VOCÊ PODE AJUDAR O BLOG: OFERTE PARA assis.shalom@gmail.com

UM COMENTÁRIO APROFUNDADO DA LIÇÃO, PARA FAZER A DIFERENÇA!

Este Blog não é a palavra oficial da Igreja ou da CPAD. O plano de aula traz um reforço ao seu estudo. As ideias defendidas pelo autor do Blog podem e devem ser ponderadas e questionadas, caso o leitor achar necessário. Obrigado por sua visita! Boa leitura e seja abençoado!

Classe Virtual:

SEJA MANTENEDOR!

Esse trabalho permanece disponível de forma gratuita, e permanecerá assim, contando com o apoio de todos que se utilizam do nosso material. É muito fácil nos apoiar, pelo PIX: assis.shalom@gmail.com – Mande-me o comprovante, quero agradecer-lhe e orar por você (83) 9 8730-1186 (WhatsApp)

22 de setembro de 2021

LIÇÃO 13: O CATIVEIRO DE JUDÁ

 

 

TEXTO ÁUREO

“Porém zombaram dos mensageiros de Deus, e desprezaram as suas palavras, e escarneceram dos seus profetas, até que o furor do Senhor subiu tanto, contra o seu povo, que mais nenhum remédio houve.” (2 Cr 36.16)

 

VERDADE PRATICA

Todo o ser humano se torna cativo de suas escolhas e das consequências delas.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

2 Reis 24.18-20; 25.1-10

 

COMENTÁRIO INTRODUÇÃO

A fase final do reino de Judá foi protagonizada por quatro reis: Joacaz, filho do rei Josias (2 Cr 36.1); Jeoaquim, que reinou por ocasião do primeiro grupo de prisioneiros levados para Babilônia, em 605 a.C. (2 Cr 36.5,6); Joaquim, que reinado, vivenciou o cerco de Jerusalém por Nabucodonosor, que resultou em dez mil pessoas presas, em 597 a.C. (2 Cr 36.9,10); e Zedequias, o rei entronizado por Nabucodonosor no lugar de Joaquim (2 Cr 36.10,11). Nesta lição, veremos Zedequias rebelando-se contra o rei de Babilônia, causando um novo cerco que durou dezoito meses e, finalmente, resultou na queda definitiva de Jerusalém, em 586 a.C.

 

Comentário

O estágio final do Reino de Judá, também chamado de Reino do Sul, foi protagonizado por quatro reis vassalos, que agiram malignamente segundo a avaliação religiosa do autor dos Reis, e por um bom último governador. O primeiro rei foi Jeoacaz, filho do reformador Josias. Jeoacaz praticou muitas iniquidades, a despeito do zelo do seu pai. Como início do declínio do reino, foi feito vassalo do Faraó-Neco, que impôs pesados tributos sobre Judá, na quantia de três toneladas e meia de prata e 35 quilos de ouro. O Faraó ainda o tirou do trono, levou-o para o Egito e, no seu lugar, colocou Jeoaquim, que impôs uma carga de impostos sobre o povo para dar conta dos tributos do Faraó. Igualmente, Jeoaquim foi um mau rei no sentido de não servir ao Senhor.

No reinado de Jeoaquim, aconteceu a primeira leva de prisioneiros para a Babilônia em 605 a.C. Nessa ocasião, dentre os cativos, levaram o profeta Daniel. Nessa data, começa a contagem de 70 anos de cativeiro da profecia de Jeremias, que terminaria em 586 a.C. sob o reinado de Ciro. Quando Jeoaquim rebelou-se contra Nabucodonosor, rei da Babilônia, achando que poderia livrar-se dele, a Bíblia informa que Deus enviou contra ele revolucionários caldeus, siros, moabitas e amonitas. Segundo a profecia de Jeremias, Jeoaquim seria arrastado e morto como um animal para fora da cidade, sem um sepultamento digno de um rei, o que aconteceu de fato.

Com a morte de Jeoaquim, o seu filho Joaquim assumiu o trono. Com três meses de reinado, Nabucodonosor veio debelar a rebelião que o seu pai havia iniciado, fazendo o cerco a Jerusalém em 597 a.C., levando cativas dez mil pessoas entre nobres e artesãos, pessoas que tivessem alguma utilidade e das classes mais altas. Dentre eles, foi deportado o profeta Ezequiel, mas o seu ministério iniciaria somente na Babilônia. Nabucodonosor levou todos os tesouros do Templo de Salomão e da casa do rei.

No lugar de Joaquim, Nabucodonosor estabeleceu como rei vassalo a Zedequias, parente de Joaquim, cujo nome significa “Jeová é justo” ou “justiça de Jeová”, numa alusão ao que Jeová estava fazendo com Judá de forma justa. Zedequias, porém, rebelou-se contra a Babilônia, o que acarretou num novo cerco babilônico, que durou 18 meses; e, finalmente, a terceira leva de cativos ocorreu em 586 a.C. com a queda final de Jerusalém. A Babilônia também levou todo o restante das riquezas do Templo e de Jerusalém, bem como os utensílios do Templo.

Para governar a cidade, Nabucodonosor deixou Gedalias, um aliado de Jeremias e da política pró-babilônica, motivo pelo qual foi indicado pelo Império Babilônico. Mas, como tinha um espírito pacífico e era um pouco ingênuo (Jr 13.16), uma conspiração tirou-lhe a vida, o que apavorou todo o povo de Judá, que teve de fugir para o Egito para evitar a fúria de Nabucodonosor. Nessa fuga, o profeta Jeremias foi levado forçadamente a contragosto para o Egito. (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

Esse título refere-se ao período da história dos judeus que começou no ano de 597 A.C., quando foi deportado o primeiro grande grupo de judeus juntamente com seu rei, Jeoiaquim, para Babilônia por determinação de Nabucodonosor. Esse período terminou em 538 A.C., quando Ciro, vencedor persa da Babilônia, baixou um decreto concedendo aos judeus o direito de retornarem a Jerusalém a reconstruírem o templo (ver o artigo). No período entre essas duas datas, tiveram lugar diversas outras deportações, entre as quais aquela após a destruição do templo, em 587 A.C. As fontes informativas diferem no tocante ao número de judeus que foram exilados, conforme se vê mediante a comparação dos trechos de II Reis 24:14,16 e Jeremias 52:28-30. O certo, porém, é que pelo menos vinte mil judeus foram deportados. Os judeus, chegados a Babilônia, desfrutaram de condições relativamente favoráveis. O solo ali era mais fértil que o da Judéia, e os agricultores judeus facilmente podiam cultivá-lo. Alguns deles conseguiram enriquecer. Muitos tornaram-se tão bem sucedidos na Babilônia que recusaram-se a retomar à Palestina, quando Ciro lhes permitiu o retomo. Contudo, ajudaram financeiramente àqueles que desejaram voltar do exílio. Cerca de quarenta e dois mil judeus retomaram a Judéia, em 538 A.C. E aqueles que permaneceram na Babilônia, formaram o núcleo de uma comunidade que, séculos mais tarde, tornou-se um importante centro da erudição e das tradições judaicas.

Tanto o cativeiro assírio quanto o babilónico haviam sido preditos pelos profetas do Antigo Testamento. Por detrás desses cativeiros havia razões morais e espirituais, e não apenas econômicas, militares e políticas, que se originam dos conflitos entre os povos. É verdade que todos esses fatores existiam; mas ao povo de Deus só sucede aquilo que Ele permite ou ordena. É assim, todas as grandes modificações, relativas a indivíduos ou nações, dependem, em última análise, da vontade de Deus. O juízo divino sobrevêm aos desobedientes e interrompe, se não mesmo destrói, tudo quanto estiver sendo feito de positivo. Todavia, o juízo divino sempre é remediai, e não apenas punitivo. A apostasia pode ser revertida pelo julgamento divino; e, com frequência, Deus pode fazer coisas boas através do juízo divino, que não podem ser realizadas de outra maneira qualquer.

Quanto à interpretação das predições proféticas de que o cativeiro babilónico foi um juízo divino, ver os trechos de Isaías 54:9,10 e Jeremias 31:3-6. Resultados do cativeiro babilónico: Esse evento demonstrou a soberania de Deus e também o Seu interesse pelo Seu Povo. A universalidade de Deus foi demonstrada, porquanto ficou provado que Ele trata com todas as nações, e não apenas com Israel. Além disso, os judeus exilados levaram o judaísmo a lugares que doutra sorte, só teriam sido atingidos dentro de muitos séculos. E isso deu um grande avanço à mensagem espiritual. (ALB AM BAD BAR E) (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3988-3989).

