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15 de setembro de 2025

EBD JOVENS | Lição 12: O Que Você Semear, Ceifará | 3° Trim 2025

 

Pb Francisco Barbosa (@Pbassis)

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TEXTO PRINCIPAL

Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gl 6.2).

ENTENDA O TEXTO PRINCIPAL:

• 👉 Levai as cargas uns dos outros. "Cargas" são fardos muito pesados que, aqui, representam as dificuldades ou os problemas com que as pessoas acham difícil lidar. "Levar" indica carregar algo com perseverança, a lei de Cristo. A lei do amor que cumpre toda a lei (veja notas em 5.14; Jo 13.34; Rm 13.8,10). Levai, no grego, a palavra é bastázō, que significa carregar, sustentar, suportar algo pesado. Não se trata apenas de um peso físico, mas de fardos emocionais, espirituais e até consequências do pecado. Paulo está chamando a comunidade a uma solidariedade prática, em que o sofrimento de um não é ignorado pelos demais. Cargas, a palavra usada é barē (plural de baros), que remete a pesos opressores, difíceis de carregar sozinho. Aqui, podemos entender como lutas espirituais, tentações, dificuldades da vida cristã e dores pessoais. Diferente do fardo leve de Cristo (Mt 11.30), esses são pesos da vida humana que a comunidade deve ajudar a sustentar. Lei de Cristo, Paulo conecta essa prática ao cumprimento da nomos tou Christou, a “lei de Cristo”. Essa expressão remete ao mandamento do amor ensinado e vivido por Jesus: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34). Cumprir a lei de Cristo, portanto, não é um legalismo, mas viver a ética do amor prático, que se expressa no cuidado mútuo. Paulo nos ensina que a vida cristã nunca é individualista. O jovem cristão que deseja ser fiel ao Evangelho precisa aprender a se importar de forma concreta com os outros: ouvir, apoiar, interceder, exortar com amor. A espiritualidade madura não se mede apenas pelo quanto sabemos, mas pelo quanto nos dispomos a carregar as dores do próximo. É nesse exercício de empatia e serviço que mostramos ao mundo que realmente seguimos a Cristo.

 

RESUMO DA LIÇÃO

A espiritualidade também é fruto daquilo que se planta, seja na carne, seja no Espírito.

ENTENDA O RESUMO DA LIÇÃO:

• 👉 Nossa espiritualidade é a colheita inevitável da semente que escolhemos plantar: se lançamos na carne, colheremos corrupção; mas, se semeamos no Espírito, transbordaremos em vida e poder de Deus.

 

TEXTO BÍBLICO

Gálatas 6.1-8.

1. Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.

• 👉 O objetivo da disciplina cristã não é punir ou envergonhar, mas restaurar com ternura e amor. Os crentes “espirituais”, os que andam no Espírito (Gl 5.16, 22, 25), devem lidar com mansidão ao corrigir alguém. Contudo, precisam também vigiar a si mesmos, pois ninguém está imune à tentação.

2. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.

• 👉 O peso das provações, fraquezas e tentações não pode ser carregado sozinho. A comunidade cristã deve estar unida em amor, ajudando-se mutuamente. Isso é cumprir “a lei de Cristo”, isto é, a lei do amor (Jo 13.34; Tg 2.8).

3. Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo.

• 👉 O orgulho espiritual impede a restauração mansa e o levar as cargas. Quem pensa ser algo mais do que realmente é está se iludindo. A humildade é essencial para a vida no Espírito.

4. Mas prove cada um a sua própria obra e terá glória só em si mesmo e não noutro.

• 👉 Cada cristão deve examinar suas próprias ações diante de Deus, e não se comparar com outros. O verdadeiro motivo de glória é ter uma consciência limpa diante do Senhor.

5. Porque cada qual levará a sua própria carga.

• 👉 Aqui Paulo usa uma palavra diferente de “carga” (no v.2). Enquanto no v.2 fala-se do peso insuportável que precisa de ajuda, aqui trata-se da responsabilidade pessoal que cada um deve carregar diante de Deus. Ou seja, ajudamos uns aos outros, mas cada um responderá por sua própria vida.

6. E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.

• 👉 O ensino da Palavra deve ser valorizado e sustentado. É um dever espiritual do cristão compartilhar bens materiais com quem o ensina. Paulo reforça a importância de apoiar financeiramente os ministros do evangelho.

7. Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.

• 👉 O princípio da semeadura e colheita é inevitável. Ninguém engana a Deus: aquilo que semeamos em nossa vida, boas ou más ações, determinará o que colheremos. O pecado trará destruição, e a obediência ao Espírito trará vida.

8. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a vida eterna.

• 👉 Semeamos na carne quando investimos em desejos pecaminosos e egoístas; a colheita é a morte espiritual. Semeamos no Espírito quando vivemos em obediência ao Espírito Santo; a colheita é vida eterna. É uma advertência solene e uma promessa gloriosa.

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INTRODUÇÃO

O apóstolo Paulo se detém no início do último capítulo a tratar da forma como a verdadeira liberdade cristã pode ser vivenciada na comunhão dos santos. Para isso, ele destaca os seguintes pontos: como tratar um irmão que pecou? Como pensar o que é o correto sobre nós mesmos para não nos enganarmos? Como ter cuidado com o que plantamos, pois colheremos depois? São três pontos importantes que mostram, na prática, a espiritualidade que Deus espera que tenhamos.

• 👉 Paulo encerra a carta aos Gálatas mostrando que a verdadeira liberdade cristã não é um conceito abstrato, mas uma prática diária dentro da comunidade de fé. Para ele, a liberdade em Cristo só se torna real quando se manifesta no cuidado com os outros, no exame sincero de nós mesmos e na consciência de que toda semeadura gera uma colheita. Não é apenas um discurso bonito, mas uma convocação pastoral para que cada cristão viva o evangelho no chão da vida e no seio da igreja local. Em primeiro lugar, Paulo trata do irmão que caiu em pecado. O verbo usado em Gálatas 6.1 é prolambánō (προλαμβάνω), que significa ser surpreendido de repente, quase pego de surpresa em uma queda. Isso mostra que ele não fala de uma vida de rebeldia persistente, mas de alguém que tropeçou. A exortação é clara: “restaurai” (katartízō, καταρτίζω), palavra usada para consertar uma rede rasgada ou colocar um osso no lugar. Ou seja, o papel da comunidade não é esmagar o fraco, mas recolocá-lo no caminho. Como lembra Hernandes Dias Lopes, a disciplina bíblica não é punitiva, mas restauradora, marcada pela mansidão de Cristo¹. Em seguida, Paulo nos chama a olhar para dentro de nós. A tentação dos legalistas era medir a santidade dos outros para se sentir superior. Por isso ele alerta: “Cada um examine a sua própria obra” (Gl 6.4). O termo grego dokimázō (δοκιμάζω) traz a ideia de provar algo pelo fogo, testar sua autenticidade. A verdadeira avaliação não é a comparação com os homens, mas a aprovação diante de Deus. A Bíblia de Estudo MacArthur observa que esse autoexame preserva o crente tanto da soberba quanto do desânimo². Isso nos confronta: até que ponto nossas igrejas cultivam um ambiente de comparação em vez de autenticidade diante de Cristo? O terceiro ponto é a lei da semeadura e da colheita. “Deus não se deixa escarnecer” (Gl 6.7). O verbo mukterízō (μυκτηρίζω) significa zombar com o nariz erguido, um desprezo arrogante. Paulo alerta que ninguém manipula o Senhor. Plantar na carne, ou seja, viver dominado pela natureza caída, resulta em corrupção (phthorá, φθορά), uma palavra usada para falar de podridão ou decomposição. Já semear no Espírito produz vida eterna (zōē aiōnios, ζωή αἰώνιος), a vida plena e inquebrável que começa agora e culmina na glória³. Essa é a grande advertência para jovens cristãos: cada decisão é uma semente que inevitavelmente germinará no futuro. Alexandre Coelho lembra que a liberdade em Cristo não é um passaporte para o pecado, mas a possibilidade real de escolher o que agrada a Deus, impulsionado pelo Espírito⁴. Isso confronta a geração que busca viver “sem limites”. A liberdade bíblica não é ausência de regra, mas a alegria de obedecer ao Senhor em amor. Gordon Fee reforça que o Espírito é o agente que nos liberta, não apenas da lei mosaica, mas do domínio da carne, e nos capacita a viver uma nova humanidade⁵. Como igreja, precisamos resgatar a espiritualidade prática. Não adianta falar em liberdade se não restauramos os caídos com amor, se não olhamos para dentro com sinceridade, se não plantamos com responsabilidade. A juventude precisa ouvir isso: o evangelho não é teoria, é vida transformada. O Espírito Santo está agindo agora, moldando homens e mulheres que vivam com seriedade diante de Deus e com compaixão diante dos irmãos. Não se conforme em apenas saber que Cristo libertou você. Viva essa liberdade todos os dias, cuidando do próximo, examinando sua própria fé e semeando para a eternidade. O inimigo quer roubar sua colheita, mas Deus o chamou para frutificar em santidade e amor. O que você está semeando hoje? Sua resposta determinará o que colherá amanhã.

