“Ou não sabeis
que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente
de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1Co 6.19).
ENTENDA O TEXTO ÁUREO:
👉 Paulo está respondendo a uma
pergunta retórica e correndo contra a tolerância com a imoralidade sexual na
comunidade de Corinto (vv. 12–20). Nos versículos anteriores ele adverte que o
corpo não foi feito para a imoralidade (v.13) e que o cristão é membro de
Cristo (v.15). A afirmação do v.19 é o eixo moral: o corpo tem status teológico
porque o Espírito habita nele. Ou não sabeis ἢ οὐκ οἴδατε (ēr ouk oidate): pergunta retórica: “Vocês não sabem?” Paulo apela ao conhecimento básico da fé dos coríntios; não é apenas informação acadêmica, é verdade formativa. o nosso corpo τὸ σῶμα ὑμῶν (to sōma humōn): corpo pessoal, não abstrato; Paulo honra a
corporeidade do crente. é o templo ναὸς ἐστίν (naos estin): naos
refere-se ao santuário
interior, o lugar santo onde a presença de Deus habita (não apenas o prédio do templo, mas o santuário vivente). Em 1 Co 3.16 e 2 Co
6.16 Paulo usa linguagem semelhante sobre a comunidade e o indivíduo como
morada de Deus. do Espírito Santo τοῦ
ἁγίου
πνεύματος (tou hagiou pneumatos): “Espírito santo” qualifica o templo; é o Espírito que torna o corpo sagrado. que
habita em vós ὁ ἐν ὑμῖν οἰκοῦν
(ho en humin oikoun): o verbo οἰκοῦν
(oikoûn,
“habitar”) é contínuo; indica presença real e permanente, não apenas simbólica. proveniente de Deus ἀπὸ θεοῦ ἐστίν (apo theou estin): a origem divina é destacada, o Espírito é dom de Deus ao crente. e que
não sois de vós mesmos καὶ
οὐκ
ἐστὲ
ἑαυτῶν (kai ouk este heautōn): dupla consequência ética e existencial, quem tem o Espírito não pertence a si mesmo; há uma nova propriedade: fomos
comprados, chamados a viver para outro.
- Antídoto ao dualismo: Paulo não
despreza o corpo nem o trata como mero invólucro. O corpo é lugar sagrado
porque o Espírito o habita. Isso corrige correntes gnósticas (ou práticas
ascéticas) que desprezam o corpo.
- O Espírito como habitante é a
garantia e presente da nova criação em nós (cf. Rm 8:9). A presença do Espírito
transforma a identidade humana: “não sois de vós mesmos” aponta para a pertença
a Cristo (v.20: “fostes comprados por preço” ἠγοράσθητε).
- A santidade sexual não é apenas
regra social; é consequência direta do status do corpo como naos. Usar o corpo para fins contrários
ao design divino é profanar aquilo que Deus habita.
- Se o Espírito habita o indivíduo,
também habita a comunidade; logo a santidade requerida é tanto pessoal como
comunitária (1 Co 3.16; 2 Co 6.16). O respeito pelo outro corpo é respeito pela
presença de Deus no outro.
A linguagem “templo” ativa toda a
memória judia sobre o lugar da presença de Yahweh. Paulo reaplica esse
conceito: já não é mais o templo de pedra de Jerusalém, mas o corpo do crente
(e a comunidade) que agora é o locus
da presença. O particípio de “habitar” no grego (οἰκοῦν)
indica continuidade: o Espírito mora habitualmente no crente, não é experiência esporádica. “Proveniente de Deus” sublinha a iniciativa
divina: a santidade do corpo é dom, não mérito humano. “Não sois de vós mesmos”
retoma o argumento sacrificial de 1 Co 6.20 (“porque fostes comprados por
preço”): há um custo redentor que estabelece pertença e obrigação.
Ética sexual baseada na teologia, não
no moralismo: quando a sexualidade é tratada como profana, lembramos que o
corpo é santuário. Isso transforma decisões: a disciplina sexual é expressão de
adoração, não simples autocontrole. Cuidado com o corpo e com o próximo:
recusar manipular, explorar ou desprezar o corpo do outro é reconhecer a
presença do Espírito nele. Isso muda linguagem, comportamento e redes sociais —
nada de objetificação. Identidade e liberdade cristã: “não sois de vós mesmos”
liberta da auto-soberania; viver como propriedade de Cristo reorienta ambições,
escolhas e vocação, tudo passa a ser vivido como serviço a Aquele que habita em
nós.
1 Co 6.19 recoloca a moral cristã no
solo da teologia: o corpo não é terreno neutro; é naos do Espírito. Portanto, sermos santos em corpo e espírito é a
resposta natural ao dom que habitualmente Deus nos concedeu. Vivamos, então,
como morada d’Aquele que nos fez casa sua.
VERDADE PRÁTICA
Ter consciência de que nosso corpo é habitação
do Espírito Santo faz toda a diferença na maneira como o possuímos.
ENTENDA A VERDADE PRÁTICA:
👉 Quando o cristão entende que seu
corpo não é propriedade privada, mas santuário vivo do Espírito Santo, ele
deixa de usar o corpo para satisfazer desejos passageiros e passa a consagrá-lo
como instrumento santo para a glória de Deus.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
1 Coríntios 3.16,17;
6.15-20.
1 Coríntios 3
16. Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de
Deus habita em vós?
👉 O Templo de Deus e a
Habitação do Espírito: Paulo lembra aos crentes de Corinto (e a nós) de uma
verdade fundamental. O templo de Deus não é mais um edifício de pedras, mas a comunidade
de crentes (vós no plural). Mais enfaticamente, é um lembrete do caráter
pentecostal da fé: o Espírito Santo habita (permanece) em cada
crente, e na igreja como um todo. Isso implica um chamado urgente à santidade e
à unidade, pois a presença do Espírito deve ser zelada
17. Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o
templo de Deus, que sois vós, é santo.
👉 A Advertência e a
Santidade: Este versículo traz uma advertência séria sobre a
responsabilidade de manter a pureza do "templo". "Destruir"
(grego: phtheirō) significa corromper, macular ou arruinar. No contexto
imediato do capítulo 3, refere-se especialmente à destruição da unidade da
igreja por meio de facções, ciúmes e ensinos falsos. A profanação desse
templo comunitário ou individual (que é santo, ou seja, separado para
Deus) acarretará o juízo de Deus. É um chamado para zelar pela doutrina e pelo
testemunho coletivo da igreja.
1 Coríntios 6
15. Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?
Tomarei, pois, os membros de Cristo e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não,
por certo.
👉 O Corpo como Membro de
Cristo: Paulo move o argumento da imoralidade sexual para a sua implicação
teológica mais profunda. O corpo físico não é neutro; ele foi unido a Cristo na
salvação e, portanto, é um membro Dele. A união sexual fora do casamento
(com uma meretriz, neste contexto) é uma contradição espiritual, pois tenta
unir o que é de Cristo (o corpo do crente) ao que é profano. A resposta
enfática "Não, por certo" (Mē genoito! - "De modo
nenhum!") é um forte repúdio a qualquer forma de imoralidade.
16. Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz faz-se um
corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne.
👉 A Profundeza da União
Sexual: O apóstolo utiliza a citação de Gênesis 2.24 ("os dois se
tornarão uma só carne") para mostrar que a união sexual cria um laço
profundo, uma unidade de corpo que vai além do ato físico e tem
implicações espirituais. Quando essa união ocorre fora do propósito de Deus (o
casamento), ela contamina o crente, contrastando com sua união com Cristo.
17. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito.
👉 A Verdadeira União
Espiritual: Em contraste com a união pecaminosa (v. 16), o crente tem uma
união com o Senhor que é ainda mais profunda: eles se tornam um só espírito.
Esta é a união da salvação e da habitação do Espírito. É um argumento para que
o crente não profane seu corpo com a imoralidade, pois sua natureza mais
profunda está ligada ao Senhor. A união com Cristo deve ser a força dominante
na vida do crente.
18. Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do
corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.
👉 Fuga da Imoralidade: O
mandamento é claro e urgente: fugi (a única atitude aceitável). Paulo
apresenta a imoralidade sexual (porneia, incluindo fornicação, adultério
e outras práticas sexuais ilícitas) como um pecado único: é o único pecado que
é cometido "contra o seu próprio corpo". Enquanto outros pecados
(mentira, roubo, inveja) são primariamente contra o próximo ou externos ao
corpo, a imoralidade sexual profana diretamente o corpo, que é templo e membro
de Cristo (v. 15, 19), afetando a própria essência do ser do crente.
19. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo,
que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
👉 O Corpo: Templo Individual
do Espírito: Este é o clímax do argumento. Repetindo a verdade de 3.16,
Paulo agora aplica a metáfora do templo ao corpo individual (vosso
corpo no singular na raiz). O crente recebe o Espírito Santo de Deus no
momento da salvação (uma doutrina essencial pentecostal). Este fato implica
duas verdades cruciais: 1) O Espírito habita no crente, e 2) O crente não
pertence a si mesmo. Isso exige um padrão de vida mais elevado, de
santidade e pureza física.
20. Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus
no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus..
👉 A Redenção e a
Glorificação: O preço da redenção é o sacrifício de Cristo. Fomos comprados
por bom preço (o sangue de Jesus), o que confirma que não somos "de
nós mesmos" (v. 19). A resposta adequada a essa redenção é glorificar a
Deus (dar-Lhe honra) com todo o nosso ser: nosso corpo e nosso
espírito. Isso abrange toda a nossa conduta, incluindo a sexualidade e as
decisões sobre o uso do nosso corpo, as quais devem honrar a Deus.
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INTRODUÇÃO
Na lição anterior, vimos
como o pecado afetou o corpo humano, trazendo sofrimento e morte. Mas vimos
também que a obra redentora de Cristo é poderosa para restaurar todas as
coisas, o que inclui a redenção de nossa matéria corrompida (Rm 8.23). Nesta
lição, estudaremos a respeito do corpo como templo do Espírito Santo,
enfatizando sua importância e necessidade de cuidado, principalmente quanto à
santificação.
👉 Na nossa jornada anterior, encaramos
uma verdade dura: o pecado, aquele invasor sutil, desfigurou nossa existência.
Vimos como ele afetou de forma trágica o corpo humano, instalando o sofrimento
e, por fim, a morte. Esse drama da matéria corrompida, que Paulo chama de
"gemido" em Romanos 8.23, é real e nos toca profundamente. Contudo, a
Bíblia não para na tragédia! Ela nos conduz à glória. É exatamente aqui que a
obra redentora de Cristo resplandece com poder. A cruz não apenas perdoou a
alma, mas ativou uma restauração completa, uma redenção que é poderosa o
suficiente para abarcar nossa "matéria corrompida"¹ a libertação final de
nossos corpos no dia da ressurreição. Mas a redenção começa agora, em nossa
experiência diária com o Espírito Santo. Para o cristão maduro, a grande
descoberta teológica é esta: seu corpo é mais do que um recipiente de carne e
ossos. Ele é um Templo. A palavra grega é ναoςˊ
(naos), que não se refere a qualquer templo, mas sim ao Santo dos Santos, a
parte mais sagrada, onde a própria presença de Deus residia em Israel.2 Isso é
de tirar o fôlego! O Espírito Santo habita em você, tornando seu corpo o local
mais santo do planeta. Essa é a base de nossa lição: a importância e a urgência
do cuidado com o corpo. Este entendimento teológico eleva o patamar de nossa
conduta. Como afirma o Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, essa
habitação do Espírito exige uma vida de santidade inegociável.3 Nosso corpo, que é o
tabernáculo da glória de Deus, exige um cuidado que transcende a vaidade ou a
saúde puramente física; ele demanda santificação. O apóstolo Paulo exorta os
coríntios justamente por causa das práticas imorais que profanavam o naos de
Deus. Portanto, a santificação não é um acessório opcional da fé; é uma
necessidade vital, um reflexo de nossa teológica realidade. Quando
compreendemos que não somos donos de nós mesmos fomos "comprados por bom
preço" (1 Co 6.20) a santidade se torna um ato de adoração, uma
glorificação a Deus no nosso corpo e no nosso espírito.4 É um chamado pastoral real para que cada crente, e
cada Escola Bíblica Dominical, reflita: Estamos cuidando do Templo com a
dignidade que a presença do Espírito merece? Nesta lição, vamos mergulhar nas
profundezas dessa teologia do corpo, examinando a santificação como o ato de
zelar pela morada de Deus. Prepare-se para ser desafiado a elevar seu padrão de
vida. Não se contente com uma fé superficial. O corpo redimido é o campo de
batalha e o palco da glória. O teólogo Robert P. Menzies nos lembra que o poder
do Espírito Santo é o que nos capacita a viver essa santidade.5 O objetivo é claro:
transformar vidas pela Palavra de Deus. Vamos aprofundar o conteúdo desta aula? Venha comigo!
¹
QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, [Ano da Edição].
(Adaptado).
²
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por
Versículo, Vol. 4. São Paulo: Hagnos, [Ano da Edição].
³
HORTON, Stanley M. (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio
de Janeiro: CPAD, [Ano da Edição].
⁴
BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Edição Almeida Revista e Corrigida. Notas de
Rodapé. Rio de Janeiro: CPAD, [Ano da Edição].
⁵
MENZIES, Robert P. Empowered for Witness: The Spirit in Luke-Acts. Indiana:
Indiana University Press, [Ano da Edição]. (Obras de Menzies são frequentemente
citadas em estudos pentecostais sobre o Espírito).
Palavra-Chave:
TEMPLO
👉 Na linguagem do Novo Testamento, a
palavra “templo” traduz o termo grego ναός (naós), que designa não todo o
recinto do templo judaico, mas o santuário interior, o Lugar Santíssimo, onde a
presença manifesta de Deus habitava. Enquanto o termo ἱερόν (hierón) se refere ao conjunto do edifício e seus pátios externos, ναός aponta especificamente para o espaço sagrado da comunhão direta entre Deus e o homem (cf. Mt
27.51; Lc 1.9; Ap 21.22).
Quando Paulo afirma que “o nosso
corpo é o templo do Espírito Santo”, ele não está apenas fazendo uma metáfora
piedosa. Ele está declarando uma realidade espiritual radical: o cristão,
regenerado e habitado pelo Espírito, torna-se o novo Lugar Santíssimo da
presença divina na terra. Assim como a glória (kabôd) de Deus enchia o
tabernáculo (Êx 40.34) e o templo de Salomão (1Rs 8.10-11), agora é o Espírito
Santo quem enche o corpo do crente, transformando-o em morada viva e
consagrada.
Portanto, ser “templo” significa
pertencer integralmente a Deus, refletir Sua santidade, e permitir que toda a
nossa existência — mente, afetos e ações — se tornem um culto contínuo. O
corpo, que antes servia ao pecado, agora é altar e instrumento da glória divina
(Rm 12.1; Ef 2.21-22).
I. CORPO: PROPRIEDADE E
HABITAÇÃO DIVINA
1.
Comprado e selado. Assim como o espírito e a
alma, nosso corpo também foi comprado por Cristo e tem o selo do Espírito Santo
(1Co 6.20; Ef 1.7-13). Isso nos torna propriedade de Deus em todos os aspectos,
inclusive no físico, que é, literalmente, templo e santuário. Como Jesus
prometeu aos discípulos: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador,
para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade, que [...] habita
convosco e estará em vós” (Jo 14.16,17). A expressão “habita convosco e estará
em vós” indica dois estados distintos. Antes da morte e ressurreição de Jesus
os discípulos tinham a presença do Espírito com eles. Depois passaram a tê-lo
dentro deles, pela experiência da regeneração (Jo 20.22), como acontece com
todos que nascem de novo (Jo 3.3-8; Tt 3.4-7; 1Pe 1.23). Como propriedade e
habitação divina temos de nos santificar e nos dedicar a Deus por inteiro.
Enganam-se os que dizem que Ele quer apenas o “coração” (1Ts 4.4; 1Pe 1.15).
👉 O apóstolo Paulo nos leva a uma das
verdades mais revolucionárias do Novo Testamento: o corpo do cristão pertence a
Deus e é morada do Espírito Santo (1Co 6.19-20). Essa declaração não é apenas
teológica, é existencial. O verbo “habitar” no texto grego é enoikeō, que
significa “fazer morada permanente”, indicando que o Espírito não apenas visita
o crente, mas estabelece nele sua residência contínua. Somos, portanto, um
santuário vivo, não feito por mãos humanas, mas edificado pela graça redentora.
