Pb Francisco Barbosa
TEXTO ÁUREO
“Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (Jo 13.15)
Entenda o Texto Áureo:
- Eu
lhes dei um exemplo … – No Novo Testamento, três palavras diferentes
são traduzidas como “exemplo”. A palavra usada aqui (ὑπόδειγμα) se refere a
casos específicos e isolados (veja Hebreus 4:11, 8:5, 9:23; Tiago 5:10; 2 Pedro
2:6). Compare com 1 Coríntios 10:6, 10:11 (τύπος) e Judas 7 (δεῖγμα). Percebe-se
que o exemplo de Cristo sempre está ligado a alguma forma de autossacrifício. Que …
a vocês – Literalmente, “que assim como eu fiz a vocês, vocês também
façam”. O paralelo está entre “eu” e “vocês”, por isso as palavras “uns aos
outros” não foram acrescentadas. A prática da lavagem dos pés continuou de
diferentes formas na Igreja. Segundo Bingham (12:4, § 10), o 17º Concílio de
Toledo (694) decretou que fosse obrigatória na Quinta-feira Santa em todas as
igrejas da Espanha e da Gália. Em 1530, Wolsey lavou, enxugou e beijou os pés
de 59 pobres em Peterborough (Cavendish, Life, 1. p. 242). Os monarcas ingleses
mantiveram essa prática até o reinado de Jaime II, e até 1731 o Almoner Real
lavava os pés dos beneficiários das esmolas reais em Whitehall na “Quinta-feira
Santa”. O costume da lavagem dos pés ainda é mantido em São Pedro, no Vaticano.
Os menonitas preservaram essa prática, assim como os Irmãos Unidos, embora hoje
ela tenha caído em desuso. Um relato interessante sobre a regra de Lanfranc em
Bec pode ser encontrado em Anselm, de Church (pp. 49 e seguintes). O antigo
costume inglês é descrito por Chambers em Divine Worship in England (p. 26). O
ritual romano é registrado por Daniel em Cod. Lit. (1:412). [Westcott,
aguardando revisão]
VERDADE
PRÁTICA
A submissão e o serviço são características de maturidade e grandeza no
percurso do crescimento espiritual do cristão.
Entenda a Verdade Prática:
- Na jornada
cristã, a submissão e o serviço são elementos interligados que moldam a postura
e o propósito do discípulo. A submissão, que não deve ser confundida com
passividade ou subserviência, é um ato de reconhecer a autoridade e o amor de
Deus, assim como a liderança em diferentes contextos da vida. O serviço, por
sua vez, é a expressão prática desse amor e submissão, buscando o bem-estar do
próximo e a realização da vontade de Deus em todas as áreas da vida.
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
João 13.1-10
1. Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada
a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus que
estavam no mundo, amou-os até ao fim.
- (1–4) Esses versículos
são pontuados de maneiras diferentes. Alguns acreditam que a construção é
interrompida e que o verbo principal é levanta-se no versículo 4, com sabendo
no versículo 3 retomando o sabendo do versículo 1. No entanto, parece melhor
(como na A.V.) considerar o versículo 1 como completo por si só, pois é
gramaticalmente completo, e ver o versículo 2 como um novo começo. Nessa visão,
o versículo 1 é uma introdução a todo o ciclo de ensinamentos que segue
(capítulos 13–17), enquanto os versículos 2 e 3 introduzem o episódio
específico da lavagem dos pés, uma manifestação simbólica do amor. Antes
da festa… A partícula disjuntiva (δέ, na Vulgata autem) pode sugerir um
contraste com o retiro temporário mencionado em 12:36. Embora Jesus tenha se
afastado, antes da crise de Sua Paixão, Ele preparou completamente os
discípulos para o que aconteceria. Antes da festa – Essas palavras não podem
ser ligadas nem a sabendo nem a tendo amado. A cláusula deve estar ligada ao
verbo principal amou. Assim, o indicativo de tempo marca a ocasião em que o
amor de Jesus se manifestou de várias formas, nos atos e discursos que se
seguiram. Tudo aconteceu “antes da festa”, ou seja, na noite (início) do dia 14
de Nisã. Nessa última cena antes da Páscoa, onde o símbolo judaico alcançou seu
cumprimento perfeito, o amor do Senhor foi revelado em sua forma mais elevada. Quando
Jesus sabia – Sabendo Jesus, ou seja, já que Ele sabia. Esse
conhecimento, descrito como absoluto (εἰδώς), motivou a suprema demonstração de
amor. A repetição da palavra mundo destaca esse ponto: no mundo, os discípulos
enfrentariam provações, especialmente quando seu Mestre já tivesse partido.
Isso explica a necessidade dos encorajamentos que seguem (ex.: 16:33). Ao
conhecer o sofrimento dos discípulos, o Senhor esqueceu o Seu próprio, mesmo
que a previsão de Seus sofrimentos intensificasse Sua dor. Sua hora – Assim como
João destaca as condições morais da vida do Senhor por meio de um “não pode”
divino (12:40) e um “deve” divino (20:9), ele também marca a sequência divina
dos eventos. Os momentos decisivos de Suas manifestações estão absolutamente
fixados no tempo (2:4; cf. 11:9-10, 9:4). Em cada caso, essa hora é determinada
em relação ao propósito que conduz (12:23, para que seja glorificado, e aqui
para que passe). Compare com 4:21, 4:23, 5:25, 5:28; 1 João 2:18; Apocalipse
14:7, 14:15; João 7:6, 7:8 (καιρός); Efésios 1:10 (a plenitude dos tempos);
Gálatas 4:4 (a plenitude do tempo). Até que a hora chegue, os inimigos de
Cristo são impotentes (7:30, 8:20). Quando chega, Ele reconhece sua chegada
(12:27, 17:1). Para que passasse… O propósito, como parte do plano divino, é
enfatizado (ἵνα). Compare com 12:23 e 16:2. Passasse – A palavra exata (μεταβῇ,
na Vulgata transeat) só é usada aqui nesse contexto. Indica a transferência de
uma esfera para outra: cf. 5:24; 1 João 3:14. Para Cristo – e, n’Ele, para o
cristão – a morte não é uma interrupção da existência, mas uma mudança no modo
de existir, uma ida para o Pai, para Seu Pai e nosso. Este mundo… o mundo – O
demonstrativo (ὁ κόσμος οὗτος, este mundo) enfatiza o aspecto transitório e
insatisfatório do mundo presente. A expressão aparece em 8:23, 9:39, (11:9),
12:25, 12:31, 16:11, 18:36; 1 João 4:17 (e em Paulo). Para o Pai – Expressa o
relacionamento religioso e moral, e não apenas uma ideia de poder (para Deus). Os
Seus – Atos 4:23, 24:23; 1 Timóteo 5:8. Compare com 17:6ss. Contraste