 

Todas as grandes nações cometeram suicídio.” O líder político inglês Richard Cobden fez essa observação, ilustrada, de modo bastante apropriado, pela história do reino de Judá. Não foram golpes militares ou políticos externos e inesperados que derrubaram Judá. A nação cometeu suicídio ao se deteriorar moral e espiritualmente de dentro para fora. Esses capítulos narram a história trágica dos últimos anos de uma grande nação. Podemos observar os passos de seu declínio e as decisões de seus reis que arrastaram o povo para a destruição.

O rei Josias foi um homem piedoso, com um desejo sincero de servir ao Senhor, mas que cometeu um erro tolo ao atacar o Faraó-Neco. Sua interferência nos assuntos do Egito foi uma decisão política pessoal e não uma ordem recebida do Senhor. Josias queria evitar que o Faraó-Neco ajudasse a Assíria a lutar contra a Babilônia, sem perceber que a Babilônia – e não a Assíria – se mostraria a maior inimiga de Judá. Josias foi mortalmente ferido por uma flecha em Megido e morreu em Jerusalém. Com a morte desse rei piedoso, Judá perdeu sua independência e teve de se sujeitar ao domínio egípcio. Essa situação estendeu-se de 609 a.C. até cerca de 606 a.C., quando o Egito retirou-se e a Babilônia assumiu o controle. De acordo com 1 Crônicas 3:15, 16, Josias teve quatro filhos: Joanã; Eliaquim, chamado posteriormente de Jeoaquim; Matanias, chamado posteriormente de Z edequias e Salum, também conhecido como Jeoacaz. Não temos informação alguma sobre Joanã e podemos supor que ele morreu quando ainda criança. Quando Josias faleceu, o povo colocou no trono seu filho mais novo, Jeoacaz, passando-o à frente de seus dois irmãos mais velhos. Seu nome era Salum (Jr 22:11), mas ao assumir o trono, foi chamado de Jeoacaz. Ele e Zedequias eram irmãos por parte de paí e mãe (2 Rs 23:31; 24:18). E evidente que o Jeremias mencionado em 23:31 não é o profeta Jeremias, uma vez que o profeta não era casado (Jr 16:1, 2).

Jeoacaz reinou apenas três meses. Quando Neco estava voltando para o Egito, depôs Jeoacaz e colocou no trono Eliaquim. Mudou o nome do novo rei para Jeoaquim e impôs um tributo pesado sobre Judá. É bem provável que Jeoaquim tivesse uma política favorável ao Egito, enquanto Jeoacaz favorecia alianças com a Babilônia, como havia feito seu pai, Josias. O Faraó encontrou-se com Jeoacaz no quartel-general egípcio, em Ribla, e de lá o levou para o Egito, onde Jeoacaz morreu. Esses acontecimentos haviam sido preditos pelo profeta Jeremias. O profeta disse ao povo para não prantear a morte de Josias, mas sim o exílio de seu filho e sucessor, Salum, pois ele jamais voltaria a ver Judá (Jr 22:10-12). Porém, ao contrário do pai, Josias, Jeoacaz foi um homem ímpio e um rei perverso e mereceu o exílio.

Jeová chamou Israel para ser um povo “que habita só e não será reputado entre as nações” (Nm 2 3 :9 ). Deveria depositar sua fé somente no Senhor e não em concessões ou tratados realizados por diplomatas astutos. Israel era a “propriedade peculiar” de Deus, um “reino de sacerdotes” (Êx 19:5, 6; ver Dt 7:6-11). Foi Salomão quem tirou Israel de sua posição de isolamento e colocou a nação no cenário da política internacional. Casou-se com setecentas mulheres (1 Rs 11:3), sendo que a maioria dessas esposas representava tratados firmados com governantes e homens influentes, pais ou irmãos dessas mulheres. Esses tratados permitiram o afluxo de riquezas para a nação e a mantiveram afastada de guerras, mas no final, tanto Salomão quanto Israel entregaram-se à idolatria das nações a seu redor (1 Rs 11:1-13).

Se o povo de Israel tivesse obedecido ao Senhor e guardado sua aliança, ele os teria colocado à frente das nações (Dt 28:1 – 14), mas sua desobediência redundou em derrotas e na dispersão pelas nações da Terra. Infelizmente, a Igreja seguiu o péssimo exemplo de Israel e se envolveu com o mundo em vez de manter-se separada dele (2 Tm 2:4; Tg 1:27; 1 Jo 2:15-17). Os cristãos encontram-se no mundo, mas não são do mundo, o que nos permite ir ao mundo e falar de Jesus Cristo aos pecadores (Jo 1 7:13-19). Campbell Morgan comentou que as maiores contribuições da Igreja ao mundo se deram quando ela se parecia menos com ele. Seja separado e diferente! (WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 579-580).

 

 

 

I – O DECLÍNIO ESPIRITUAL DE JUDÁ

 

  1. As advertências dos profetas. Os profetas do Antigo Testamento foram unânimes e incansáveis em denunciar as injustiças e as terríveis transgressões do povo e dos líderes da nação (Jr 11.9-12). Todos foram taxativos em dizer que aquelas vindicações, especialmente contra o pecado de idolatria, já estavam excedendo as medidas de Deus.

 

Comentário

Vários profetas haviam predito a ruína de Jerusalém, incitando o povo ao arrependimento para que a justiça divina não agisse contra o povo, a Cidade Santa e o Templo, mas todos os avisos foram em vão. Dentre os profetas pré-exílicos do Reino do Sul, podemos citar Miqueias, Sofonias, Naum e Habacuque. Joel e Obadias profetizaram bem antes do exílio. Isaías foi o maior profeta em período anterior ao exílico de Judá, e Jeremias anunciou, acompanhou e relatou todas as atrocidades dos cercos babilônicos e da sorte dos cativos. Ezequiel e Daniel atuaram no exílio.

A definição de profeta no Antigo Testamento hebraico é nabi, que significa propriamente profeta, mas também visionário, vidente. A profecia servia para declarar os pensamentos e conselhos do Senhor com uma palavra divinamente ungida para uma situação específica.

A vocação profética no Antigo Testamento contava com três elementos em comum:

a) Forte experiência de Deus, como Isaías, no Templo, e Jeremias, que se assustou diante da responsabilidade: “sou como uma criança”;

b) Estavam convictos de que Deus chamava-os a uma missão: Jeremias como fogo devorador nos seus ossos (Jr 20.9); Amós disse que Deus rugiu como um leão no seu interior (Am 3.8);

c) A experiência com Deus causou profunda mudança na vida dos profetas: Jeremias, de uma desencorajada criança, passa a denunciar o culto idólatra e o paganismo; para outros, a experiência foi tão forte que guardaram a data: Ezequiel, no 5º dia do 5º ano da deportação.

Os profetas tinham um caráter de denúncia da injustiça, da opressão e do pecado e apelavam à consciência do povo, mas especialmente aos líderes, indicando que os fatos denunciados, bem como a idolatria, estavam chegando na medida de Deus enviar o seu juízo, o que, de fato, aconteceu com o cativeiro babilônico. A necessidade deles no Antigo Testamento é pela quase ausência da palavra escrita, necessitando-se de arautos orais dos oráculos divinos.

O poder da verdadeira profecia, conforme o modelo bíblico do Antigo Testamento, está no fato de alertar para o futuro e denunciar o presente (como a maioria dos profetas do Antigo Testamento fizeram) com as suas mazelas sociais, corrupção, pobreza, manipulação da religião, falso moralismo, opressão dos pobres e minorias, injustiças e outras formas de opressão maligna na sociedade. (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

Disse-me ainda o Senhor: Uma conspiração se achou entre os homens de Judá. O povo de Israel revoltou-se diante dos ensinos da lei. Eles não eram pecadores por ignorância. A revolta não era política, mas espiritual. O rei Josias forçou outras conformidades. Durante algum tempo, o povo teve de agir obedecendo aos ditames e às provisões da legislação mosaica. Mas o coração deles nem por isso foi mudado. A revolta íntima não demorou a externar-se, e Judá tornou-se pior do que nunca, caindo em total idolatria-adultério-apostasia e tornando assim inevitável o cativeiro babilónico. “A idolatria deles não resultou de algum impulso precipitado (ver Sal. 83.5; Eze. 22.26)” (Fausset, in loc.). “Eles eram todos íratres conjurati, Irmãos jurados’, determinados a desvencilhar-se do jugo divino e a não mais terem Deus para reinar sobre eles” (Adam Ciarke, in loc.).

