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24 de novembro de 2025

JOVENS│ Lição 10: A prisão de Jeremias │4º Trim 2025

 

 

JOVENS│ Lição 10: A prisão de Jeremias│4º Trim 2025

 

TEXTO PRINCIPAL

[...] nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Rm 8.39).

ENTENDA O TEXTO PRINCIPAL:

👉 Paulo escreve Romanos por volta de 57 d.C., a uma igreja formada por judeus e gentios vivendo num contexto de tensões étnicas, pressões culturais e possível perseguição do Império Romano. Em Romanos 8, ele culmina sua argumentação sobre a segurança da salvação, afirmando que nenhuma força criada, seja espiritual, terrena ou cósmica, possui poder para romper a união do crente com Cristo. Os termos altura e profundidade eram usados na linguagem astrológica antiga para indicar influências espirituais ou destinos determinados; Paulo afirma que nada disso controla o cristão. Nenhuma criatura inclui qualquer realidade criada, inclusive nós mesmos. A aplicação para hoje é clara: em tempos de medo, crise moral, ataques espirituais e instabilidades emocionais, o crente pode descansar na fidelidade imutável de Deus. Sua graça não depende de circunstâncias, sentimentos ou adversidades. Nossa segurança está ancorada em Cristo, e quem está Nele pode viver com coragem, santidade e esperança mesmo diante das maiores pressões da vida. nem a altura, nem a profundidade. Termos comuns da astronomia usados para se referir aos pontos altos e baixos do caminho de uma estrela. Nada durante o percurso da vida, desde o começo até o fim; pode nos separar do amor de Deus. Possivelmente, Paulo pretende descrever loco o espaço, do topo à sua base. nem qualquer outra criatura. Para que nada e ninguém seja deixado de fora, a expressão compreende tudo, exceto o próprio criador, d o amor de Deus. (Cf. 5.5-11).

 

RESUMO DA LIÇÃO

Jeremias permaneceu fiel a Deus a despeito das oposições e das perseguições.

ENTENDA O RESUMO DA LIÇÃO:

👉 Jeremias permaneceu inabalavelmente fiel ao Senhor, mesmo enfrentando oposição intensa, hostilidade crescente e perseguições injustas. Sua lealdade não nasceu de circunstâncias favoráveis, mas de uma confiança profunda no caráter imutável de Deus. Enquanto o povo resistia à verdade e os líderes tentavam silenciar sua voz, o profeta manteve-se firme, sustentado pela fidelidade divina. Assim, Jeremias se torna um modelo para a Igreja de hoje: quando o ambiente se torna adverso, quando a mensagem bíblica é rejeitada e quando a obediência parece custar caro, o servo do Senhor continua caminhando, não pela força própria, mas pela convicção de que Deus permanece fiel à sua Palavra e ao seu chamado.

 

TEXTO BÍBLICO

Jeremias 37.1-15.

1. E reinou o rei Zedequias, filho de Josias, em lugar de Conias, filho de Jeoaquim, a quem Nabucodonosor, rei da Babilônia, constituiu rei na terra de Judá.

👉 Zedequias... reinou. Zedequias, um tio de Jeconias, foi levado ao trono por Nabucodonosor, como uma maneira de desrespeitar Jeoaquim e Jeconias. Seu reinado vassalo durou 11 anos, entre 597-586 a.C. A mensagem do rei a Jeremias nesse capítulo aconteceu algum tempo antes da do cap. 21, quando Zedequias estava com medo que os caldeus (babilônios) vencessem os egípcios e voltassem para sitiar Jerusalém (vs. 3-5).

2. Mas nem ele, nem os seus servos, nem o povo da terra deram ouvidos às palavras do Senhor que falou pelo ministério de Jeremias, o profeta.

👉 o problema central não era político, mas espiritual: rejeição da Palavra. Endurecer o coração contra Deus torna o povo indefensável perante o juízo. O padrão bíblico: quando a liderança espiritual rejeita a revelação, o povo é arrastado ao mesmo pecado. A crise que viria não era acidente histórico, mas fruto da surdez espiritual do povo e dos líderes.

3. Contudo, mandou o rei Zedequias a Jucal, filho de Selemias, e a Sofonias, filho de Maaseias, o sacerdote, ao profeta Jeremias, para lhe dizerem: Roga, agora, por nós ao SENHOR, nosso Deus.

👉 Atitude contraditória: pedir oração enquanto desobedece. Muitos querem intervenção divina sem arrependimento. A incoerência do rei: busca o profeta, mas rejeita a mensagem. Zedequias queria livramento, não transformação; buscava o profeta, mas não a vontade de Deus.

4. E entrava e saía Jeremias entre o povo, porque não o tinham encerrado na prisão.

👉 O profeta já não estava mais preso no pátio da guarda como antes (32.2; 33.1).

5. Contudo, o exército de Faraó saiu do Egito; ouvindo os caldeus que tinham sitiado Jerusalém esta notícia, retiraram-se de Jerusalém.

👉 O movimento militar do Egito criou falsa esperança em Jerusalém. Confiar em alianças humanas em vez de Deus é ilusão perigosa. A retirada dos caldeus seria temporária. O recuo da Babilônia não era livramento, mas pausa estratégica, e o povo interpretou isso incorretamente.

6. Então, veio a Jeremias, o profeta, a palavra do SENHOR, dizendo:

👉 Deus desmascara a falsa confiança no Egito. A mensagem de Jeremias confronta diretamente a política enganosa da corte. Nenhuma ação humana poderia frustrar o juízo de Deus. Deus declara que a esperança em alianças políticas é inútil, somente a submissão à sua Palavra poderia salvar.

7. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Assim direis ao rei de Judá, que vos enviou a mim, para se informar: Eis que o exército de Faraó, que saiu em vosso socorro, voltará para a sua terra no Egito.

👉 37.7-10 Assim direis. A Babilônia, que havia temporariamente levantado o cerco a Jerusalém para lidar com o avanço dos egípcios, voltaria e destruiria Jerusalém.

8. E voltarão os caldeus, e pelejarão contra esta cidade, e a tomarão, e a queimarão.

👉 O juízo era certo; o recuo dos inimigos não significava vitória. Rejeitar a Palavra leva a consequências irreversíveis. A destruição de Jerusalém era resultado da rejeição persistente ao Senhor. A cidade cairia porque o coração do povo permanecia rebelde.

9. Assim diz o SENHOR: Não enganeis a vossa alma, dizendo: Sem dúvida, se irão os caldeus de nós; porque não se irão.

👉 Adverte contra profetas mentirosos e falsas expectativas. O autoengano espiritual é tão destrutivo quanto o engano externo. Volta-se ao tema central: a ilusão é arma do pecado. O povo preferia acreditar em promessas agradáveis do que na verdade dura, porém salvadora, de Deus.

10. Porque, ainda que ferísseis a todo o exército dos caldeus que peleja contra vós, e ficassem deles apenas homens traspassados, cada um se levantaria na sua tenda e queimaria a fogo esta cidade.

👉 Revela o poder soberano de Deus até sobre realidades humanas enfraquecidas. O juízo não pode ser resistido quando decretado por Deus. Asentença divina é inexorável. Mesmo soldados feridos seriam instrumentos de juízo; ninguém poderia impedir o plano divino.

11. E sucedeu que, subindo de Jerusalém o exército dos caldeus, por causa do exército de Faraó,

👉 O intervalo deu ao povo a falsa impressão de paz. Deus permite pausas que testam o coração humano. A retirada temporária prepara o cenário para a prisão de Jeremias. O momento de calmaria era apenas um intervalo no juízo; não significava livramento.

12. saiu Jeremias de Jerusalém, a fim de ir à terra de Benjamim para receber a sua parte no meio do povo.

👉 saiu Jeremias. Ele retornou para a sua cidade natal para reclamar a propriedade que havia adquirido em 32.6-12

13. Estando ele à porta de Benjamim, achava-se ali um capitão da guarda, cujo nome era Jerias, filho de Selemias, filho de Hananias, o qual prendeu a Jeremias, o profeta, dizendo: Tu foges para os caldeus.

