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7 de julho de 2024

EBD ADULTOS| Lição 2: O Livro de Rute |3° Trim/2024

 Pb Francisco Barbosa

 

TEXTO ÁUREO

“E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos” (Rt 1.1)

Entenda o Texto Áureo:

- Essa introdução coloca em movimento os acontecimentos seguintes, que atingem o clímax no nascimento de Obede e sua relação com linhagem davídica de Cristo. fome. Essa calamidade parece semelhante àquela dos dias de Abraão (Gn 12), Isaque (Cn 26) e Jacó (Gn 46). O texto não especifica se essa fome era devida a um castigo de Deus (cf. 1 Rs 17—18, especialmente 18.2). Belém de Judá. Belém ("casa de pão") fica no território dado à tribo de Judá (Js 15), c. 9 km ao sul de Jerusalém. Raquel, esposa do Jacó, foi sepultada ali perto (Gn 35.19; cf. 4.11). Belém recebeu, em tempo posterior o título de "cidade de Davi" (Lc 2.4,11). Mais tarde, Maria deu à luz Cristo ali (Lç 2.4-7; cf. Mc 5.2), onde também Herodes matou os meninos. Esse título (Jz 17.7,9; 19.1-2,18} serve para distinguir essa Belém da Belém de Zebulom (Js 19.15). habitar. Elimeleque tencionava morar temporariamente em Moabe como estrangeiro até que o período de escassez de alimento terminasse.

 

VERDADE PRÁTICA

Servir a Deus não nos isenta de crises. Em qualquer circunstância, o segredo é permanecer fiel, confiando na providência divina.

Entenda a Verdade Prática:

- Em tempos de crise, é importante lembrar que a fé em Deus não nos isenta das tribulações, mas nos fortalece para enfrentá-las.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Rute 1.1-5

1. E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos.

- nos dias que governavam os juízes. No hebraico, julgavam. Esta nota de tempo, assim como em Juízes 17:6; 18:1, etc., indica que este livro foi escrito após o fim do governo dos juízes; e  Rute 4:7 contém uma prova adicional de um intervalo considerável de tempo entre Boaz e o escritor. A genealogia, Rute 4:17-22, aponta o tempo de Davi como o mais antigo em que o livro poderia ter sido escrito. que houve fome na terra. Provavelmente causada por algumas das invasões hostis registradas no Livro de Juízes; mas é impossível decidir qual delas. um homem de Belém de Judá, foi a peregrinar, etc. A narrativa é muito semelhante à de Juízes 17:7-8; e a localidade aqui – Belém de Judá – é a mesma que naquele capítulo, e em Juízes 19. A maioria dos comentaristas judeus, a partir da menção de Belém e da semelhança dos nomes Boaz e Ibzã, relacionam esta história ao juiz Ibzã, Juízes 12:8, mas sem probabilidade.  [Cook, 1886]

2. E era o nome deste homem Elimeleque, e o nome de sua mulher, Noemi, e os nomes de seus dois filhos, Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e vieram aos campos de Moabe e ficaram ali.

- efrateus, etc. Ou seja, habitantes de Efrata (Rute 4:11), que era o antigo nome de Belém (Gênesis 35:16, 19), frequentemente combinado com ele, como em Miqueias 5:2. Jessé é chamado efrateu em 1Samuel 17:12. aos campos de Moabe. Aqui, e nos versículos 1, 22 e 4:3, é literalmente “o campo” ou “os campos”. A mesma palavra é usada para o território de Moabe (Gênesis 36:35; Números 21:20; 1Crônicas 1:46), e para os amalequitas (Gênesis 14:7), para Edom (Gênesis 32:3; Juízes 5:4), para os filisteus (1Samuel 6:1; 27:7, 11). Parece ser um termo usado de forma específica em referência a um país estrangeiro, e não ao país do falante ou escritor; e ter sido aplicado especialmente a Moabe. [Cook, 1886].

3. E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,

4. os quais tomaram para si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos.

- Orfa. Seu nome significa "obstinada". Rute. Seu nome significa "amizade". quase dez anos. Esse período parece incluir todo o tempo que Noemi residiu em Moabe.

5. E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim esta mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.

- ficando, assim, a mulher. Noemi, viúva de Moabe cujos dois filhos também haviam morrido, acreditava que o Senhor a havia afligido com dias amargos até o fim de sua vida (1.13.20-21). Não são dados os motivos da morte desses três homens. Rute casou-se com Malom, e Orfa com Quiliom (cf. 4.10).

