LIÇÕES BÍBLICAS CPAD –
JOVENS - 3º Trimestre de 2019
Título: A razão da nossa
esperança — Alegria, crescimento e firmeza nas cartas de Pedro
Comentarista: Valmir
Nascimento
LIÇÃO 4
28 de julho de
2019
O
RELACIONAMENTO DO CRISTÃO COM O ESTADO E COM OS SUPERIORES
TEXTO DO DIA
“Sujeitai-vos,
pois, a toda ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior;
quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores e
para louvor dos que fazem o bem” (1Pe 2.13,14).
SÍNTESE
As
Escrituras ensinam que o cristão deve se submeter às autoridades constituídas,
porque toda autoridade provém de Deus, com o propósito de punir o mal e
beneficiar a vida em sociedade.
TEXTO BÍBLICO
1 Pedro 2.11-23.
COMENTÁRIO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
Nesta
seção de sua carta, Pedro passa a tratar de aspectos práticos da vida cristã,
especialmente sobre deveres e responsabilidades sociais. Nitidamente, a
epístola petrina demonstra a dupla cidadania dos discípulos de Cristo. Ao mesmo
tempo que somos chamados de peregrinos por causa de nossa cidadania celestial,
Pedro conclama os crentes a se submeterem livremente a todas as autoridades
legítimas, numa clara alusão à cidadania terrena. A mensagem que o apóstolo
está transmitindo é que, não importa o tipo de governo humano, seja monarquia
ou república, toda autoridade provém de Deus. Desse modo, o governo civil,
assim como o tudo mais na vida, está sujeito à lei do Criador. Este é o tema da
presente lição. - Há quem pense que o cristianismo não tem nada que ver
com Estado - nem com política; que a religião não tem nada a ver com política.
Não no sentido de que a religião não se mescle com a política, pois isso sim,
acontece sempre, mas no sentido de que a religião não deveria se misturar com a
política nem se intrometer em coisas de Estado. Alguns mais radicais sustentam,
inclusive, que a verdadeira política é incompatível com a religião. A vida
cristã não é uma mera doutrina ou teoria, pelo contrário, ela está repleta de
aspectos práticos que afetam o nosso dia a dia. Na Palavra de Deus podemos
encontrar direção clara e específica sobre vários aspectos práticos que
norteiam o cristão no seu caminhar diário diante de Deus e dos homens. “Exercita-te pessoalmente na piedade"
(1Tm 4.7) é a exortação do apóstolo Paulo. Que nossos corações sejam
trabalhados pela Palavra de Deus de forma que o Espírito Santo tenha a
oportunidade de aperfeiçoar a nova criação. – Dito isto, convido-o a pensar
maduramente a fé cristã!
I. A CONDUTA EXEMPLAR DOS
PEREGRINOS
1. Abstendo-se das paixões carnais. Em tom amoroso,
Pedro se dirige aos crentes como peregrinos e forasteiros. Enquanto cidadãos de
uma pátria distante, os crentes precisam abster-se das paixões carnais que
guerreiam contra a alma (v.11). Abster-se aqui tem o sentido de manter-se continuamente
longe, afastado dos desejos pecaminosos. Por causa da sua natureza pecadora, o
homem se encontra numa luta interna da carne contra o Espírito (Gl 5.17). Se
por um lado, queremos obedecer a lei moral de Deus, por outro, somos inclinados
a cumprir os desejos da nossa velha natureza, conforme Paulo descreve em
Romanos 7.15-25. Não obstante, isso não significa que tais desejos sejam
absolutamente incontroláveis e que estejamos sujeitos somente aos nossos
institutos naturais. A vitória contra o pecado começa, primeiramente, com o
reconhecimento de nossas fraquezas morais. O cristão não pode se esquecer das
armadilhas do seu coração (Jr 17.9,10) e que as suas percepções não são
plenamente confiáveis. Somente com a ajuda do Santo Espírito o crente é capaz
de vencer essa guerra interna. O segredo para vencermos os desejos pecaminosos
está em andarmos segundo o mover e o poder do Espírito (Gl 5.16). - Nessa seção,
Pedro conclama seus leitores a uma vida reta num mundo hostil. Os cristãos são estrangeiros
numa sociedade secular porque eles são cidadãos do céu. Os cristãos podem
observar suas obrigações por três perspectivas:
1)como peregrinos (vs. 11-12);
2) como cidadãos (vs. 1.3-17);e
3) como servos (vs. 18-10).