👉 Hananias. Jeremias havia predito a sua morte (28.16 assim um neto dele quis vingar-se de Jeremias com uma falsa acusação (cf. 38.19; 52.15).

14. E Jeremias disse: Isso é falso; não fujo para os caldeus. Mas ele não lhe deu ouvidos; e assim Jerias prendeu a Jeremias e o levou aos príncipes.

👉 Jeremias fala a verdade, mas não é ouvido. A injustiça revela a cegueira espiritual da liderança. O profeta é tratado como criminoso por ser fiel. Sua defesa é ignorada porque o povo rejeitava não apenas o mensageiro, mas o próprio Deus.

15. E os príncipes se iraram muito contra Jeremias, e o feriram, e o puseram na prisão, na casa de Jônatas, o escrivão; porque a tinham transformado em cárcere.

👉 o meteram no cárcere. Jeremias seguidamente sofreu agressões, ameaças e outros maus-tratos por proclamar a verdade de Deus (11.21; 20.2; 26.8; 36.26; 38.6,25).

 

INTRODUÇÃO

 

Nesta lição, vamos refletir a respeito do compromisso de Deus com a sua Palavra e com aqueles que lhe são fiéis. Veremos sobre o sofrimento de Jeremias em sua prisão, e a providência de Deus em manter a vida do profeta, mesmo ele passando por momentos terríveis.

👉 A prisão de Jeremias nos obriga a olhar para algo maior do que a dor de um profeta. Ela nos conduz ao coração de Deus e ao compromisso inabalável que Ele mantém com a própria Palavra. Nada no livro de Jeremias é acidental. Cada cadeia, cada perseguição e cada silêncio do palácio revelam que o Senhor continua fiel, mesmo quando Seu povo não está. A fidelidade divina atravessa muros, resiste à injustiça humana e sustenta aqueles que, como Jeremias, escolhem permanecer firmes apesar do custo. Esse episódio nos mostra que o sofrimento do profeta não foi apenas consequência de um contexto político turbulento, mas parte do chamado que Deus lhe confiou. Jeremias pregou o que ninguém queria ouvir. A palavra “ouvir” em Jeremias 37.2 traduz o verbo hebraico shama‘, que significa não apenas escutar sons, mas acolher com obediência. Judá escutou a voz do profeta, mas se recusou a shama‘, e essa ruptura entre ouvir e obedecer abriu caminho para o juízo que Jeremias anunciava há décadas (Jr 1.10). Como ensina Stanley Horton, quando um povo rejeita a Palavra, rejeita também o Deus que fala por meio dela. A prisão, portanto, não representa falha do profeta, mas confirmação do seu chamado. Mesmo algemado, Jeremias permaneceu livre naquilo que importa: sua consciência diante de Deus. Ele não suavizou a mensagem, não negociou a verdade, nem buscou proteção política. Seu compromisso era com o Senhor que o havia separado desde o ventre (Jr 1.5). Craig Keener observa que a coragem profética se revela justamente quando a mensagem se torna impopular, e Jeremias encarna esse princípio com uma fidelidade impressionante. Há aqui também um aspecto pastoral profundo. Deus não abandonou Jeremias na escuridão do calabouço. O mesmo Deus que permite a aflição é aquele que se aproxima na hora certa e sustenta o seu servo. As cadeias não impediram a voz divina, porque a revelação não depende das circunstâncias externas, mas da graça que invade o coração. Enquanto Judá endurecia o coração, Jeremias, mesmo cansado e pressionado, continuava a ouvir a voz do Senhor. Essa dinâmica revela, como afirma Anthony Palma, que a presença de Deus não é anulada pela adversidade, mas experimentada com maior nitidez dentro dela. Ao iniciarmos esta lição, precisamos nos colocar ao lado desse profeta ferido, mas não vencido. Sua história nos convoca a examinar nossa própria postura diante da Palavra. Somos ouvintes sensíveis ou meros espectadores religiosos? Estamos dispostos a obedecer mesmo quando isso nos custar aprovação, conforto ou estabilidade? A prisão de Jeremias é mais do que um episódio histórico. É um espelho. Ela nos chama a uma fé madura, que se firma na fidelidade de Deus e responde com a mesma fidelidade. Aqui descobrimos que a vida cristã não é sustentada pela ausência de lutas, mas pela presença do Deus que permanece fiel em todas elas.

 

I. A PRISÃO DE JEREMIAS

 

1. Informações iniciais. A prisão de Jeremias é um tema que chama a atenção, tanto pela sua importância histórica como pela comoção diante do sofrimento de um profeta fiel. A sua prisão se deu quando os babilônios se afastaram de Jerusalém, por um tempo, para pelejar contra um exército egípcio (v.5). Este foi um momento angustiante, tanto para Jerusalém que estava prestes a ser invadida pelos babilônios, como para Jeremias que, além de correr risco de perder a vida, tinha de lidar com o cumprimento de suas predições a respeito da destruição de seu povo. Judá não ouviu a voz de Deus e descansou na falsa sensação de que os babilônios não voltariam para atacá-la, ao que Jeremias enviou um alerta ao rei de que eles não só voltariam, mas a destruiria (vv.8-10). Nem mesmo depois de preso o profeta alterou a mensagem, mas permaneceu fiel (vv.17,18), sendo então colocado “no átrio da guarda” (vv.20,21).

👉 A prisão de Jeremias nos conduz para dentro de um dos momentos mais sombrios da história de Judá. Não é apenas um profeta sendo algemado. É o confronto entre a Palavra de Deus e o coração endurecido de uma nação que escolheu ignorá-la. Jerusalém estava cercada, tensa e emocionalmente exausta, enquanto o exército babilônico recuava temporariamente para enfrentar os egípcios. Esse recuo trouxe uma esperança superficial, mas não verdadeira. Como ensina a Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, era uma falsa sensação de segurança construída mais no desejo humano do que na fé obediente. Nesse contexto, o sofrimento de Jeremias se torna ainda mais significativo. Ele sabia que suas predições estavam se cumprindo diante de seus olhos, e isso não lhe trazia satisfação, mas dor. A NVI registra que Judá não quis “ouvir” a voz do Senhor. O verbo hebraico shama‘ aparece aqui com o sentido de escutar com submissão. O povo ouviu sons, mas rejeitou o chamado. Como destaca Stanley Horton, quando o coração resiste ao shama‘, a relação com Deus se torna apenas formal, e não transformadora. A postura do rei Zedequias confirma esse distanciamento espiritual. Ele buscava o profeta, mas não buscava arrependimento. Douglas Oss explica que há uma grande diferença entre procurar respostas divinas e se submeter ao governo divino. Jeremias, porém, permanece firme. Não ajusta a mensagem para agradar o rei, nem para diminuir sua dor. Ele sabe que a verdade de Deus não negocia com a conveniência humana. A Bíblia de Estudo MacArthur observa que essa fidelidade profética é uma marca dos servos que se curvam diante do Senhor antes de se curvar diante dos homens. O aviso que Jeremias entrega ao rei é direto. Os babilônios voltariam e destruiriam a cidade. O profeta não suaviza nada. Ele entende, como afirma Craig Keener, que a função profética não é prever o futuro, mas chamar o povo de volta ao pacto. As palavras de Jeremias revelam um discernimento espiritual profundo. Ele vê além do movimento militar. Ele percebe a mão disciplinadora de Deus operando na história, como já havia anunciado desde seu chamado (Jr 1.10). Mesmo após ser preso injustamente, Jeremias permanece íntegro. Não há ressentimento, revolta ou distorção da mensagem. A fidelidade dele dentro da prisão diz mais do que seus sermões fora dela. Anthony Palma lembra que a perseverança dos servos de Deus sob pressão é um testemunho poderoso da confiança na soberania divina. Jeremias confirma isso quando continua afirmando ao rei a mesma palavra que lhe custou a liberdade. A prisão não reduz a autoridade do profeta, apenas evidencia de onde ela realmente vem. A transferência para o átrio da guarda representa um alívio parcial, mas não muda o cenário. Jeremias não está em um palácio. Está entre soldados, num ambiente de tensão e vigilância. Ainda assim, é nesse lugar que Deus o sustém e preserva sua vida. O Comentário Bíblico Beacon observa que a proteção divina nem sempre nos tira da aflição, mas nos preserva dentro dela. A presença de Deus acompanha o profeta, ainda que o povo tenha rejeitado essa mesma presença. Ao olhar para esse episódio, somos confrontados com uma verdade simples e profunda. Deus continua falando e chamando. A pergunta é se estamos dispostos a ouvir com shama‘ ou se preferimos a segurança ilusória que Judá escolheu. A vida cristã madura exige coragem para enfrentar a verdade de Deus, mesmo quando ela nos contraria. Jeremias nos lembra que fidelidade não é ausência de dor, mas adesão firme à vontade de Deus em qualquer circunstância.