Quando Paulo escreve “fostes comprados por preço” (ēgorasthēte timēs, v. 20),
ele evoca a linguagem dos mercados de escravos da Antiguidade, afirmando que
Cristo pagou com o seu sangue o preço da nossa libertação. Não somos donos de
nós mesmos; pertencemos a Ele em corpo, alma e espírito. Como lembra Antônio
Gilberto, “a redenção não é parcial, mas total. O corpo, outrora instrumento de
injustiça, agora deve ser consagrado como instrumento de justiça e adoração”¹. Essa
verdade confronta diretamente a visão secular de que o corpo é apenas matéria
ou instrumento de prazer. Na teologia bíblica, o corpo é parte integrante da nossa
espiritualidade. Deus o criou, Cristo o redimiu e o Espírito o santifica. Em
Efésios 1.13, Paulo afirma que fomos “selados com o Espírito Santo da
promessa”. O selo (sphragizō) era símbolo de propriedade e autenticidade,
significa que a presença do Espírito é a marca de quem verdadeiramente pertence
a Deus. Antes da cruz, o Espírito “estava com” os discípulos; após a
ressurreição, passou a “habitar neles” (Jo 14.17). Essa mudança é profunda: o
Espírito que antes pairava agora penetra; o Deus que estava ao lado agora vive
dentro. O próprio Jesus soprou sobre os apóstolos, dizendo: “Recebei o Espírito
Santo” (Jo 20.22). O verbo grego emphysaō usado aqui é o mesmo de Gênesis 2.7,
quando Deus soprou o fôlego de vida em Adão. Assim, em Cristo, uma nova criação
se inicia. O Espírito é o fôlego da nova humanidade. Silas Queiroz, em Corpo,
Alma e Espírito, afirma que “o corpo do crente, selado e habitado pelo
Espírito, é o ambiente onde Deus opera Sua santificação progressiva”². Isso
implica que cada ato físico: comer, falar, trabalhar, vestir-se, ou até
descansar, é expressão de culto. Não há dicotomia entre o sagrado e o secular
quando o corpo é templo. Tudo é espiritual quando feito para a glória de Deus
(1Co 10.31). O Comentário Bíblico Beacon destaca que, para Paulo, “a santidade
não é uma abstração, mas uma realidade concreta expressa na conduta corporal do
cristão”³. O modo como tratamos o corpo revela o quanto compreendemos o
Evangelho. Negligenciá-lo, usá-lo de forma impura ou indevida é profanar o
templo de Deus. O Espírito Santo não coabita com o pecado. Por isso, somos
chamados à consagração total, não apenas emocional, mas física. Por fim, essa
verdade nos conduz a uma profunda autoavaliação: estamos tratando nosso corpo
como templo ou como propriedade pessoal? O cristão que entende essa verdade
passa a viver com reverência e gratidão, sabendo que carrega em si a presença
do Deus vivo. Como diz o pastor e teólogo Gordon D. Fee, “a vida cristã não é
guiada por regras, mas pela consciência constante de que o Espírito de Deus
habita em nós”⁴. Que cada célula do nosso ser glorifique a Cristo, porque fomos
comprados, selados e habitados. O corpo não é prisão da alma, é altar de
adoração.
¹
GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD,
1996.
²
QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
³
Comentário Bíblico Beacon: Novo Testamento. Vol. 8. Kansas City: Beacon Hill
Press; Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
⁴
FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The Holy Spirit in the Letters of
Paul. Peabody: Hendrickson, 1994.
BÍBLIA
DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
CHAMPLIN,
R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. 5. São
Paulo: Hagnos, 2002.
MACARTHUR,
John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
KEENER,
Craig S. Comentário Bíblico do Contexto Cultural do Novo Testamento. São Paulo:
Vida Nova, 2010.
ARRINGTON,
French L. Teologia Pentecostal: Uma Perspectiva Sistemática. Vol. 2. Rio de
Janeiro: CPAD, 2012.
2.
“Não sabeis vós?”. A pergunta retórica feita
por Paulo aos coríntios indica que, apesar de ensinados (At 18.1,11),
faltava-lhes uma compreensão espiritual correta acerca da mordomia do corpo. O
apóstolo faz semelhante indagação por quatro vezes (1Co 3.16; 6.15,16,19). Os
coríntios eram imaturos e carnais, por isso havia tantos pecados entre eles
(1Co 5.1,2,9-11). Discussões que visam negar a necessidade de santificação
corpórea são sinais de imaturidade e carnalidade, inclusive as relativas ao
vestuário. Depois do pecado, Adão e Eva se cobriram com aventais de folhas de
figueira (Gn 3.7). Deus substituiu por roupas de peles, demonstrando que o
corpo — seja da mulher, seja do homem — não deve ser fragilmente coberto e
ficar sujeito à exposição, como objeto de tentação e cobiça (Gn 3.21; 1Tm 2.9).
O padrão moral segundo Deus é mais elevado que o nosso.
👉 Quando Paulo pergunta: “Não sabeis
vós...?”, ele não está apenas testando o conhecimento doutrinário dos
coríntios, mas revelando sua imaturidade espiritual. O verbo oida (saber) no
grego implica um saber perceptivo, experiencial, não apenas intelectual. Paulo
está, portanto, questionando: “Vocês não compreenderam ainda, pela experiência
com Deus, que o corpo de vocês é templo do Espírito Santo?”. Essa pergunta,
repetida diversas vezes em suas cartas (1Co 3.16; 6.15-19), denuncia uma igreja
instruída, porém sem discernimento espiritual. Eles haviam recebido ensino
sólido (At 18.1,11), mas ainda se comportavam como crianças espirituais (1Co
3.1-3). O problema dos coríntios era mais profundo do que a simples ignorância
teológica: era um descompasso entre conhecimento e prática. Sabiam o que era
certo, mas não viviam à altura daquilo que sabiam. Essa dissociação entre
doutrina e conduta é um dos sintomas mais perigosos da imaturidade cristã. Como
observa French L. Arrington, “a verdadeira espiritualidade não é medida pelo
quanto alguém sabe, mas pelo quanto o Espírito Santo governa suas atitudes e
ações”¹. Paulo, ao mencionar o corpo, não trata apenas da questão sexual ou
moral, mas de toda a dimensão física da santificação. O corpo é o campo onde se
expressa a obediência. Assim como a mente deve ser renovada (Rm 12.2), o corpo
deve ser apresentado como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm
12.1). Negar a importância da santificação corpórea é negar a própria
encarnação de Cristo, que assumiu um corpo humano para redimir corpo, alma e
espírito. A Bíblia nos mostra que, desde a Queda, o corpo passou a ser
vulnerável à vergonha, à distorção e à cobiça (Gn 3.7). Quando Adão e Eva se
cobriram com folhas de figueira, tentaram resolver espiritualmente um problema
moral com um recurso superficial. Mas Deus os revestiu com túnicas de peles (Gn
3.21), revelando que o pudor e a cobertura adequada são expressões da graça e
da dignidade restaurada. Esse ato divino antecipava a necessidade de um
sacrifício substitutivo, o primeiro derramamento de sangue para cobrir o pecado
humano. Portanto, a maneira como tratamos e apresentamos nosso corpo fala muito
sobre a teologia que acreditamos. A negligência na santificação física — seja
na sensualidade, no consumo, na aparência ou na impureza, é sinal de uma
espiritualidade deformada. O Comentário Bíblico Beacon observa que “Paulo
associa o corpo não à escravidão da carne, mas à responsabilidade da glória; o
corpo é o campo onde a santidade se manifesta visivelmente”². Discutir,
relativizar ou banalizar a santidade do corpo é evidência de carnalidade, não
de liberdade. O Espírito Santo não apenas habita o interior do crente, mas
também regula seu exterior, pois ambos pertencem a Deus. Como ensina Amos Yong,
“o corpo do cristão é um sacramento vivo, onde o Espírito se manifesta e
glorifica a Cristo no mundo visível”³. Por isso, Paulo é direto: o corpo deve
refletir o senhorio de Cristo. A forma de vestir, de falar, de se portar — tudo
comunica se somos templo ou apenas fachada. O padrão moral de Deus sempre será
mais elevado do que as tendências humanas, porque a santidade nunca acompanha a
moda, ela reflete o caráter eterno de Deus. Essa mensagem precisa ecoar nas
igrejas de hoje: a maturidade espiritual se expressa em uma vida coerente, em
que o conhecimento bíblico não fica na mente, mas se encarna na maneira como
vivemos, trabalhamos e até nos vestimos. O Espírito Santo habita em nós para
santificar, e não apenas consolar.
¹
ARRINGTON, French L. Teologia Pentecostal: Uma Perspectiva Sistemática. Vol. 2.
Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
²
Comentário Bíblico Beacon: Novo Testamento. Vol. 8. Kansas City: Beacon Hill
Press; Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
³
YONG, Amos. Spirit-Word-Community: Theological Hermeneutics in Trinitarian
Perspective. Eugene: Wipf and Stock, 2002.
