II – A CONDUTA DA CRENTE COMO ESPOSA
||De acordo com a analogia paulina em relação ao matrimônio, a mulher casada é comparada à Igreja de Cristo. Nesse ponto veremos a conduta requerida da esposa cristã.
1. O conceito de submissão cristã. As Escrituras ensinam a sujeição de “uns aos outros no temor de Deus” (5.21). Nessa perspectiva alguns exemplos de submissão são apresentados: das esposas aos seus maridos (5.22); dos filhos aos seus pais (6.1); dos servos aos seus senhores (6.5). No caso das esposas, a submissão deve ser “assim como a igreja está sujeita a Cristo” (5.24). Portanto, aqui não se trata de uma sujeição irracional ao domínio de alguém, mas voluntária e de grata aceitação do amor e cuidado do marido. Por isso, nada há de depreciativo nessa conduta, pois retrata o alto nível de relacionamento entre Cristo e a sua amada Igreja||Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 12, 21 Junho, 2020]
- Não podemos esperar que o mundo compreenda o conceito cristão de submissão justamente por ser um conceito que se baseia no amor de Cristo, se o mundo não compreende esse amor nem entende a necessidade dele, não compreenderá o conceito de submissão cristã. No entanto, o que temos visto é que muitos cristãos não compreendem esse conceito, apesar de afirmarem crer em Cristo e ter as Escrituras como única regra de fé e prática, e acaba colaborando para uma repulsa ainda maior por aqueles que não foram alcançados pela graça em relação à submissão da esposa ao marido conforme requer as Escrituras. Muitos de nós agimos como verdadeiros déspotas, usando de tirania para com a esposa e filhos, dominando pelo medo. Nada é mais contrário ao evangelho do que isso é é o que muitos de nós temos sido.
- É interessante notar que, as lutas e adversidades relacionais dentro do casamento tiveram sua origem na queda (veja Gn 3.16) – “o teu desejo... governará” - por causa do pecado e da maldição, o homem e a mulher enfrentariam adversidades no seu relacionamento por que o pecado transformou o sistema harmonioso de funções ordenado por Deus em ferrenhas lutas de obstinação. Companheiros vitalícios, maridos e esposas necessitam, em consequência, da ajuda de Deus no seu convívio. O casamento cristão deve contar com esse auxílio!
- Entendemos que submissão não é inferioridade. A mulher não é inferior ao homem. A mulher é tanto a imagem de Deus quanto o homem. Nas palavras do Criador, ela é auxiliadora idônea (aquela que olha nos olhos) e não uma escrava! (G1 3.28; IPe 3.7). Submissão cristã não é obediência cega e servil, mas traz o sentido de pôr-se debaixo da missão de outra pessoa! Assim, temos que, a missão do marido é glorificar a Deus, amando a esposa como Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, e a missão da esposa é sustentar seu marido nessa missão!
||2. A condição da mulher cristã. Na cultura judaica a mulher ocupava posição secundária e era parte da propriedade de um homem (Gn 31.14,15). Na sociedade grega as mulheres eram tratadas como inferiores e as esposas eram escravizadas. No Evangelho de Cristo as mulheres alçaram posição de dignidade igual aos homens (Gl 3.28). Ao conversar com a mulher samaritana, Cristo quebrou paradigmas da época e se opôs ao preconceito e a discriminação (Jo 4.9,10). Portanto, a mulher cristã desfruta de plena liberdade em Cristo e não está sujeita a nenhum sistema de escravidão (Gl 5.13)||.[Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 12, 21 Junho, 2020]
- “A mulher, entre os judeus, era não mais que um objeto pertencente ao marido, como seus servidores, suas edificações e demais posses legais. Ela devia ao esposo total lealdade, mas, por princípio, era considerada como naturalmente infiel, desvirtuada e falsa. Por esta razão, sua palavra diante de um juiz não tinha praticamente valor algum. Embora ela fosse obrigada a ser fiel ao matrimônio, o marido não tinha os mesmos deveres matrimoniais. Além de tudo, ele podia rejeitá-la por qualquer motivo, mesmo que, legalmente, não pudesse negociá-la como qualquer outra propriedade. Dificilmente a esposa poderia, por iniciativa própria, se desligar do casamento.” (https://www.infoescola.com/sociedade/a-mulher-em-israel-na-epoca-de-jesus/.). Na cultura grega, “A ateniense casada vivia a maior parte do tempo confinada às paredes de sua casa, detendo no máximo o papel de organizadora das funções domésticas, estando de fato submissa a um regime de quase reclusão. Mesmo antes do casamento, nem se pensava que a jovem pudesse encontrar-se livremente com rapazes, visto que viviam fechadas nos aposentos destinados às mulheres – o gineceu. Deviam lá permanecer para ficar longe das vistas, separadas até dos membros masculinos da própria família. A inferioridade da mulher e da sua posição pode ser atestada pela Política de Aristóteles que a justificava em virtude da não plenitude na mulher da parte racional da alma, o logos. Observamos inclusive no texto aristotélico, que para tanto faz uso das palavras de Sófocles, que as mulheres deviam, por sua graça natural, permanecer em silêncio, o que é por demais significativo de sua condição numa comunidade democrática, na qual a participação isonômica na política, ou seja, na vida da pólis, caracterizava o ateniense, singularmente nas assembléias deliberativas da Pnix e na ocupação das diversas magistraturas” (http://philosophiagrega.no.comunidades.net/a-mulher-na-sociedade-grega). As mulheres romanas não podiam escolher com que se casar, no entanto, as casadas possuíam o título de matrona, com a responsabilidade de administrar a casa e os escravos. Em certo sentido, podemos dizer que a mulher na sociedade romana, gozava de maior emancipação que as mulheres gregas e judias. Tinham liberdade de frequentar os banhos, as festas religiosas e o teatro sozinhas, podiam recer educação junto a outros homens tinham acesso a música, dança... eram preparadas realmente para a administração do lar, dos escravos e do orçamento familiar; eram ainda consultadas sobre assuntos familiares, políticos e podiam participar dos conselhos junto aos homens.