Tornaram às maldades de seus primeiros pais, que recusaram ouvir as minhas palavras. A revolta dos filhos de Israel assumiu a forma de várias modalidades de idolatria, que representava o abandono a Yahweh, o outro assinante, por assim dizer, do pacto. Portanto, o acordo do pacto foi quebrado. Judá era como uma esposa adúltera, que se divorciou de seu marido (Jer. 3.1-2,13-14). Os judeus da época de Jeremias seguiram o mau exemplo de seus pais e tornaram-se ainda piores que eles. Recusavam-se a ouvir as palavras da lei; rejeitavam e negligenciavam as revelações divinas. Tanto Israel (as dez tribos do norte) quanto Judá (as duas tribos do sul) estavam unidas em sua revolta, embora a nação do norte tenha caído primeiro. Ambas anularam o pacto com sua desobediência. Ver no Dicionário o artigo intitulado Rebelião, que serve para ilustrar o texto presente. “A decisão deliberada de Judá, de seguir seus ídolos, garantiu para ela sua condenação” (Charles H. Dyer, in loc.).

Na mente divina, os babilónios já estavam batendo nos portões de Jerusalém. O rei Josias forçou uma reforma externa. A idolatria tinha sido proibida por decreto divino. A maior parte dos lugares altos tinha sido destruída. Mas, assim que Josias saiu do palco da história (mediante sua morte), todas as antigas abominações dos israelitas logo voltaram.

Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre eles. Deus Impôs aos Judeus a Calamidade. O maior desastre de toda a história da nação de Judá foi o cativeiro babilónico, que começou com matança e pilhagem generalizada, e terminou com a deportação de poucos sobreviventes para a Babilónia. Até mesmo na Babilónia, entretanto, a espada seguiria os judeus, e a matança continuaria (ver Jer. 9.16). Quando o desastre desaba, corações endurecidos são quebrantados, e o povo, em uníssono, clama a Yahweh pedindo misericórdia e livramento; mas os clamores geralmente são emitidos tarde demais. Cf. Isa. 1.15 e Miq. 3.4. A eficácia das orações é anulada pelos hipócritas e réprobos. Quando as coisas estavam em paz, eles continuaram invocando deuses pagãos, dando-lhes o crédito por seu bem-estar. Na crise, no entanto, seus deuses não os ajudavam, e a Fonte da verdadeira ajuda os ignorava. Ver o vs. 1 quanto a clamores a deuses que nada representavam.

Então as cidades de Judá e os habitantes de Jerusalém irão aos deuses. Os gritos de agonia dos judeus subiriam a qualquer divindade, ou a Deus, que quisesse ouvi-los e ajudá-los. Os deuses, que tinham sido honrados por eles, recebendo sua adoração, seu incenso queimado e suas orações, que os ouvissem em seus momentos de crise. Eles seguiriam seus absurdos até o fim, promovendo seu doentio sincretismo (Yahweh e os deuses pagãos eram os objetos de suas orações); ou seguiriam um paganismo completo, com divindades de toda a sorte, emprestadas de vários povos vizinhos. O vs. 13 deste capítulo mostra a tremenda extensão da idolatria dos judeus. Cf. este versículo com Jer. 2.28 e Deu. 32.37-38. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3022).

 

O povo volta ao antigo pecado. Novamente o Senhor mostra a Jeremias que a velha maldade da idolatria dos antigos estava de volta à cidade, e vê isto como uma “conspiração”. A reforma de Josias, o bom rei de Judá, tinha perdido o seu ímpeto, e o povo, que dias tão felizes tinha visto, voltou-se aos antigos costumes, “como a porca lavada voltou a revolverse no lamaçal” (II Ped. 2:22). Tornaram às iniquidades de seus primeiros pais (v. 10), refere-se ao que era Israel antes de Josias, e não ao que era nós dias de Moisés, quando o pecado da idolatria ainda não havia roído o cerne espiritual do povo. Uma religião sem poder era o que o profeta descobria no seu povo. De fato, o judaísmo, com todo o seu grande e admirável cerimonial, não tinha poder para penetrar o coração, o que só o evangelho faz, por meio do Espírito Santo. Todas as religiões étnicas sofrem desse mal e até algumas religiões cristãs, ou assim ditas. A volta ao paganismo idolátrico importava na quebra da aliança entre Deus e o povo. Em vista dessa quebra do concerto, o castigo estava mais perto do que nunca, e quando o povo clamasse, Deus não o ouviria (v. 11). Será bom repetir que a idolatria não se circunscrevia à adoração de Baal, mas às suas práticas imorais, como a de Baal-Peor (Núm. 25:1-6). Toda idolatria leva à imoralidade, pois, sendo uma religião sensual, termina solicitando da natureza humana a correspondência sensual. (Mesquita. Antônio Neves de,. Jeremias. Editora JUERP).

 

 2. Previsão dos acontecimentos que levaram Judá ao exílio. O ministério de Jeremias foi o mais importante desse período. Ele iniciou suas atividades proféticas no reinado de Josias e deu continuidade durante os quatro reinos seguintes ( Jr 1.1-3). No tempo desse grande profeta, havia muita discórdia e confusão sobre o que era a de Deus. Por isso precisamos estar atentos para discernirmos a Palavra do Senhor. Ao advertir o povo sobre os pseudo profetas, Jeremias o fez de modo tão peculiar, que parece estar se referindo aos falsos profetas dos nossos dias (Jr 23.16,17).

 

Comentário

O profeta Habacuque previu detalhes de como seria o exército babilônico e as suas estratégias de guerra: Vede entre as nações, e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizo, em vossos dias, uma obra, que vós não crereis, quando vos for contada. Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e apressada, que marcha sobre a largura da terra, para possuir moradas não suas. Horrível e terrível é; dela mesma sairá o seu juízo e a sua grandeza. Os seus cavalos são mais ligeiros do que os leopardos e mais perspicazes do que os lobos à tarde; os seus cavaleiros espalham-se por toda parte; sim, os seus cavaleiros virão de longe, voarão como águias que se apressam à comida. Eles todos virão com violência; o seu rosto buscará o oriente, e eles congregarão os cativos como areia. E escarnecerão dos reis e dos príncipes farão zombarias; eles se rirão de todas as fortalezas, porque, amontoando terra, as tomarão. Então, passarão como um vento, e pisarão, e se farão culpados, atribuindo este poder ao seu deus. (Hc 1.5-11)

O ministério de Jeremias foi o mais importante durante os episódios do cativeiro. Iniciou-se durante o reinado de Josias e esteve ativo durante os próximos quatro reis; portanto, acompanhou cinco reis. Ele profetizava na porta do Templo (cap. 7), tanto para o povo, quanto para a classe dominante. A sua formação para ser sacerdote permitiu-lhe ser um homem culto; por isso, os seus escritos são de uma literatura rica e cheia de trocadilhos, como este: em 23.10, ele usa um trocadilho no hebraico para profetas = nebî’îm (sing. navi) e adúlteros = mena’pîm, referindo-se aos muitos profetas falsos que antecederam a última leva de cativos em 586 a.C., que anunciavam que a Babilônia não voltaria mais, o que encorajou alguns reis a rebelarem-se contra o império. O falso só existe porque há o verdadeiro; o falso só se manifesta no meio do verdadeiro, tomando a forma deste. Nem sempre a maioria e a liderança estão certas nas suas opiniões — é o caso de Jeremias, pois ele era minoria. O próprio Jesus cita as palavras de Jeremias, mostrando como ele pode ser contemporâneo até para nossos dias ainda: “É, pois, esta casa, que se chama pelo meu nome, uma caverna de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isso, diz o Senhor” (Jr 7.11; ver Mt 21.13; Mc 11.17; Lc 19.46).

Havia muita confusão no tempo de Jeremias entre o que era, de fato, Palavra de Deus e o que era falso. Havia muitas vozes discordantes, exatamente como é hoje. Assim, precisamos prestar muita atenção para discernir a Palavra de Deus. Jeremias é atualíssimo quando fala desses falsos profetas:

Assim diz o Senhor dos exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam; ensinam-vos vaidades e falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor. Dizem continuamente aos que me desprezam: O Senhor disse: Paz tereis; e a qualquer que anda segundo o propósito do seu coração, dizem: Não virá mal sobre vós. (Jr 23.16,17)

A proliferação de falsos profetas ocorre por causa de crentes e líderes que não conhecem verdadeiramente o Senhor em uma sociedade consumista e hedonista. Não foram libertos da ganância e, por isso, querem ouvir palavras de prosperidade da parte do Senhor.