 

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

ELIAS TORRALBO. Exortação Arrependimento e Esperança. Rio de Janeiro: CPAD.

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson.

MENZIES, Robert. Pentecost: This Story is Our Story. Gospel Publishing House.

PALMA, Anthony D. A Obra do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD.

PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. São Paulo: Hagnos.

SHEED, Russell. Bíblia de Estudo Shedd. São Paulo: Vida Nova.

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos.

APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Mundo Cristão.

 

2. A primeira fase da prisão de Jeremias. Zedequias foi um rei indeciso, e isso contribuiu diretamente para a prisão de Jeremias. Diante da decisão do povo em confiar na própria força e não em Deus, o profeta Jeremias advertiu a nação a fugir do engano (v.9), como clara demonstração de que eles não conheciam a Deus e nem o seu juízo. Enquanto viajava para Anatote, sua cidade natal, Jeremias foi impedido de seguir viagem e foi preso, sob a acusação de que estava indo para se aliar aos babilônios (v.13). O profeta contava com a simpatia de alguns (Jr 36.11-19) e com a maldade de outros que conseguiram a autorização do rei para punirem Jeremias (Jr 37.15). Jeremias ficou preso “por muitos dias” (v.16) num calabouço, que quer dizer “casa da cova”, onde tinhas as “suas celas”, lugar onde sua vida corria perigo (v.20). Sob a pressão do cerco babilônio, o rei Zedequias consultou, secretamente, Jeremias que, mesmo diante do quadro no qual se encontrava, não negociou a mensagem, mas a entregou com fidelidade (v.17) e, por causa de sua intercessão ao rei (v.20) foi colocado no átrio da guarda (v.21).

👉 A prisão de Jeremias surge em um dos períodos mais críticos de Judá. O rei Zedequias, retratado pelo texto bíblico como indeciso e espiritualmente instável, não tinha coragem de obedecer àquilo que ouvia da parte de Deus. A Bíblia afirma que ele “não deu atenção às palavras que o Senhor havia falado” (Jr 37.2). O verbo hebraico usado ali, shama’, não significa apenas ouvir, mas ouvir para obedecer. Em outras palavras, Zedequias escutava, mas não se submetia. Essa postura abriu caminho para decisões políticas confusas e, finalmente, contribuiu para a prisão do profeta. Enquanto o povo insistia em confiar em sua força militar e em alianças humanas, Jeremias chamou a nação a “fugir do engano” (v.9). A palavra sheqer, traduzida como “engano”, carrega a ideia de ilusão deliberada, uma mentira revestida de aparência espiritual. Comentando esse trecho, Anthony Palma observa que o pecado endurece a consciência, fazendo com que o povo perca o discernimento do juízo divino. Assim, a advertência de Jeremias revelava que Judá já não reconhecia nem o caráter de Deus nem a seriedade de Seu juízo. Foi nesse clima tenso que Jeremias decidiu viajar para Anatote, sua cidade natal. No entanto, ao chegar ao portão de Benjamim, foi acusado falsamente de “desertar para os caldeus” (v.13). O verbo hebraico nôphel sugere a ideia de “cair para o lado do inimigo”, o que revela o quanto o medo e a paranoia estavam dominando o coração dos oficiais. Craig Keener destaca que, quando a nação rejeita a Palavra, inevitavelmente passa a ver o profeta como adversário. Assim, Jeremias foi preso e entregue a homens que, movidos por ódio, receberam autorização do rei para castigá-lo (Jr 37.15). O profeta ficou detido “por muitos dias” em um calabouço, literalmente uma “casa da cova” (v.16). Esse era um ambiente subterrâneo, úmido e insalubre, descrito nos comentários da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal como um local onde a vida do prisioneiro corria grande risco. O texto menciona “suas celas” (v.20), indicando compartimentos estreitos e perigosos. French Arrington lembra que Deus, em Sua providência, não poupou Seus servos do sofrimento, mas sustentou cada um deles em meio às provações. Mesmo assim, e talvez por causa da crescente pressão do cerco babilônico, Zedequias procurou Jeremias secretamente. O rei queria ouvir a verdade, mas não tinha coragem de assumi-la diante do povo. Ainda assim, Jeremias não suavizou a mensagem. A palavra hebraica para “falar” no versículo 17, dabar, indica uma mensagem deliberada e autorizada; ele falou com fidelidade, sem negociar o que Deus havia dito. Após interceder pela própria vida (v.20), o profeta foi então transferido para o átrio da guarda (v.21), um local menos cruel, mas ainda sob vigilância. A mudança não anulou seu sofrimento, mas evidenciou o cuidado de Deus em meio à aflição. Nesse episódio, aprendemos que a indecisão espiritual pode colocar o povo de Deus em grande perigo, enquanto a fidelidade à Palavra, mesmo sob pressão, revela a maturidade de um coração firmado no Senhor. Jeremias nos mostra que obedecer a Deus quando todas as circunstâncias são contrárias não é apenas coragem: é fruto de uma vida rendida ao Espírito, como ensinaria Horton ao refletir sobre a perseverança dos profetas. Seu testemunho ecoa ainda hoje como chamado à fidelidade, à coragem e à confiança na verdade divina.

 

ARRINGTON, French L. Comentário bíblico – Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, ano.

BEACON, Frank. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD.

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado. São Paulo: Hagnos.

CPAD. Comentário Bíblico Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.

FEE, Gordon D. Comentário do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.

KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia. São Paulo: Vida.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil.

PALMA, Anthony D. A verdade sobre o pecado e o arrependimento. Rio de Janeiro: CPAD.

 

3. A segunda fase da prisão de Jeremias. A primeira fase da prisão de Jeremias foi em um calabouço, que se trata de uma prisão subterrânea, fria e escura (vv.15,16). Em seguida, o rei permitiu que o profeta ficasse no átrio da guarda, uma parte do palácio, uma prisão mais “branda” e sob a vigilância de soldados (v.21). Finalmente, Jeremias foi lançado em um calabouço e ao que indica que se tratava de uma espécie de cisterna, ou um reservatório de águas, mas que só tinha lama, o que tornou essa prisão bem mais terrível para o profeta (Jr 38.6,7). A segunda fase da prisão de Jeremias se deu nesse calabouço sem água ou comida. Ele foi acusado de trabalhar contra Judá e ter desanimado o povo com a sua mensagem de arrependimento e de alerta sobre a invasão de Nabucodonosor. Enquanto os que trabalharam contra Jeremias eram príncipes de Judá, Ebede-Meleque que intercedeu e atuou na libertação do profeta, era um etíope e não um judeu, reafirmando que Deus usa meios improváveis para realizar grandes obras (Jr 39.15-18).

