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31 de agosto de 2022

LIÇÃO 10: A SUTILEZA CONTRA A PRÁTICA DA MORDOMIA CRISTÃ



Conteúdo de autoria do Pb Alessandro Silva, disponível no site: https://professordaebd.com.br/

TEXTO ÁUREO

E [Abrão] deu-lhe o dízimo de tudo.” (Gn 14.20)

 

VERDADE PRÁTICA

Contribuir financeiramente para obra de Deus é mais que um dever. É um privilégio! É a expressão de gratidão ao Pai por todas as suas bênçãos dispensadas.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Gênesis 14.17-20

COMENTÁRIO DO TEXTO BÍBLICO (Extraído da Bíblia de Estudo MacArthur – SBB)

14.17 vale de Savé. O rei libertado de Sodoma foi encontrar-se com Abrão perto de Jerusalém.

14.18 Melquisedeque, rei de Salém. A falta de detalhes biográficos e genealógicos desse governante, cujo nome significa "rei justo" e que era sumo sacerdote da antiga Jerusalém, foi mais tarde, com base em outras revelações, identificado como um tipo de Cristo (cf. SI 110.4; Hb 7.17,21). Seu status superior no tempo de Abrão é testemunhado: 1) pelo rei de Sodoma, o primeiro a encontrar Abrão quando este retornava vitorioso, submetendo-se a Melquisedeque antes de continuar com o seu pedido (vs. 17,21) e 2) por Abrão, sem dúvida, aceitando a bênção dele bem como também dando o dízimo ao sacerdote-rei (vs. 19-20). Cf. Hb 7.12. sacerdote do Deus Altíssimo. O uso de El Elyon (Soberano Senhor) para o nome de Deus indicava que Melquisedeque, que usou esse título duas vezes (vs. 18-19), não adorava, servia ou representava nenhuma deidade cananeia, mas a mesma a quem Abrão também chamou de /avé El Elyon (v. 22). Esse fato é confirmado' pela descrição adicional "que possui os céus e a terra", usada por Abrão bem como por Melquisedeque (vs. 19,22).

14.20 que entregou os teus adversários nas tuas mãos. O crédito pela vitória sobre uma coalizão militar foi corretamente atribuído ao Soberano Senhor (El Elyon) e não à bravura de Abrão. Tanto para Melquisedeque quanto para Abrão, isso correspondia à adoração do Deus verdadeiro, o dízimo. Essa é a primeira menção na Escritura da oferta de 10 por cento (cf. 28.22). Essa oferta era totalmente voluntária e pode ter sido apenas um décimo do melhor, não um décimo do total. Esse décimo não é igual aos décimos exigidos de Israel na lei mosaica.

 

INTRODUÇÃO

Nesta lição abordaremos a doutrina bíblica da Mordomia Cristã. Há muitos equívocos, incompreensões, distorções em torno dessa doutrina. Isso tem feito com que essa ela tenha sido maliciosamente rejeitada e combatida por parte de muitos. Em primeiro lugar, deve ser observado que “mordomia” aqui tem o sentido de administrar bem o que Deus nos deu, e não os privilégios vividos indevidamente por alguém. Visando corrigir alguns ensinos equivocados em torno desse assunto que, sutilmente se infiltraram no meio evangélico, faremos uma exposição daquilo que as Escrituras ensinam sobre a Mordomia Cristã. Por outro lado, veremos também como muitos maldosamente transformaram esse ensino numa prática de barganha. Entretanto, também mencionaremos que os que se posicionam contra a prática do dízimo usam esses estereótipos como justificativa para sua infidelidade. Finalmente, mostraremos que a prática do dízimo e das ofertas, longe de ser um fardo, é expressão de gratidão por parte do cristão que se sente agraciado por Deus.

COMENTÁRIO

MORDOMO

Três expressões hebraicas e duas palavras gregas estão envolvidas neste verbete, a saber:

Ha-ish asher ai, «homem que está sobre».

Expressão hebraica que aparece somente em Gên. 43:19.

Asher ai bayith, «quem está sobre a casa». Outra expressão hebraica, que só pode ser encontrada em Gên.44:4.

Ben mesheq, «filho de aquisição». Essa expressão hebraica ocorre somente uma vez, em Gên. 15:2.

Epitropos, «encarregado». Palavra grega que é usada por três vezes: Mat. 20:8; Luc. 8:3; Gál. 4:2. O verbo aparece em Luc. 3:1; e o substantivo, «encargo», em Atos 26:12.

Oikonômos, «mordomo». Termo grego usado por dez vezes: Luc. 12:42; 16:1,3,8; Rom. 16:23; I Cor. 4:1,2; ou, 4:2; Tito 1:7; I Ped. 4:10. O verbo reaparece em Luc. 16:2. O substantivo, «mordomia», ocorre por nove vezes: Luc. 16:2-4; I Cor. 9:17; Efé. 1:10; 3:2,9; Col. 1:25; I Tim. 1:4.

Aquelas três expressões hebraicas têm equivalentes semânticos no acádico e no ugaritico, embora sejam especialmente comuns, esses equivalentes, nos idiomas semiticos ocidentais. A terceira dessas expressões não tem explicação, embora os Targuns a interpretem por «mordomo». Nossa versão portuguesa põe a palavra «herdeiro» nos lábios de Abraão, bem como na resposta que lhe deu o Senhor (ver Gên. 15:2 e 4); mas o original hebraico sô tem aquela expressão no vs. segundo, enquanto que no vs. quarto o Senhor usou outra palavra hebraica, yarash, «herdeiro». Isso significa que nossa versão portuguesa não reflete a expressão hebraica ben mesheq, Em I Crônicas 28: 1, algumas versões dizem «mordomos», onde a nossa versão portuguesa, mais acertadamente diz’ «administradores». Todavia, no original hebraico temos a palavra sar, «príncipe», que aceita a ideia secundária de «supervisor».

No Novo Testamento grego, o equivalente semântico de sar é epitropos, ao passo que oikonômos é, realmente, a palavra que deveria ser traduzida em português por «mordomo». CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 359.

 

Pois bem, em 2012, escrevi uma lição bíblica tratando da verdadeira prosperidade do crente. Alguns acharam que na época fui duro demais nas críticas que fiz à Teologia da Prosperidade. Na verdade, a crítica fora feita à teologia da barganha. No contexto no qual vivíamos, a forma incisiva como o texto foi escrito era completamente justificável. Os grandes pregadores da TV não apenas fomentavam a avareza dos cristãos como os exploravam por meio de seu articulado sistema de arrecadar ofertas.

Os dízimos, ofertas e votos que eram feitos a Deus no Antigo Testamento jamais devem ser interpretados como uma prática de barganha. A ideia de que Deus nos dará algo em troca ou que Ele agora é devedor, ficando na obrigação de pagar tudo que nos deve, porque como dizimistas nos candidatamos a receber as bênçãos sem medida, caracteriza sem dúvida alguma a prática da barganha. O barganhista faz esperando receber algo em troca. Ele condiciona a sua fé em Deus ao cumprimento dos seus desejos. Em outras palavras, se Deus fizer o que o barganhista pede ou necessita, então ele, em contrapartida, também fará o que prometeu a Deus.

Um dos textos bíblicos muito usados para justificar essa prática é Gênesis 28.10-22, quando Jacó fez um voto ao Senhor. Uma leitura equivocada do hebraico original está por trás desse erro de interpretação. Clyde T. Francisco (1987, p. 277), erudito em Antigo Testamento, observa que: “é muito mais razoável traduzir voto, como o hebraico permite, de forma que: “o Senhor será o meu Deus”, seja parte da prótase (a cláusula “se”): “Se Deus for comigo… me guardar… me der… e o Senhor for o meu Deus, então esta pedra…”. Por outro lado, o comentarista bíblico Warren W. Wiersbe (2008, p. 161), acrescenta que: o “se” que aparece em várias traduções no versículo 20 também pode ser entendido como “uma vez que”. Jacó não estava negociando com Deus; estava afirmando sua fé em Deus. Uma vez que Deus havia prometido cuidar dele, ficar com ele e levá-lo de volta ao lar em segurança, Jacó afirmaria sua fé em Deus e buscaria adorá-lo e honrar somente ao Senhor. Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

 

O estudo da Mordomia Cristã leva-nos à verdadeira filosofia de vida cristã. Os princípios básicos da vivência cotidiana do crente estão expostos na doutrina da mordomia. Esse estudo, sem dúvida, será capaz de oferecer uma atitude nova e positiva para com a vida em relação com o mundo em que vivemos. O modelo singular da mordomia cristã é o próprio Cristo, através do testemunho dos Evangelhos, nos seus atos e ensinos. O conhecimento da mordomia cristã dá ao crente uma perspectiva mais global do significado da vida. Responde claramente à indagação: Por que estou no mundo? Como viver sabiamente num mundo corrompido?