1.         LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2010.

2.         BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.

3.         ARRINGTON, French L.; PALMA, Anthony D.; FEE, Gordon D.; MACCHIA, Frank D.; MENZIES, Robert P. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

4.         COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

5.         CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2002.

6.         GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

7.         KEENER, Craig S.; YONG, Amos; OSS, Douglas; BEACON HILL PRESS. Comentário Bíblico Beacon. Kansas City: Beacon Hill Press, 2006.

8.         BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

 

I. COMO TRATAR DOS PECADOS DOS IRMÃOS

1. A possibilidade de se cometer um pecado. Paulo nos diz que é possível que um irmão na fé seja surpreendido praticando algo que desagrada a Deus. A descrição feita não se refere a uma pessoa que vive pecando, ou que deliberadamente desobedece à Palavra de forma costumeira. Aqui é tratado a respeito de um servo ou serva de Deus que cometeu um erro, um pecado, mas que não era intencional. A palavra “restaurar”, no grego, é katartizo, que trazia a ideia de colocar no lugar um osso que havia saído do lugar. É certo que fazer isso não é simples, e no mundo antigo poderia causar bastante dor, mas era necessário para a restauração do corpo. Mesmo como cristãos, nascidos de novo, precisamos da ajuda do nosso próximo em alguns momentos difíceis. A restauração de um irmão que pecou e se arrependeu começa na Casa de Deus, na comunhão dos santos. É certo que há casos em que a disciplina na igreja deve existir, e ela é necessária, mas deve ter um caráter terapêutico. Se uma parte do nosso corpo sofre um ferimento, tratamos dele, mas há casos em que um membro do corpo está tão infeccionado que precisa ser amputado, pois não está respondendo aos tratamentos que lhe estão sendo administrados.

• 👉 Tratar dos pecados dos irmãos nunca foi uma tarefa fácil, mas é um chamado inevitável para quem vive a verdadeira comunhão cristã. Paulo, em Gálatas 6.1, nos lembra que até mesmo os regenerados podem ser surpreendidos por um pecado. O termo usado no original grego é prolambánō (προλαμβάνω), que significa ser pego de surpresa, quase como alguém que tropeça sem perceber. Isso mostra que Paulo não está falando de um rebelde endurecido, mas de um crente que caiu inesperadamente. Aqui está uma grande lição para a igreja: ninguém está imune à queda, e todos nós precisamos, em algum momento, ser restaurados pela graça de Deus através dos irmãos. O verbo central do texto é katartízō (καταρτίζω), traduzido como “restaurar”. Ele era usado na medicina para descrever o ato de colocar um osso quebrado no lugar. É um processo doloroso, mas absolutamente necessário para que o corpo volte a funcionar de forma saudável. Da mesma forma, a restauração espiritual de um crente exige amor, firmeza e mansidão. A Bíblia de Estudo Pentecostal destaca que esse processo só é possível quando a igreja é movida pelo Espírito Santo, não pelo espírito de crítica ou condenação¹. Restaurar é reerguer, não esmagar. É curar, não excluir. Por isso Paulo adverte: “Vós, que sois espirituais, corrigí o tal com espírito de mansidão” (Gl 6.1). O termo “espirituais” aqui não se refere a uma elite, mas a todos os que andam no Espírito (pneumati, πνεύματι). É o oposto da arrogância dos judaizantes, que julgavam os outros sem examinar a si mesmos. Hernandes Dias Lopes lembra que a disciplina na igreja não é um tribunal de acusação, mas um hospital de restauração². Anthony Palma reforça que a verdadeira disciplina deve ser terapêutica, nunca vingativa³. Há casos, porém, em que o pecado se torna habitual e resistente ao arrependimento. Nesses momentos, Paulo lembra que a igreja deve agir com firmeza, assim como um médico que, diante de uma infecção generalizada, precisa amputar para preservar o corpo. Champlin observa que a exclusão eclesiástica não é a primeira opção, mas uma medida extrema quando todo o processo de restauração falhou⁴. Aqui está um alerta pastoral: a negligência da disciplina produz igrejas fracas, mas o abuso da disciplina gera igrejas doentes. O equilíbrio é agir com verdade e amor. Alexandre Coelho ressalta que a liberdade em Cristo não significa ausência de correção, mas justamente o contrário: a liberdade verdadeira é a possibilidade de ser tratado e restaurado quando caímos⁵. Gordon Fee e Robert Menzies acrescentam que a vida no Espírito cria uma comunidade onde a graça não encobre o pecado, mas o confronta para que haja cura e vida nova⁶. Ou seja, a igreja que ignora a restauração contradiz o evangelho que prega. Essa verdade nos chama à reflexão pessoal. Quantas vezes olhamos para o pecado do outro com dureza, mas escondemos os nossos tropeços? Paulo nos lembra: “olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado” (Gl 6.1). O mesmo Espírito que nos chama a restaurar também nos chama a examinar o coração. O exame pessoal, à luz da Palavra, evita tanto a hipocrisia quanto o orgulho. Como igreja, precisamos cultivar uma cultura de humildade, onde a queda do irmão é oportunidade de demonstrar o amor de Cristo, e não de levantar pedras. Precisamos fazer da restauração um ministério real em suas vidas. Não se contentem em apenas corrigir com palavras duras, mas aprendam a curar com a verdade em amor. Lembrem-se de que cada vida restaurada é uma vitória do evangelho sobre o pecado. Que nossas igrejas sejam conhecidas não por sua capacidade de excluir, mas por seu compromisso em restaurar. O mundo precisa ver no corpo de Cristo uma comunidade onde a graça não é apenas pregada, mas vivida intensamente.

