JOVENS│ Lição 10: A prisão
de Jeremias│4º Trim 2025
TEXTO PRINCIPAL
“[...] nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar
do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Rm 8.39).
ENTENDA O TEXTO PRINCIPAL:
👉 Paulo escreve Romanos por volta de 57 d.C., a uma igreja formada por
judeus e gentios vivendo num contexto de tensões étnicas, pressões culturais e
possível perseguição do Império Romano. Em Romanos 8, ele culmina sua
argumentação sobre a segurança da salvação, afirmando que nenhuma força criada,
seja espiritual, terrena ou cósmica, possui poder para romper a união do crente
com Cristo. Os termos altura
e profundidade
eram usados na linguagem astrológica antiga para indicar influências
espirituais ou destinos determinados; Paulo afirma que nada disso controla o
cristão. Nenhuma
criatura inclui qualquer realidade criada, inclusive nós mesmos. A
aplicação para hoje é clara: em tempos de medo, crise moral, ataques
espirituais e instabilidades emocionais, o crente pode descansar na fidelidade
imutável de Deus. Sua graça não depende de circunstâncias, sentimentos ou
adversidades. Nossa segurança está ancorada em Cristo, e quem está Nele pode
viver com coragem, santidade e esperança mesmo diante das maiores pressões da
vida. nem a altura, nem a profundidade. Termos comuns da astronomia
usados para se referir aos pontos altos e baixos do caminho de uma estrela.
Nada durante o percurso da vida, desde o começo até o fim; pode nos separar do amor de Deus.
Possivelmente, Paulo pretende descrever loco o espaço, do topo à sua
base. nem qualquer outra criatura. Para que nada e ninguém seja
deixado de fora, a expressão compreende tudo, exceto o próprio criador, d o
amor de Deus. (Cf. 5.5-11).
RESUMO DA LIÇÃO
Jeremias permaneceu
fiel a Deus a despeito das oposições e das perseguições.
ENTENDA O RESUMO DA LIÇÃO:
👉 Jeremias permaneceu inabalavelmente fiel ao
Senhor, mesmo enfrentando oposição intensa, hostilidade crescente e
perseguições injustas. Sua lealdade não nasceu de circunstâncias favoráveis,
mas de uma confiança profunda no caráter imutável de Deus. Enquanto o povo
resistia à verdade e os líderes tentavam silenciar sua voz, o profeta
manteve-se firme, sustentado pela fidelidade divina. Assim, Jeremias se torna
um modelo para a Igreja de hoje: quando o ambiente se torna adverso, quando a
mensagem bíblica é rejeitada e quando a obediência parece custar caro, o servo
do Senhor continua caminhando, não pela força própria, mas pela convicção de
que Deus permanece fiel à sua Palavra e ao seu chamado.
TEXTO BÍBLICO
Jeremias 37.1-15.
1. E reinou o rei Zedequias, filho de Josias, em lugar de
Conias, filho de Jeoaquim, a quem Nabucodonosor, rei da Babilônia, constituiu
rei na terra de Judá.
👉 Zedequias... reinou. Zedequias, um tio de Jeconias, foi levado ao trono por Nabucodonosor,
como uma maneira de desrespeitar Jeoaquim e Jeconias. Seu reinado vassalo durou
11 anos, entre 597-586 a.C. A mensagem do rei a Jeremias nesse capítulo
aconteceu algum tempo antes da do cap. 21, quando Zedequias estava com medo que
os caldeus (babilônios) vencessem os egípcios e voltassem para sitiar Jerusalém
(vs. 3-5).
2. Mas nem ele, nem os seus servos, nem o povo da terra deram
ouvidos às palavras do Senhor que falou pelo ministério de Jeremias, o profeta.
👉 o problema central não era político, mas
espiritual: rejeição da Palavra. Endurecer o coração contra Deus torna o povo
indefensável perante o juízo. O padrão bíblico: quando a liderança espiritual
rejeita a revelação, o povo é arrastado ao mesmo pecado. A crise que viria não
era acidente histórico, mas fruto da surdez espiritual do povo e dos líderes.
3. Contudo, mandou o rei Zedequias a Jucal, filho de Selemias,
e a Sofonias, filho de Maaseias, o sacerdote, ao profeta Jeremias, para lhe
dizerem: Roga, agora, por nós ao SENHOR, nosso Deus.
👉 Atitude contraditória: pedir oração
enquanto desobedece. Muitos querem intervenção divina sem arrependimento. A
incoerência do rei: busca o profeta, mas rejeita a mensagem. Zedequias queria
livramento, não transformação; buscava o profeta, mas não a vontade de Deus.
4. E entrava e saía Jeremias entre o povo, porque não o tinham
encerrado na prisão.
👉 O profeta já não estava mais preso no pátio
da guarda como antes (32.2; 33.1).
5. Contudo, o exército de Faraó saiu do Egito; ouvindo os
caldeus que tinham sitiado Jerusalém esta notícia, retiraram-se de Jerusalém.
👉 O movimento militar do Egito criou falsa
esperança em Jerusalém. Confiar em alianças humanas em vez de Deus é ilusão
perigosa. A retirada dos caldeus seria temporária. O recuo da Babilônia não era
livramento, mas pausa estratégica, e o povo interpretou isso incorretamente.
6. Então, veio a Jeremias, o profeta, a palavra do SENHOR,
dizendo:
👉 Deus desmascara a falsa confiança no Egito.
A mensagem de Jeremias confronta diretamente a política enganosa da corte. Nenhuma
ação humana poderia frustrar o juízo de Deus. Deus declara que a esperança em
alianças políticas é inútil, somente a submissão à sua Palavra poderia salvar.
7. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Assim direis ao rei de
Judá, que vos enviou a mim, para se informar: Eis que o exército de Faraó, que
saiu em vosso socorro, voltará para a sua terra no Egito.
👉 37.7-10 Assim direis. A Babilônia, que havia temporariamente levantado o cerco a Jerusalém
para lidar com o avanço dos egípcios, voltaria e destruiria Jerusalém.
8. E voltarão os caldeus, e pelejarão contra esta cidade, e a
tomarão, e a queimarão.
👉 O juízo era certo; o recuo dos inimigos não
significava vitória. Rejeitar a Palavra leva a consequências irreversíveis. A
destruição de Jerusalém era resultado da rejeição persistente ao Senhor. A
cidade cairia porque o coração do povo permanecia rebelde.
9. Assim diz o SENHOR: Não enganeis a vossa alma, dizendo: Sem
dúvida, se irão os caldeus de nós; porque não se irão.
👉 Adverte contra profetas mentirosos e falsas
expectativas. O autoengano espiritual é tão destrutivo quanto o engano externo.
Volta-se ao tema central: a ilusão é arma do pecado. O povo preferia acreditar
em promessas agradáveis do que na verdade dura, porém salvadora, de Deus.
10. Porque, ainda que ferísseis a todo o exército dos caldeus
que peleja contra vós, e ficassem deles apenas homens traspassados, cada um se
levantaria na sua tenda e queimaria a fogo esta cidade.
👉 Revela o poder soberano de Deus até sobre
realidades humanas enfraquecidas. O juízo não pode ser resistido quando
decretado por Deus. Asentença divina é inexorável. Mesmo soldados feridos
seriam instrumentos de juízo; ninguém poderia impedir o plano divino.
11. E sucedeu que, subindo de Jerusalém o exército dos caldeus,
por causa do exército de Faraó,
👉 O intervalo deu ao povo a falsa impressão
de paz. Deus permite pausas que testam o coração humano. A retirada temporária
prepara o cenário para a prisão de Jeremias. O momento de calmaria era apenas
um intervalo no juízo; não significava livramento.
12. saiu Jeremias de Jerusalém, a fim de ir à terra de Benjamim
para receber a sua parte no meio do povo.
👉 saiu Jeremias. Ele retornou para a sua cidade natal para reclamar a propriedade que havia
adquirido em 32.6-12
13. Estando ele à porta de Benjamim, achava-se ali um capitão
da guarda, cujo nome era Jerias, filho de Selemias, filho de Hananias, o qual
prendeu a Jeremias, o profeta, dizendo: Tu foges para os caldeus.
👉 Hananias. Jeremias havia predito a sua morte (28.16 assim um neto dele quis
vingar-se de Jeremias com uma falsa acusação (cf. 38.19; 52.15).