Creio que este estudo acerca da Mordomia Cristã possa promover uma total revolução social e espiritual, e restaurar a consciência do dever de cada crente perante Deus e o mundo. Ao entendermos o significado dessa doutrina, estaremos aptos para fazer a “obra de Deus” em todas as suas dimensões. A doutrina bíblica da mordomia centraliza seus princípios na soberania de Deus sobre todas as coisas. Nós somos apenas seus mordomos.

Definição da Palavra Mordomia.

A palavra mordomia sofreu, ao longo dos anos, uma deturpação devido ao seu mau uso. Esta palavra é usada como regalias e favores concedidos, especialmente pelos governos, a alguns funcionários públicos. Ou ainda, quando pensamos em mordomo, pensamos num romance ou filme policial em que o mordomo sempre é o criminoso.

A palavra mordomo, em português, vem do latim majordomus. Major, em latim, é maior ou principal, e domus, casa, a casa com tudo que ela contém e significa. Assim mordomo é o principal servo, o que administra a casa do seu senhor. Vejamos alguns mordomos na Bíblia: Eliézer (Gn 24.2) e José (Gn 39.4-6).

Há cinco termos gregos que dão uma ideia do significado da palavra “mordomia”. Essas cinco palavras são semelhantes e pode dar um entendimento mais global para entendemos o significado da mordomia.

O verbo grego oikéo significa habitar. Dele brotam as palavras gregas oikia ou oikos as quais se referem à casa como lugar de habitação.

A segunda palavra é oikeioi que diz respeito à família, ou a casa como conjunto de pessoas.

A terceira palavra é oikodespotes que se refere ao dono da casa, ao pai de família, ou como aparece em algumas versões da Bíblia “o senhor da casa” (Mc 14.14).

A quarta palavra é oiketes que se refere ao “Servo do Senhor” cuja função é dentro da casa.

A quinta palavra, que é a mais conhecida para explicar “mordomia”, é a palavra oikonomos que significa mordomo, administrador de uma casa.

Conceito Bíblico da Mordomia.

É o reconhecimento da soberania de Deus, a aceitação do nosso cargo de depositários da vida e das possessões, e administração das mesmas de acordo com a vontade de Deus – 1Pe 4.10,11; 1ªCo 4.1,2.

Valor da Doutrina Para a Vida Cristã

A mordomia nos dá o senso do sagrado. Ela aponta o senso de responsabilidade e nos ensina o senso de dependência total de Deus.

A Base da Mordomia Crista

Primeira base é sabemos que Deus é dono de tudo e de todos:

Do universo: Gn 1.1; 14.22; lºCr 29.l3-l4; Sl 24.l; 50.10-12.

Do homem:

Por direito de criação – Is 42.5;

Por direito de preservação – At l4.l5-l7; 17.22-28;

Por direito de redenção – 1Co 6.l9,20; Tt 2.l4; Ap 5.9.

Segunda base é sabemos que o homem é só o mordomo Gn1.28; 2.l5; Sl 8.3-9.

Princípios da Mordomia Cristã

O princípio espiritual da mordomia está nas palavras inspiradas do salmista: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1). Por essa lei espiritual entendemos que o nosso papel como criaturas e filhos de Deus é o de reconhecer a soberania do Deus Criador sobre todas as coisas e zelar por elas. A mordomia bíblica destaca a soberania de Deus em termos de “senhorio”. Ele administra a economia da criação como Rei e Senhor. Renovato. Elinaldo,. Tempo, Bens e Talentos: Sendo Mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. 1 Ed 2019. Editora CPAD. pag. 13-15.

 

I. CONHECENDO O EVANGELHO DA BARGANHA

 

1. Dízimos e ofertas como moeda de troca. Infelizmente o ensino bíblico da Mordomia Cristã tem sido desvirtuado e distorcido. O que é uma doutrina genuinamente bíblica tem se transformado numa prática de barganha. (2Pe 2.3). Técnicas de arrecadação de fundos são usadas para explorar os incautos e mais pobres. Vale de tudo. E o que é pior: tudo em nome de Deus e da fé. Através das mídias, as pessoas são abordadas a toda hora com mais pedidos e apelos por dinheiro. A promessa sempre é a mesma: “Dê tudo o que você tem para receber em troca muito mais daquilo que você ofertou”. Nesse jogo de troca vale até mesmo colocar Deus contra a parede. Alegam que, se Deus não der o que alguém negociou com Ele, então, deixa de ser Deus. É a velha técnica da famigerada teologia da prosperidade.

COMENTÁRIO

Em setembro de 2006, a revista Times publicou uma matéria de capa sobre a Teologia da Prosperidade, apresentando um debate no meio evangélico norteamericano sobre se essa doutrina é um mal ou um bem para o cristianismo. A matéria citava que há “três mega-igrejas pentecostais nos EUA” que são hoje as maiores representantes da Teologia da Prosperidade: as igrejas dos pastores negros neopentecostais T. D. Jakes e Creflo Dollar, e a Igreja de Lakewood, de Joel Osteen.

Na matéria, os dois pastores destacados para falar sobre o assunto foram Rick Warren e Joel Osteen. Warren bateu firme na Teologia da Prosperidade. Osteen, por sua vez, disse que sua visão sobre a prosperidade na vida do cristão não era tão radical como seus críticos afirmavam. A revista Christianity Today reverberou a matéria da Times, escrevendo uma nota intitulada Joel Osteen versus Rick Warren on Prosperity Gospel.

A matéria da Times começava apresentando uma pesquisa que informa que 17% dos cristãos nos EUA se dizem adeptos da Teologia da Prosperidade, 61% dos cristãos dizem que creem que Deus quer que todas as pessoas sejam prósperas e 31 % acreditam que quem é fiel nos dízimos e constantemente oferta para a obra de Deus receberá acréscimos financeiros de Deus. Em seguida, Warren é perguntado sobre se Deus quer que todos sejam ricos. Como forte opositor da Teologia da Prosperidade que é (ainda bem!), ele foi contundente: “Você está falando dessa ideia de que Deus quer que todos sejam bem-sucedidos financeiramente? Há unia palavra para descrevê-la: ‘balela’. Isso é criar um falso ídolo. Você não pode medir seus valores sobre si mesmo pelo conjunto de valores materiais que você tem. Posso mostrar a você milhões de seguidores fiéis de Cristo que vivem em pobreza. Por que nem todos nas igrejas são milionários?”

Osteen, por sua vez, apontado como adepto da Teologia da Prosperidade, ao ser perguntado, procurou fugir do rótulo, dizendo que a prosperidade que prega não é exatamente a mesma que se propala: “Se Deus quer que sejamos ricos? Quando escuto a palavra ‘rico’ para se referir criticamente ao que prego, acho que as pessoas querem dizer: ‘Ele está ensinando que todos vão ser milionários’.

 

Mas não é isso que estou dizendo. Eu prego que as pessoas podem melhorar suas vidas. Penso que Deus quer que sejamos prósperos. Acredito que Deus quer que sejamos felizes. Para mim, as pessoas precisam ter dinheiro para pagar suas contas.

Creio que Deus quer que enviemos nossos filhos para a escola. Creio também que Ele quer que sejamos bênção para outras pessoas. Eu não estou dizendo que Deus quer que sejamos todos ricos. Aliás, esse negócio de riqueza é relativo”. Apesar de certa lógica em sua afirmação, fato é que Osteen realmente flerta com a Teologia da Prosperidade. Basta ouvir duas ou três mensagens dele para perceber isso.

Os evangelistas da auto-ajuda costumam namorar com a Confissão Positiva e a Teologia da Prosperidade, e isso é um perigo.

“Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis” (2 Co 11.3-4).

“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas (Fp 3.18-19).

Quando um pregador do evangelho se torna apenas um pregador de autoajuda, ele já perdeu o foco do seu dever à luz da Bíblia. Auto-ajuda (ou ajuda do alto, que é melhor ainda) tem lá sua importância, mas deixemos a auto-ajuda para os “Augustos Curys” da vida. Nosso compromisso é com a Palavra de Deus em sua inteireza. Para o nosso bem e, principalmente, para a saúde e crescimento espiritual dos que nos ouvem.

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas, porque, fazendo isto, te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4.16). Daniel., Silas. A Sedução das Novas Teologias. Editora: CPAD. pag. 189-190.

 

A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

O que é a Teologia da Prosperidade. É a doutrina, segundo a qual o crente, por ser filho de Deus, jamais passará por agruras financeiras, pois foi ele destinado a viver de maneira regaladamente pródiga, sem ter de se defrontar com as carências materiais comuns a todos os seres humanos.

