TEXTO
AUREO
“Olhai, pois, por
vós e por todo o rebanho sobre o que o Espírito Santo vos constituiu bispos,
para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (At 20.28)
VERDADE
PRATICA
No Reino de Deus, a liderança mais
antiga zela pelas lideranças mais novas. Os jovens vocacionados precisam de
cuidado e zelo
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
Atos 20.17-34
INTRODUÇÃO
Nesta lição, vamos estudar sobre o
grande legado do apóstolo Paulo para os obreiros da atualidade. Sua maneira de
ensinar os novos vocacionados, seu legado doutrinário para novos obreiros e
seus apelos aos líderes para cuidar do rebanho de Deus. Temos muito o que
aprender com a vida e o ministério do apóstolo dos gentios. Que o Espírito
Santo fale aos nossos corações!
Comentário
Na leitura bíblica em classe, especificamente
o versículo 19, o apóstolo relata que derramou lágrimas; Paulo chorou:
1) porque eles não conheciam a Cristo (Rm
9.2-3);
2) pelos crentes em dificuldades e imaturos (2Co
2.4); e
3) por causa da ameaça de falsos mestres (vs.
29-30).
Muitas foram as ciladas dos judeus (2Co
11.24,26) e, ironicamente, foi a cilada dos judeus em Corinto que deu
oportunidade aos presbíteros de Éfeso se encontrarem com Paulo. Paulo ensinou
na sinagoga e na escola de Tirano. EIe reforçou o ensino público com instrução
prática de indivíduos e famílias. O profundo senso de dever de Paulo para com o
Mestre que o havia redimido e chamado para o serviço lhe impunha obrigação,
apesar das ameaças do perigos e tribulações. Paulo sabia que enfrentaria
perseguição em Jerusalém (Rm 15.31), embora desconhecesse os detalhes até ouvir
a profecia de Ágabo (At 21.10,11).
I – ÉFESO, O PONTO DE APRENDIZADO DO
VOCACIONADOS
1. O ponto de partida. Em lição anterior, vimos que Antioquia foi o lugar de
desenvolvimento vocacional do apóstolo Paulo (At 13.1). Em Éfeso, o apóstolo
permaneceu mais tempo e, por isso, dali surgiu um local estratégico para formar
novos discípulos. Assim, preparar seus colaboradores vocacionados para atuar
nas igrejas da Ásia era uma tarefa importante, pois o ministério de Paulo já
estava mais independente dos apóstolos de Jerusalém, embora não perdesse a
comunhão com a igreja mãe. Logo, sem uma boa preparação dos novos lideres, a
obra de Deus não pode ser feita com eficácia. E preciso cuidar das novas
vocações.
Comentário
Também conhecida como Antioquia do Orontes,
devido o rio em cujas proximidades ela se situava. Não deve ser confundida com
a Antioquia da Pisídia (At 13.14). Era uma das dezesseis cidades fundadas por
Seleuco I, por volta de 310 a.C. e cujos nomes foram dados em homenagem a seu
pai, Antíoco. Era a terceira cidade do império romano. Só perdia em importância
para Roma e Alexandria. Foi conquistada por Pompeu, em 64 a.C, e passou a ser a
capital da Síria, que se tornou um província romana. Distava 500 quilômetros de
Jerusalém e gozava de posição estratégica favorável para as missões, pois
localizava-se na divisa entre os dois mundos culturais da época: o grego e
semita. A igreja de Antioquia era uma importante base missionária dos primeiros
anos do Cristianismo. Um estudo bíblico sobre aquela comunidade cristã mostra
que ela foi responsável por enviar ao campo missionário ninguém menos que o
apóstolo Paulo, mediante a ordem do Espírito Santo. Isso significa que a igreja
de Antioquia desempenhou um papel na grande propagação do Evangelho no Império
Romano no primeiro século. As notícias sobre o crescimento do Evangelho em
Antioquia chegou até Jerusalém. Então a igreja de Jerusalém, servindo como uma
igreja-mãe, enviou Barnabé à cidade de Antioquia para contribuir com a
organização da igreja ali. Barnabé ficou maravilhado com o que viu em
Antioquia. Então ele partiu para Tarso com o objetivo de encontrar Paulo e
levá-lo a Antioquia. Foi assim que eles se reuniram naquela igreja e ensinaram
muita gente (At 11.23-26). A partir de então, a liderança da igreja de
Antioquia era formada por cinco profetas e doutores. O texto bíblico não
fornece nenhuma explicação adicional sobre esses ministérios e nem esclarece se
as cinco pessoas exerciam ambos os ministérios. Muitos haviam se convertido e
o Cristianismo havia conquistado pessoas ilustres da sociedade: "Na igreja que estava em Antioquia havia
alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Niger, e
Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo"
(13.1). Dos nomes acima mencionados, dois foram escolhidos para a obra
missionária: Barnabé e Saulo. O interessante é que o Espírito Santo escolhe o
melhor para as missões. A Igreja em Antioquia da Síria certamente sentiu falta
dos serviços que eles lhe prestavam, mas, no entanto, os enviou. Certamente,
contava com o trabalho deles ainda por muito tempo. Porém, os caminhos de Deus
nãos são os nossos e muito menos os seus pensamentos (Is 55.8, 9).
2. Paulo e o despertamento de novas
vocações. O ministério de Paulo
tomou uma proporção muito ampla Era um ministério internacional. Para levar as
Boas-Novas aos centros culturais do mundo, ele não podia atuar sozinho. Por
isso, o apóstolo arregimentou e investiu em pessoas que o auxiliassem a levar o
Evangelho. Podemos citar nomes como os de Timóteo, Sópatro, Segundo, Trófimo
(At 20.4), Tiquico (Ef 6.21,22: Cl 4.7:2 Tm 4.12; Tt 3.12), Tito, Aristarco (CL
4.10), Filemom, Gaio e tantos outros Essas pessoas recebiam ensinos diretamente
de Paulo, ou seja, o ministério do apóstolo despertava novas vocações.
Comentário
Localizada a cerca de 320 km ao norte de
Sidom, Antioquia era uma importante metrópole pagã, a terceira maior cidade do
Império Romano, depois de Roma e Alexandria. Não sabe-se ao certo se a Igreja
em Antioquia nutria um plano para evangelizar, o que entendemos pela leitura do
texto de Atos 13.1-3, é que o envio de Paulo e Barnabé foi em obediência à uma
ordem do Espírito Santo, obedecida depois de “jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos”, os despediram.
Também merece atenção o fato de que o capítulo 13 assinala uma mudança
importante em Atos; Os primeiros 12 capítulos centram-se em Pedro; os demais
capítulos giram em torno de Paulo. Com Pedro, a ênfase está na igreja judaica em
Jerusalém e na Judeia; com Paulo, o foco é a igreja gentílica dispersa pelo
mundo romano, que começou na igreja de Antioquia.
Sobre estes profetas descritos como membros
da Igreja de Antioquia, eles desempenhavam papel importante na igreja apostólica
(1Co 12.28; Ef 2.20). Eram pregadores da Palavra de Deus e eram os
responsáveis, nos primeiros anos, pela igreja na função de instruir
congregações locais. Em algumas ocasiões, receberam nova revelação de natureza
prática (Cl 11.28; 21.10). Lucas apresenta Barnabé como exemplo dentre aqueles
que doaram propriedades. Barnabé era membro da tribo sacerdotal dos levitas e
natural da ilha de Chipre. Mais tarde, se tornaria companheiro de Paulo e
figura proeminente no livro; Simeão, por sobrenome Niger (significa “preto”;
“negro”; talvez tenha sido um homem de pele escura, um africano, ou ambos. Não
há evidência direta que permita identificá-la com Simão de Cirene registrado em
Mc 15.21). Lúcio de Cirene na é o mesmo Lúcio de Rm 16.21, ou Lucas, o médico e
autor de Atos. Este Manaém era meio-irmão de Herodes, O Grande; Herodes, o
tetrarca é o mesmo Herodes Antipas, o Herodes dos Evangelhos.
Acerca da mentoria, escreve Lourenço Stelio
Rega, em “Paulo e Sua Teologia”
(Editora Vida): “Paulo mentoreou
muitas pessoas, no entanto foi com Timóteo que esse trabalho, sem dúvida,
destacou-se mais claramente. A imagem de mentor transparece em 1 e 2Timóteo, em
especial no início de 2Timóteo. Experimente numerar, nos versículos citados a
seguir, cada palavra, frase ou conceito que você considere expressão típica de
um mentor: Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, segundo a
promessa da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu amado filho: Graça,
misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. Dou
graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram os meus
antepassados, ao lembrar-me constantemente de você, noite e dia, em minhas
orações. Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha
alegria seja completa. Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou
em sua avó Loide e em sua mãe, Eunice, e estou convencido de que também habita
em você. Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom
de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos. Pois Deus não
nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio. Portanto,
não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro
dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de
Deus […]. Retenha, com fé e amor em Cristo Jesus, o modelo da sã doutrina que
você ouviu de mim. Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do
Espírito Santo que habita em nós. Você sabe que todos os da província da Ásia
me abandonaram, inclusive Fígelo e Hermógenes […]. Portanto, você, meu filho,
fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus. E as palavras que me ouviu dizer
na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também
capazes de ensinar outros (2Tm 1.1-8,13-15; 2.1,2)”, (Lourenço Stelio
Rega. Paulo e Sua Teologia. Editora Vida. pag. 42-43).
3. Paulo, um mestre inspirado. O apóstolo Paulo aproveitou a boa vontade de seus
“filhos na fé” para aprendizado no Evangelho. Nesse sentido, ele tornou-se um
mestre inspirado para os que o ouviam (2 Co 2.12.13.17; 1 Co 4.17: 7.40; Gl
1.8,9), pois o apóstolo recebera revelações do próprio Senhor (Gl 1.12). Assim,
Paulo reunia vocacionados para dar-lhes instruções de como pastorear a igreja
local. Não por acaso, temos três epistolas paulinas denominadas de “cartas
pastorais” (1 e 2 Timóteo, Tito). Ali, há instruções sobre como pastorear uma
igreja, falar com diversas pessoas da igreja local, segundo suas faixas
etárias. A constituição e a preparação de novos líderes era um cuidado
constante do apóstolo, Esse deve ser o nosso cuidado também, pois a
estabilidade ministerial da igreja local depende disso.