👉 A narrativa da segunda fase da prisão de Jeremias revela o avanço da hostilidade contra o profeta e mostra, ao mesmo tempo, como a fidelidade à Palavra pode conduzir alguém a lugares cada vez mais sombrios. No início, Jeremias havia sido levado a um calabouço subterrâneo, úmido e frio, onde a escuridão gerava a sensação de abandono. O texto fala de um beth habbor, uma “casa da cova”, termo que descreve não apenas um porão, mas um lugar onde o corpo e o ânimo eram esmagados. A Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal observa que tais prisões serviam menos para reter e mais para torturar pela privação. Mesmo assim, Deus preservou a vida de Seu servo. Diante do agravamento da crise nacional, Zedequias permitiu que Jeremias fosse transferido para o átrio da guarda, uma área interna do palácio que oferecia um pouco mais de dignidade e luz. Champlin observa que essa decisão pode indicar que o rei, apesar de sua fragilidade espiritual, reconhecia em Jeremias uma figura de integridade. Mesmo assim, o profeta permanecia vigiado e restrito, o que já mostrava que a Palavra de Deus estava sendo tratada com cautela, medo e resistência, e não com obediência. Porém, a situação se tornou ainda mais severa quando os líderes políticos de Judá pressionaram o rei e conseguiram autorização para lançar Jeremias em outra prisão. Desta vez, o texto descreve uma cisterna sem água, contendo apenas lama espessa (Jr 38.6). A palavra usada, bôr, indica um poço profundo, originalmente destinado a armazenar água da chuva. Keener explica que, quando abandonado, esse tipo de reservatório acumulava lama e dejetos, tornando-se um ambiente insalubre e mortal. A descida de Jeremias para esse lugar representa o ponto mais baixo de seu sofrimento, e alguns estudiosos afirmam que essa lama poderia atingir a cintura ou até os ombros, dificultando a respiração. Não havia comida, nem espaço seguro. Apenas um lugar que lentamente consumia a vida do profeta. A acusação contra Jeremias era de deslealdade. Ele foi acusado de “desanimar o povo” e “enfraquecer as mãos dos guerreiros” (Jr 38.4). O verbo hebraico rappah, “enfraquecer”, traz a ideia de soltar a força, afrouxar a coragem. Para os príncipes, a mensagem de arrependimento soava como traição. Horton lembra, em sua Teologia Sistemática Pentecostal, que a verdade revelada sempre confronta estruturas humanas que insistem em permanecer autônomas diante de Deus. Por isso, a mensagem de Jeremias parecia perigosa, embora fosse o único caminho real de salvação. É nesse ponto que surge um dos personagens mais surpreendentes do livro: Ebede-Meleque, um etíope, um estrangeiro, um servo da corte. Enquanto os príncipes de Judá se voltavam contra Jeremias, foi esse homem improvável que intercedeu por ele diante do rei. Seu nome significa “servo do rei”, mas o texto mostra que, na verdade, ele serviu ao Rei maior, o Senhor. A Bíblia de Estudo Pentecostal destaca que sua atitude corajosa reflete sensibilidade espiritual em meio à corrupção generalizada. Deus o honrou diretamente, prometendo-lhe livramento no futuro por sua confiança no Altíssimo (Jr 39.15-18). MacArthur comenta que isso demonstra que a graça divina alcança e usa quem tem um coração disposto, independentemente da origem. O contraste é forte e pedagógico. Aqueles que deveriam proteger o profeta foram seus perseguidores. Aquele que não possuía linhagem israelita tornou-se instrumento de libertação. A narrativa nos lembra que o Senhor levanta socorro de onde menos esperamos e que Seus propósitos avançam apesar das estruturas humanas corrompidas. Mas também nos lembra que fidelidade à Palavra frequentemente nos conduz a cisternas de lama antes de nos conduzir novamente à luz. A segunda fase da prisão de Jeremias nos ensina que permanecer fiel quando tudo ao redor se opõe é uma das marcas mais profundas da verdadeira espiritualidade. E, como a experiência do profeta revela, Deus nunca abandona aqueles que permanecem firmes em Sua verdade.

 

ARRINGTON, French L. Comentário bíblico – Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, ano.

BEACON, Frank. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD.

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado. São Paulo: Hagnos.

CPAD. Comentário Bíblico Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.

FEE, Gordon D. Comentário do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.

KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia. São Paulo: Vida.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil.

PALMA, Anthony D. A verdade sobre o pecado e o arrependimento. Rio de Janeiro: CPAD.

 

SUBSÍDIO I

“Nabucodonosor pôs Zedequias na posição de ‘rei’ em Jerusalém, de modo que Zedequias realmente estava subordinado à autoridade da Babilônia. Anteriormente, o rei Joaquim tinha reinado por apenas três meses antes de ser deportado para a Babilônia (veja 36.30, nota). Embora Zedequias tenha se recusado a prestar atenção àquilo que o Senhor tinha dito através de Jeremias (v.2), ele ainda queria que Jeremias rogasse por Judá, esperando de alguma maneira ganhar o favor do Senhor. Zedequias era como muitos hoje, que querem a ajuda de Deus, mas que ao mesmo tempo insistem em desfrutar os prazeres pecaminosos do mundo. Tais pessoas têm uma religião superficial, mas não um relacionamento real com Deus. Porém, quando a aflição chega, elas invocam a Deus, esperando receber a sua ajuda. Como Zedequias, elas se desapontarão (vv.6-9). Jeremias se apresentou diante do rei sem temor e não hesitou em anunciar a mensagem impopular de que a cidade seria destruída (vv.8,10). Espancamentos, prisão e ameaças de morte não fizeram com que ele abandonasse a sua missão de entregar a mensagem de Deus (vv.11-17).” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.955).

 

II. PRISÃO FECHADA, PORTAS ABERTAS

 

1. A ação de Deus, apesar da oposição. A história de Jeremias mostra que diante de toda a perseguição e maldade de seus compatriotas, o agir de Deus não foi impedido, haja vista que o profeta continuou a receber mensagens a serem transmitidas e, sem retroceder, as entregou com fidelidade e coragem. Além disso, aquilo que o Senhor falou por meio dele se cumpriu (Jr 29.10).

👉 A vida de Jeremias nos obriga a encarar uma verdade que a igreja, muitas vezes, tenta evitar: a obediência fiel não nos isenta da dor. Pelo contrário, às vezes a fidelidade nos leva diretamente para ela. E, ainda assim, nada pode impedir a obra que Deus decidiu realizar. A história do profeta mostra que a oposição humana jamais silencia a voz divina. Quando Deus chama, Ele sustenta; quando envia, Ele acompanha; quando fala, Ele cumpre. Jeremias pregava a uma geração que se recusava a ouvir. Era hostilizado, ridicularizado e tratado como traidor. Seus inimigos eram muitos; seus aliados, quase nenhum. Mesmo assim, o texto bíblico insiste: a Palavra continuava a vir a ele. Essa expressão repetida em Jeremias revela algo essencial sobre o caráter de Deus. A revelação não dependia das circunstâncias políticas, do humor dos príncipes ou da instabilidade do rei Zedequias. Dependia do Deus soberano que insiste em falar. A oposição dos homens nunca bloqueia a iniciativa divina. Segundo o Comentário Bíblico Beacon, o verbo hebraico empregado para “veio a palavra do Senhor” carrega a ideia de ação contínua. Deus não falou apenas em um momento distante; Ele continuou falando no meio da perseguição. É impressionante como o Senhor não ajusta Sua agenda à maldade humana. Ele segue atuando, mesmo quando os seus servos são empurrados para cisternas, calabouços ou prisões injustas. Horton destaca que a teologia bíblica da revelação mostra um Deus que se aproxima em graça, mesmo quando o povo se fecha em rebelião. A perseverança de Jeremias não nasceu de temperamento forte, mas de convicção profunda. Ele sabia que o chamado é irrevogável e que a missão não é negociável. Por isso, mesmo ferido, cansado e muitas vezes solitário, continuou anunciando a verdade. É exatamente aqui que a teologia reformada continuísta ilumina o texto. A perseverança dos santos, antes de ser uma virtude humana, é uma obra do Espírito no coração. Arrington afirma que o Espírito sustenta os servos de Deus no meio da oposição, fortalecendo a vontade e iluminando a mente para permanecerem firmes na verdade. Jeremias é um exemplo vívido dessa ação graciosa. Enquanto a nação tentava sufocar o profeta, o próprio Deus confirmava sua palavra. O capítulo 29 traz a afirmação poderosa: “Quando se completarem os setenta anos da Babilônia, eu cumprirei a minha promessa” (Jr 29.10, NVI). O verbo hebraico para “cumprirei” comunica certeza e propósito. Nada do que aconteceu com Jeremias, e nada do que Jerusalém tentou impedir, foi capaz de alterar o decreto divino. O Comentário Histórico-Cultural observa que a fidelidade de Deus em cumprir Sua promessa é o próprio coração da mensagem profética. Os homens podem tentar calar a boca do profeta, mas ninguém cala a boca de Deus. A história também expõe uma tensão espiritual que permanece até hoje. Enquanto o ser humano tenta controlar o ambiente, Deus governa a história. Enquanto os ímpios conspiram, o Senhor avança. Enquanto o justo sofre, o plano divino se cumpre. A cisterna que deveria destruir Jeremias acabou se tornando o palco onde Deus demonstrou Seu cuidado, usando um etíope improvável para resgatá-lo. Keener lembra que, repetidas vezes na Escritura, Deus usa pessoas marginalizadas para preservar Seus servos. Isso revela que a obra divina não depende das estruturas visíveis, mas da soberania que age de modo criativo e surpreendente. Essa narrativa convoca a igreja contemporânea a algo maior do que conforto espiritual. Ela nos chama a pregar mesmo quando dói. Pregar quando ninguém aplaude. Pregar quando parece que ninguém ouve. Pregar quando obedecer significa sofrer. Assim como Jeremias, nós também somos sustentados pelo mesmo Deus que age apesar da oposição. A Palavra não volta vazia. A promessa não falha. O chamado não expira. A fidelidade divina não muda porque o cenário é hostil. No fim, Jeremias nos ensina o que todo professor e aluno de Escola Bíblica precisa guardar no coração: o homem pode perseguir, mas Deus continua falando. O homem pode tentar calar, mas Deus continua cumprindo. O homem pode se opor, mas Deus continua agindo. Quem entende isso não desiste. Não recua. Não negocia. E termina dizendo:

“Eu preciso pregar, independente do que me aconteça.”

 

ARRINGTON, French L. Seminário de Teologia Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, ano.

BEACON, Comentário Bíblico. Vol. correspondente. CPAD.

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Candeia, ano.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. CPAD.

KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia. CPAD.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. Sociedade Bíblica do Brasil.

MENZIES, Robert. Empowered for Witness.

OSS, Douglas. Comentários diversos.

PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude.

PENTECOSTAL. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento e Esperança. CPAD.

 

2. Uma porta aberta na prisão. Jeremias estava preso, mas Deus se apresentou e falou-lhe a sua Palavra por duas vezes (Jr 32.1,2; 33.1). Foi por ocasião desta segunda vez que Deus convocou o profeta a clamar, com a promessa de que o responderia e anunciaria a ele “coisas grandes e firmes” (Jr 33.3). Na condição de preso, Jeremias não podia encontrar as pessoas que desejassem, nem mesmo tinha a liberdade de ir e vir, além de ter sido privado de outros elementos básicos da vida. As limitações dele não se aplicaram a Deus, que entrou onde estava o profeta e falou com ele. As portas trancadas por homens não são capazes de impedir o agir de Deus por meio da oração. Independente do lugar e das circunstâncias, Jeremias podia clamar a Deus.

👉 A narrativa de Jeremias nos ensina que nenhum grilhão humano é capaz de limitar a voz de Deus. Enquanto o profeta vivia o peso da prisão e experimentava a sensação de impotência, o texto bíblico afirma que “veio a ele a palavra do Senhor” (Jr 32.1; 33.1, NVI). Essa expressão é um golpe contra toda a lógica humana. O homem tentou fechar portas, mas Deus abriu caminho. O profeta não podia sair, mas Deus podia entrar. Essa verdade precisa moldar nossa fé: Deus não depende do ambiente para falar. Ele apenas decide falar. A prisão de Jeremias era real. Não era metáfora. Ele estava cercado por muros, vigiado por soldados e privado do cotidiano mais básico. Mesmo assim, o Senhor não apenas falou, mas falou duas vezes. O Comentário Beacon observa que essa repetição reforça a iniciativa divina. Deus toma a frente. Deus se aproxima. Deus rompe barreiras. Quando a Bíblia diz que a Palavra “veio”, usa o hebraico hayah, que traz o sentido de acontecimento ativo. Não foi uma lembrança espiritual, mas uma visitação soberana. Em outras palavras, Deus chegou ao cárcere. No segundo encontro, o Senhor fez algo ainda mais profundo. Ele ordenou: “Clame a mim e eu responderei” (Jr 33.3, NVI). O verbo hebraico para clamar é qara, usado para alguém que invoca com intensidade e urgência. Não é o clamor de quem tem opções. É o clamor de quem depende exclusivamente de Deus. A promessa de revelar “coisas grandes e firmes” aponta para realidades ocultas ao olhar humano. A expressão pode significar “mistérios inacessíveis”, como afirmam Keener e Champlin. Ou seja, Deus estava dizendo ao profeta que revelaria aquilo que ninguém poderia descobrir sem Ele. Jeremias não podia visitar o povo, ensinar na praça ou circular livremente. Sua agenda foi cancelada pela perseguição. Mas a agenda de Deus permaneceu aberta. Segundo Horton, a revelação divina nunca é prisioneira das circunstâncias, porque procede da soberania e não do contexto. As limitações do profeta só tornaram mais visível a liberdade absoluta de Deus. Ele fala onde quer. Age como quer. Entra onde ninguém pode entrar. Até as grades do palácio real se tornaram espaço de encontro com o Altíssimo. Esse detalhe é precioso para a espiritualidade cristã. Muitas vezes acreditamos, de forma sutil, que Deus opera melhor quando estamos livres, fortes e organizados. Jeremias prova o contrário. O Senhor visita Seus servos nos lugares onde eles parecem ter perdido o controle. Ele se revela na fraqueza. Ele fortalece na angústia. Ele instrui nas sombras. A prisão não abafou a oração. E a oração abriu caminho para a revelação. Amos Yong lembra que a experiência de Deus frequentemente nasce em ambientes de vulnerabilidade, porque ali o coração do servo se torna totalmente dependente. O Senhor não removeu Jeremias da prisão naquele momento. Não abriu as portas. Não destravou correntes. Mas abriu algo mais profundo: abriu entendimento, abriu esperança, abriu direção. Esse é o movimento clássico da ação de Deus na história. Homens fecham portas. Deus abre caminhos. Homens restringem. Deus amplia. Homens silenciam. Deus fala. Quando o profeta ouviu a ordem divina para clamar, ele descobriu que a verdadeira liberdade não está na ausência de paredes, mas na presença do Deus que atravessa qualquer parede. Essa parte da narrativa desperta uma convicção simples e poderosa para a vida cristã: não existe lugar onde Deus não possa entrar. Não existe situação onde Deus não possa falar. Não existe circunstância que anule a oração do justo. Jeremias estava preso, mas seu Deus não estava. O profeta estava cercado, mas sua comunhão não estava acorrentada. O homem limitou. Deus abriu. Por isso, cada professor e aluno de EBD pode declarar com segurança: se eu clamar, Ele responde. Se eu buscar, Ele vem. Se eu me render, Ele fala. Mesmo que eu esteja em minha própria “prisão”, Deus continua sendo o Deus que visita Seus servos e revela “coisas grandes e firmes” que nós não conhecemos.

 

ARRINGTON, French L. Seminário de Teologia Pentecostal. CPAD.

BEACON, Comentário Bíblico. CPAD.

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado. Candeia.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. CPAD.

KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia. CPAD.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. SBB.

PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude.

PENTECOSTAL. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento e Esperança. CPAD.

 

3. O profeta está preso, mas a Palavra está livre. A Palavra de Deus não depende das condições do mensageiro, e a mensagem é do Senhor, portanto, segue o seu curso independentemente de qualquer outra coisa. Em cumprimento à promessa feita a Jeremias de que velaria sobre a sua Palavra para a cumprir, Deus trabalhou, mesmo quando o profeta estava preso, pois isso é próprio da natureza perfeita e fiel de Deus (Jr 1.12; 2Cr 36.21). Todas as portas humanas podem estar fechadas, mas a porta da Palavra e da oração sempre estarão abertas e em condições de cumprirem o seu papel, segundo a vontade do Senhor.