BÍBLIA
DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
CHAMPLIN,
R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. 5. São
Paulo: Hagnos, 2002.
FEE,
Gordon D. God’s Empowering Presence: The Holy Spirit in the Letters of Paul.
Peabody: Hendrickson, 1994.
MACARTHUR,
John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
PALMA,
Anthony D. A Doutrina do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
QUEIROZ,
Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
3.
Propriedade e domínio. O detentor da propriedade
deve ter também o domínio. Se pertencemos ao Espírito, devemos viver sob seu
domínio. Como enfatiza Paulo, nosso corpo é “para o Senhor” (1Co 6.13) e não
para as impurezas (Ef 5.1-6). Somos “membros de Cristo” (1Co 6.15) e “templo do
Deus vivente” (2Co 6.16). Por isso, o pecado contra o corpo ofende gravemente a
santidade de Deus e produz terríveis sofrimentos (Sl 32.2-5; 51.4; 1Co 3.17;
5.1-5; 6.18). Quando isso acontece, somente um profundo arrependimento e
sincera confissão conduzem a uma verdadeira e completa cura e restauração (Sl
32.1-6; Tg 5.16).
👉 Quando Paulo declara que “o corpo é
para o Senhor” (1Co 6.13), ele não está apenas corrigindo um erro moral em
Corinto, mas revelando um princípio teológico fundamental da vida cristã: quem
pertence a Cristo deve viver sob o domínio do Espírito Santo. O termo
“pertencer” (peripoieō, no grego, usado em Ef 1.14), fala de algo adquirido com
propósito — o que foi comprado não apenas para ser guardado, mas para servir a
quem o comprou. Assim, o corpo do crente não é mais um espaço neutro, mas
território consagrado, um templo vivo que existe para manifestar a glória do
seu Senhor. Ser “propriedade de Deus” implica também submeter-se ao seu domínio.
No contexto paulino, domínio (kyrios, “Senhor”) não é uma metáfora, mas uma
realidade espiritual: Cristo é literalmente o Dono e o Governante de todo o
nosso ser. Quando Paulo escreve que somos “membros de Cristo” (1Co 6.15), ele
usa o termo melē Christou, indicando uma união orgânica e vital. Isso significa
que tudo o que fazemos com o corpo reflete, ou desonra, Aquele a quem
pertencemos. Não há neutralidade: cada gesto, olhar ou atitude carrega um peso
espiritual. Essa verdade deveria nos levar a uma profunda reverência. Se o
corpo é templo, o pecado contra ele é uma profanação do sagrado. É por isso que
Paulo adverte: “Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá” (1Co
3.17). O pecado não é apenas uma quebra de regra; é uma invasão do território
santo onde Deus habita. E como bem observa John MacArthur, “todo pecado contra
o corpo é, em última instância, uma tentativa de retomar o controle do que já
foi entregue ao domínio de Cristo”¹. A Escritura é clara: o corpo foi criado
para expressar a santidade, não para servir à impureza (Ef 5.1-6). Quando o
cristão se entrega ao pecado, especialmente os de natureza sexual ou moral, ele
não apenas fere a si mesmo, mas ofende a presença santa que habita nele. Davi experimentou
essa realidade quando pecou e reconheceu: “Pequei contra ti, contra ti somente”
(Sl 51.4). O pecado físico teve uma consequência espiritual, e apenas o
arrependimento profundo trouxe restauração. O mesmo padrão se repete em todos
os tempos. Quando há pecado contra o corpo, o Espírito Santo é entristecido, e
a comunhão é interrompida. Porém, quando há confissão e quebrantamento genuíno,
a graça se manifesta de modo curador. O Salmo 32 é o testemunho de alguém que
redescobriu a alegria da purificação: “Confessei-te o meu pecado e a iniquidade
não encobri” (Sl 32.5). E Tiago confirma esse princípio, ao afirmar que “a
confissão produz cura” (Tg 5.16). A santidade, portanto, não é apenas um ideal
abstrato, mas a restauração do domínio legítimo do Espírito sobre o corpo. O
crente que entende isso vive de modo vigilante, não por medo, mas por amor.
Como ensina Gordon Fee, “o Espírito não impõe domínio; Ele inspira
obediência”². Quando o Espírito reina, o corpo deixa de ser instrumento de
culpa e passa a ser instrumento de glória. É assim que Deus transforma o que
antes era terreno em altar. E todo altar restaurado é sinal de um coração
redimido.
¹
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
²
FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The Holy Spirit in the Letters of
Paul. Peabody: Hendrickson, 1994.
ARRINGTON,
French L. Teologia Pentecostal: Uma Perspectiva Sistemática. Vol. 2. Rio de
Janeiro: CPAD, 2012.
CHAMPLIN,
R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. 5. São
Paulo: Hagnos, 2002.
Comentário
Bíblico Beacon: Novo Testamento. Vol. 8. Kansas City: Beacon Hill Press; Rio de
Janeiro: CPAD, 2005.
PALMA,
Anthony D. A Doutrina do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
QUEIROZ,
Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
BÍBLIA
DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
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SINOPSE I
O corpo do crente pertence
a Deus e deve ser santificado como templo onde o Espírito Santo habita.
AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO
UMA
VISÃO CRISTÃ DO CORPO
“Muitas religiões no mundo
ensinam que a alma e o espírito são importantes, mas que o corpo não; e o
cristianismo é, às vezes, influenciado por essas ideias. Na verdade, o
cristianismo considera o aspecto físico de modo muito sério. Adoramos a um Deus
que criou o mundo físico e o declarou como sendo bom. Ele nos promete uma nova
terra, onde as pessoas terão seu corpo transformado — não uma nuvem cor-de-rosa
onde almas desencarnadas ouvirão a música de uma harpa. No âmago do cristianismo,
encontra-se a história do próprio Deus, que teve um corpo, carne e sangue. Ele
veio viver conosco, oferecendo tanto a cura física como a restauração
espiritual. Nós, humanos como Adão, somos uma combinação de pó e espírito. Da
mesma maneira que o nosso espírito afeta o nosso corpo, este afeta o nosso
espírito. Não podemos cometer pecados com o nosso corpo sem prejudicar nossa
alma, porque corpo e alma estão inseparavelmente unidos. Na Nova Terra, teremos
o corpo ressurreto, que não foi corrompido pelo pecado. Então apreciaremos a
plenitude da nossa salvação.” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de
Janeiro: CPAD, 2022, p.1590).
II. O CORPO COMO
TABERNÁCULO
1.
Portador da Presença. Uma das figuras aplicadas ao
corpo no Novo Testamento é o tabernáculo. Paulo e Pedro usam essa linguagem
metafórica (“estamos neste tabernáculo” — 2Co 5.4); (“brevemente hei de deixar
este meu tabernáculo” — 2Pe 1.14). Isso nos remete ao Antigo Testamento; ao
tabernáculo de Moisés — “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles”
(Êx 25.8) — e solidifica o entendimento do corpo como portador da presença de
Deus (Rm 8.11). O Todo-Poderoso decidiu viver em nós, uma tão frágil habitação
(Jo 14.23; 2Co 4.7; Ap 3.20).
👉 Quando lemos o Novo Testamento,
encontramos uma imagem surpreendente: o corpo humano como tabernáculo, morada
do Deus vivo. Paulo afirma: “Enquanto estamos neste tabernáculo, gememos sob o
peso do fardo” (2Co 5.4), e Pedro declara: “Brevemente hei de deixar este meu
tabernáculo” (2Pe 1.14). A palavra grega σκῆνος (skēnos) traduzida como “tabernáculo” ou “tenda”, revela que o corpo é uma habitação provisória, frágil e, ao mesmo tempo, escolhida pelo próprio Deus para Sua glória. Essa linguagem nos remete ao
tabernáculo de Moisés no Antigo Testamento. Deus ordenou: “E me farão um
santuário, e habitarei no meio deles” (Êx 25.8). Assim, aquilo que antes era um
espaço físico, cuidadosamente construído, agora se torna vivo e interior. O
Espírito Santo, que antes se movia sobre a criação e acompanhava o povo de
Israel, passa a habitar dentro de cada crente (Jo 14.23; Rm 8.11). A promessa
de Jesus indica não apenas presença momentânea, mas permanência, como sugere o
termo grego μονή (monē), uma morada contínua e segura. O corpo humano, embora
frágil, torna-se assim templo do Deus vivente (1Co 3.16; 2Co 6.16). Cada
célula, cada gesto, cada pensamento, passa a ser parte de um santuário
espiritual. Paulo reforça essa realidade ao declarar que fomos comprados por
alto preço (1Co 6.19-20), o que nos lembra que não somos donos de nós mesmos.