1.         BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

2.         LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2010.

3.         ARRINGTON, French L.; PALMA, Anthony D.; FEE, Gordon D.; MACCHIA, Frank D.; MENZIES, Robert P. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

4.         CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2002.

5.         COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

6.         BEACON HILL PRESS. Comentário Bíblico Beacon. Kansas City: Beacon Hill Press, 2006.

 

2. O que define uma pessoa espiritual? A vida espiritual do cristão é um tema muito discutido na atualidade, no entanto, não é algo exclusivo do nosso tempo, ele também era conhecido nos dias de Paulo. As pessoas buscam algo que lhes conecte com Deus, ou com alguma outra divindade. Buscam reverenciar algo ou alguém que lhes oriente, que lhes dê um senso de direção e um propósito de vida. Um espírito de mansidão é apresentado por Paulo nesta Carta como um sinal de espiritualidade. É provável que esse conselho tenha mais importância em nossos dias, onde os meios de comunicação e as redes sociais se tornaram um campo fértil para brigas, contendas e disputas. Há crentes que amam a Jesus, mas se veem envolvidos em um pecado e precisam passar por um processo de restauração. Observe que o Senhor não ordena, através do apóstolo, para que o mundo ajude um crente que pecou. Ele ordena que aqueles que são espirituais, a igreja, ajudem esses irmãos que caíram. Pessoas livres em Cristo valorizam tanto a liberdade que cuidam para que seus irmãos não só recebam os cuidados necessários se pecarem, como também buscam restaurar à comunhão aquele que se arrependeu, confessou e abandonou o pecado. A nossa vida espiritual, aos olhos de Deus, não é medida somente pelos nossos momentos com o Senhor, mas também pelos nossos momentos com nossos irmãos. Gritarias, grosserias e maus-tratos vão na contramão do que Deus planejou para a comunhão do seu povo.

• 👉 O que significa, afinal, ser uma pessoa espiritual? Essa pergunta atravessa séculos e continua atual. Nos dias de Paulo, muitos buscavam experiências religiosas, filosofias ou rituais que prometiam conexão com o divino. Hoje não é diferente: redes sociais, espiritualidades alternativas e até mesmo uma religiosidade superficial oferecem um falso senso de direção. Porém, Paulo mostra em Gálatas 6.1 que a verdadeira espiritualidade não se mede por êxtases ou aparências, mas por um fruto visível: a mansidão diante da queda do irmão. O apóstolo usa o termo grego pneumatikoi (πνευματικοί), “os espirituais”, não para criar uma elite de supercrentes, mas para identificar todos os que andam no Espírito (pneumati peripatountes, cf. Gl 5.25). Espiritualidade autêntica, portanto, não é misticismo, mas vida moldada pelo Espírito Santo em comunidade. Hernandes Dias Lopes observa que Paulo não está falando de teóricos da fé, mas de gente comum que vive o evangelho no dia a dia¹. No mesmo verso, Paulo fala de restaurar o que caiu usando o verbo katartízō (καταρτίζω), que descreve o ato de “recolocar no lugar” um osso deslocado. A imagem é cirúrgica: o pecado rompe a comunhão e causa dor, mas a restauração, embora dolorosa, é essencial para que o corpo volte a funcionar. Craig Keener lembra que esse termo era usado também para preparar redes de pesca quebradas². Ou seja, restaurar significa consertar o que foi rasgado, para que volte a cumprir sua função no Reino. O contraste é nítido: muitos, influenciados pelo espírito do mundo, preferem expor, condenar e até zombar da fraqueza do outro. Mas Paulo ordena que a correção seja feita “com espírito de mansidão” (en pneumati prautētos, πνεύματι πραΰτητος). A mansidão não é fraqueza, mas força controlada pelo Espírito. Anthony Palma observa que disciplina sem mansidão vira vingança, e mansidão sem disciplina se torna permissividade³. O equilíbrio vem do Espírito, não da carne. Aqui surge uma verdade incômoda: espiritualidade não se mede pelo quanto oramos em secreto, mas também por como tratamos os caídos em público. A Bíblia de Estudo MacArthur reforça que a igreja não é um tribunal de acusação, mas um hospital de restauração⁴. Alexandre Coelho acrescenta que a liberdade em Cristo não significa ausência de correção, mas a coragem de tratar feridas para que o corpo seja curado⁵. Mas Paulo faz um alerta: “olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado” (Gl 6.1). O grego skopōn (σκοπῶν) significa “vigiar atentamente, manter os olhos fixos”. Ou seja, o mesmo cuidado que temos ao restaurar outro deve ser aplicado em nós mesmos. Gordon Fee lembra que não há restauração verdadeira sem autocrítica humilde diante da cruz⁶. Aqui somos confrontados: será que temos sido rápidos para julgar e lentos para examinar a nossa própria vida? Este texto é um chamado pastoral urgente: espiritualidade verdadeira não é falar em línguas, nem acumular conhecimento, mas viver em amor restaurador. A igreja que não restaura contradiz o evangelho que anuncia. Cada irmão restaurado é uma vitória da graça sobre o pecado. Que nossas igrejas sejam conhecidas menos por sua capacidade de excluir e mais por sua coragem de curar. É hora de transformar tribunais em hospitais, e acusações em pontes de restauração.

1.         LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2010.

2.         KEENER, Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2014.

3.         ARRINGTON, French L.; PALMA, Anthony D.; FEE, Gordon D.; MACCHIA, Frank D.; MENZIES, Robert P. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

4.         BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.

5.         COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

6.         FEE, Gordon D. Gálatas. In: ARRINGTON, French L. et al. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

7.         BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

8.         BEACON HILL PRESS. Comentário Bíblico Beacon. Kansas City: Beacon Hill Press, 2006.

9.         CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2002.

10.       GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

11.       YONG, Amos. The Spirit Poured Out on All Flesh: Pentecostalism and the Possibility of Global Theology. Grand Rapids: Baker Academic, 2005.

12.       OSS, Douglas A. Baptism in the Holy Spirit. In: BURGESS, Stanley M. Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements. Grand Rapids: Zondervan, 2002.

 

3. Todos podemos ser tentados. Ninguém está imune à tentação. “Olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado” (v.1). Não basta perceber quando um irmão falha, ou corrigi-lo com espírito de mansidão: é preciso que estejamos atentos, vigilantes para não cairmos no mesmo pecado. Se mesmo o Senhor Jesus, cheio do Espírito, foi tentado por Satanás após ter jejuado, nós também podemos ser tentados em diversas áreas. Não se pode negar que o pecado tem uma força destruidora, e que não estamos livres de, em algum momento, nos deixar levar pela antiga natureza e pecar contra Deus. O pecado domina a vida dos não salvos, e tenta demover dos santos a comunhão com o Senhor. Irmãos podem corrigir uns aos outros. E a igreja espiritual incentiva que os espirituais possam corrigir os seus irmãos que falham. Da mesma forma que um medicamento busca tratar uma pessoa doente, somos chamados a tratar dos nossos irmãos que pecaram e demonstram arrependimento e vontade de trilhar novamente o caminho da comunhão com Deus e a igreja.