Jesus referiu-se a esses falsos profetas quando disse: Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. (Mt 7.20-23)

Jeremias foi muito enfático e assertivo nas suas predições: “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.13). A profundidade das profecias chocaram as autoridades da época, que retaliaram várias vezes contra a vida do profeta. (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam. Este é o terceiro oráculo da coletânea que há na seção dos vss. 9-40. Todos esses oráculos atacam os falsos profetas de alguma maneira. Enquanto Jeremias previa a guerra, a fome, a seca e a pestilência, por causa dos pecados de Judá, os falsos profetas falavam em paz e prosperidade (ver Jer. 6.14 e 8.11). Jeremias era inspirado por Yahweh, mas aqueles mentirosos tinham visões e sonhos falsos, que procediam de suas próprias psiques. Naqueles tempos horríveis, nada havia de bom para ser previsto. Não devemos compreender que os falsos profetas “criaram” ou inventaram tudo quanto diziam, enganando propositadamente o povo. Pelo contrário, devemos entender que eles tinham sonhos e visões falsas. A maior parte desses sonhos e dessas visões era criada pelos próprios profetas, pois o homem tem o poder psíquico de produzir tais coisas. O texto não fala de poderes demoníacos, que algumas vezes podem estar por trás de profecias falsas. Eles eram profetas de palha, não de trigo (vs. 29).

Note o leitor o título divino de poder e autoridade: o Senhor dos Exércitos. Ver sobre isso em I Reis 15.18 e no Dicionário. O Poder Supremo, pois, solicitou que o povo de Judá não ouvisse as palavras dos falsos profetas, que estavam desviando as massas com suas falsas promessas de paz e segurança. Nem todo o homem que entra em transe tem algo para dizer digno de atenção. Seu transe pode ser auto-induzido, e não induzido por Deus. Sua mensagem pode originar-se em sua própria psique, e não no Espírito Santo. Estudos modernos demonstram que uma visão não é prova da verdade. As visões podem ser produções totalmente humanas, podem ser demoníacas, ou podem ser divinas, o que significa que os espíritos devem ser submetidos a teste (ver I João 4.1). Os místicos verdadeiros duvidam de suas visões e as submetem a teste. Ver no Dicionário o artigo chamado Misticismo. Há um misticismo verdadeiro, e há um misticismo falso. Cf. este versículo com Jer. 2.5; 14.14; II Reis 17.15; Jon. 2.8. Ver especialmente as notas expositivas em Jer. 14.14, versículo diretamente paralelo.

Dizem continuamente aos que me desprezam; O Senhor disse; Paz tereis. Uma característica que desagradava nos falsos profetas era que eles tratavam gentilmente os pecadores, consolando-os com falsidades. Em vez de proferir maldições contra eles, prometiam aos pecadores segurança, conforto e prosperidade. Continuamente espalhavam suas falsidades entre as massas populares, que eram enganadas por eles. Até os que desprezavam a Yahweh, apostatando Dele, recusando-se a obedecer à Sua lei e a pôr em prática o Seu culto, os falsos profetas confortavam, predizendo-lhes paz. Dessa forma, eles contradiziam a Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura (ver a respeito no Dicionário). Ademais, eles consolavam os que andavam abertamente na iniquidade, seguindo as vãs imaginações do próprio coração (ver Gên. 6.5), em vez de seguir os mandamentos da legislação mosaica. E também afirmavam que nenhum mal sobreviria aos pecadores. Cf. Jer. 13.10 e Zac. 10.2. Suas falsas mensagens deveriam bastar para revelar a falsidade de suas profecias.

O povo de Judá, entretanto, preferia deixar-se enganar, pois não queria mudar de conduta. Os falsos profetas serviam lixo para o povo comer, mas o povo parecia gostar. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3060).

 

Por isso a Condenação Desses Falsos Profetas Será Infalível (23:17-20)

Diziam continuamente ao povo: Paz tereis… não virá sobre vós (v. 17), ao contrário de toda a verdade. O diziam por si próprios e que Jeremias estava vendido aos caldeus para falar mal de Jerusalém, não sendo isso o que o Senhor havia dito, e assim por diante. Quem poderia entender-se em tal labirinto de mentiras e hipocrisias? Eles efetivamente não tinham mensagem do Senhor, e então inquiriram: Quem dentre eles esteve no concílio do Senhor, para que percebesse e ouvisse a sua palavra, ou quem esteve atento e escutou a sua palavra? (v. 18). Era um argumento válido, pois quem tinha visto e ouvido a palavra do Senhor? Eles, não a tendo visto nem ouvido, diziam que ninguém tinha visto ou ouvido o Senhor. Jeremias tinha visto e ouvido, mas estava fora do páreo e ninguém lhe dava crédito. Os versos 19 e 20 parecem quebrar a lógica da discussão, e alguns escritores acham que são uma repetição de

30:23,24. Para nós não oferecem essa dificuldade. Parece tratar-se de interferência de Deus, prometendo o que efetivamente estava para vir – uma tempestade que já afetara a cabeça dos falsos profetas, e, portanto, a ira do Senhor não se desviaria, até que tudo fosse cumprido. Então, muito tarde, é certo, ver-se-ia quem estava com a verdade, quando cada qual ia procurar um buraco nas muralhas, para fugir dos soldados invasores. O que Jeremias afirma é: Nos últimos dias entendereis isso claramente (v. 20). Jeremias estava certo e seguro da sua palavra, e os que estavam dentro da cidade de Jerusalém veriam quem falava a verdade. Era uma competição desigual e muito difícil. (Mesquita. Antônio Neves de,. Jeremias. Editora JUERP).

 

 3. Motivos que levaram Judá ao cativeiro. O cativeiro aconteceu especialmente por causa da obstinada desobediência da liderança judaica. Essa posição é consolidada por vários outros profetas, dentre eles, Miquéias (Mq 3.9-11). Além da idolatria, pecados abomináveis foram cometidos contra Deus: derramaram sangue inocente (2 Cr 24.17-22); cometeram todo tipo de corrupção e injustiça social (Hc 1.2-4); não observaram o descanso sabático e ainda mataram muitos dos seus profetas (Mt 23.35).

A situação de Judá é uma triste realidade para um povo que recebeu tantas profecias, avisos e oportunidades de arrependimento, mas decidiu pela apostasia. Ao olhar para a história de Judá, cultivemos o sentimento de humildade em nosso coração (cf. Rm 20.21) para que o temor a Deus nos previne de toda apostasia (Hb 12.16,17). Andar com Ele é a melhor maneira de remover os obstáculos da alma que nos atrapalham na caminhada cristã.

 

Comentário

O cativeiro aconteceu especialmente por causa da liderança. Em todo o livro dos Reis, o autor sagrado deixa isso transparecer, culminando a ideia num momento de esperança frustrada com a reforma de Josias, que enfatizava que o problema da perdição não estava no povo, mas na liderança. Essa ideia é corroborada por vários profetas como visto neste capítulo; dentre eles, está Miqueias:

Ouvi agora isto, vós, chefes da casa de Jacó, e vós, maiorais da casa de Israel, que abominais o juízo e perverteis tudo o que é direito, edificando a Sião com sangue e a Jerusalém com injustiça. Os seus chefes dão as sentenças por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá. Portanto, por causa de vós, Sião será lavrado como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa, em lugares altos de um bosque. (Mq 3.9-12)

Jeremias também evidencia a liderança como causadora do cativeiro:

“Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? E os que tratavam da lei não me conheceram, e os pastores prevaricaram contra mim, e os profetas profetizaram por Baal e andaram após o que é de nenhum proveito” (Jr 2.8).

Após vários avisos, a começar pelo do profeta Elias de forma oral até os profetas que escreveram os seus vaticínios, todos alertaram contra o terrível pecado da idolatria, que tira o Senhor do seu devido lugar e entroniza deuses criados pela imaginação humana. Além da idolatria, havia: o derramamento de sangue inocente que vários reis praticaram, como o caso de Manassés; a questão da justiça social denunciada por vários profetas (Hc 1.2-4); a não observância do descanso sabático pelas pessoas e também da terra; além da morte de vários profetas, o que foi denunciado por Jesus: “para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar” (Mt 23.35). A situação de Judá foi uma triste realidade para um povo que recebeu tantas profecias, avisos e oportunidades de arrependimento.

A situação de rebeldia era tão periclitante que, quando Deus mandou o profeta Jeremias registrar pela primeira vez as suas profecias em um rolo de livro, e após Baruque, o ajudante de Jeremias, ler o seu conteúdo na porta do Templo diante de todo o povo, embora tenha caído um grande temor sobre os príncipes, o mesmo não aconteceu com o rei, pois mandaram Jeremias e Baruque esconderem-se com receio de serem mortos:

E sucedeu que, tendo Jeudi lido três ou quatro folhas, cortou-o o rei com um canivete de escrivão e lançou-o ao fogo que havia no braseiro, até que todo o rolo se consumiu no fogo que estava sobre o braseiro. E não temeram, nem rasgaram as suas vestes o rei e todos os seus servos que ouviram todas aquelas palavras. (Jr 36.23,24)

A razão para o desprezo [da mensagem] pode estar no fato de ele não haver sido propriamente infligido pelos babilônios, embora Nabucodonosor lhe tivesse exigido um pesado tributo e deportado um número de prisioneiros importantes. Certamente sentia que desfrutava de proteção em virtude de ser um vassalo da Babilônia.

