Pb Francisco Barbosa
TEXTO ÁUREO
“E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.” (Jo 19.30).
Entenda o Texto Áureo:
- “Está
consumado” (Tetelestai) - O verbo grego τετέλεσται (tetelestai),
traduzido como “Está consumado”, é um perfeito passivo indicativo, denotando
uma ação concluída com efeitos permanentes. É a proclamação da vitória de
Cristo sobre o pecado, a morte e Satanás. Segundo o Comentário Bíblico Beacon,
esta é a declaração do cumprimento total da missão redentora de Jesus,
incluindo as profecias messiânicas e o sacrifício substitutivo. Champlin
observa que esta palavra era usada em recibos comerciais com o sentido de
“totalmente pago”, indicando que a dívida do pecado fora quitada de forma plena
e definitiva. MacArthur afirma que Jesus não morreu como vítima, mas como vencedor
triunfante, entregando voluntariamente seu espírito após cumprir perfeitamente
a vontade do Pai (Jo 10.18).
VERDADE PRÁTICA
Na cruz, Jesus
triunfou sobre o pecado; na Ressurreição, conquistou a vitória sobre a Morte.
Entenda a Verdade Prática:
- Em
resumo, o sacrifício de Jesus na cruz e sua ressurreição formam um evento único
e poderoso que demonstra sua vitória sobre o pecado e a morte, oferecendo
salvação e esperança para a humanidade.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
João 19.17,18,28-30; 20.6-10.
João 19
17. E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o
lugar chamado Calvário, que em hebraico se chama Gólgota,
- Carregando
a cruz – Ou, de acordo com a melhor leitura, “carregando a cruz para si
mesmo”. Segundo os evangelhos sinóticos (Mateus 27:32; Marcos 15:21; Lucas
23:26), durante o caminho, Simão de Cirene foi obrigado a ajudar ou carregar a
cruz. Inicialmente, o Senhor carregava a cruz por si mesmo, mas a linguagem
notável de Marcos (15:22, φέρουσιν) sugere que Ele tenha fraquejado sob o peso.
Compare com as notas de Mateus 27:31 e seguintes. Muitos escritores, desde a
época de Melito (Routh, Rell. Sacrr. 1:122), viram na história de Isaque
(Gênesis 22:6) um tipo deste incidente. Compare com João 18:12, nota. Saiu
– Compare com Hebreus 13:12-13. Este “sair” (João 18:1) da cidade corresponde
ao “entrar” (João 12:12): o “Caminho da Dor” até a linha de triunfo. Gólgota
– Veja a nota em Mateus 27:33. [Westcott, aguardando revisão]
18. onde o crucificaram, e, com ele, outros dois, um de
cada lado, e Jesus no meio.
- Eles
crucificaram – Ou seja, os judeus, não diretamente, mas atuando por
meio dos soldados romanos (v. 23), a quem foi confiada a execução. Para mais
detalhes sobre a natureza da punição, veja a nota em Mateus 27:35. Dois
outros – São descritos como “ladrões” (λῃσταί, compare com João 18:40)
por Mateus (27:38) e Marcos (15:27), e como “malfeitores” (κακοῦργοι, compare
com João 18:30) por Lucas (23:32). É possível que tenha sido intencional que
esses criminosos fossem crucificados com o Senhor, a fim de igualar Sua alegada
ofensa de traição com a deles. Compare com João 18:40, nota. No
meio – Significando que Cristo ocupava a posição de destaque naquela
cena de vergonha extrema. Mesmo no sofrimento, Cristo aparece como Rei. João,
ao acrescentar essa cláusula, enfatiza um pensamento que os outros evangelistas
deixam subentendido (Mateus 27:38; Marcos 15:27; Lucas 23:33). [Westcott,
aguardando revisão]
28. Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam
terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede.
- Depois
disso] A frase não é indefinida, como “depois dessas coisas”; veja João
5:1. O ministério de Cristo para os outros havia terminado. Em seguida, a
atenção se volta para Seu próprio sofrimento. Mas todo o foco está concentrado
no próprio Senhor, em Suas palavras e ações; e talvez por essa razão São João
omita qualquer menção às três horas de escuridão (Mateus 27:45; Marcos 15:33). sabendo]
Compare com João 13:1. estavam agora cumpridas] estão agora
concluídas. A versão A.V. perde o paralelo marcante entre esta frase, “estão
agora concluídas” (ἤδη τετέλεσται), e a que se segue, “Está consumado”
(τετέλεσται). para que a Escritura se cumprisse] Essa cláusula pode ser
conectada tanto com as palavras anteriores (“estavam agora cumpridas para que
…”) quanto com as palavras seguintes (“… cumpridas, para que a Escritura se
cumprisse, disse …”). O destaque que o Evangelista dá ao cumprimento das
palavras proféticas em cada detalhe do sofrimento de Cristo indica que a segunda
interpretação é a correta. A “sede”, expressão intensa de exaustão física, foi
especificada como parte da agonia do Servo de Deus (Salmo 69:21), e o Messias
suportou isso até o fim. O incidente perde seu pleno significado se não for
visto como um dos elementos do caminho previsto da Paixão. Além disso, não há
dificuldade na frase “estão agora concluídas” ao anteceder esse evento. A
“sede” já era sentida, e esse sentimento incluía a confissão dela. O
cumprimento da Escritura (nem é preciso dizer) não era o objetivo do Senhor ao
proferir a palavra, mas havia uma correspondência necessária entre Seus atos e
a prefiguração divina deles. se cumprisse] fosse realizado, aperfeiçoado.
A palavra usada (τελειωθῇ, Vulg. consummaretur, para a qual alguns manuscritos
substituem a palavra usual πληρωθῇ) é muito significativa. Ela parece indicar
não apenas o cumprimento isolado de um traço específico da imagem profética,
mas a conclusão perfeita de toda a profecia. Essa manifestação de sofrimento
físico foi a última coisa necessária para que o Messias fosse “aperfeiçoado”
(Hebreus 2:10; 5:7 e seguintes), e assim o ideal profético foi “consumado” Nele.
Ou, expressando o mesmo pensamento de outra forma, a “obra” que Cristo veio
“aperfeiçoar” (João 4:34; 17:4) estava escrita na Escritura, e pela realização
dessa obra a Escritura foi “aperfeiçoada”. Assim, sob diferentes aspectos dessa
palavra e do que ela implica, a profecia, a obra terrena de Cristo e o próprio
Cristo foram “aperfeiçoados”. [Westcott, aguardando revisão]
29. Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E
encheram de vinagre uma esponja e, pondo-a num hissopo, lha chegaram à boca.
- O
ato nesta ocasião (contrastando com Lucas 23:36) parece ter sido um ato natural
de compaixão, e não de zombaria. A ênfase está no sofrimento físico do Senhor,
e não na forma como Ele o enfrentou. Agora (omitir) havia … um vaso … de vinagre]
Parece certo, conforme Lucas 23:36, que o “vinagre” era um vinho azedo e
diluído, a bebida comum dos soldados. Isso pode ter sido trazido por eles para
seu próprio consumo durante a longa vigília. A menção ao “vaso colocado” é
exclusiva de São João. e encheram … e puseram …] tendo,
portanto, colocado uma esponja cheia de vinagre sobre um ramo de hissopo,
colocaram-na … O relato de São João não especifica quem realizou o ato. “Eles”
pode se referir aos soldados mencionados antes ou aos “judeus”, que ele
considera os verdadeiros responsáveis ao longo do relato (João 19:16). O relato
em São Mateus (27:48, veja a nota) e em São Marcos (15:36), igualmente
impreciso, atribui a ação a “um dos que estavam ali”. Mas, como São Lucas
(23:36) menciona que os soldados ofereceram “vinagre” ao Senhor em um momento
anterior de Sua Paixão, parece provável que um deles, impressionado pelo que
havia ocorrido, agora Lhe oferecesse, por compaixão, a bebida que antes fora
oferecida em tom de escárnio. hissopo] Em São Mateus e São Marcos,
menciona-se “uma cana”, que provavelmente deve ser distinguida do hissopo;
embora o “hissopo” tenha sido frequentemente identificado com a planta do
alcaparreiro, que possui hastes de cerca de um metro. Compare com Mateus 27:48,
nota, e o Dicionário da Bíblia, verbete correspondente. [Westcott, aguardando
revisão]
30. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está
consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
- Está
consumado; e abaixando a cabeça, deu o Espírito. O que está consumado?
A lei é cumprida como nunca antes, nem desde então, em sua “obediência até a
morte, nem mesmo a morte da cruz”; Profecia messiânica é cumprida; A redenção
está completa; “Ele acabou a transgressão, e fez a reconciliação pela
iniquidade, e trouxe a justiça eterna, e selou a visão e a profecia, e ungiu o
santo dos santos”; Ele inaugurou o reino de Deus e deu origem a um novo mundo.