Nossa vida, incluindo o corpo, deve refletir a santidade, a pureza e a glória
daquele que habita em nós. Essa verdade muda a forma como vivemos o dia a dia.
Nosso corpo não é apenas uma estrutura biológica; é um portador da presença de
Deus, um canal de comunhão com o Criador. Quando caímos em pecado contra o
corpo, seja por impureza, negligência ou falta de autocuidado espiritual,
ofendemos a Deus e fragilizamos o santuário vivo que Ele construiu. O
arrependimento sincero e a consagração contínua são os meios para restaurar a
integridade dessa morada (Sl 32.1-6; Tg 5.16). Devemos contemplar também a
tensão entre fragilidade e glória. Paulo chama o corpo de “vaso de barro” que
carrega um tesouro incomparável (2Co 4.7). É impressionante: o Deus infinito
habita num corpo finito, temporário, vulnerável. Esse paradoxo nos convida à
humildade, à vigilância e à reverência em cada decisão, cada hábito, cada
relação. Ao reconhecermos que Deus habita em nós, a santidade deixa de ser um
conceito distante e torna-se prática diária. Vestir-se, falar, alimentar-se,
trabalhar e descansar — tudo se torna ato de adoração quando vivido como
tabernáculo do Espírito Santo. A glória de Deus não se limita aos templos
físicos; ela se manifesta na vida daqueles que vivem conscientes de que o
sagrado reside em seu corpo. Portanto, reflita: você vive como quem carrega o
próprio Deus? Cada ação sua é um culto vivo, uma oferta santa diante do Pai?
Esta é a responsabilidade e o privilégio do crente. Seu corpo é o tabernáculo
da presença divina. Ele merece cuidado, respeito, dedicação e santificação
contínua. Viva à altura desse chamado e permita que sua vida se torne reflexo
da glória que habita em você.
2.
Tabernáculo e tricotomia. A analogia do tabernáculo
reforça também o aspecto tricotômico do ser humano — a composição em três
partes, assim como a edificação feita no deserto. O tabernáculo compreendia:
(1) o pátio — um espaço externo aberto —, (2) o Lugar Santo e (3) o Lugar
Santíssimo — um espaço interno único, coberto, separado apenas por um véu (Êx
26.33; 27.9), o que lembra a tênue divisão entre alma e espírito (Hb 4.12).
Quando o tabernáculo foi levantado, a glória do Senhor o encheu completamente
(Êx 40.34,35). Assim é a presença do Espírito Santo na vida do crente: enche-o
em sua integralidade — corpo, alma e espírito (Ef 3.19; 5.18). Isso se torna
ainda mais evidente nas gloriosas experiências pentecostais (At 10.44-46; 1Co
12.7-11).
👉 Perceba uma verdade bíblica profunda
que conecta a estrutura do Antigo Testamento à nossa própria composição como
seres criados por Deus. Você já parou para pensar na analogia surpreendente
entre o Tabernáculo e a tricotomia humana? Este é um campo fértil para a nossa
reflexão teológica. A edificação erguida no deserto, por ordem divina,
manifestava uma composição em três partes: Pátio, Lugar Santo e Lugar
Santíssimo (Êx 26.33; 27.9), que reflete, de forma poderosa, nossa própria
composição tripartite de corpo, alma e espírito. Olhando mais de perto, essa
arquitetura sagrada nos revela um padrão divino. O Pátio Exterior, acessível a
todos, aponta para o nosso corpo, a parte que interage com o mundo físico,
visível e externo. O Lugar Santo, um passo além, nos remete à alma (psykheˊ), o centro da nossa personalidade, intelecto e
emoções, onde o homem natural experimenta a presença de Deus. Por fim, o Lugar
Santíssimo, o espaço interno único e coberto, guardado pelo véu, ecoa o nosso
espírito (pneuma), o santuário interior, o ponto de contato exclusivo com o
Deus vivo, onde a verdadeira adoração e comunhão acontecem. O Dr. Silas
Queiroz, ao abordar o tema, reforça essa ideia de que a estrutura do
Tabernáculo, com suas três divisões, é um poderoso símbolo da constituição
tricotômica do ser humano, ensinada em 1 Tessalonicenses 5.23, onde Paulo
deseja a santificação completa do "espírito, alma e corpo"¹. É
fascinante notar a tênue, mas crucial, separação entre o Lugar Santo (alma) e o
Lugar Santíssimo (espírito). O véu que os dividia é um prenúncio profético. O
autor de Hebreus nos lembra que a Palavra de Deus é viva e eficaz, "e
penetra até a divisão da alma e do espírito" (Hb 4.12). Este é o cerne da
questão, caros mestres: a Palavra, como uma espada afiada, distingue o que é
meramente emocional e psíquico (da alma) daquilo que é verdadeiramente
espiritual e divino (do espírito). Como ensina o pastor Antonio Gilberto, esse
discernimento é vital para que não confundamos manifestações meramente humanas
com a genuína obra do Espírito Santo². O ápice dessa analogia acontece quando o
Tabernáculo é levantado e a glória do Senhor enche a edificação por completo
(Êx 40.34,35). A visão daquela nuvem gloriosa preenchendo o espaço é a imagem
perfeita da promessa neotestamentária: a presença integral do Espírito Santo na
vida do crente. Quando recebemos o Espírito, Ele não apenas toca uma parte de
nós, mas nos enche em nossa integralidade: corpo, alma e espírito (Ef 3.19;
5.18). Você tem permitido que a glória de Deus preencha cada cômodo do seu ser?
Esta plenitude integral, o enchimento do crente, encontra sua manifestação mais
gloriosa e visível na experiência pentecostal. Os eventos de Atos 10.44-46 e a
lista de dons espirituais em 1 Coríntios 12.7-11 não são meros acessórios, mas
a confirmação de que o Espírito Santo não veio para habitar em um cômodo isolado,
mas para transbordar a vida do crente de forma prática e poderosa. O teólogo
pentecostal Anthony D. Palma comenta que o batismo com o Espírito Santo é uma
dotação de poder para o serviço, uma capacitação divina que afeta a totalidade
da pessoa³. Robert P. Menzies, um exímio exegeta do Novo Testamento, destaca o
propósito missionário e profético desse enchimento, ressaltando que o pneuma é
a essência da nova aliança, vital para a proclamação do Evangelho⁴. Portanto,
amado professor, a lição aqui é de profunda autoavaliação: Será que, em sua
vida, o "véu" entre a alma e o espírito ainda está de pé, impedindo a
plena manifestação da glória de Deus? A plenitude do Espírito Santo é para a
nossa santificação total. Ela nos impulsiona a uma conduta diária que honra a
Deus em todas as esferas. O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento
nos convida a buscar a contínua manifestação do Espírito para que nossa vida
seja um Tabernáculo vivo, onde a presença de Deus não é apenas sentida, mas
transborda e afeta o mundo ao nosso redor⁵. Que a nossa vida seja, de fato, um
lugar onde a glória de Deus não encontra barreiras!
¹
QUEIROZ, Silas. Corpo Alma E Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 75.
²
GILBERTO, Antonio. O Fruto do Espírito: A Plenitude do Espírito Santo na Vida
do Crente. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 115.
³
PALMA, Anthony D. O Espírito Santo: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 2001, p. 167-169.
⁴
MENZIES, Robert P. O Espírito e o Poder: A Doutrina do Espírito Santo e a
Teologia de Lucas. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 235.
⁵
HORTON, Stanley M. (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio
de Janeiro: CPAD, 2003, p. 153.
3.
Um tabernáculo guiado. Outra lição espiritual que
extraímos da metáfora do tabernáculo é a importância de ter a presença de Deus
como guia permanente e eficaz em nossa vida. Se a nuvem do Senhor, que estava
sobre o tabernáculo, se levantava, os filhos de Israel caminhavam; se não se
levantava, permaneciam no mesmo lugar (Êx 40.36-38). Ser sensível ao Espírito
nos livra de decisões e movimentos errados em nosso viver diário (Êx 33.15). É
melhor seguir a Nuvem; quer de dia, quer de noite (Nm 9.21).