O autor de Reis afirma: “O Senhor não o quis perdoar” (2 Rs 24.4), porque já havia chegado a um tal nível de deterioração que seria impossível o povo voltar-se novamente para Deus, a não ser que fossem severamente castigados para refletirem sobre o mal cometido. Outra afirmação forte de Reis é que o Senhor rejeitou-os da sua presença (2 Rs 24.20), o que também é corroborado pelo profeta Jeremias (6.20). Deus chegou a chamar Jerusalém de Gomorra (Jr 23.14; Is 1.9,10)! Se Ele chamou assim a sua cidade escolhida, então vale a pena atentarmos para nossa situação de enxertados na oliveira e vivermos uma vida digna da glória de Deus (Rm 11.17,18,21). (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

Depois da morte de Joiada vieram os príncipes de Judá. Más Influências. No pano de fundo estavam os idólatras príncipes de Judá que se mantiveram em segundo plano enquanto Joiada foi o sumo sacerdote. Entretanto, assim que Joiada desapareceu, eles se puseram em movimento. A reforma morreu com o sumo sacerdote, e Joás mostrou-se um fraco quando o homem idoso não estava mais presente para encorajá-lo a fazer o que era correto. Joiada, pois, tinha dado o bom exemplo; mas os príncipes de Judá deram um mau exemplo. “Joiada morreu, e, com ele, morreu o espírito da reforma” (Eugene H. Merrill, in loc.).

Os príncipes traiçoeiros vieram e prestaram falsas mesuras diante do rei. Fica claro, mediante o versículo seguinte, que eles solicitaram permissão para promover abertamente o culto idólatra deles. O rei, pois, mostrou-se fraco demais para opor-se. Ou então o próprio Joás tinha-se desintegrado, e não quis mais continuar uma farsa. Ver o vs. 21. Provavelmente, outras más obras fizessem parte do negócio todo. A boa e breve era de santidade havia chegado ao fim. A mesma antiga síndrome do pecado-calamidade-julgamento em breve haveria de golpear de novo. O vs. 21 deixa-nos chocados ao informar que Joás ordenou o apedrejamento de um profeta que se havia mostrado contrário à corrupção.

O ideal era a adoração centralizada em Jerusalém, no templo. Mas os santuários locais recusavam-se a desaparecer. Provavelmente, um dos argumentos dos príncipes foi que era muito trabalhoso subir a Jerusalém três vezes por ano. Eles poderiam passar seu tempo de maneira mais sábia. Os santuários locais serviriam muito bem para a adoração deles.

Deixaram a casa do Senhor… e serviram aos postes-ídolos e aos ídolos. A idolatria Estava de Volta. Joás havia permitido ou talvez até ajudado a fazer florescer os lugares altos (ver a respeito no Dicionário). Talvez Yahweh fosse um dos deuses adorados na massa sincretista que os príncipes de Israel cozinharam. Em breve a ira de Yahweh seria acesa, prestes a golpear. Ver no Dicionário o artigo intitulado Ira de Deus. II Reis 12.18 não tratou da queda de Joás, mas mostrou que ele sofreu perdas, embora a razão para essas perdas não tenha sido discutida. Seja como for, quando as coisas saíam erradas, ficava entendido que alguém tinha praticado o erro, ou então que o errado era o povo inteiro. E o julgamento divino estava sempre nas calamidades, conforme acreditava o povo hebraico.

Não vos enganeis; de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. (Gálatas 6.7)

Os príncipes fizeram muito bem o trabalho de sedução. Assim diz o Targum: “Após a morte de Joiada, os homens grandes de Judá vieram e adoraram o rei, e o seduziram’. Note-se que a ira divina não deveria descer somente contra Judá, mas também contra Jerusalém, porquanto era ali que estavam os promotores da apostasia, isto é, no próprio templo.

Porém o Senhor lhes enviou profetas para os reconduzir a si. Profetas enviados por Deus, cujos nomes não foram dados, protestaram contra o que estava acontecendo, porém, o povo não lhes deu ouvidos. Eles tentaram reavivar a antiga fé de Joás, mas o povo queria os deleites do paganismo. II Crô. 20.14,37 dá-nos os nomes de alguns profetas da época, e, sem dúvida, alguns deles participaram da reprimenda. Mas ninguém estava interessado em modificar sua conduta. Eles se divertiam nos bosques com os ritos de fertilidade dos cananeus e outras abominações associadas ao paganismo.

O Espírito de Deus se apoderou de Zacarias. Zacarias, filho de Joiada que provavelmente se tornara o sumo sacerdote, foi inspirado pelo Espírito de Deus a fazer um severo protesto e a predizer o desastre para o povo de Judá. O homem pôs-se de pé sobre uma espécie de plataforma, num nível acima do povo, e enviou grande diatribe contra a idolatria. Ele pagou seu ato com a própria vida (ver o vs. 21). O culto de Yahweh, conforme era exigido e direcionado pela legislação mosaica, havia sido descontinuado. Por isso foi dito, com toda a razão, que o povo tinha “abandonado a Yahweh” e em breve seria abandonado por Ele. O partido idólatra logo seria olvidado.

Ellicott supunha que Zacarias tivesse tomado os degraus do átrio interior do templo, pondo-se defronte do povo reunido no átrio exterior. Talvez fosse uma reunião formal convocada pelo próprio sumo sacerdote. Cf. a linguagem similar, usada em II Crônicas 12.5 e 15.2. Ninguém podia abandonar Yahweh e não ser abandonado. A lei da colheita segundo a semeadura garantia esse resultado.

Conspiraram contra ele, e o apedrejaram, por mandado do rei. Quase nem podemos acreditar no que lemos neste versículo. Quando jovem, Joás tinha promovido o yahwismo e reparado o templo a grande dispêndio de energia. Mas agora o idoso Joás abandonou todo o esforço passado e tornou-se culpado do assassinato de um dos profetas do Senhor! Zacarias dificilmente fora diplomático. Ele não respeitou as formas religiosas das outras pessoas. Mas assassinato? Ver no Dicionário o artigo chamado Apedrejamento.

“A ousada liberdade e energia da reprimenda, bem como a sua denúncia e predição de calamidades nacionais, que certamente e em breve ocorreriam, foram coisas inapetecíveis para o rei. Portanto, ele despertou as ferozes paixões das multidões, aquele bando de incrédulos que, por instigação do rei, apedrejou o profeta até ele morrer (cf. Mat. 23.35)” (Jamieson, in loc.).

Pense só nisso, leitor! O pai de Zacarias tinha salvado o pobre bebê Joás da morte, guindando-o posteriormente ao trono de Judá. A esposa de Joiada havia protegido o menino por três anos. Mas, sem um pingo de gratidão, e de maneira desavergonhada e brutal, o mesmo homem tira a vida do filho do sumo sacerdote Joiada. Foi um ultraje horrendo, um tratamento atroz, próprio de uma mente ingrata. “Quando um homem desvia-se de Deus, o diabo entra nele, e ele se torna capaz de todo tipo de crueldade” (Adam Clarke, in loc.).

O caso foi tão notório que Jesus se referiu a ele (ver Mat. 23.35) em uma de suas diatribes contra os fariseus. Alguns intérpretes, entretanto, pensam que esteja em vista aqui outro Zacarias (que nos é desconhecido).

Este, ao expirar, disse: O Senhor o verá, e o retribuirá. Em meio à agonia de moribundo, Zacarias proferiu uma maldição contra o rei ímpio e ingrato, clamando para que Yahweh visse o que estava acontecendo e o “requeresse” do rei, de acordo com a lei da colheita conforme a semeadura. Em breve os sírios estariam batendo às portas de Jerusalém, “requerendo” a questão da parte de Joás, o apóstata. Ver Luc. 11.51, onde temos uma linguagem similar, empregada por Jesus, que talvez estivesse falando especificamente sobre o caso relatado neste versículo. Contrastar isso com a declaração do primeiro mártir cristão (Atos 7.60), que teve a graça de orar pedindo o perdão para os seus executores. Mas a maldição de Zacarias foi, ao mesmo tempo, uma oração. Os sírios invadiriam Judá; o próprio Joás seria morto sem misericórdia, por parte de conspiradores. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1689).

 

 

II – A OBSTINAÇÃO DE ZEDEQUIAS E SUA QUEDA

 

 1. A teimosia de Zedequias. Zedequias, o último rei de Judá, não entendeu bem a exata conjuntura em que a nação se encontrava; e, por sua própria conta, resolveu não dar ouvidos à voz do profeta (Jr 38.14-28). Zedequias fez constantes ameaças a Jeremias e até tentou mantê-lo submisso aos seus caprichos. Mas, Jeremias, como homem de Deus, não se deixou corromper, antes, proferiu toda a palavra do Senhor (Jr 38.17,18).