[Jamieson; Fausset; Brown, 1866]
João 20
6. Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no
sepulcro, e viu no chão os lençóis
- Então
veio Simão Pedro – Simão Pedro, portanto, também chegou, enquanto João
ainda permanecia do lado de fora. Entrou no túmulo – Imediatamente,
sem hesitar ou olhar antes. E viu os lençóis de linho ali … –
Literalmente, “e ele contemplou os lençóis de linho (e v. 7) deitados”. A
mudança abrupta de tempo verbal indica uma pausa no fluxo do pensamento. Pedro
entra com coragem, e então percebe os detalhes. O verbo usado para “contemplar”
(θεωρεῖ) sugere um olhar fixo e atento, examinando cada detalhe. [Westcott,
aguardando revisão]
7. e que o lençol que tinha estado sobre a sua cabeça
não estava com os lençóis, mas enrolado, num lugar à parte.
- O
lençol – Compare com João 11:44. Sobre a sua cabeça – A ausência do
nome de Jesus é notável. O escritor está totalmente imerso no pensamento de
Cristo. Compare com João 20:15. Dobrado em um lugar à parte –
Literalmente, “separado, em um único lugar”. Não havia sinais de pressa. O
túmulo vazio transmitia uma sensação de completa tranquilidade. As roupas
funerárias haviam sido cuidadosamente removidas e organizadas em dois locais
distintos. Isso deixava claro que o corpo não havia sido roubado por inimigos;
também tornava improvável que amigos o tivessem levado às pressas. [Westcott, aguardando
revisão]
8. Então, entrou também o outro discípulo, que chegara
primeiro ao sepulcro, e viu, e creu.
- Então
entrou também o outro discípulo … – Agora ele não hesita mais em entrar
no túmulo, que já estava comprovadamente vazio. Ele entrou, viu (εἶδε) e creu.
Tudo é descrito em uma única sentença, sem interrupções ou mudanças na
estrutura (contrastando com o versículo 6). João viu o que Pedro viu: os claros
sinais de que o corpo do Senhor havia sido retirado – e creu. A interpretação
exata do verbo “creu” aqui é desafiadora. Provavelmente não significa
simplesmente que João acreditou que o corpo havia sido removido, como Maria
Madalena relatou. Isso era uma conclusão lógica e óbvia a partir do que ele
viu. O uso do verbo de forma absoluta sugere uma aceitação confiante de um
mistério ainda não totalmente compreendido, mas com plena confiança no amor
divino. Os três sinais – a pedra removida, o túmulo vazio e as vestes
funerárias arrumadas – apontavam para algo maior que ainda seria revelado. João
esperou com fé pela explicação. Talvez “creu” signifique que, de alguma forma,
João percebeu que o Senhor estava vivo. Isso criaria um forte contraste entre
“creu” e “sabiam” (compare com João 6:69). Se os discípulos tivessem realmente
compreendido as Escrituras, teriam sabido que a ressurreição era uma
necessidade divina. Mas João, como os outros discípulos (“eles não sabiam”),
ainda não havia entendido plenamente o ensino do Antigo Testamento nem as
palavras de Jesus. No entanto, agora ele se distingue dos demais: ele creu,
enquanto os outros ainda não sabiam.[Westcott, aguardando revisão]
9. Porque ainda não sabiam a Escritura, que diz que era
necessário que ressuscitasse dos mortos.
- Pois
ainda … – Compare com Lucas 24:21; Marcos 16:14. A crença na
ressurreição surgiu apesar da total falta de preparação dos discípulos para
aceitá-la. Em vez de ser baseada em uma interpretação prévia das Escrituras,
foi o próprio fato da ressurreição que iluminou o verdadeiro significado delas.
Compare com Lucas 24:25, 24:45. Os principais sacerdotes estavam cientes das
palavras de Jesus sobre sua ressurreição e, temendo que isso pudesse causar
problemas, tomaram medidas para evitá-los (Mateus 27:63 e seguintes). Por outro
lado, os discípulos, por mais que amassem Jesus, não se lembraram dessas mesmas
palavras para seu consolo. Esse contraste revela o caráter de cada grupo e é
algo profundamente verdadeiro quando se leva em conta as diferentes concepções
que descrentes e discípulos tinham sobre a pessoa, a morte e a ressurreição de
Cristo. A Escritura – Provavelmente, a referência é ao Salmo 16:10.
Compare com Atos 2:24 e seguintes; 13:35. O evangelista menciona um testemunho
específico (ἡ γραφή, compare com João 17:12), e não o conteúdo geral das
Escrituras (κατὰ τὰς γραφάς, 1 Coríntios 15:3-4). Deveria – Essa
necessidade divina (δεῖ) aparece constantemente nos eventos inesperados da vida
terrena de Jesus. Veja Mateus 26:54; Marcos 8:31; Lucas 9:22, 17:25, 22:37,
24:7, 24:26, 24:44 (e 46); João 3:14, 12:34; Atos 1:16. Veja também João 2:4 (ὥρα),
nota. [Westcott, aguardando revisão]
10. Tornaram, pois, os discípulos para casa.
- Então
os discípulos foram embora … – Os discípulos, portanto, partiram,
sentindo que nada mais poderia ser aprendido ali. Os anjos, que haviam
aparecido às mulheres, não se manifestaram aos apóstolos. Essas aparições
seguem as leis de uma economia espiritual. Compare com João 20:12. [Westcott,
aguardando revisão]
INTRODUÇÃO
Nesta lição, iremos
abordar a prisão, a condenação, a crucificação, a morte, o sepultamento e a
ressurreição de Jesus. Estes eventos demonstram o cumprimento da missão do
nosso Salvador. Toda essa missão pode ser resumida na frase: “Está consumado”.
A obra de Cristo no Calvário e a sua Ressurreição constituem a base da
esperança cristã.
- Ao
nos aproximarmos dos capítulos 19 e 20 do Evangelho de João, adentramos ao
clímax da missão redentora do Filho de Deus. Aqui não temos apenas uma
narrativa histórica de dor e triunfo, mas uma exposição teológica da mais
profunda revelação divina. Prisão, julgamento, flagelação, crucificação, morte,
sepultamento e ressurreição de Jesus não são episódios isolados, mas atos
interligados de um drama cósmico, no qual o Verbo eterno consuma a redenção da
humanidade. João, o teólogo do Logos encarnado, registra com precisão cada
detalhe, conduzindo o leitor à compreensão de que tudo foi cumprido conforme a
soberana vontade do Pai. A expressão de Jesus na cruz — “Está consumado” (Jo
19.30) — não é um suspiro de derrota, mas um brado de vitória, o selo final
sobre uma missão que começou na eternidade e se manifestou na plenitude dos
tempos. O termo grego tetelestai carrega o sentido jurídico de “plenamente
pago” e o sentido sacerdotal de “oferta completa”. Como observa Gordon D. Fee,
“em Jesus, o sofrimento não é mero
padecimento, mas o meio através do qual Deus redime; e a ressurreição é o aval
de que a obra está concluída”¹. O Comentário
Bíblico Pentecostal ressalta que a entrega voluntária de Jesus, seguida de sua
ressurreição gloriosa, revela a soberania messiânica sobre a morte, e não
apenas sua submissão ao sofrimento². A cruz não
foi um acidente teológico, mas o ponto culminante da fidelidade do Filho ao
Pai. Craig S. Keener enfatiza que João apresenta Jesus não como uma vítima
trágica, mas como o soberano que domina cada etapa da Paixão³. Quando Cristo diz “Está consumado”, ele não declara o
fim de sua vida, mas a plenitude de sua obra. Amos Yong, teólogo pentecostal
contemporâneo, argumenta que a ressurreição não é apenas uma doutrina, mas uma
realidade espiritual que impulsiona a missão contínua da Igreja: “A missão de Deus, cumprida em Jesus,
continua agora pelo poder do Espírito que ressuscitou o Senhor”⁴. A vitória de Cristo sobre a morte, narrada em João
20, é também a inauguração de uma nova criação. Robert P. Menzies acrescenta
que a ressurreição no Quarto Evangelho é acompanhada de uma promessa: a
presença contínua do Espírito será a marca dos discípulos do Ressuscitado⁵. Ainda como forma introdutória, Encontramos o
comentário na Bíblia de Estudo Pentecostal, destacando que o túmulo vazio é a
garantia de que nenhuma força pode deter os propósitos divinos. A pedra removida
não é apenas um gesto de poder, mas uma convocação ao testemunho: “Ele vive!”.
Como comenta Antônio Gilberto, “a
ressurreição é o selo da aprovação divina sobre tudo o que Jesus ensinou, fez e
prometeu”⁶. Os
comentários Beacon e Esperança convergem ao afirmar que o “Está consumado”
sintetiza toda a missão messiânica: a obediência perfeita, o sacrifício vicário
e a vitória sobre o pecado e a morte⁸. Já John
MacArthur conclui com precisão reformada: “Cristo
não morreu como mártir. Ele morreu como Redentor, cumprindo plenamente o plano
eterno de salvação”⁹. Portanto, ao
estudarmos João 19–20, somos conduzidos ao centro do Evangelho: a cruz e a ressurreição não apenas
aconteceram — elas mudaram tudo. Todo o drama da salvação se concentra
nestes capítulos. E toda a esperança da fé cristã repousa sobre esta declaração
final: “Está consumado”. A obra está feita. A dívida foi paga. A morte foi
vencida. O túmulo está vazio. A esperança vive!
Vamos à
matéria!
Notas
1. Gordon D. Fee, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo,
Vida Nova.
2. Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento,
CPAD, João 19–20.
3. Craig S. Keener, Comentário Bíblico IVP do Novo
Testamento, Vida.
4. Amos Yong, O Espírito Santo e a Missão da Igreja,
Reformation Press.
5. Robert P. Menzies, Empowered for Witness,
T&T Clark.
6. Antônio Gilberto, Bíblia de Estudo Pentecostal,
CPAD, notas em João 19–20.
7. Comentário Bíblico
Beacon, vol. 7, CPAD, p. 240–245.
8. Comentário Esperança, vol. 4, Ed. Esperança, João 19–20.
9. John MacArthur, Comentário Bíblico MacArthur,
Abba Press, João 19.30.
Palavra-Chave: RESSURREIÇÃO
Este ministério nasceu de
um chamado:
Levar a Palavra de Deus a todos: — grátis, sem
barreiras.
Cada estudo, cada palavra, é fruto de oração e
dedicação para alimentar sua fé. Mas para continuar, preciso de você.
Se
este conteúdo foi útil para você, transforme gratidão em ação.
Sua contribuição, por menor que seja, mantém essa
luz acesa. Não deixe que essa missão pare. Seja parte da transformação!
Chave PIX: assis.shalom@gmail.com
Juntos, iluminamos vidas. Obrigado por caminhar
comigo.
I. A PRISÃO E A CONDENAÇÃO DE JESUS
1. A prisão. Nos capítulos 17 e 18 deste Evangelho, após ter
proferido o seu último discurso aos discípulos e os ter preparado para a
traição de Judas Iscariotes, Jesus atravessou o ribeiro de Cedrom e fez uma
paragem no Jardim do Getsêmani. Este jardim era também conhecido como “o Monte
das Oliveiras”, devido à grande quantidade de oliveiras que ali existia.
Naquela madrugada, o ambiente neste local parecia carregado de tristeza e
angústia. Os soldados romanos e os membros da guarda do sumo sacerdote foram
guiados por Judas Iscariotes até ao local onde Jesus se encontrava com os seus
discípulos. Tendo concordado com a traição em troca de 30 moedas de prata, o
traidor identificou Jesus com um beijo traiçoeiro, indicando aos soldados
romanos quem Ele era, levando à sua prisão e conduzindo-o até Anás, o sumo
sacerdote, para ser interrogado. Em seguida, depois de ter sido agredido, o
nosso Senhor foi levado perante o governador Pilatos (18.28 — 19.6).
- Após o sublime capítulo 17, em que Jesus ora como nosso
Sumo Sacerdote intercessor, os capítulos 18 e 19 de João nos transportam para o
cenário mais dramático da redenção: a prisão do Cordeiro de Deus. Terminando
seu discurso final aos discípulos, Jesus atravessa o ribeiro de Cedrom (gr.
Kedrón), indo ao Jardim do Getsêmani — um lugar de oração, mas agora palco de
conflito espiritual. João, diferentemente dos Sinópticos, não enfatiza o
sofrimento emocional de Jesus, mas a sua autoridade soberana diante da
escuridão que se aproxima. Ali, entre as oliveiras, no Jardim do Olival, o
Verbo encarnado, ciente da hora, não recua: Ele avança em direção ao cálice da
aflição. Segundo Craig S. Keener, o jardim não é apenas um local geográfico,
mas um eco do Éden, onde o segundo Adão, ao contrário do primeiro, submete-se
perfeitamente à vontade do Pai, mesmo sabendo que isso o levaria à cruz¹. Jesus não é apanhado de
surpresa, tampouco coagido. Ele se apresenta com autoridade aos soldados que
vêm prendê-lo, e ao dizer “Sou Eu” (gr. Egō eimi), os inimigos recuam e caem
por terra (Jo 18.6). Esse termo é teologicamente carregado: Egō eimi é uma
afirmação da identidade divina — o mesmo nome pelo qual Deus se revelou a
Moisés em Êxodo 3.14. João revela, assim, que o mesmo Deus que disse “Eu Sou”
na sarça ardente é o que agora se entrega voluntariamente aos algozes. Gordon
D. Fee destaca que, no Evangelho de João, Jesus nunca é passivo diante da cruz,
mas o protagonista soberano de sua própria paixão². A entrada de Judas, portando um beijo traiçoeiro, cumpre a
Escritura (Sl 41.9), mas também revela a dureza de um coração que, mesmo
andando com a Luz, preferiu as trevas. Segundo Antônio Gilberto, a traição com
um beijo representa “o cúmulo da
falsidade e da insensibilidade espiritual”, sendo o sinal que marca o
início da maior injustiça já cometida na história humana³. Logo após sua prisão, Jesus é
conduzido até Anás e depois Caifás, numa sequência de julgamentos ilegítimos e
violentos. O Comentário Bíblico Pentecostal ressalta que os abusos sofridos por
Jesus não foram apenas físicos, mas espirituais: o Santo dos santos foi
cuspido, esbofeteado e ridicularizado por aqueles que deveriam ser guardiões da
justiça⁴. Em
seguida, Ele é levado a Pilatos, governador romano, para cumprir o desígnio da
cruz — pois somente Roma podia aplicar a pena de morte. Conforme observa John
MacArthur, “embora o Sinédrio desejasse
sangue, a autoridade final repousava sobre Pilatos, e isso se dá para que se
cumprisse a profecia da crucificação — morte de cruz, e não por apedrejamento
como previa a Lei judaica”⁵. Este
não é apenas um relato histórico, mas uma declaração da soberania de Deus sobre
cada etapa do drama redentor. Mesmo cercado por soldados e traído por um amigo,
Jesus se mantém no controle: Ele não é um prisioneiro da política ou da
religião — Ele é o Rei que marcha para o trono da cruz com plena consciência de
sua missão eterna. Como afirma Amos Yong, “a
prisão de Jesus não é o fim, mas o início visível do triunfo escatológico de
Deus no mundo”⁶. Diante
desse Cristo que se entrega, o leitor é chamado não apenas a observar, mas a
adorar.
Notas
1- Craig S. Keener,
Comentário Bíblico IVP do Novo Testamento, Vida, João 18.
2 - Gordon D. Fee, Ouça
o Espírito, Ouça o Mundo, Vida Nova.
3 - Antônio Gilberto,
Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, notas em João 18.
4 - Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, João 18.
5 - John MacArthur,
Comentário Bíblico MacArthur, Abba Press, João 18.28–19.6.
6 - Amos Yong, O
Espírito Santo e a Missão da Igreja, Reformation Press.
2. O interrogatório. De início, Pilatos questiona a acusação feita pelos
judeus. Jesus fora detido durante a madrugada e, ao amanhecer, depois de ter
passado pela casa de Caifás, o sumo sacerdote, os judeus preferiram que a
condenação viesse do governador Pilatos. Assim, levaram Jesus até ele, apesar
de este preferir que fossem os próprios judeus a julgar Jesus conforme as leis
judaicas (Jo 18.28,31). Por sua vez, Pilatos, na tentativa de aliviar a pressão
política dos judeus, cedeu à hostilidade deles e decidiu colocar Jesus ao lado
de Barrabás (18.38-40). Este último era um criminoso notório e escolheram
libertá-lo em vez de desistirem da crucificação de Jesus. O ódio religioso do
povo era tão intenso que eles não conseguiam ver nada que pudesse impedir a
condenação de Jesus.
- O relato do interrogatório de Jesus diante de Pilatos (Jo
18.28–40) é uma poderosa demonstração do contraste entre a justiça corrompida
dos homens e o propósito soberano de Deus. Após ter sido preso e levado à casa
de Anás e Caifás durante a madrugada, Jesus é conduzido ao pretório logo ao
amanhecer. Os líderes religiosos judeus — paradoxalmente preocupados com a
impureza cerimonial da Páscoa (Jo 18.28), mas indiferentes ao crime de condenar
um inocente — rejeitam julgar Jesus pelas próprias leis, pois buscam a pena
capital, algo que só a autoridade romana poderia aplicar. A ironia é gritante:
os guardiões da Lei entregam o Justo ao império da injustiça. Pilatos inicia o
interrogatório com ceticismo e desconforto político. Seu questionamento (“Que
acusação trazeis contra este homem?” — Jo 18.29) é uma tentativa de escapar da
armadilha que os judeus armam para ele. Quando os líderes dizem: “Se este não
fosse malfeitor, não o teríamos entregado” (v. 30), evitam apresentar
evidências — pois, de fato, não havia crime real, apenas ódio religioso. Craig
S. Keener observa que, naquele contexto, “os
romanos não se envolviam em disputas religiosas internas dos judeus, a menos
que houvesse risco de desordem pública”¹. Assim, a tensão entre a autoridade civil e a pressão religiosa
torna-se o pano de fundo do julgamento mais injusto da história. Ao interrogar
Jesus, Pilatos ouve uma resposta inesperada: “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18.36). Aqui, Jesus utiliza a
expressão basileía (βασιλεία), não no sentido territorial, mas em seu aspecto
teológico e escatológico. Ele não nega ser rei, mas define que seu reinado não
deriva do poder político, mas da vontade do Pai eterno. Gordon D. Fee destaca
que, nesse momento, “Jesus reinterpreta a
ideia de Reino à luz da cruz, como dom gracioso do governo de Deus, e não como
instrumento de dominação”².