👉 A jornada no deserto era incerta,
mas havia uma certeza inabalável para Israel: a presença de Deus como guia. O
Tabernáculo, que era o centro de sua adoração e vida, não era estático. Ele nos
ensina uma lição espiritual profunda sobre a necessidade de ter o Senhor como
nosso guia permanente e soberano. Não se tratava de mover-se por instinto ou
planejamento humano, mas pela manifestação visível da Glória de Deus. O
princípio é claro e categórico, conforme lemos em Êxodo 40.36-38: "Quando
a nuvem se levantava de sobre o Tabernáculo, os filhos de Israel caminhavam por
todas as suas jornadas; se, porém, a nuvem não se levantava, não
caminhavam...". A Nuvem, que representava a Shekinah (a glória manifesta
de Deus), era a bússola viva. Ela estabelecia o ritmo, a direção e o tempo. Não
era o povo que decidia quando acampar ou marchar; era a Nuvem. Este é um
princípio fundamental da vida com Deus: a obediência precede a ação. Aqui, o
aprofundamento teológico é vital. Moisés entendeu a essência desta dependência.
Ele declara de forma pungente: "Se a tua presença não for conosco, não nos
faças subir daqui" (Êx 33.15). O termo hebraico para "presença"
é pānîm, que literalmente significa "face". Moisés estava dizendo:
"Se a tua face, o teu ser em manifestação íntima e pessoal, não nos
conduzir, ficaremos parados." Não havia plano B; a ausência da Nuvem
significava paralisia proposital. Essa sensibilidade à "Nuven" nos
dias de hoje é o que chamamos de ser sensível à direção do Espírito Santo. O
Espírito é o nosso guia e consolador (Paráklētos – João 14.26, 16.13), aquele
que nos chama, auxilia e conduz a toda a verdade. Ele é a coluna de nuvem e de
fogo da Nova Aliança, nos livrando de "decisões e movimentos errados em
nosso viver diário" (Êx 33.15; Num 9.21). É o Espírito Santo que nos move.
Esta lição tem uma aplicação prática imediata: Não ande sem a Nuvem! Não se
trata de uma experiência mística isolada, mas de uma vida de constante sintonia
e obediência. Como Silas Queiroz bem lembra, a nossa vida é um templo, uma
morada do Espírito Santo: "Se a presença do Senhor não for conosco, não
sairemos do lugar, nem alcançaremos a glória." O Espírito é quem garante
que nossa jornada não seja infrutífera. Para o povo da Aliança, a orientação
era de dia e de noite (Nm 9.21). Para nós, a orientação é contínua e
ininterrupta. A Nuvem, a glória manifesta de Deus, deve ser o motor de nossas
decisões, tanto pessoais quanto congregacionais. Diante disto, reflita: Qual
"movimento" você tem tentado forçar em sua vida ou igreja sem a
Nuvem? Permita que o Espírito, o grande Guia, defina o ritmo. Que a sua vida
seja um tabernáculo móvel, sempre pronto para seguir a Glória manifesta do
Senhor. O Espírito está pronto para nos guiar; nossa tarefa é simplesmente
parar e esperar Sua Nuvem se mover.
QUEIROZ,
Silas. Corpo Alma E Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p. 55.
Bíblia
de Estudo Pentecostal. Comentário de Êxodo 40.36-38. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
ARRINGTON,
French L.; PALMA, Anthony D. (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 118 (Comentário sobre João 14.26).
CHAMPLIN,
R. N. O Antigo Testamento Interpretado: Gênesis a Números. São Paulo: Hagnos,
2001, v. 1, p. 589 (Comentário sobre Êxodo 33.15).
SINOPSE II
Assim como o tabernáculo
abrigava a presença de Deus, o corpo do crente é uma habitação viva e guiada
pelo Espírito Santo.
III. CUIDANDO DO TEMPLO DO
ESPÍRITO
1.
“Fugi da prostituição”. O substantivo grego porneia traduzido
como prostituição em 1 Coríntios 6.18 tem um significado amplo, referindo-se à
“impureza” (ARA) ou “imoralidade sexual” no sentido geral (NAA e NVI). Toda a
prática sexual fora do casamento está abarcada nesta expressão. Ao usar o verbo
“fugir” na voz ativa (pheugo,
“fugir de ou para longe”), Paulo aponta para a necessidade de ações concretas
que nos ponham a salvo dos terríveis malefícios das impurezas sexuais, o que
começa pelo cuidado com os olhos (Jó 31.1; Sl 101.3). O que vemos e como vemos
determina se nosso corpo será cheio de luz ou trevas (Mt 6.22,23). Além dos
nefastos efeitos espirituais, os pecados sexuais produzem graves consequências
físicas e mentais. A pornografia, por exemplo, tem se tornado um vício altamente
destrutivo. O alerta divino é imperativo e radical: “Fugi!” (1Ts 5.22).
👉 "Fugi da Prostituição": O
Imperativo Radical da Pureza! A exortação do Apóstolo Paulo é uma das mais
diretas e urgentes em suas epístolas: "Fugi da prostituição" (1 Co
6.18). Esta não é uma sugestão piedosa; é uma ordem militar. Para
compreendermos a força deste comando, precisamos ir ao termo original. O
substantivo grego empregado é πoρνϵια
(porneia), e sua amplitude é o que a torna tão poderosa. Embora frequentemente
traduzida como "prostituição," seu significado é muito mais vasto,
abrangendo a "impureza" (ARA), "imoralidade sexual"
(NAA/NVI) ou "fornicação" no sentido mais geral. Segundo o Comentário
Bíblico Champlin, porneia é o termo genérico para qualquer atividade sexual
ilícita, fora dos limites estabelecidos por Deus, ou seja, a união conjugal
entre um homem e uma mulher. Isso inclui adultério, fornicação,
homossexualismo, incesto e, sim, o consumo de pornografia. Mas o centro da
lição está no verbo. Paulo usa o verbo ϕϵυˊγω (pheugō), no imperativo presente ativo, que
significa "fugir de," "escapar" ou "afastar-se para
longe." O tempo presente indica uma ação contínua, uma postura de vida. A
voz ativa exige que o crente tome a iniciativa. Não é "resista" ou
"lute para não cair," embora a resistência seja necessária. É um ato
de autopreservação radical. Diante do fogo, o corpo não pensa; ele foge. Por
que tamanha radicalidade? Porque o pecado sexual é único em seu poder
destrutivo contra o nosso ser integral. O apóstolo afirma: "Todo pecado
que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu
próprio corpo" (1 Co 6.18b). Esta é a profundidade teológica que o autor
original apenas insinuou. O renomado exegeta Gordon D. Fee, especialista em Coríntios,
aponta que porneia não apenas corrompe a alma, mas viola a santidade do corpo,
que é o templo do Espírito Santo. É uma afronta direta à obra redentora de
Cristo, pois nosso corpo foi comprado por alto preço (1 Co 6.20). Essa ação de
"fugir" começa, inevitavelmente, com o cuidado dos olhos. A fuga é
preventiva. O salmista nos ensina: "Não porei coisa má diante dos meus
olhos" (Sl 101.3). Jó, em sua integridade, fez uma aliança com seus olhos
(Jó 31.1), compreendendo que a porta da alma é a visão. A pornografia, por
exemplo, hoje uma epidemia silenciosa, é um vício altamente destrutivo que não
apenas profana a mente, mas distorce a imagem de Deus no ser humano. Como
ensina o pastor Antônio Gilberto, a disciplina da mente, que se inicia pelo
controle visual, é essencial para manter o corpo em santidade. Portanto, o
alerta é radical e imperativo. O Evangelho exige uma santidade prática. Fugir
da porneia significa estabelecer barreiras concretas, como a prática de
"abster-se de toda a aparência do mal" (1 Ts 5.22). É uma chamada à
autoavaliação: Que "coisa má" tem sido permitida em sua visão, em
seus hábitos ou em suas conversas? A pureza não é passiva; ela exige fuga
ativa, imediata e contínua. É a única maneira de preservar o templo que Deus nos
deu.
CHAMPLIN,
R. N. O Novo Testamento Interpretado: 1 Coríntios. São Paulo: Hagnos, 2002, v.
4, p. 189.
FEE,
Gordon D. The First Epistle to the Corinthians. Grand Rapids: Eerdmans, 1987,
p. 257.
GILBERTO,
Antônio. Manual da Escola Bíblica Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.
110.
Bíblia
de Estudo Pentecostal. Comentário de 1 Coríntios 6.18. Rio de Janeiro: CPAD,
2017.
2.