 

Comentário

Zedequias, o último rei de Judá, não entendeu a situação em que estava Judá, não ouviu o profeta Jeremias (38.14-28), nem mesmo discerniu que o tempo do fim havia chegado, que Judá iria para o cativeiro, que a potência mundial da época, a Babilônia, não pouparia uma nação enfraquecida e teimosa, com rebeliões facilmente sufocadas. Vejamos quais os males de Zedequias:

(I) Ele não estava disposto a ouvir a palavra de Deus através de Jeremias; (II) ele quebrou um juramento feito em nome de Javé como vassalo da Babilônia; (III) ele não estava arrependido e nem falou em impedir os líderes e sacerdotes de profanar o templo com a reintrodução de práticas de idolatria.

Além disso, Zedequias fez constantes ameaças a Jeremias e tentou manter o profeta sob as suas ordens. Todavia, o homem de Deus não se deixa corromper. Jeremias não omitiu nenhuma palavra do Senhor para o rei. Ele pagou um alto preço, ficou por um tempo preso no pátio da guarda real e um tempo atolado na lama de uma cisterna recebendo apenas pão para comer. (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

Se te renderes voluntariamente aos príncipes do rei de Babilônia, então viverá tua alma. O nome divino de poder foi empregado pelo profeta para dar apoio à autoridade de suas palavras: Yahweh-Sabaote-Elohim (o Deus Eterno, o Senhor dos Exércitos e Todo-poderoso). Essa era uma forma de introdução comum dos oráculos, que Jeremias empregou com freqüência. Cf. Jer. 7.3,21; 9.15; 16.9; 19.3; 23.36; 28.2; 35.13,17-19; 42.15; 50.18 e 51.5. Dessa maneira, fica provado que o oráculo era solene e imperativo. O conselho foi o mesmo que já havia sido dado em diversas outras ocasiões: rendição. Se fosse seguido, Nabucodonosor salvaria tanto o rei quanto a nação de Judá inteira de muitas tribulações, maior número de judeus sobreviveria, e o rei da Babilônia teria misericórdia do povo humilde de Jerusalém. Cf. Jer. 27.12-13.

Se te renderes voluntariamente. No original hebraico temos a frase “saíres ao rei”. Esse é o hebraico literal que significa “rendição”. O rei da Babilônia estava, na ocasião, em Ribla (ver Jer. 39.5; II Reis 25.6), mas o versículo não aponta para a ação literal naquela ocasião. Joaquim tinha-se rendido (ver II Reis 24.12), e as coisas correram mais fáceis para ele. Ren-der-se, entretanto, era algo inglório e humilhante, mas salvava a vida do rendido. A cidade de Jerusalém seria queimada a fogo (vs. 18) se não houvesse rendição e Nabucodonosor tivesse de dar-se ao trabalho de cercar a cidade e invadi-la. Ver Jer. 21.10; 32.29; 24.2,22; 37.8,10; 38.23; 39.8. O rei e sua família teriam tido permissão de continuar vivos, e seriam reduzidos a uma escravidão leve na Babilônia, ou talvez até tivessem permissão de continuar vivendo em Jerusalém, pagando tributo.

Mas, conforme as coisas acabaram acontecendo, os filhos de Zedequias foram mortos, em Ribla (ver Jer. 39.6); Zedequias foi cegado (ver Jer. 39.7); a cidade de Jerusalém foi incendiada (ver Jer. 39.8); e o rei Zedequias foi lançado na prisão, onde, provavelmente, morreu. Em contraste, Jeremias foi bem tratado, conforme o capítulo 38 relata. Todas as predições do vs. 18 aconteceram. O rei Zedequias, entretanto, ignorou todos os avisos divinos, na esperança de que Jeremias estivesse equivocado. Ou ele acreditaria, mas a vontade divina o forçou a prosseguir com a sua insensatez? Provavelmente a última possibilidade é a que está com a razão. Judá tinha-se transformado em uma massa informe de escória. Yahweh, pois, queria refinar uma pequena quantidade de prata, através de um julgamento de fogo, a fim de reiniciar a nação de Israel, terminado o cativeiro. Haveria um Novo Israel em uma Nova Era; mas réprobos como Zedequias e seus conselheiros tinham de perecer com o antigo Israel, porque tinham forçado sobre si mesmos essa situação. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3115).

 

Jeremias É Entrevistado pelo Rei

Tirado da cisterna de Malquias, ficou o profeta no átrio da guarda, junto com os soldados que mantinham a guarda do rei. Zedequias chama o profeta e diz-lhe: Vou perguntar-se uma coisa; não me encubras nada.(v. 14). Jeremias responde: Se eu te declarar, acaso não me matarás? (v. 15). Então Zedequias jurou que não o mataria nem o entregaria nas mãos daqueles homens malvados. Diante disso, Jeremias lhe dá uma resposta dura e difícil de ser aceita: Se te renderes aos príncipes do rei de Babilônia, será poupada a tua vida, e esta cidade não se queimará a fogo, e viverás tu e a tua casa (v. 17). Caso contrário, isto é, se não te renderes, nem tu nem tua família escaparão e a cidade será queimada. A resposta do rei foi de uma franqueza rude: Receio-me dos judeus que se passaram para os caldeus, que me entreguem na mão dos babilônios e escarneçam de mim. Jeremias deu-lhe a promessa de que não o entregariam e não seria escarnecido, promessa que certamente tinha vindo de cima. Ouve, peço-te, a voz do Senhor, conforme a qual eu te falo (v. 20). Era uma promessa segura, pois vinha de Deus. Zedequias não teve coragem de por em prática o conselho divino. Numa hora como esta, a falta de uma decisão causou a destruição do rei, da sua família e da sua cidade. Uma decisão na hora oportuna salva um povo. Jeremias então faz uma predição que se poderia chamar de cântico fúnebre. Não há salvação possível para esta cidade. Tu e tuas mulheres e teus homens, todos cairão ou à espada, ou pela fome ou pela ruína. O colóquio real foi muito tocante. Diz então Zedequias: Se os príncipes souberem que falei contigo e te pedirem que lhes contes o que me disseste, não lhes digas nada. Dizer-lhes, apenas, que fizeste uma petição para que não te mandasse mais à casa de Jônatas. isso aconteceu. (Mesquita. Antônio Neves de,. Jeremias. Editora JUERP).

 

 

 2. Surdos aos avisos dos profetas. Jeremias advertiu ao rei Zedequias dizendo que, caso se rendesse à Babilônia, sua integridade seria preservada. Todavia, o rei não deu ouvidos ao profeta, razão de acontecer o que estava previsto. O poderoso exército babilônico invadiu e destruiu Jerusalém (Jr 39.1). Zedequias e povo de Judá estavam tão confiantes em sua religiosidade e escolha divina em relação às demais nações, que nem pensavam na hipótese de serem quase aniquilados (3r 7.4).

 

Comentário

Ouvidos Moucos aos Avisos dos Profetas

Tanto o rei Zedequias quanto o povo de Judá estavam tão confiantes na sua religiosidade e preferência divina em relação às demais nações, porque tinham instituições religiosas fortes e um templo magnífico, que achavam que nunca seriam destruídos, ao que o profeta vaticinou: “Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor” (Jr 7.4).

Havia uma falsa segurança baseada no magnífico Templo de Salomão. Da mesma maneira, hoje em dia, não é a grandiosidade de uma religião, ou a solidez das suas instituições, ou mesmo a linhagem real dos seus líderes que poderão prevalecer, a não ser que a vontade de Deus seja feita em todas as coisas e Ele esteja entronizado em detrimento dos falsos deuses, que entram sorrateiramente em qualquer estrutura religiosa, por mais pura e santa que ela seja. (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

Foi tomada Jerusalém, Era o ano nono de Zedequias, rei de Judá, no mês décimo. Traduzindo as antigas indicações para as modernas formas de computar o tempo, obtemos 15 de janeiro de 588 A. C. Esse era a data que Jeremias havia predito incansavelmente por tanto tempo. Jerusalém resistiu por mais tempo do que parecia possível, opondo-se por trinta meses às forças babilónicas. O vs. 2 deste capítulo revela-nos que, quando as muralhas foram rompidas e os babilônios tiveram acesso à cidade, seguiram-se horrenda matança e saque. Jer. 52.6 informa-nos que as defesas da cidade cederam devido à pressão da fome. Cf. Jer. 37.21. Os vss. 1-10 sumariam Jer. 52.4-16, que, por sua vez, dependem de II Reis

25.1-12.0 vs. 3 deste capítulo adiciona os nomes dos oficiais babilónicos envolvidos. “Nabucodonosor esteve presente no início do cerco, mas estava em Ribla quando o cerco terminou (vss. 3 e 6; 53.17)” (Fausset, in loc.).