• 👉 A tentação é uma realidade inescapável para todo cristão. Paulo alerta em Gálatas 6.1: “olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado”. O verbo grego usado aqui é skopōn (σκοπῶν), que transmite a ideia de vigiar atentamente, manter os olhos fixos, quase como um sentinela em posição de guarda. Essa palavra revela que a vida cristã exige atenção constante, porque até mesmo quando ajudamos um irmão em queda, corremos o risco de tropeçar. Não é apenas sobre corrigir o outro com mansidão, mas sobre vigiar nosso próprio coração diante das mesmas fraquezas. Jesus, cheio do Espírito, foi tentado no deserto (peirazō, πειράζω, “pôr à prova, testar”) após quarenta dias de jejum (Mt 4.1). Se o Filho de Deus experimentou a investida direta de Satanás, como poderíamos imaginar estar imunes? Hernandes Dias Lopes destaca que a tentação não é um sinal de fraqueza espiritual, mas de que estamos em confronto real contra as forças do mal¹. O pecado, por sua vez, tem poder destrutivo e enganador: domina os não regenerados e tenta afastar os santos da comunhão com Deus. Alexandre Coelho lembra que a liberdade cristã não significa viver sem lutas, mas caminhar sustentados pela graça em meio a elas². O problema é que muitos confundem restauração com conivência. O apóstolo Paulo, ao falar de corrigir, usa o verbo katartízō (καταρτίζω), termo médico que descreve o ato de recolocar no lugar um osso deslocado. A imagem é forte: restaurar dói, mas é necessário para que o corpo volte a funcionar. Assim, a igreja não pode ignorar o pecado, mas precisa tratá-lo de forma terapêutica e não punitiva. A Bíblia de Estudo Pentecostal observa que a disciplina cristã deve ser conduzida pelo Espírito, nunca pelo espírito de crítica³. O Comentário Bíblico Beacon reforça que esse cuidado é comparável ao de um médico que aplica remédio amargo para salvar o paciente⁴. Gordon Fee e Robert Menzies acrescentam que a comunidade espiritual não pode encobrir o pecado, mas também não deve esmagar o caído. O equilíbrio é a mansidão (prautēs, πραΰτης), fruto do Espírito que mantém firmeza sem perder a compaixão⁵. Champlin nos lembra que a igreja não é um tribunal para humilhar, mas um hospital para restaurar⁶. Essa visão terapêutica também aparece em Anthony Palma, que ressalta que a disciplina eclesiástica é parte da santificação da comunidade⁷. Sem correção, a igreja enfraquece; com abuso da correção, adoece. A verdadeira espiritualidade é aquela que trata do irmão em pecado como quem aplica cura, e não como quem profere sentença de morte. Não basta falar de santidade nos púlpitos se, nas relações diárias, não houver cuidado mútuo. O apóstolo exorta: “Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês que são espirituais devem restaurá-lo com mansidão” (Gl 6.1). A vida espiritual não se mede apenas por orações fervorosas, mas pelo modo como tratamos os caídos ao nosso redor. Amos Yong observa que o Espírito Santo cria comunidades de graça que testemunham a reconciliação até mesmo em suas feridas internas⁸. Por isso, cuidemos uns dos outros. Corrijamo-nos com amor, restauremos com firmeza e vigiemo-nos a nós mesmos. Cada vez que a igreja trata o pecado com verdade e mansidão, o evangelho é honrado e o mundo vê em nós a marca do Cristo que não veio para condenar, mas para salvar. O desafio não é apenas resistir à tentação, mas transformar cada queda em oportunidade de graça. Essa é a espiritualidade que o Espírito produz e que a igreja deve viver.

1.         LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2010.

2.         COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

3.         BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

4.         BEACON HILL PRESS. Comentário Bíblico Beacon. Kansas City: Beacon Hill Press, 2006.

5.         ARRINGTON, French L.; PALMA, Anthony D.; FEE, Gordon D.; MACCHIA, Frank D.; MENZIES, Robert P. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

6.         CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2002.

7.         PALMA, Anthony D. In: ARRINGTON, French L. et al. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

8.         YONG, Amos. The Spirit Poured Out on All Flesh: Pentecostalism and the Possibility of Global Theology. Grand Rapids: Baker Academic, 2005.

9.         BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.

10.       GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

11.       KEENER, Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2014.

12.       OSS, Douglas A. In: BURGESS, Stanley M. Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements. Grand Rapids: Zondervan, 2002.

 

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SUBSÍDIO I

“A palavra ‘encaminhar’ — ou ‘restaurar’ (gr. katartizō) é usada no Novo Testamento no sentido de remendar redes de pescar (Mt 4.21) ou de desenvolver e aperfeiçoar o caráter humano (2Co 13.11). Tendo isto em mente, os cristãos devem ajudar os crentes rebeldes a se modificar e a se curar espiritualmente, levando-os a deixar os seus caminhos de desafio a Deus e se entregar ao controle de Cristo, e renovar a sua plena devoção a Jesus Cristo. Isto pode envolver atos de disciplina (veja Mt 13.30), o que deve ser feito com humildade e firmeza, mas ‘gentilmente’, isto é, com espírito de mansidão.

(1) Paulo não está pensando aqui nos pecados graves e nas flagrantes violações morais que trazem desgraça pública a Cristo e à congregação (cf. 1Co 5.5). Esses pecados podem exigir a temporária exclusão da igreja antes que aconteça a restauração (1Co 5.11).

(2) A restauração que Paulo menciona não se refere à restauração ou recolocação de pessoas em posições de liderança ou em funções de ensino na igreja. As qualificações e normas para os que desejam servir em posições de liderança ministerial envolvem algo mais que a condição espiritual da pessoa. É preciso haver um histórico de fidelidade aos princípios de Deus, incluindo perseverança espiritual e caráter comprovado, para que os líderes possam ser exemplos dignos para todos na igreja (1Tm 4.12).” (Bíblia de Estudo Pentecostal para Jovens. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.1633).

 

II. LEVAI AS CARGAS UNS DOS OUTROS

1. Levai as cargas uns dos outros. A palavra “carga” é a tradução da palavra grega baros, que traz a ideia de um fardo. Não é a representação de um pecado, mas de uma pressão, uma provação. Nem todos temos os mesmos desafios ou lutas. Há irmãos, em nossas igrejas, que passam por situações difíceis, que se tornam verdadeiras cargas, acrescentando peso na caminhada. Essas lutas podem ser uma doença na família, um desemprego, um divórcio, um luto etc. É preciso que sejamos sensíveis com nossos irmãos, na mesma medida em que desejamos ser compreendidos. Quem leva as cargas uns dos outros cumpre a lei de Cristo. Os judaizantes inseriram nas igrejas da Galácia a ideia da circuncisão como o início da prática da Lei para os gentios, mas se esses irmãos queriam mesmo cumprir a lei de Cristo (Gl 6.2), e não a de Moisés, deveriam ajudar uns aos outros.