👉 A prisão de Jeremias cria um contraste poderoso. O profeta está limitado, mas a Palavra permanece em plena liberdade. Essa é uma das verdades mais profundas das Escrituras. A mensagem não depende das circunstâncias do mensageiro, porque a iniciativa não começa no homem. Começa em Deus. Jeremias está encarcerado, mas a revelação continua avançando. Deus não é afetado por correntes, muros ou decretos reais. Ele cumpre aquilo que prometeu, porque vela sobre Sua Palavra para realizá-la (Jr 1.12, NVI). Essa afirmação revela o coração do Deus da aliança: Ele trabalha mesmo quando o profeta não pode se mover. O verbo hebraico traduzido como velar, shaqad, transmite a ideia de alguém que permanece desperto, atento, vigilante. Não é vigilância passiva. É cuidado ativo. É zelo constante. Deus não apenas observa Sua Palavra. Ele a acompanha até que se cumpra. Assim, enquanto Zedequias hesitava e o povo endurecia, Deus continuava avançando com Seus propósitos. Essa perspectiva, observada tanto por Champlin quanto pelo Beacon, mostra que o centro da história não é a ação humana, mas a fidelidade divina. Mesmo quando o profeta está em silêncio forçado, Deus continua falando. A mensagem de Jeremias seguia seu curso porque não era a palavra de um preso. Era a Palavra do Senhor. Sua força não vinha das circunstâncias, mas da própria natureza de Deus. Quando o texto diz que o Senhor cumpriu aquilo que havia declarado, ecoa também o registro de 2 Crônicas 36.21. Lá, o escritor reconhece que Deus cumpriu Seu juízo sobre a terra conforme havia anunciado. Essa coerência entre profecia e história reforça a confiabilidade absoluta da revelação. Como aponta Stanley Horton, a fidelidade divina cria estabilidade espiritual para o seu povo, especialmente em tempos de crise. O aprisionamento do profeta prova que portas humanas podem ser fechadas, mas a porta da Palavra nunca é trancada. Ela é viva. Ela é eficaz. Ela continua seu caminho mesmo quando o servo está parado. Gordon Fee observa que a Palavra de Deus não está condicionada aos limites impostos pelo mundo, porque ela carrega em si mesma o sopro do Espírito. Deus não permitiu que o cativeiro de Jeremias se tornasse cativeiro da revelação. O mensageiro foi restringido. A mensagem, nunca. A oração também permanece aberta. Mesmo no cárcere, Jeremias tem acesso ao trono de Deus. A prisão não lhe tirou esse privilégio. Não existe cela que possa barrar a comunhão. Isso nos lembra o que Amos Yong afirma sobre a espiritualidade bíblica: Deus se encontra com Seus servos em qualquer espaço, mesmo naqueles marcados pela dor. A limitação física nunca anulou a liberdade espiritual. A porta da Palavra e a porta da oração caminham juntas. Onde uma está aberta, a outra também está. Esse ponto é essencial para o ensino da igreja. Deus age no ritmo de Sua vontade, e não no ritmo das circunstâncias. Se tudo ao redor parece fechado, isso não significa que Deus parou. Ele continua operando, revelando, julgando, restaurando. Jeremias estava preso, mas a fidelidade divina estava em movimento. A Palavra continuava correndo, como uma chama que ninguém pode apagar. E quando a igreja entende isso, aprende a confiar mais na provisão de Deus do que na sensação de liberdade pessoal. A lição final é simples e profunda. Mesmo quando as portas humanas se fecham, a porta da Palavra permanece aberta. Mesmo quando a vida limita, Deus avança. Mesmo quando o servo está preso, a mensagem está livre. E essa liberdade da Palavra sustenta, consola e dirige o povo de Deus em todos os tempos. A fidelidade divina não se dobra às circunstâncias. Ela governa sobre elas. Quem confia na Palavra jamais fica sem saída, porque Deus cuida dela até o fim.

 

ARRINGTON, French L. Seminário de Teologia Pentecostal. CPAD.

BEACON, Comentário Bíblico. CPAD.

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado. Candeia.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.

KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia. CPAD.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. SBB.

MENZIES, Robert P. Empoderamento do Espírito. CPAD.

PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude.

PENTECOSTAL. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento e Esperança. CPAD.

 

SUBSÍDIO II

“Alguns príncipes no exército de Judá eram hostis a Jeremias porque ele tinha exortado o povo a se entregar aos babilônios; por esta razão, eles o confinaram em um calabouço subterrâneo. Sabendo que Jeremias era um verdadeiro profeta do Senhor, Zedequias esperava uma palavra mais encorajadora da parte de Deus. Mas a palavra de Jeremias permaneceu a mesma. Jerusalém iria cair e Zedequias seria entregue ao rei da Babilônia. O profeta não iria faltar com a verdade mesmo em circunstâncias desesperadoras.” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.955).

 

III. A FIDELIDADE DE DEUS, O POVO E O PROFETA

 

1. Uma mensagem que exige uma resposta. O texto de Jeremias 37.2 nos mostra que nem o rei, nem os seus servos e nem “o povo da terra” “deram ouvidos às palavras do SENHOR”. Como se não bastasse a rejeição, os desobedientes se iraram e trabalharam contra a pessoa do profeta, conforme visto anteriormente. Tal fato nos mostra que quando a Palavra de Deus é entregue, aqueles que ouvem a mensagem, inevitavelmente terão de dar uma resposta, seja ela positiva ou negativa. Ao ouvir a Palavra de Deus, o homem se toma indesculpável, segundo o ensino de Paulo aos Romanos 1.18-20. Portanto, o povo nos dias de Jeremias rejeitou a sua mensagem e, por isso, foi punido, mas o plano de Deus e a sua Palavra permanecem eternamente.

👉 Jeremias 37.2 revela um cenário espiritual grave. O texto diz que “nem o rei, nem os seus oficiais, nem o povo da terra deram atenção às palavras que o Senhor havia dito”. A expressão hebraica usada para “dar ouvidos” carrega a ideia de ouvir com o coração aberto, inclinar-se interiormente para acolher a vontade de Deus. Eles não apenas deixaram de escutar; fecharam-se deliberadamente. A recusa não foi ignorância, mas rebeldia consciente. E, como ocorre tantas vezes na história bíblica, a rejeição da Palavra levou à hostilidade contra o mensageiro. O coração endurecido não permanece neutro; ele reage contra tudo o que o confronta. Essa cena expõe uma verdade espiritual universal: toda vez que a Palavra é proclamada, ela exige uma resposta. Não existe neutralidade diante da voz de Deus. A própria lógica paulina em Romanos 1.18-20 confirma que, ao ouvir a revelação divina, o ser humano se torna indesculpável, pois a Palavra revela tanto o caráter santo de Deus quanto a condição real do coração humano. Assim como o sol endurece o barro, mas amolece a cera, a Palavra que ilumina também revela quem somos. Nos dias de Jeremias, a resposta do povo foi rejeição. E a rejeição trouxe juízo. O Comentário Bíblico Pentecostal observa que a resistência à Palavra foi o catalisador que acelerou a queda de Jerusalém, mostrando que desobedecer ao Senhor não é apenas um erro moral, mas um golpe autoinfligido que destrói a própria nação. Mesmo assim, a infidelidade humana não anulou o propósito divino. A Palavra permaneceu firme, fiel, inabalável. Como destaca MacArthur, o fracasso do povo não impediu o avanço da mensagem; apenas expôs a distância entre seus lábios e o seu coração. A história confirma o que a teologia sustenta: Deus cumpre seus planos mesmo quando os homens resistem. A Palavra rejeitada continua sendo Palavra, porque sua força não está na recepção humana, mas na fidelidade do Deus que a pronunciou. Foi assim nos dias de Jeremias, e continua sendo assim hoje. Cada vez que Deus fala, Ele nos chama a escolher entre obedecer ou endurecer o coração. A resposta define o caminho; a Palavra, porém, permanece para sempre.