com 1:11. Até o fim – Até o máximo. A expressão original (εἰς τέλος, na
Vulgata in finem) tem dois significados comuns: (1) por fim e (2) totalmente,
completamente. O primeiro sentido parece mais natural em Lucas 18:5, e o
segundo em 1 Tessalonicenses 2:16. O termo ocorre frequentemente na
Septuaginta, muitas vezes ligado a palavras de destruição (completamente) ou
abandono (para sempre): Salmo 12:1, (9:18, outros para sempre), etc. No
entanto, também aparece em outros contextos, como Salmo 15:11, 73:3, 48:8, e
frequentemente em escritores gregos posteriores, ex.: 2 Clemente 19; Luciano,
Somn. 9. Não há base para traduzi-lo aqui como até o fim de Sua presença
terrena (mas veja Mateus 10:22, 24:13ss.), pois isso não se encaixa na conexão
com antes da festa. Se, no entanto, tomarmos as palavras como significando
amou-os com amor perfeito, então a ideia fica clara: Como Cristo amou Seus
discípulos e já havia demonstrado esse amor, agora, nesse momento crítico antes
de Sua Paixão, Ele levou esse amor ao máximo. Ele os amou até o fim. [Westcott,
aguardando revisão]
2. E,
acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de
Simão, que O traísse,
- E, tendo terminado a
ceia … – E—como uma manifestação
especial desse amor—durante a ceia (δείπνου γινομένου)… o diabo … ele –
Literalmente, segundo o texto mais antigo: o diabo, tendo já posto no coração
de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus. A mudança do sujeito
da primeira para a segunda parte da frase (no coração de Judas … que ele
traísse…) não é incomum. Além disso, não é possível aceitar a tradução o diabo
tendo concebido em seu coração que…. A separação de “Iscariotes” de Judas no
texto original (Judas, filho de Simão, Iscariotes) confirma que o título é de
origem local. Compare com 6:71, onde é um epíteto de Simão. [Westcott,
aguardando revisão]
3. Jesus,
sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia
saído de Deus, e que ia para Deus,
- Jesus sabendo – Como antes, significa já que Ele sabia. O conhecimento de que
possuía essa autoridade divina foi a base para Seu ato de serviço; assim como,
no versículo 1, o conhecimento de Sua partida iminente foi a base para a
manifestação suprema de Seu amor. o Pai – Não Seu Pai. O Filho do
Homem (Jesus) é agora o conquistador. tinha dado … – Nosso idioma não
suporta bem a tradução literal no tempo oblíquo (deu, encontrado nas fontes
mais antigas), mas a ideia é que essa comissão foi concedida uma vez e
permanece para sempre. O mesmo vale para os verbos seguintes, que no original
são veio e vai. todas as coisas – A soberania absoluta de Jesus se destaca
ainda mais diante da aparente derrota. Mesmo a traição e a morte eram caminhos
para a ressurreição. em suas mãos – Para agir conforme
Sua vontade, mesmo quando foi entregue nas mãos dos homens (Mateus 17:22,
26:45). A ordem original do texto é enfática: e que era de Deus que Ele veio, e
para Deus Ele estava indo. O título de poder e glória é usado nesta cláusula,
enquanto o de afinidade (o Pai) foi usado na anterior. veio – Veio ao mundo em
Sua missão na encarnação. O uso da preposição (ἀπό) indica separação e não
apenas origem. Compare com 8:42. [Westcott, aguardando revisão]
4. levantou-se
da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se.
- Levantou-se da ceia e
pôs de lado … – Não há indicação do
momento exato em que essa ação ocorreu. A expressão sugere que a ceia já havia
começado, então essa lavagem dos pés não foi realizada antes da refeição.
Podemos supor que se tratava de uma parábola em ação, ilustrando um princípio
do reino que havia sido mencionado. Compare com Lucas 22:24ss.; (Mateus
18:1ss.). Por essa razão, cada detalhe do ato de serviço é descrito com a
precisão de uma testemunha ocular: levantar-se do meio do grupo (ἐγ, ἐκ), tirar
as vestes superiores (ἱμάτια), pegar a toalha, cingir-se, derramar a água,
lavar e enxugar. Quando Cristo serve, Ele o faz perfeitamente. pegou
… e cingiu-se – A forma da expressão destaca que foi uma preparação
feita por Ele mesmo. Compare com Lucas 12:37, 17:8 e João 21:18, além de Atos
12:8. “O que há de surpreendente em Ele se cingir com uma toalha, se, tomando a
forma de servo, foi encontrado em aparência como homem?” (Agostinho, ad loc.)
[Westcott, aguardando revisão].
5. Depois,
pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxuga-los com
a toalha com que estava cingido.
- Depois disso … – Então (εἶτα), João 19:27, 20:27. derramou – A palavra
original (βάλλει, Vulgata mittit), que é peculiar, é traduzida em outras
passagens semelhantes como põe (Mateus 9:17 e paralelos). na bacia – Que já estava
pronta para esse uso costumeiro. Compare com 2 Reis 3:11. começou a lavar – A cena
é dividida em partes, assim como todos os detalhes da preparação foram
mencionados separadamente. Compare com Gênesis 18:4, 19:2, 24:32, 43:24; Juízes
19:21; 1 Timóteo 5:10. Os comentaristas rabínicos enfatizavam o significado de
Ezequiel 16:9. Diziam: “Entre os homens, o escravo lava os pés do seu senhor;
mas com Deus não é assim.” Compare com os comentários de Lightfoot e Wetstein
sobre essa passagem. [Westcott, aguardando revisão]
6.
Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a
mim?
- Então veio a Simão Pedro
… – À medida que passava pelo
círculo dos discípulos, ou melhor, quando começou a percorrê-lo. Não há nada
que sustente a ideia antiga de que Jesus começou com Judas. Pelo contrário, é
mais natural supor que Ele tenha começado com Pedro. Isso torna sua recusa mais
compreensível do que se outros já tivessem aceitado o serviço. e
Pedro disse a Ele … – A frase abrupta combina com o tom vívido do
relato. Tu me lavas os pés? – A posição dos pronomes no original (σύ
μου νίπτεις τοὺς πόδας – Vulgata: tu mihi lavas pedes) enfatiza o contraste
entre as pessoas. A questão principal não é o tipo de serviço, mas o fato de o
Mestre servir ao servo. [Westcott, aguardando revisão]
7. Respondeu
Jesus e disse-lhe: O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás
depois.