14. E Jeremias disse: Isso é falso; não fujo para os caldeus.
Mas ele não lhe deu ouvidos; e assim Jerias prendeu a Jeremias e o levou aos
príncipes.
👉 Jeremias fala a verdade, mas não é ouvido.
A injustiça revela a cegueira espiritual da liderança. O profeta é tratado como
criminoso por ser fiel. Sua defesa é ignorada porque o povo rejeitava não
apenas o mensageiro, mas o próprio Deus.
15. E os príncipes se iraram muito contra Jeremias, e o
feriram, e o puseram na prisão, na casa de Jônatas, o escrivão; porque a tinham
transformado em cárcere.
👉 o meteram no cárcere. Jeremias seguidamente sofreu agressões, ameaças e outros maus-tratos por
proclamar a verdade de Deus (11.21; 20.2; 26.8; 36.26; 38.6,25).
INTRODUÇÃO
Nesta lição, vamos
refletir a respeito do compromisso de Deus com a sua Palavra e com aqueles que
lhe são fiéis. Veremos sobre o sofrimento de Jeremias em sua prisão, e a providência
de Deus em manter a vida do profeta, mesmo ele passando por momentos terríveis.
👉 A prisão de Jeremias nos obriga a olhar
para algo maior do que a dor de um profeta. Ela nos conduz ao coração de Deus e
ao compromisso inabalável que Ele mantém com a própria Palavra. Nada no livro
de Jeremias é acidental. Cada cadeia, cada perseguição e cada silêncio do
palácio revelam que o Senhor continua fiel, mesmo quando Seu povo não está. A
fidelidade divina atravessa muros, resiste à injustiça humana e sustenta
aqueles que, como Jeremias, escolhem permanecer firmes apesar do custo. Esse
episódio nos mostra que o sofrimento do profeta não foi apenas consequência de
um contexto político turbulento, mas parte do chamado que Deus lhe confiou.
Jeremias pregou o que ninguém queria ouvir. A palavra “ouvir” em Jeremias 37.2
traduz o verbo hebraico shama‘, que significa não apenas escutar sons, mas
acolher com obediência. Judá escutou a voz do profeta, mas se recusou a shama‘,
e essa ruptura entre ouvir e obedecer abriu caminho para o juízo que Jeremias
anunciava há décadas (Jr 1.10). Como ensina Stanley Horton, quando um povo
rejeita a Palavra, rejeita também o Deus que fala por meio dela. A prisão,
portanto, não representa falha do profeta, mas confirmação do seu chamado.
Mesmo algemado, Jeremias permaneceu livre naquilo que importa: sua consciência
diante de Deus. Ele não suavizou a mensagem, não negociou a verdade, nem buscou
proteção política. Seu compromisso era com o Senhor que o havia separado desde
o ventre (Jr 1.5). Craig Keener observa que a coragem profética se revela
justamente quando a mensagem se torna impopular, e Jeremias encarna esse
princípio com uma fidelidade impressionante. Há aqui também um aspecto pastoral
profundo. Deus não abandonou Jeremias na escuridão do calabouço. O mesmo Deus
que permite a aflição é aquele que se aproxima na hora certa e sustenta o seu
servo. As cadeias não impediram a voz divina, porque a revelação não depende
das circunstâncias externas, mas da graça que invade o coração. Enquanto Judá
endurecia o coração, Jeremias, mesmo cansado e pressionado, continuava a ouvir
a voz do Senhor. Essa dinâmica revela, como afirma Anthony Palma, que a
presença de Deus não é anulada pela adversidade, mas experimentada com maior
nitidez dentro dela. Ao iniciarmos esta lição, precisamos nos colocar ao lado
desse profeta ferido, mas não vencido. Sua história nos convoca a examinar
nossa própria postura diante da Palavra. Somos ouvintes sensíveis ou meros
espectadores religiosos? Estamos dispostos a obedecer mesmo quando isso nos
custar aprovação, conforto ou estabilidade? A prisão de Jeremias é mais do que
um episódio histórico. É um espelho. Ela nos chama a uma fé madura, que se
firma na fidelidade de Deus e responde com a mesma fidelidade. Aqui descobrimos
que a vida cristã não é sustentada pela ausência de lutas, mas pela presença do
Deus que permanece fiel em todas elas.
I. A PRISÃO DE
JEREMIAS
1. Informações iniciais. A prisão de Jeremias é um tema que chama a
atenção, tanto pela sua importância histórica como pela comoção diante do
sofrimento de um profeta fiel. A sua prisão se deu quando os babilônios se
afastaram de Jerusalém, por um tempo, para pelejar contra um exército egípcio
(v.5). Este foi um momento angustiante, tanto para Jerusalém que estava prestes
a ser invadida pelos babilônios, como para Jeremias que, além de correr risco
de perder a vida, tinha de lidar com o cumprimento de suas predições a respeito
da destruição de seu povo. Judá não ouviu a voz de Deus e descansou na falsa
sensação de que os babilônios não voltariam para atacá-la, ao que Jeremias
enviou um alerta ao rei de que eles não só voltariam, mas a destruiria
(vv.8-10). Nem mesmo depois de preso o profeta alterou a mensagem, mas
permaneceu fiel (vv.17,18), sendo então colocado “no átrio da guarda”
(vv.20,21).
👉 A prisão de Jeremias nos conduz para dentro
de um dos momentos mais sombrios da história de Judá. Não é apenas um profeta
sendo algemado. É o confronto entre a Palavra de Deus e o coração endurecido de
uma nação que escolheu ignorá-la. Jerusalém estava cercada, tensa e
emocionalmente exausta, enquanto o exército babilônico recuava temporariamente
para enfrentar os egípcios. Esse recuo trouxe uma esperança superficial, mas
não verdadeira. Como ensina a Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, era uma falsa
sensação de segurança construída mais no desejo humano do que na fé obediente. Nesse
contexto, o sofrimento de Jeremias se torna ainda mais significativo. Ele sabia
que suas predições estavam se cumprindo diante de seus olhos, e isso não lhe
trazia satisfação, mas dor. A NVI registra que Judá não quis “ouvir” a voz do
Senhor. O verbo hebraico shama‘ aparece aqui com o sentido de escutar com submissão.
O povo ouviu sons, mas rejeitou o chamado. Como destaca Stanley Horton, quando
o coração resiste ao shama‘, a relação com Deus se torna apenas formal, e não
transformadora. A postura do rei Zedequias confirma esse distanciamento
espiritual. Ele buscava o profeta, mas não buscava arrependimento. Douglas Oss
explica que há uma grande diferença entre procurar respostas divinas e se
submeter ao governo divino. Jeremias, porém, permanece firme. Não ajusta a
mensagem para agradar o rei, nem para diminuir sua dor. Ele sabe que a verdade
de Deus não negocia com a conveniência humana. A Bíblia de Estudo MacArthur
observa que essa fidelidade profética é uma marca dos servos que se curvam
diante do Senhor antes de se curvar diante dos homens. O aviso que Jeremias
entrega ao rei é direto. Os babilônios voltariam e destruiriam a cidade. O
profeta não suaviza nada. Ele entende, como afirma Craig Keener, que a função
profética não é prever o futuro, mas chamar o povo de volta ao pacto. As
palavras de Jeremias revelam um discernimento espiritual profundo. Ele vê além
do movimento militar. Ele percebe a mão disciplinadora de Deus operando na
história, como já havia anunciado desde seu chamado (Jr 1.10). Mesmo após ser
preso injustamente, Jeremias permanece íntegro. Não há ressentimento, revolta
ou distorção da mensagem. A fidelidade dele dentro da prisão diz mais do que
seus sermões fora dela. Anthony Palma lembra que a perseverança dos servos de
Deus sob pressão é um testemunho poderoso da confiança na soberania divina.
Jeremias confirma isso quando continua afirmando ao rei a mesma palavra que lhe
custou a liberdade. A prisão não reduz a autoridade do profeta, apenas
evidencia de onde ela realmente vem. A transferência para o átrio da guarda
representa um alívio parcial, mas não muda o cenário. Jeremias não está em um
palácio. Está entre soldados, num ambiente de tensão e vigilância. Ainda assim,
é nesse lugar que Deus o sustém e preserva sua vida. O Comentário Bíblico
Beacon observa que a proteção divina nem sempre nos tira da aflição, mas nos
preserva dentro dela. A presença de Deus acompanha o profeta, ainda que o povo
tenha rejeitado essa mesma presença. Ao olhar para esse episódio, somos
confrontados com uma verdade simples e profunda. Deus continua falando e
chamando. A pergunta é se estamos dispostos a ouvir com shama‘ ou se preferimos
a segurança ilusória que Judá escolheu. A vida cristã madura exige coragem para
enfrentar a verdade de Deus, mesmo quando ela nos contraria. Jeremias nos
lembra que fidelidade não é ausência de dor, mas adesão firme à vontade de Deus
em qualquer circunstância.
ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
ELIAS TORRALBO. Exortação Arrependimento e
Esperança. Rio de Janeiro: CPAD.
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
KEENER, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson.
MENZIES, Robert. Pentecost: This Story is
Our Story. Gospel Publishing House.
PALMA, Anthony D. A Obra do Espírito Santo.
Rio de Janeiro: CPAD.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. São
Paulo: Hagnos.
SHEED, Russell. Bíblia de Estudo Shedd. São
Paulo: Vida Nova.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento
Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos.
APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia de Estudo
Aplicação Pessoal. Mundo Cristão.
2. A primeira fase da prisão de Jeremias. Zedequias foi um rei indeciso, e
isso contribuiu diretamente para a prisão de Jeremias. Diante da decisão do
povo em confiar na própria força e não em Deus, o profeta Jeremias advertiu a
nação a fugir do engano (v.9), como clara demonstração de que eles não
conheciam a Deus e nem o seu juízo. Enquanto viajava para Anatote, sua cidade
natal, Jeremias foi impedido de seguir viagem e foi preso, sob a acusação de
que estava indo para se aliar aos babilônios (v.13). O profeta contava com a
simpatia de alguns (Jr 36.11-19) e com a maldade de outros que conseguiram a
autorização do rei para punirem Jeremias (Jr 37.15). Jeremias ficou preso “por
muitos dias” (v.16) num calabouço, que quer dizer “casa da cova”, onde tinhas
as “suas celas”, lugar onde sua vida corria perigo (v.20). Sob a pressão do
cerco babilônio, o rei Zedequias consultou, secretamente, Jeremias que, mesmo
diante do quadro no qual se encontrava, não negociou a mensagem, mas a entregou
com fidelidade (v.17) e, por causa de sua intercessão ao rei (v.20) foi
colocado no átrio da guarda (v.21).
👉 A prisão de Jeremias surge em um dos
períodos mais críticos de Judá. O rei Zedequias, retratado pelo texto bíblico
como indeciso e espiritualmente instável, não tinha coragem de obedecer àquilo
que ouvia da parte de Deus. A Bíblia afirma que ele “não deu atenção às
palavras que o Senhor havia falado” (Jr 37.2). O verbo hebraico usado ali,
shama’, não significa apenas ouvir, mas ouvir para obedecer. Em outras
palavras, Zedequias escutava, mas não se submetia. Essa postura abriu caminho
para decisões políticas confusas e, finalmente, contribuiu para a prisão do
profeta. Enquanto o povo insistia em confiar em sua força militar e em alianças
humanas, Jeremias chamou a nação a “fugir do engano” (v.9). A palavra sheqer,
traduzida como “engano”, carrega a ideia de ilusão deliberada, uma mentira
revestida de aparência espiritual. Comentando esse trecho, Anthony Palma
observa que o pecado endurece a consciência, fazendo com que o povo perca o
discernimento do juízo divino. Assim, a advertência de Jeremias revelava que
Judá já não reconhecia nem o caráter de Deus nem a seriedade de Seu juízo. Foi
nesse clima tenso que Jeremias decidiu viajar para Anatote, sua cidade natal.
No entanto, ao chegar ao portão de Benjamim, foi acusado falsamente de
“desertar para os caldeus” (v.13). O verbo hebraico nôphel sugere a ideia de
“cair para o lado do inimigo”, o que revela o quanto o medo e a paranoia
estavam dominando o coração dos oficiais. Craig Keener destaca que, quando a
nação rejeita a Palavra, inevitavelmente passa a ver o profeta como adversário.
Assim, Jeremias foi preso e entregue a homens que, movidos por ódio, receberam
autorização do rei para castigá-lo (Jr 37.15). O profeta ficou detido “por
muitos dias” em um calabouço, literalmente uma “casa da cova” (v.16). Esse era
um ambiente subterrâneo, úmido e insalubre, descrito nos comentários da Bíblia
de Estudo Aplicação Pessoal como um local onde a vida do prisioneiro corria
grande risco. O texto menciona “suas celas” (v.20), indicando compartimentos
estreitos e perigosos. French Arrington lembra que Deus, em Sua providência,
não poupou Seus servos do sofrimento, mas sustentou cada um deles em meio às
provações. Mesmo assim, e talvez por causa da crescente pressão do cerco
babilônico, Zedequias procurou Jeremias secretamente. O rei queria ouvir a
verdade, mas não tinha coragem de assumi-la diante do povo. Ainda assim,
Jeremias não suavizou a mensagem. A palavra hebraica para “falar” no versículo
17, dabar, indica uma mensagem deliberada e autorizada; ele falou com fidelidade,
sem negociar o que Deus havia dito. Após interceder pela própria vida (v.20), o
profeta foi então transferido para o átrio da guarda (v.21), um local menos
cruel, mas ainda sob vigilância. A mudança não anulou seu sofrimento, mas
evidenciou o cuidado de Deus em meio à aflição. Nesse episódio, aprendemos que
a indecisão espiritual pode colocar o povo de Deus em grande perigo, enquanto a
fidelidade à Palavra, mesmo sob pressão, revela a maturidade de um coração
firmado no Senhor. Jeremias nos mostra que obedecer a Deus quando todas as
circunstâncias são contrárias não é apenas coragem: é fruto de uma vida rendida
ao Espírito, como ensinaria Horton ao refletir sobre a perseverança dos
profetas. Seu testemunho ecoa ainda hoje como chamado à fidelidade, à coragem e
à confiança na verdade divina.
ARRINGTON, French L. Comentário bíblico –
Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, ano.
BEACON, Frank. Comentário Bíblico Beacon.
Rio de Janeiro: CPAD.
CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento
Interpretado. São Paulo: Hagnos.
CPAD. Comentário Bíblico Pentecostal. Rio
de Janeiro: CPAD.
FEE, Gordon D. Comentário do Novo
Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.
KEENER, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia. São Paulo: Vida.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil.
PALMA, Anthony D. A verdade sobre o pecado
e o arrependimento. Rio de Janeiro: CPAD.
3. A segunda fase da prisão de Jeremias. A primeira fase da prisão de
Jeremias foi em um calabouço, que se trata de uma prisão subterrânea, fria e
escura (vv.15,16). Em seguida, o rei permitiu que o profeta ficasse no átrio da
guarda, uma parte do palácio, uma prisão mais “branda” e sob a vigilância de
soldados (v.21). Finalmente, Jeremias foi lançado em um calabouço e ao que
indica que se tratava de uma espécie de cisterna, ou um reservatório de águas,
mas que só tinha lama, o que tornou essa prisão bem mais terrível para o
profeta (Jr 38.6,7). A segunda fase da prisão de Jeremias se deu nesse
calabouço sem água ou comida. Ele foi acusado de trabalhar contra Judá e ter
desanimado o povo com a sua mensagem de arrependimento e de alerta sobre a
invasão de Nabucodonosor. Enquanto os que trabalharam contra Jeremias eram
príncipes de Judá, Ebede-Meleque que intercedeu e atuou na libertação do
profeta, era um etíope e não um judeu, reafirmando que Deus usa meios
improváveis para realizar grandes obras (Jr 39.15-18).