Nos
vs. 21-25, Pedro mostra corno Cristo estabeleceu o exemplo ao viver uma vida
perfeita em meio a um cenário hostil. Nesse ambiente avesso à cultura bíblica,
a recomendação do apóstolo é ‘vos
absterdes das paixões carnais’. Uma tradução mais literal talvez fosse
"vos afastardes das paixões carnais".
Para exercerem um impacto no mundo para glória de Deus, os cristãos devem ser
disciplinados de um modo intimo e particular, evitando os desejos da natureza
caída. No texto de Gl 5.19-21, as "obras da carne” incluem muito mais do
que tentações sexuais, que fazem guerra contra a alma. "Guerra", ou
seja, uma campanha militar. As paixões carnais são personificadas como se
fossem um exército de rebeldes ou guerrilheiros que tentam incessantemente destruir
a alegria, a paz e a utilidade do cristão (1Pe 4.2-3).
2. Abstinência cristã. A abstinência é
uma virtude cristã. Uma vez exercitada, ela leva o cristão a abdicar não
somente do consumo de bebidas alcoólicas e de substâncias entorpecentes, mas de
toda atividade que provoque algum tipo de dependência. Numa era caracterizada
pela sensualidade e por vários tipos de compulsão, inclusive de smartphones,
jogos, seriados e mídias sociais, saber se privar de algumas condutas e
práticas é crucial para que tenhamos uma vida de acordo com a vontade do Senhor.
Recomendado pelas Escrituras, o jejum é um importante hábito de abstinência (Mc
9.29; At 10.30). Apesar de negligenciado por alguns crentes e desconhecido por
outros, o jejum é disciplina espiritual sadia, pela qual nos concentramos nas
coisas espirituais em detrimento da vontade do nosso corpo físico. - Na Bíblia o
jejum não aparece como um mandamento mas é assumido como prática normal do
cristão. Deve ser voltado para Deus, não para o reconhecimento dos outros. Jesus
de fato jejuou em pelo menos uma ocasião (Mt 4.2), mas em particular, de acordo
com o seu próprio ensino (Mt 6.16-18). A lei também prescrevia um jejum no Dia da
Expiação (Lv 16.29-31; 23.27), mas todos os outros jejuns deveriam ser
voluntários, por razões especificas como penitência e oração fervorosa. O fato
de esses fariseus terem feito a pergunta mostra que eles achavam que o jejum
era um exercício público para demonstrar a espiritualidade de uma pessoa.
Contudo, o Antigo Testamento também repreendia o jejum hipócrita (Is 58.3-6; Mt
6.16-17; 9.15). O jejum muitas vezes está ligado com oração fervorosa e
vigilante (Ne 1.4; SI 35.13; Dn 9.3; Ml 17.21; Lc 2.37) e inclui a perda de
desejo por alimento ou abstenção voluntária de alimento para concentrar-se em
questões espirituais (Mt 6. 16 17). Assim, Jejuar é não comer e/ou não beber
durante um certo período de tempo. Também pode ser acompanhado por outros atos
de renúncia, como abstinência de relações sexuais (1Co 7.5). O jejum aparece na
Bíblia como uma coisa boa, ligada sempre à oração.