• 👉 Paulo, em Gálatas 6.2, escreve: “Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo”. À primeira vista, parece apenas uma exortação ética, mas quando olhamos mais de perto o texto, percebemos que há uma profundidade teológica e prática muito maior. A palavra usada por Paulo para “cargas” é baros, que no grego carrega a ideia de um peso esmagador, algo difícil de suportar sozinho. Não se trata aqui de pecados pessoais, como no versículo 1, em que aparece o termo paraptōma (queda), mas de sofrimentos, pressões e tribulações que fazem parte da jornada cristã. Essa distinção é essencial. A vida cristã não é apenas lutar contra o pecado, mas também perseverar em meio a dores que não escolhemos. Alguns irmãos enfrentam enfermidades crônicas, outros estão sob o peso da crise familiar, do desemprego, do divórcio ou do luto. Essas situações se tornam fardos quase insuportáveis. Paulo ensina que a comunidade da fé deve se tornar o ombro que ajuda a sustentar tais cargas. É impossível cumprir a lei de Cristo sem encarnar a compaixão d’Ele no dia a dia. Mas o que significa cumprir “a lei de Cristo”? Não se trata da lei mosaica, como defendiam os judaizantes que confundiam os gálatas exigindo circuncisão. A “lei de Cristo” é o princípio do amor sacrificial revelado em sua própria vida e ensinado de forma clara em João 13.34: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros”. Paulo resgata aqui a essência do evangelho: uma comunidade que se sustenta mutuamente, não pela imposição de rituais, mas pelo amor que nasce da cruz. Hernandes Dias Lopes lembra que “a lei de Cristo é a lei do amor que se manifesta em ações concretas e não em discursos vazios” (LOPES, 2010, p. 224). É interessante notar que o verbo “levai” (bastazō) aparece no imperativo presente, indicando uma ação contínua: não basta ajudar uma vez, é um estilo de vida. Ser igreja é estar disposto a se desgastar pelos outros, como Cristo fez. Gordon Fee ressalta que a espiritualidade paulina é comunitária e solidária, jamais individualista. Portanto, a verdadeira maturidade cristã não se mede por dons espirituais, mas pela capacidade de se importar com o sofrimento alheio. Há aqui também uma dimensão pneumatológica. Carregar os fardos uns dos outros não é apenas um esforço humano, mas uma manifestação da vida do Espírito na comunidade. Craig Keener observa que, em Gálatas, a ética cristã não é autônoma, mas obra do Espírito que molda relacionamentos de serviço e amor (KEENER, 1999, p. 654). Isso significa que, quando estendemos a mão ao irmão que sofre, é o próprio Espírito que está agindo através de nós, revelando o caráter de Cristo. Essa verdade nos chama a uma profunda autoavaliação. Quantas vezes, em nossas igrejas, passamos indiferentes pelas dores dos outros, ocupados demais com nossos próprios interesses? Cumprir a lei de Cristo exige quebrar o egoísmo e deixar-se incomodar pela dor do próximo. Como lembra Antonio Gilberto, “a comunhão não é apenas um privilégio, mas uma responsabilidade” (GILBERTO, 1995, p. 211). Uma igreja que ignora os fardos de seus membros se torna fria, ritualista e distante do evangelho. Portanto, o desafio é claro: se queremos viver a liberdade do evangelho, precisamos aprender a carregar o peso do outro. A cruz de Cristo não nos libertou para uma vida de isolamento, mas para uma vida de entrega. Cada lágrima compartilhada, cada ombro oferecido, cada oração sincera em favor do irmão aflito é um cumprimento prático da lei de Cristo. A pergunta que resta é: estamos dispostos a ser essa comunidade que transforma dores em esperança?

·          ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

·          BEACON, Comentário Bíblico. Novo Testamento. Kansas City: Casa Nazarena, 2001.

·          CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. São Paulo: Candeia, 1999.

·          COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

·          FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Peabody: Hendrickson, 1996.

·          GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

·          KEENER, Craig S. The IVP Bible Background Commentary: New Testament. Downers Grove: IVP, 1999.

·          LOPES, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2010.

·          MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2015.

·          PALMA, Anthony D. A Bíblia e o Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

 

2. O que você acha de si mesmo? É notório que temos, todos nós, uma imagem do que somos. É possível que vejamos a nós mesmos de uma forma e Deus nos veja de outra. Um dos elementos facilitadores da tentação é a arrogância (Gl 6.3). É um cuidado que todos devemos ter, pois não raro, acreditamos que somos mais do que realmente somos. É da natureza humana pecaminosa a arrogância, e por isso devemos cultivar um espírito humilde. Observe que Paulo apresenta esse pensamento através de uma hipótese: “Se alguém cuida ser alguma coisa” (Gl 6.3). Ele se vale dessa premissa não para apontar pessoas, e sim para que seus leitores olhassem para si mesmos e não fossem descuidados. O orgulho pode nos fazer pensar que somos superiores aos outros, que merecemos muito mais do que nos é dado, ou que estamos sendo preteridos no trabalho, nos estudos e até mesmo na igreja.

• 👉 Quem é você de verdade? Como se enxerga diante de Deus? Essa é uma pergunta que mexe com qualquer coração sincero, porque todos nós carregamos uma imagem de nós mesmos — algumas vezes inflada, outras distorcida. Paulo, em Gálatas 6.3, nos confronta justamente nesse ponto: a arrogância pode ser um terreno fértil para a tentação. Quando alguém “pensa ser alguma coisa” (dokei einai ti), mas na realidade “nada é” (mēden ōn), está preso em uma ilusão que fere não apenas sua relação com Deus, mas também sua convivência com a comunidade cristã. O apóstolo escreve em forma de hipótese: “Se alguém cuida ser alguma coisa”. Ele não aponta o dedo para uma pessoa específica, mas provoca seus leitores a um exercício de autocrítica espiritual. Em outras palavras, Paulo está dizendo: “Olhe para dentro de si mesmo e seja honesto com quem você realmente é diante do Senhor”. A Bíblia de Estudo MacArthur observa que esse autoengano é perigoso porque mascara a dependência da graça (MACARTHUR, 2015). A palavra-chave aqui é kenos, traduzida como “nada”, vazia, sem substância. A ideia é que o orgulho dá a impressão de grandeza, mas não passa de aparência. Hernandes Dias Lopes lembra que “a arrogância é uma fraude contra nós mesmos, porque nos coloca em um pedestal de areia” (LOPES, 2010, p. 228). Esse pedestal pode ruir em qualquer área: no trabalho, quando pensamos merecer mais do que recebemos; nos estudos, quando nos julgamos superiores aos colegas; e até mesmo na igreja, quando sentimos que não temos o reconhecimento que pensamos merecer. Essa advertência é especialmente atual em um mundo que valoriza a autopromoção. As redes sociais se tornaram vitrines do eu, muitas vezes inflando egos e mascarando realidades. Mas Paulo chama os gálatas, e a nós hoje, a uma humildade radical. Gordon Fee afirma que a espiritualidade paulina é essencialmente comunitária e se expressa na humildade e no serviço, nunca no orgulho isolado (FEE, 1996). Ser discípulo de Cristo significa aprender a se ver pela lente da cruz, e não do espelho do mundo. Além disso, há aqui um princípio pneumatológico importante. O orgulho é uma obra da carne, mas a humildade é fruto do Espírito. Craig Keener lembra que o Espírito não apenas transforma nosso relacionamento com Deus, mas também nossa percepção de nós mesmos e do próximo (KEENER, 1999). Isso significa que somente uma vida rendida ao Espírito Santo nos liberta da ilusão de grandeza. Esse texto também é um alerta pastoral para a igreja local. Antônio Gilberto ensina que a comunhão verdadeira só floresce em um ambiente de humildade (GILBERTO, 1995). Uma comunidade cheia de orgulho se fragmenta, mas uma igreja marcada pela humildade cresce em graça e unidade. O orgulho divide, a humildade soma. O orgulho exclui, a humildade acolhe. Portanto, a mensagem de Paulo é um convite à autoavaliação. Será que não temos alimentado dentro de nós uma visão distorcida, acreditando ser mais do que realmente somos? O evangelho nos lembra de que tudo o que somos e temos vem da graça de Deus. O caminho não é a autopromoção, mas a autonegação que nos conduz ao verdadeiro discipulado. Se queremos cumprir a lei de Cristo e viver cheios do Espírito, precisamos começar quebrando o pedestal do ego e nos curvando diante da cruz.