 

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado. São Paulo: Hagnos, 2014.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Histórico-Cultural. São Paulo: Vida, 2014.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.

MENZIES, Robert. Pentecostes: Essa História é Nossa. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento e Esperança. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.

 

2. Deus e a sua Palavra. Segundo a narrativa bíblica, é possível ver a preocupação do rei Zedequias ao perceber que as predições de Jeremias começavam a se cumprir. Isso o levou a consultar o profeta a respeito do futuro e o que ele deveria fazer (Jr 38.14-24). Embora Jeremias estivesse enfrentando prisões, a Palavra de Deus estava se cumprindo, segundo o seu propósito e o anúncio prévio pelo profeta. O crente pode e deve descansar na fidelidade de Deus, porque “fiel é o que prometeu” (Hb 10.23). A expressão “veio a palavra do Senhor, dizendo” é muito comum ao longo de todo o livro de Jeremias e, além de outras lições, ela mostra que Deus e a sua Palavra são inseparáveis. Jesus é quem evidencia essa verdade. Ele é “o Verbo que se fez carne” (Jo 1.14). Deus tem compromisso com a sua Palavra, afinal ela também testifica a seu respeito (Jo 5.39). Portanto, à semelhança do Senhor, a sua Palavra é infalível (Mt 5.18). Jeremias tinha essa convicção e nela ele descansava, encontrando as condições para enfrentar as oposições, as perseguições e as prisões sem desonrar a Deus e ao seu chamado.

👉 A narrativa bíblica deixa claro que, à medida que as profecias de Jeremias começavam a se cumprir diante dos olhos da nação, o rei Zedequias passou a sentir o peso da realidade espiritual que havia ignorado por tanto tempo. Sua busca secreta pelo profeta em Jeremias 38.14-24 revela não apenas medo, mas também a consciência tardia de que a Palavra de Deus sempre se cumpre. Mesmo preso, humilhado e silenciado pelos homens, Jeremias continuava sendo a voz de um Deus que não pode ser aprisionado. A Palavra avançava, imparável, guiando a história segundo o propósito estabelecido desde o início. Esse é um dos grandes temas da Escritura: a fidelidade de Deus se impõe mesmo quando a situação humana parece contrária. Como lembra a Epístola aos Hebreus, “fiel é o que prometeu” (Hb 10.23). O verbo grego aqui, pistós, carrega a ideia de alguém absolutamente digno de confiança, cuja coerência entre promessa e ação é perfeita. Por isso, a esperança do crente não está em circunstâncias favoráveis, mas no caráter imutável do Deus que fala e cumpre. Em Jeremias, a expressão “veio a palavra do Senhor” aparece repetidas vezes e se torna quase um refrão teológico. Como destacam o Beacon e a Bíblia de Estudo Pentecostal, essa frase reforça que Deus e a sua Palavra são inseparáveis. O que Deus diz é uma extensão de quem Ele é. Por isso, rejeitar a Palavra sempre foi, essencialmente, rejeitar o próprio Deus. A teologia joanina confirma isso ao apresentar Cristo como “o Verbo que se fez carne” (Jo 1.14). Ele é a expressão perfeita do Deus invisível, mostrando que a revelação não é apenas um discurso divino, mas uma pessoa, viva, presente, atuante. A fidelidade divina se revela também na infalibilidade da Palavra. Jesus afirmou que nem mesmo “um i ou um til” deixará de se cumprir (Mt 5.18), ressaltando a precisão absoluta da revelação. Quando Deus fala, Sua palavra não volta vazia. Isso sustentou Jeremias em seus dias mais sombrios. A Bíblia de Estudo MacArthur observa que a convicção do profeta sobre a integridade da Palavra era a âncora que o impedia de ceder à pressão, ao medo ou à manipulação política do rei. Ele permaneceu firme porque sabia que o Deus que o chamou jamais falharia. Assim, enquanto Zedequias vacilava, Jeremias permanecia inabalável. A Palavra era sua rocha, sua coragem e sua razão de continuar proclamando a verdade. Essa mesma certeza é oferecida a nós hoje: quando confiamos na Palavra que não muda, encontramos força para enfrentar perseguições, injustiças e incertezas sem abandonar a fidelidade ao chamado de Deus.

 

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

BEACON. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado. São Paulo: Hagnos, 2016.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Histórico-Cultural. São Paulo: Vida, 2014.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.

MENZIES, Robert. O Espírito e a Missão. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento e Esperança. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.

 

3. A fidelidade de Deus e a postura do profeta. Qual foi a reação de Jeremias diante das maldades, de suas prisões e da indiferença do povo à sua mensagem? Ele não desanimou, mas podemos ver três atitudes suas que nos encorajam a continuar servindo ao Senhor mesmo enfrentando lutas e perseguições: Jeremias não deixou de amar o seu povo; não maltratou ninguém e continuou a combater os falsos profetas. Jeremias foi um profeta que demonstrou amor genuíno pelo seu povo, mesmo que este não tenha dado ouvido às suas mensagens. Ele pediu a Deus que lhe desse lágrimas suficientes para chorar em favor deste povo (Jr 9.1), antecipando assim o sentimento de Jesus que seria demonstrado tempos mais tarde, pois, mesmo tendo sido rejeitado, o Senhor chorou e intercedeu pelo povo (Mt 23.37; Lc 19.41-44). O amor capacitou o profeta a não retribuir o mal que lhe estavam fazendo, já que em nenhum momento Jeremias é visto amaldiçoando e nem maldizendo os seus compatriotas, mas é visto firme em suas previsões e combatendo os falsos profetas, protegendo o povo do engano (Jr 37.6-21). O mesmo sentimento é visto no apóstolo Paulo, que afirma ser a fidelidade de Deus a fonte de sua capacidade de amar, enquanto sofre (2Tm 2.10-13). Descansar na fidelidade de Deus capacita o crente a amar em tempos difíceis e a permanecer fiel ao Eterno e à sua Palavra.

👉 Quando observamos a trajetória de Jeremias, é impossível ignorar o contraste entre a dureza que ele enfrentou e a ternura que escolheu cultivar. Preso injustamente, cercado por autoridades corruptas e rejeitado por um povo que insistia em fechar os ouvidos à verdade, o profeta poderia ter se tornado amargo ou desistido de seu chamado. No entanto, sua reação revela a marca de alguém que conhece profundamente o caráter de Deus. Em vez de desânimo, vemos três atitudes que se tornam um espelho para todos nós que servimos ao Senhor em tempos difíceis: Jeremias continuou amando o seu povo, recusou-se a retribuir o mal que sofria e permaneceu firme no combate aos falsos profetas que ameaçavam desviar a nação. O amor de Jeremias é evidente. Ele não apenas pregava arrependimento; ele carregava o povo no coração. Seu clamor em Jeremias 9.1 mostra isso de forma comovente. Ele pede lágrimas suficientes para chorar pela nação, revelando um coração pastoral moldado pela compaixão divina. O verbo hebraico usado ali, relacionado a “derramar” ou “jorrar”, descreve um pranto contínuo, quase sacerdotal. Como observam Horton e Arrington, esse choro não era fraqueza emocional, mas participação no próprio sofrimento de Deus diante da rebeldia humana. O profeta chorava porque Deus chorava. Assim, Jeremias antecipa o coração de Cristo, que séculos depois lamentaria sobre Jerusalém rejeitando o Messias (Mt 23.37; Lc 19.41-44). A Bíblia de Estudo Plenitude destaca que as lágrimas de Jesus não eram apenas humanas, mas a expressão visível do amor divino ferido. Esse amor também o capacitou a não retribuir o mal. Embora preso, agredido e acusado injustamente, Jeremias nunca amaldiçoa seus acusadores. Ele não usa sua autoridade profética para vingança. Essa postura aparece alinhada ao padrão do Servo do Senhor em Isaías, que “não revidou” e “não abriu a boca” em retaliação. O Comentário Beacon observa que a integridade espiritual do profeta se manifesta exatamente quando ele escolhe sofrer injustamente, confiando na justiça de Deus. A fidelidade divina não inibe o sofrimento, mas o redime, transformando-o em testemunho. Além disso, Jeremias permaneceu firme em sua missão, especialmente no combate aos falsos profetas (Jr 37.6-21). Ele sabia que o engano espiritual destrói mais do que as guerras externas. Os falsos profetas ofereciam uma mensagem confortável, mas vazia, desviando o povo da necessidade urgente de arrependimento. O profeta não se calou para preservar sua segurança; ele falou para preservar vidas. Keener e Menzies lembram que, no contexto do Antigo Testamento, a função profética sempre esteve ligada à proteção do rebanho, denunciando vozes que seduziam a nação para longe da aliança. Ao confrontar o engano, Jeremias estava exercendo amor pastoral e zelo pela verdade. Essa mesma postura reaparece no apóstolo Paulo. Em 2Timóteo 2.10-13, ele afirma suportar sofrimento “por amor dos eleitos”, convencido de que a fidelidade de Deus sustenta sua perseverança. A palavra grega para “fiel” novamente é pistós, lembrando-nos de que Deus não muda e não falha. Jeremias e Paulo olhavam para o mesmo fundamento: a fidelidade de Deus. É essa fidelidade que capacita o crente a amar enquanto sofre, a permanecer firme quando atacado e a manter a integridade quando a mentira parece mais popular do que a verdade. Assim, descansar na fidelidade de Deus não é uma ideia abstrata. É uma prática espiritual que sustenta a alma nos dias mais escuros. A vida de Jeremias nos ensina que confiamos no caráter de Deus, não nas condições ao nosso redor. E quando confiamos no Deus que não muda, somos capazes de amar em tempos difíceis, de servir sem retaliar e de permanecer fiéis à Palavra, mesmo quando o mundo ao nosso redor insiste em rejeitá-la.