Comentário
As cartas pastorais de Paulo são um
verdadeiro tesouro de conselhos úteis. Como as duas cartas de Paulo para
Timóteo, em Tito, a terceira destas cartas pastorais, o apóstolo dá incentivo e
conselho pessoal a um jovem pastor que, embora bem preparado e fiel, enfrentava
oposição contínua por parte de homens ímpios dentro das igrejas nas quais
ministrava. Contrastando com várias das outras cartas de Paulo, tais como
aquelas às igrejas em Roma e na Galácia, o livro de Tito não se concentra em
explicar ou defender a doutrina. Paulo tinha plena confiança no entendimento e
nas convicções teológicas de Tito, assim como possuía plena confiança em
Timóteo, o que era evidenciado pelo fato de ter-lhe confiado um ministério tão
exigente. Com exceção da advertência contra os falsos mestres e judaízantes, a
carta não apresenta nenhuma correção teológica, transmitindo a forte ideia de
que Paulo também tinha confiança no conhecimento doutrinário da maioria dos
membros da igreja ali, a despeito do fato de a maior parte deles ser formada por
novos convertidos.
Agora, note algo interessante em Tito: entre
as doutrinas que essa epístola afirma estão:
1) A eleição soberana dos cristãos por parte
de Deus (1.1-2);
2) sua graça salvadora (2.11; 3.5);
3) a divindade de Cristo e a sua segunda
vinda (2.13);
4) a expiação substitutiva de Cristo (2.14) e
5) a regeneração e renovação de cristãos pelo
Espírito Santo (3.5).
Deus e Cristo são regularmente citados como
Salvador (1.3-4; 2.10,13; 3.4,6), e o plano de salvação é tão enfatizado em
2.11-14 que a impressão que temos é que o objetivo principal da epístola é o de
preparar as igrejas de Creta para o evangelismo eficaz! Essa preparação exigia
líderes piedosos que não somente pastoreassem os cristãos sob seus cuidados (Tt
1.5-9), mas também preparassem esses cristãos para evangelizar seus vizinhos
pagãos que, segundo a descrição de um de seus próprios compatriotas, eram
"mentirosos, feras terríveis,
ventres preguiçosos" (Tt 1,12). Para que essas pessoas dessem ouvidos ao
evangelho, a preparação primordial dos cristãos para a evangelização era viver
entre eles mesmos com o testemunho indiscutível de uma vida justa, amorosa, altruísta
e piedosa (Tt 2.2-14) num nítido contraste com a vida devassa dos falsos
mestres (1.10-16). O modo como eles se comportavam com relação às autoridades
II – O LEGADO DOUTRINARIO DE PAULO PARA
OS NOVOS LÍDERES
1. A advertência de Paulo a respeito
dos judaizantes e dos gnósticos. a) Quem eram os judaizantes? Durante o ministério de Paulo, muitos judeus
acolheram a mensagem apostólica e tornaram-se cristãos, mas nem todos aceitavam
a liberdade cristã dos gentios. Por isso, alguns deles torceram o ensino do
apóstolo, afirmando que a salvação dos gentios dependia da observância da Lei
Mosaica. Assim, exigiam que os gentios convertidos observassem a Lei, tais como
alguns aspectos: a prática da circuncisão, a guarda do sábado judaico a
observância dos ritos que envolviam datas e comidas. Parecia que a graça de
Deus não era mais suficiente. Contra isso, Paulo se levantou corajosamente
(GL1.6-9). E o legado que ele nos deixou foi a defesa intransigente quanto à
natureza graciosa da salvação. Disso, nenhum líder cristão pode abrir mão: a
Salvação é por graça e não por mérito humano.
Comentário
O autor do Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos
faz referência a membros das comunidades cristãs do século I que advogavam em
favor do seguimento das prescrições da Torá em especial, que defendiam a
circuncisão. Tais cristãos são denominados fariseus por Lucas em Atos 15.5. No
entanto, referências indiretas a tais cristãos fariseus ou judaizantes (termo
pelo qual eles são referidos na historiografia, criado a partir do verbo judaizar)
são encontradas ao longo de toda a sua obra, denotando a importância desta
questão dentro do quadro da teologia.
- O Pastor Douglas Batista escreve em artigo
no site CPADNEWS: “O problema judaizante
vem sendo enfrentado desde os primórdios da igreja cristã. Paulo escreveu aos
Gálatas (c. 49 d.C) para, entre outros propósitos, condenar a prática
judaizante. Muitos judeus tinham se convertido ao cristianismo e queriam impor
a lei mosaica sobre os cristãos gentios. Estas pessoas passaram a ser
conhecidas como os "judaizantes". Esta questão entre judaísmo e
cristianismo percorre o Novo Testamento e ainda encontra espaço na igreja
atual.
Os judaizantes modernos ensinam que os crentes devem
guardar as festas judaicas como a festa dos tabernáculos, ler a Torah e guardar
o sábado. É comum ver alguns usando kipás (bonezinho
usado pelos judeus), buscando ligações genealógicas com o povo israelita para
que possam obter nacionalidade judia, entre outras coisas. Até mesmo nos cultos
de algumas igrejas, músicas e danças judaicas foram inseridas. Cada vez mais,
cantores, “ministros de louvor”
e conjuntos diversos se intitulam como “levitas
do Senhor” em referência ao sacerdócio Levítico da Antiga Aliança.
Em nome de suposto amor a Israel a bandeira da nação é
colocada em destaque na igreja, o shofar é tocado e promovem-se as festas com a
promessa de uma nova unção sobre a vida de quem participa de tais celebrações.
Há igrejas onde as pessoas não podem adentrar ao templo de sandálias ou sapatos
e são orientadas a tirar os calçados, pois, segundo ensinam, irão pisar terra
santa. O candelabro, a arca da aliança e outros utensílios do tabernáculo são
ostentados nos cultos e considerados objetos “sagrados”.
Há um fetichismo com terra santa, areia santa, água
santa, sal santo, folha de oliveira santa, etc. No cristianismo as pessoas são
santas, mas as coisas não. Desta forma a prática judaizante caminha
paralelamente com a superstição e feitiçaria. É parente da paganização. Tudo
isto é produto de uma hermenêutica defeituosa, que não compreende as distinções
entre os dois Testamentos. Os critérios para interpretá-los são diferentes. A
pompa e a liturgia do judaísmo deram lugar à desburocratização no cristianismo.
A palavra final de Deus foi dada em Jesus Cristo.
Paulo ensinou aos Gálatas que voltar às práticas e aos
cerimoniais da Lei era cair da graça (Gl 5.1-10). O concílio apostólico de
Jerusalém, cuja menção histórica se acha no capítulo quinze do livro de Atos
dos Apóstolos, decidiu que os costumes judaicos não eram obrigatórios para os
cristãos. A circuncisão, a guarda do Sábado, os cerimoniais e as festas
judaicas, por exemplo, foram abolidas tanto para judeus como para gentios, por
não fazerem parte da dispensação do evangelho.
No entanto, estas práticas entram sutilmente na liturgia
do culto e precisam ser erradicadas. Espera-se dos líderes que sejam firmes na
defesa da fé cristã. É necessário promover estudos bíblicos acerca da salvação
pela graça. Os púlpitos das igrejas não podem ser cedidos para cantores ou
pregadores adeptos de tais modismos. O líder que permite ou autoriza práticas
judaizantes na igreja iguala-se aos que invalidam a cruz de Cristo (1Co
1.17).
Algumas pessoas desprovidas de conhecimento bíblico são
coniventes e defendem as práticas judaizantes e chegam a comparar ou igualar
tais atos com os usos e costumes adotados por Igrejas conservadoras. O que
estes judaizantes ignoram é de que existe uma diferença crucial entre o
conceito de "doutrina" e "usos e costumes". As doutrinas
são universais e imutáveis e os usos e costumes são locais e mutáveis. Por
isso, desde que os usos e costumes não agridam a doutrina bíblica eles não
implicam na salvação de ninguém. Mas, não é isto o que ocorre com as práticas
judaizantes, uma vez, que elas assumem papel doutrinário na vida de quem as
professa e os impede de serem salvos pela obra da graça e os méritos da cruz de
Cristo (Ef 2.8-9)”. (http://www.cpadnews.com.br/blog/douglasbaptista/o-cristao-e-o-mundo/91/judaizantes-modernos-e-suas-praticas-perniciosas.html)
b) Quem eram os gnósticos?
Havia cristãos adeptos do gnosticismo. Eles acrescentavam elementos filosóficos
à fé crista que corrompiam a sã doutrina. Era uma filosofia prejudicial ao
evangelho que Paulo ensinou. Os gnósticos se consideravam mais espirituais que
os demais. Para eles, o espirito era mais importante que o corpo, e ensinavam
que o corpo é matéria imprestável. Da implicação desse ensino resultava a
banalização da graça de Deus. Uma graça que não requer arrependimento,
santidade e disciplinas espirituais não é graça verdadeira. O apóstolo Paulo
refuta esse falso evangelho, dizendo: “E a mesmo Deus de paz vos santifique em
tudo; e todo o vosso espirito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23). Seu
legado para nós no século XXI: não banalize a maravilhosa graça de Deus.
Comentário
“Gnosticismo” vem da palavra grega “gnose”,
conhecimento. Gnóstico é, portanto, quem adquire um especial conhecimento e
vive segundo esse conhecimento.
Os gnósticos se opunham à simplicidade da fé
cristã.
Consideravam-se pensadores profundos e
tentavam explicar os mistérios da criação e o problema do mal.
Para eles havia três tipos de pessoas:
- Os instruídos, ou espirituais, que eram
eles mesmos;
- Os cristãos comuns, em quem se equilibram
matéria e espírito;
- E, finalmente, os pagãos, ou materiais, nos
quais o espírito é subjugado pela matéria.
Aplicada ao cristianismo, essa heresia
ensinava que Jesus, ao ser batizado, recebeu um eon, ou seja, uma entidade
superior, que fez dele um enviado de Deus, capaz de levar os homens à
verdadeira “gnose”, o evangelho da redenção.
Segundo eles, o mundo foi criado pelo último
“eon”, que arrebatou uma centelha da plenitude divina, com a qual deu vida à
matéria.
Tinham as mesmas Sagradas Escrituras que a
Igreja, mas as interpretavam em sentido contrario.
O gnosticismo tem origem em várias seitas
religiosas anteriores ao cristianismo, mas nos primeiros séculos da era cristã
chega a misturar-se com o próprio cristianismo.