 

INTRODUÇÃO

O livro de Rute se destaca não apenas por sua beleza literária mas, principalmente, pela profundidade espiritual de sua mensagem. Fonte de inspiração para judeus e cristãos ao longo dos séculos, o livro narra uma história de amizade, amor e redenção. Uma extraordinária demonstração de como o Todo-poderoso trabalha em meio às crises para cumprir seus desígnios eternos. Ele transforma tristeza em alegria, perdas em ganhos, derrotas em vitórias. Rute nos apresenta Jeová-Jireh, o Deus que provê (Gn 22.14).

- O Livro de Rute não revela especificamente o nome do seu autor. A tradição é que esse livro foi escrito pelo profeta Samuel. O nome Rute significa amizade, uma característica muito aguçada da personagem principal. O Livro foi escrito para os israelitas e ele ensina que o amor verdadeiro pode às vezes exigir um sacrifício intransigente. Independentemente do que a vida nos traga, podemos viver de acordo com os preceitos de Deus. Genuíno amor e bondade serão recompensados. Deus abençoa abundantemente aqueles que procuram viver uma vida obediente. Vida obediente não permite "acidentes" no plano de Deus. Deus estende misericórdia aos misericordiosos.

 

I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO

 

1. Na Bíblia Hebraica. O Livro de Rute pertence à terceira divisão ou seção da Tanakh, a Bíblia Hebraica, que é composta apenas dos livros do Antigo Testamento da Bíblia Cristã. Essa terceira seção é chamada Ketuvim ou Hagiógrafos (Escritos). A primeira seção é a Torá (Pentateuco) e a segunda é a Neviim (Profetas) (Lc 24.4à. Dentre os Escritos, que são onze livros, estão os Megillot (cinco rolos), livros curtos lidos publicamente nas festas judaicas anuais: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester. Em função de narrar fatos ocorridos durante a colheita, a leitura litúrgica de Rute era tradicionalmente feita durante o Shovuot (Pentecoste), a festa da colheita.

- Interrompendo a História Deuteronomista, o livro de Rute é posto aqui, em nossas Bíblias, após o livro dos Juízes pelo fato de que inicia, lembrando o tempo dos juízes (Rt 1,1). Na Bíblia Hebraica (se é correto usar esse termo, Bíblia é cristã, o livro sagrado dos judeus é o Tanah), ele faz parte dos escritos (ketuvim) e um dos cinco rolos (megilôt), que se liam nas festas principais do povo judeu. O livro de Rute é lido na festa de Pentecostes. O Tanakh é o conjunto de livros que nós conhecemos como Antigo Testamento. O Tanakh é dividido em 24 livros, que correspondem aos 39 livros do antigo testamento cristão (protestante), esta discrepância numérica se dá pelo fato de muitos livros da bíblia judaica terem sido divididos em diversas partes (como os livros de Reis ou Samuel) na bíblia cristã. Também a ordem com que os livros aparecem na bíblia hebraica é diferente da bíblia cristã. O Tanakh é dividido em três grandes partes: a Torah (a Lei), os Nevi’ im (os profetas) e os Ketuvim (os escritos, que correspondem aos livros sapienciais). A Torah possui cinco livros, os Nevi’im oito e os Ketuvim onze.

2. Na Bíblia Cristã. Enquanto a Bíblia Hebraica está dividida em três seções (Pentateuco, Profetas e Escritos), o Antigo Testamento da Bíblia Cristã é composto de quatro: Pentateuco, Poéticos, Históricos e Proféticos. Rute está categorizado como um livro histórico, por seu evidente gênero narrativo. Mas é identificado também por sua extraordinária beleza poética. Empregando estilo e linguagem próprios do hebraico clássico, o autor expõe aspectos subjetivos da vida dos personagens (Rt 1.12-21; 2.13,20; 3.1; 4.16). A obra está organizada em quatro capítulos, somando 85 versículos.

- Os livros da Bíblia estão agrupados por temas ou gêneros literários, não pela ordem histórica ou cronológica. E essa é a ordem das Bíblias, hoje:

1. Pentateuco

Conhecidos também como os livros da lei, são os primeiros 5 livros da Bíblia e contam sobre as origens da humanidade e da nação de Israel. Têm os Dez Mandamentos e as leis da Velha Aliança.

Livros: Gênesis, Êxodo, Levitico, Números e Deuteronômio.