- O que faço … – O abismo entre o pensamento do Senhor e o do discípulo é
destacado pelos pronomes enfáticos (ὃ ἐγὼ ποιῶ, σὺ οὐκ οἶδας – o que Eu faço,
tu não sabes). O significado do ato só poderia ser compreendido após a
glorificação do Senhor. Sua interpretação dependia de uma visão completa de Sua
pessoa e obra. Aqui, o verbo indica um conhecimento absoluto e completo (οὐκ οἶδας
– tu não sabes), em contraste com um conhecimento adquirido por experiência
progressiva (γνώσῃ – tu compreenderás). Compare com João 3:10-11. mais
tarde – Literalmente, depois destas coisas (João 3:22, 5:1, 5:14, 6:1,
7:1, 19:38, 21:1). Em todos esses casos, a referência é a um grupo de eventos e
não a uma única cena. Aqui, estas coisas incluem todas as circunstâncias da
Paixão que já havia começado. Mesmo a explicação dada nos versículos 12ss. só
foi plenamente compreendida após o sacrifício de Cristo. O entendimento
completo veio no dia de Pentecostes. [Westcott, aguardando revisão]
8. Disse-lhe
Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não
tens parte comigo.
- Pedro retoma a ideia de
“mais tarde” – Ele argumenta que nada pode mudar sua posição em relação ao
Senhor. Para ele, essa posição está eternamente fixada. Sua resposta é
enfática: Tu nunca lavarás os meus pés enquanto o mundo existir (οὐ μὴ … εἰς τὸν
αἰῶνα). Ele presume que pode prever tudo e, assim, sua reverência assume a
forma de obstinação, como no episódio correspondente em Mateus 16:22, onde sua
reverência mal direcionada a Cristo, segundo sua própria interpretação do papel
do Mestre, leva a uma repreensão severa. Se eu não te lavar … – Cristo
responde à confiança de Pedro com uma declaração sobre a separação inevitável
que resulta da falta de submissão absoluta. Se não te prestar esse serviço, se
não aceitares o que te ofereço, mesmo sem entender agora meu propósito, não
terás parte comigo. A primeira condição do discipulado é a rendição total. Não
parece adequado ao contexto trazer uma referência direta à purificação pelo
sangue de Cristo (ver vv. 13ss.), embora, como observa Cirilo, essa ideia possa
ser sugerida pelas palavras. te lavar – Não apenas os pés. Cristo
escolhe a maneira como realiza Sua obra, que é eficaz para o todo, e não apenas
para uma parte. não terás parte comigo – Não terás participação no meu reino,
assim como um soldado leal compartilha das vitórias de seu capitão. Compare com
Mateus 24:51; Deuteronômio 12:12, 14:27; Salmo 50:18. [Westcott, aguardando
revisão]
9. Disse-lhe
Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
- Pedro, com sua
impulsividade característica, ainda responde no mesmo espírito de antes. Assim
como antes tentou definir o que o Senhor não deveria fazer, agora ele tenta
definir como isso deve ser feito, já que reconhece ser necessário. Ele deseja
ampliar a ação para cada parte do corpo, enquanto Cristo escolheu realizá-la de
um modo específico, segundo Sua própria vontade. [Westcott, aguardando revisão]
10. Disse-lhe
Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais
todo está limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos.
- A resposta do Senhor introduz uma nova ideia. Do conceito do ato
de serviço em si, somos levados ao significado simbólico da ação específica
como um processo de purificação. O “lavar” de uma parte do corpo, como os pés,
mãos ou cabeça, é contrastado com o “banhar” o corpo inteiro. O “lavar” não
representa uma mudança essencial, mas se refere a uma transformação já
realizada. Quem já tomou banho (ὁ λελουμένος) só precisa lavar (νίψασθαι) os
pés. Algumas autoridades textuais omitem “exceto” e “os pés”. Se essa leitura
for adotada, a ênfase estará em “não precisa”. A limpeza posterior pode ser um
ato de amor divino, mas não deve ser exigida pela vontade humana. A forma do
verbo sugere essa ideia: não significa “ser lavado”, mas “lavar-se” ou “lavar
os próprios pés” (Mateus 15:2; Marcos 7:3). No entanto, é mais provável que a
omissão tenha ocorrido devido à dificuldade de conciliar a frase com
“completamente limpo”. Se a leitura comum for mantida, o sentido será que a
limpeza limitada, agora simbolizada, é tudo o que é necessário. Quem já tomou
banho precisa apenas remover as impurezas adquiridas ao longo do caminho, assim
como um convidado, após o banho, só precisa ter a poeira lavada dos pés ao
chegar à casa do anfitrião. Está completamente limpo – As
impurezas superficiais, como nas mãos, cabeça ou pés, não alteram a condição
geral. A pessoa, como um todo, continua limpa. E vós estais limpos, mas nem
todos – A ideia de impureza parcial da pessoa se transforma na ideia de
impureza parcial da comunidade. Os apóstolos, como grupo, eram limpos. A
presença de um traidor, a mancha a ser removida, não alterava o caráter do
grupo, assim como a sujeira nos pés não mudava a limpeza essencial da pessoa. Nesse
contexto, o trecho ilumina a doutrina da santidade da Igreja visível. Isso se
torna mais claro ao percebermos que o “banhar”, em contraste com “lavar”,
antecipa a ideia do Batismo Cristão (Hebreus 10:22; Efésios 5:26; Tito 3:5). No
entanto, não há evidências de que os próprios apóstolos tenham sido batizados,
exceto com o batismo de João. Para eles, o “banho” consistia na comunhão direta
com Cristo. Esse ato especial de serviço era apenas um complemento ao amor
contínuo dessa relação (cf. João 15:3). [Westcott, aguardando revisão]
INTRODUÇÃO
Nesta lição, iremos analisar a narrativa do
capítulo 13 do Evangelho de João. Este episódio bíblico retrata o ato de Jesus
conhecido como “Lava-Pés”, onde Ele ensina, através do seu a relevância da
humildade para aqueles que o seguem. Este capítulo oferece-nos uma valiosa
lição sobre a humildade na vida cristã. A partir do exemplo de Jesus, somos
convidados a servir o próximo de forma humilde.
- O evento do
lava-pés, registrado exclusivamente no Evangelho de João (Jo 13.1-17), ocorre
imediatamente antes da festa da Páscoa. Trata-se de um momento de transição no
ministério de Jesus: do ensino público para a preparação íntima dos discípulos.
A perícope é introduzida no versículo 1 com uma clara ênfase no amor: “...tendo
amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” Essa declaração se
torna a chave hermenêutica de toda a ação subsequente. Jesus, ciente de Sua
autoridade e de Sua origem divina (v.3), voluntariamente se despoja de Suas
vestes exteriores e assume o papel de servo ao lavar os pés dos discípulos.