Posteriormente, foi declarado como pensamento
herético.
Há quem defenda a existência de um
gnosticismo pagão e um gnosticismo cristão.
O termo “gnóstico” adquiriu sentido
pejorativo quando foi aplicado pelos Padres a certos hereges nos séculos II e
IV.
O primeiro em designá-los assim foi são
Irineu, que vê a sua origem na heresia de Simão o samaritano (At 8.9-24).
2. O compromisso de Paulo com o Senhor
(At 20.19). O apóstolo não se
preocupava apenas em lidar com os falsos ensinos que deturpavam a fé cristã.
Ele preocupava-se em viver de maneira coerente com o que ensinava Por isso, sua
vida era sem ostentação, pois desejava refletir a humildade de Cristo (At
20.18). Em sua despedida dos obreiros de Éfeso, o apóstolo procurou deixar um
testemunho de amor ao Senhor e à sua Igreja. Nesse sentido, aprendemos com
Paulo que não podemos pensar numa coisa, desejar e executar outra. Agir assim é
viver numa profunda incoerência e confusão espiritual. É preciso pregar os
ensinos de Cristo e refleti-los tanto na vida privada quanto na pública.
Comentário
O Pastor Hernandes Dias Lopes comentando Filipenses 3.12-21, escreve: “O apóstolo Paulo falou sobre a supremacia de
Cristo no capítulo um, a primazia do outro no capítulo dois, e agora, nos dá um
esboço da sua própria biografia no capítulo três. Paulo descortinou o seu
passado nos versículos 1 a 11; lançou luz sobre o seu presente nos versículos
12 a 16 e apontou para o seu futuro nos versículos 17 a 21. No passado, Paulo
abriu mão de seus valores. No presente, Paulo se viu como um atleta que corre
celeremente para a linha de chegada, a meta final da carreira cristã e no
futuro, Paulo se apresentou como “estrangeiro”, cuja cidadania está no céu, de
onde aguarda a segunda vinda de Cristo. I. PAULO, O ATLETA
(3.12-16)
O apóstolo usa neste parágrafo a figura do atletismo para
descrever a sua vida cristã. Ele é um homem que tem olhos abertos para ver o
mundo ao seu redor e daí tirar ricas lições espirituais. Para um atleta
participar dos jogos olímpicos em Atenas precisava primeiro ser cidadão grego.
Ele não competia para ganhar a cidadania. Assim, também, nós não corremos a
carreira cristã para ganhar o céu, mas porque já somos cidadãos do céu (Fp
3.20).
Warren Wiersbe, compreendeu bem o ensino de Paulo neste
texto e nos fala sobre os elementos essenciais para se ganhar a corrida e
receber a recompensa.
1. Insatisfação (3.12-13a)
O apóstolo veterano e prisioneiro de Cristo, afirma: “…
não julgo havê-lo alcançado” (3.13). Em matéria de progresso rumo à perfeição,
Paulo é um irmão entre irmãos, diz J. A. Motyer. Por ser líder não deixa de ser
um cristão que luta como os demais para alcançar o que Deus preparou para seus
filhos. Paulo participa de uma corrida; ainda que não enverga a faixa de
campeão e tampouco tenha empunhado a taça, mas deve continuar correndo, até que
esses prêmios lhe sejam atribuídos.
Embora tenha sido um homem de Deus, um vaso de honra, um
servo fiel, um instrumento valoroso na pregação do Evangelho e no plantio de
igrejas Paulo nunca ficou satisfeito com suas vitórias espirituais. À
semelhança de Moisés, ele sempre queria mais (Ex 33.18). Uma “insatisfação santa”
é o primeiro elemento essencial para avançar na corrida cristã.
Muitos cristãos estão satisfeitos consigo mesmo ao se
compararem àqueles que já estão trôpegos e parados. Paulo não se compara com
outros, mas com Cristo. Ele ainda não chegou à perfeição (3.12), muito embora
seja perfeito, ou seja, amadurecido na fé (3.15). Uma das características dessa
maturidade é a consciência da própria imperfeição! O cristão maduro faz uma
auto-avaliação honesta e se esforça para melhorar. A luta contra o pecado ainda
não terminou, pois essa perfeição não se alcança na presente vida (Rm 7.14-24;
Tg 3.2; 1Jo 1.8).
William Barclay nos ajuda a entender esta palavra grega
teleios “perfeito”. Ela era empregada não apenas para absoluta perfeição, mas
também para um certo tipo de perfeição, como por exemplo: 1) significa
desenvolvido plenamente em contraposição ao não desenvolvido; um homem maduro
em contraposição a um jovem; 2) usa-se para descrever o homem de mente madura
em oposição a um principiante em algum estudo; 3) quando se trata de oferendas
significa sem mácula e adequado para o sacrifício a Deus; 4) aplicado aos
cristãos freqüentemente designa os batizados como membros plenos da igreja em
oposição aos que estão sendo instruídos para serem recebidos na igreja. J. A. Motyer,
citando Bengel diz que o termo “maduro” foi tirado dos jogos atléticos, cujo
significado é “coroado como vencedor”.
Ralph Martin diz que esse termo “perfeição” era muito
usado pelos falsos mestres. Os judaizantes se vangloriavam de sua “perfeição”,
quer fosse como judeus que professavam guardar a lei em sua inteireza, quer
como cristãos judeus que se “gloriavam” da circuncisão. Os cristãos
gnostizantes, por sua vez, reivindicavam serem iluminados, como homens do
Espírito. Paulo, porém, explicitamente negou aquilo que eles afirmavam ter
obtido, isto é, a “perfeição”.
A presunção espiritual é um engano e um sinal evidente de
imaturidade espiritual. A igreja de Sardes julgava a si mesma uma igreja viva,
mas na avaliação de Jesus estava morta (Ap 3.1). A igreja de Laodicéia se
considerava rica e abastada, mas Jesus a considerou uma igreja pobre, cega, e
nua (Ap 3.17). Sansão pensou que ainda tinha força quando, na realidade, a
havia perdido (Jz 16.20). O despertamento espiritual de uma igreja começa não
pela empáfia espiritual, mas pela humildade e o reconhecimento de que ainda
precisa buscar mais a Deus (Sl 42.1,2).
2. Dedicação (3.13b)
“… uma cousa faço…”. O apóstolo Paulo tinha seus olhos
fixados na meta e não se desviava de seu objetivo. Ele era um homem dedicado
exclusivamente à causa do evangelho. Não se deixava distrair por outros
interesses. Sua mente estava voltada inteira e exclusivamente para fazer a
vontade Deus.
A Bíblia diz que aquele que põe a mão no arado e olha
para trás não é apto para o reino de Deus (Lc 9.62). Marta ficou distraída com
muitas coisas, mas Jesus lhe disse que uma coisa só é necessária (Lc 10.42). Há
muitos crentes que dividem sua atenção com muitas coisas. São como a semente
lançada no espinheiro. Há muitos concorrentes que sufocam a semente e ela não
frutifica (Mc 4.7,18,19).
Antes do incêndio trágico de Chicago, em 1871, Dwight L.
Moody estava envolvido com a divulgação da Escola Bíblica Dominical, com a
Associação Cristã de Moços, com encontros evangelísticos e com várias outras
atividades, mas, depois do incêndio, tomou o propósito de se dedicar
exclusivamente ao evangelismo. O princípio ensinado por Paulo de “… uma coisa
faço…”, tornou-se realidade para ele. O resultado foi que centenas de milhares
de pessoas se renderam a Cristo.
Devemos nos concentrar na obra de Deus como Neemias, o governador que restaurou
a cidade de Jerusalém depois do cativeiro babilônico. Quando seus opositores
tentaram desviar sua atenção da obra de reconstrução, ele respondeu: “… estou
fazendo grande obra, de modo que não poderei descer…” (Ne 6.3).
3. Direção (3.13c)
O apóstolo Paulo mostra a necessidade imperativa de
termos direção clara e segura nessa corrida da carreira cristã, quando diz: “…
esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de
mim estão” (3.13). Quem corre numa competição não fica olhando para trás, por
cima do ombro, a fim de calcular que distância já percorreu, nem como vão os
concorrentes: quem corre fixa os olhos na meta de chegada.
O cristão não pode ser distraído pela preocupação quanto
ao passado (3.13) nem quanto ao futuro (4.6,7). Se Paulo não esquecesse o
passado, sua vida seria um inferno (1Tm 1.12-17). Se Paulo não abandonasse os
seus pretensos méritos, não descansaria na graça de Deus (3.7). O corredor que
olha para trás perde a velocidade, a direção e a corrida. Aquele que põe a mão
no arado e olha para trás não é apto para o reino (Lc 9.62).
Olhar para trás num saudosismo do passado é perigoso. A
mulher de Ló por ter olhado para trás quando a cidade de Sodoma estava sendo
destruída, desobedecendo, assim, a orientação divina, foi transformada numa
estátua de sal (Gn 19.26). O povo de Israel, por influência dos dez espias
incrédulos, quis voltar para o Egito e pereceu no deserto. José do Egito, maltratado
pelos seus irmãos não guardou ressentimento; antes, quando lhe nasceu o filho
primogênito, deu-lhe o nome de Manassés, que significa: “perdão” (Gn 41.51).
4. Determinação (3.14)
O apóstolo Paulo ensina outro princípio para o sucesso
nessa corrida, quando diz: “Prossigo para o alvo…” (3.14). Esse verbo usado
aqui e no versículo 12 tem o sentido de esforço intenso. Os gregos costumavam
usar esse termo para descrever um caçador perseguindo avidamente a presa. Um
indivíduo não se torna um atleta vencedor ouvindo palestras, lendo livros ou
torcendo em jogos. Antes, o atleta bem sucedido entra no jogo e se mostra
determinado a vencer!
Ralph Martin diz que antigamente Paulo perseguia os
crentes; agora, ele persegue (como caçador) a vocação de uma vida em Cristo.
Paulo diz: “… prossigo para o alvo…”. A palavra grega skopos “alvo” é
encontrada somente aqui em todas as cartas paulinas. Significa a fita diante da
meta, no final da pista, à qual o atleta dirige seu olhar. Werner de Boor diz
que embora Paulo esteja nessa corrida de forma voluntária, ele empenha toda a
sua força. Ele não é instigado nem atiçado por trás, com ordens; mas atraído
pelo alvo, pelo prêmio da vitória. Assim é o cristão!