2. Livros históricos

Contam os eventos da história do povo de Israel, desde sua chegada em Canaã até ser conquistado por outros povos.

Livros: Josué, Juízes, Rute, 1/2 Samuel, 1/2 Reis, 1/2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester.

3. Livros Poéticos/Sabedoria

Poemas de louvor a Deus, ditados e conselhos úteis.

Livros: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiástes, Cântico dos Cânticos.

4. Profecias

Revelações que Deus deu a vários profetas sobre o futuro de Israel e seus vizinhos, a vinda de Jesus e o fim do mundo.

Livros dos Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel.

Livros dos Profetas Menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

3. Autoria e data. Há uma diversidade de opiniões entre os eruditos acerca da autoria e data do Livro de Rute. Samuel é o autor mais provável. O Talmude, obra milenar de regulamentos e tradições judaicas, atribui a ele a autoria. A forma como o autor se refere a Jessé e Davi, parece indicar contemporaneidade e familiaridade com os personagens, o que também aponta para Samuel (Rt 4.17). Além disso, as características gerais da obra indicam uma atmosfera própria do início do período da monarquia de Israel. Sendo assim, o livro teria sido escrito no século X a.C.

- A tradição judaica credita a autoria do livro a Samuel, o que é plausível já que ele morreu (ISm 25.1) somente depois de ter ungido Davi como o rei escolhido por Deus (ISm 16.6-13). No entanto, nem referências internas nem testemunhos externos são conclusivos na identificação do autor. Essa história extraordinária muito provavelmente surgiu um pouco antes ou durante o reinado de Davi em Israel (1011-971 a.C.), já que Davi é mencionado no livro (4.17,22), mas não Salomão. É dito que Goethe classificou essa anônima, mas ainda não superada obra da literatura como "a obra numa escala menor mais admirável e completa", o que Vênus é para a estatuária, e Mona Lisa para a pintura, Rute é para a literatura. A questão da data está diretamente vinculada à questão da autoria do livro. Assim, como a autoria, é difícil identificar explicitamente a data da redação do livro. As evidências linguísticas dão alguma pista. A linguagem e o estilo de Rute são puros, clássicos, em nível semelhante a Samuel. Via de regra, o hebraico clássico implica em data da monarquia unida entre os reinados de Saul à Salomão. Afirma-se também que a menção do rei Davi pelo nome implica num período de redação obviamente não anterior ao reino davídico. Nenhum outro rei é mencionado, nem mesmo Salomão. Para alguns, isto é indício que o livro não foi escrito no período de Salomão. Assim, a conclusão mais segura é que este livro foi composto no início, ou durante o reinado de Davi. Os comentaristas judeus apontam o ano de 973 a.C. como marca em seu calendário. Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, pág. 658.

 

II. O CONTEXTO HISTÓRICO

 

1. No tempo dos juízes. Não há uma data precisa para os fatos narrados em Rute. O que sabemos é que ocorreram três gerações antes de Davi, nos dias dos juízes (Rt 1.1; 4.21,22). Esse período (dos juízes) durou mais três séculos. Começou depois da morte de Josué (por volta de 1375 a.C.) e se estendeu até o início da monarquia de Israel, com a ascensão de Saul ao trono (1050 a.C.). Foi marcado por uma grande anarquia e uma profunda apostasia e infidelidade do povo hebreu (Jz 1.7-19). Uma frase que identifica bem aquela época sombria é: “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Jz 17.6). Sem uma sábia direção, o povo perece (Pv 11.14).

- A história de Rute aconteceu “nos dias em que julgavam os juízes” (1.1), cerca de 1370 a 1041 a.C. (Jz 2.16-19), e desse modo liga o tempo dos juízes ao período dos reis de Israel. Deus usou "uma fome na terra" de Judá (1.1) para criar o cenário desse bonito drama, embora a fome não seja mencionada em Juizes, o que dificulta o estabelecimento da data dos acontecimentos de Rute. No entanto, voltando-se no tempo para a bem conhecida data do reinado de Davi (1011-971 a.C.), o período de tempo de Rute mais provavelmente seria durante o juizado de Jair, cerca 1126-1105 a.C. (Jz 10.3-5). Rute cobre um período de mais ou menos 11 ou 12 anos de acordo com o seguinte cenário:

            1) 1.1-18, dez anos em Moabe (1.4);

            2) 1.19—2.23, vários meses (meados de abril a meados de junho) nas plantações de Boaz (1.22—2.23);

            3) 3.1-13, um dia em Belém e uma noite na eira; e

            4) 4.1-22, cerca de um ano em Belém.