A doutrina de Bildade. Como predecessor da Teologia da Prosperidade, acreditava Bildade que, se Jó estava sofrendo e já nada possuía, era porque pecara contra o Senhor. Pois somente são atribulados aqueles que desobedecem a Deus. Logo: os que o obedecem, acham-se em larguezas e profusões. A fim de fundamentar a sua doutrina, evoca Bildade o testemunho dos antigos: “Porque, eu te peço, pergunta agora às gerações passadas e prepara-te para a inquirição de seus pais. Porque nós somos de ontem e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra” (Jó 8.8,9).

A falácia de Bildade. Quão falacioso e sofístico era Bildade! Além de brincar com as palavras e jogar com raciocínios aparentemente válidos, ousa invocar até o depoimento dos antigos. Não agem assim os modernos proponentes da Teologia da Prosperidade? Na defesa deste aleijão doutrinário, torcem as Sagradas Escrituras, brincam com a verdade, fazem uso de subterfúgios lógicos e até citam, fora de seu contexto, o testemunho dos antepassados (2 Pe 3.16).

AS CONTRADIÇÕES DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Se Bildade viveu num período anterior ao patriarca Abraão, como acreditamos, que exemplo poderia ele apresentar dos antigos, para que a sua doutrina fosse devidamente justificada?

A prosperidade material. De acordo com a História Sagrada, os ímpios vêm prosperando materialmente muito mais do que os justos (Sl 73.1-10). O que dizer da civilização inaugurada pelo homicida Caim? A cidade por ele fundada era, tecnologicamente, avançadíssima (Gn 4.17-22). Enquanto isso, nem notícia temos do progresso alcançado pelos filhos do piedoso Sete. Que riquezas lograra Enoque? Ou Noé? Ou ainda Sem? Enquanto isso, iam os descendentes do indecoroso e irreverente Cão fundando grandes impérios: Líbia, Egito, Etiópia e os domínios de Canaã (Gn 10.1-20).

As provações dos justos. A História Sagrada, no registro dos fatos que ocorreram após a era de Bildade, fala de alguns homens que, apesar de sua comprovada e singular piedade, foram submetidos às piores agruras. Se Abraão, Isaque e Jacó foram abençoados com grandes riquezas, José foi vendido como escravo, e como escravo viu-se constrangido às mais inumanas humilhações (Gn 37.26-36). Elias, Amós e Lázaro vivenciaram necessidades básicas. O primeiro viu-se na contingência de nutrir-se do que lhe traziam os corvos (1 Rs 17.5-7). O segundo, como boieiro, alimentava-se de sicômoros (Am 7.14). E o terceiro, além da extrema pobreza, fora coberto por uma terrível chaga; e, assim, abandonado por todos, comia das migalhas que caíam da mesa do rico (Lc 16.20-25).

A evidência de uma vida piedosa. Não quero, com isso, ressaltar a pobreza como evidência de uma vida plena de Deus, como não o é também a riqueza. Pois, se nas Sagradas Escrituras há ricos piedosos, há também pobres incrédulos e nada tementes a Deus.

Temos de agir com equilíbrio e discernimento, pois os extremismos teológicos, quer à esquerda, quer à direita da Bíblia, são nocivos. Logo: que ninguém seja julgado pelo que tem, mas pelo que é (Mt 5.16; 1 Tm 5.25; Tg 1.26,27). Quer Deus nos conceda riquezas, quer nos deixe experimentar necessidades, tenhamos sempre em mente que Ele é soberano e, como tal, sabe tratar com seus filhos (Jr 18.1-6). Habacuque e Paulo sabiam viver na abundância, e não se perturbavam na privação (Hc 3.17-19; Fp 4.10-13). Pb Alessandro Silva

 

Prosperidade

No campo das finanças, Hagin segue exatamente o mesmo raciocínio que utiliza em suas afirmações sobre saúde. A prosperidade financeira é um direito do cristão, pois faz parte da expiação efetuada por Cristo. Assim como o cristão tem direito à saúde, ele também tem direito de ser próspero. Exatamente da mesma forma como as enfermidades nunca representam a vontade de Deus para o fiel, assim também a pobreza ou as dificuldades financeiras de qualquer espécie. O pastor de hoje tem o dever de pregar essa mensagem com toda sua força, pois no passado a igreja deu destaque demasiado ao lado espiritual da salvação. O direito de sermos financeiramente prósperos precisa ser cada vez mais proclamado dos púlpitos. Depois de citar Josué 1.8, Hagin diz:

Você quer ser bem sucedido? Deus nos conta como prosperar, neste versículo. Ele diz que se a Sua Palavra enche o nosso coração ao ponto de “meditarmos nela dia e noite”, acharemos prosperidade. Subentende-se que o homem cheio da Palavra de Deus prosperará espiritualmente. Mas o aspecto que quero enfatizar aqui é a promessa que Deus deu da prosperidade física, e não somente espiritual. (Espírito, 15.)

Para defender sua idéia, Hagin aponta várias passagens bíblicas. Em Filipenses 4, por exemplo, onde Paulo diz que havia aprendido a “viver contente em toda e qualquer situação”, Hagin afirma que deve ser dado destaque não tanto ao contentamento, mas à provisão que Deus faz de nossas necessidades financeiras e materiais.

Paulo disse, escrevendo à igreja em Filipos: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4.19). Todas as suas necessidades incluem as necessidades financeiras, materiais, e as demais. Na realidade, nesse capítulo, Paulo está falando a respeito das coisas financeiras e materiais. (Redimidos, 5, 6.)

Ele oferece uma interpretação semelhante de 3 João 2: “Amado, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma”. Hagin afirma que, nesse versículo, João não está simplesmente fazendo uma saudação ou expressando um desejo pessoal, mas revelando a vontade de Deus no sentido de que todos os cristãos gozem de prosperidade financeira.

A oração aqui traduzida “faço votos” é “orar” no grego original. Logo, João disse aqui. Amado, acima de tudo ORO por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma. Se ele foi motivado pelo Espírito para orar assim, esse deve ser o desejo do Espírito para todas as pessoas. É correto, portanto, orar pedindo prosperidade financeira, porque João disse: Acima de tudo ORO… A oração de João aqui diz respeito a três dimensões da nossa vida: a física, a espiritual, e a material. Ele disse: … oro por tua prosperidade [bênçãos materiais] e saúde [bênçãos físicas] assim como é próspera a tua alma [bênçãos espirituais]. Assim, vemos que Deus deseja abençoar todas as partes da vida do crente. (Paz, 99.)

É comum ouvirmos os pregadores da prosperidade afirmarem que “Deus quer que seus filhos comam a melhor comida, vistam as melhores roupas, dirijam os melhores carros e tenham o melhor de todas as coisas”. Hagin diz que Jesus dirigiria um Cadillac, se estivesse desempenhando seu ministério messiânico nos dias atuais:

… muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um pregador certa vez me disse que fulano possuía humildade, porque andava num carro muito velho. Repliquei: “Isso não é ser humilde — isso é ser ignorante!” A ideia que o pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro velho. Um outro observou: “Sabe, Jesus e os discípulos nunca andaram num Cadilac.” Não havia Cadilac naquela época. Mas Jesus andou num jumento. Era o “Cadilac” da época — o melhor meio de transporte existente. Os crentes têm permitido ao diabo lesá-los em todas as bênçãos que poderiam usufruir. Não era intenção de Deus que vivêssemos em pobreza. Ele disse que éramos para reinar em vida como reis. Quem jamais imaginaria um rei vivendo em estrita pobreza? A ideia de pobreza simplesmente não combina com reis. (Autoridade, 48.)

É natural que Hagin ouça críticas contra uma pregação que parece tão materialista. Sua resposta é que somos filhos do rei e, nessa posição elevada, devemos esperar viver não apenas com as necessidades básicas da vida, mas abundantemente. Devemos aproveitar todas as coisas boas do mundo, sem impor limites às riquezas que os cristãos podem acumular. A história a seguir ilustra bem esse fato:

Tenho uma fita-cassete de ensino que ajudou muitas pessoas neste âmbito. Certo jovem, que conheço bastante bem, deu seu testemunho de como a fita o ajudou, durante uma de nossas reuniões recentes. Há apenas uns poucos anos, quando ele tinha 31 ou 32 anos de idade, entrou nos negócios. Deixou seu emprego assalariado, tendo em mãos um total de USS 5.500… Deu o seguinte testemunho: “Escutei as fitas do irmão Hagin. Havia três sobre a fé e a confissão, e uma que se chamava: Como Treinar o Espírito Humano. Deitava-me todas as noites ouvindo aquela fita. Ligava-a de manhã e a escutava enquanto fazia a barba. Escutei-a repetidas vezes — provavelmente centenas de vezes — até que aquela mensagem entrasse no meu espírito. Depois, por meio de escutar o meu espírito e de usar a minha fé, já tenho um patrimônio cujo valor total ultrapassa USS 30 milhões. Este jovem senhor tem apenas 38 anos, mais ou menos, hoje. Ele não é pregador. É negociante. Contou-me como seu espírito lhe tem falado e lhe ensinado como investir e como comprar terras. (Dirigido, 129, 130.)