Paulo era um homem determinado no que fazia: na
perseguição a igreja, antes de conhecer a Cristo (3.6); agora, em seguir a
Cristo (3.14). Se os crentes tivessem a mesma determinação para lutar pela
igreja e pelo reino de Deus que têm pelos estudos, trabalho, esporte, dinheiro
haveria uma revolução no mundo.
O que Paulo busca com tanta determinação? O prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. William Hendriksen diz que no final
da corrida, o vencedor era convocado, da pista ao estádio, a comparecer diante
do banco do juiz a fim de receber o prêmio. Esse prêmio consistia de uma coroa
de louros. Em Atenas, desde o tempo de Sólon, o vencedor olímpico recebia
também a soma de 500 drachmai. Além de tudo, era-lhe permitido comer às
expensas do erário público, e era-lhe concedido sentar-se no teatro em lugares
de primeira classe. Na corrida terrena, o prêmio é perecível; na celestial, o
prêmio é imperecível (1Co 9.25). Na primeira, apenas um pode vencer (1Co 9.24),
na última, todos os que amam a vinda de Cristo são vencedores (2Tm 4.8). Paulo
não corre por causa de prosperidade, saúde, sucesso ou fama. Sua ardente
aspiração é por Jesus. Os atletas olímpicos corriam por uma coroa de louros,
mas os cristãos correm por uma coroa imarcescível.
Muito embora a salvação é gratuita, somente aqueles que
se esforçam entram no reino. Werner de Boor afirma acertadamente que o prêmio
da vitória é pura dádiva. Nenhum de nós se pôs por si mesmo em movimento rumo a
Deus. Ninguém confecciona pessoalmente o prêmio da vitória. Contudo, não
obteremos esse prêmio da vitória se permanecermos sentados à beira do estádio e
refletirmos sobre ele, nem se fizermos declarações corretas acerca dele.
Tampouco somos levados até ele em um automóvel da graça. Temos de “caçá-lo”
como o empenho de todas as nossas forças.
5. Disciplina (3.15,16)
Paulo conclui seu pensamento, dizendo: “Todos, pois, que
somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro
modo, também isto Deus vos esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o que já
alcançamos” (3.15,16). Ralph Martin corretamente diz que Paulo não está dizendo
que a concordância, ou discordância ao seu ensino seria assunto indiferente, e
que aqueles que discutiam seu ensino teriam direito às suas opiniões próprias.
Paulo está ainda usando a figura da corrida. A palavra grega, stochein, “andemos”
(3.16) é um termo militar que significa “permanecer em linha”.
Não basta correr com disposição e vencer a corrida; o
corredor também deve obedecer às regras. Nos jogos gregos, os juízes eram
extremamente rígidos com respeito aos regulamentos, e o atleta que cometesse
qualquer infração era desqualificado. Não perdia a cidadania (apesar de
desonrá-la), mas perdia o privilégio de participar e de ganhar um prêmio. Em
Filipenses 3.15,16 Paulo enfatiza a importância de os cristãos lembrarem as
“regras espirituais” que se encontram na Palavra, diz Warren Wiersbe.
Mais tarde o apóstolo Paulo, ensinou esse mesmo princípio
a Timóteo: “Igualmente, o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas”
(2Tm 2.5). Um dia, todo cristão vai se encontrar diante do tribunal de Cristo
(Rm 14.10-12). O termo grego para “tribunal” é bema, a mesma palavra usada para
descrever o lugar onde os juízes olímpicos entregavam os prêmios. Se nos
disciplinarmos a obedecer às regras, receberemos o prêmio. Cada atleta é
julgado pelo júri. Um dia vamos comparecer diante do tribunal de Cristo para
sermos julgados.
Ben Johnson na Olimpíada de Barcelona perdeu a medalha de
ouro na corrida dos cem metros depois de constatar que ele havia violado as
regras. Teve de devolver a medalha e perder a posição.
A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas que começaram
bem a corrida, mas não chegaram ao fim por não levarem as regras de Deus a
sério. Devemos correr sem carregar pesos inúteis do pecado e olhando firmemente
para Jesus, o nosso alvo.
II. PAULO, O PASTOR (3.17-19)
1. O pastor é aquele que dá o exemplo de doutrina e de vida
(3.17)
O apóstolo Paulo era um paradigma para os crentes tanto
na questão da doutrina, quanto na questão da ética. Ele era modelo tanto na
teologia quanto na vida. Seu ensino e seu caráter eram aprovados. Sua vida
confirmava sua doutrina e sua doutrina norteava a sua vida. Ele recomendou a
Timóteo, seu filho na fé: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina…” (1Tm 4.16).
Ralph Martin diz que Paulo chama a atenção para si mesmo,
em face de sua profunda percepção apostólica como homem do Espírito (1Co 2.16; 7.40;
14.37), opondo-se àqueles que afirmavam possuir conhecimento superior dos
caminhos de Deus. Assim, Paulo estava chamando os crentes à obediência à
autoridade apostólica, algo mais do que um convite a que se imite o modo de
vida do apóstolo.
Nessa mesma linha de pensamento J. A. Motyer diz que
quando Paulo nos ordena a seguir o seu exemplo (3.17), ele acrescenta uma
explicação: “Pois…” (3.18). O elo de ligação entre estes dois versos é o
seguinte: Paulo ordena os crentes a imitá-lo porque fazendo assim, eles
estariam vivendo de acordo com a verdade da cruz (3.18) e da segunda vinda de
Cristo (3.20). Em outras palavras, quando a verdades sobre a cruz e a segunda
de Cristo são assimiladas, certamente um caminho de vida segue naturalmente.
2. O pastor é aquele que protege o rebanho dos falsos
mestres (3.18)
Paulo pregou a verdade e denunciou o erro. Ele promoveu o
evangelho e combateu a heresia. Ele não fazia relações públicas acerca da
verdade para agradar as pessoas. Ele chamou esses falsos mestres de inimigos da
cruz de Cristo.
Quem eram esses inimigos da cruz de Cristo? Warren
Wiersbe acredita que Paulo está falando dos mesmos judaizantes já descritos em
Filipenses 3.2 uma vez que eles acrescentavam a Lei de Moisés à obra da
redenção que Cristo havia realizado na cruz. Também, por causa de sua
obediência às leis alimentares do Antigo Testamento, “o deus deles é o ventre”
(Cl 2.20-23) e sua ênfase sobre a circuncisão corresponderia a gloriar-se em
algo que deveria ser motivo de vergonha (Gl 6.12-15). Os judaizantes eram
inimigos da cruz de Cristo porque esta deu cabo da religião do ritualismo como
meio de chegar até Deus. Com a morte de Cristo o véu do templo foi rasgado e
agora o homem tem livre acesso a Deus por meio de Cristo, o novo e vivo caminho
(Hb 10.19-25). O que eles consideravam uma linha divisória entre os homens, a
circuncisão, Cristo derrubou por meio da sua morte (Ef 2.14-16).
William Hendriksen, entretanto, de forma diferente pensa
que Paulo não está aqui falando dos judaizantes, mas dos libertinos e
sensualistas glutões e grosseiramente imorais. A natureza pecaminosa é propensa
a saltar de um extremo a outro, ou seja, do legalismo à libertinagem. Assim,
esses falsos mestres eram aqueles que haviam transformado a liberdade cristã em
libertinagem (Gl 5.13; 1Pe 2.11). Na carta aos Romanos, Paulo apresenta
advertência contra aqueles que dizem: “Pratiquemos males para que venham bens”
(Rm 3.8b); “permaneçamos no pecado, para que seja a graça mais abundante” (Rm
6.1b). “Porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu
próprio ventre; e, com suas palavras e lisonjas, enganam o coração dos
incautos” (Rm 16.18).
Na igreja de Corinto Paulo enfrentou tanto os ascetas que
proibiam o casamento (1Co 7.1) como os libertinos que diziam que “tudo é
permissível” (1Co 6.12). De modo idêntico, ainda hoje, a graça de Deus é
recebida em vão por aqueles que continuam a viver sob a lei, e por aqueles que
pensam que devem permanecer no pecado, para que a graça aumente.
3. O pastor é aquele que exorta com firmeza e com
lágrimas (3.18)
Paulo tem firmeza e doçura. Ele exorta com a clareza da
sua mente e com a profundidade do seu coração. Ele tem argumentos irresistíveis
que emanam da sua cabeça e convencimento pelas lágrimas grossas que rolam das
suas faces. Paulo não é um apologeta ferino e frio, mas argumenta com
irresistível clareza e com a eloqüência das lágrimas. Paulo chora sobre aqueles
a quem ele ensinou e sobre aqueles a quem repreendeu (At 20.19,31; 2Co 2.4). Em
Paulo havia uma sincera união de verdade e amor. Ele advertiu sobre o erro e
chorou sobre aqueles que permaneceram nele.
O zelo pastoral de Paulo o levava às lágrimas na defesa
de suas ovelhas. Ele se comovia ao perceber que algum perigo os ameaçava. O
apóstolo era não só um homem de agudo discernimento e inquebrantável decisão,
mas também de emoção ardente. É bem provável que estes mestres estivessem
posando como “modelos” de liderança cristã, e como conseqüência, minando a
autoridade de Paulo. O apóstolo está emocionalmente comovido, enquanto escreve,
até chorando, talvez muito mais por causa de crentes que abandonaram suas
igrejas (2Co 2.4), do que por causa dos mestres que os desencaminharam.
4. O pastor é aquele que não se engana acerca dos falsos
mestres (3.19)
O apóstolo Paulo destaca quatro características dos
falsos mestres:
Em primeiro lugar, eles adoram a si mesmos. Paulo diz: “… o deus deles é o
ventre…” (3.19). Eles vivem encurvados para o próprio umbigo. Visto que a
palavra koilia “ventre” pode significar “útero” ou “umbigo”, Paulo pode estar
simplesmente comentando o egocentrismo deles. Assim, tudo quanto fazem é fixar
os olhos no próprio umbigo. O deus deles é – eles mesmos. A vida deles é
centrada neles mesmos. São adoradores de si mesmos. Em vez de procurar manter
seus apetites físicos sob controle (Rm 8.13; 1Co 9.27), compreendendo que
nossos corpos são o templo do Espírito Santo, no qual Deus deve ser glorificado
(1Co 6.20), essas pessoas se entregam à glutonaria e à licenciosidade.