👉 A narrativa da segunda fase da prisão de
Jeremias revela o avanço da hostilidade contra o profeta e mostra, ao mesmo
tempo, como a fidelidade à Palavra pode conduzir alguém a lugares cada vez mais
sombrios. No início, Jeremias havia sido levado a um calabouço subterrâneo,
úmido e frio, onde a escuridão gerava a sensação de abandono. O texto fala de
um beth habbor, uma “casa da cova”, termo que descreve não apenas um porão, mas
um lugar onde o corpo e o ânimo eram esmagados. A Bíblia de Estudo Aplicação
Pessoal observa que tais prisões serviam menos para reter e mais para torturar
pela privação. Mesmo assim, Deus preservou a vida de Seu servo. Diante do
agravamento da crise nacional, Zedequias permitiu que Jeremias fosse
transferido para o átrio da guarda, uma área interna do palácio que oferecia um
pouco mais de dignidade e luz. Champlin observa que essa decisão pode indicar
que o rei, apesar de sua fragilidade espiritual, reconhecia em Jeremias uma
figura de integridade. Mesmo assim, o profeta permanecia vigiado e restrito, o
que já mostrava que a Palavra de Deus estava sendo tratada com cautela, medo e
resistência, e não com obediência. Porém, a situação se tornou ainda mais
severa quando os líderes políticos de Judá pressionaram o rei e conseguiram
autorização para lançar Jeremias em outra prisão. Desta vez, o texto descreve
uma cisterna sem água, contendo apenas lama espessa (Jr 38.6). A palavra usada,
bôr, indica um poço profundo, originalmente destinado a armazenar água da
chuva. Keener explica que, quando abandonado, esse tipo de reservatório
acumulava lama e dejetos, tornando-se um ambiente insalubre e mortal. A descida
de Jeremias para esse lugar representa o ponto mais baixo de seu sofrimento, e
alguns estudiosos afirmam que essa lama poderia atingir a cintura ou até os
ombros, dificultando a respiração. Não havia comida, nem espaço seguro. Apenas
um lugar que lentamente consumia a vida do profeta. A acusação contra Jeremias
era de deslealdade. Ele foi acusado de “desanimar o povo” e “enfraquecer as
mãos dos guerreiros” (Jr 38.4). O verbo hebraico rappah, “enfraquecer”, traz a
ideia de soltar a força, afrouxar a coragem. Para os príncipes, a mensagem de
arrependimento soava como traição. Horton lembra, em sua Teologia Sistemática
Pentecostal, que a verdade revelada sempre confronta estruturas humanas que
insistem em permanecer autônomas diante de Deus. Por isso, a mensagem de Jeremias
parecia perigosa, embora fosse o único caminho real de salvação. É nesse ponto
que surge um dos personagens mais surpreendentes do livro: Ebede-Meleque, um
etíope, um estrangeiro, um servo da corte. Enquanto os príncipes de Judá se
voltavam contra Jeremias, foi esse homem improvável que intercedeu por ele
diante do rei. Seu nome significa “servo do rei”, mas o texto mostra que, na
verdade, ele serviu ao Rei maior, o Senhor. A Bíblia de Estudo Pentecostal
destaca que sua atitude corajosa reflete sensibilidade espiritual em meio à
corrupção generalizada. Deus o honrou diretamente, prometendo-lhe livramento no
futuro por sua confiança no Altíssimo (Jr 39.15-18). MacArthur comenta que isso
demonstra que a graça divina alcança e usa quem tem um coração disposto,
independentemente da origem. O contraste é forte e pedagógico. Aqueles que
deveriam proteger o profeta foram seus perseguidores. Aquele que não possuía
linhagem israelita tornou-se instrumento de libertação. A narrativa nos lembra
que o Senhor levanta socorro de onde menos esperamos e que Seus propósitos
avançam apesar das estruturas humanas corrompidas. Mas também nos lembra que
fidelidade à Palavra frequentemente nos conduz a cisternas de lama antes de nos
conduzir novamente à luz. A segunda fase da prisão de Jeremias nos ensina que
permanecer fiel quando tudo ao redor se opõe é uma das marcas mais profundas da
verdadeira espiritualidade. E, como a experiência do profeta revela, Deus nunca
abandona aqueles que permanecem firmes em Sua verdade.
ARRINGTON, French L. Comentário bíblico –
Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, ano.
BEACON, Frank. Comentário Bíblico Beacon.
Rio de Janeiro: CPAD.
CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento
Interpretado. São Paulo: Hagnos.
CPAD. Comentário Bíblico Pentecostal. Rio
de Janeiro: CPAD.
FEE, Gordon D. Comentário do Novo
Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.
KEENER, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia. São Paulo: Vida.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur.
São Paulo: Thomas Nelson Brasil.
PALMA, Anthony D. A verdade sobre o pecado
e o arrependimento. Rio de Janeiro: CPAD.
SUBSÍDIO
I
“Nabucodonosor
pôs Zedequias na posição de ‘rei’ em Jerusalém, de modo que Zedequias realmente
estava subordinado à autoridade da Babilônia. Anteriormente, o rei Joaquim
tinha reinado por apenas três meses antes de ser deportado para a Babilônia
(veja 36.30, nota). Embora Zedequias tenha se recusado a prestar atenção àquilo
que o Senhor tinha dito através de Jeremias (v.2), ele ainda queria que
Jeremias rogasse por Judá, esperando de alguma maneira ganhar o favor do
Senhor. Zedequias era como muitos hoje, que querem a ajuda de Deus, mas que ao
mesmo tempo insistem em desfrutar os prazeres pecaminosos do mundo. Tais pessoas
têm uma religião superficial, mas não um relacionamento real com Deus. Porém,
quando a aflição chega, elas invocam a Deus, esperando receber a sua ajuda.
Como Zedequias, elas se desapontarão (vv.6-9). Jeremias se apresentou diante do
rei sem temor e não hesitou em anunciar a mensagem impopular de que a cidade
seria destruída (vv.8,10). Espancamentos, prisão e ameaças de morte não fizeram
com que ele abandonasse a sua missão de entregar a mensagem de Deus
(vv.11-17).” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.955).
II. PRISÃO FECHADA,
PORTAS ABERTAS
1. A ação de Deus, apesar da oposição. A história de Jeremias mostra
que diante de toda a perseguição e maldade de seus compatriotas, o agir de Deus
não foi impedido, haja vista que o profeta continuou a receber mensagens a
serem transmitidas e, sem retroceder, as entregou com fidelidade e coragem.
Além disso, aquilo que o Senhor falou por meio dele se cumpriu (Jr 29.10).
👉 A vida de Jeremias nos obriga a encarar uma
verdade que a igreja, muitas vezes, tenta evitar: a obediência fiel não nos
isenta da dor. Pelo contrário, às vezes a fidelidade nos leva diretamente para
ela. E, ainda assim, nada pode impedir a obra que Deus decidiu realizar. A história
do profeta mostra que a oposição humana jamais silencia a voz divina. Quando
Deus chama, Ele sustenta; quando envia, Ele acompanha; quando fala, Ele cumpre.
Jeremias pregava a uma geração que se recusava a ouvir. Era hostilizado,
ridicularizado e tratado como traidor. Seus inimigos eram muitos; seus aliados,
quase nenhum. Mesmo assim, o texto bíblico insiste: a Palavra continuava a vir
a ele. Essa expressão repetida em Jeremias revela algo essencial sobre o
caráter de Deus. A revelação não dependia das circunstâncias políticas, do
humor dos príncipes ou da instabilidade do rei Zedequias. Dependia do Deus
soberano que insiste em falar. A oposição dos homens nunca bloqueia a
iniciativa divina. Segundo o Comentário Bíblico Beacon, o verbo hebraico empregado
para “veio a palavra do Senhor” carrega a ideia de ação contínua. Deus não
falou apenas em um momento distante; Ele continuou falando no meio da
perseguição. É impressionante como o Senhor não ajusta Sua agenda à maldade
humana. Ele segue atuando, mesmo quando os seus servos são empurrados para
cisternas, calabouços ou prisões injustas. Horton destaca que a teologia
bíblica da revelação mostra um Deus que se aproxima em graça, mesmo quando o
povo se fecha em rebelião. A perseverança de Jeremias não nasceu de
temperamento forte, mas de convicção profunda. Ele sabia que o chamado é
irrevogável e que a missão não é negociável. Por isso, mesmo ferido, cansado e
muitas vezes solitário, continuou anunciando a verdade. É exatamente aqui que a
teologia reformada continuísta ilumina o texto. A perseverança dos santos,
antes de ser uma virtude humana, é uma obra do Espírito no coração. Arrington
afirma que o Espírito sustenta os servos de Deus no meio da oposição,
fortalecendo a vontade e iluminando a mente para permanecerem firmes na
verdade. Jeremias é um exemplo vívido dessa ação graciosa. Enquanto a nação
tentava sufocar o profeta, o próprio Deus confirmava sua palavra. O capítulo 29
traz a afirmação poderosa: “Quando se completarem os setenta anos da Babilônia,
eu cumprirei a minha promessa” (Jr 29.10, NVI). O verbo hebraico para
“cumprirei” comunica certeza e propósito. Nada do que aconteceu com Jeremias, e
nada do que Jerusalém tentou impedir, foi capaz de alterar o decreto divino. O
Comentário Histórico-Cultural observa que a fidelidade de Deus em cumprir Sua
promessa é o próprio coração da mensagem profética. Os homens podem tentar
calar a boca do profeta, mas ninguém cala a boca de Deus. A história também
expõe uma tensão espiritual que permanece até hoje. Enquanto o ser humano tenta
controlar o ambiente, Deus governa a história. Enquanto os ímpios conspiram, o
Senhor avança. Enquanto o justo sofre, o plano divino se cumpre. A cisterna que
deveria destruir Jeremias acabou se tornando o palco onde Deus demonstrou Seu
cuidado, usando um etíope improvável para resgatá-lo. Keener lembra que,
repetidas vezes na Escritura, Deus usa pessoas marginalizadas para preservar
Seus servos. Isso revela que a obra divina não depende das estruturas visíveis,
mas da soberania que age de modo criativo e surpreendente. Essa narrativa
convoca a igreja contemporânea a algo maior do que conforto espiritual. Ela nos
chama a pregar mesmo quando dói. Pregar quando ninguém aplaude. Pregar quando
parece que ninguém ouve. Pregar quando obedecer significa sofrer. Assim como
Jeremias, nós também somos sustentados pelo mesmo Deus que age apesar da
oposição. A Palavra não volta vazia. A promessa não falha. O chamado não
expira. A fidelidade divina não muda porque o cenário é hostil. No fim, Jeremias
nos ensina o que todo professor e aluno de Escola Bíblica precisa guardar no
coração: o homem pode perseguir, mas Deus continua falando. O homem pode tentar
calar, mas Deus continua cumprindo. O homem pode se opor, mas Deus continua
agindo. Quem entende isso não desiste. Não recua. Não negocia. E termina
dizendo:
“Eu preciso pregar, independente do que me aconteça.”