2. Secularismo, hedonismo e idolatria. Depois da morte de Josué e dos demais líderes de seu tempo, levantou-se uma geração que não tinha uma profunda comunhão com Deus e não conhecia o que Ele havia feito ao povo hebreu. Israel cedeu ao estilo de vida pecaminoso dos cananeus e foi atraído à adoração dos seus deuses (Jz 2.7-13; 3.5-7). Secularismo e hedonismo sempre levam a grandes tragédias morais e espirituais. O pervertido culto a Baal (o deus da chuva) e a Astarote (a deusa do sexo e da guerra) passou a set praticado pela nação hebreia, em um degradante nível de imoralidade e idolatria. A falta de uma liderança espiritualmente madura e temente a Deus causa prejuízos incalculáveis ao povo. No Reino de Deus, não basta ter carisma para liderar; é preciso ter caráter aprovado (1 Tm 3.2-13; 2 Tm 2.15; Tt 2.7,8).

- Os juízes de Israel foram pessoas escolhidas por Deus e especialmente dotadas para julgar e liderar o povo de Israel (Jz 2.16-23; 3.9,10; 1Sm 12.9-11; 2Sm 7.11). O período em que essas pessoas lideraram o povo de Deus ficou conhecido como “o período dos juízes”. O período dos juízes foi o momento histórico que constituiu a transição do governo de Moisés para o reinado dos reis de Israel. Este período é descrito no livro de Juízes, no Antigo Testamento. O período dos juízes começou com a opressão de Cusã-Risataim após Josué e os anciãos terem morrido, e o povo de Israel ter se entregado a uma profunda apostasia. Por fazer o que era mau aos olhos do Senhor, e adorar deuses estranhos, Deus permitiu que Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, subjulgasse o povo de Israel durante oito anos (Jz 2.7-11; 3.7,8). Após este tempo, o Senhor levantou Otniel, sobrinho ou talvez irmão de Calebe, para libertar o povo dando início ao período dos juízes. O período dos juízes terminou quando Saul foi eleito rei de Israel, em aproximadamente 1050. Logo, a maioria dos estudiosos entende que o período dos juízes durou aproximadamente 320 anos.

3. Opressão, clamor e livramento. A apostasia tornou Israel presa fácil de seus inimigos, que atacavam e saqueavam suas cidades e terras, e mantinham o povo sob domínio opressor por longos períodos (Jz 3.7-9;12-14; 4.1-3; 6.1-6). Afligida, a nação clamava a Deus, e o Senhor levantava juízes para libertar o seu povo. Esses juízes (heb. shophetim) não eram magistrados civis, como os que conhecemos hoje, que julgam em fóruns e tribunais. Eram libertadores geralmente líderes militares, como Otniel, Baraque e Gideão (Jz 3.9-11; 4.10-15; 7.16-25) – , poderosamente usados por Deus para “julgar” a causa de Israel, livrando-o de seus opressores. Apesar dos repetidos ciclos de infidelidade da nação, Deus ouvia o gemido do seu povo em seus momentos de dor e aflição (Jz 2.18). O Senhor é longânimo e cheio de misericórdia (Sl 103.8; Jl 2.13; Rm 2.4; Lm 3.22). Ele ouve os que a Ele clamam (Jr 29.12,13; Is 55.6).

- Os juízes de Israel foram pessoas levantas por Deus em tempos de crise, e eram capacitados pelo Espírito Santo de Deus para julgar e liderar o povo. No livro de Juízes lemos: “E levantou o Senhor juízes, que os livraram da mão dos que os despojaram” (Jz 2.16; cf. 3.10; 13.25; 14.19; Sl 106.43-45; At 13.20). As funções judiciais exercidas por eles estavam diretamente ligadas à liderança espiritual sobre o povo (1Cr 17.6; 2Sm 7.7). Os juízes permaneciam em suas funções até morrerem (Jz 2.19; 1Sm 4.18; 7.15), e, diferente dos reis, eles não estabeleceram um governo hereditário em Israel (Jz 8.22,23). Esses juízes eram heróis nacionais, e algumas vezes são designados como “libertadores”. Uma lista com os juízes de Israel geralmente sofre algumas discussões. Alguns consideram apenas a lista dos juízes nos doze ciclos presente no livro de Juízes, com Sansão sendo o último deles. Outros também incluem Eli (1Sm 4.18) e Samuel (1Sm 7.15) na lista oficial de juízes de Israel. Seja como for, obviamente Eli e Samuel lideraram e julgaram Israel antes da instituição da monarquia, apesar de não serem citados no livro dos Juízes e a atuação destes possuir algumas diferenças pontuais com relação aos líderes citados no livro dos Juízes. Mesmo dentro da lista fornecida pelo livro dos Juízes, existe uma discussão entre os intérpretes acerca de Débora e Baraque. Alguns consideram apenas a liderança de Débora, outros contam separadamente Débora e Baraque, e, outros, unificam a atuação de ambos.