Paulo está rechaçando a idéia de que o homem vive para
comer em vez de comer para viver. Jesus rejeitou a proposta do diabo em
transformar pedra em pão, dizendo que não só de pão vive o homem, mas de toda a
palavra que procede da boca de Deus (Mt 4.4). A glutonaria é obra da carne,
assim como a prostituição, a idolatria e a feitiçaria (Gl 5.19-21).
Em segundo lugar, eles invertem os padrões morais. Paulo
continua: “… e a glória deles está na sua infâmia…” (3.19). Eles deveriam ter
vergonha daquilo em que se gloriam. Eles escarnecem da virtude e exaltam o
opróbrio. Ao mal eles chamam bem e ao bem, mal; fazem das trevas luz e da luz,
trevas; põem o amargo por doce e o doce, por amargo (Is 5.20). Eles não apenas
levavam a bom termo seus maus desígnios, mas ainda se vangloriavam disso (Rm
1.32). A glória desses falsos mestres é a infâmia, a recompensa deles é fugaz.
A decepção deles é certa. A ruína deles é veloz.
Em terceiro lugar, eles têm suas mentes voltadas apenas
para as coisas materiais em vez das espirituais. O apóstolo é enfático, quando
diz: “… visto que só se preocupam com as cousas terrenas” (3.19). Eles vivem
sem a dimensão do eterno. O coração deles está sedento de coisas materiais em
vez de buscarem as riquezas espirituais.
Essa história se repete hoje. Muitos líderes religiosos,
sem temor, têm se empoleirado no púlpito, usando artifícios e malabarismos, com
a Bíblia na mão, arrancando dinheiro das pessoas, fazendo promessas que Deus
não faz em sua Palavra, sem nenhum escrúpulo, mercadejando o Evangelho da
graça, para alimentar sua ganância insaciável. Hoje, a religião, para muitos,
tem sido um bom negócio, uma fonte de lucro, um caminho fácil de
enriquecimento. O mercado da fé tem produto para todos os gostos. A oferta é
abundante. A procura é imensa. A causa é a ganância. A conseqüência é o engano.
O resultado é a decepção. O fim da linha é o inferno.
Em quarto lugar, eles caminham inexoravelmente para a
perdição. O apóstolo é claro em afirmar: “O destino deles é a perdição…”. Não
há salvação fora da verdade. O caminho da heresia desemboca no abismo. O
destino dos hereges é a perdição. William Hendriksen corretamente afirma que
“perdição” não é o mesmo que aniquilamento. Não significa que cessarão de
existir. Ao contrário, significa punição eterna (2Ts 1.9).
III. PAULO, O CIDADÃO DO CÉU
O apóstolo Paulo, depois de descrever o presente, falando
da sua corrida rumo ao prêmio e depois de demonstrar seu zelo pastoral,
alertando acerca dos falsos mestres, lança seu olhar rumo ao futuro e destaca
três gloriosas verdades que são as âncoras da nossa esperança.
1. O céu é a nossa Pátria (3.20)
O apóstolo Paulo diz: “Pois a nossa Pátria está nos
céus…” (3.20). Paulo utiliza o substantivo politeuma, “pátria”, não encontrado
em parte alguma do Novo Testamento. Essa palavra descreve, sobretudo, a conduta
dos crentes filipenses no mundo. Se a pátria deles está nos céus, a conduta
deles também deveria ser compatível com essa cidadania.
Assim como Filipos era uma colônia de Roma em território
estrangeiro, também a Igreja é uma “colônia do céu” na terra. Somos peregrinos
neste mundo. Não somos daqui. Nascemos de cima, do alto, de Deus. O céu é nossa
origem e também nosso destino. O nosso nome está arrolado no céu (Lc 10.20),
está registrado no livro da vida (4.3). É isso que determina nossa entrada
final no país celestial (Ap 20.15).
Por causa da expectativa de habitar em uma cidade
superior, Abraão contentou-se em viver em uma tenda (Hb 11.13-16). Por causa da
expectativa da recompensa do céu, Moisés dispôs-se a abrir mão dos tesouros do
Egito (Hb 11.24-26). Por causa da esperança da vivermos com Cristo no céu,
devemos buscar uma vida de santidade hoje (1Jo 3.3).
A cidadania é importante. Quando viajamos para outro país
é essencial ter um passaporte que comprove nossa cidadania. Ninguém quer ter a
mesma sina que Philip Nolan no conto clássico O Homem sem País. Nolan
amaldiçoou o nome do seu país e, por isso, foi condenado a viver a bordo de um
navio e nunca mais ver sua terra natal sem sequer ouvir seu nome ou receber
notícias acerca do seu progresso. Passou cinqüenta e seis anos em uma viagem
interminável de navio em navio, de mar em mar e, por fim, foi sepultado nas
águas do oceano. Nolan foi um “homem sem pátria”.
O céu é um lugar e um estado. É o lugar da morada de Deus
e da sua Igreja resgatada e um estado de bem-aventurança eterna, onde jamais
entrará a dor, a lágrima, o luto e a morte.
2. A segunda vinda de Jesus é a nossa esperança (3.20)
O apóstolo ainda afirma: “… de onde também aguardamos o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo”. Três verdades devem ser aqui destacadas.
Em primeiro lugar, Aquele que vem é o Salvador, o Senhor
Jesus Cristo. Ele é o Salvador e o Senhor. Nele nossa salvação foi realizada e
consumada. Ele venceu a morte, ressuscitou, foi assunto ao céu e voltará.
Em segundo lugar, Aquele que vem está no céu assentado à
destra do Pai. Jesus está no céu numa posição de honra. Ele está no trono e tem
o livro da história em suas mãos. Ele governa e reina soberanamente sobre a
Igreja e todo o universo.
Em terceiro lugar, Aquele que vem é o conteúdo da nossa
esperança. A igreja é a comunidade da esperança. Somos um povo que vive com os
pés no presente, mas com os olhos no futuro. Vivemos cada dia na expectativa da
iminente volta de Jesus. F. F. Bruce diz que cada geração sucessiva da igreja
goza do privilégio de viver como se fosse a geração que haverá de saudar o
retorno de Cristo. A esperança do regresso de Cristo tem poder santificador: “E
a si mesmo se purifica todo aquele que nele tem esta esperança, assim como ele
é puro” (1Jo 3.3).
3. A glorificação é a nossa certeza inequívoca (3.21)
O apóstolo Paulo destaca alguns pontos importantes:
Em primeiro lugar, o nosso corpo será glorificado na
segunda vinda de Cristo (3.21). Quando a trombeta de Deus ressoar, e Cristo
vier com seu séqüito de anjos, acompanhado dos santos glorificados, os mortos
em Cristo ressuscitarão com corpos imortais, incorruptíveis, gloriosos,
poderosos e celestiais (1Co 15.43-56). Os vivos, nessa ocasião, serão
transformados e arrebatados para encontrar o Senhor nos ares e assim, estaremos
para sempre com o Senhor (1Ts 4.13-18).
Em segundo lugar, o nosso corpo será semelhante ao corpo
da glória de Cristo. Nosso corpo de humilhação, sujeito à fraqueza, à
enfermidade e ao pecado será revestido da imortalidade e brilhará como o sol no
seu fulgor, brilhará como as estrelas no firmamento, e será um corpo tão
glorioso, como o corpo da glória de Cristo. Seremos “conforme a imagem do seu
Filho” (Rm 8.29). “Devemos trazer a imagem do celestial” (1Co 15.49). “Sabemos
que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de
vê-lo como ele é” (1Jo 3.2b).
Em terceiro lugar, a glorificação do nosso corpo dar-se-á
pelo poder infinito de Deus. Paulo afirma: “… segundo a eficácia do poder que
ele tem de até subordinar a si todas as cousas” (3.21). William Hendriksen diz
que maravilhosa é a energia da dinamite de Cristo, isto é, de seu poder. Esta
energia é seu poder em ação, o exercício de seu poder. O termo “subordinar”
significa “organizar em ordem de dependência, do inferior ao superior”. Warren
Wiersbe, aplica:
Esse é o problema hoje em dia: não colocar as coisas na
devida ordem de prioridade. Uma vez que nossos valores encontram-se
distorcidos, desperdiçamos nosso vigor em atividades inúteis, e nossa visão
está de tal modo obscurecida que a volta de Cristo não parece ter qualquer
poder para motivar nossa vida. Não há nada impossível para Deus. Ele pode tudo
quanto ele quer. Ele tomará nosso corpo de fraqueza e fará dele um corpo de
glória. Aqui há continuidade e descontinuidade. Será um outro a partir do que
existe, mas um outro totalmente novo.
Paulo conclui este capítulo de Filipenses atingindo o
grau mais alto da escada. Desde a conversão, com seu repúdio a todos os méritos
humanos (3.7), a justificação e a santificação, como alvo da perfeição sempre
em mira (3.8-19), atinge a grande consumação, quando alma e corpo, a pessoa por
inteiro, em união com todos os santos, glorificará a Deus em Cristo nos novos
céus e nova terra, pelos séculos dos séculos. E tudo isso pela soberana graça e
poder de Deus e para sua eterna glória, diz William Hendriksen”.
(Rev. Hernandes Dias Lopes. https://hernandesdiaslopes.com.br/o-testemunho-do-apostolo-paulo/.).
O mesmo Pastor escreve em sua obra intitulada
Atos. A ação do Espírito Santo na vida da igreja (Hagnos): “O primeiro compromisso do líder não é com a
obra de Deus, mas com o Deus da obra. O relacionamento com Deus precede o
trabalho para Deus. O primeiro chamado do presbítero é para andar com Deus e,
como resultado dessa caminhada, fazer a obra de Deus. Em Atos 20.19 Paulo
testemunha como serviu a Deus com humildade e lágrimas por causa das ciladas
dos judeus. Três fatos devem ser aqui destacados:
- O
líder está a serviço de Deus, e não dos homens.
O líder serve a Deus, ministrando aos homens. Quem serve
a Deus não busca projeção pessoal. Quem serve a Deus não anda atrás de aplausos
e condecorações. Quem serve a Deus não depende de elogios nem desanima com as
críticas. Quem serve a Deus não teme ameaças nem se intimida diante de
perseguições. Quem teme a Deus não teme os homens, nem o mundo, nem mesmo o
diabo. O pastor não pode vender sua consciência, mercadejar seu ministério nem
compactuar com esquemas mundanos ou eclesiásticos para auferir vantagens
imediatas. Judas vendeu Jesus por dinheiro. Demas ficou cego pelos holofotes do
mundo e abandonou as fileiras daqueles que andavam em santidade. Muitos
obreiros, de igual forma, são atraídos pela sedução do poder, do dinheiro e do
prazer e perdem a honra, a família e o ministério. Precisamos ter claro em
nosso coração a quem estamos servindo. Não servimos a interesses de pessoas ou
grupos. Não servimos àqueles que alimentam a síndrome de Diótrefes e pensam
tolamente serem os donos da igreja. O pastor deve estar a serviço de Deus.