“Usando-se um método ocidental de computar as datas, parece que o assédio babilónico se prolongou por dezenove meses (os últimos três meses do nono ano + os doze meses do décimo ano + quatro meses do décimo primeiro ano). Entretanto, usando-se o método de computação de datas segundo o modelo hebraico, a duração do cerco parece muito mais longa. Pois os anos dos reis hebreus eram calculados segundo um calendário de tishri (setembro-outubro) a tishri, ao passo que os meses do ano eram calculados em uma base de nisã (março-abril) a nisã (ver os comentários sobre Jer.

36.9). O décimo primeiro ano de Zedequias estendeu-se de 18 de outubro de 587 A. C. a 6 de outubro de 686 A. C. O nono dia daquele mês correspondia a 18 de julho de 586 A. C. Por conseguinte, o cerco inteiro durou pouco mais de trinta meses, de 15 de janeiro de 588 A. C. a 18 de julho de 586 A C.” (Charles H..Dyer, in loc.). Jerusalém ofereceu resistência superior ao que se esperava, mas a cada dia em que essa resistência se mostrava eficaz, maiores eram os sofrimentos do povo judeu. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3117).

 

A QUEDA DE JERUSALÉM E O CATIVEIRO DE JUDÁ

A velha capital jebusita, contemporânea de Jericó, construída aí pelo ano 4000 a.C., estava agora com os seus dias contados. Foi a cidade de Melquisedeque, dos tempos de Abraão. Conquistada por Davi logo após ser proclamado rei em Hebrom (II Sam. 5:8-10), e feita capital do novo reino de Israel, foi a cidade antiga que mais dias gloriosos viu. Ali reinaram homens como Salomão e seus descendentes. Ali Deus mostrou como amava a Israel, não só por meio do majestoso templo, mas por muitos outros meios e modos, como vemos ao ler e estudar a profecia de Jeremias. Nenhuma outra cidade no mundo, antes nem depois desta época, pode contar maravilhas tais como Jerusalém. Foi a cidade amada de Deus, e por ela e seu povo Deus fez maravilhas sem conta. O povo eleito não soube responder nem corresponder à bondade de Deus, que tanto o amava e amava a sua cidade. Agora estava no seu trágico e desastroso fim.

Ao escrevermos estas linhas, podemos dizer que elas poderiam ser escritas com sangue, tal o respeito e a estima que a mesma cidade nós merecemos.

Jerusalém É Conquistada

Por dezoito meses a cidade de Jerusalém ficou sob o assédio das forças de Nabucodonozor. A sua queda seria uma questão de tempo. O cerco privava a cidade de se abastecer do necessário, e a fome começava a tomar conta, como o profeta previa havia muito tempo. Zedequias estava no seu nono ano de governo títere. Jeremias era o fiel da balança, mas infelizmente não era ouvido pela liderança israelita; e Zedequias, que pendia para o lado de Jeremias, que era o certo, não tinha coragem de tomar uma decisão segura, apesar de Jeremias, em nome de Deus, lhe ter prometido segurança para ele e para a sua cidade. Jeremias tinha-lhe garantido que, se se rendesse, ele e a cidade seriam poupados. Infelizmente Zedequias não teve coragem para tomar uma decisão salvadora. Coisas de política, que cega os olhos a muitas evidências. A cidade, mesmo cercada, não se rendeu, e só quando os babilônios conseguiram abrir uma brecha nas muralhas é que a situação foi dada como perdida. E assim, os soldados de Nabucodonosor nela entraram. No undécimo ano do rei Zedequias, no quarto mês, aos nove dias do mesmo, foi feita a brecha, passando por ela os soldados caldeus, ansiosos, naturalmente, por esta hora vitoriosa (Jer. 39:2). O que teria sido aquela hora para os líderes incrédulos, levados pelas falsas profecias de homens que Deus nunca chamou, não podemos dizer.

Teria corrido a notícia de que as muralhas tinham sido arrombadas e os soldados estavam na cidade. Como estaria também agora o coração de Zedequias, a quem Jeremias tanto admoestou e quis ajudar? Quem já leu os últimos Dias de Jerusalém, romance escrito a respeito da última destruição desta cidade pelo general romano Tito, pode fazer uma idéia do que teria sido esta hora. Com as diferenças naturais de cada uma dessas duas calamidades, poder-se-á imaginar o que teria sido esta hora para Zedequias, seus príncipes e o pobre povo, que é sempre o último a saber dos acontecimentos. Diversos príncipes do rei de Babilônia assentaram-se à Porta do Meio, porta esta que não foi possível identificar até agora, como a esperar pela saída dos principais responsáveis da cidade. Logo o rei Zedequias e seus príncipes os viram, cuidaram de fugir pelo caminho do jardim do rei. isso de noite, na esperança de salvar a pele. Como foi que os babilônios viram esta fuga o texto sagrado não diz, porém admitimos que já as sentinelas se teriam colocado em todos os lugares, por onde a fuga fosse possível. A pessoa mais visada era, sem dúvida, o rei, pois tinha contas a ajustar com Nabucodonozor, a quem tinha jurado fidelidade, não cumprindo, porém, o juramento. (Mesquita. Antônio Neves de,. Jeremias. Editora JUERP).

 

 

 

 

III – JERUSALÉM É CERCADA E LEVADA CATIVA

 

3. A destruição da Cidade Santa e do Templo. Após as investidas dos assírios, dos egípcios, e de três ofensivas dos babilônios, a forte e imponente cidade de Davi se encontrava completamente arrasada. Durante o cerco de Jerusalém, que durou dezoito meses, ninguém podia entrar nem sair. Os víveres estocados – foram sendo rapidamente consumidos, e os animais eram abatidos e oferecidos como alimento; até que não restou mais nada. A cidade santa estava em extrema pobreza e miséria (Lm 4.1-6). Foi nesse momento que o poderoso exército de Babilônia rompeu uma brecha no muro e invadiu a cidade. O Templo Sagrado, erigido há 380 anos, foi saqueado, destruído e queimado. A glória de Israel se foi.

 

Comentário

As Invasões e os Cercos

Os babilônios conquistaram as nações de uma forma que nunca havia ainda sido vivenciado no mundo antigo. Nada os detinha. Eles estavam determinados a tornarem-se os senhores do mundo e podiam fazê-lo não somente pela grandeza do seu exército e instituições sólidas, mas também porque eram autossuficientes. Foi esse poderio babilônico que cercou, invadiu, destruiu e reduziu Jerusalém a cinzas e lembranças. Essa destruição foi profetizada e permitida pelo Senhor Deus: “E, na verdade, conforme o mandado do Senhor, assim sucedeu a Judá, que o tirou de diante da sua face […]” (2 Rs 24.3).

A Destruição da Cidade e do Templo

Depois de investidas assírias, egípcias e três investidas babilônicas, a grande e imponente cidade de Jerusalém estava completamente arrasada. Durante o cerco a Jerusalém, que durou 18 meses, ninguém podia entrar nem sair da cidade. Os alimentos que havia em estoque foram sendo consumidos, os animais foram sendo abatidos e comidos, até que não restou mais alimento. A cidade, então, estava numa situação de extrema pobreza e miséria. Foi nesse momento que o exército da Babilônia rompeu uma brecha do muro e entrou na cidade.

O Templo, que havia funcionado durante 380 anos, foi completamente saqueado, destruído e queimado com a invasão babilônica. A glória de Israel foi embora.

Jerusalém caiu, apesar dos esforços de Yahweh por meio de seus profetas, de restaurar o seu povo. Mas eles escarneceram de suas palavras até que não mais houve remédio senão a destruição e deportação (2 Cr 36.15,16). Havendo rejeitado a postura de filhos da aliança servos de Yahweh, a comunidade judaica espalhada pelo cativeiro agora cumpriria o papel de escravos em terra estranha. Somente quando se cumprisse o tempo da disciplina, o povo poderia sonhar com o retorno à sua terra. Então reassumiria a responsabilidade de ser verdadeiramente a nação santa e o povo de Deus.

A visão de Ezequiel dá conta de que a tragédia principal não foi apenas a deportação. Foi pior do que isso, pois a glória de Deus havia sido retirada do Templo e para lá nunca mais voltaria. “E a glória do Senhor se alçou desde o meio da cidade e se pôs sobre o monte que está ao oriente da cidade” (Ez 11.23). Somente na era escatológica é que a glória do Senhor voltará ao Templo, dessa vez na própria presença do Senhor Deus da glória por meio do Messias:

[…] e virá o Desejado de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos. […] A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos (Ag 2.7,9).