3. Exemplos de conduta. Pedro prossegue
instando os cristãos a manterem uma conduta exemplar no meio dos descrentes
(v.12). Naquela altura, os discípulos de Jesus eram falsa e injustamente
acusados de diversos crimes e delitos. Em vez de argumentar com palavras, eles
deveriam provar a sua inocência e integridade moral por meio de uma vida
exemplar, relevada nas boas obras. Afinal, ações valem mais que palavras, e do
verdadeiro cristão espera-se que seja exemplo em tudo (1Tm 4.12) e em todos os
ambientes da sociedade. - A palavra grega traduzida por "exemplar"
é rica em termos de sentido e implica o tipo mais puro, mais sublime e mais
nobre de bondade. Significa amável, gracioso, nobre e excelente. Tendo sido
disciplinado em sua vida interior e privada, o cristão deve viver entre os não
cristãos de uma maneira que reflita essa disciplina interior. Os primeiros
cristãos foram falsamente acusados de rebelião contra o governo com acusações falsas
tais como: terrorismo (o incêndio de Roma), ateísmo (sua aversão aos ídolos e
ao culto ao imperador), canibalismo (rumores acerca da Ceia do Senhor),
imoralidade (por causa de seu amor uns para com os outros), prejuízo ao
comércio o ao progresso social, e incitação dos escravos à rebelião (At
16.18-21; 19.19,24-27). Apesar das dificuldades enfrentadas pelos crentes do
primeiro século, Paulo enumera cinco áreas nas quais o jovem pastor Timóteo
deveria ser um exemplo para toda a igreja:
•
"palavra" (maneira de falar; cf. Mt 12.34-37; tf 4.25,29,31),
•
"procedimento" (uma vida justa; cí. Tt 2.10; 1Pe 1.15; 2.12; 3.16),
•
"amor" (servir aos outros de modo altruísta; cí. Jo 15.13),
•
"fé" (não crença, mas fidelidade ou compromisso; cf. 1Co 4.2),
•
"pureza" (especialmente a pureza sexual; 1Pe 3.2).
A
vida exemplar de Timóteo nessas áreas compensaria as desvantagens de sua
juventude.
II. O CRISTÃO E O ESTADO
1. Submissão às autoridades. Seguindo o
raciocínio do tópico anterior, uma importante maneira de o cristão ser exemplo
é submetendo-se às autoridades constituídas. Assim como o apóstolo Paulo (Rm
13.1-3), Pedro igualmente enfatiza que toda autoridade foi estabelecida por
Deus (vv.13,14). As autoridades constituídas, reis, governantes, legisladores,
magistrados e outros detentores de poder, portanto, receberam de Deus delegação
para exercerem suas atividades, seja para promover o bem (instituir políticas
públicas, por exemplo), seja para coibir o mal (aplicar a justiça, condenar os
criminosos etc). O ensino subjacente é que Deus domina sobre toda a sua criação
e o objetivo desse poder é o bem de todos. Afinal, sendo um Deus amoroso, Ele
zela pela ordem das coisas criadas (1Co 14.33), pela boa convivência entre os
homens (Hb 12.14) e pela obediência à sua própria lei (Jz 2.16,17). - Uma palavra
grega era usada para falar da obediência absoluta do soldado ao seu superior: ‘esteja sujeito’. A Escritura faz uma
exceção a essa ordem: quando a obediência à autoridade civil exigir
desobediência à Palavra de Deus (Êx 1.17; Dn 3.16-18; 6.7,10; At 4.19). Toda
posição de autoridade civil sem considerar competência, moralidade, racionalidade
ou qualquer outra condição (1Ts 4.11-12; 1Tm 2.1-2; Tt 3.1-2) - uma vez que somente
ele é o governador soberano do universo (Sl 62.11; 103.19; 1Tm 6.15). Ele
instituiu quatro autoridades na terra:
• 1) o governo sobre todos os
cidadãos;
• 2) a igreja sobre todos os cristãos:
• 3) os pais sobre todos os filhos; e
• 4) os senhores sobre todos os
empregados.
A
autoridade do governo humano procede de Deus e é por ele definida. Ele
instituiu o governo humano para recompensar o bom e reprimir o pecado em um
mundo mal e caído. Assim, devemos obedecer as autoridades não para sermos
exemplo, mas por que desobedecê-las seria resistir à ordenação de Deus. Uma vez
que toda autoridade é ordenada por Deus, a desobediência é uma rebeldia para
com Deus. Os cidadãos obedientes à lei e pacíficos não precisam temer as
autoridades. Poucos governos prejudicarão aqueles que obedecem às suas leis. Na
verdade, as autoridades elogiam tais pessoas.