Pilatos, incapaz de compreender o Rei que reina por meio da entrega, se vê
diante de um dilema: condenar o inocente ou enfrentar a fúria de um povo
inflamado pelo fanatismo. Na tentativa de evitar a responsabilidade, Pilatos
recorre à tradição pascal de libertar um prisioneiro, e apresenta Jesus ao lado
de Barrabás — um notório criminoso (Jo 18.40). No grego, o termo lēstḗs (λῃστής)
usado para Barrabás, pode significar “salteador”, mas também se referia a
insurretos políticos. Pilatos esperava que o povo rejeitasse o violento
Barrabás e escolhesse Jesus. Mas o ódio cego prevaleceu: eles escolheram o
violento em lugar do Príncipe da Paz. John MacArthur observa que “Pilatos usou de manipulação para salvar
Jesus, mas ao final, sacrificou a justiça para preservar sua carreira”³. O Comentário Bíblico
Pentecostal observa que este momento revela a corrupção da liderança religiosa
e a fragilidade das estruturas humanas diante do propósito divino: “Mesmo quando os homens agem movidos pelo
ódio, Deus conduz a história rumo ao seu clímax redentor”⁴. Para Amos Yong, esta cena
revela que o Reino de Deus jamais será compreendido por sistemas mundanos, pois
“o poder de Cristo é revelado na
fraqueza, e a justiça de Deus triunfa onde o mundo só vê derrota”⁵. O povo preferiu Barrabás —
símbolo da força e da revolta —, mas Deus entregou seu Filho, o verdadeiro
Cordeiro, cuja vitória viria não pelo confronto, mas pela cruz.
Notas
1 - Craig S. Keener,
Comentário Bíblico IVP do Novo Testamento, Vida, João 18.
2 - Gordon D. Fee, Ouça
o Espírito, Ouça o Mundo, Vida Nova, p. 96.
3 - John MacArthur,
Comentário Bíblico MacArthur, Abba Press, João 18.28–40.
4 - Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, João 18.
5 - Amos Yong, O
Espírito Santo e a Missão da Igreja, Reformation Press, cap. 4.
3. A condenação. Pilatos mandou que Jesus fosse açoitado e,
posteriormente, os soldados romanos, para o humilhá-lo ainda mais, colocaram
sobre a sua cabeça uma “coroa de espinhos afiados”, provocando-lhe ferimentos e
fazendo o sangue escorrer pelo seu rosto. Essa era uma maneira de escarnecer da
sua suposta realeza. O instrumento utilizado para os castigos era um chicote
com tiras de couro afiadas, que tinham pedaços de ossos ou pedras cortantes na
ponta. Jesus foi ferido e teve a sua carne dilacerada pelos golpes (Jo 19.1,2).
Nesse momento, nosso Senhor assumiu as nossas enfermidades e dores; foi
afligido e oprimido, foi castigado pelas nossas transgressões e iniquidades;
cumprindo assim a profecia do profeta Isaías (Is 53.4,5).
- A sentença contra Jesus Cristo, narrada em João 19.1–2,
revela a profundidade do sofrimento vicário do Filho de Deus e a perversidade
de um sistema judicial manipulado pelo ódio e pela conveniência política.
Pilatos, na tentativa de acalmar os líderes religiosos sem condenar à morte um
inocente, ordena que Jesus seja açoitado (gr. phragellóō – φραγελλόω), um termo
usado para designar o mais severo tipo de flagelação romano. O açoite consistia
em tiras de couro reforçadas com pedaços de osso e metal, projetadas não para
punir, mas para mutilar. Segundo Craig S. Keener, “esse tipo de flagelo não raramente levava à morte antes mesmo da
crucificação”¹. A
intenção de Pilatos era apelar à compaixão do povo — mas o plano falha, e a
violência apenas se intensifica. Após o açoite, os soldados romanos zombam de
Jesus, coroando-O com espinhos e vestindo-O com um manto púrpura (Jo 19.2). A
“coroa” (gr. stéphanos – στέφανος), ironicamente, era o símbolo da honra e do
triunfo; aqui, ela é transformada num instrumento de escárnio e dor. Espinhos
longos e duros — possivelmente da planta Zizyphus spina-christi, comum na
Judeia — perfuram o couro cabeludo ricamente irrigado, causando sangramento
intenso. Como observa John MacArthur, “os
soldados estavam ridicularizando a realeza de Jesus, mas, sem saber, coroavam o
Rei dos reis com o símbolo de sua glória: o sofrimento”². Nesse momento, não temos
apenas a injustiça humana; temos a manifestação mais profunda da justiça
divina. A carne dilacerada, o sangue escorrendo e o silêncio de Cristo apontam
para o cumprimento das palavras proféticas de Isaías 53.4–5: “certamente, Ele tomou sobre si as nossas
enfermidades... foi traspassado pelas nossas transgressões”. O Comentário
Bíblico Pentecostal destaca que, para os crentes pentecostais, este sofrimento
é vicário, redentor e completo — “Cristo
não apenas levou nossos pecados, mas também nossas dores e doenças, numa
dimensão que toca corpo, alma e espírito”³. Anthony D. Palma reforça: “o
sofrimento físico de Cristo foi real e necessário; não apenas símbolo, mas
substituição”⁴. Na
perspectiva espiritual, Jesus não foi apenas vítima de um sistema injusto. Ele
entregou-se voluntariamente como Cordeiro imaculado (Jo 10.18). Aquele que
podia chamar legiões de anjos (Mt 26.53), permaneceu em silêncio, cumprindo em
Si mesmo o plano eterno da redenção. Gordon D. Fee afirma que “o Cristo que sofre não é fraco, mas o Deus
que se revela no escândalo da cruz. A fraqueza dEle é a nossa força”⁵. Cada gota de sangue vertida
foi a assinatura divina da nova aliança, firmada não em tábuas de pedra, mas
nos corações partidos que n’Ele encontram cura. Essa condenação injusta não foi
acidente da história. Foi o ponto central do plano eterno de Deus. Como resume
Antônio Gilberto, “a cruz não foi um
erro; foi um decreto. E a dor de Cristo é o clímax do amor de Deus em ação”⁶. No açoite e na coroa, vemos
não apenas sofrimento, mas a glória do Evangelho — Deus se fazendo maldição
para que fôssemos feitos justiça (2Co 5.21). Ao contemplarmos este momento, não
há como permanecer indiferente. Diante do Sangue, resta-nos a reverência e a
rendição.
Notas
1 - Craig S. Keener,
Comentário Bíblico IVP do Novo Testamento, Vida, João 19.1.
2 - John MacArthur,
Comentário Bíblico MacArthur, Abba Press, João 19.
3 - Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, João 19.1–3.
4 - Anthony D. Palma, A
Verdade em Série – Cristo, Nosso Redentor, CPAD, p. 79.
5 - Gordon D. Fee, Ouça
o Espírito, Ouça o Mundo, Vida Nova, p. 114.
6 - Antônio Gilberto,
Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, nota em João 19.1–5.
SINOPSE I
A
prisão, o interrogatório e a condenação de Jesus revelam a injustiça dos homens
e o cumprimento do plano divino para a nossa redenção.
II. CRUCIFICAÇÃO, MORTE E SEPULTAMENTO DE JESUS
1. O caminho do Calvário. Após a
tentativa de Pilatos evitar a crucificação e libertar Jesus, não conseguiu
impedir o castigo mais severo. Finalmente, no versículo 16, lê-se: “Então,
entregou-lho, para que fosse crucificado” (Jo 19.16). Sob os açoites dos
soldados, Jesus carregava a sua cruz até chegar ao Gólgota, local conhecido
como “Lugar da Caveira”, devido à forma que o monte apresentava. Em João 19.18,
menciona-se que o “Gólgota” era um lugar público onde as pessoas podiam
testemunhar o horrível drama ao qual os soldados romanos submetiam os
condenados. Nos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), foram
registrados detalhes sobre os eventos durante a crucificação do Senhor. Ao lado
de Jesus, à sua esquerda e à sua direita, estavam dois outros homens acusados
como criminosos (Lc 23.40-43), sendo que Lucas narra o arrependimento de um
deles enquanto o outro zombava de Jesus. É curioso notar que o profeta Isaías
também mencionou isso anteriormente, no capítulo 53.12, afirmando que ele “foi
contado com os transgressores”.