Esse ato era culturalmente reservado aos escravos gentios ou aos servos de
menor status em uma casa. O gesto, portanto, é profundamente contracultural e
escandaloso à luz da expectativa messiânica tradicional. Em vez de exigir
honra, Jesus se abaixa — literalmente — para servir. O lava-pés é um símbolo
multifacetado:
• Humildade: Jesus
ensina que a liderança no Reino de Deus é servidora. “Ora, se eu, Senhor e
Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”
(v.14).
• Purificação: O diálogo com Pedro (v.6-10)
revela que a lavagem tem uma conotação espiritual. Jesus fala de uma “lavagem”
que ultrapassa o literal, apontando para a necessidade de purificação interior
(cf. Sl 24.3-4).
• Exemplo:
“Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”
(v.15). A ação de Jesus não é apenas uma cerimônia, mas um modelo de conduta
ética para a comunidade cristã.
Palavra-Chave: HUMILDADE
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I. UMA HISTÓRIA REAL SOBRE A HUMILDADE
1. O lava-pés. Nesta
passagem do Evangelho segundo João, quando Jesus lavou os pés, Ele utilizou o
exemplo de um servo da casa onde se encontrava com os discípulos para
transmitir uma lição sobre a humildade dentro do Reino de Deus. O capítulo
menciona que este episódio ocorreu pouco antes da Páscoa (13.1), quando Ele celebrou
a última Ceia Pascal com os seus discípulos. Nesta ceia, nosso Senhor instituiu
o que viria a ser conhecido como Santa Ceia ou Ceia do Senhor, um encontro
solene que realizamos atualmente. Durante essa ocasião, Jesus rompeu o
protocolo tradicional da Ceia Pascal, conferindo-lhe um significado único: ao
lavar os pés dos seus discípulos, Ele ilustra a humildade como uma virtude
essencial para os seus seguidores na expansão da Igreja pelo mundo.
- O Evangelho de
João se distingue dos sinóticos por sua teologia mais desenvolvida e simbólica.
O capítulo 13 marca uma transição importante: dos "sinais" públicos
(Jo 1–12) para os "discursos privados" com os discípulos (Jo 13–17),
muitas vezes chamado de "Livro da Glória". O episódio do lava-pés não
aparece nos outros evangelhos e substitui, de certa forma, a instituição da
Ceia. João prefere destacar o gesto de serviço como a essência do amor de
Jesus. "Ora, antes da festa da
Páscoa..." O evangelista antecipa a cruz: Jesus "sabia que era chegada a sua hora". A
expressão "tendo amado os seus...
amou-os até o fim" (gr. eis telos) indica não apenas um amor até o
último momento, mas até a plenitude, completamente. "Durante a ceia..." Há tensão no ambiente: o diabo já havia
"colocado no coração de Judas"
a traição. João estabelece contraste entre o amor de Jesus e a traição de
Judas, que será mencionada logo após. João nos apresenta um paradoxo: aquele
que tem “todas as coisas” em suas mãos... lava os pés dos discípulos. Uma
atitude de servo: lavar os pés era tarefa de escravos ou servos gentios, nunca
de um mestre. O gesto é escandalosamente humilhante, ainda mais vindo de alguém
chamado “Senhor” e “Mestre”. Perceba que Pedro se escandalizou com essa cena! v.6–10
–Pedro resiste: “Tu, Senhor, me lavas os
pés?”. Jesus responde que esse ato é essencial para a comunhão: “Se eu não te lavar, não tens parte comigo”.
O uso do verbo “lavar” (niptō) e “banhar” (louō) sugere um significado
espiritual além do ato físico: purificação espiritual e participação com
Cristo. Jesus interpreta o gesto como exemplo a ser seguido: “como eu vos fiz, façais vós também”. A
lógica do Reino de Deus subverte os valores do mundo: liderança é serviço,
autoridade é humildade. O versículo 17 resume a ética joanina: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois
se as praticardes.” Em um mundo marcado por poder e prestígio, o gesto de
Jesus continua sendo profundamente contracultural. Mesmo sabendo que seus
discípulos o abandonariam vergonhosamente em pouco tempo, deixando-o nas mãos
dos pecadores; mesmo sabendo que Judas o trairia, que Pedro o negaria e que os
outros se dispersariam, Jesus amou os seus discípulos até o fim. Jesus amou-nos
a ponto de deixar a glória, entrar no mundo, fazer-se carne, tornar-se pobre,
ser perseguido, odiado, zombado, cuspido, pregado numa cruz, carregando sobre o
seu corpo no madeiro os nossos pecados e morrer por nós em uma rude cruz. Esse
é um amor imenso, eterno, infinito. Nenhum pregador jamais pode pregar completamente
esse amor. Nenhum escritor jamais pode descrever completamente esse amor.
Nenhum poeta jamais conseguiu descrever esse amor. Estou certo de que, ainda que
todos os mares fossem tinta, e todos as nuvens fossem papel; mesmo que todas as
árvores fossem pena e todos os seres humanos fossem escritores, nem mesmo assim
se poderia descrever o amor de Cristo. Seu amor excede todo o entendimento e
toda possibilidade de plena descrição. O principal dos pecadores pode ir a Jesus
com ousadia e confiar no seu perdão. Jesus se deleita em receber pecadores. Jesus
não nos lança fora por causa dos nossos fracassos. Ele jamais nos rejeita por
causa da nossa fraqueza. Aqueles a quem Jesus ama desde o princípio, ele ama
até o fim. Aqueles que vão a ele jamais serão lançados fora.
2. O desenvolvimento da história. No capítulo 13, o Mestre tomou uma bacia com água
e uma toalha, levantou as pontas das suas vestes e atou-as à cintura. Pegou nas
mangas longas e largas das suas roupas masculinas típicas da época e amarrou-as
atrás do pescoço. Este gesto era uma forma de “cingir-se” para realizar
trabalho, permitindo que tivesse as mãos e as pernas livres para realizar a
tarefa do ato de “Lava-Pés”. Este costume nos tempos bíblicos fazia parte dos
cuidados prestados aos convidados por parte do senhor da casa. Ao chegar à
residência designada para a Ceia, Jesus verificou que não havia nenhum servo
disponível para lavar os pés dos convivas.