Isto se aplica aos ministros da palavra e também às pessoas leigas. Um pregador que possua cem casas, por exemplo, é coerente com o cristianismo bíblico.

Você já deve ter lido a respeito de pessoas que murmuram porque um pregador tem uma casa bonita. E se ele tivesse uma centena de casas? Isto seria bíblico. (Necessário, 20.)

Se somos filhos do rei e temos não apenas o privilégio, mas o dever de ser prósperos, então, novamente, o contrário deve ser verdade: um cristão que seja pobre tem somente a si para culpar.

Amigos, vocês sabem que a maioria de nós não é tão pobre por ter honrado a Deus — mas por tê-lo desonrado. Vocês devem também dizer amém, pois isso é assim. Dei-lhes passagens bíblicas como prova. (Authority, 22.)

Com todas essas promessas bíblicas de riqueza e prosperidade, a mente inquiridora é levada a indagar, como fizemos acima, na parte sobre saúde, por que tantos cristãos não estão prosperando financeiramente. Se há um motivo, este deve ser que os cristãos de todo o mundo, aparentemente, procedem mais das classes baixas e continuam a sofrer todos os problemas financeiros próprios da posição social. Por que isso é assim? Uma vez que esta pergunta tem a mesma essência daquela formulada acima, sobre saúde, então a resposta parece ser a mesma aqui. Ou o cristão desconhece seus direitos à prosperidade ou falta-lhe fé para afirmar tais direitos ou o diabo o está impedindo de recebê-los. Se houver uma suspeita de que a última causa é o problema, uma sonora repreensão irá liberar tudo aquilo que o cristão tem por direito. “… tudo quanto você precisa fazer é dizer: ‘Satanás, tire suas mãos do meu dinheiro’. (Limiares, 67.)

Nas mensagens pregadas sobre o assunto, existe mais uma razão que frequentemente aparece para explicar a falta de prosperidade entre cristãos. Ela surge na mesma hora, a cada domingo, quando se diz, durante a oferta, que alguns cristãos estão sofrendo com dificuldades financeiras porque não estão dando o suficiente para a obra de Deus. A regra espiritual das finanças e essa: se queremos mais, precisamos dar mais.

Você gostaria de ver maiores bênçãos financeiras na sua vida? Aumente suas contribuições e ofertas, porque as Escrituras dizem que a sua colheita será… recalcada, sacudida, transbordante… porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. Por outro lado, podemos estorvar nossas orações em prol da prosperidade financeira, se não cooperamos com Deus; se não entramos pelas portas que Deus abriu para nós. (Paz, 111.)

Não é uma questão de graça, mas de lei, pois se afirma que o retorno é proporcional à oferta do indivíduo. Muitos pregadores da prosperidade fazem uso de Marcos 10.29, 30 como a principal passagem sobre finanças para a igreja:

Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no mundo por vir a vida eterna.

Essa é a chamada lei do retorno cem vezes maior: receberemos cem vezes mais do que damos. Kenneth Copeland, herdeiro provável de Hagin nos Estados Unidos, usa muito essa passagem em suas pregações. Ela faz parte integrante de sua cosmovisão financeira, evidenciando-se a partir da interpretação que ele dá a Marcos 10.17-23, onde o jovem rico se recusa a vender suas propriedades e se tornar um discípulo de Cristo:

E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um só, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e a tua mãe. Então ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. Mas Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma cousa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; então, vem, e segue-me, Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. Então Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!

Essa história parece oferecer excelentes instruções sobre o valor do dinheiro e preço do discipulado. Mas Copeland encontra nela outro significado. Ele diz que, em seu estudo dessa passagem, o Senhor lhe falou e explicou que aquele jovem era rico por ter sido fiel na observância da lei judaica. Ele teria se tornado ainda mais rico, se tivesse dado suas riquezas ao Senhor. Copeland conclui: “Aquela era a maior transação financeira que poderia’ ter sido oferecida ao jovem, mas ele se afastou dela, por não conhecer o sistema financeiro de Deus” (Copeland, 1985, 62).

Concluímos o resumo das promessas do evangelho da prosperidade na área de saúde e riquezas, fazendo uma observação sobre sua coerência. Uma vez que se afirma que a vontade do Senhor para o cristão envolve todas as coisas boas da vida, não há imposição de condições nem se volta atrás naquilo que é prometido, mas apenas a promessa clara de que qualquer um que recorrer a Cristo receberá o que pede. As promessas têm uma amplitude maravilhosa e uma extensão sem limites. Mas há um porém: a “confissão positiva”. Pieratt. Alan B,. O evangelho da PROSPERIDADE. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. 1 Ed 1993.

 

2. Dízimos e ofertas como práticas legalistas. Outro efeito colateral do evangelho da barganha está no fato de que ele é legalista. Isso quer dizer que torna a prática do dízimo e das ofertas algo meritório. Essas práticas tornam-se fatores fundamentais para a salvação. Quando elas são consideradas meritórias, a salvação deixa de ser pela graça para se tornar pelas obras. Evidentemente, que essa é uma distorção da verdadeira Mordomia Cristã (2Co 8.1-4). Somos aceitos diante de Deus por causa do sangue que Jesus verteu na cruz do Calvário. Em outras palavras, a salvação não é pelas obras, mas pela graça (Rm 3.28).

COMENTÁRIO

O TROCO NA TROCA — O PERIGO DE QUERER BARGANHAR COM DEUS

Uma teologia de supermercado

Desde o primeiro capítulo deste livro, venho mostrando que a prosperidade bíblica se alicerça fundamentalmente em um correto relacionamento com o Senhor. Quando fórmulas, técnicas ou quaisquer outros meios substituem a comunhão do crente com o seu Deus, então o caminho para uma fé deformada está aberto. Esse modelo teológico que ignora a existência humana e não leva em conta a soberania de Deus sobre a história tem produzido uma geração de crentes superficiais. E o que é pior — tem se tornado quase que exclusivamente o único tipo de fé conhecida. O cristianismo ortodoxo tem sido empurrado para a periferia da fé. A química resultante da mistura desse modelo teológico com o princípio bíblico da retribuição tem originado uma excrescência dentro do protestantismo evangélico — a Teologia da Barganha.

Os pressupostos da Teologia da Barganha já são perceptíveis no Antigo Testamento, nos argumentos defendidos pelos amigos de Jó: Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú. E possível vermos na teologia desses homens uma relação distorcida entre pecado e punição. Em palavras mais simples, eles defendiam a tese de que por traz do sofrimento de Jó estava algum tipo de pecado cometido, porém ainda não conhecido. Algo semelhante àquilo que é pregado em muitas igrejas neopentecostais. Luiz Alexandre Solano Rossi (2008, p. 75) comenta:

A teologia da retribuição está assumindo a sua forma e assim permanecerá durante o desenrolar de todo o livro de Jó. O bomem pode, sim, ser conduzido a agir por interesse: se ele faz o bem, recebe a felicidade; se pratica o mal, recebe a infelicidade. A vida de fé está a um passo de se transformar em uma relação comercial. A fé pode estar sendo vista a partir de uma prateleira de supermercado, ou seja, Deus se apresentaria como um negociante. A consagrada expressão brasileira do “toma lá, dá cá” se encaixa perfeitamente nessa situação […] Contra essa teologia da retribuição ele (Jó) tem um único argumento: sua experiência pessoal e sua observação da história, na qual a injustiça permanece impune. Sua observação e intuição são corretas: existem somente homens situados no espaço e no tempo, no sentido de que vivem em uma época precisa em um contexto social, cultural e econômico preciso […] Vejamos um resumo de seus discursos: a) Elifaz sugere que Jó é um pecador; b) Baldad diz abertamente que seus filhos morreram por seus pecados; c) Sofar assegura a Jó que seu sofrimento é menos do que ele merecia; d) Eliú afirma que o sofrimento tem um caráter pedagógico. Eles representam perfeitamente o modo mais comum de se mascarar a verdadeira fé bíblica: a ideologia, a ortodoxia e o heroísmo convencional.