·          ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

·          BEACON, Comentário Bíblico. Novo Testamento. Kansas City: Casa Nazarena, 2001.

·          CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. São Paulo: Candeia, 1999.

·          COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

·          FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Peabody: Hendrickson, 1996.

·          GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

·          KEENER, Craig S. The IVP Bible Background Commentary: New Testament. Downers Grove: IVP, 1999.

·          LOPES, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2010.

·          MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2015.

·          PALMA, Anthony D. A Bíblia e o Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

 

3. O que é instruído na Palavra. Uma pessoa que é abençoada recebendo um ensino das Escrituras deve ter uma mente e um coração aberto à generosidade, pois aquele que o está instruindo passou tempo aprendendo, entendendo um conteúdo e se esmerando em repassá-lo para que o seu aluno possa crescer diante de Deus. A palavra instruir, no grego, é katecheo, de onde vem a palavra catecismo, que significa “instruir”, ensinar. Uma pessoa espiritual compartilha o que possui com outras pessoas, e no caso do ensino bíblico, isso é uma ordenança: “E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (v.6). Quem ensina precisa se qualificar, estudar, aprender e usar o seu conhecimento para o crescimento do Reino de Deus. Portanto, é justo que esse tipo de obreiro seja reconhecido na igreja e ajudado a cumprir o seu ministério.

• 👉 O cuidado de Deus com a igreja inclui algo que às vezes esquecemos: o valor do ensino da Palavra. Paulo, em Gálatas 6.6, lembra que “o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui”. Esse versículo não fala apenas de uma troca de conhecimento, mas de uma responsabilidade espiritual e comunitária. O ensino bíblico não é um favor que o mestre faz ao aluno, mas um chamado de Deus para edificação mútua. A palavra usada por Paulo para “instruir” é katēchéō, de onde vem a nossa palavra catecismo. No Novo Testamento, esse verbo carrega a ideia de transmitir com precisão um conteúdo recebido, de maneira contínua e fundamentada. O que o apóstolo tem em mente não é uma aula superficial, mas uma formação espiritual sólida, que exige dedicação de quem ensina e abertura de quem aprende. Hernandes Dias Lopes observa que a igreja só floresce quando há um compromisso de ambos os lados: mestres que se dedicam à Palavra e discípulos que acolhem o ensino com obediência (LOPES, 2010). Essa exortação também nos ensina que o ensino da Palavra tem um custo. Quem instrui precisa investir tempo em estudo, oração e preparo, e isso envolve sacrifício pessoal. O Comentário Bíblico Pentecostal destaca que Paulo defende o direito legítimo daqueles que servem no ensino de serem sustentados pela comunidade, porque sua dedicação plena ao evangelho edifica toda a igreja (ARRINGTON, 2003). Assim, apoiar financeiramente e com honra esses obreiros não é caridade, mas obediência à lei de Cristo. É interessante perceber que a generosidade aqui não é apenas material. Compartilhar bens (agatha) significa partilhar o que é bom, tanto em recursos quanto em cuidado, reconhecimento e apoio. A Bíblia de Estudo MacArthur ressalta que esse princípio mostra como a igreja é chamada a viver em reciprocidade: o mestre compartilha a Palavra e o discípulo compartilha sua vida em resposta (MACARTHUR, 2015). Isso cria um ambiente de comunhão onde ninguém serve sozinho. Mas Paulo vai além da questão prática. Ele está confrontando os judaizantes, que insistiam em impor a circuncisão e as obras da lei como evidência de piedade. Alexandre Coelho observa que a verdadeira espiritualidade em Gálatas não está em ritos, mas em uma fé que se expressa em serviço, generosidade e vida no Espírito (COELHO, 2018). Sustentar aqueles que instruem na Palavra é, portanto, sinal de maturidade cristã e de libertação da religiosidade vazia. Para nós hoje, isso significa rever nossa postura diante dos que se dedicam ao ensino bíblico. Não basta assistir uma aula ou ouvir um sermão; precisamos reconhecer o valor desse ministério com gratidão prática. Uma igreja que honra seus mestres está investindo na sua própria saúde espiritual. Como diz Champlin, “a igreja que valoriza o ensino da Palavra está lançando fundamentos sólidos para resistir às heresias e permanecer firme na verdade” (CHAMPLIN, 1999). A pergunta é: temos sido generosos com aqueles que nos instruem na fé? Temos entendido que o ensino bíblico não é apenas informação, mas formação? Se quisermos uma juventude forte, igrejas saudáveis e comunidades cheias do Espírito, precisamos valorizar os que nos alimentam com a Palavra. Reconhecer, honrar e sustentar esses servos é obedecer a Cristo, que nos chamou para crescer juntos, carregando não apenas os fardos uns dos outros, mas também a responsabilidade pelo ensino que edifica e transforma vidas.

·          ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

·          BEACON, Comentário Bíblico. Novo Testamento. Kansas City: Casa Nazarena, 2001.

·          CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. São Paulo: Candeia, 1999.

·          COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

·          FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Peabody: Hendrickson, 1996.

·          GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

·          KEENER, Craig S. The IVP Bible Background Commentary: New Testament. Downers Grove: IVP, 1999.

·          LOPES, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2010.

·          MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2015.

·          PALMA, Anthony D. A Bíblia e o Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

 

III. COLHENDO O QUE SE PLANTA

1. Deus não se deixa escarnecer. Pode parecer estranho Paulo dizer que Deus não se deixa escarnecer para a igreja, mas foi necessário. Em nossos dias, o Eterno tem sido apresentado erroneamente por alguns, como uma divindade boazinha, que existe para ser acionada quando algumas pessoas se veem em problemas. Quantas pregações têm sido veiculadas com o objetivo de mostrar um deus que obedece às vontades humanas, que isenta os homens de seus pecados sem que haja arrependimento. Mas esse não é o Deus da Bíblia. Cremos na misericórdia do Senhor, na sua presença quando invocado, e no seu poder de transformar situações, mas isso não anula a nossa responsabilidade para com nossos erros. A expressão “não erreis” deixa claro que quem pensa que plantará na carne e colherá frutos no espírito está agindo fora do conhecimento natural e espiritual.

