que as pessoas dizem sobre você quando não está por perto? Paulo, ao narrar sua história, diz algo precioso: “E glorificavam a Deus a meu respeito” (Gl 1.24). Os irmãos da Judeia não o conheciam de perto, mas sabiam da sua antiga fama. A notícia que circulava entre eles era impactante: o antigo perseguidor agora pregava a mesma fé que antes tentava destruir. Isso não gerava suspeita, gerava adoração. Eles não glorificavam a Paulo. Glorificavam a Deus por aquilo que Ele tinha feito em Paulo. A alegria da igreja não estava na fama do novo apóstolo, mas no poder de Deus que transformava histórias improváveis. O fariseu Saulo se tornou o mensageiro Paulo. O caçador da Igreja se tornou alvo da perseguição por causa dela. Aquele que antes prendia agora era preso por amor ao Evangelho. Como afirma o Comentário Bíblico Champlin, “a conversão de Paulo é uma das mais marcantes evidências da soberania divina em ação, onde o inimigo é transformado em instrumento”¹. E é importante lembrar: enquanto Paulo perseguia, Deus trabalhava. Enquanto os cristãos se escondiam, o céu desenhava um encontro na estrada de Damasco. O nome de Saulo causava medo entre os discípulos. Mas Deus já via nele um apóstolo aos gentios (At 9.15). A igreja via um problema. Deus via uma promessa. A fama de Paulo havia chegado a Damasco, e os irmãos talvez temessem o pior, mas o que parecia o prolongamento da perseguição seria, na verdade, o fim do perseguidor e o nascimento do pregador. Essa história nos faz pensar: o que as pessoas glorificam quando pensam em você? Sua aparência, seu carisma, seus dons, ou a graça que te transformou? Paulo nos ensina que o maior legado que alguém pode deixar não é um nome famoso, mas um testemunho que faz com que outros glorifiquem a Deus. Como diz French L. Arrington, “o verdadeiro ministério sempre direciona o louvor para Deus, e não para si mesmo”². Finalizando este subtópico, o tópico e toda a lição, resta-nos uma verdade prática direta: “quando a graça nos alcança, até o nosso passado se torna parte da história de Deus. E quando isso acontece, as pessoas não veem mais apenas o que fomos, elas passam a ver o que Deus é capaz de fazer”. Que a sua vida desperte a mesma reação: não admiração, mas adoração ao Deus que transforma perseguidores em proclamadores da fé. _______________

         1. CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2014.

         2. ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

 

CONCLUSÃO

Nesta lição, estudamos uma parte da vida de Paulo. Isso se deu porque foi necessário mostrar a origem do seu apostolado e da sua mensagem aos gálatas. Não somente o ministério de Paulo estava em jogo, mas igualmente a mensagem que ele havia ensinado àquelas igrejas. Paulo nunca se esqueceu das atrocidades cometidas por ele contra a Igreja de Deus, mas também deixou claro que a graça do Senhor o salvou, e que o seu apostolado era um sinal do poder transformador, não da Lei, mas do Evangelho.

 Toda a lição girou em torno da vida de Paulo, não para focar em sua história pessoal, mas para entender a origem e a autoridade do seu apostolado e da mensagem que ele trouxe às igrejas da Galácia. O que estava em jogo não era só a reputação de Paulo, mas a pureza do Evangelho que ele anunciava. Paulo não tentou esconder as atrocidades que cometeu contra a Igreja, mas sempre apontou para a graça poderosa que o salvou. Seu ministério é um testemunho vivo de que não somos justificados pela Lei, mas pela obra transformadora do Evangelho. É essa mesma graça que continua disponível para transformar vidas hoje. Que esta lição nos leve a reconhecer que, por mais difícil que tenha sido o passado, a graça de Deus é maior e capaz de restaurar e enviar cada um de nós para um propósito que glorifica o Senhor._______________

 

Meu ministério aqui é um chamado do coração — compartilhar o ensino da Palavra de Deus de forma livre e acessível, para que você, irmão ou irmã em Cristo, possa crescer na fé e no conhecimento das Escrituras, sem barreiras, com subsídios preparados por um Especialista em Exegese Bíblica do Novo Testamento.

            Todo o material que ofereço é fruto de oração, estudo e dedicação, e está disponível gratuitamente para que a luz do Evangelho alcance ainda mais vidas sedentas pela verdade. Porém, para que essa missão continue firme, preciso da sua ajuda.

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HORA DA REVISÃO

1. Por que Paulo conta uma parte de sua história aos gálatas?

Paulo não conta a sua história para impressionar os gálatas. Ele não faz com o objetivo de comover os seus leitores, e sim para mostrar que ele tinha autoridade para pregar e defender o Evangelho aos gentios.

2. Os apóstolos de Jerusalém aprovaram o Evangelho pregado por Paulo?

Sim. Eles reconheceram o ministério de Paulo e a mensagem que ele pregava.

3. Por qual motivo os irmãos da Judeia deram graças a Deus?

Paulo diz que os irmãos da Judeia glorificavam a Deus pela vida dele. Em que aspecto residia a alegria daqueles irmãos? No fato de que a fé em Jesus Cristo havia alcançado o coração do perseguidor, e que ele estava anunciando a fé.

4. As Cartas de Paulo no Novo Testamento se ocupam extensivamente de quê?

As Cartas de Paulo no Novo Testamento se ocupam extensivamente não da sua vida pessoal e do que ele era ou fazia antes do Evangelho, e sim do poder de Deus em sua vida e da forma como esse poder estava disponível para salvar e transformar todos os homens.

5. Quem conduziu Saulo para a estrada de Damasco?

Enquanto a igreja era perseguida por Paulo, Deus estava trabalhando. Foi Ele que conduziu Saulo para estrada de Damasco.