 

III. PROPÓSITO E MENSAGEM

 

1. O cetro de Judá. Vários propósitos são atribuídos ao Livro de Rute. O principal e mais evidente deles é apresentar Davi como descendente de Judá, a tribo real da qual viria o Messias, “o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi” (Ap 5.5; cf. Rt 4.18-22). Gênesis 49.10 diz: “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos”. Embora Rúben fosse o primogênito de Jacó, seu ato de desonra ao leito do pai, deitando-se com sua concubina, fez com que perdesse a primogenitura – a posição de liderança (Gn 35.22; 49.4). A promessa feita a Abraão seguia, agora, pela descendência de Iudá. Sendo Samuel o autor do livro de Rute, o propósito de registrar a genealogia de Davi ganha ainda mais sentido, já que naquele tempo o rei de Israel era Saul, uffi benjamita (1Sm 9.1,2; 25.1). A ancestralidade de Davi o legitimava para o trono.

- Pelo menos sete temas teológicos importantes aparecem em Rute. Primeiro, Rute, a moabita, ilustra que o plano redentor de Deus estende-se não somente aos judeus, mas também aos gentios (2.12). Segundo, Rute demonstra que as mulheres são coerdeiras com os homens da graça salvadora de Deus (cf. Gl 3.28). Terceiro, Rute retrata a mulher virtuosa de Pv 31.10 (cf. 3.11). Quarto, Rute descreve a soberania de Deus (1.6; 4.13) e seu cuidado providencial (2.3) para com pessoas aparentemente sem importância em tempos aparentemente insignificantes, que mais tarde demonstraram ser de grandiosa importância crucial para o cumprimento da vontade de Deus. Quinto, Rute juntamente com Tamar (Gn 38), Raabe (Js 2) e Bate-Seba (2Sm 11—12) encontram-se na genealogia da linhagem messiânica (4.17,22; cf. Mt 1.5). Sexto, Boaz como um tipo de Cristo, torna-se o parente resgatador de Rute (4.1-12). Finalmente, o direito de Davi (e assim o direito de Cristo) ao trono de Israel remonta a Judá (4.18-22; cf. Gn 49.8-12).

2. Amor e redenção. A mensagem principal de Rute é o amor de Deus e seu plano de redenção da humanidade. Como representantes de judeus e gentios, respectivamente, Boaz e Rute prenunciam a derrubada da parede de separação (Ef 2.11-16). A redenção é vista, o livro, nos sentidos literal e tipológico. Boaz é o parente remidor que preservou a descendência de EIimeleque, mas é, também, um tipo de Cristo, nosso Redentor (Is 59.20; Lc 1.68; Ef 1.7; Tt 2.14).

- A comentarista Joyce W. Every-Clayton observa que "o livro de Rute relata a história de uma pequena família. Mas uma família é a célula na qual age o Deus da história; como consequência, o livro e a história da família de Rute também abordam assuntos de vida nacional e vida religiosa. Porém a ênfase principal não é política, mas pessoal." Joyce W. Every-Clayton, Em Diálogo com a Bíblia: Rute, pág. 11. O comentarista David Atkinson observa que "o que está claro é que, através de sua leitura, aprendemos algo da vida rural do século XI ou XII a.C. na Palestina, a rotina do dia-a-dia, a necessidade do trabalho, as alegrias familiares, a dor da morte, a separação dos parentes, o relacionamento com a sogra. E, na ilustração de pureza, inocência, fidelidade e lealdade, dever e amor, o escritor deseja que os seus leitores percebam a mão de Deus, que cuida, sustenta e provê." David Atkinson, A Mensagem de Rute, págs. 25-26.