O troco na troca

Pois bem, os léxicos da língua portuguesa trazem os termos trocar e negociar como significados da palavra barganha. Dentro de um contexto comercial, o barganhista é aquele que leva vantagem em uma transação feita. No contexto religioso, barganhar é usar a fé para obter vantagens pessoais. A ideia por trás é a da troca. O devoto não busca a divindade simplesmente com o coração de um adorador, mas com o sentimento de um mercador. Hoje, com a explosão do neopentecostalismo, a velha prática da barganha voltou com força para o meio das igrejas evangélicas. A fé virou uma poderosa moeda de troca e Deus passou a ser visto como um realizador de sonhos narcisísticos.

Barganhar, uma prática muito antiga

Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção, recebendo o galardão da injustiça; pois que tais homens têm prazer nos deleites cotidianos; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em seus enganos, quando se banqueteiam convosco; tendo os olhos cheios de adultério e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza, filhos de maldição; os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça. Mas teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta. (2 Pe 2.12-16)

A história bíblica narra que na rota do êxodo rumo à Terra Prometida, os israelitas entraram em confronto com outras nações. Uma dessas nações eram os moabitas que possuíam Balaque como rei (Nm 22.4).

Balaque ouvira falar das conquistas dos hebreus e, temendo ser derrotado por eles, entrou em aliança com os midianitas. O passo seguinte foi alugar os serviços de Balaão, um falso profeta e adivinho da cidade de Petor na Mesopotâmia. O propósito era que este invocasse maldições sobre o povo de Deus (Nm 22.6).

A primeira comitiva enviada por Balaque não obteve êxito, pois Balaão foi proibido por Deus de acompanhar os mensageiros de Balaque (Nm 22.12).

O Senhor mostrou a Balaão que ele não poderia amaldiçoar um povo que já era abençoado. O rei dos moabitas não desistiu, e enviou uma caravana com pessoas mais nobres e com promessas de honrar mais ainda e recompensar a Balaão. Balaão cede e vai com os mensageiros, mas prometendo fazer somente aquilo que Deus permitisse. Na trajetória, ele é repreendido quando Deus permite que seu animal de carga fale em voz humana. Balaão instrui o rei Balaque a fazer sete altares e por três vezes tentou amaldiçoar os israelitas, mas em vez de amaldiçoar foi forçado por Deus a abençoar (Nm 24.17).

Vendo-se proibido por Deus de amaldiçoar o povo que Deus mesmo abençoou, Balaão muda de estratégia e passa agora a instruir Balaque a pôr tropeço no caminho do povo de Deus por meio da fornicação e corrupção (Nm 31.16). Balaão não conseguiu amaldiçoar, mas induziu o povo de Deus ao pecado. Os apóstolos Pedro e João mostram que Balaão “amou o prêmio da injustiça” e induziu o povo de Deus a se “contaminar” (2 Pe 2.15; Ap 2.14). O adivinho fez do sagrado um negócio para obter ganhos pessoais.

A história se repete

Por outro lado, a história registra que no século XVI Lutero, até então monge católico, se levantou contra o clero quando este promovia a venda de indulgências. Ele descobriu que a salvação é pela graça e ninguém pode barganhar com Deus (Rm 1.17).148 Sentindo a necessidade de construir a basílica de São Pedro, a igreja católica empreendeu uma campanha para arrecadar fundos. Foi feita uma barganha com a fé dos devotos que eram instruídos a depositar suas ofertas com a promessa de terem em troca a libertação das almas de parentes que se encontravam no purgatório. Foi esse episódio que fez com que explodisse a Reforma Protestante de 1517. O que levou Lutero a romper com a igreja institucional foi a iluminação que recebeu do Espírito Santo sobre a passagem de Romanos 1.16,17, quando ministrava um curso sobre essa epístola na Universidade de Wittenberg em 1512. De fato, como bem observou C. Leonard Allen (1998, p. 120,121), ele ficou estupefato: pela fé, não por obras; pela fé, não pela austeridade monástica; pela fé, não pela meticulosidade das confissões […] munido dessa nova convicção, Lutero dispôs-se a contestar qualquer um que tornasse o amor e a aceitação por parte de Deus dependentes da justiça humana. Ele atacou os negociadores de indulgências por venderem a graça de Deus por preço determinado.

A Reforma provocou mudanças na igreja e na cultura ocidental, mas os séculos passaram e os seus princípios caíram no esquecimento. Novamente nos deparamos no contexto evangélico com a velha prática da barganha. Estamos presenciando um verdadeiro festival de “toma lá dá cá”. Há uma rifa da fé, e quem der mais tem a promessa de conseguir muitas bênçãos. Até mesmo a Bíblia que em anos passados foi o instrumento da Reforma está sendo usada como moeda de troca. Em troca das bênçãos de Deus se oferece aos crentes “toalhinhas”, “água do rio Jordão”, “sabonetes ungidos”, etc. José Gonçalves. A Prosperidade a Luz da Bíblia. Editora CPAD. 1 Ed. 2011. pag. 151-154.

 

Algumas ideias erradas sobre o dízimo

    Não é legalismo (dar o dízimo só pelo peso da lei);

    Não é substituto das virtudes cristãs (dar o dízimo não permite o crente da prática das grandes virtudes. Lucas 11:42): “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.”; Jesus repreendeu os Fariseus porque davam os dízimos, mas desprezavam o juízo de Deus.

    Não deve se transformar numa carga insuportável, deve ser uma manifestação espontânea.

    Não concede poder de barganha (dar o dízimo para obter cargos e privilégios na igreja).

    Não faz de nós merecedores da graça divina (o dízimo não compra a salvação). Pb. Alessandro Silva.

 

As igrejas têm que entender que muitos hoje já conhecem a verdade que eles não querem ensinar.

Dízimo é invenção da Teologia Moderna, Prática errada da Igreja. Muitos acham que tem que dar a Deus para receber dele alguma coisa em como fosse troca ou barganha.

Tudo que há no mundo é dele e são para ele, ele não precisa de dinheiro nosso não, ele precisa da nossa fé verdadeira e uma vida de compromisso e fidelidade com ele para que ele cumpra com as promessas dele em nossas vidas, e digo mais da Antiga Aliança foi selada, então não temos mais parte nela, agora sim estamos debaixo da nova Aliança e está no tempo de nós recebermos as promessas, e ela será selada com a volta de Cristo, então se esforcem para receber cada um de nós a herança que o Senhor deixou para cada um de nós, quando Cristo vier quem recebeu, recebeu, e quem não recebeu, não recebe mais. Assim como Hebreus 9:15 vai dizer que Receberam as promessas, em Gálatas vai dizer que já encerrou a escritura. Gl 3.22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos que creem. Veja encerrou: eu te explico: toda escritura do Antigo Pacto foi selada, encerrada debaixo do pecado até que Cristo viesse e o Evangelho fosse ministrado por meio dele (Cristianismo) pela Fé. Rm 11.6 Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Pr. Ademar Rodrigues. Estudo Sobre o Dizimo.

 

AUXÍLIO TEOLÓGICO

TEOLOGIA DA BARGANHA

“A teologia que fomenta a barganha com Deus tem como um dos seus pressupostos a doutrina do direito legal do crente. Segundo essa crença, ao morrer na cruz, Jesus Cristo conquistou para os crentes muitos direitos. Cabe agora ao cristão se conscientizar da existência deles e reivindicar para si a concretização desses direitos. A posse da bênção passa agora a ser um direito líquido e certo, e não algo que está condicionado à vontade divina. A doutrina do direito legal deu amplos poderes ao crente, a ponto de ele agora poder usá-lo até mesmo como moeda de troca. Acreditam que Deus não tem o direito de dizer não a quem Ele conferiu o direito de exigir.

O devoto ganha direitos; Deus perde 0 seu! Promessas de curas e prosperidade são feitas àqueles que descobriram essa “doutrina” e fazem uso dela. Já é bastante conhecida entre os crentes a famosa doutrina da Determinação. Não é mais preciso orar, e sim determinar. Deus criou leis espirituais, e o crente deve saber como usar essas leis. Segundo essa exegese, Jesus não teria dito “tudo quando pedirdes em meu nome”, mas “tudo o que exigirdes ou determinardes em meu nome” (Jo 14.13). Embora não exista nada no texto grego que corrobore esse ensino, os pregadores da prosperidade insistem que assim deve ser” (GONÇALVES, José. A Prosperidade à Luz da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, pp.154-55).