• 👉 O apóstolo Paulo nos alerta com palavras diretas: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). Essa advertência, apesar de dirigida a cristãos, continua atual e urgente. Vivemos em uma geração que muitas vezes distorce a imagem de Deus, reduzindo-o a um “resolvedor de problemas” ou a um ser indulgente que ignora o pecado humano. Contudo, Paulo afirma com firmeza que ninguém pode enganar o Senhor. O verbo grego usado para “zombar” é mukterízō, que significa literalmente “torcer o nariz em desprezo”. Paulo está dizendo que não há espaço para ridicularizar ou banalizar a santidade de Deus. Essa afirmação revela um princípio espiritual inescapável: a lei da semeadura e da colheita. Quem planta na carne (sarx), ou seja, quem se deixa dominar por sua natureza corrompida, colherá destruição (phthora, corrupção, ruína). Por outro lado, quem planta no Espírito (pneuma), viverá para experimentar a vida eterna. Isso não é apenas uma metáfora agrícola; é uma realidade espiritual profunda. Como destaca Hernandes Dias Lopes, “semear é uma questão de escolha, mas colher é uma questão de consequência”¹. Infelizmente, muitos discursos atuais ensinam um evangelho diluído, que exalta as bênçãos, mas silencia sobre arrependimento e santidade. Esse “deus” que concede favores sem exigir mudança não é o Deus da Bíblia. O verdadeiro evangelho, como lembra Alexandre Coelho², liberta do jugo da carne, mas também nos chama à responsabilidade. Liberdade em Cristo não é permissão para pecar, e sim capacitação para viver em novidade de vida. Aqui está o ponto crucial: ninguém consegue manipular o Senhor com palavras bonitas, ofertas ou obras vazias. O coração humano precisa ser confrontado. A expressão “não erreis” (mē planāsthe, “não se deixem enganar”) é um chamado à vigilância espiritual. Paulo sabia que os gálatas estavam em risco de confundir graça com licença para o pecado. Essa mesma confusão continua rondando nossas igrejas hoje, principalmente entre os jovens, quando pensamos que podemos colher frutos do Espírito sem abandonar as sementes da carne. O Comentário Bíblico Pentecostal lembra que Paulo não apenas descreve um princípio moral, mas espiritual e escatológico³. A colheita não é apenas terrena, mas também eterna. A escolha diária de plantar na carne ou no Espírito revela o rumo da nossa eternidade. Como observa a Bíblia de Estudo MacArthur, “o que fazemos agora com o corpo e a mente é um reflexo direto de onde repousa a nossa esperança”⁴. Essa verdade nos chama à reflexão: como estamos semeando nossos dias, relacionamentos e ministérios? Na prática, colher o que se planta significa examinar nossas escolhas cotidianas. Somos chamados a avaliar se nosso tempo, energia e prioridades têm sido investidos naquilo que gera vida em Deus ou naquilo que destrói a alma. Essa é uma mensagem que ecoa não apenas para os gálatas, mas para nós, jovens e professores de hoje, que precisamos despertar para a seriedade do evangelho. Como bem disse Antônio Gilberto, “o discipulado verdadeiro custa caro, mas o preço da desobediência é infinitamente maior”⁵. Por isso, recebamos esse texto como um chamado pastoral: não se trata de medo, mas de responsabilidade espiritual. Deus é rico em misericórdia, mas também é justo. Ele nos chama a viver uma fé autêntica, regada por oração, santidade e vigilância. Hoje é dia de refletir: que sementes estamos lançando no solo da vida? Porque, mais cedo ou mais tarde, todos colheremos os frutos daquilo que plantamos.

1.         LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2001.

2.         COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo: Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

3.         ARRINGTON, French L.; PALMA, Anthony D.; MACCHIA, Frank D.; YONG, Amos; KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

4.         MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

5.         GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.

6.         CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2002.

7.         Comentário Bíblico Beacon. Kansas City: Casa Nazarena de Publicações, 2005.

 

2. Plantando e colhendo (v.7). O que o homem semear, isso haverá de colher. A lei da semeadura é opcional, mas a da colheita é obrigatória. Paulo não fala aqui da simples ação da natureza levando sementes pelo vento para serem depositadas em terrenos férteis, como ocorre com certas plantas. Paulo aqui foca a ação do homem ao plantar o que vai ser colhido no futuro. Deve se ter em mente que há uma lacuna de tempo entre a semeadura e a colheita. Nem sempre as nossas ações, sejam elas boas, sejam elas más, terão frutos imediatos, mas esses frutos, um dia nos alcançarão.

• 👉 Quando Paulo afirma: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; aquilo que o homem semear, isso também ceifará”, ele não está apenas ensinando uma regra moral. Ele revela um princípio espiritual fundamental, que atravessa gerações: o que plantamos hoje determinará o que colheremos amanhã. O verbo grego usado para “semear” é speírō, que implica uma ação deliberada e intencional. Não se trata de sementes lançadas ao acaso pelo vento, como na agricultura natural, mas de atos humanos conscientes, carregados de escolhas morais e espirituais¹. Entre a semeadura e a colheita existe um intervalo de tempo, uma lacuna que exige paciência, vigilância e fé. Nem sempre os frutos de nossas ações, sejam elas virtuosas ou pecaminosas, surgem imediatamente. A Bíblia nos alerta que Deus age em seu tempo perfeito (kairos), e a colheita espiritual muitas vezes é gradual, mas inevitável². Como observa Hernandes Dias Lopes, “a semente lançada na carne ou no espírito determinará, inevitavelmente, o destino do colheitor, seja para a destruição ou para a vida”³. A lei da semeadura é opcional; podemos escolher o que plantar. Mas a lei da colheita é obrigatória e inescapável. Plantar na carne (sarx) produz corrupção e morte, enquanto plantar no Espírito (pneuma) produz fruto de vida e santificação. Este princípio revela a seriedade de nossas escolhas diárias, pois a colheita não depende da sorte, de meros desejos ou de preces superficiais. Deus respeita a liberdade humana, mas não ignora nossas ações⁴. Muitos interpretam a graça como licença para pecar, imaginando que podem plantar na carne e ainda colher frutos espirituais. Paulo confronta diretamente essa falsa ideia. O termo grego mē planāsthe, traduzido como “não vos enganeis”, adverte para o engano de subestimar a justiça divina. Nosso Senhor não é um “deus boazinho” que ignora o pecado ou que concede bênçãos sem transformação interior. A misericórdia divina está sempre atrelada à santidade e ao arrependimento genuíno⁵. O Comentário Bíblico Pentecostal acrescenta que o princípio da semeadura e colheita não se limita ao individual. Ele se estende à vida comunitária e à igreja local, reforçando a responsabilidade mútua. Cada ação tem repercussão sobre irmãos, familiares e a sociedade espiritual à nossa volta⁶. Assim, ao semear bondade, encorajamento, oração e disciplina amorosa, contribuímos para uma colheita de vida abundante, tanto para nós quanto para o corpo de Cristo. Na prática diária, plantar com propósito significa examinar nossas atitudes, palavras e prioridades. Somos chamados a investir nosso tempo, talentos e recursos no Espírito, sabendo que tudo lançado no solo da vontade de Deus germinará. Como observa Alexandre Coelho, “a liberdade em Cristo não nos exime da disciplina espiritual, mas nos capacita a plantar com sabedoria e colher com alegria”⁷. Portanto, este texto não é apenas um conselho: é um chamado pastoral e pessoal. Cada escolha, cada ação, cada pensamento lançado no campo da vida tem consequências eternas. Hoje é tempo de refletir: o que estou semeando? Na carne ou no Espírito? E a resposta determinará a colheita que experimentaremos diante de Deus e de nossa comunidade de fé⁸.

1.         LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2001.

2.         ARRINGTON, French L.; PALMA, Anthony D.; MACCHIA, Frank D.; YONG, Amos; KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

3.         COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo: Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

4.         MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

5.         GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.

6.         Comentário Bíblico Beacon. Kansas City: Casa Nazarena de Publicações, 2005.

7.         CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2002.

8.         Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

 

3. Carne e Espírito como campos de semeadura. A carne e o espírito são terrenos férteis para serem semeados. Não é sem razão que no capítulo 5 o apóstolo fala acerca das obras da carne e o Fruto do Espírito: dois “terrenos” a que, se dada a devida atenção, trazem seus frutos. Ao longo da Carta, ele usa as palavras Carne e Espírito algumas vezes. Ele queria que os gálatas soubessem, e nós também, que essa luta é real, diária e precisa ser levada a sério. Não basta saber quais são as obras da carne e o Fruto do Espírito. É preciso tomar uma decisão: semear na carne e colher as obras da carne ou semear no espírito e colher o Fruto do Espírito.