2. Obediência ao Estado. Em nossos dias,
vivendo sob um regime democrático de direito, a Igreja submete-se à autoridade
e às leis emanadas do Estado. O que é o Estado? É o povo organizado política e
juridicamente, que exerce sua soberania dentro de um território. Disso se
denota que é incompatível com a fé cristã uma conduta de rebeldia, revolução e
desrespeito à ordem pública. Por princípio, o cristão é um cidadão exemplar,
pois, além de exigir os seus direitos, é cônscio dos seus deveres com a
sociedade e com o poder público. Em sua conduta diária, é dever do crente
atentar para o cumprimento das leis e regras impostas, não somente as de
natureza penal, mas também as civis, trabalhistas, fiscais, trânsito,
ambientais, eleitorais etc. Todavia, considerando que a autoridade do Estado é
delegada e derivada, a obediência a ele não é cega e sem limites. Jesus disse
que devemos dar a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus (Lc 20.25).
A única autoridade absoluta é Deus. Logo, sempre que o governo confrontar os
princípios morais e espirituais contidos nas Escrituras, o cristão deve se
preocupar em obedecer mais a Deus que aos homens (At 5.27-29). Nas Escrituras e
ao longo da história muitos servos de Deus foram presos ou morreram exatamente
por desobedecerem a leis e a ordens injustas de reinos e governos perversos. “A
lealdade ao reino de César é condicional, mas a lealdade ao Reino de Deus é
absoluta” (Bíblia de Estudo Pentecostal). O seguidor de Cristo honra ao Rei,
mas teme a Deus (v.17). - As autoridades (os que exercem poder) são (ou deveriam
ser!) ministros (instrumentos, servos) de Deus para ajudar as pessoas,
inclusive as pessoas cristãs, a fazerem o bem (Rm 13.4). Como homens e mulheres
livres (Gl 5.1), devemos respeitar as “autoridades”, honrando a todos, amando o
próximo, temendo a Deus e respeitando o rei (1Pd 2.17), sem abrir não do
caráter ou da consciência cristã colocados em nós pelo Espírito Santo. Assim,
sujeição e consequente obediência às autoridades estão condicionadas à prática
da justiça, da misericórdia, do amor, da santidade cristã.
“Por isso vemos Pedro e João afirmarem por
duas vezes às autoridades do Sinédrio (que os perseguem, prendem e os proíbem
de testemunhar Jesus como Senhor e Salvador ressurreto): “Importa obedecer a
Deus do que a homens” (At 4:19 e At 5:29). Vemos que não se trata de um caso
isolado de desobediência religiosa e civil, pois os verdadeiros homens e
mulheres de Deus, particularmente os verdadeiros profetas do Antigo Testamento,
desobedecem e confrontam às autoridades idolátricas que os fariam desobedecer a
Deus. Os jovens Hananias, Misael e Azarias, escravizados com os nomes babilônicos
de Mesaque, Sadraque e Abede-Nego desobedecem às ordens do rei Nabucodonosor
para se curvarem diante de uma estátua que ele erigiu (Dn 3). Daniel desobedece
a lei injusta chancelada pelo rei Dario que o impedia de orar a Deus (Dn
6:8-16). O profeta Micaías desobedece à solicitação do rei Acabe transmitida
por seu mensageiro (II Cr 18:12-13 e 17). Os profetas Jeremias e Urias
profetizam dura e sistematicamente contra o reino de Judá (Jr 23:1-4; Jr
20:1-2; Jr 26:20-24). O próprio Senhor Jesus desobedece às leis equivocadas e
injustas e às autoridades religiosas da religião judaica. Jesus cura no sábado
como por exemplo em (Mt 12:1-14), come com pecadores, se torna amigo de
gentios, não apedreja a mulher adúltera, chama os fariseus de hipócritas e pede
que seus seguidores(as) se afastem de seus ensinos. O poder das autoridades
sobre os cristãos e a sujeição dos cristãos às autoridades (familiares,
religiosas, civis, militares, políticas, etc) estão condicionadas a não
transgredirmos a vontade de Deus, o Senhor dos senhores. Como cremos e
afirmamos que só há um Deus (I Tm 2:5; Jd 1:25; Sl 86:10) e um único Senhor
legítimo e Todo-Poderoso (Ef 4:5; 1Tm 6:15), todos os demais poderes, existem e
se manifestam porque Deus os permite existir e manifestar. Mas certamente nem
todo poder que existe é emanado de Deus e tem a legitimidade divina para
existir; não cumprem os propósitos de Deus, não têm a aprovação de Deus, não
representam a vontade de Deus. Deveriam ser instrumentos de justiça de Deus,
mas não o são. Por isso precisam ser questionados, desobedecidos, confrontados,
denunciados e combatidos. As “autoridades” (cônjuges, pais, educadores,
pastores/as, bispos/as, juízes, administradores, patrões, governantes, etc) que
não usam o poder que têm para servir como despenseiros da justiça de Deus, mas
que se servem do poder que dispõem e cometem abusos ou omissões que impedem a
justiça, serão severamente julgados por Deus. “...Aquele que conheceu a vontade
do seu senhor... nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites.