- O
líder deve servir a Deus com senso profundo de humildade.
Muitos batem no peito, anunciando arrogantemente que são
servos de Deus. Outros, besuntados de orgulho, fazem propaganda de seu próprio
trabalho. Outros servem a Deus, mas gostam dos holofotes. Há aqueles que fazem
do serviço a Deus um palco onde se apresentam como os atores ilustres sob as
luzes da ribalta. Um servo não busca autoglorificação. Fazer a obra de Deus sem
humildade é construir um monumento para si mesmo. E levantar outra modalidade
da Torre de Babel.
- O
líder não deve esperar facilidades pelo fato de estar servindo a Deus.
Quem serve a Deus com humildade e integridade desperta
polêmica e muita hostilidade no arraial do inimigo. Paulo servia a Deus com
lágrimas. A vida ministerial não lhe foi amena. Em vez de ganhar aplausos do
mundo, recebeu ameaças, açoites e prisões. Paulo manteve sua consciência pura
diante de Deus e dos homens, mas os judeus tramaram ciladas contra ele. Viveu
num campo minado. Enfrentou inimigos reais, porém, às vezes ocultas. Nem sempre
Deus nos poupa dos problemas. Às vezes, ele nos treina nos desertos mais
tórridos e nos vales mais profundos e escuros”. (LOPES.
Hernandes Dias. Atos. A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora
Hagnos. pag. 410-412).
III – PAULO APELA AOS LÍDERES
1. Sobre o desprendimento de obreiro
para realizar a obra de Deus (At 20.24). O apóstolo fala sobre o desapego material na vida do obreiro. O versículo
24 mostra que Paulo tinha o coração livre da avareza e da ganância. Sua vida
mostra que o desprendimento das coisas materiais e plena dependência em Deus
são características inegociáveis na vida do obreiro cristão podemos nos perder
ministerialmente por causa da avareza e da ganância. Lembremos do exemplo de
Paulo que procurava não ser “pesado” as igrejas que pastoreava e visitava (2 Ts
3.8).
Comentário
O tema específico relacionado a trabalhar
diligentemente para ganhar o próprio sustento. Embora Paulo tivesse
"autoridade" como apóstolo para receber apoio financeiro, ele
escolheu, pelo contrário, ganhar seu próprio sustento a fim de estabelecer um exemplo
(1Co 9.3-14; Gl 6.4; 1Tm 5.1 7-18).
CHAMPLIN elucida: “O
corpo físico é apenas instrumento da alma, o qual também nos foi dado com o
propósito específico de ajudar-nos a desempenhar as missões que nos foram
destinadas por Deus. Quando o corpo físico de alguém é usado com maus
propósitos, como no caso dos indivíduos que são sensuais, ambiciosos, que
buscam a fama e as riquezas, além de outros empreendimentos meramente terrenos,
seu corpo é impropriamente usado, e a missão que foi dada a esse alguém não
está sendo devidamente cumprida. Por si mesma, a vida física não pode ser
considerada como algo precioso; porém, na medida em que tornar-se veículo da
alma, para fazer o bem, para cumprimento das missões que nos são dadas pelo
Senhor Deus, então a vida física se reveste de valor. De fato, certas coisas
podem ser feitas melhor neste mundo do que nos lugares celestiais. E é por essa
razão que nos é dada a nossa peregrinação terrestre, a fim de que nossas almas
possam prosperar espiritualmente, a fim de que implantemos os pés e prossigamos
no caminho de volta a Deus persistentemente. Esse é o próprio sentido e o
propósito da vida, em que o corpo físico nos serve de veículo. E embora sejamos
seres essencialmente espirituais, o corpo físico nos capacita a manifestar isso
nesta dimensão terrestre, onde temos muito que fazer e muito que aprender.
Todavia, à parte desse grande propósito de nossa carreira e «ministério», a vida
física fica extremamente reduzida em seu valor. Todos os homens espirituais,
que sentem profundamente, em sua própria alma, que têm alguma missão especial a
realizar, reconhecem exatamente o que Paulo estava querendo expressar aqui.
Sabem de quão pouco valor é a própria existência física, e quão desperdiçada é
a vida vivida exclusivamente para a carne. No entanto, também sentem que é
urgente preservar o corpo físico, a fim de que a missão da alma possa ser
adequadamente cumprida por meio dele. Com todas essas verdades podemos comparar
as palavras do apóstolo Paulo, o qual escreveu: «Combati o bom combate,
completei a carreira, guardei a fé» (II Tim. 4:7). Que maior satisfação,
realização e alegria pode haver do que chegar um crente ao fim de sua vida terrena,
sabendo que cumpriu devidamente a sua missão, completando o que lhe foi dado
para fazer, sendo capaz de dizer algo semelhante ao que lemos aqui!? «…carreira…» talvez seja alusão a uma
corrida. O sentido é a missão determinada para alguém, o destino terreno de uma
alma. Todos os homens têm uma carreira a completar, porquanto todas as coisas
são imersas em desígnio e propósito, ainda que nem todos os homens queiram
realmente cumprir esse destino com o mesmo zelo e perfeição que foram exibidos
por João Batista e pelo apóstolo Paulo. Devemos notar que o mais importante é
levarmos a bom termo aquilo que é esperado de nós, e que a felicidade, conforme
esse termo é usualmente compreendido, não é 0 alvo imediato da vida, embora
isso seja eventualmente prometido e possa ocorrer do outro lado da porta de
Deus, isto é, após a transição a que denominamos de morte física. A conduta
ideal, por conseguinte, não consiste na busca pela felicidade, nem da alegria e
nem do prazer; mas consiste antes na tentativa de conhecermos e cumprirmos a
carreira ou destino que nos está proposta. E interessante que esse conceito não
difere grandemente da ideia aristotélica de que «virtude» é «função». Assim
sendo, a virtude de qualquer instrumento ou de qualquer vida humana, é uma certa
função que tal instrumento ou pessoa pode realizar, tornando-os úteis para a
sociedade, como elementos valiosos da mesma. Assim também, em um sentido
eminentemente espiritual, todos os homens são sem igual, incumbidos de uma
missão toda especial. (Ver o trecho de Apo. 2:17 quanto a esse tema). Ê
entristecedor 0 fato de que muita gente passa toda a sua existência terrena sem
qualquer tentativa ou sem fazer a mínima ideia de conhecer qual é a missão de
sua vida. Quão grande é o privilégio de alguém em viver e conhecer a Cristo, em
ter a esperança radiosa da vida eterna, em ter algo de útil para fazer, que lhe
dirija os passos, dando sentido à sua existência neste mundo! E então pregar
que a morte está vencida, e que só existe como uma bênção e uma transição para
uma vida superior. «.. .evangelho…» No livro de Atos esse vocábulo se encontra
somente neste versículo e no trecho de Atos 15:7. (Quanto a notas completas
sobre o seu significado, e no que consiste o evangelho cristão, ver Rom. 1:16).
O evangelho inclui tudo quanto leva os homens à perfeita e completa
transformação de seus seres segundo a imagem moral e metafísica de Cristo, «A
frase, em sua inteireza, são notavelmente paulina (referindo-se à alusão que
Paulo faz à sua ,carreira’). Pode-se comparar isso com Fil. 3:12, onde o mesmo
verbo parece sugerir imediatamente o ‘dromos’ (palavra aqui traduzida por
‘carreira’). (Ver Gál. 2:2; ICor. 9:24 e II Tim. 4:7)». (R.J.
Knowling, in loc.). (Quanto
a expressões similares àquelas aqui empregadas, e que dizem respeito ao
ministério que o Senhor deu ao apóstolo Paulo, ver II Cor. 4:1; 5:18 e I Tim.
1:12). «A vida é doce, e naturalmente nos é cara, pois ‘tudo quanto o homem tem
dará pela sua vida’ (ver Jó 2:4); nem tudo quanto um homem tem, incluindo a sua
própria vida, se é que compreende corretamente a si mesmo e aos seus próprios
interesses, haverá de dar, ao invés de perder o favor de Deus e arriscar-se a
perder a bênção da vida eterna». (Matthew Henry, in loc.)”.
(CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 443-444).
2. Sobre o cuidado pessoal do obreiro
(At 20.28). Paulo tinha uma liderança
exemplar diante das pessoas, mas ele sabia que isso não bastava. Por isso, no
versículo 28, ele diz: “Olhai, pois, por vós mesmos”. Assim, aconselhou os
obreiros que olhassem para si mesmos. As vezes na caminhada ministerial, mens. Entretanto,
a experiência nos ensina que não somos intocáveis pelas circunstâncias
externas. É preciso cuidar do corpo, da alma e do espírito. Assim, antes de
cuidar do rebanho de Deus, o obreiro deve zelar pela sua saúde física,
emocional e espiritual. Portanto, devemos cuidar de nós mesmos para cuidar do
povo de Deus.
Comentário
Uma oportuna advertência, que se provou
correta por acontecimentos posteriores em Éfeso (1Tm 1.3-7,19-20; 6.20-21; Ap
2.2). Falsos mestres já estavam infestando as igrejas da Galácia (Cl 1.6) e de
Corinto (2Co 11.4). Paulo repetiu esse chamado para o autoexame a Timóteo
quando seu jovem filho na fé servia como pastor na congregação de Éfeso (1Tm
4.16; 2Tm 2.20-21). Bispos no texto em apreço são os mesmos que bispos e
pastores. A palavra enfatiza a responsabilidade dos líderes de vigiarem e
protegerem suas congregações - uso apropriado no contexto de advertência contra
falsos mestres.