Disciplinas espirituais. Para uma vida espiritual
plena como templo do Espírito Santo não basta que os membros do corpo deixem de
ser instrumentos do pecado. É preciso apresentá-los a Deus como instrumentos de
justiça (Rm 6.12,13) e culto, “em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”
(Rm 12.1). É por meio do corpo que praticamos as mais importantes disciplinas
de nossa vida espiritual, como o jejum, a oração e o estudo da Palavra de Deus,
que são fundamentais para uma contínua e fluente agência do Espírito de Deus em
nosso interior. Ele nos guia em toda a verdade (Jo 16.13; 1Co 2.12,13), produz
em nós o seu fruto (Gl 5.22), nos capacita para servir a Cristo (At 4.31; Rm
15.18,19) e habita em nosso coração como o penhor de nossa eterna redenção (2Co
1.21,22; Ef 1.13,14).
👉 A vida cristã não se resume à mera
abstenção do mal. Após o imperativo de "fugir da prostituição", o
Espírito nos conduz a um chamado ainda mais sublime: a consagração do nosso
corpo. Não basta que nossos membros deixem de ser instrumentos do pecado; a
ética do Reino exige que eles sejam apresentados a Deus como instrumentos de
justiça (hópla dikaiosýnēs – Romanos 6.13) e como oferta agradável, "em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus" (Rm 12.1). Essa é a grande
descoberta teológica de Paulo: o corpo, redimido e santificado, é o palco da
nossa adoração. O culto racional (logikēn latreían) de Romanos 12.1 é, fundamentalmente,
a entrega do nosso ser físico e mental ao serviço divino. É através do corpo
que as disciplinas espirituais ganham forma e poder, tornando-se canais para a
contínua e fluente agência do Espírito Santo em nosso interior. Pensemos nas
disciplinas:
O
jejum é um ato profundamente corporal, onde submetemos o apetite físico para
aguçar o foco espiritual.
A
oração se manifesta em palavras, em prostração ou em quietude, envolvendo a
fala e a postura.
O
estudo da Palavra exige o uso dos olhos, da mente e da audição. Como diz a
Bíblia de Estudo MacArthur, essas disciplinas não são fins em si mesmas, mas
meios essenciais que preparam o "templo" para a plenitude do
Espírito.
O Espírito de Deus, que habita em nós
como nosso penhor (2 Co 1.21,22), a garantia da nossa eterna redenção, não é
passivo. Ele é o agente ativo da santificação. O Comentário Bíblico Pentecostal
(Novo Testamento) destaca que o Espírito: Guia-nos em toda a verdade (João
16.13; 1 Coríntios 2.12,13), transformando o estudo da Palavra em revelação
viva. Produz Seu fruto (Gálatas 5.22), onde as disciplinas corporais se tornam
o cultivo do caráter de Cristo. Capacita-nos para o serviço (Atos 4.31; Romanos
15.18,19), transformando nossos membros em ferramentas eficazes no Reino.
O aprofundamento aqui nos leva ao
cerne: as disciplinas espirituais são o que Frank D. Macchia chama de
"atos de fé corporificados". Elas são o exercício prático da fé que
permite ao Espírito fluir. O que acontece quando você jejuou ou orou intensamente?
Seu corpo se alinhou à vontade de Deus, resultando em poder e clareza de
propósito. A reflexão é inadiável: Você tem apresentado o seu corpo como
"sacrifício vivo"? O Espírito está pronto para guiar e capacitar, mas
Ele requer que Seus templos estejam prontos e ativos. Que as disciplinas
espirituais não sejam tarefas, mas a paixão de quem sabe que está sendo usado
por Deus para manifestar Sua justiça neste mundo. Use seu corpo para a glória
de Deus; esse é o mais alto nível do culto cristão.
Bíblia
de Estudo MacArthur. Comentário de Romanos 12.1. Barueri: SBB, 2010, p. 1658.
MACCHIA,
Frank D. Poder para ser santo: Uma teologia do Espírito Santo para a vida
cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p. 95 (Adaptação conceitual da ideia de
Macchia sobre a corporeidade da fé).
ARRINGTON,
French L.; PALMA, Anthony D. (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 150 (Comentário sobre 2 Coríntios
1.22).
FEE,
Gordon D. Deus, o Espírito Santo, e a Igreja: Uma pneumatologia bíblica e
teológica. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 45 (Comentário sobre a função do
arrhabōn).
3.
Disciplinas corporais. É um contrassenso ter o
corpo como templo do Espírito Santo e tratá-lo sem o devido cuidado (3 Jo 2).
Dentre esses cuidados estão a quantidade e a qualidade de nossa alimentação. Às
vezes se afirma, em tom jocoso, que crente não bebe, mas come muito. Não seria
reflexo da falta de moderação de alguns? Além do aspecto alimentar, descanso
(especialmente o sono, Sl 127.2) e exercícios físicos também são importantes
cuidados para o corpo e a mente. Cabe-nos, também, fazer uso regular dos meios
de saúde preventivos e curativos disponíveis (Is 38.21).
👉 É um profundo contrassenso teológico
e existencial ter o corpo como o santuário vivo do Espírito Santo (1 Co 6.19) e
tratá-lo com desleixo ou negligência. A Bíblia sustenta uma visão integral do
ser humano, onde o bem-estar da alma está inseparavelmente ligado à saúde
física. O apóstolo João expressa o desejo pastoral perfeito: "Amado, acima
de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua
alma" (3 João
2). A palavra para "saúde" é hygiainein, de onde vem a nossa
"higiene," e ela é colocada como um desejo de bem-estar físico proporcional ao bem-estar
espiritual. O corpo, na teologia cristã, não é uma prisão da alma (um conceito
platônico), mas uma parte essencial da nossa identidade redimida. A negligência
corporal, portanto, não é apenas falta de cuidado pessoal; é uma falha na
mordomia do templo. O texto original levanta um ponto perspicaz: a questão da
moderação alimentar. O tom jocoso sobre o crente que não bebe, mas come muito,
reflete uma grave falta de ϵγκραˊτϵια (enkrateia), ou seja, domínio próprio (Gálatas 5.23). O domínio próprio, que é fruto do Espírito, se manifesta em todas as áreas, inclusive na
mesa. A glutonaria é, em essência, uma forma de idolatria do apetite, onde o
"ventre" se torna o deus (Filipenses 3.19). A teologia reformada,
através de figuras como John Wesley, sempre enfatizou que a santidade é holística
e exige que vigiemos contra todos os vícios, incluindo a gula, que é destrutiva
para a saúde. Além da alimentação consciente e moderada, o cuidado com o templo
exige outros dois pilares práticos: O Descanso e o Sono: O Salmo 127.2 diz que
Deus "o dá aos seus amados em sono". O sono não é um luxo, mas uma
necessidade fisiológica e, teologicamente, um ato de fé e confiança na
soberania de Deus. Quem dorme tranquilamente está declarando que Deus está
vigiando por ele (Sl 121.3,4). A privação crônica de sono compromete a clareza
mental, a estabilidade emocional e a capacidade de exercer o fruto do Espírito.
Paulo afirma que "o exercício
corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa" (1
Timóteo 4.8). Como bem aponta o Comentário Bíblico Beacon, Paulo não está
desprezando o exercício físico, mas apenas hierarquizando as prioridades: o
espiritual é eterno, o físico é temporal. Contudo, o temporal é o instrumento
do eterno! Um corpo forte e bem cuidado é mais apto a servir, a resistir ao estresse
da missão e a ser um instrumento eficaz nas mãos de Deus, como vimos em Romanos
6.13.
Finalmente, é sabedoria cristã fazer
uso dos meios de saúde preventivos e curativos. A fé e a medicina não são
mutuamente exclusivas. Jesus, o Mestre, reconheceu a utilidade dos médicos:
"Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes" (Mt 9.12). O
profeta Isaías usou um emplastro de figos para curar Ezequias (Is 38.21),
evidenciando que Deus opera tanto através do milagre imediato quanto pelos
meios naturais e sabedoria humana. O cuidado integral do corpo é, portanto, uma
manifestação de amor a Deus, pois preservamos o "navio" que Ele nos
deu para navegar nesta vida.
Bíblia
de Estudo Pentecostal. Comentário de 3 João 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
Bíblia
de Estudo MacArthur. Comentário de Filipenses 3.19. Barueri: SBB, 2010, p.
1675.
KEENER,
Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento: 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom.
Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p. 119 (Comentário sobre 1 Tm 4.8, abordando a
hierarquia das prioridades).
SILAS
QUEIROZ. Corpo Alma E Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p. 88 (Referência
conceitual sobre a integralidade do ser humano e a mordomia do corpo).