...Àquele que muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se
confia, muito mais lhe pedirão” (Lc 12:47-48.” Homens e mulheres livres devem
usar de discernimento e consciência crítica (I Jo 4:1) para distinguir o que é
de Deus e o que é “de César”(Mt 22:21), pois o Reino (e governo e autoridade)
de Deus não se confunde com esse mundo (Jo 18:36), não se confunde com nenhuma
estrutura, autoridade, instituição desse mundo, inclusive a própria igreja.
“César” e Deus são duas autoridades diferentes e geralmente se conflitam e se
opõem. Sujeição e obediência acríticas não são de Deus: “Vede que ninguém vos
engane!” (Mt 24:4), exorta-nos Jesus. Além do mais, não custa lembrar, a
sujeição às autoridades bem como a sujeição de uns aos outros (sujeição mútua),
é “no temor do Senhor” (Ef 5:21), para testemunho do bem, para honra e respeito
ao próximo (I Pd 2:17), para tratarmos com humildade e generosidade as pessoas
que estão ao nosso redor, em nosso caminho e sob o nosso cuidado ou ao alcance
de nossas mãos e orações para lhes fazermos o bem. Qualquer ideologia,
filosofia, teologia ou doutrina que queiram quebrar a nossa comunhão de irmãos
e irmãs, firmadas pelo Senhor Jesus, e nos hierarquizar como acontece no mundo
que jaz no maligno, todas elas devem ser rejeitadas e denunciadas em nome de
Jesus. No mundo sem Deus, no mundo de “César”, uns mandam e oprimem os demais,
mas no povo de Deus não é assim. O maior, o que tem mais riquezas deste mundo,
o que tem poder de qualquer tipo, “as autoridades”, são servos dos demais (Mt
20:25-28). Toda submissão e obediência precisam ser críticas e fruto de
consciência de alguém que seja livre, para a honra e glória de Deus. Sujeição
absoluta e obediência inquestionável somente a Deus e a ninguém mais. Realmente
importa obedecer sempre e em todo tempo a Deus. O resto a gente olha, reflete à
luz dos evangelhos...” (METODISTAVILAISABEL)
3. Liberdade do cristão. Independentemente
da forma de governo, o cristão é livre (v.16). A liberdade é um princípio
essencial no Cristianismo, e serviu de base para a formatação dos valores do
mundo Ocidental. Assim, ao se submeter à autoridade do Estado, o cristão não o
faz na condição de escravo, mas de pessoa livre. Todavia, a liberdade não pode
ser utilizada como pretexto para a prática de atos maliciosos. Ela jamais pode
conduzir ao escândalo ou como justificava para dar lugar à carne (1Co 8.9, Gl
5.13). Ainda que sejamos livres, nem tudo nos convém (1Co 10.23). – A liberdade
para qual nós formos tornados livres é aquela do domínio do pecado e de Satanás,
da devoção religiosa e do velho ‘eu’ (nossa carne – Gl 2.4). A liberdade que os
cristãos têm não é uma base a partir da qual eles podem pecar livremente e sem
conseqüências. A liberdade do cristão não é para satisfação própria, mas para
servir a outros (Rm 14.1 -13). Paulo dá quatro princípios para a liberdade
cristã:
•
1) a edificação acima da gratificação (v. 23);
•
2) os outros acima de nós mesmos (v. 24);
•
3) a liberdade acima do legalismo (vs. 25-27); e
•
4) a condescendência acima da condenação (vs. 28-30).