- Quando Pilatos finalmente cede à pressão religiosa e
política dos líderes judeus, João registra com precisão a sentença que selaria
o destino redentor da humanidade: “Então,
entregou-lho para que fosse crucificado” (Jo 19.16). O verbo grego
paradídōmi (παραδίδωμι), aqui traduzido como “entregou”, carrega um peso
teológico significativo: não se trata apenas da ação de Pilatos, mas do
cumprimento do plano soberano de Deus. Como afirma Craig S. Keener, “embora os homens tenham agido por crueldade
e covardia, o ato de entrega se alinha ao propósito divino da salvação”¹. Sob o peso de uma cruz
romana, instrumento de morte e escárnio, Jesus percorre o caminho até o
Gólgota, o Lugar da Caveira (Jo 19.17). O termo hebraico Gulgōlet, traduzido no
grego como Golgothā (Γολγοθᾶ), referia-se à forma da colina ou à quantidade de
crânios que ali jaziam, testemunhas silenciosas das execuções romanas. Era um
lugar público, escolhido intencionalmente para expor os crucificados à
vergonha, ao sofrimento prolongado e ao escárnio das multidões. Como destaca
John MacArthur, “o Gólgota não foi
escolhido ao acaso — Deus ordenou que o Cordeiro morresse à vista de todos,
para que ninguém dissesse que a redenção foi escondida”². A crucificação, relatada em
João 19.18, foi mais que um evento histórico; foi o clímax cósmico do drama
redentor. O Messias foi colocado entre dois criminosos — um à direita e outro à
esquerda — em cumprimento direto da profecia de Isaías 53.12: “foi contado com os transgressores”. Essa
cena não apenas reforça a humilhação de Cristo, mas também a sua identificação
plena com os pecadores. Um dos malfeitores zombava, mas o outro, tocado pela
graça, declarou: “Lembra-te de mim quando
entrares no teu Reino” (Lc 23.42). O Comentário Bíblico Pentecostal
enfatiza que essa conversão de última hora revela a “potência do Reino já presente, mesmo na morte iminente”³. A trajetória de Jesus até o
Calvário não pode ser lida como derrota, mas como triunfo sacrificial. Ele não
foi arrastado à força, mas foi como ovelha muda perante os seus tosquiadores
(Is 53.7). Gordon D. Fee ressalta que, nos escritos joaninos, “Jesus nunca é vítima; Ele é o Rei exaltado
em seu trono de madeira”⁴. A
cruz, para João, é exaltação (cf. Jo 3.14; 12.32), não humilhação. O Cristo
ferido no madeiro é o mesmo que atrai todos a Si. O caminho do Calvário foi a
estrada da nossa reconciliação com Deus. Cada passo sangrento pavimentou a
ponte entre o céu e a terra. Portanto, o caminho do Calvário não é apenas um
trajeto geográfico ou um capítulo sombrio da história. É o epicentro da
esperança cristã. Ali, entre o céu escuro e a terra abalada, o Filho do Homem
foi levantado — para redimir, para salvar, para cumprir a eterna vontade do
Pai.
Notas
1 - Craig S. Keener,
Comentário Bíblico do Novo Testamento, Vida, João 19.16–18.
2 - John MacArthur,
Comentário Bíblico MacArthur, Abba Press, João 19.17–18.
3 - Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, João 19.18.
4 - Gordon D. Fee, Ouça
o Espírito, Ouça o Mundo, Vida Nova, p. 127.
2. A missão foi encerrada. Como homem,
Jesus experimentou a sede, que foi a sua última necessidade humana, antes de
morrer na cruz. A sua sede física foi momentânea e aliviada por uma esponja,
que não continha água, mas vinagre, oferecida pelos soldados romanos. Ao pedir
“água para saciar sua sede”, nosso Senhor tinha plena consciência de que a
Escritura estava se cumprindo e que aquele momento final “como homem” se
aproximava. Assim, ciente de que sua missão na Terra estava completada (v.28),
não hesitou em proclamar a vitória do plano divino ao afirmar: “Está
consumado!” (Jo 19.30). A obra de Jesus estava concluída. O seu grito não era
de derrota, mas sim uma declaração da realização de uma tarefa confiada pelo
Pai.
- Na agonia final da cruz, Jesus, plenamente consciente e
no domínio de si, expressa uma das declarações mais teologicamente densas de
toda a Escritura: “Tenho sede” (Jo 19.28). Essa afirmação não é apenas um
clamor fisiológico; é um sinal inequívoco de que até os últimos detalhes
proféticos estavam sendo cumpridos. O verbo grego usado aqui, διψάω (dipsáō),
não indica apenas desidratação, mas também uma profundidade espiritual — a sede
daquele que bebeu o cálice da ira de Deus até a última gota. Como afirma Craig
S. Keener, “a sede de Jesus representa
tanto sua humanidade quanto o cumprimento deliberado da Escritura,
especialmente o Salmo 69.21”¹. A
oferta de vinagre (Jo 19.29), uma bebida azeda usada pelos soldados romanos
para matar a sede nos dias de calor, foi colocada numa esponja e erguida até os
lábios do Salvador. O ato aparentemente banal era, na verdade, carregado de
sentido escatológico e tipológico. Jesus não rejeita o vinagre — Ele o recebe,
não para alívio, mas como cumprimento. Conforme explica Gordon D. Fee, “João apresenta Jesus como um Messias soberano,
que mesmo na morte continua dirigindo o roteiro da redenção”². E então, vem o brado final: “Está consumado!” (Tetelestai, τετέλεσται
– Jo 19.30). No grego koiné, este verbo no tempo perfeito indica uma ação
completa no passado com efeitos permanentes. Era um termo usado em recibos
comerciais e significava “pago por completo”. A missão do Filho — a obediência
perfeita, a satisfação da justiça divina, a vitória sobre o pecado — foi
plenamente realizada. John MacArthur salienta que “não foi um grito de exaustão, mas de conquista; um pronunciamento de
que toda dívida espiritual foi cancelada para sempre”³. Ao proclamar Tetelestai,
Jesus não apenas encerra sua missão terrena, mas sela eternamente a nova
aliança com seu sangue. O Comentário Bíblico Pentecostal destaca que “o grito final do Cristo crucificado
reverberou como o triunfo do Reino — uma declaração de que Satanás, o pecado e
a morte foram derrotados de uma vez por todas”⁴. Anthony D. Palma, por sua vez, observa que este momento não
marca o fim da vida de Jesus, mas o cumprimento de sua função messiânica como o
Servo Sofredor de Isaías 53⁵. Diante
disso, o leitor atento não pode permanecer indiferente. O brado da cruz nos
arranca da apatia espiritual e nos lança na presença de um Deus que sangrou por
nós. Aquilo que estava separado agora está reconciliado. O véu foi rasgado, a
dívida foi paga, e a missão foi cumprida. Tetelestai! — uma palavra, um grito,
uma eternidade de redenção.
Notas
1 - Craig S. Keener,
Comentário Bíblico do Novo Testamento, Vida, João 19.28-30.
2 - Gordon D. Fee, Ouça
o Espírito, Ouça o Mundo, Vida Nova, p. 139.
3 - John MacArthur,
Comentário Bíblico MacArthur, Abba Press, João 19.30.
4 - Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, João 19.30.
5 - Anthony D. Palma, A
Verdade em Série, CPAD, volume 4, p. 277.
3. O Sepultamento. No versículo 38, aparece um homem que admirava Jesus
e era um discípulo discreto e reservado, chamado José de Arimateia. Ele fazia
parte do Sinédrio (Mc 15.43) e era uma pessoa abastada (Mt 27.57). Devido ao
temor que tinha dos judeus, mantinha-se afastado dos discípulos, mas conseguiu
vencer esse medo ao reunir coragem para se dirigir a Pilatos e solicitar o
corpo de Jesus para o sepultamento (Jo 19.42). A informação contida no texto
sugere que o túmulo onde Jesus foi sepultado não ficava longe do Monte do
Calvário.
- O silêncio da morte na cruz dá lugar a um inesperado
movimento de fé e coragem: “Depois disto,
José de Arimateia... rogou a Pilatos o corpo de Jesus” (Jo 19.38). O nome
Iōsēph ho apo Harimathaias (Ἰωσὴφ ἀπὸ Ἁριμαθαίας), revela não apenas a origem
geográfica de José, mas seu papel singular na narrativa da paixão. Embora
membro do Sinédrio (Mc 15.43) — o mesmo conselho que conspirou contra Jesus —,
José não consentiu com tal decisão (Lc 23.50-51). Até então um discípulo
secreto (mathētēs kekrummenōs), ele agora rompe com o medo, tornando-se, como
observa Craig Keener, um símbolo poderoso de discipulado corajoso em tempos de trevas¹. A riqueza de José (Mt 27.57)
cumpria diretamente a profecia de Isaías 53.9: “...com o rico esteve na sua morte...”. A tradição judaica exigia
sepultamento imediato, e João faz questão de mencionar que “no lugar onde Jesus fora crucificado havia um
jardim” (Jo 19.41), sugerindo que o túmulo estava próximo ao Gólgota — uma
caverna escavada na rocha, típica dos sepulcros de homens nobres, nunca antes
usada. Gordon D. Fee enfatiza que, ao ceder seu próprio túmulo, José não apenas
demonstrou honra, mas se identificou publicamente com Aquele que fora
desprezado². A
expressão grega usada para “rogou a Pilatos” é ērōtēsen ton Pilaton (ἠρώτησεν τὸν
Πιλᾶτον), implicando não uma exigência, mas uma súplica respeitosa e
determinada. Isso sugere que José conhecia bem os protocolos romanos, onde
corpos de crucificados eram muitas vezes deixados insepultos. No entanto,
Pilatos, talvez ainda impressionado pela conduta de Jesus e desejando encerrar
rapidamente o episódio, concede o pedido. Como aponta John MacArthur, isso não
apenas demonstra providência divina, mas também uma quebra do protocolo comum,
orquestrada soberanamente³. Nicodemos,
outro fariseu outrora temeroso, une-se a José, trazendo cerca de 34 quilos
(litras – λίτρας) de mirra e aloés — uma quantidade usada para sepultamentos
reais. Isso nos revela que, mesmo em sua morte, Jesus foi tratado como Rei.