COMRIE,
Allan (Org.). Comentário Bíblico Beacon: 1 Timóteo. Rio de Janeiro: CPAD, 2017,
v. 9, p. 102.
SINOPSE III
Cuidar do corpo com
santidade, disciplina espiritual e equilíbrio físico é essencial para honrar a
presença do Espírito Santo em nós.
AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO
SANTIDADE DO CORPO
“Este ensino a respeito da imoralidade sexual
e das prostitutas era especialmente importante para a igreja coríntia porque o
templo da deusa do amor, Afrodite, ficava em Corinto. Esse templo empregava
mais de mil prostitutas como sacerdotisas, e o sexo era parte do ritual de
adoração. Paulo declarou claramente que os cristãos não devem tomar parte na
imoralidade sexual, ainda que isso seja aceitável e popular em nossa cultura.
Os cristãos são livres para ser tudo o que puderem para Deus, mas não estão livres
de Deus. O Senhor criou o sexo para ser um belo e essencial ingrediente do
casamento, mas o pecado sexual — a prática de sexo fora do casamento — sempre
fere alguém.
É uma atitude que magoa a
Deus porque mostra que preferimos seguir nossos próprios desejos a colocar-nos
sob a direção do Espírito Santo. Fere também os outros porque viola o
comprometimento tão necessário a um relacionamento sadio.” (Bíblia de Estudo
Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp.1590,1591).
CONCLUSÃO
Corpo e mente saudáveis nos
tornam mais dispostos para adorar e servir a Deus (Mc 12.30). Que vivamos de
maneira sábia e equilibrada, como templo do Espírito. Um elevado privilégio,
fruto da graça de Deus em Cristo Jesus.
👉 O alvo de toda a disciplina, seja
ela espiritual (oração, Palavra) ou corporal (dieta, descanso), não é o
aperfeiçoamento humano por si só. O objetivo maior é o serviço e a adoração a
Deus. Quando apresentamos nosso corpo como "sacrifício vivo" (Rm
12.1), estamos, na verdade, nos equipando para cumprir o grande mandamento:
"Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de
todo o teu entendimento e de todas as tuas forças" (Marcos 12.30). Note a
integralidade no mandamento de Jesus: coração (o centro das emoções), alma (o
ser interior), entendimento (a mente) e forças (a capacidade física e
corporal). Um corpo e uma mente saudáveis nos tornam mais dispostos (com a
mente clara e as forças ativas) para oferecer esse amor e serviço em sua
plenitude. A doença, o vício ou o desequilíbrio, fruto da negligência,
inevitavelmente roubam nossa energia, diminuem nossa clareza mental e
comprometem nossa capacidade de servir a Cristo com fervor. Esta perspectiva
nos leva a uma profunda e emocionante conclusão teológica: viver de maneira
sábia e equilibrada, honrando o corpo como templo do Espírito, não é um fardo,
mas um elevado privilégio, um fruto da graça de Deus em Cristo Jesus. O teólogo
pentecostal Anthony D. Palma sublinha que a saúde holística é um testemunho da
obra completa de Cristo, que nos redimiu por inteiro: corpo, alma e espírito.
Portanto, que esta reflexão gere um
gatilho emocional e uma convicção inabalável em seu coração: A pureza e a
disciplina do corpo são sua resposta de amor Àquele que pagou o preço máximo
por você. Seja diligente com seu corpo, zele por sua mente e fortaleça seu
espírito. Viva com a sabedoria (aqui, a palavra grega seria σοϕιˊα, sophia, a
prudência divina) de quem sabe que está carregando a glória de Deus. Não há
vocação mais alta na Terra. Que a sua vida inteira (seu corpo, alma e espírito)
seja um instrumento de justiça perfeitamente afinado para a adoração do Rei!
PALMA,
Anthony D. O Batismo no Espírito Santo e Outros Dons. Rio de Janeiro: CPAD,
2007, p. 45 (Referência conceitual sobre a redenção holística).
Bíblia
de Estudo Pentecostal. Comentário de Marcos 12.30. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
QUEIROZ,
Silas. Corpo Alma E Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p. 150 (Referência à
conclusão do propósito da vida).
Viva para a máxima glória do Nome do
Senhor Jesus!
Viva
conectado a Cristo, adore com sinceridade, sirva com amor e aja com justiça,
para que cada atitude reflita a glória de Deus no mundo.
Meu
ministério aqui é um chamado do coração: compartilhar o ensino da
Palavra de Deus de forma livre e acessível, para que você, irmão ou irmã em Cristo,
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REVISANDO O CONTEÚDO
1. Qual a diferença da condição espiritual dos
discípulos antes e depois da Regeneração?
Antes
da morte e ressurreição de Jesus os discípulos tinham a presença do Espírito
com eles. Depois passaram a tê-lo dentro deles, pela experiência da regeneração
(Jo 20.22).
2. Qual
a consequência da incompreensão espiritual dos coríntios acerca do corpo como
templo do Espírito?
Os
coríntios eram imaturos e carnais, por isso havia tantos pecados entre eles
(1Co 5.1,2,9-11).
3. O
que e como a analogia entre corpo e tabernáculo reforça?
A
analogia do tabernáculo reforça também o aspecto tricotômico do ser humano —
composição em três partes, assim como a edificação feita no deserto.
4. Qual
o papel do corpo nas disciplinas espirituais?
Por
meio do corpo que praticamos as mais importantes disciplinas de nossa vida
espiritual, como o jejum, a oração e o estudo da Palavra de Deus.
5. Quais
são as principais disciplinas corporais e qual a importância espiritual delas?
Além
do aspecto alimentar, descanso (especialmente o sono, Sl 127.2) e exercícios
físicos também são importantes cuidados para o corpo e a mente.
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
O
CORPO COMO TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO
Nesta oportunidade,
estudaremos uma das doutrinas mais importantes dos ensinos de Paulo: o corpo como
templo do Espírito Santo. O cuidado do corpo enquanto templo do Espírito Santo
está além de ele ser um instrumento dos propósitos divinos. O crente é
habitação do Espírito não apenas para executar dons espirituais e ministeriais
com vista à edificação da igreja (1Co 12.4-11). É de fundamental importância o
crente preservar a comunhão plena e a intimidade com o Senhor. Para tanto,
precisa manter seu corpo em santificação e honra (Rm 12.1,2). Dentre os
cuidados com o corpo, citados na lição, está a santificação e a separação de
qualquer imoralidade sexual ou depravação do corpo. A falta de bom senso de
muitos crentes tem levado ao descuido com hábitos, conversas e acesso a
conteúdo que alimentam a mente com o mundanismo. A Palavra de Deus é clara
quando afirma que o ouvido prova as palavras como o paladar prova a comida (Jó
34.3). Já nos dias de Jó se percebia a necessidade de filtrar qualquer
informação que chegasse aos ouvidos. Semelhantemente, a mente é influenciada
pelo que os olhos assistem. Acerca disso, o salmista declara: “Não porei coisa
má diante dos meus olhos” (Sl 101.3a). Expor os olhos a todo tipo de conteúdo
que se tem acesso, seja por meio das redes sociais ou presencialmente, é mais
um desafio que deve ser enfrentado pelo crente com disciplina. Assumir um
compromisso com hábitos saudáveis para o corpo inclui ter o cuidado com aquilo
que permitimos alimentar a nossa mente.
Como propriedade do
Espírito Santo, o crente deve apresentar seu corpo como instrumento de honra e
não de desonra. O Comentário Bíblico Beacon (CPAD) cita Crisóstomo: “Como pode
o corpo se tornar um sacrifício? Deixe que o olho não veja nada mau, e ele se
torna um sacrifício; permita que a língua não diga nada vergonhoso, e ela se
torna uma oferta; deixe que a mão não faça nada ilegal, e ela se torna uma
oferta em holocausto. Não, isto não será suficiente, mas precisamos ter a
prática ativa do bem — a mão precisa dar esmolas, a boca precisa abençoar em
lugar de amaldiçoar, o ouvido precisa dar atenção sem cessar os ensinamentos
divinos. Pois um sacrifício não tem nada impuro, um sacrifício é a primícia de
outras coisas. Portanto, que nós possamos produzir frutos para Deus com as
nossas mãos, com os nossos pés, com a nossa boca, e com todos os nossos outros
membros” (Volume 8, 2006, p.159). Na perspectiva de Crisóstomo, não basta
apenas rejeitar o que é impuro e desagradável aos olhos do Senhor. É preciso
também ocupar nossas vidas com o que glorifica a Deus e enche nossa mente de
conteúdos que edificam a vida espiritual.