- Jesus não se dirige
mais ao povo, às multidões, ao mundo como um todo, mas apenas aos seus
discípulos. A porta da oportunidade para o povo estava fechada. O ministério público
de Jesus havia chegado ao fim. João 13 a 17 é a mensagem de despedida de Jesus
para seus discípulos amados, culminando com sua oração intercessora por eles e
por nós. Entramos agora no capítulo 13 de João, o lugar santo do edifício
sagrado desse evangelho. Acompanhando os fatos que serão narrados em cinco
capítulos sucessivos, estaremos sozinhos com nosso Senhor e seus discípulos. E
a noite em que Jesus é traído. Seu ministério público finda-se. O dia seguinte testemunhará
sua angústia e sua morte. Ele se recolhe com os Doze a um cenáculo para com
eles comer a Páscoa, instituir a ceia, seu memorial, revelar aos discípulos seu
amor incomparável e prepará-los para a separação que sabe estar próxima.
3. A mudança de paradigma. Como anfitrião daquela ceia, após o encerramento
dessa reunião única e tradicional — surpreendendo os discípulos — o nosso
Senhor começou a ensinar através do Lava-Pés que o caminho do Reino de Deus é
trilhado com humildade (Jo 13.2,4). Ele mostrou que a humildade representa a
verdadeira grandeza espiritual do seguidor do Evangelho. Por isso, utilizou um
gesto cotidiano para exemplificar esta atitude humilde. É evidente, neste
episódio, que o Cristianismo só se tornará eficaz e alcançará o propósito do
Reino de Deus se os valores ensinados pelo Mestre forem realmente praticados
pelos seus seguidores. Entre esses valores destaca-se a humildade genuína
interiorizada nos corações dos discípulos, recebendo especial atenção do divino
Mestre, que era manso e humilde de coração (Mt 11.29).
- Com esse gesto,
Jesus nos ensina que privilégios não implicam orgulho, mas humildade. Jesus
sabia quem era. Sabia de onde tinha vindo e para onde estava indo. Sabia sua
origem e seu destino. Sabia que era o rei dos reis, o Filho do Deus altíssimo.
Sabia que o Pai tudo confiara a suas mãos e que era o soberano do universo.
Contudo, sua majestade não o levou à autoexaltação, mas à humilhação mais
profunda. O que ele sabia determinou o que ele fez. Sua humildade não procedeu
da sua pobreza, mas da sua riqueza. Sendo rico, fez-se pobre. Sendo rei, fez-se
servo. Sendo Deus, fez-se homem. Sendo soberano do universo, cingiu-se com uma
toalha e lavou os pés dos discípulos. Era costume que, antes de se assentarem à
mesa, as pessoas lavassem os pés. Os discípulos tinham vindo de Betânia. Seus
pés estavam cobertos de poeira. Eles não podiam assentar-se à mesa antes de
lavar os pés. Esse era o serviço dos escravos, principalmente do escravo mais
humilde de uma casa. Jesus estava no cenáculo com eles. Ali não havia servos.
Jesus esperou que eles tomassem a iniciativa de lavar os pés uns dos outros.
Mas eles eram orgulhosos demais para fazer um serviço de escravo. Ninguém tomou
a iniciativa. Aliás, os discípulos abrigavam no coração a dúvida de quem era o
mais importante entre eles (Lc 22.2430). O vaso de água, a bacia, a
toalha-avental, dispostos ali à vista de todos, os acusavam. Esses utensílios
constituía uma acusação silenciosa contra aqueles homens! Mesmo assim, ninguém
se mexia. Eles pensavam que privilégios implicava grandeza, reconhecimento,
aplausos e regalias. Jesus, porém, reprova a atitude deles, mostrando-lhes que,
entre os que o seguem, mede-se a grandeza de qualquer um pelo serviço prestado.
Os discípulos ficariam felizes em lavar os pés de Jesus; eles não podiam
conceber, entretanto, a ideia de lavar os pés uns dos outros, visto que essa
era uma tarefa normalmente reservada aos servos inferiores. Pares não lavam os
pés uns dos outros, exceto raramente e como sinal de grande amor. Foi no meio
de tais homens que se sentiam muito importantes, entre eles Judas Iscariotes, o
traidor, que Jesus se levanta. Mesmo sabendo que era o Filho de Deus e que
tinha vindo do céu e voltava para o céu, Jesus cinge-se com uma toalha, deita
água em uma bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a
toalha. Jesus repreende o orgulho dos discípulos com sua humildade. Jesus
mostra que, no reino de Deus, maior é o que serve. A grandeza no reino de Deus
não é medida por quantas pessoas estão a seu serviço, mas a quantas pessoas
você está servindo. Devemos ter o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus. Ele, sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus. Ele se
esvaziou. Ele se humilhou. Ele sofreu morte humilhante, e morte de cruz. Devemos
nos revestir de humildade. Porque aquele que se humilhar será exaltado. Jesus,
sendo o soberano do universo, cingiu-se com uma toalha. Sendo o rei dos reis,
inclinou-se para lavar os pés sujos dos seus discípulos. Ah, como precisamos dessa
lição de Jesus hoje! Temos hoje muitas pessoas importantes na igreja, mas
poucos servos. Muita gente no pedestal, mas poucas inclinadas com a bacia e a
toalha na mão. Muita gente querendo ser servida, mas poucas prontas a servir. A
humildade de Jesus repreende o nosso orgulho. O mundo se encontra cheio de
gente que está de pé sobre sua dignidade quando deveria estar ajoelhada aos pés
de seus irmãos. Humildade e amor são virtudes que as pessoas do mundo podem
entender, se elas não compreendem doutrinas. O cristão mais pobre, o mais fraco
e o mais ignorante pode todos os dias encontrar uma ocasião para praticar amor
e humildade. Cristo nos ensinou a fazer isso. O que Jesus teve em mente não foi
um rito externo, o lava-pés, mas uma atitude interna de humildade e vontade de
servir.
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SINOPSE I
O exemplo histórico de humildade que nosso Senhor deu aos discípulos é
prático, atual e atemporal.
AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO
“LAVAR OS PÉS AOS DISCÍPULOS
Esse ato dramático de lavar pés, geralmente realizado por servos,
ocorreu na última noite da vida de Jesus na terra. Jesus fez isso
(1) para demonstrar aos seus discípulos o quanto Ele os amava;
(2) para prenunciar (isto é, prever simbolicamente) o seu sacrifício
voluntário na cruz; e
(3) para transmitir a verdade de que aqueles que o seguem devem servir,
humildemente, uns aos outros. O desejo de ser grande atormentava continuamente
os discípulos (Mt 18.1-4: 20.20-27; Mc 933-37; Lc 9.46-48). Cristo queria que
ele percebesse que o desejo de ser o primeiro – ser superior e honrado acima
dos outros – é exatamente o oposto da atitude dele. Jesus desejava que seus
discípulos imitassem sua maneira (veja Lc 22.24-30, nota; Jo 13.12-17; 1Pe
5.5).