Como destaca o Comentário Bíblico Pentecostal, esse ato carrega não só honra,
mas fé escatológica: ambos viam em Jesus mais que um mártir — viam o Messias⁴. Portanto, o sepultamento de
Jesus não foi mero ritual fúnebre, mas uma proclamação silenciosa, carregada de
fé e cumprimento profético. O túmulo de José se tornou o berço da esperança
eterna. O silêncio da rocha selada ecoava o anúncio celestial: o Justo foi
enterrado como um rei, mas não permaneceria ali. Como bem ensina Antônio
Gilberto, a sepultura emprestada foi apenas uma estação provisória entre a cruz
e a glória⁵.
Notas
1 - Craig S. Keener,
Comentário Bíblico do Novo Testamento, Vida, João 19.38-42.
2 - Gordon D. Fee, Ouça
o Espírito, Ouça o Mundo, Vida Nova, p. 141.
3 - John MacArthur,
Comentário Bíblico MacArthur, Abba Press, João 19.38-42.
4 - Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, João 19.38-42.
5 - Antônio Gilberto,
Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, p. 304.
Quer ter acesso ao mesmo material que
utilizo para escrever estes comentários?
- Adquira seu acesso vitalício à Minha
Superbiblioteca!
Milhares de livros e e-books indispensáveis para formação
cristã e recomendados por instituições de ensino reunidos em um só lugar que
aprimora a experiência de leitura.
VOCÊ ENCONTRARÁ:
📚 TEOLOGIAS SISTEMÁTICAS DIVERSAS
📚 COMENTÁRIOS BÍBLICOS DIVERSOS
📚 COLEÇÃO PATRÍSTICA
📚 COLEÇÃO ERA DOS MARTIRES
📚 CAPACITAÇÃO DE OBREIROS (CURSOS TEOLÓGICOS)
📚 57 BÍBLIAS DE ESTUDO
DIVERSAS
📚 TEOLOGIA NÍVEL MÉDIO – BACHAREL – MESTRADO - DOUTORADO
✅ Tenha acesso a tudo isso por
APENAS R$ 30,00!
🔑 Chave PIX:
assis.shalom@gmail.com
🤝 Após o pagamento e recebimento do comprovante, será enviado
via WhatsApp o link do material
SINOPSE II
O
caminho do Calvário, o desfecho da missão de Jesus e o seu sepultamento
ilustram o sacrifício redentor e o cumprimento das Escrituras.
AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“O SEPULTAMENTO DE JESUS (19.38-42). Mais
tarde (v.38), certo José pede a Pilatos o corpo de Jesus, e Pilatos lhe concede
o pedido. João conta duas coisas sobre este homem: Ele é de Arimateia e é
crente secreto em Jesus. Este José só aparece no relato do sepultamento de
Jesus nos Evangelhos. Lucas 23.50,51 diz que Arimateia era uma cidade dos
judeus. José também tinha envolvimento com o Sinédrio e tinha um sepulcro perto
de Jerusalém, o que significa que ele morava em Jerusalém. Lucas também nos
fala que ele era homem piedoso. João enfatiza que ele era um crente secreto em
Jesus por medo dos líderes judeus. Este tipo de crente, que frequentava a
sinagoga, tornou-se numeroso mais tarde, quando os líderes do judaísmo o
perseguiram” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Volume 1. Rio de
Janeiro: CPAD, 2024, p.603).
III. A RESSURREIÇÃO DE JESUS
1. O Túmulo Vazio. Na manhã do primeiro dia da semana (domingo), ocorreu
um terremoto na área do sepulcro, e um anjo de Deus deslocou a pedra, sentando-se
sobre ela (Mt 28.2). Foi nesse instante que Jesus ressuscitou do lugar onde o
seu corpo se encontrava. O túmulo ficou vazio, servindo como uma evidência
clara da ressurreição de Jesus dentre os mortos. No Evangelho de João, é
relatado que, após o sábado judaico, Maria Madalena dirigiu-se ao sepulcro (Jo
20.1), acompanhada por Maria, mãe de Tiago, e Salomé (Mc 16.1-3), com a
intenção de ungir o corpo de Jesus. Ao chegarem lá, a pedra já tinha sido
retirada (Mc 16.4) e ao entrarem no sepulcro escavado na rocha, não encontraram
o corpo de Jesus. O túmulo estava vazio.
- Na alvorada do primeiro dia da semana, algo absolutamente
extraordinário irrompeu a ordem natural: "Houve um grande terremoto" (seismòs megas, Mt 28.2),
sinalizando uma intervenção direta do céu na história. Um anjo do Senhor, com
aparência como um relâmpago e vestes alvas como a neve, desceu e removeu a
pedra do sepulcro — não para permitir que Cristo saísse, mas para que os homens
pudessem ver que Ele já havia ressuscitado. Segundo Craig Keener, o terremoto
aponta para uma teofania, ou seja, uma manifestação divina que inaugura uma
nova era redentora¹. No
Evangelho de João, Maria Madalena, tomada por devoção e ainda cativa pela dor
da perda, chega ao sepulcro prói skotias étì ōn (πρωῒ σκοτίας ἔτι οὔσης — Jo
20.1), “ainda escuro”, revelando não apenas a hora, mas o estado sombrio da
alma que desconhece ainda a glória da ressurreição. Ela não estava sozinha:
conforme Marcos (16.1), Maria, mãe de Tiago, e Salomé a acompanhavam, levando
aromas para ungir o corpo de Jesus. O túmulo, porém, estava vazio. O corpo
havia desaparecido, mas não furtado — havia ressuscitado. A ausência do corpo
não era silêncio; era proclamação. O túmulo vazio não é um vácuo de sentido,
mas uma pregação poderosa: “Por que
buscais entre os mortos ao que vive?” (Lc 24.5). A linguagem do Evangelho
de João emprega verbos como blepō (βλέπω – “ver com percepção”) e eidon (εἶδον
– “compreender”), mostrando que a descoberta do túmulo vazio levou a uma
compreensão progressiva da ressurreição (Jo 20.8). Segundo Gordon D. Fee, o
túmulo vazio é o ponto de inflexão entre a antiga criação e a nova criação,
onde a morte começa a retroceder². Antônio
Gilberto destaca que a ressurreição literal de Cristo é a âncora da fé cristã:
se o túmulo estivesse cheio, nossa fé estaria vazia³. O Comentário Bíblico Pentecostal ressalta que os detalhes
fornecidos pelos evangelistas — a pedra removida, o lençol deixado e os anjos
presentes — foram cuidadosamente preservados para sustentar a historicidade do
evento⁴. O
Comentário MacArthur acrescenta que o túmulo emprestado por José de Arimateia
serviu, na providência divina, para não deixar dúvidas sobre a identidade do
corpo ali depositado⁵. Portanto,
o túmulo vazio não é apenas um detalhe narrativo: é a certidão de nascimento da
esperança cristã. Não havia corpo, mas havia glória. Não havia morte, mas vida
transbordante. O silêncio da sepultura tornou-se o megafone da eternidade,
proclamando: Cristo ressuscitou! Ele venceu a morte e reina para sempre!
Notas
1 - Craig S. Keener,
Comentário Bíblico do Novo Testamento, Vida, Mt 28.2; Jo 20.1.
2 - Gordon D. Fee, Ouça
o Espírito, Ouça o Mundo, Vida Nova, p. 153.
3 - Antônio Gilberto,
Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, nota em Mt 28.6.
4 - Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, Jo 20.1-10.
5 - John MacArthur,
Comentário Bíblico MacArthur, Abba Press, Jo 19.38–20.10.
2. A Ressurreição como base da Fé Cristã. Em sua
abordagem sobre a importância da Ressurreição, o apóstolo Paulo dirigiu-se aos
coríntios afirmando que “Cristo ressuscitou dos mortos” e que, se essa
afirmação não fosse verdadeira, a nossa fé e a nossa mensagem seriam inúteis
(1Co 15.12-14). Existem pelo menos duas razões para crermos na ressurreição do
Senhor. A primeira baseia-se nas palavras de Jesus que afirmara ser necessário
que Ele ressuscitasse dentre os mortos (Jo 20.9). A segunda razão é o fato de
Pedro e João terem verificado que Jesus já não estava no sepulcro quando
souberam do túmulo vazio (20.6,7). No entanto, quando Maria Madalena olhou
novamente para dentro do túmulo e viu dois anjos de Deus que lhe asseguraram
que Jesus estava vivo, ela não conseguiu imaginar que seria a primeira pessoa a
contemplar Jesus de forma gloriosa (Jo 20.11-17). Ele a instruiu para comunicar
aos discípulos que Ele estava vivo e que brevemente teriam a oportunidade de
vê-lo também (20.18,19).