• 👉 A luta entre carne e Espírito não é um conceito abstrato; é uma realidade diária que cada cristão enfrenta. Paulo, ao escrever aos gálatas, usa os termos sarx (carne) e pneuma (Espírito) para mostrar dois campos distintos de semeadura. Cada escolha, cada ação, cada pensamento pode ser plantado em um desses terrenos e produzir frutos correspondentes¹. Este não é apenas um ensinamento moral, mas uma exortação espiritual: precisamos compreender onde estamos investindo nossa vida. A carne não se refere apenas ao corpo físico, mas à natureza humana caída, inclinada ao pecado. Suas obras (ta erga tēs sarkos) incluem imoralidade, inveja, ira e egoísmo (Gl 5.19-21). Cada uma dessas ações é a colheita inevitável de sementes plantadas sem disciplina espiritual². Por outro lado, o Espírito não é uma força abstrata, mas a presença ativa de Deus na vida do crente, capacitando-o a produzir frutos (karpos tou pneumatos), como amor, alegria, paz, paciência e domínio próprio (Gl 5.22-23). É essencial perceber que Paulo não descreve essas realidades como meras categorias de comportamento; ele apresenta um princípio de ação e consequência espiritual. O termo grego speírō indica uma semeadura consciente, proposital. Quando escolhemos semear na carne, estamos decidindo conscientemente nos afastar da vontade de Deus e da plenitude de vida que Ele oferece³. Por outro lado, semear no Espírito exige vigilância, oração e alinhamento com a Palavra. Aqui, a liberdade cristã não é ausência de lei, mas a capacidade de obedecer guiado pelo Espírito (Galatas 5.13-16)⁴. Além disso, o apóstolo mostra que essa luta não é episódica; é contínua. A repetição dos termos “carne” e “Espírito” ao longo da carta enfatiza que a batalha é diária. Não basta reconhecer intelectualmente as obras da carne ou o Fruto do Espírito; é necessário tomar uma decisão deliberada: onde plantar? Qual terreno alimentaremos com nossos pensamentos, palavras e ações? Cada escolha reverbera em nossa santificação e na vida da igreja⁵. O Comentário Bíblico Pentecostal observa que a semeadura na carne produz uma colheita que gera alienação espiritual, enquanto a semeadura no Espírito aprofunda a comunhão com Deus e edifica a comunidade de fé⁶. Essa distinção é crucial para jovens e professores de Escola Bíblica Dominical, pois ensina que nossas atitudes influenciam não apenas nossa caminhada pessoal, mas também a saúde espiritual de nossa igreja local. Praticamente, semear no Espírito exige disciplina e consciência diária. Inclui meditação na Palavra, oração constante, serviço altruísta, encorajamento mútuo e resistência às tentações da natureza caída. Como lembra Alexandre Coelho, “a liberdade em Cristo nos capacita a escolher o solo em que queremos plantar, mas também nos responsabiliza pelo fruto que inevitavelmente colheremos”⁷. Portanto, a exortação de Paulo é clara e urgente: examine seu coração hoje. Que sementes você está lançando diariamente? Está investindo na carne, produzindo destruição, ou no Espírito, produzindo vida? Essa decisão molda seu caráter, influencia sua igreja e determina sua colheita eterna. Que cada crente, especialmente os jovens, se comprometa a plantar com sabedoria no terreno fértil do Espírito, para colher a abundância da vida em Cristo⁸.

1.         LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2001.

2.         ARRINGTON, French L.; PALMA, Anthony D.; MACCHIA, Frank D.; YONG, Amos; KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

3.         COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo: Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

4.         MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

5.         GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.

6.         Comentário Bíblico Beacon. Kansas City: Casa Nazarena de Publicações, 2005.

7.         CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2002.

8.         Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

 

CONCLUSÃO

Cuidar uns dos outros com misericórdia, restaurar o irmão que pecou e vigiar no que semeamos são orientações de Deus para os nossos dias. Há leis no mundo natural que não podem ser quebradas, e no mundo espiritual vale o mesmo. Se desejamos ser tratados com misericórdia caso pequemos, ajamos da mesma forma com aqueles que pecaram, conduzindo-os ao arrependimento e à restauração.

• 👉 Cuidar uns dos outros com misericórdia, restaurar o irmão que caiu e vigiar atentamente sobre o solo em que semeamos não são meras recomendações éticas; são princípios divinamente ordenados que refletem a própria natureza de Deus. Assim como as leis da criação no mundo natural são inquebrantáveis, a semente lançada inevitavelmente germina, a gravidade jamais falha, no reino espiritual há consequências que não podem ser ignoradas (Gl 6.7-8). Deus nos convida a viver com consciência, lembrando que a justiça e a misericórdia caminham lado a lado: aquele que é restaurado pelo arrependimento experimenta a mesma graça que deseja receber, e quem semeia no Espírito colherá frutos eternos. A misericórdia não é fraqueza; é expressão do poder divino operando em nós para transformar vidas. Restaurar o irmão que pecou não é julgar, mas guiar com paciência, amor e sabedoria bíblica (epanorthōsis, correção redentora)¹. Vigiar o que semeamos implica discernimento diário entre a carne e o Espírito, compreendendo que cada decisão, cada palavra e cada ação têm repercussões eternas². Nossa responsabilidade não se limita a nós mesmos; ela se estende à comunidade de fé, pois a colheita de nossa vida impacta a igreja, a sociedade e nosso testemunho diante de Deus. Portanto, viver de acordo com esses princípios é assumir um compromisso sério com o Reino: amar como Cristo amou, restaurar como Cristo restaurou e semear no Espírito como Cristo nos capacita a semear³. A exortação de Paulo nos lembra que a fé sem prática é estéril, e que a liberdade em Cristo não é licença para a carne, mas poder para a santidade. Ao cultivarmos a misericórdia, a vigilância e a restauração, participamos ativamente da obra de Deus, tornando-nos instrumentos de transformação espiritual na vida de nossos irmãos e na própria igreja. Concluo este subsídio extraindo três aplicações práticas:

1.      Examine suas sementes diárias: Antes de agir ou falar, pergunte-se: estou semeando na carne ou no Espírito? Cada escolha molda seu caráter e influencia sua comunidade de fé.

2.      Pratique a restauração com amor: Ao perceber um irmão em pecado, não se afaste; aproxime-se com humildade e oriente-o, guiando-o ao arrependimento e à reconciliação com Deus e com a igreja.

3.      Seja vigilante e misericordioso: Cultive um coração atento à sua própria vida e à vida dos irmãos, equilibrando disciplina e graça, lembrando que a colheita espiritual é inevitável e eterna.

¹ LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2001.

² COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo — Vivendo o verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

³ BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

 

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HORA DA REVISÃO

1. Segundo a lição, qual a ideia da palavra restaurar no grego?

A palavra restaurar, no grego, é katartizo, que trazia a ideia de colocar no lugar um osso que havia saído do lugar.

2. Onde começa a restauração de um irmão que pecou e se arrependeu?

A restauração de um irmão que pecou e se arrependeu começa na Casa de Deus, na comunhão dos santos.

3. Qual caráter deve ter a disciplina?

É certo que há casos em que a disciplina na igreja deve existir, e ela é necessária, mas deve ter um caráter terapêutico.

4. Qual o sinal da vida espiritual apresentado por Paulo aos Gálatas?

Um espírito de mansidão é apresentado por Paulo nesta Carta como um sinal de espiritualidade.

5. Qual a ideia da palavra grega para carga?

A palavra carga é a tradução da palavra grega baros, que traz a ideia de um fardo.