 

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

BEACON. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado. São Paulo: Hagnos, 2016.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Histórico-Cultural. São Paulo: Vida, 2014.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.

MENZIES, Robert. O Espírito e a Missão. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

PLENITUDE. Bíblia de Estudo Plenitude. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

TORRALBO, Elias. Exortação, Arrependimento e Esperança. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.

 

CONCLUSÃO

Mesmo em meio ao sofrimento causado pela sua prisão, o profeta Jeremias desfrutou do cuidado de Deus, ouviu a sua voz e a sua fé foi renovada sobre a fidelidade do Senhor, o que lhe deu as devidas condições para reagir como um verdadeiro servo de Deus em situações tão adversas. O crente da atualidade também deve se firmar na fidelidade de Deus em cumprir a sua Palavra, e não se esquecer sobre a sua responsabilidade e se submeter sempre ao que nela está escrito.

👉 Quando encerramos a leitura do ministério de Jeremias, percebemos que sua prisão não foi o fim de sua utilidade, mas o cenário em que a fidelidade de Deus se tornou ainda mais visível. Mesmo cercado pela injustiça, pela solidão e pela rejeição, o profeta experimentou o cuidado daquele que nunca abandona os seus. Deus não apenas o sustentou; falou com ele, renovou sua fé e lhe deu coragem para permanecer firme. A prisão não silenciou sua alma porque a voz de Deus continuava viva dentro dele. Assim, o que o manteve de pé não foram circunstâncias favoráveis, mas a convicção de que o Senhor vela sobre a própria Palavra para cumpri-la. Essa verdade atravessa os séculos e alcança todos nós. O crente de hoje também enfrenta pressões, injustiças, tentações e ambientes que tentam calar sua fé. Mas, como Jeremias, cada discípulo é chamado a ancorar a vida na fidelidade de Deus e não nas emoções do momento. A Palavra que Deus falou continua inabalável. Jesus ensinou que nem “um i ou um til” cairiam de sua Lei, porque ela procede do Deus que não falha. Isso significa que nossa segurança não está no que vemos, mas no que Deus prometeu. Ao mesmo tempo, essa fidelidade divina nos lembra da responsabilidade que carregamos. Não basta saber que Deus cumpre o que diz; somos chamados a viver submetidos àquilo que Ele revelou. A fé bíblica sempre caminha ao lado da obediência. Jeremias permaneceu fiel porque confiou na Palavra, mas também porque se curvou diante dela. E é essa combinação que transforma o coração: confiar no caráter de Deus e obedecer ao que Ele ordena. Portanto, ao concluir esta reflexão, ouvimos um chamado claro: descansar na fidelidade do Senhor e permanecer firmes em sua Palavra, mesmo quando tudo ao redor parece contrário. A vida cristã madura nasce dessa união entre confiança e obediência. Quem descansa na fidelidade de Deus encontra força para enfrentar a noite, e quem se submete à sua Palavra caminha com luz suficiente para o próximo passo. Essa é a esperança que sustenta os servos do Senhor em qualquer geração. Ao término desta preciosa lição, podemos extrair três aplicações práticas para a vida do aluno:

1. Aprenda a confiar na fidelidade de Deus mesmo quando tudo parece contrário: Jeremias nos ensina que circunstâncias difíceis não anulam o cuidado e nem a voz de Deus. Ele ouviu o Senhor dentro de um cárcere. Isso nos lembra que Deus não depende das “portas” que os homens abrem ou fecham. Crentes maduros precisam aprender a interpretar a vida não pelos seus olhos, mas pela fidelidade divina revelada na Escritura. Quando enfrentar pressão, oposição ou uma estação de silêncio, substitua a ansiedade pela oração. Pegue uma promessa bíblica, declare-a em oração diariamente por 7 dias e avalie como sua fé é fortalecida ao longo da semana.

2. Submeta-se à Palavra de Deus mesmo quando ela confronta seus desejos: O povo no tempo de Jeremias ouviu a Palavra, mas não se submeteu a ela. Isso os tornou indesculpáveis. A mesma dinâmica acontece hoje: conhecer a Bíblia e não obedecer produz endurecimento espiritual. A lição mostra que Deus e sua Palavra são inseparáveis; logo, rejeitar a Palavra é rejeitar o próprio Deus. Identifique uma área de sua vida em que você sabe o que a Palavra ordena, mas ainda hesita em obedecer (pecado, perdão, relacionamentos, finanças, santidade, disciplina espiritual). Escreva essa área num papel e estabeleça uma ação prática para obedecer a Deus nesta semana.

3. Responda à injustiça com amor e perseverança, como Jeremias: Mesmo perseguido, preso e difamado, Jeremias não deixou de amar seu povo, não retribuiu o mal e continuou combatendo o engano. Esse modelo aponta para Cristo e para o padrão do Novo Testamento. A fidelidade de Deus sustentou sua postura, e isso continua disponível para nós. Escolha uma pessoa ou situação que tem sido causa de dor, injustiça ou tensão em sua vida. Em vez de retribuir com frieza, crítica ou afastamento, ore por essa pessoa durante 7 dias, pedindo que Deus limpe seu coração e lhe dê amor maduro. Depois, pratique um gesto concreto de bondade ou reconciliação.

 

Viva para a máxima glória do Nome do Senhor Jesus!

Viva conectado a Cristo, adore com sinceridade, sirva com amor e aja com justiça, para que cada atitude reflita a glória de Deus no mundo.

 

HORA DA REVISÃO

1. Segundo lição, por que a prisão de Jeremias chama a atenção?

A prisão de Jeremias é um tema que chama a atenção, tanto pela sua importância histórica como pela comoção diante do sofrimento de um profeta fiel.

2. Quando se deu a prisão de Jeremias?

A sua prisão se deu quando os babilônios se afastaram de Jerusalém por um tempo para pelejar contra um exército egípcio.

3. Para onde Jeremias estava indo quando se deu sua prisão?

Viajava para Anatote, sua cidade natal.

4. Qual o nome do etíope que trabalhou para a libertação de Jeremias?

Ebede-Meleque.

5. Segundo a narrativa bíblica, qual o nome do rei que se preocupou ao perceber que as predições de Jeremias começavam a se cumprir?

Zedequias.