3. Fidelidade e altruísmo. O livro de Rute abre uma janela que nos permite ver que nem tudo eram trevas nos dias dos juízes. Havia um remanescente fiel, que temia a Deus e foi usado por Ele para cumprir seus propósitos (Jó 42.2). Em um mundo de crescente iniquidade, o justo vive pela fé (Hc 2.4; cf. Mt 24.12,13). Outra eloquente mensagem do livro é o valor do altruísmo em que predominava o egoísmo. Nos dias dos juízes, a maioria vivia segundo os seus próprios padrões e interesses (Jz 21.25). Noemi e Rute destoaram dessa máxima individualista. Sogra e nora não pensavam em si mesmas. O amor não é egoísta (1Co 13.5).

- A configuração do Livro de Rute começa no país pagão de Moabe (região nordeste do Mar Morto) e então se muda para Belém. Este relato verdadeiro ocorre durante o Período dos Juízes, período marcado por dias sombrios de fracasso e rebelião dos israelitas. A fome faz com que Elimeleque e sua mulher, Noemi, saiam de sua casa israelita ao país de Moabe. Elimeleque morre e acaba deixando Noemi com seus dois filhos, que logo acabam se casando com duas moças moabitas, Orfa e Rute. Mais tarde os dois filhos morrem e Noemi fica sozinha com Orfa e Rute em uma terra estranha. Orfa volta a seus pais, mas Rute decide ficar com Noemi enquanto viajam para Belém. Esta história de amor e devoção fala do eventual casamento de Rute com um homem rico chamado Boaz, por quem ela tem um filho, Obede, que se torna avô de Davi e o ancestral de Jesus. Obediência traz Rute à linhagem privilegiada de Cristo.

 

CONCLUSÃO

O livro de Rute nos ensina que, a despeito da incredulidade e dos pecados do homem, Deus sempre trabalha para cumprir os seus desígnios. Sem violar o princípio do livre-arbítrio humano, o Todo-poderoso conduz a história e executa seu plano eterno de redenção. O livro também nos mostra como a fidelidade de Deus se aplica às circunstâncias comuns da vida. Em tudo Ele é fiel (Is 64.4).

- A soberania do nosso grande Deus é claramente vista na história de Rute. Ele guiou cada passo do caminho para que Rute se tornasse Sua filha e cumprisse o Seu plano de se tornar um ancestral de Jesus Cristo (Mateus 1.5). Da mesma forma, podemos ter certeza de que Deus tem um plano para cada um de nós. Do mesmo jeito que Noemi e Rute confiaram que Deus cuidaria delas, assim também devemos fazer. Vemos em Rute um exemplo da mulher virtuosa de Provérbios 31. Além de ser dedicada à sua família (Rute 1.15-18; Provérbios 31.10-12) e fielmente dependente de Deus (Rute 2.12, 31.30), vemos em Rute uma mulher de discurso piedoso. Suas palavras são amorosas, gentis e respeitosas, tanto com Noemi quanto com Boaz. A mulher virtuosa de Provérbios 31 “Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua” (v. 26). Seria difícil encontrar uma mulher hoje tão digna de ser o nosso exemplo como Rute.

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Pb Francisco Barbosa (@Pbassis)

Graduado em Gestão Pública;

Teologia pelo Seminário Martin Bucer (S.J.C./SP);

Pós-graduando em Teologia Bíblica e Exegese do Novo Testamento, pela Faculdade Cidade Viva (J.P./PB);

Servo, barro nas mãos do Oleiro.

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REVISANDO O CONTEÚDO

1. Como o livro de Rute é classificado na Bíblia Hebraica?

O Livro de Rute pertence à terceira divisão ou seção da Tanakh, a Bíblia Hebraica: Ketuvim ou Hagiógrafos (Escritos).

2. Como e por que o livro é categorizado na Bíblia Cristã?

Rute está categorizado como um livro histórico, por seu evidente gênero narrativo.

3. Que evidências apontam para a autoria de Samuel?

O Talmude, obra milenar de regulamentos e tradições judaicas, atribui a ele a autoria. A forma como o autor se refere a Jessé e Davi parece indicar contemporaneidade e familiaridade com os personagens, o que também aponta para Samuel (Rt 4.17).

4. Qual o contexto histórico de Rute?

O tempo dos Juízes.

5. Qual a principal mensagem do livro?

Vários propósitos são atribuídos ao Livro de Rute. O principal e mais evidente deles é apresentar Davi como descendente de Judá, a tribo real da qual viria o Messias, “o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi” (Ap 5.5; cf. Rt 4.18 -22).