[…] A igreja primitiva parece ter seguido o exemplo de Jesus e,
literalmente, obedecido seu mandamento de humildemente lavar os pés uns dos
outros. Por exemplo, em 1Tm 5.10, Paulo declara que as viúvas só poderiam
receber um cuidado especial por parte da igreja caso se qualificassem de acordo
com determinados padrões e ações. Um desses atos era “lavar os pés dos santos”.
As bênçãos de Deus sempre dependem de colocarmos a sua Palavra em prática (v.
17)” (Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp.1880,81).
II. HUMILDADE IMPLICA AUTOCONHECIMENTO
1. Conhecendo a própria natureza. Jesus tinha plena consciência de quem era,
entendia o seu papel e a sua relevância como Senhor e Mestre: “Jesus, sabendo
que o Pai tinha colocado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de
Deus, e que ia para Deus” (Jo 13.3). Neste contexto, Ele deliberadamente trocou
o seu papel de Senhor pelo de um simples servo para ensinar aos seus discípulos
a importância da humildade. Dessa forma, é essencial que conheçamos a nossa
natureza. Devido ao pecado, temos dificuldade em nos submeter aos outros e em
nos humilhar; frequentemente preferimos olhar de cima para baixo, raramente de
baixo para cima. Assim sendo, Jesus Cristo, na sua posição de Senhor e Mestre,
ensina-nos a virtude da humildade: “Eu vos dei o exemplo” (Jo 13.15).
- Jesus enfrentou a
traição, a agonia e a morte porque sabia que seria exaltado junto ao Pai depois
disso tudo, quando receberia a glória e a comunhão que havia usufruído na
eternidade com a Trindade (veja 17.4-3). Essa era a "alegria que lhe estava proposta" que o capacitou a
"suportar a cruz" (Hb 12.2). A palavra usada no versículo 15 para “o
exemplo” sugere tanto "exemplo" como "padrão" (Hb 4.11;
8.5; 9.25; Tg 5.10; 2Pe 2.6). O propósito do gesto de Jesus foi estabelecer o
modelo de humildade amorosa.
2. O exemplo deixado por Jesus. Pense no Verbo Divino, repleto de glória e poder,
que abdica da sua majestade para vivenciar a experiência humana. Como menciona
o Evangelho: “não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou”
(Jo 5.30). Assim sendo, enquanto Verbo Divino, Ele tornou-se carne e uniu-se à
nossa condição. Esta compreensão doutrinária sobre a encarnação de Jesus
confere um significado ainda mais profundo ao episódio do lava-pés, onde estava
o Deus Encarnado lavando os pés de pessoas comuns. À luz deste exemplo, não
deveria ser tão difícil servir aos outros ou submeter-nos à liderança dos
nossos irmãos; desviar a nossa própria vontade em favor da vontade divina
deveria ser algo natural. No entanto, a nossa natureza pecaminosa torna árdua a
prática do serviço e o cultivo da humildade. Por isso mesmo, o apóstolo Paulo
faz este apelo: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a
Deus” (Fp 2.5-6).
- Humildade,
santidade e felicidade. A felicidade é resultado de uma vida conduzida dentro
da vontade de Deus. Jesus já havia ensinado seus discípulos acerca da humildade
e do serviço, mas agora lhes dá uma lição prática. Vamos destacar a seguir três
pontos nesse sentido. Em primeiro lugar, a lição sublime (13.12-14). Ao terminar
de lavar os pés dos discípulos, Jesus retorna à mesa e pergunta se os
discípulos tinham entendido a lição. Então afirma: Vós me chamais mestre e
Senhor; e fazeis bem, pois eu o sou. Se eu, Senhor e mestre, lavei os vossos
pés, também deveis lavar os pés uns dos outros. Os discípulos tinham uma clara compreensão
de quem era Jesus. Chamavam-no de mestre e Senhor. A teologia deles estava
certa. Tinham-no na mais alta conta. Sabiam que ele era o próprio Filho de
Deus, o Messias, o Salvador do mundo. Mas, sem deixar de ser mestre e Senhor,
Jesus lhes lavou os pés. Se Jesus, sendo o maior, fez o serviço do menor, os
discípulos deveriam servir uns aos outros em vez de disputar entre si quem era
o maior entre eles. Jesus nocauteia aqui a disputa por prestígio e desfaz as
barracas da feira de vaidades. Em vez de buscar glória para nós mesmos, devemos
nos munir de bacia e toalha para servirmos uns aos outros.
3. O maior no Reino de Deus. O nosso Senhor percebia que existiam momentos em
que os seus discípulos se preocupavam com quem seria considerado o maior (Lc 22.25-27).
Contudo, Ele — sendo Deus e não reivindicando igualdade com Deus (Fp 2.5) —
ensinava aos discípulos qual deveria ser o verdadeiro espírito entre eles;
especialmente após sua partida: no Reino de Deus prevalece sempre a ideia de “o
primeiro serve o último”. Portanto, no Reino de Deus deve haver humildade como
verdadeira motivação para o serviço; nunca egoísmo ou interesses pessoais.
- Embora os
discípulos provavelmente estivessem dispostos
a lavar os pés de Jesus, eles não podiam conceber lavar os pés uns dos outros. Isso porque, na sociedade
dessa época, essa tarefa era reservada para os servos mais humildes.
Companheiros não lavavam os pés uns dos outros, exceto muito raramente e como
sinal de grande amor. Lucas ressalta (22.24) que os discípulos estavam discutindo
sobre qual deles <;ra o maior, de modo que nenhum estava disposto a se
curvar para lavar os pés. Quando Jesus se dispôs a lavar os pés deles, ficaram
chocados. O gesto de Jesus também serve como símbolo de purificação espiritual
(vs. 6-9) e modelo de humildade cristã (vs. 12-17). Por meio desse gesto, Jesus
ensinou a lição de serviço abnegado, que foi exemplificado de modo supremo pela
sua morte na cruz. Esses procedimentos envergonharam todos os discípulos.
Enquanto os outros permaneceram em silêncio, Pedro, talvez em lugar deles (veja
Mt 16.13-23), disse com indignação que Jesus não se rebaixaria a ponto de lavar
os pés dele. Ele não conseguia enxergar, além do humilde serviço, o simbolismo
de purificação envolvido (v. 7; cf. 1 Jo 1.7-9). A resposta de Jesus trouxe à
luz o significado real do seu gesto: a monos que o Cordeiro de Deus purifique a
pessoa do pecado (ou seja, como retratado no simbolismo da lavagem), ninguém
pode ter parte com ele. Jesus não foi um alfaiate do efêmero, mas o escultor do
eterno. Ele não ensinou apenas com palavras, mas, sobretudo, com exemplos. O
exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas a única forma eficaz de fazê-lo.