III. O CRISTÃO E OS SEUS
SUPERIORES
1. A submissão aos senhores. Tendo tratado do
relacionamento do salvo com as autoridades, o apóstolo passa agora ao âmbito
dos relacionamentos privados. Ele admoesta os servos cristãos a se submeterem
aos seus senhores (v.18). Pedro emprega o termo grego oiketai, que designava o
escravo doméstico, uma espécie de empregado ou servente da casa. A menção deles
nas páginas do Novo Testamento é um claro indicativo da posição de igualdade
humana que eles ocupavam na comunidade de fé (Ef 6.5; Fm 16; Gl 3.28). Enquanto
a sociedade os tratava com desprezo, para os cristãos eles são irmãos em
Cristo, dignos de receberem ensinamentos. Numa época em que havia no Império
Romano mais de 60 milhões de escravos, dentre os quais muitos cristãos, o
conselho era para que eles se portassem com respeito aos seus superiores, tanto
em relação aos bons quanto aos maus. Tal conselho somente pode ser compreendido
pelo verdadeiro súdito do Reino de Deus, cujo padrão de comportamento é
completamente inverso ao do mundo. Qualquer pessoa pode obedecer a um superior
justo e humano, mas somente o cristão, por amor a Cristo, é capaz de respeitar
alguém perverso e ímpio. Por certo, hoje as relações de trabalho são muito
diferentes. Os empregados gozam de maior liberdade e possuem uma série de
direitos trabalhistas assegurados. Assim, ao aplicarmos o ensinamento de Pedro
para a vida contemporânea, devemos ter em mente o princípio ali contido:
submissão por amor ao Senhor (Ef 6.5). Portanto, o empregado cristão submete-se
ao seu patrão ou chefe principalmente porque teme e ama a Deus. - 6.5 servos,
obedecei. Veja nota em Cl 3.22-41. Os escravos, tanto na cultura helênica como
na romana, não tinham direitos legais e eram tratados como mercadorias. Havia
muito abuso e raramente os escravos eram bem tratados. A Bíblia não fala contra
a escravidão em si, mas contra o abuso dela (cf. Êx 21.16,26-27; Lv 25.10; Dt
23.15-16). A admoestação de Paulo aplica-se igualmente bem a todos os
empregados. O termo "obedecei" diz respeito à submissão contínua e
ininterrupta ao senhor e patrão de alguém na terra, a única exceção sendo a uma
ordem que envolva uma clara desobediência à Palavra de Deus, como ilustrada em
At 4.19-20 (1Tm 6.1-2; Tt 2.9-10; 1Pe 2.18-20). Os patrões ou chefes humanos
merecem ser tratados com temor e tremor. Não é medo, mas respeito à autoridade
deles. Mesmo que um patrão não mereça respeito por direito (1Pe 2.18), este
deve, contudo, ser dado a ele com sinceridade genuína, como se a pessoa
estivesse servindo ao próprio Cristo. Servir bem ao patrão é servir bem a
Cristo (Cl 3.23-24). Paulo sustenta as obrigações do escravo para com o seu
senhor, das quais o paralelo moderno são as obrigações do empregado para com o
patrão. A Escritura nunca defende a escravidão, mas a reconhece como um
elemento da sociedade antiga que poderia ser mais benéfico se escravos e
senhores se tratassem da maneira apropriada. Paulo segue o exemplo de Cristo e
utiliza a escravidão como tema para a instrução espiritual, comparando o
cristão com alguém que é escravo e empregado de Jesus Cristo, visualizando o
serviço ao senhor terreno como uma maneira de servir ao Senhor.