ARRINGTON, French L. Seminário de Teologia
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, ano.
BEACON, Comentário Bíblico. Vol.
correspondente. CPAD.
CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento
Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Candeia, ano.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma
Perspectiva Pentecostal. CPAD.
KEENER, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia. CPAD.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. Sociedade Bíblica do Brasil.
MENZIES, Robert. Empowered for Witness.
OSS, Douglas. Comentários diversos.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude.
PENTECOSTAL. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento
e Esperança. CPAD.
2. Uma porta aberta na prisão. Jeremias estava preso, mas Deus
se apresentou e falou-lhe a sua Palavra por duas vezes (Jr 32.1,2; 33.1). Foi
por ocasião desta segunda vez que Deus convocou o profeta a clamar, com a
promessa de que o responderia e anunciaria a ele “coisas grandes e firmes” (Jr
33.3). Na condição de preso, Jeremias não podia encontrar as pessoas que
desejassem, nem mesmo tinha a liberdade de ir e vir, além de ter sido privado
de outros elementos básicos da vida. As limitações dele não se aplicaram a
Deus, que entrou onde estava o profeta e falou com ele. As portas trancadas por
homens não são capazes de impedir o agir de Deus por meio da oração.
Independente do lugar e das circunstâncias, Jeremias podia clamar a Deus.
👉 A narrativa de Jeremias nos ensina que
nenhum grilhão humano é capaz de limitar a voz de Deus. Enquanto o profeta
vivia o peso da prisão e experimentava a sensação de impotência, o texto
bíblico afirma que “veio a ele a palavra do Senhor” (Jr 32.1; 33.1, NVI). Essa
expressão é um golpe contra toda a lógica humana. O homem tentou fechar portas,
mas Deus abriu caminho. O profeta não podia sair, mas Deus podia entrar. Essa
verdade precisa moldar nossa fé: Deus não depende do ambiente para falar. Ele
apenas decide falar. A prisão de Jeremias era real. Não era metáfora. Ele
estava cercado por muros, vigiado por soldados e privado do cotidiano mais
básico. Mesmo assim, o Senhor não apenas falou, mas falou duas vezes. O
Comentário Beacon observa que essa repetição reforça a iniciativa divina. Deus
toma a frente. Deus se aproxima. Deus rompe barreiras. Quando a Bíblia diz que
a Palavra “veio”, usa o hebraico hayah, que traz o sentido de acontecimento
ativo. Não foi uma lembrança espiritual, mas uma visitação soberana. Em outras
palavras, Deus chegou ao cárcere. No segundo encontro, o Senhor fez algo ainda
mais profundo. Ele ordenou: “Clame a mim e eu responderei” (Jr 33.3, NVI). O
verbo hebraico para clamar é qara, usado para alguém que invoca com intensidade
e urgência. Não é o clamor de quem tem opções. É o clamor de quem depende
exclusivamente de Deus. A promessa de revelar “coisas grandes e firmes” aponta
para realidades ocultas ao olhar humano. A expressão pode significar “mistérios
inacessíveis”, como afirmam Keener e Champlin. Ou seja, Deus estava dizendo ao
profeta que revelaria aquilo que ninguém poderia descobrir sem Ele. Jeremias
não podia visitar o povo, ensinar na praça ou circular livremente. Sua agenda
foi cancelada pela perseguição. Mas a agenda de Deus permaneceu aberta. Segundo
Horton, a revelação divina nunca é prisioneira das circunstâncias, porque
procede da soberania e não do contexto. As limitações do profeta só tornaram
mais visível a liberdade absoluta de Deus. Ele fala onde quer. Age como quer.
Entra onde ninguém pode entrar. Até as grades do palácio real se tornaram
espaço de encontro com o Altíssimo. Esse detalhe é precioso para a
espiritualidade cristã. Muitas vezes acreditamos, de forma sutil, que Deus
opera melhor quando estamos livres, fortes e organizados. Jeremias prova o
contrário. O Senhor visita Seus servos nos lugares onde eles parecem ter
perdido o controle. Ele se revela na fraqueza. Ele fortalece na angústia. Ele
instrui nas sombras. A prisão não abafou a oração. E a oração abriu caminho
para a revelação. Amos Yong lembra que a experiência de Deus frequentemente
nasce em ambientes de vulnerabilidade, porque ali o coração do servo se torna
totalmente dependente. O Senhor não removeu Jeremias da prisão naquele momento.
Não abriu as portas. Não destravou correntes. Mas abriu algo mais profundo:
abriu entendimento, abriu esperança, abriu direção. Esse é o movimento clássico
da ação de Deus na história. Homens fecham portas. Deus abre caminhos. Homens
restringem. Deus amplia. Homens silenciam. Deus fala. Quando o profeta ouviu a
ordem divina para clamar, ele descobriu que a verdadeira liberdade não está na
ausência de paredes, mas na presença do Deus que atravessa qualquer parede. Essa
parte da narrativa desperta uma convicção simples e poderosa para a vida
cristã: não existe lugar onde Deus não possa entrar. Não existe situação onde
Deus não possa falar. Não existe circunstância que anule a oração do justo.
Jeremias estava preso, mas seu Deus não estava. O profeta estava cercado, mas
sua comunhão não estava acorrentada. O homem limitou. Deus abriu. Por isso,
cada professor e aluno de EBD pode declarar com segurança: se eu clamar, Ele
responde. Se eu buscar, Ele vem. Se eu me render, Ele fala. Mesmo que eu esteja
em minha própria “prisão”, Deus continua sendo o Deus que visita Seus servos e revela
“coisas grandes e firmes” que nós não conhecemos.
ARRINGTON, French L. Seminário de Teologia
Pentecostal. CPAD.
BEACON, Comentário Bíblico. CPAD.
CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento
Interpretado. Candeia.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma
Perspectiva Pentecostal. CPAD.
KEENER, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia. CPAD.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. SBB.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude.
PENTECOSTAL. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento
e Esperança. CPAD.
3. O profeta está preso, mas a Palavra está livre. A Palavra de Deus não depende
das condições do mensageiro, e a mensagem é do Senhor, portanto, segue o seu
curso independentemente de qualquer outra coisa. Em cumprimento à promessa
feita a Jeremias de que velaria sobre a sua Palavra para a cumprir, Deus
trabalhou, mesmo quando o profeta estava preso, pois isso é próprio da natureza
perfeita e fiel de Deus (Jr 1.12; 2Cr 36.21). Todas as portas humanas podem estar
fechadas, mas a porta da Palavra e da oração sempre estarão abertas e em
condições de cumprirem o seu papel, segundo a vontade do Senhor.