- A mulher cristã, no entanto, goza de total liberdade. Nossa liberdade não é uma base a partir da qual podemos pecar livremente e sem consequências. A liberdade do cristão não é para satisfação própria, mas para servir a outros (Rm 14.1 -13).
||3. A reverência devida ao marido. O amor do marido para com a esposa deve ser altruísta (5.25). Esse amor serve ao propósito divino de capacitar a esposa a ser recíproca ao marido (5.22). O homem que assim se porta coopera para que a esposa o reverencie (5.33). Essa reverência consiste em estima e respeito para com o marido. Denota o sentimento que conduz a esposa a agir de modo a agradar seu amado. Essa postura é demonstrada quando ela o apoia e o ajuda em sua tarefa de liderar. Significa que a esposa participa das decisões em família, porém, não procede como opositora nem desautoriza a autoridade de seu marido||.[Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 12, 21 Junho, 2020]
- É interessante notar que, o casamento cristão, dentro dos parâmetros bíblicos, tem na intimidade e santidade do relacionamento amoroso entre os cônjuges, a expressão visual do amor entre Cristo e sua igreja. A submissão da esposa a Jesus é uma submissão absolutamente exclusiva. Nunca se afirma que a esposa deva ser escrava ou serva do marido. Se a submissão da esposa ao marido implicar sua insubmissão a Cristo, ela precisa desobedecer ao marido, para obedecer a Cristo! Assim, devemos entender que a mulher deve ser submissa ao marido por causa de Cristo (Ef 5.22)! O Ver Hernandes Dias Lopes, citando John Stott, diz: “que as mulheres, por trás do marido, do pai e do Senhor devem discernir o próprio Senhor, que lhes deu a autoridade que têm. Assim, se elas quiserem submeter-se a Cristo, submeter-se-ão a eles, visto que é a autoridade de Cristo que exercem” (Lopes, Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009. Pág. 155). O casamento é um reflexo sagrado do magnificente e belo mistério da união entre o Messias e sua igreja, totalmente desconhecida até que o Novo Testamento o revelasse.
III – A CONDUTA DO CRENTE COMO FILHO
||1. A responsabilidade dos pais. Os pais devem criar seus filhos na “doutrina e admoestação do Senhor” (6.4b). A palavra “doutrina” ou “disciplina” (do grego paideia) significa orientação ou treinamento para o desenvolvimento do caráter e pronta obediência das normas. Já a palavra “admoestação”, do grego nouthesia, quer dizer instrução ou advertência que faculta a distinção entre o mal e o bem. Além dessas exortações, cabe aos pais estabelecer os parâmetros de conduta e reagir contra a desobediência de seus filhos. Os critérios dessa educação estão na Palavra de Deus (Pv 22.6). Por outro lado, os pais não devem abusar da autoridade recebida, pois eles devem educar com brandura e amor, sem rigor excessivo ou imposições injustas a fim de não incitar à ira de seus filhos (6.4a)||.[Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 12, 21 Junho, 2020]
- Por fim, Paulo orienta os filhos crente como devem se comportar de maneira que, o Nome do Senhor seja glorificado. No lar, o filho deve estar, de bom grado, debaixo da autoridade de seus pais em submissão obediente a eles como agentes do Senhor colocados sobre ele, e obedecer a seus pais como se estivesse obedecendo ao próprio Senhor. A razão aqui é, simplesmente, que essa foi o modo planejado e exigido ("justo") por Deus (Os 14.9). A obrigação dos pais é agir com os filhos demonstrando disciplina e admoestação do Senhor. Paulo está intimando para a disciplina e a instrução sistemáticas, fazendo com que os filhos respeitem os mandamentos do Senhor como a base de toda a vida, da piedade e da bênção (Pv 13.24; Hb 12.5-11). É importante aqui (E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor) frisar que, Paulo exorta os pais não a exercer sua autoridade, mas a contê-la! No pensamento paulino, o modelo cristão para os pais é o próprio Deus, por que a paternidade é derivada de Deus (Ef 3.14,15; 4.6). Os pais devem cuidar dos filhos como Deus Pai cuida de sua família. Na verdade, é o Senhor quem cria os filhos por intermédio dos pais!