 

II. A DOUTRINA BÍBLICA DO DÍZIMO SOB ATAQUE

 

1. O dízimo era uma prática da lei. Muitos se aproveitam daquilo que os maus obreiros ensinam e praticam sobre o dízimo para se eximirem desse dever cristão. A alegação mais comum, dentre muitas outras que existem, é que a prática do dízimo era um preceito mosaico. Nesse caso, por viver na Nova Aliança, o cristão estaria desobrigado de praticá-lo. Como vimos na leitura em classe, a prática do dízimo antecede a lei de Moisés (Gn 14.17-20). Abraão deu o dízimo de tudo o que tinha centenas de anos antes da Lei. Portanto, a desculpa de que não se devolve o dízimo porque essa é uma prática limitada a lei de Moisés não se sustenta. Na verdade, há uma justificativa muito mais plausível para quem se exime ou se nega devolver seu dízimo – o amor ao dinheiro (1Tm 6.10). Geralmente as pessoas que criam obstáculos ou desculpas para entregar seus dízimos, quando esse é um ensinamento oficial de sua igreja, assim agem por conta de terem sido más discipuladas ou porque são extremamente apegadas aos bens materiais. Em outras palavras, são pessoas presas pela avareza (Hb 13.5).

COMENTÁRIO

Justificativa Teológica. Ah, eu não sou dizimista, porque dízimo é da lei. E eu não estou debaixo da lei, mas sim da graça. Sim! O dízimo é da lei, é antes da lei e é depois da lei. Ele foi sancionado por Cristo. Se é a graça que domina a nossa vida, porque ficamos sempre aquém da lei? Será que a graça não nos motiva a ir além da lei? Veja:

– a lei dizia: Não matarás = eu, porém vos digo aquele que odiar é réu de juízo.

– a lei dizia: Não adulterarás = eu, porém vos digo qualquer que olhar com intenção impura.

 

– a lei dizia: Olho por olho, dente por dente = eu, porém vos digo: se alguém te ferir a face direita, dá-lhe também a esquerda.

A graça vai além da lei: porque só nesta questão do dízimo, ela ficaria aquém da lei? Esta, portanto, é uma justificativa infundada. Mt 23.23 = justiça, misericórdia e fé também são da lei. Se você está desobrigado em relação ao dízimo por ser da lei, então você também está em relação a estas virtudes. Renovato. Elinaldo,. Tempo, Bens e Talentos: Sendo Mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. 1 Ed 2019. Editora CPAD. pag. 60-61.

 

Neste ponto, achamos a primeira menção bíblica ao dízimo. É totalmente possível, contudo, que esse já fosse um costume fixo de sustento dos sacerdotes. Seja como for, o princípio veio a tornar-se parte integral do judaísmo, conforme mostra meu artigo sobre o assunto. Sem dúvida, o dízimo era um princípio observa- do por vários povos, e não somente pelos hebreus. Achamos algo similar na cultura helênica (no caso dos tarentinos, que deram dízimos depois de terem obtido uma viória sobre os paucetianos). Um dízimo foi enviado a Delfos, nesse caso. Adam Clarke asseverou que muitos povos antigos seguiam essa prática, embora não ivesse citado nenhuma fonte informativa. Em meu artigo sobre o Dízimo, segunda seção, há algumas evidências em prova dessa assertiva. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 115.

 

Abrão deu-lhe o dízimo de tudo, isto é, dos despojos, Hebreus 7.4. Isto pode ser considerado: 1. Como gratuitamente concedido a Melquisedeque, como uma retribuição pelos seus sinais de respeito. Observe que aqueles que recebem gentilezas devem demonstrar gentilezas. A gratidão é uma das leis da natureza. 2. Como uma oferta prometida e dedicada ao Deus Altíssimo, e, por isto, colocada nas mãos de Melquisedeque, seu sacerdote. Observe: (1) Quando recebemos algum sinal de misericórdia da parte de Deus, é adequado que expressemos a nossa gratidão, por meio de algum ato especial de piedosa caridade. Deus sempre deve receber o que lhe é devido daquilo que temos, especialmente quando, por alguma providência particular, Ele o preservou ou aumentou para nós. (2) Que a décima parte dos nossos ganhos é uma proporção bastante adequada a ser separada para a honra de Deus, e para o serviço do seu santuário. (3) Que a Jesus Cristo, nosso grande Melquisedeque, devemos prestar homenagens. Cada um de nós deve reconhecê-lo, com humildade, como nosso Rei e Sacerdote. Não devemos lhe entregar apenas o dízimo de tudo, mas tudo o que tivermos deve ser entregue a Ele. HENRY. Matthew. Comentário Bíblico Matthehw Henry. Deuteronômio.  Editora CPAD. 4 Ed 2004. pag. 87.

 

2. O dízimo como contribuição imposta. Há também aqueles que dizem que não devolvem seus dízimos hoje porque consideram essa uma prática imposta e não uma contribuição voluntária. De acordo com aqueles que assim pensam, não haveria nada no Novo Testamento que respaldaria a entrega do dízimo. Dessa forma, entendem que um fiel deve ofertar quando quer, onde quiser e com o valor que achar mais conveniente. Essa parece ser uma tese bastante piedosa, contudo, não resiste nem mesmo a um único princípio revelado nas Escrituras sobre o lugar das ofertas no culto cristão. Quando Paulo lembrou a igreja de Corinto que era dever desta cuidar do sustento dos obreiros, ele recorreu ao princípio do dízimo levítico: “Vocês não sabem que os que prestam serviços sagrados se alimentam do próprio templo e que os que servem ao altar participam do que é oferecido sobre o altar?” (1Co 9.13 – NAA). Evidentemente, o apóstolo Paulo estava falando do sacerdócio levítico. Se esse não era um princípio válido na Nova Aliança, então, por que ele o usou? Como viveria hoje um obreiro que fosse mantido por um crente que esporadicamente devolvesse seus dízimos e ofertas?

COMENTÁRIO

[…] a prática do Antigo Testamento (9.13).

Paulo cita outro exemplo para legitimar o seu direito de receber sustento da igreja. O argumento agora está fundamentado na prática do Antigo Testamento. “Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento?” (9.13).

Se você ler atentamente o capítulo 9 de I Coríntios perceberá que quase todo ele está em forma de perguntas. Eu imagino Paulo como um orador no tribunal, defendendo a sua causa. Ele está fazendo perguntas retóricas. Ele recorda o sacerdote e o levita no Antigo Testamento que cuidavam do templo, do ministério, e do altar. Quando alguém trazia a oferta, o dízimo e o sacrifício, o levita e o sacerdote recebiam para o seu sustento as primícias de tudo aquilo que era trazido à casa de Deus.

Os sacerdotes e os levitas recebiam o sustento financeiro dos sacrifícios e ofertas que eram trazidos ao templo. A regulamentação que governava a parte deles nas ofertas e nos dízimos está em Números 18.8-32; Levítico 6.14-7.36; Levítico 27.6-33. A aplicação feita pelo apóstolo Paulo é clara: Se os ministros do Antigo Testamento, que estavam sob a lei, recebiam sustento financeiro do povo a quem eles ministravam, não deveriam os ministros de Deus, no Novo Testamento, sob a graça, receberem também suporte financeiro? LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios Como Resolver Conflitos na Igreja. Editora Hagnos. pag. 175-176.

 

Em conformidade com isto, ordenou … o Senhor, ninguém menos que Ele, aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho.

A ordem é revestida da mais alta autoridade, visto que veio de Cristo.

Ao mesmo tempo, o precedente mostrou-que não é uma ordem arbritrária, mas uma ordem que se harmoniza com muitas ocupações. Nenhum mandamento do Senhor, exatamente nestes termos, foi preservado.

Talvez tenha sido dado um assim, ou então Paulo pode estar pensando em palavras como estas, “ digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10:7). Leon L. Morris. I Coríntios. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 108.

 

Paulo deu mais dois exemplos do seu direito de receber ajuda. Em toda parte, estava entendido que aqueles que exerciam funções sagradas (como servir no templo ou no altar) estavam “trabalhando” e, por essa razão, retiravam o seu sustento do trabalho. Eles não precisavam procurá-lo em outro lugar. Como parte do seu pagamento, os sacerdotes do Templo recebiam uma porção das ofertas sob a forma de alimentos (veja Nm 18.8-24), e isso também acontecia nos templos pagãos. Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 2. pag. 144.

 

III. A DOUTRINA BÍBLICA DA MORDOMIA CRISTÃ

 

1. Deus, o criador e provedor. O primeiro princípio básico da doutrina da mordomia bíblica está no fato de que Deus é o criador e o provedor de tudo: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.” (SI 24.1); “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra” (At 17.24). Tudo o que existe no mundo, incluindo todas as suas riquezas, foi criado por Deus. Tudo de bom que existe provém dEle. É Deus, portanto, a fonte de toda e qualquer riqueza que, porventura, o homem venha possuir. Esse princípio é claramente ensinado por Moisés: “lembrem-se do Senhor, seu Deus, porque é ele quem lhes dá força para conseguir riquezas” (Dt 8.18 – NAA). Assim, o sábio Salomão sabia que “a bênção do Senhor é que enriquece” (Pv 10.22). Ser dizimista e ofertante nada mais é do que reconhecer o Senhor como a fonte provedora de tudo.