👉 A prisão de Jeremias cria um contraste
poderoso. O profeta está limitado, mas a Palavra permanece em plena liberdade.
Essa é uma das verdades mais profundas das Escrituras. A mensagem não depende
das circunstâncias do mensageiro, porque a iniciativa não começa no homem.
Começa em Deus. Jeremias está encarcerado, mas a revelação continua avançando.
Deus não é afetado por correntes, muros ou decretos reais. Ele cumpre aquilo
que prometeu, porque vela sobre Sua Palavra para realizá-la (Jr 1.12, NVI).
Essa afirmação revela o coração do Deus da aliança: Ele trabalha mesmo quando o
profeta não pode se mover. O verbo hebraico traduzido como velar, shaqad,
transmite a ideia de alguém que permanece desperto, atento, vigilante. Não é
vigilância passiva. É cuidado ativo. É zelo constante. Deus não apenas observa
Sua Palavra. Ele a acompanha até que se cumpra. Assim, enquanto Zedequias
hesitava e o povo endurecia, Deus continuava avançando com Seus propósitos.
Essa perspectiva, observada tanto por Champlin quanto pelo Beacon, mostra que o
centro da história não é a ação humana, mas a fidelidade divina. Mesmo quando o
profeta está em silêncio forçado, Deus continua falando. A mensagem de Jeremias
seguia seu curso porque não era a palavra de um preso. Era a Palavra do Senhor.
Sua força não vinha das circunstâncias, mas da própria natureza de Deus. Quando
o texto diz que o Senhor cumpriu aquilo que havia declarado, ecoa também o
registro de 2 Crônicas 36.21. Lá, o escritor reconhece que Deus cumpriu Seu
juízo sobre a terra conforme havia anunciado. Essa coerência entre profecia e
história reforça a confiabilidade absoluta da revelação. Como aponta Stanley
Horton, a fidelidade divina cria estabilidade espiritual para o seu povo,
especialmente em tempos de crise. O aprisionamento do profeta prova que portas
humanas podem ser fechadas, mas a porta da Palavra nunca é trancada. Ela é
viva. Ela é eficaz. Ela continua seu caminho mesmo quando o servo está parado.
Gordon Fee observa que a Palavra de Deus não está condicionada aos limites
impostos pelo mundo, porque ela carrega em si mesma o sopro do Espírito. Deus
não permitiu que o cativeiro de Jeremias se tornasse cativeiro da revelação. O
mensageiro foi restringido. A mensagem, nunca. A oração também permanece
aberta. Mesmo no cárcere, Jeremias tem acesso ao trono de Deus. A prisão não
lhe tirou esse privilégio. Não existe cela que possa barrar a comunhão. Isso
nos lembra o que Amos Yong afirma sobre a espiritualidade bíblica: Deus se
encontra com Seus servos em qualquer espaço, mesmo naqueles marcados pela dor.
A limitação física nunca anulou a liberdade espiritual. A porta da Palavra e a porta
da oração caminham juntas. Onde uma está aberta, a outra também está. Esse
ponto é essencial para o ensino da igreja. Deus age no ritmo de Sua vontade, e
não no ritmo das circunstâncias. Se tudo ao redor parece fechado, isso não
significa que Deus parou. Ele continua operando, revelando, julgando,
restaurando. Jeremias estava preso, mas a fidelidade divina estava em
movimento. A Palavra continuava correndo, como uma chama que ninguém pode
apagar. E quando a igreja entende isso, aprende a confiar mais na provisão de
Deus do que na sensação de liberdade pessoal. A lição final é simples e
profunda. Mesmo quando as portas humanas se fecham, a porta da Palavra
permanece aberta. Mesmo quando a vida limita, Deus avança. Mesmo quando o servo
está preso, a mensagem está livre. E essa liberdade da Palavra sustenta,
consola e dirige o povo de Deus em todos os tempos. A fidelidade divina não se
dobra às circunstâncias. Ela governa sobre elas. Quem confia na Palavra jamais
fica sem saída, porque Deus cuida dela até o fim.
ARRINGTON, French L. Seminário de Teologia
Pentecostal. CPAD.
BEACON, Comentário Bíblico. CPAD.
CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento
Interpretado. Candeia.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática
Pentecostal. CPAD.
KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural
da Bíblia. CPAD.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. SBB.
MENZIES, Robert P. Empoderamento do
Espírito. CPAD.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude.
PENTECOSTAL. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento
e Esperança. CPAD.
SUBSÍDIO
II
“Alguns
príncipes no exército de Judá eram hostis a Jeremias porque ele tinha exortado
o povo a se entregar aos babilônios; por esta razão, eles o confinaram em um
calabouço subterrâneo. Sabendo que Jeremias era um verdadeiro profeta do
Senhor, Zedequias esperava uma palavra mais encorajadora da parte de Deus. Mas
a palavra de Jeremias permaneceu a mesma. Jerusalém iria cair e Zedequias seria
entregue ao rei da Babilônia. O profeta não iria faltar com a verdade mesmo em
circunstâncias desesperadoras.” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro:
CPAD, 2023, p.955).
III. A FIDELIDADE DE
DEUS, O POVO E O PROFETA
1. Uma mensagem que exige uma resposta. O texto de Jeremias 37.2 nos
mostra que nem o rei, nem os seus servos e nem “o povo da terra” “deram ouvidos
às palavras do SENHOR”. Como se não bastasse a rejeição, os desobedientes se
iraram e trabalharam contra a pessoa do profeta, conforme visto anteriormente.
Tal fato nos mostra que quando a Palavra de Deus é entregue, aqueles que ouvem
a mensagem, inevitavelmente terão de dar uma resposta, seja ela positiva ou
negativa. Ao ouvir a Palavra de Deus, o homem se toma indesculpável, segundo o
ensino de Paulo aos Romanos 1.18-20. Portanto, o povo nos dias de Jeremias
rejeitou a sua mensagem e, por isso, foi punido, mas o plano de Deus e a sua
Palavra permanecem eternamente.
👉 Jeremias 37.2 revela um cenário espiritual
grave. O texto diz que “nem o rei, nem os seus oficiais, nem o povo da terra
deram atenção às palavras que o Senhor havia dito”. A expressão hebraica usada
para “dar ouvidos” carrega a ideia de ouvir com o coração aberto, inclinar-se
interiormente para acolher a vontade de Deus. Eles não apenas deixaram de
escutar; fecharam-se deliberadamente. A recusa não foi ignorância, mas rebeldia
consciente. E, como ocorre tantas vezes na história bíblica, a rejeição da Palavra
levou à hostilidade contra o mensageiro. O coração endurecido não permanece
neutro; ele reage contra tudo o que o confronta. Essa cena expõe uma verdade
espiritual universal: toda vez que a Palavra é proclamada, ela exige uma
resposta. Não existe neutralidade diante da voz de Deus. A própria lógica
paulina em Romanos 1.18-20 confirma que, ao ouvir a revelação divina, o ser
humano se torna indesculpável, pois a Palavra revela tanto o caráter santo de
Deus quanto a condição real do coração humano. Assim como o sol endurece o
barro, mas amolece a cera, a Palavra que ilumina também revela quem somos. Nos
dias de Jeremias, a resposta do povo foi rejeição. E a rejeição trouxe juízo. O
Comentário Bíblico Pentecostal observa que a resistência à Palavra foi o catalisador
que acelerou a queda de Jerusalém, mostrando que desobedecer ao Senhor não é
apenas um erro moral, mas um golpe autoinfligido que destrói a própria nação.
Mesmo assim, a infidelidade humana não anulou o propósito divino. A Palavra
permaneceu firme, fiel, inabalável. Como destaca MacArthur, o fracasso do povo
não impediu o avanço da mensagem; apenas expôs a distância entre seus lábios e
o seu coração. A história confirma o que a teologia sustenta: Deus cumpre seus
planos mesmo quando os homens resistem. A Palavra rejeitada continua sendo
Palavra, porque sua força não está na recepção humana, mas na fidelidade do
Deus que a pronunciou. Foi assim nos dias de Jeremias, e continua sendo assim
hoje. Cada vez que Deus fala, Ele nos chama a escolher entre obedecer ou
endurecer o coração. A resposta define o caminho; a Palavra, porém, permanece
para sempre.
ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento
Interpretado. São Paulo: Hagnos, 2014.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma
Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
KEENER, Craig S. Comentário Bíblico
Histórico-Cultural. São Paulo: Vida, 2014.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
MENZIES, Robert. Pentecostes: Essa História
é Nossa. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. São
Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento
e Esperança. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
2. Deus e a sua Palavra. Segundo a narrativa bíblica, é possível ver a
preocupação do rei Zedequias ao perceber que as predições de Jeremias começavam
a se cumprir. Isso o levou a consultar o profeta a respeito do futuro e o que ele
deveria fazer (Jr 38.14-24). Embora Jeremias estivesse enfrentando prisões, a
Palavra de Deus estava se cumprindo, segundo o seu propósito e o anúncio prévio
pelo profeta. O crente pode e deve descansar na fidelidade de Deus, porque
“fiel é o que prometeu” (Hb 10.23). A expressão “veio a palavra do Senhor,
dizendo” é muito comum ao longo de todo o livro de Jeremias e, além de outras
lições, ela mostra que Deus e a sua Palavra são inseparáveis. Jesus é quem
evidencia essa verdade. Ele é “o Verbo que se fez carne” (Jo 1.14). Deus tem
compromisso com a sua Palavra, afinal ela também testifica a seu respeito (Jo
5.39). Portanto, à semelhança do Senhor, a sua Palavra é infalível (Mt 5.18).
Jeremias tinha essa convicção e nela ele descansava, encontrando as condições
para enfrentar as oposições, as perseguições e as prisões sem desonrar a Deus e
ao seu chamado.
👉 A narrativa bíblica deixa claro que, à
medida que as profecias de Jeremias começavam a se cumprir diante dos olhos da
nação, o rei Zedequias passou a sentir o peso da realidade espiritual que havia
ignorado por tanto tempo. Sua busca secreta pelo profeta em Jeremias 38.14-24
revela não apenas medo, mas também a consciência tardia de que a Palavra de
Deus sempre se cumpre. Mesmo preso, humilhado e silenciado pelos homens,
Jeremias continuava sendo a voz de um Deus que não pode ser aprisionado. A
Palavra avançava, imparável, guiando a história segundo o propósito
estabelecido desde o início. Esse é um dos grandes temas da Escritura: a
fidelidade de Deus se impõe mesmo quando a situação humana parece contrária.
Como lembra a Epístola aos Hebreus, “fiel é o que prometeu” (Hb 10.23). O verbo
grego aqui, pistós, carrega a ideia de alguém absolutamente digno de confiança,
cuja coerência entre promessa e ação é perfeita. Por isso, a esperança do
crente não está em circunstâncias favoráveis, mas no caráter imutável do Deus
que fala e cumpre. Em Jeremias, a expressão “veio a palavra do Senhor” aparece
repetidas vezes e se torna quase um refrão teológico. Como destacam o Beacon e
a Bíblia de Estudo Pentecostal, essa frase reforça que Deus e a sua Palavra são
inseparáveis. O que Deus diz é uma extensão de quem Ele é. Por isso, rejeitar a
Palavra sempre foi, essencialmente, rejeitar o próprio Deus. A teologia joanina
confirma isso ao apresentar Cristo como “o Verbo que se fez carne” (Jo 1.14).
Ele é a expressão perfeita do Deus invisível, mostrando que a revelação não é
apenas um discurso divino, mas uma pessoa, viva, presente, atuante. A
fidelidade divina se revela também na infalibilidade da Palavra. Jesus afirmou
que nem mesmo “um i ou um til” deixará de se cumprir (Mt 5.18), ressaltando a
precisão absoluta da revelação. Quando Deus fala, Sua palavra não volta vazia.
Isso sustentou Jeremias em seus dias mais sombrios. A Bíblia de Estudo
MacArthur observa que a convicção do profeta sobre a integridade da Palavra era
a âncora que o impedia de ceder à pressão, ao medo ou à manipulação política do
rei. Ele permaneceu firme porque sabia que o Deus que o chamou jamais falharia.
Assim, enquanto Zedequias vacilava, Jeremias permanecia inabalável. A Palavra
era sua rocha, sua coragem e sua razão de continuar proclamando a verdade. Essa
mesma certeza é oferecida a nós hoje: quando confiamos na Palavra que não muda,
encontramos força para enfrentar perseguições, injustiças e incertezas sem
abandonar a fidelidade ao chamado de Deus.
ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
BEACON. Comentário Bíblico Beacon. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo
Testamento Interpretado. São Paulo: Hagnos, 2016.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
KEENER, Craig S. Comentário Bíblico
Histórico-Cultural. São Paulo: Vida, 2014.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
MENZIES, Robert. O Espírito e a Missão. Rio
de Janeiro: CPAD, 2012.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. São
Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento
e Esperança. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
3. A fidelidade de Deus e a postura do profeta. Qual foi a reação de Jeremias
diante das maldades, de suas prisões e da indiferença do povo à sua mensagem?
Ele não desanimou, mas podemos ver três atitudes suas que nos encorajam a
continuar servindo ao Senhor mesmo enfrentando lutas e perseguições: Jeremias
não deixou de amar o seu povo; não maltratou ninguém e continuou a combater os
falsos profetas. Jeremias foi um profeta que demonstrou amor genuíno pelo seu
povo, mesmo que este não tenha dado ouvido às suas mensagens. Ele pediu a Deus
que lhe desse lágrimas suficientes para chorar em favor deste povo (Jr 9.1),
antecipando assim o sentimento de Jesus que seria demonstrado tempos mais
tarde, pois, mesmo tendo sido rejeitado, o Senhor chorou e intercedeu pelo povo
(Mt 23.37; Lc 19.41-44). O amor capacitou o profeta a não retribuir o mal que
lhe estavam fazendo, já que em nenhum momento Jeremias é visto amaldiçoando e
nem maldizendo os seus compatriotas, mas é visto firme em suas previsões e
combatendo os falsos profetas, protegendo o povo do engano (Jr 37.6-21). O
mesmo sentimento é visto no apóstolo Paulo, que afirma ser a fidelidade de Deus
a fonte de sua capacidade de amar, enquanto sofre (2Tm 2.10-13). Descansar na
fidelidade de Deus capacita o crente a amar em tempos difíceis e a permanecer
fiel ao Eterno e à sua Palavra.