- A ressurreição de Jesus Cristo não é apenas um
acontecimento extraordinário na narrativa dos Evangelhos — ela é o fundamento
da fé cristã, o eixo em torno do qual gira toda a esperança escatológica do
crente. O apóstolo Paulo, em sua magistral defesa da ressurreição em 1
Coríntios 15, é taxativo: “Se Cristo não
ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a nossa fé” (1Co 15.14). Em
outras palavras, sem a ressurreição, a cruz seria apenas uma tragédia, e o
cristianismo, um idealismo vazio. Como destaca Gordon D. Fee, para Paulo, a
ressurreição é a cláusula de validade de todo o plano redentor — se ela for
anulada, toda a estrutura da salvação desmorona¹. A primeira razão para crermos com segurança na ressurreição é
a autoridade das próprias palavras de Cristo. Em João 20.9, somos informados
que ainda não haviam compreendido as Escrituras que afirmavam que “era necessário que Ele ressuscitasse dos
mortos”. O verbo grego dei (δεῖ), traduzido por “era necessário”, carrega o
sentido de uma exigência divina e profética, indicando que a ressurreição não foi
um mero acaso, mas um cumprimento do propósito soberano de Deus. Como afirma
Anthony D. Palma, esse “necessário” é o eco dos planos eternos de Deus
revelados desde Moisés até os profetas². A segunda evidência poderosa é a constatação empírica e física
do túmulo vazio. Pedro e João correram ao sepulcro após ouvir o relato de Maria
Madalena (Jo 20.6-7) e encontraram ali os lençóis cuidadosamente dispostos, e o
sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus dobrado em outro lugar. O cuidado
com os detalhes reforça que não houve roubo ou confusão, mas sim uma ordem
sobrenatural indicando a vitória sobre a morte. Craig Keener observa que essa
descrição da cena é típica de uma narrativa ocular de alta credibilidade
histórica³. No
entanto, o ápice do relato é a experiência íntima e transformadora de Maria
Madalena. Ela chorava diante do túmulo quando viu dois anjos (Jo 20.11-13), mas
foi ao ouvir o próprio Jesus chamar seu nome — “Maria!” — que seus olhos se
abriram. A palavra grega legō (λέγω), aqui usada, revela mais que uma fala
comum: é uma palavra que toca a alma, que penetra a identidade. Ela se torna,
então, a primeira testemunha da ressurreição, incumbida por Jesus de anunciar
aos discípulos: “Subo para meu Pai e
vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17). Segundo Robert P. Menzies,
isso marca uma revolução na relação entre o Cristo glorificado e seus
seguidores, pois agora Ele compartilha com eles a mesma filiação espiritual
diante do Pai⁴. Assim,
a ressurreição é mais do que um milagre do passado: é a proclamação do início
da nova criação, o selo da vitória sobre o pecado e a morte, a certeza de que a
cruz não foi o fim, mas o portal da glória. Como declara o Comentário Bíblico
Beacon, a ressurreição é o “Amém de Deus” ao “Está consumado” do Calvário⁵.
Notas:
1- Gordon D. Fee, The
First Epistle to the Corinthians, NICNT, Eerdmans, p. 729-732.
2 - Anthony D. Palma, A
Obra do Espírito Santo, CPAD, p. 142.
3 - Craig S. Keener,
Comentário Bíblico do Novo Testamento, Vida, Jo 20.6-7.
4 - Robert P. Menzies,
Empowered for Witness, T&T Clark, p. 94.
5 - Comentário Bíblico
Beacon, CPAD, vol. 8, p. 401.
3. O Cristo Ressurreto quebra a incredulidade. Apesar do
receio e da incredulidade de alguns dos discípulos, mesmo após ouvirem o
testemunho de Pedro e João, e em especial, de Maria Madalena, que viu Jesus e
falou com Ele pessoalmente, Jesus apareceu entre os discípulos no primeiro dia
da semana. Ele surgiu no meio deles e disse: “Paz seja convosco!” (Jo 20.19).
Em outras ocasiões, nosso Senhor também se manifestou aos discípulos antes da
sua ascensão ao céu (Jo 21.1,2). A Pedro e a alguns outros que o seguiam, Jesus
revelou-se novamente e realizou o milagre da pesca abundante (Jo 21.3-11), uma
prova do poder do Cristo ressuscitado. Seria impossível permanecer incrédulo
depois de testemunhar o Cristo que venceu a morte.
- A incredulidade tem o poder de trancar portas — não
apenas as de casas, mas também as da alma. Os discípulos estavam reunidos “com as portas trancadas, por medo dos judeus”
(Jo 20.19), e o clima era de desespero, de perda, de dúvidas abafadas. Maria
Madalena já havia proclamado com lágrimas nos olhos: “Eu vi o Senhor!” (Jo 20.18). Pedro e João haviam testemunhado o
túmulo vazio e os lençóis dispostos com ordem (Jo 20.6-7). E ainda assim… o
medo sufocava a fé. Mas é exatamente aí, no ambiente denso da dúvida e da dor,
que Jesus entra. O verbo grego ēlthen (ἦλθεν) — “veio” — usado em João 20.19,
carrega a ideia de chegada repentina e soberana, indicando que nenhuma parede,
nenhuma alma fechada, é obstáculo para o Cristo glorificado¹. A primeira palavra do
Ressuscitado é: “Paz seja convosco” —
eirēnē hymin (εἰρήνη ὑμῖν). Essa não é apenas uma saudação educada. É uma
infusão do shalom divino que desarma o medo, cura a alma fragmentada e restaura
a esperança². Como
escreve Craig Keener, essa paz é um eco da promessa de João 14.27, onde Jesus
havia dito: “Deixo-vos a paz, a minha paz
vos dou”. Agora, essa paz é selada não com palavras, mas com as marcas dos
cravos nas mãos. A incredulidade não resiste ao toque das feridas redentoras³. Jesus aparece também à beira
do mar de Tiberíades (Jo 21.1), revelando-se mais uma vez, agora a Pedro e a
outros discípulos que haviam retornado às redes — às velhas rotinas, como quem
tenta reconstruir uma vida sem esperança. Mas o Cristo ressuscitado não permite
que seus escolhidos vivam de saudade ou remorso. Com ternura divina, Ele
realiza novamente o milagre da pesca abundante, como no início do ministério
(Lc 5.1-11), reacendendo o chamado e renovando a missão. Gordon Fee observa que
esse milagre é o símbolo da vocação restaurada — pois, mesmo após a negação,
Jesus chama Pedro de volta à liderança, agora temperada pelo quebrantamento⁴. O impacto da ressurreição é
tão avassalador que não apenas convence: quebra, reconstrói, envia. Anthony D.
Palma afirma que o Cristo ressurreto “não
veio apenas para ser admirado, mas para capacitar discípulos feridos a se
tornarem testemunhas cheias do Espírito”⁵. Pedro, o homem que chorou amargamente, será o mesmo que
levantará sua voz no Pentecostes, proclamando com ousadia: “A este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos
nós somos testemunhas” (At 2.32). O mesmo Cristo que entrou na sala
trancada é aquele que entra hoje nos recônditos da alma de quem ainda chora,
duvida e espera. Diante dEle, a incredulidade se desfaz como névoa ao sol da
manhã. A dúvida é vencida não por argumentos, mas pelo encontro real com o
Cristo vivo. Como escreveu Antônio Gilberto, “a presença viva de Jesus é a maior resposta que a alma humana pode
receber”⁶. Ao
leitor que ainda hesita, ou que já perdeu as palavras da fé: ouça novamente a
voz do Ressuscitado — “Paz seja contigo” — e permita que Ele entre, toque, cure
e envie.
Notas:
1 - Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, João 20.19.
2 - Bíblia de Estudo
Pentecostal, CPAD, nota sobre João 20.19.
3 - Craig S. Keener,
Comentário Bíblico do Novo Testamento, Vida, p. 1132.
4 - Gordon D. Fee, Jesus
the Lord According to Paul the Apostle, Eerdmans, p. 91.
5 - Anthony D. Palma, A
Obra do Espírito Santo, CPAD, p. 158.
6 - Antônio Gilberto,
Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, p. 221.
SINOPSE III
A
Ressurreição de Jesus, evidenciada pelo túmulo vazio, é a base da fé cristã e
transforma a incredulidade em convicção.
AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
RESSURREIÇÃO
“O
capítulo 20 é o clímax do Evangelho. Quatro das cinco seções neste capítulo
contêm estados semelhantes para os discípulos. Cada seção começa com um estado
de medo e/ou dúvida (i.e., fé fraca) e termina com alegria e fé fortalecida. As
aparições pós-ressurreição fazem com que a fé vivifique. No capítulo 20, todas
estas aparições acontecem em Jerusalém. [...] A crença vem com esta compreensão
da ressurreição. A ressurreição é a base da fé cristã. Paulo em 1 Coríntios 15
também confirma este fato concernente à fundação do cristianismo. Agora a fé
pode vir à existência. Sua meta está nó lugar certo. Esta é a razão das pessoas
não serem salvas à parte de Jesus e sua ressurreição. É essencial que os dois
apóstolos mais importantes vejam o sepulcro vazio, e que sua fé se complete,
depois de ter começado em João 2.11. Este é o testemunho apostólico. Contudo
João comenta que eles ainda não entendem a Escritura; em outras palavras, algo
está faltando, se bem que eles passaram do medo para a fé. No Novo Testamento,
o fator mais importante que o sepulcro vazio é as aparições pós-ressurreição”
(Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Volume 1. Rio de Janeiro:
CPAD, 2024, pp.605,606).