CHAMPLIN escreve: “«.. .Atendeipor vós epor todo o rebanho…» Sim, pois o sangue do Senhor
Jesus Cristo é que havia sido derramado em resgate por esse rebanho, motivo
pelo qual o rebanho assim comprado deve ser considerado como dotado de valor
incomensurável. Outrossim, o ministério da Palavra é divinamente selecionado e
santificado, através da atuação do Espírito Santo. Através desse fato se pode
perceber a seriedade de ser alguém ministro de Jesus Cristo. O que o apóstolo
Paulo queria dizer aqui foi admiravelmente bem expresso por G.V. Lechler (in
loc.): «Nenhuma culpa cabe a mim; só pode caber a vós mesmos. Por conseguinte,
cumpri a vossa parte com fidelidade, cuidando tanto de vós mesmos como do
rebanho inteiro. A congregação, por assim dizer, é um rebanho, que deve ser
alimentado e protegido dos lobos devoradores. Espera-se que os anciãos prestem
tal serviço, por serem eles os ‘supervisores’ nomeados». «Agora ele aplicava
esse discurso a eles; e através de muitas razões mostrou que deveriam vigiar
diligentemente, mostrando que só se sentia tão ansioso porque a necessidade do
momento assim lhe exigia. O primeiro motivo apresentado é que eles estavam
vinculados ao rebanho sobre o qual haviam sido postos. O segundo motivo exposto
é que não haviam sido chamados para ocupar essa função da parte de qualquer
homem mortal, e, sim, através do Espírito Santo. O terceiro motivo é que não
era nenhuma honra sem importância ter o privilégio de governar a igreja de
Deus. O quarto motivo é que o próprio Senhor havia declarado, mediante
testemunhos tão evidentes, quão grande importância dá ele à sua igreja, visto
que a redimiu com o seu próprio sangue». (Calvino, in loc.). Posto que tão
augusta incumbência foi confiada aos supervisores ou pastores, é necessário que
eles se esforcem continuamente por se aprimorarem, bem como aos seus dons e à
sua maneira de ensinar. Portanto, a preguiça mental entre os ministros da
Palavra, que algumas vezes se evidencia tanto, deveria ser substituída pelo
estudo diligente, a fim de que aumente o seu cabedal de conhecimentos, para que
possam oferecer mais abundantemente o pão aos seus respectivos rebanhos. É cena
deveras entristecedora—mas tão comum—a dos ministros que atravessam ano após
ano de vida, sem envidarem qualquer esforço no sentido de aprimorarem sua
apresentação, mas tão-somente repetem e refazem seus cansativos sermões. Por
outro lado, forçoso é dizer que apesar do estudo, do conhecimento e do
treinamento intelectual serem necessários, tudo isso será praticamente inútil a
menos que seja acompanhado pelo ministério do Espírito Santo, operando tanto no
homem interior do pregador como nas almas da congregação para a qual ele
ministra”. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento
Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 447).
E o Pastor Hernandes Dias Lopes nos
apresenta: “O líder precisa cuidar de si mesmo antes de cuidar do rebanho de
Deus. A vida do pastor é a vida do
seu pastorado. Há muitos obreiros cansados da obra e na obra porque procuram
cuidar dos outros sem cuidarem de si mesmos. Antes de pastorearmos os outros,
precisamos pastorear a nós mesmos. Antes de exortar os outros, precisamos
exortar a nós mesmos. Antes de confrontarmos os pecados dos outros, precisamos
confrontar os nossos próprios pecados. O pastor não pode ser inconsistente. Sua
vida é a base de sustentação do seu ministério. O sermão mais eloquente pregado
pelo pastor é o sermão da vida. O sermão mais difícil de ser pregado é aquele
que pregamos para nós mesmos.
- O líder precisa cuidar de si
mesmo para não praticar o que condena.
O ministério não é uma apólice de seguro contra o
fracasso espiritual. Há grande perigo de o pastor acostumar-se com o sagrado e
perder de vista a necessidade de temer e tremer diante da Palavra. Os filhos de
Eli carregavam a arca da aliança com uma vida impura. A arca não os livrou da
tragédia. Muitos pastores vivem na prática de pecados e ainda assim mantêm a
aparência. Muitos pastores saem dos esgotos da impureza, navegando no lamaçal
de sites pornográficos, e depois sobem ao púlpito e exortam o povo à santidade.
Essa atitude torna os pecados do pastor mais graves, mais hipócritas e mais
danosos do que os das demais pessoas. São mais graves porque o pastor peca
contra um conhecimento maior; mais hipócritas, porque o pastor condena o pecado
em público e, às vezes, o pratica em secreto; e, mais danosos, porque quando um
pastor cai, mais pessoas são atingidas.
- O
líder precisa cuidar de si mesmo para não cair em descrédito.
Há pastores que perderam o ministério porque foram
seduzidos pelos encantos do poder, embriagados pela sedução do dinheiro e
acabaram presos às teias da tentação sexual. Há pastores que causaram mais
males com seus fracassos do que benefícios com seu trabalho. Se um pastor
perder a credibilidade, perde também o seu ministério. A integridade do pastor
é o fundamento sobre o qual ele constrói seu ministério. Sem vida íntegra não
existe pastorado. Hoje, assistimos com tristeza a muitos pastores gananciosos que
mercadejam a Palavra e vendem a consciência no mercado do lucro. Há obreiros
que são rigorosos com os crentes, mas levam de forma frouxa sua vida pessoal.
Há pastores que apascentam a si mesmos, e não ao rebanho. Amam a sua própria
glória em vez de buscar a honra do Salvador”. (LOPES.
Hernandes Dias”. Atos. A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora
Hagnos. pag. 412-413).
3. Sobre a ameaça de “lobos cruéis” no
rebanho de Deus (At 20.29,30). A metáfora dos “lobos cruéis” se refere aos falsos mestres que incutiam
doutrinas estranhas na mente dos incautos. Esses lobos eram predadores
espirituais do rebanho de Deus, destituídos de misericórdia e amor. Nesse
sentido, o apóstolo convoca os obreiros a terem o compromisso de cuidar de cada
ovelha do rebanho, ensinando-a e protegendo-a. Portanto, estejamos atentos
contra os predadores que atacam o rebanho do Senhor. Precisamos desempenhar.com
fidelidade, o nosso papel de guardiões e protetores do rebanho de Deus.
Comentário
Em Atos 20.29, lobos vorazes, é uma metáfora emprestada de Jesus (Mt 7.15; 10.16),
essa metáfora sublinha o extremo perigo que falsos mestres representam para a
igreja. Ainda mais perigosos do que ataques de fora da igreja são as apostasias
de pessoas (especialmente líderes) de dentro da igreja (1Tm 1.20; 2Tm 1.15;
2.17; Jd 3-4,10-13). Estes falsos mestre ensinavam coisas pervertidas, palavra grega significa "deturpadas"
ou "torcidas". Falsos mestres torcem a palavra de Deus em favor de
seus propósitos perversos (At 13.10; 2Pe 3.16).
CHAMPLIN esclarece: “«…lobos…» não se refere essencialmente àqueles que faziam oposição ao
cristianismo externamente, a exemplo de Demétrio (conforme o registro do décimo
nono capítulo do livro de Atos). Pelo contrário, a alusão é a certos
indivíduos, falsos cristãos, postados dentro das fileiras da igreja, supostos
ministros de Jesus, jamais servindo de bom exemplo para os crentes; e, em suas
doutrinas, ensinavam coisas que degradavam a pessoa de Cristo, desviando os homens
para inúteis especulações, em nada proveitosas para a alma. Esses «lobos»,
encarados pelo prisma da história da igreja primitiva, pertenciam a diversas
classes, a saber:
- A
passagem de I Tim. 1:4 fala sobre uma dessas classes, sendo significativo
que ali o apóstolo Paulo menciona a questão como o cumprimento específico
de sua advertência acerca dos falsos mestres. Eram homens que davam
importância a fábulas e genealogias intermináveis. Na epístola a Tito,
tais fábulas são denominadas fábulas judaicas. Primariamente, eram
especulações de várias modalidades, em que abundavam os comentários
judaicos sobre as Escrituras do A.T. e sobre as tradições do judaísmo, que
procuravam esclarecer grande gama de questões teológicas. Essas
«genealogias» aludiam primariamente à mania judaica de traçar cada
indivíduo a sua árvore genealógica, especialmente depois que tais
registros foram destruídos ou, pelo menos, confundidos, após os diversos
cativeiros e retornos a que foi sujeitado o povo judeu. Todavia, a maioria
dos intérpretes também pensa que Paulo repreendia aqui as noções gnósticas
de emanações divinas, como hierarquias angelicais e genealogias dos
«aeons» espirituais. (Ver as notas expositivas em I Tim. 1:4, quanto a
detalhes sobre o assunto).
- Formas
primitivas do gnosticismo já existiam na-era apostólica. O evangelho de
João serviu de resposta parcial a algumas dessas formas. Os gnósticos
ensinavam que Cristo pertencia â ordem dos anjos, sendo o criador e deus
deste mundo terreno, embora houvesse outras criaturas inteligentes, em
outros mundos, dos quais Cristo não é nem o criador nem deus. Alguns
indivíduos gnósticos não atribuíam a Cristo qualquer posição elevada,
dentro das imaginárias hierarquias dos poderes espirituais, exceto no que
diz respeito a este globo terrestre.
- Outros
elementos gnósticos supunham que o corpo é o veículo do princípio maligno,
se não o próprio princípio maligno da natureza humana. Isso porque
imaginavam que a própria matéria é má, por si mesma, não podendo ter sido
criada pelo Deus supremo. Assim sendo, para os gnósticos, não importava
coisa alguma o que se fizesse com o corpo, razão pela qual se davam
licença a todas as formas de imoralidade, já que pensavam que a morte
física punha fim ao_ corpo e à sua malignidade, libertando a alma para
buscar a bondade. É bem provável que os falsos discípulos, mencionados em
II Tim. 3:6, pertencessem a essa categoria, tendo anteriormente seguido o
gnosticismo. Esse trecho bíblico diz: «…penetram sorrateiramente nas casas
e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de
várias paixões». Assim agiam tais gnósticos ou o que quer que seja, por
pensaram que é matéria indiferente aquilo que acontece ao corpo físico; e
toda e qualquer forma de imoralidade era por eles permitida e sancionada,
já que isso, na opinião deles, em nada prejudicaria a alma, o homem
essencial.
- É
quase indubitável que os judaizantes também estivessem aqui em foco. Esses
eram os que negavam a graça de Deus, forçando os gentios a observarem as
leis cerimoniais do judaísmo, requerendo que se circuncidassem os
convertidos ao cristianismo, e pregando que a salvação da alma só pode ser
dada através desses meios.