Se o servo não é maior do que o seu senhor e se o senhor serve, então, os
servos não têm desculpas para não servirem uns aos outros.
SINOPSE II
A virtude da
humildade possibilita-nos reconhecer as nossas limitações e, dessa forma,
evitar a armadilha da soberba.
III. HUMILDADE X OSTENTAÇÃO
1. Uma competição silenciosa. Jesus estava ciente de que, entre os seus
discípulos, existia uma competição discreta em busca de proeminência e
liderança, como é retratado nos Evangelhos (Lc 9.46,47; Mc 9.34). Já havia
preocupações entre eles sobre quem ocuparia o lugar mais destacado num eventual
reino de Jesus. O que Jesus demonstra é que tal espírito não deve prevalecer
entre seus seguidores. Os líderes na causa do Mestre não podem iniciar a sua
jornada de forma errada.
- “O servo não é maior do que seu Senhor;
assim, se o Senhor tornar-se um servo, o que é feito dos servos? Ficam no mesmo
nível que o Senhor! Ao se tornar um servo, Jesus não nos empurrou para baixo;
ele nos elevou! Dignificou o sacrifício e o serviço [...]. O homem
verdadeiramente grande é aquele que faz os outros se sentirem grandes, e foi
isso o que Jesus fez com seus discípulos, ensinando-os a servir”. Wiersbe, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5, p.
445. A Bíblia relata que havia, por vezes, competição e disputa
entre os discípulos de Jesus, especialmente sobre quem seria o maior entre
eles. Jesus frequentemente os corrigia, ensinando sobre a importância do
serviço e humildade, em vez de ambição e status.
Disputas sobre grandeza: Em vários momentos, os discípulos
discutiam sobre quem seria o maior, demonstrando um desejo por posição e
destaque. Jesus frequentemente repreendia os discípulos por essas disputas,
enfatizando que a grandeza no Reino de Deus não se baseava em status ou
posição, mas sim no serviço aos outros. É importante lembrar que os discípulos
eram humanos, com suas imperfeições e limitações. A Bíblia não relata tudo o
que aconteceu entre eles, mas é possível que houvesse desentendimentos e
discussões.
2. O caminho humilde de Jesus. Através do episódio do lava-pés, nosso Senhor
revelou que o caminho dos seus discípulos não se alicerça no sucesso material,
na notoriedade ou na ambição, mas sim na capacidade de servir o próximo de
maneira humilde. Desta forma, a Igreja de Cristo estaria em desacordo com a
dinâmica mundana da ostentação e da presunção. O serviço amoroso e humilde é
característico da Igreja de Cristo. Assim, não haveria espaço para disputas, a
fama seria deixada de lado e a ambição afastada. Por meio do exemplo modesto de
Jesus no episódio do lava-pés, as consciências dos discípulos foram despertadas
(Jo 13.13,14).
- A vida cristã não
se limita ao conhecimento da verdade. O conhecimento precisa desembocar na
obediência. A felicidade não está apenas em saber, mas, sobretudo, no praticar
o que se sabe, pois o ser humano não é aquilo que ele sabe nem o que ele sente,
mas o que ele faz. É importante manter essas lições na ordem correta: humildade,
santidade, felicidade. Sujeitar-se ao Pai, manter a vida pura e servir aos
outros: esta é a fórmula de Deus para a verdadeira alegria espiritual. Jesus
define o que é felicidade (13.17). Bem-aventurados, aqui, significa muito
felizes. Mas quem é feliz? É aquele que serve, e serve aos mais fracos, da
maneira mais humilde. Feliz é aquele que não apenas chama Jesus de mestre e
Senhor, mas também imita Jesus, servindo ao próximo. Ser feliz segundo o mundo
é estar acima dos outros. E ser servido por todos. Ser feliz no reino de Deus é
rebaixar-se para servir aos mais fracos. A grandeza no reino de Deus não é
medida por quantas pessoas nos servem, mas a quantas pessoas nós servimos. A
felicidade não é um fim em si mesma, mas um subproduto de uma vida que vivemos
dentro da vontade de Deus. O mundo pensa que a felicidade é resultado de outros
nos servirem, mas a real felicidade é servirmos aos outros em nome de Jesus. O
mundo pergunta: “Quantas pessoas servem você?” Mas Jesus pergunta: “A quantas pessoas
você está servindo?” No reino de Deus, o maior é o servo de todos. O crente não
deve se envergonhar de fazer nenhuma coisa que Jesus tenha feito (13.17). Jesus
deixou a glória, o céu, os anjos, o trono e veio ao mundo para servir, para
servir pecadores como eu e você. Na vida cristã, não há espaço para vaidade e
orgulho. Nosso rei foi servo. Ele se esvaziou. Despiu-se da sua glória. Nasceu
numa manjedoura. Não tinha onde reclinar a cabeça. Cingiu-se com uma toalha. Lavou
os pés de homens fracos e cheios de vaidade. Fez um trabalho próprio dos
escravos. E seus discípulos deveriam fazer o mesmo. Jesus nos ensina sobre a
inutilidade do conhecimento religioso que não é acompanhado pela prática
(13.17). Um conhecimento que não se traduz em trabalho, em obra, em serviço, é
estéril e não pode trazer felicidade. Não basta conhecer a verdade se não somos
transformados por ela. O conhecimento sem amor envaidece. A fé sem obras é
morta. A doutrina sem vida é inútil. O conhecimento sem obediência nos torna
mais culpados diante de Deus. O conhecimento sem prática não nos coloca acima
do nível dos demônios (Mc 1.24; Tg 2.20). Satanás conhece a verdade, mas não tem
nenhuma disposição para obedecer. Conhecimento sem prática descreve o caráter
de Satanás, e não do crente. Por isso, Satanás é sumamente infeliz. Um crente
feliz é aquele que não apenas conhece, mas pratica o que conhece.
3. Um convite à humildade. A vida e os ensinamentos do nosso Salvador
constituem um convite para aprendermos com Ele sobre mansidão e humildade (Mt
11.29). Nesse sentido, somos convidados por Jesus a cultivar um coração
humilde, desprovido das armadilhas da ambição, da ostentação e do egoísmo.
Somos chamados a partilhar dos mesmos sentimentos que pautaram a sua vida e ministério
terreno (Fp 2.5-8). Assim sendo, a lição do lava-pés é um apelo para vivermos
uma existência de humildade diante de Deus em todas as circunstâncias da vida.