CONCLUSÃO
A Ressurreição
do Senhor Jesus é o evento mais significativo do Novo Testamento. Este
acontecimento concretiza a nossa esperança na Ressurreição do Corpo, tal como
está expresso no Credo Apostólico, um importante documento da tradição cristã:
“Creio na ressurreição da carne”. Assim, à luz deste fato, somos encorajados a
manter a nossa fé, pois depositamos a nossa esperança naquEle que triunfou
sobre a morte de forma definitiva.
- A Ressurreição do Senhor Jesus não é apenas mais um
episódio nas páginas do Novo Testamento — ela é o clímax da história da
redenção, o selo divino que autentica tudo o que Jesus ensinou, realizou e
prometeu. Ela não representa apenas a vitória de um homem sobre a morte, mas a
invasão do Céu na história humana, proclamando que o túmulo não é o destino
final para aqueles que estão em Cristo. O verbo grego egeírō (ἐγείρω),
frequentemente usado nos relatos da ressurreição, significa não apenas
“levantar”, mas ser levantado com poder soberano por ação direta de Deus (Rm
8.11). Jesus não ressuscitou como quem escapou da morte — Ele a esmagou sob
Seus pés, como o Vencedor que vive para sempre. O apóstolo Paulo declara com
veemência em 1Coríntios 15 que “se Cristo
não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã a nossa fé” (v.14). A fé
cristã não repousa sobre filosofias, nem sobre moralidades, mas sobre um túmulo
vazio e um trono ocupado nos céus. E essa verdade é tão vital que os primeiros
cristãos arriscaram tudo, inclusive a própria vida, para proclamar que Aquele
que fora crucificado agora reina vivo. Como escreve Craig Keener no Comentário
Bíblico do Novo Testamento, Vida, p. 1154: “a
ressurreição de Jesus é a centelha que incendiou o movimento cristão com uma
coragem sobrenatural”. A Ressurreição não é apenas uma doutrina a ser
confessada, mas uma experiência que transforma tudo: o coração, o destino e a
eternidade. Quando o Credo Apostólico declara: “Creio na ressurreição da carne”, ele não se refere a uma esperança
abstrata, mas sim a uma esperança enraizada em um evento histórico e corpóreo:
o corpo real de Jesus venceu a morte real. Como nos ensina Antônio Gilberto na Teologia
Sistemática Pentecostal, CPAD, p. 226: “a
ressurreição de Cristo é a garantia irrevogável da ressurreição futura dos que
creem Nele”. Essa convicção transformou mártires em adoradores, e
perseguidos em proclamadores da verdade. Quem contempla o Cristo ressuscitado
não pode mais viver da mesma maneira. Ele nos convida a olhar para a morte não
com temor, mas com fé. O túmulo é apenas uma porta — e Jesus é a chave que a
destrancou para sempre. Mais do que uma lembrança pascal, a Ressurreição é um
chamado diário à fidelidade, à esperança e à santidade. Quem realmente crê que
Cristo vive, não pode permanecer no pecado como se nada tivesse mudado. Como
escreve Gordon D. Fee, em Paul, the
Spirit, and the People of God, Hendrickson, p. 150: “o poder que ressuscitou Jesus habita agora nos crentes, santificando
sua vida e preparando-os para a glória futura”. Este não é um convite
religioso; é um clamor do Céu aos corações adormecidos: Desperta, ó tu que
dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará! (Ef 5.14). O Cristo
vivo nos chama a viver não apenas com fé, mas com os olhos fixos no dia em que
também seremos ressuscitados em glória imortal (1Co 15.52-53). Se hoje o seu
coração estiver frio, se a sua fé estiver ferida, se a sua esperança parecer
enterrada, volte-se para o túmulo vazio. Ouça de novo a voz do anjo: “Ele não
está aqui! Ressuscitou!” (Mt 28.6). E como Maria Madalena, corra, chore,
prostre-se — mas, sobretudo, anuncie. O Cristo que venceu a morte venceu também
por você. E por isso, não há mais noite, nem desespero, nem derrota definitiva.
Está consumado. Está vivo. E voltará._______________
Meu
ministério aqui é um chamado do coração — compartilhar o ensino da
Palavra de Deus de forma livre e acessível, para que você, irmão ou irmã em
Cristo, possa crescer na fé e no conhecimento das Escrituras, sem barreiras,
com subsídios preparados por um Especialista em Exegese Bíblica do Novo
Testamento.
Todo o material que ofereço é fruto
de oração, estudo e dedicação, e está disponível gratuitamente para que a luz
do Evangelho alcance ainda mais vidas sedentas pela verdade. Porém, para que
essa missão continue firme, preciso da sua ajuda.
Chave
PIX: assis.shalom@gmail.com
Juntos, podemos fazer a diferença. Conto com você!
REVISANDO O CONTEÚDO
1. De que maneira Jesus foi reconhecido e traído por
Judas?
Tendo
concordado com a traição em troca de 30 moedas de prata, o traidor identificou
Jesus com um beijo traiçoeiro, indicando aos soldados romanos quem Ele era.
2. Em que momento se concretizou a profecia de Isaías?
Jesus
foi ferido e teve a sua carne dilacerada pelos golpes (Jo 19.1,2). Nesse
momento, nosso Senhor assumiu as nossas enfermidades e dores; foi afligido e
oprimido, foi castigado pelas nossas transgressões e iniquidades; cumprindo
assim a profecia do profeta Isaías (Is 53.4,5).
3. De acordo com Isaías 53-12, o que se realizou durante
a crucificação de Jesus?
Ao
lado de Jesus, à sua esquerda e à sua direita, estavam dois homens acusados
como criminosos. É curioso notar que o profeta Isaías também mencionou isso
anteriormente, no capítulo 53.12, afirmando que ele “foi contado com os
transgressores”.
4. Segundo a lição, quem acompanhava Maria Madalena na
visita ao túmulo?
Maria
Madalena dirigiu-se ao sepulcro (Jo 20.1), acompanhada por Maria, mãe de Tiago,
e Salomé (Mc 16.1-3), com a intenção de ungir o corpo de Jesus.
5. Indique uma das razões plausíveis para acreditar na
ressurreição do Senhor Jesus.
A
primeira baseia-se nas palavras de Jesus que afirmara ser necessário que Ele
ressuscitasse dentre os mortos (Jo 20.9).
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
DO JULGAMENTO À RESSURREIÇÃO
A lição desta
semana destaca a consumação da obra de Cristo neste mundo. Dois momentos
cruciais que culminam a missão de Cristo são Sua morte na cruz e,
posteriormente, Sua ressurreição. Sem este último evento a esperança da
salvação seria anulada, haja vista ser necessário Cristo vencer as amarras da
morte (At 2.24). É importante compreender o propósito da morte e ressurreição
de Cristo nesse contexto. Enquanto Sua morte como “Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo” (Jo 1.29) atende à justiça divina, por outro lado sua
ressurreição aponta para a esperança da vida eterna. Se Cristo ressuscitou dos
mortos, a doutrina da ressurreição está fundamentada. Logo, todos que creem em
Jesus têm assegurado o direito à ressurreição para a salvação eterna no Dia em
que Cristo voltar para arrebatar Sua igreja. É por causa da ressurreição de Jesus
que temos a esperança da ressurreição, pois se morrermos antes da Sua Vinda,
ressuscitaremos quando a trombeta soar na ocasião do arrebatamento dos salvos
(1Ts 4.16,17). A Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global (CPAD) fundamenta
a doutrina da ressurreição da seguinte forma: “A Bíblia revela pelo menos três
motivos pelos quais a ressurreição do corpo é necessária: a. O corpo é uma
parte essencial da personalidade humana total; os homens são incompletos sem um
corpo. Por essa razão, a redenção (isto é, a salvação, restauração, libertação,
renovação espiritual) que Cristo oferece se aplica à pessoa inteira, incluindo
o corpo (Rm 8.18-25); b. O corpo é o templo do Espírito Santo (1Co 6.19) para
aqueles que seguem a Cristo. No momento da ressurreição, ele se tornará
novamente um templo do Espírito; c. A fim de desfazer o resultado trágico do
pecado em todos os níveis, o inimigo final da humanidade — a morte do corpo —
deve ser vencido pela ressurreição (1Co 15.26). [...] Nossa ressurreição
corpórea é garantida pelo fato de Cristo ter ressuscitado dos mortos (Mt 28.6;
At 17.31; 1Co 15.12,20-23)”. Apesar de muitos estudiosos do meio secular
questionarem ou até mesmo negarem a ressurreição de Jesus, temos a promessa
bíblica de que nossa esperança não será malograda (Pv 23.18). O autor da Carta
aos Hebreus endossa que “retenhamos firmes a confissão da nossa esperança;
porque fiel é o que prometeu” (Hb 10.23). Nestes últimos dias, os crentes são
convocados à vigilância quanto à santificação e a buscarem a renovação
espiritual para o exercício de uma fé genuína, tendo em vista que o
arrebatamento dos santos pode ocorrer a qualquer momento.