||2. A conduta requerida dos filhos. O dever dos filhos é apresentado de forma objetiva pelo apóstolo: “Vós, filhos sede obedientes a vossos pais” (6.1). A explicação para essa postura é categórica: “Porque isto é justo” (6.1b). Ela segue a ordem natural divinamente estabelecida, pois Deus deseja que os filhos confiem na sabedoria de seus pais (Lc 2.51). Para ratificar esse ensino, o apóstolo cita o quinto mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe” (6.2 cf. Êx 20.12). Assim, os filhos devem obedecer e honrar seus pais. Logo, obedecer significa cumprir o que é ordenado; e honrar envolve amor, respeito e até mesmo o sustento em caso de necessidade. Portanto, a obediência é devida enquanto os filhos viverem sob a tutela dos pais e a honra é um dever para a vida toda||.[Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 12, 21 Junho, 2020]
- É importante nesse ponto, lembrar que, segundo Paulo, os filhos devem honrar a seus pais, mas os pais nunca devem desanimar a seus filhos. Assim, existe um e único limite que define até onde vai a autoridade dos pais sobre os filhos. Sim! O único limite com relação à obediência do filho é quando os pais exigem algo contrário à Palavra de Deus. Por exemplo, alguns filhos poderão agir de maneira contrária aos desejos de seus pais até mesmo quanto a entregar sua vida a Cristo (Lc 12.51-53; 14.26).
- No texto de Ef 6.1-3, Paulo define que:
1º) A obediência dos filhos aos pais é uma lei da própria natureza; é o comportamento-padrão de toda a sociedade;
2º) Honrar é mais do que obedecer (Ex 20.12; Dt 5.16). Os filhos não devem prestar só obediência aos pais, mas também devotar amor, respeito e cuidado a eles, e por fim
3º) Os filhos devem obedecer aos pais porque eles são servos de Cristo. Eles devem obedecer aos pais por causa do relacionamento que têm com Cristo.
||3. O mandamento com promessa. Aos filhos que obedecem e honram seus pais, uma promessa dupla lhes é assegurada: “Para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra” (6.3). Essas bênçãos incluem prosperidade exterior e vida longa. Embora as dádivas espirituais estejam implícitas, a ênfase recai sobre os benefícios materiais. Significa que ao obedecerem e honrarem a seus pais, os filhos submetem-se ao arbítrio de Deus que, segundo o beneplácito da sua vontade, os recompensa com benesses especiais||.[Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 12, 21 Junho, 2020]
- Sobre Efésios 6:1-4, Barckay escreve: “Paulo manda que os filhos obedeçam as ordens de seus pais e os honrem. Diz que é o primeiro mandamento. Provavelmente queira dizer que era o primeiro mandamento que a criança cristã tinha que aprender de cor. A honra que Paulo exige não é uma mera honra de palavra; a única maneira de honrar aos pais é obedecendo-lhes, respeitando-os e não lhes causando dor” (Efésios. William Barclay. Pág 130). Os filhos aprendem a obedecer aos pais porque isso é agradável ao Senhor (Cl 3.20). Embora a submissão aos pais deva ser, primeiramente, por amor ao Senhor, Paulo, graciosamente, acrescentou uma promessa de bênção especial para aqueles que obedecem a esse mandamento. A promessa consiste em prosperidade e longevidade. O crente é abençoado com toda sorte de bênçãos espirituais em Cristo (Ef 1.3). O filho obediente livra-se de grandes desgostos.
CONCLUSÃO
||No modelo divino todos os membros da família cumprem deveres específicos. O marido tem o dever de liderar e amar sua esposa. A esposa o dever de submeter-se e respeitar a liderança de seu marido. Aos pais o dever de educar seus filhos segundo as Escrituras. Aos filhos o dever de obedecer e honrar seus pais. Assim, o amor, o respeito mútuo e a prosperidade fazem parte da família que se porta conforme Deus planejou|| [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 2º Trimestre 2020. Lição 12, 21 Junho, 2020]
- Neste trecho de Efésios, Paulo apresenta perante homens e mulheres um ideal que brilha com pureza radiante num mundo imoral. É inconcebível à mente mundana a ideia de uma submissão da mulher a seu marido, o trato serviçal do marido à esposa, a obediência e honra dos filhos a seus pais. Aqui, temos o ideal edémico para a família, restaurada no modelo cristão para a família. Por tanto, não esperemos o mundo compreender algo que só o Espírito de Deus pode recriar. A nós, nascidos de novo, compete adotar, para a máxima glória de Deus Pai, o modelo apresentado pelo apóstolo, lutando por ele. Que Deus nos ajude!
Pb Francisco Barbosa