- A palavra grega praus, traduzida por mansidão, não
significa fraqueza, mas força sob controle. Refere-se a alguém que, embora
tenha poder e autoridade, escolhe não impor-se de forma violenta. A mansidão de
Jesus se manifesta na forma como Ele lida com os pecadores, os marginalizados e
os discípulos falhos. Ele é firme diante da hipocrisia (como com os fariseus),
mas sempre compassivo com os quebrantados. Já o termo Humildade (gr. tapeinos), significa “baixo, modesto”, e em termos
morais, aponta para alguém que reconhece sua posição diante de Deus. Jesus,
embora sendo Deus, esvaziou-se a si mesmo (cf. Filipenses 2:5–8), assumindo a
forma de servo. Sua humildade é vista na encarnação, no serviço (como no
lava-pés) e na cruz. Ao terminar de lavar os pés dos discípulos, Jesus retorna
à mesa e pergunta se os discípulos tinham entendido a lição. Então afirma: Vós
me chamais mestre e Senhor; e fazeis bem, pois eu o sou. Se eu, Senhor e
mestre, lavei os vossos pés, também deveis lavar os pés uns dos outros. Os
discípulos tinham uma clara compreensão de quem era Jesus. Chamavam-no de
mestre e Senhor. A teologia deles estava certa. Tinham-no na mais alta conta.
Sabiam que ele era o próprio Filho de Deus, o Messias, o Salvador do mundo.
Mas, sem deixar de ser mestre e Senhor, Jesus lhes lavou os pés. Se Jesus,
sendo o maior, fez o serviço do menor, os discípulos deveriam servir uns aos
outros em vez de disputar entre si quem era o maior entre eles. Jesus nocauteia
aqui a disputa por prestígio e desfaz as barracas da feira de vaidades. Em vez
de buscar glória para nós mesmos, devemos nos munir de bacia e toalha para
servirmos uns aos outros.
SINOPSE III
A humildade não compete, ela coopera; a humildade
não busca notoriedade, ela busca o servir; a humildade não obriga, ela convida.
AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
O SERVIÇO AMOROSO
“Tendo lavado os pés dos discípulos e vestido a sua
túnica, Jesus, estando à mesa, outra vez perguntou aos discípulos: Entendeis o
que vos tenho feito? (12) Macgregor comenta: “Quando ‘veste a sua túnica’,
Jesus assume a sua vida novamente (10.17SS.) no poder do Espírito, e assim
esclarece todas as coisas” (7). Sem esperar por uma resposta, Jesus explicou
que isto tinha sido um exemplo (15), ou modelo, “que estimula ou deve estimular
alguém a imitá-lo”. Da mesma forma que Ele, seu Mestre (literalmente,
“Ensinador”) e Senhor, lhes tinha feito, assim deveriam fazer uns aos outros
(13-14; cf. 34). Hoskyns diz: “Seu ato de lavar os pés dos discípulos expressa
a própria essência da autoridade cristã”. Não parece haver qualquer evidência
de que Jesus quisesse que a lavagem dos pés fosse instituída como um
sacramento. Mas fica claro que Ele estava ensinando, pelo exemplo básico é
axiomático, embora paradoxal, que a única maneira de ser “o maior” (Lc 22.24)
ou de ser bem-aventurado (17) é tomar a estrada do serviço amoroso (13.34) e do
sacrifício (10.15), baseado no conhecimento da vontade de Deus para nós. A
palavra traduzida como bem-aventurado no texto das Beatitudes é makarioi (Mt
5.3-12)” (Comentário Bíblico Beacon. Vol. 7. Rio de Janeiro: CPAD, 2024,
p.117).
CONCLUSÃO
Nesta lição, abordamos a relevância da virtude
da humildade para um melhor autoconhecimento. Deste modo, começamos a perceber
os nossos limites e aquilo que nos diz respeito ou não. Compreendemos que a
humildade se opõe a uma cultura de ostentação, à busca desenfreada pela fama e
a outros objetivos que nada têm a ver com a simplicidade do Evangelho. Dessa
forma, podemos seguir o caminho humilde do nosso Senhor.
- A humildade, do
latim humilitas (relacionada a humus,
"terra fértil"), é a virtude que nos leva a reconhecer, com
sinceridade e equilíbrio, quem realmente somos: nossas forças, nossas
limitações, nossa dependência de Deus (para os que creem) e nossa necessidade
de crescer continuamente. Humildade não é autodepreciação nem negação do valor
pessoal. Pelo contrário, é lucidez interior. O oposto da humildade é o orgulho
— que muitas vezes cria uma imagem inflada de si mesmo, impedindo-nos de ver: nossas
fraquezas e vícios, nossos medos e mecanismos de defesa, as formas como ferimos
os outros ou sabotamos a nós mesmos. Sem humildade, permanecemos em uma zona de
autoengano. A humildade nos permite olhar para dentro com verdade; A humildade
abre espaço para o olhar honesto, sem máscaras: Admitimos que não sabemos tudo.
Reconhecemos que temos feridas e áreas não resolvidas. Ficamos mais dispostos a
ouvir, a aprender, a crescer — sem nos prender a uma imagem falsa de perfeição.
Jesus, ao falar de ser "manso e humilde de coração" (Mt 11:29),
revela um tipo de pessoa aberta, acessível, verdadeira — não defensiva nem
egocentrada. Como precisamos resgatar esse ensino hoje!_______________
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REVISANDO O
CONTEÚDO
1. Segundo João
13, como se manifestava o ato de “cingir-se”?
No capítulo 13, o
Mestre tomou uma bacia com água e uma toalha, levantou as pontas das suas
vestes e atou-as à cintura. Pegou nas mangas longas e largas das suas roupas
masculinas típicas da época e amarrou-as atrás do pescoço.
2. Conforme a lição, o que a humildade
representa?
A humildade
representa a verdadeira grandeza espiritual do seguidor do Evangelho.
3. Por qual razão Jesus trocou os
papéis de Senhor e Servo em João 13, segundo a lição?
Ele deliberadamente
trocou o seu papel de Senhor pelo de um simples servo para ensinar aos seus
discípulos a importância da humildade.
4. O que Jesus percebia sobre os
discípulos, conforme abordado na lição?
O nosso Senhor
percebia que existiam momentos em que os seus discípulos se preocupavam com
quem seria considerado o maior (Lc 22.25-27).
5. Para quê propósito a vida e os
ensinamentos de Jesus nos convidam?
A vida e os
ensinamentos do nosso Salvador constituem um convite para aprendermos com Ele
sobre mansidão e humildade (Mt 11.29).