- Também
havia aqueles que causavam divisões entre os irmãos, produzindo brechas no
rebanho, por procurarem glória para si mesmos, ainda quando não ensinassem
qualquer doutrina falsa, segundo pode estar implícito no trigésimo
versículo.
- Mas
também é provável que Paulo tenha falado em termos gerais, tencionando
incluir qualquer ministro da Palavra que realmente não contribua para o
benefício da igreja de Deus, incluindo talvez mesmo aquela variedade dos
que agiam fora do ministério, os quais, ainda que pregassem a correta
doutrina cristã, não tinham verdadeiro interesse e preocupação pelas
ovelhas, mas antes, eram mercenários, impulsionados pelo egoísmo e pela
ganância.
O trecho de Apo. 2:2 mostra-nos que os crentes de Éfeso
agiram com discernimento contra os falsos profetas. Muito antes disso, o Senhor
Jesus havia advertido a respeito dos profetas falsos, que não poupariam ao
rebanho. (Ver Mat. 7:15). São esses os «bodes» (dentro do simbolismo bíblico),
traidores como Judas Iscariotes: «…falsos apóstolos, obreiros fraudulentos,
transformando-se em apóstolos de Cristo» (II Cor. 11:13). «Jesus advertiu que,
nos últimos dias, muitos mestres falsos haveriam de cativar as mentes daqueles
que não estivessem ainda bem fundamentados na verdade. Da mesma maneira que
Satanás com frequência se transmuta em anjo de luz (II Cor. 11:14), não admira
que seus obreiros enganadores com frequência se apresentem como apóstolos de
Cristo.
É extremamente importante, pois, que estejamos bem
versados na Palavra, a fim de não sermos seduzidos por esses ‘apóstolos’
atraentes, mas perigosos». «Se o apóstolo Paulo esteve atarefado a vida inteira
em conflitos com os mestres falsos, seria uma miopia inconcebível se ele
houvesse imaginado que tais perigos cessariam após a sua partida; e seria ainda
mais inconcebível se, munido de tais pressentimentos, ele tivesse deixado
negligentemente de avisar à igreja. O aspecto vago da descrição sobre os
mestres heréticos, por si mesmo, serve de prova da genuinidade do trecho,
porquanto um escritor qualquer de data posterior teria falado de forma menos
generalizada, podendo identificar mais facilmente algum erro doutrinário
corrente». (R.J. Knowling, in loc.).
Talvez estejam aqui em foco os simples causadores de
divisões, aqueles que se mostram tão egoístas, tão famintos, por poder e
autoridade, que chegam ao extremo de dividir as ovelhas a fim de obterem seguidores.
As coisas «…pervertidas…» que eles profeririam não seriam, necessariamente,
doutrinas falsas, e, sim, mentiras e calúnias, insinuações, coisas degradantes
contra seus semelhantes, o que mostra ser um vício tão prevalente no
cristianismo da atualidade. Naturalmente essas coisas também podem envolver
doutrinas falsas e destrutivas. «O lamentável disso tudo é que tais líderes da
dissensão sempre podem obter certo número de seguidores». (Robertson, in loc.).
«As epístolas pastorais, a segunda epístola de Pedro e a epístola de Judas
suprem uma evidência abundantíssima sobre quão clara era a previsão do
apóstolo. Himeneu e Alexandre e Fileto afirmavam que a ressurreição já havia
passado (ver I Tim. 1:20 e II Tim. 2:17); indivíduos maus e sedutores se tornariam
cada vez piores (II Tim. 3:13); havia aqueles que resistiam à fé, como Janes e
Jambres haviam resistido a Moisés (ver II Tim. 3:8); profetas falsos haveriam
de trazer heresias condenadoras, negando ao próprio Senhor, que os comprara(ver
II Ped. 2:1); e tudo isso fazia parte da excrescência geral da era apostólica,
do que o apóstolo Paulo via apenas o gérmen.
A tristeza de tudo isso aumenta ante o pensamento que
homens como Himeneu e Fileto talvez estivessem realmente presentes, escutando
as advertências do apóstolo, que os avisou, por conseguinte, em vão». (E.H.
Plumptre, in loc.). «…dentre vós mesmos…» são palavras que subentendem que
alguns daqueles mesmos anciãos ou supervisores seriam motivadores das divisões
entre os rebanhos, aqui descritas; mas talvez signifique, mais simples mente,
«dentre as próprias igrejas que vós representais». «…para arrastar os
discípulos atrás deles…» Segundo a exposição feita por Adam Clarke, in loc.,
abaixo estão as três grandes causas das divisões na igreja cristã:
- Os
superintendentes perdem a vida de Deus, negligenciando as almas do seu
povo, tornando-se avaros de lucro, oprimindo à sua gente por meio de
extorsões seculares.
- Os
membros das igrejas, assim negligenciados, oprimidos e irritados, alienam
suas mentes de seus pastores rapaces.
- Homens
dotados de pontos de vista sinistros tiram vantagem desse estado
momentâneo de distração, fomentam a discórdia e pregam a necessidade de
‘divisão’; e assim uma parte do povo se torna separado do grande corpo,
associando-se àqueles que alegam cuidar de suas almas e que dizem não dar
qualquer valor às coisas seculares. Nesse estado de distração, é altíssima
prova do amor de Deus pela sua herança quando se pode encontrar alguém,
dotado do verdadeiro espírito e da verdadeira doutrina apostólica, que se
levante para conclamar aos crentes de volta à verdade primitiva,
restaurando a disciplina primitiva.
Uma das razões mais importantes que explicam por que as
divisões podem ser feitas com tanta facilidade no meio evangélico, e por que os
causadores de divisões geralmente são tão prósperos no cristianismo, é que os
crentes vivem tão famintos de alimento sólido (ensino substancial na Palavra)
que, mui naturalmente, se sentem indispostos, tal como um indivíduo qualquer se
sente, quando padece de fome física e anda exausto. Se os crentes fossem
espiritualmente bem alimentados, com o pão do céu, seria muito mais difícil
causar divisões entre eles. Toda a divisão, em uma igreja ou grupo de igrejas,
com frequência serve de sinal do estado de depauperamento espiritual que tem
dominado essa igreja ou grupo”. (CHAMPLIN, Russell Norman, O
Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.
Vol. 3. pag. 447-448).
CONCLUSÃO
A vida do apóstolo Paulo deixa um
grande legado para os obreiros da atualidade. Sua maneira de despertar novas
vocações, sua herança doutrinária para a nova geração de trabalhadores e seu
apelo aos obreiros para cuidar do rebanho de Deus são marcos importantes para
nortear os ministérios dos vocacionados de Deus. É tempo de desenvolver novas
vocações.
Comentário
É
fato para o obreiro que quem chama, prepara, envia e cuida é Deus, mas na
Bíblia há exemplos claros de homens de Deus que tiveram um preparo intelectual
e cultural para atender demandas divinas:
a)
Moisés — Entendido em toda ciência do Egito.
b)
Lucas — Médico cujo evangelho foi escrito aos Gregos (a nata intelectual da
época) e procurou apresentar Jesus como o homem perfeito que tanto eles
esperavam.
c)
Paulo — A formação de Paulo, para alguns especialistas, foi fundamental para
que tivesse sucesso no seu ministério. Paulo viveu numa época em que várias
etnias e culturas estavam associadas, através da universalidade da língua
grega, havia uma comunicação, comercialização e um nível cultural altíssimo
naquela era, herança do período anterior em que foi estabelecida a cultura
helena (grega). Em Atos dos Apóstolos, Paulo chegou a discutir com filósofos
gregos (estóicos e epicureus) sobre a tese de que Jesus Cristo era o Filho de
Deus ressurreto: “E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com
ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é
pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição”
(Atos 17.18).
d)
Apolo (At 18.24-28) — segundo Gardner (2000, p.61):
“como
homem ‘instruído’ recebeu formação de ‘nível universitário’ em retórica, na
grandemente valorizada educação grega. Era um ensino disponível apenas para a
elite, devido aos seus mais elevados custos. Lucas diz que Apolo era ‘poderoso’
no uso das Escrituras. ‘Poderoso’ era um termo retórico para lógica e
persuasão. Ele aprendeu a arte da habilidade nos debates e em sua educação
secular e usava isso de maneira excelente, ‘demonstrando’ (outro termo
retórico) pelo Antigo Testamento que Jesus era o Messias prometido (At
1.18.24). Pelos padrões do primeiro século, é apresentado como um formidável
judeu cristão, apologista e debatedor, e combina seu conhecimento exaustivo do
AT com sua educação secular na arte da retórica (Compare Apolo com outros
pregadores, os quais, em termos de educação formal, eram descritos como ‘sem
letras e indoutos’ — At 4.13)”.
Se
levarmos em consideração o texto de 1 Samuel 19.20 veremos que Samuel tinha uma
escola de profetas e ali eram fornecidas instruções para o intelecto deles,
tinha-se um clima espiritual muito intenso a fim de que o candidato a profeta
entendesse realmente o ministério que iria exercer. “Então enviou Saul
mensageiros para trazerem a Davi, os quais viram uma congregação de profetas
profetizando, onde estava Samuel que presidia sobre eles; e o Espírito de Deus
veio sobre os mensageiros de Saul, e também eles profetizaram”.
Outros
Intelectuais que possibilitaram o desenvolvimento do Cristianismo no mundo
foram: Tertuliano, João Crisóstomo, Agostinho, Tomas de Aquino, o Dr. Martinho
Lutero, etc.
Comentário
elaborado pelo Presbítero Francisco Barbosa. Ao compartilhar, favor citar
fonte.
PARA REFLETIR
A respeito de “Paulo e sua Dedicação aos
Vocacionados”, responda:
·
Em que lugar Paulo
permaneceu mais tempo em seu ministério?
Em Éfeso, o apóstolo permaneceu mais tempo.
·
Quais são as
epistolas destinadas ao pastoreio de igrejas?
Não por acaso, temos três epistolas paulinas
denominadas de “cartas pastorais” (1 e 2 Timóteo, Tito).
·
O que os
judaizantes procuravam exigir dos cristãos gentios?
Eles exigiam que os gentios convertidos
observassem a lei, tais como: a prática da circuncisão, a guarda do sábado
judaico, a observância dos ritos que envolviam datas e comidas.
·
Qual era a
implicação do ensino dos gnósticos? A implicação desse ensino resultava na banalização da graça de Deus.
·
O que Atos 20.24
mostra?
Mostra que Paulo tinha o coração livre da
avareza e da ganância.