COMENTÁRIO

Preceitos e Princípios

Antes de tratarmos dos princípios e normas que devem direcionar a mordomia de um cristão, convém dizer que nem todas as igrejas adotam ou possuem os mesmos modelos de mordomia. Mas o que deve ficar claro é que uma pessoa, ao aceitar voluntariamente fazer parte da membresia de uma igreja, deve ficar consciente de como aquela igreja pratica a mordomia cristã. Deve saber, por exemplo, como o estatuto de sua igreja especifica os deveres de cada membro, inclusive na questão de contribuição financeira.

O que não pode é o crente aceitar fazer parte de uma comunidade que tem entre seus princípios e normas receber dízimos e ofertas de seus membros, e se recusar a cumprir o que antes havia prometido fazer. Isso porque por ocasião do batismo as igrejas costumam perguntar aos batizandos se estão dispostos a seguir a orientação e as diretrizes dadas pela igreja. Ninguém é obrigado ou constrangido a fazer parte de igreja nenhuma. Toda adesão a uma determinada igreja e denominação deve ser feita de forma voluntária. Contudo, ao fazermos parte de uma igreja, devemos estar conscientes de que temos não apenas direitos, mas também deveres. O estatuto de nossa igreja diz, por exemplo, que são direitos dos membros:

receber orientação e assistência espiritual; participar dos cultos e demais atividades desenvolvidas pela Igreja; tomar parte das Assembleias Gerais ordinárias e extraordinárias; votar e ser votado, nomeado ou credenciado.

Por outro lado, é estatutário também o cristão cumprir com seus deveres:

cumprir o Estatuto, bem como as decisões ministeriais, pastoral e das Assembleias Gerais; contribuir, voluntariamente, com seus dízimos e ofertas[…] para as despesas gerais da Igreja, atendimentos sociais, socorro aos necessitados, missionários, propagação do evangelho, empregados a serviço da Igreja e aquisição de patrimônio e sua conservação.

Se essa parte dos deveres dos crentes descritas não fosse observada pela membresia da igreja, jamais faríamos as obras sociais que destaquei. Foram os dízimos e ofertas de gente simples, mas que acredita na graça de dar, de contribuir, que podemos fazer alguma coisa pelos necessitados. Aqueles que vivem a procurar texto-prova para não serem dizimistas já foram pegos pelo espírito de avareza há anos. Estão aprisionados e tudo o que conseguem fazer é criticar. Que Deus se apiede da alma deles.

Pois bem, vamos aqui destacar alguns princípios que acredito governarem a nossa mordomia dos dízimos e ofertas.

Em primeiro lugar, quando dizimamos e ofertamos, estamos reconhecendo a soberania e a bondade de Deus.

Um dos princípios básicos da prática do dízimo é o reconhecimento de que Deus é soberano sobre todas as coisas. Tudo vem dEle e é para Ele (Ag 2.8). Quando o crente devolve a Deus o seu dízimo, demonstra que reconhece o Senhor como a fonte de todas as coisas. À saudação de Melquisedeque: “Bendito seja o Deus Altíssimo”, respondeu Abraão dando-lhe o dízimo (Gn 14.20). O princípio da devolução do dízimo demonstra que somos dependentes de Deus. É lamentável que alguns crentes ignorem esse fato e ajam como se as suas conquistas materiais fossem apenas mérito de seus esforços (Jz 7.2). Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

 

Usualmente as riquezas terrenas têm essa mistura de tristeza, mas as riquezas materiais ideais, dadas por Deus, não têm essa adição perniciosa. Ou então a ideia pode ser que as riquezas de Deus, sendo do tipo espiritual, naturalmente não têm nenhuma mistura com as tristezas, conforme as riquezas terrenas inevitavelmente têm. Nenhum acúmulo de trabalho humano pode produzir o tipo de riquezas que Deus concede. Se essa é a ideia desta declaração, então um trecho paralelo é o de Mat. 6.33, que diz:

Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

“As bênçãos de Deus dão um aprazimento simplesmente, e Ele não impõe nenhum imposto sobre esse conforto” (Adam Clarke, in loc.).

Existem tragédias associadas ao lucro ganho de modo ilegítimo (ver Pro. 10.2), e o versículo pode significar apenas que o sábio, trabalhando arduamente, adquire riquezas sem que tenha de sofrer qualquer calamidade juntamente com elas, pois obteve seu ganho honestamente. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2589.

 

A questão no v. 22 é a da natureza dos ricos. O RSV lê como se a benção seja a riqueza que Yahweh dá, isto é, o enriquecimento espiritual. Isso é possível, mas estou inclinado a concordar com McKane (p 422) e traduzi-lo com o NEB: “A benção do Senhor traz riquezas e ele não envia nenhuma tristeza com eles”. O versículo deve estar relacionado com 10: 2 e interpretou com a ideia de que a maneira pela qual a riqueza é obtida é importante. Se um homem quer riqueza sem tristeza, ele deve obtê-lo por ser o tipo de homem que pode receber a benção de Yahweh. A riqueza, em si mesma, não é um índice seguro do caráter de um homem ou uma indicação de que ele é devido ao respeito dos seus vizinhos. O caráter da aquisição é fundamental – uma verdade muitas vezes esquecida na geração atual. Comentário Bíblico Broadman. Provérbios – Isaias. Editora JUERP.

 

2. O homem como despenseiro e administrador das coisas de Deus. Outro princípio igualmente importante no que concerne à mordomia cristã está no fato do homem ser despenseiro das coisas que Deus criou. Esse fato já aparece no início da Criação quando Deus criou um jardim e pôs o homem para cuidar dele (Gn 2.15). Para compreender a mordomia bíblica faz-se necessário saber que somos despenseiros e administradores daquilo que Deus nos deu. No Novo Testamento o apóstolo Paulo trata desse assunto na esfera ministerial: “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1Co 4.1). Somos despenseiros, não somos donos. Quando usamos esse princípio para todas as áreas das nossas vidas, experimentamos o cuidado e zelo de Deus. Escrevendo aos coríntios, o apóstolo Paulo advertiu que os “injustos” não herdarão o Reino de Deus (1Co 6.9). Ele põe na lista como sendo injustos: imorais, idólatras, adúlteros, efeminados, homossexuais, ladrões, bêbados e avarentos (1Co 6.10). A avareza também é um pecado gravíssimo. O avarento será excluído do céu. O apóstolo advertiu a Timóteo que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (1Tm 6.10).

COMENTÁRIO

[…] quando dizimamos e ofertamos estamos reconhecendo o valor do próximo.

Deuteronômio registra que havia um tipo de dízimo que deveria ser repartido entre os pobres (Dt 14.28,29; 26.12-15). Esse “dízimo comunitário” devia ser praticado a cada três anos. O propósito é mostrar apreço pelos menos favorecidos. Inclusive, há uma promessa de a bênção do Senhor estar sobre todas as atividades de quem cumprir esse preceito.

[…] quando dizimamos e ofertamos, estamos nos expondo às bênçãos de Deus.

Tanto o Antigo como o Novo Testamento demonstram que Deus reconhece e recompensa a fidelidade do seu povo. Quando o crente é liberal em contribuir para o Reino de Deus, uma decorrência natural do seu gesto é a bênção da multiplicação dada pelo Senhor. Deus promete derramar bênçãos sem medida e fazer abundar em toda graça (2 Co 9.6-10). Malaquias relaciona a prosperidade do povo de Israel à devolução dos dízimos e das ofertas (Ml 3.10,11). O mesmo princípio é destacado em o Novo Testamento quando Paulo diz que Deus é poderoso para fazer abundar em toda graça aqueles que demonstram voluntariedade em contribuir para o Reino de Deus.

O vocábulo dízimo quer dizer “a décima parte”. No contexto bíblico, refere-se àquilo que é devolvido ao Senhor, quer em dinheiro, quer em produtos e bens (Pv 3.9). Já a oferta tem o sentido de contribuição voluntária. O que deve ficar claro é que a Lei mosaica não criou as práticas do dízimo ou das ofertas, mas apenas deu-lhes conteúdo e forma por intermédio das diversas normas ou leis que as regulamentaram. Tal verdade fica patente ao constatar que o ofertar já era uma prática observada nos dias de Abel (Gn 4.4), e que o dízimo já era praticado pelos patriarcas (Gn 14.20; 28.22). No período mosaico, o dízimo aparece como preceito de um princípio já existente no período patriarcal. Os preceitos mudam e até desaparecem, todavia, os princípios são imutáveis e permanentes. De acordo com a Lei de Moisés, os dízimos deveriam ser entregues aos sacerdotes para a manutenção do culto e para o sustento dos levitas já que estes não tinham possessão em Israel (Nm 18.20-32).