2. Seguindo os passos de Jesus. Por que devemos
ter esse tipo de comportamento? Porque temos em Jesus o melhor modelo de
conduta diante do sofrimento e da perseguição. Mesmo tendo sido ultrajado,
maltratado e injustiçado em nosso lugar, não revidou ou ameaçou seus algozes. É
Ele quem o cristão deve imitar e seguir os passos. O seu ensinamento é claro:
“[…] Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que
vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem!” (Mt 5.44). A
lógica do seu Reino é diferente da dos homens, mas vale a pena trilhar os
passos do Mestre! – “amai os vossos
inimigos... para que vos tomeis filhos do vosso Pai celeste” (Mt 5.44-45) -
Isso ensina claramente que o amor de Deus se estende até mesmo aos seus
inimigos. Esse amor universal de Deus é manifesto em bênçãos que Deus concede a
todos de maneira indiscriminada. Os teólogos chamam isso de graça comum. Deve
ser diferenciada do amor eterno de Deus pelos seus eleitos (Jr 31.3), mas trata-se,
de qualquer maneira, de boa vontade sincera (cf. SI 145.9). Lembrando, ainda,
que o termo ágape – amor, não necessita de sentimento favorável; é mais um amor
de serviço. É não desejar o mal daqueles que nos odeiam e perseguem, devemos
querer o bem até mesmo de quem nos maltrata. Precisamos aprender a perdoar e a
largar o rancor. Os filhos de Deus não retribuem mal por mal mas vencem o mal
com o bem (Rm 12.21).
3. A crise de autoridade. Vivemos um tempo
de verdadeira crise de valores e referenciais. Uma característica nociva da
pós-modernidade é exatamente a perda da noção de autoridade, com alunos que não
respeitam professores, filhos que se insurgem contra os pais e jovens que
confrontam diretamente os mais velhos. Esse tipo de rebeldia fragiliza os
relacionamentos e provoca verdadeiro caos na sociedade. Por essa razão, o
princípio da submissão à autoridade que se extrai da mensagem da carta em
estudo é muito atual, servindo como valiosa diretriz para a vida em comunidade.
Temos em Jesus o melhor modelo de conduta diante do sofrimento e da
perseguição. Mesmo tendo sido ultrajado, maltratado e injustiçado em nosso
lugar, não revidou ou ameaçou seus algozes. – “Desde o triste dia em que Caim se levantou contra seu irmão e o matou,
a perseguição tem se espalhado sobre a Terra. Do ponto de vista espiritual, os
ataques são ainda anteriores aos eventos do Jardim do Éden, remontando ao tempo
em que o orgulho de Satanás o fez desejar ser igual a Deus. Nos dias de hoje, a
batalha histórica entre o bem e o mal continua de maneira incessante e a
injustiça se acumula, muitas vezes chocando qualquer observador da perseguição
ao cristianismo”.(Este texto é parte do livro Resistência cristã, de Johan
Companjen, São Paulo, Missão Portas Abertas, 2002.)
-
Para mais sobre esse tema, leia aqui o Artigo ‘Família 6 - A Família E A Crise
De Autoridade’, de autoria do Pr
Josué Ebenézer de Sousa Soares
CONCLUSÃO
É
marca indelével do verdadeiro cristão o exercício da boa cidadania. O crente
honra a Deus respeitando as leis do governo civil e contribuindo para o bem
comum. O testemunho cristão começa em Jerusalém, mas alcança os confins do
mundo (At 1.8). Assim como os cristãos primitivos abalaram o mundo de sua época,
chegando a Roma, a capital política do mundo de então, ainda hoje os seguidores
de Cristo tem a incumbência de agirem como sal da terra e luz do mundo, como
uma religião verdadeiramente profética na esfera pública. - A Igreja é
peregrina nessa terra, nosso alvo é o céu de glória. Porém, não se obtém a
cidadania celestial sem primeiro apresentarmos os requisitos necessários. No
Salmo 15 encontramos preciosas lições sobre o caráter do verdadeiro cidadão do
céu. "Nem todo o que me diz: Senhor,
Senhor! entrará no REINO DOS CÉUS, mas AQUELE QUE FAZ A VONTADE DE MEU PAI, que
está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos
nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não
fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci;
APARTAI-VOS DE MIM, VÓS QUE PRATICAIS A INIQUIDADE". (Mt 7.21-23). Ser
cidadão do céu, ao mesmo tempo em que se é cidadão da terra, não é coisa fácil.
contudo, conhecendo as qualidades do verdadeiro cidadão do céu devemos
esforçar-nos pedindo que deus nos ajude.
Àquele que é “âncora da alma, segura e firme” (Hb
6.19),
Pb Francisco Barbosa
Campina Grande-PB
JULHO de 2019