👉 Quando observamos a trajetória de Jeremias,
é impossível ignorar o contraste entre a dureza que ele enfrentou e a ternura
que escolheu cultivar. Preso injustamente, cercado por autoridades corruptas e
rejeitado por um povo que insistia em fechar os ouvidos à verdade, o profeta
poderia ter se tornado amargo ou desistido de seu chamado. No entanto, sua
reação revela a marca de alguém que conhece profundamente o caráter de Deus. Em
vez de desânimo, vemos três atitudes que se tornam um espelho para todos nós
que servimos ao Senhor em tempos difíceis: Jeremias continuou amando o seu
povo, recusou-se a retribuir o mal que sofria e permaneceu firme no combate aos
falsos profetas que ameaçavam desviar a nação. O amor de Jeremias é evidente. Ele
não apenas pregava arrependimento; ele carregava o povo no coração. Seu clamor
em Jeremias 9.1 mostra isso de forma comovente. Ele pede lágrimas suficientes
para chorar pela nação, revelando um coração pastoral moldado pela compaixão
divina. O verbo hebraico usado ali, relacionado a “derramar” ou “jorrar”,
descreve um pranto contínuo, quase sacerdotal. Como observam Horton e
Arrington, esse choro não era fraqueza emocional, mas participação no próprio
sofrimento de Deus diante da rebeldia humana. O profeta chorava porque Deus
chorava. Assim, Jeremias antecipa o coração de Cristo, que séculos depois
lamentaria sobre Jerusalém rejeitando o Messias (Mt 23.37; Lc 19.41-44). A
Bíblia de Estudo Plenitude destaca que as lágrimas de Jesus não eram apenas
humanas, mas a expressão visível do amor divino ferido. Esse amor também o
capacitou a não retribuir o mal. Embora preso, agredido e acusado injustamente,
Jeremias nunca amaldiçoa seus acusadores. Ele não usa sua autoridade profética
para vingança. Essa postura aparece alinhada ao padrão do Servo do Senhor em
Isaías, que “não revidou” e “não abriu a boca” em retaliação. O Comentário
Beacon observa que a integridade espiritual do profeta se manifesta exatamente
quando ele escolhe sofrer injustamente, confiando na justiça de Deus. A
fidelidade divina não inibe o sofrimento, mas o redime, transformando-o em
testemunho. Além disso, Jeremias permaneceu firme em sua missão, especialmente
no combate aos falsos profetas (Jr 37.6-21). Ele sabia que o engano espiritual
destrói mais do que as guerras externas. Os falsos profetas ofereciam uma
mensagem confortável, mas vazia, desviando o povo da necessidade urgente de
arrependimento. O profeta não se calou para preservar sua segurança; ele falou
para preservar vidas. Keener e Menzies lembram que, no contexto do Antigo
Testamento, a função profética sempre esteve ligada à proteção do rebanho,
denunciando vozes que seduziam a nação para longe da aliança. Ao confrontar o
engano, Jeremias estava exercendo amor pastoral e zelo pela verdade. Essa mesma
postura reaparece no apóstolo Paulo. Em 2Timóteo 2.10-13, ele afirma suportar
sofrimento “por amor dos eleitos”, convencido de que a fidelidade de Deus
sustenta sua perseverança. A palavra grega para “fiel” novamente é pistós,
lembrando-nos de que Deus não muda e não falha. Jeremias e Paulo olhavam para o
mesmo fundamento: a fidelidade de Deus. É essa fidelidade que capacita o crente
a amar enquanto sofre, a permanecer firme quando atacado e a manter a
integridade quando a mentira parece mais popular do que a verdade. Assim,
descansar na fidelidade de Deus não é uma ideia abstrata. É uma prática
espiritual que sustenta a alma nos dias mais escuros. A vida de Jeremias nos
ensina que confiamos no caráter de Deus, não nas condições ao nosso redor. E
quando confiamos no Deus que não muda, somos capazes de amar em tempos
difíceis, de servir sem retaliar e de permanecer fiéis à Palavra, mesmo quando
o mundo ao nosso redor insiste em rejeitá-la.
ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico
Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
BEACON. Comentário Bíblico Beacon. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo
Testamento Interpretado. São Paulo: Hagnos, 2016.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
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MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
MENZIES, Robert. O Espírito e a Missão. Rio
de Janeiro: CPAD, 2012.
PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. São
Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento
e Esperança. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
CONCLUSÃO
Mesmo em meio ao
sofrimento causado pela sua prisão, o profeta Jeremias desfrutou do cuidado de
Deus, ouviu a sua voz e a sua fé foi renovada sobre a fidelidade do Senhor, o
que lhe deu as devidas condições para reagir como um verdadeiro servo de Deus
em situações tão adversas. O crente da atualidade também deve se firmar na fidelidade
de Deus em cumprir a sua Palavra, e não se esquecer sobre a sua
responsabilidade e se submeter sempre ao que nela está escrito.
👉 Quando encerramos a leitura do ministério
de Jeremias, percebemos que sua prisão não foi o fim de sua utilidade, mas o
cenário em que a fidelidade de Deus se tornou ainda mais visível. Mesmo cercado
pela injustiça, pela solidão e pela rejeição, o profeta experimentou o cuidado
daquele que nunca abandona os seus. Deus não apenas o sustentou; falou com ele,
renovou sua fé e lhe deu coragem para permanecer firme. A prisão não silenciou
sua alma porque a voz de Deus continuava viva dentro dele. Assim, o que o
manteve de pé não foram circunstâncias favoráveis, mas a convicção de que o
Senhor vela sobre a própria Palavra para cumpri-la. Essa verdade atravessa os
séculos e alcança todos nós. O crente de hoje também enfrenta pressões,
injustiças, tentações e ambientes que tentam calar sua fé. Mas, como Jeremias,
cada discípulo é chamado a ancorar a vida na fidelidade de Deus e não nas
emoções do momento. A Palavra que Deus falou continua inabalável. Jesus ensinou
que nem “um i ou um til” cairiam de sua Lei, porque ela procede do Deus que não
falha. Isso significa que nossa segurança não está no que vemos, mas no que
Deus prometeu. Ao mesmo tempo, essa fidelidade divina nos lembra da
responsabilidade que carregamos. Não basta saber que Deus cumpre o que diz;
somos chamados a viver submetidos àquilo que Ele revelou. A fé bíblica sempre
caminha ao lado da obediência. Jeremias permaneceu fiel porque confiou na
Palavra, mas também porque se curvou diante dela. E é essa combinação que
transforma o coração: confiar no caráter de Deus e obedecer ao que Ele ordena. Portanto,
ao concluir esta reflexão, ouvimos um chamado claro: descansar na fidelidade do
Senhor e permanecer firmes em sua Palavra, mesmo quando tudo ao redor parece
contrário. A vida cristã madura nasce dessa união entre confiança e obediência.
Quem descansa na fidelidade de Deus encontra força para enfrentar a noite, e
quem se submete à sua Palavra caminha com luz suficiente para o próximo passo.
Essa é a esperança que sustenta os servos do Senhor em qualquer geração. Ao
término desta preciosa lição, podemos extrair três aplicações práticas para a
vida do aluno:
1. Aprenda a confiar na fidelidade de Deus
mesmo quando tudo parece contrário: Jeremias nos ensina que circunstâncias
difíceis não anulam o cuidado e nem a voz de Deus. Ele ouviu o Senhor dentro de
um cárcere. Isso nos lembra que Deus não depende das “portas” que os homens
abrem ou fecham. Crentes maduros precisam aprender a interpretar a vida não
pelos seus olhos, mas pela fidelidade divina revelada na Escritura. Quando
enfrentar pressão, oposição ou uma estação de silêncio, substitua a ansiedade
pela oração. Pegue uma promessa bíblica, declare-a em oração diariamente por 7
dias e avalie como sua fé é fortalecida ao longo da semana.
2. Submeta-se à Palavra de Deus mesmo
quando ela confronta seus desejos: O povo no tempo de Jeremias ouviu a
Palavra, mas não se submeteu a ela. Isso os tornou indesculpáveis. A mesma
dinâmica acontece hoje: conhecer a Bíblia e não obedecer produz endurecimento
espiritual. A lição mostra que Deus e sua Palavra são inseparáveis; logo,
rejeitar a Palavra é rejeitar o próprio Deus. Identifique uma área de sua vida
em que você sabe o que a Palavra ordena, mas ainda hesita em obedecer (pecado,
perdão, relacionamentos, finanças, santidade, disciplina espiritual). Escreva
essa área num papel e estabeleça uma ação prática para obedecer a Deus nesta
semana.
3. Responda à injustiça com amor e
perseverança, como Jeremias: Mesmo perseguido, preso e difamado,
Jeremias não deixou de amar seu povo, não retribuiu o mal e continuou
combatendo o engano. Esse modelo aponta para Cristo e para o padrão do Novo
Testamento. A fidelidade de Deus sustentou sua postura, e isso continua
disponível para nós. Escolha uma pessoa ou situação que tem sido causa de dor,
injustiça ou tensão em sua vida. Em vez de retribuir com frieza, crítica ou
afastamento, ore por essa pessoa durante 7 dias, pedindo que Deus limpe seu
coração e lhe dê amor maduro. Depois, pratique um gesto concreto de bondade ou
reconciliação.
Viva para
a máxima glória do Nome do Senhor Jesus!
Viva conectado a Cristo, adore com sinceridade, sirva com amor e
aja com justiça, para que cada atitude reflita a glória de Deus no mundo.
HORA DA REVISÃO
1. Segundo
lição, por que a prisão de Jeremias chama a atenção?
A prisão de Jeremias
é um tema que chama a atenção, tanto pela sua importância histórica como pela
comoção diante do sofrimento de um profeta fiel.
2. Quando se deu a prisão de Jeremias?
A sua prisão se deu
quando os babilônios se afastaram de Jerusalém por um tempo para pelejar contra
um exército egípcio.
3. Para onde Jeremias estava indo quando se deu sua prisão?
Viajava para Anatote,
sua cidade natal.
4. Qual o nome do etíope que trabalhou para a libertação de
Jeremias?
Ebede-Meleque.
5. Segundo a narrativa bíblica, qual o nome do rei que se
preocupou ao perceber que as predições de Jeremias começavam a se cumprir?
Zedequias.