Há aqueles que supõem que a prática do dízimo estava restrita ao Antigo Testamento. Esses precisam entender que a natureza e os fundamentos do culto não mudaram. Mudou apenas a forma e a liturgia, mas não a sua função: a adoração a Deus deve ser em espírito e verdade! O culto levítico com seus rituais já não existe. Todavia, o princípio da adoração continua o mesmo (1 Pe 2.9). O dízimo levítico pertencia à ordem de Arão, que era transitória. Entretanto, o dízimo cristão pertence à ordem de Melquisedeque que é eterna e, portanto, anterior à Lei de Moisés (Hb 5.10; 7.1-10; Sl 110.4). Jesus não veio ab-rogar a Lei, mas cumpri-la (Mt 5.17).

Ele não apenas reconheceu a observância da prática do dízimo, mas a recomendou (Mt 23.23). Nas Epístolas, Paulo faz referência ao dízimo levítico para extrair dele o princípio de que o obreiro é digno do seu salário (1 Co 9.9-14; Lv 6.16,26; Dt 18.1). Se o apóstolo não reconhecesse a legitimidade da prática do dízimo, jamais teria usado esses textos do Antigo Testamento. Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

 

Além de atrapalhar a vida social (Pv 28.25) e de conduzir a outros pecados, a avareza é errada porque dá valor máximo a um bem temporal e porque leva à apostasia (Sl 10.3). No final, será sempre necessário escolher entre Deus e Mamom, como ensinou Jesus (Mt 6.24). Na Idade Média os homens eram ensinados a vencer a avareza por meio da prática da virtude oposta, a de generosidade ou liberalidade. Embora não deixe de ter seu valor (Ef 4.28), essa solução poderá gerar uma atitude legalista. No lugar da avareza deveríamos desejar somente os valores de Deus e deixar que outros valores encontrem seu lugar com referência nele. Nas palavras de Agostinho: “Não permito que esses ocupem minha alma, mas que Deus ocupe todo meu ser”. (Dicionário de Ética Cristã. Carl F. H. Henry (org.); [tradução e atualização Wadislau Martins Gomes] – São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p 67). Renovato. Elinaldo,. Tempo, Bens e Talentos: Sendo Mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. 1 Ed 2019. Editora CPAD. pag. 88.

 

Tomou, pois, 0 Senhor Deus ao homem e 0 colocou no jardim. O homem estava apenas iniciando a sua carreira. O Pai proveu-lhe uma habitação, por certo um dos principais cuidados que qualquer pai tem com seus filhos.

Deus criou; Deus cuidava; Deus provia. Isso em contraste com as noções deístas, que pensam que Deus criou o homem mas então abandonou a Sua criação. Deus preparou a vida vegetal e, então, fez um trabalho todo especial no jardim do Éden. O homem sempre esteve na mente de Deus.

Este versículo é uma virtual repetição do vs. 8, onde o leitor deveria consultar os comentários. Naquele versículo também provi um artigo geral sobre 0 Jardim do Éden.

Para o cultivar e o guardar. Na ocasião, o homem recebeu um trabalho para fazer. Não foi deixado no ócio. A tarefa do homem era cultivar e tomar conta do jardim que Deus havia preparado. Isso posto, o seu trabalho era feito para Deus, um serviço divino. Cada indivíduo tem seu próprio jardim para cultivar e proteger, 0 que, sem dúvida, é uma das lições espirituais sugeridas neste texto. Idealmente, cada ser humano tem uma missão ímpar a cumprir. Sua vida deveria ser vivida de tal maneira que ele descobrisse essa missão e então a cumprisse. Ver meus comentários, no fim de Gên. 2.3, que cabem bem aqui.

Cada Indivíduo é um Jardineiro. Toda pessoa tem algo de importante para amar e para cuidar. Há um nobre serviço a ser realizado. Seu plantio medra como as flores e as árvores. Ali está tudo, e pode ser visto. Podem ser coisas dotadas de beleza para que ela mesma e outras pessoas possam contemplar. Esse plantio produz fruto. É útil para ela mesma e para outras pessoas. Cada indivíduo tem a responsabilidade de cultivar a tarefa que Deus lhe deu. Jesus apreciava os lírios do vale (Mat. 6.28). O próprio reino cresce como uma semente de mostarda (Mat. 13.31), O homem diligente deve ser como um semeador que, cheio de entusiasmo, sai para cumprir a sua tarefa (Mat. 13.3). Deus andava e conversava com o homem no jardim do Éden. Ele está sempre perto para ajudar e inspirar ao homem honesto que quer cumprir bem a sua tarefa. Cada missão tem uma provisão divina para que seja devidamente levada a efeito. Deus preparou o jardim; em seguida, preparou o homem; e também garantiu a sua fertilidade.

Aben Ezra referiu-se à necessidade de proteger o jardim do Éden das feras. Elementos estranhos que impedem a tarefa devem ser evitados ativamente. Ne- nhuma missão deixará de ter sua cruz para ser suportada; mas algumas vezes as pessoas vivem descuidadamente, permitindo que elementos prejudiciais venham atrapalhar.

“Mesmo estando no estado de inocência, não podemos conceber que o homem poderia sentir-se feliz, se ficasse inativo. Deus lhe deu um trabalho para fazer, e sua atividade contribui para a sua felicidade” (Adam Clarke, in ioc.). CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 27.

 

Horticultura, ou jardinagem, é o primeiro tipo de emprego no registro, e que em que o homem foi contratado, enquanto em um estado de perfeição e inocência. Embora o jardim pode-se supor que produzem todas as coisas espontaneamente, como a superfície vegetal toda a terra certamente fez na criação, ainda vestir-se e cultivar foram depois necessários para manter os diferentes tipos de plantas e vegetais em sua perfeição, e para reprimir a exuberância. Mesmo em um estado de inocência, não podemos conceber que seja possível que o homem poderia ter sido feliz se inativo. Deus lhe deu trabalho a fazer, e seu emprego contribuiu para a sua felicidade, pois a estrutura de seu corpo, bem como de sua mente, claramente prova que ele nunca foi destinado a uma vida meramente contemplativa. ADAM CLARKE. Comentário Bíblico de Adam Clarke.

 

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

O MORDOMO NO MUNDO ANTIGO

“No mundo antigo, era dada ao mordomo a responsabilidade de zelar de todas as propriedades, enquanto o senhor estivesse fora. Uma de suas tarefas principais era cuidar que os membros da casa recebessem a partilha de comida. Ele poderia dá-la diária, semanal ou mensalmente. O ponto é que seu trabalho lhe exigia que servisse e não exercesse poder. Seu senhor poderia voltar a qualquer momento. Quando o senhor volta, um ‘mordomo fiel e prudente’ deve estar desempenhando seus deveres. Jesus louva o servo que serve fielmente na ausência do senhor. Por sua eficiência, o senhor o recompensará (v.44) com uma promoção, dando-lhe responsabilidade não só sobre sua casa e servos, mas também sobre todas as suas propriedades” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.405).

 

CONCLUSÃO

Vimos nessa lição a doutrina da mordomia no contexto bíblico, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Vimos que a doutrina da mordomia é bíblica e como tal deve ser exercida por cada crente fiel a Deus. Dentro desse contexto, mostramos que a prática do dízimo e das ofertas é fundamentada em princípios bíblicos imutáveis e como tal deve ser observada e obedecida pelo crente que é fiel a Deus e que sente gratidão por tudo aquilo que Deus fez por ele. Entregar o dízimo e ofertar na obra de Deus são privilégios dispensados aos que são membros do Corpo de Cristo.

 

Espero ter ajudado...

Seu irmão em Cristo,

Francisco Barbosa

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REVISANDO O CONTEÚDO

1. Qual é a alegação mais comum dos que são contra a prática do dízimo?

®  A alegação mais comum, dentre muitas outras que existem, é que a prática do dízimo era um preceito mosaico.

2. A que princípio o apóstolo Paulo recorreu para cuidar do sustento dos obreiros?

®  Ao princípio do dízimo levítico.

3. Qual é o princípio básico da doutrina da mordomia bíblica?

®  O primeiro princípio básico da doutrina da mordomia bíblica está no fato de que Deus é o criador e o provedor de tudo (S124.1).

4. O que é ser dizimista e ofertante?

®  Ser dizimista e ofertante nada mais é do que reconhecer o Senhor como a fonte provedora de tudo.

5. Qual é o pecado gravíssimo mencionado na lição?

®  O pecado da avareza.