A destruição final de Jerusalém aconteceu após a terceira investida babilônica, com a queima do Templo, do palácio real e dos edifícios importantes, bem como a leva dos restantes, inclusive os sacerdotes. (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

Como se escureceu o ouro! Jerusalém, a Dourada, tomou-se escurecida e embotada. Não mais refletia a glória do Senhor. As pedras, antes grandiosas, como tantas gemas, constituíam o templo e seus esplendorosos edifícios. Agora aquelas pedras estavam espalhadas e se tomaram um montão de escombros. Com uma metáfora de coisas preciosas feitas comuns e corruptas, o profeta falou sobre o atual estado horrendo da cidade, depois que os babilônios terminaram sua missão destruidora. O vs. 2 faz essas coisas preciosas ser os habitantes da cidade, mas a referência é lata o bastante para incorporar o templo e suas riquezas materiais. “O ouro, o ouro fino e as pedras sagradas são o templo, os seus tesouros que são então usados como uma metáfora para as possessões mais preciosas de Jerusalém, a saber, os seus habitantes” (Theophile J. Meek, in loc). Cf. este versículo com Lam. 1.10 e I Reis 6.22. Toda a casa de Salomão estava recoberta de ouro, como também todo o altar (ver Jer. 3.19).

Vede como o ouro perdeu o seu brilho!

Vede como o bom ouro mudou!

/4s pedras do templo estão espalhadas

Por todos os cantos da rua. (NCV)

Os nobres filhos de Sião. Os filhos de Sião, que antes eram como ouro fino, foram mudados em vasos de barro quebrados pelos atacantes babilônios. O valor deles foi perdido com o sangue foi derramado no chão. Os filhos de Sião eram filhos de Deus altamente estimados, mas agora formavam apenas um bando de potes que algum oleiro humano tinha feito.

“Eles valiam seu peso em ouro, pois o hebraico diz, literalmente, ‘aqueles pesados a peso de ouro fino’” (Theophile J. Meek, in loc.). O barro era o material comum usado para vasos de utilidade, tanto na cozinha como fora dela. Esses vasos tinham pouco valor e podiam ser substituídos facilmente, caso se quebrassem. Os filhos de Sião tornaram-se inúteis e foram jogados fora como lixo. Cf. Isa. 30.14; Jer. 18.1-6 e 19.1-10. Ver também Sal. 31.12. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3187-3188).

 

O Poder Degradante do Pecado

A gravidade do pecado de Judá e Jerusalém tem sua raiz na rebeldia do coração. A descrição aqui revela até que ponto uma nação pode chegar quando seus fundamentos morais são removidos. O gemido do profeta, ao lamentar acerca da glória passada de Judá e a condição devastadora na qual se encontra agora, é suficiente para quebrar o coração. “Como os poderosos caíram!”.

O poeta entoa uma canção triste acerca da incrível mudança que sobreveio a essa outrora orgulhosa nação e sua capital: Como se escureceu o ouro! (1). Escurecida e deslustrada, a cidade dourada não passa de um monte de cinzas. Ele lamenta a completa destruição do Templo: Como estão espalhadas as pedras do santuário ao canto de todas as ruas; i.e., espalhadas por toda a cidade. Os jovens da nação, a esperança da sua vida futura, estão estirados pelas ruas da cidade. Em vida eles eram comparados a ouro (2); agora eles não passam de um amontoado de barro, semelhante a vasos de barro quebrados no monte de refugo do oleiro! (Paul Gray. Comentário Bíblico Beacon. Jeremias. Editora CPAD. Vol. 4. pag.417-418).

 

 

2. A matança, o cativeiro, a peste e a pobreza. No livro de Lamentações de Jeremias, o profeta descreve, com – riqueza de detalhes, as deploráveis cenas que assistiu (Lm 4.3-10). A fome chegou a tal ponto que as mães cozinhavam e serviam os próprios filhos como comida. Até os sacerdotes perderam as esperanças; e as virgens ficaram assentadas, sem forças, à beira do caminho. As crianças morriam de sede e fome; ninguém poderia saciá-las.

 

Comentário

A situação de Jerusalém e dos habitantes de Judá ficou deplorável com a última invasão babilônica. Todos os nobres, príncipes e ricos foram deportados para a Babilônia, ficando somente os pobres na terra que não tivessem condições de incitar uma rebelião.

O profeta Jeremias foi levado cativo até uma parte do caminho.

Depois, por benevolência de Nabucodonosor, pôde escolher entre ser levado cativo ou voltar para Jerusalém. Como ele não tinha forças emocionais para decidir-se diante de tamanha desolação, o general babilônico ordenou-lhe que voltasse para Jerusalém. Nessa caminhada de cativos, Jeremias contemplou com tristeza as correntes com que as pessoas nobres e mais influentes de Judá estavam sendo oprimidas e humilhadas. Estavam todos atados, de cabeça baixa, moribundos e sendo conduzidos como animais para longe de Jerusalém, a cidade amada.

O livro das Lamentações de Jeremias descreve as cenas deploráveis vistas por Jeremias (Lm 2.20; 4.3-10). Ele sugere que a fome chegou a tal ponto que as mães poderiam comer os seus próprios filhos; que Jerusalém ficou solitária; que chorava inconsolável; os sacerdotes suspiravam de desespero; as virgens desesperançadas estavam sentadas sem forças pelos caminhos; a língua das crianças ficava colada no paladar por causa da sede; crianças pediam pão, e ninguém lhes dava; pessoas  estavam desfalecendo nas ruas; os nobres abraçavam-se com esterco; por causa da fome, a pele das pessoas estava enrugada, escura e colada nos ossos; os mortos eram louvados porque tiveram melhor sorte do que os que foram cativos ou ficaram em Jerusalém.

Os pobres que sobraram na terra foram liderados, por ordem de Nabucodonosor, por Geconias, mas, após o assassinato deste, todo o restante do povo apavorado fugiu para o Egito. Nessa fuga, forçaram o profeta Jeremias a ir junto para que a sua vida fosse poupada, embora Jeremias fosse pró-babilônia e Nabucodonosor soubesse disso. Jeremias foi levado a contragosto e advertiu severamente os principais líderes que sobraram para que não fugissem para o Egito, pois lá sim seriam mortos; se ficassem em Jerusalém, seriam poupados da espada e da fome (Jr 42.7-43.13).

Assim, quatro flagelos caíram sobre todo o povo, sem escapar ninguém: morte por causa da guerra, do cerco babilônico e da invasão de Jerusalém; os nobres e artesãos que sobraram foram levados cativos para a Babilônia; os que ficaram eram os mais pobres, que empobreceram mais ainda; e a peste vitimou muita gente por causa das péssimas condições de alimentação e abandono. Um dos livros bíblicos que retrata esse cenário com muita propriedade é Lamentações de Jeremias. (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

Porque maior é a maldade da filha do meu povo… O profeta lembra que toda aquela calamidade era um castigo da parte de Yahweh. Em sua opinião, algo pior do que o que tinha acontecido em Sodoma e Gomorra. O terremoto e a atividade vulcânica que houve em seguida varreram completamente aquela gente, juntamente com outras cidades da planície, e isso foi o fim de tudo. Mas Jerusalém estava sujeita a uma morte lenta, em meio a terrores e cruéis sofrimentos. “A destruição de Sodoma foi instantânea, mais misericordiosa do que a agonia arrastada por longos anos de Jerusalém” (Theophile J. Meek, in loc). Ambas caíram sob o peso da pesada mão de Yahweh.

Outra vantagem de Sodoma foi que “mão alguma” se fez sentir sobre ela. Antes, uma força temível da natureza, dirigida por Deus, aniquilou a cidade em pouquíssimo tempo. Mas cruéis mãos humanas afligiram Jerusalém com uma agonia prolongada. Cf. este versículo com II Sam. 24.14; Mat. 10.15 e 11.24. Ver Gên. 19.24.

“Embora os habitantes de Sodoma fossem grandes pecadores, os judeus foram muito piores. Os pecados deles eram agravados. Com isso concorda o Targum, que diz que os judeus tinham luz muito maior, o que tornou o pecado deles muito maior” (John Gill, in loc).

Sem o emprego de mãos nenhumas. O hebraico por trás desta tradução é incerto. Dou uma tradução padrão acima: foram cruéis mãos humanas que afligiram Jerusalém. Mas tanto a NCV quanto a NIV fazem a mão ser uma mão potencialmente ajudadora, que não se estendeu nem ajudou. Tanto Sodoma quanto Jerusalém pereceram sem receber ajuda de nenhuma agência, humana ou divina. Portanto, a desolação dessas duas cidades foi grande, já que não houve esperança quando elas foram esmagadas pelo castigo divino.

Os seus príncipes eram mais alvos do que a neve. A palavra hebraica aqui traduzida por “príncipes” pode significar “devotos”, e a King James Version pensa ser isso uma alusão aos nazireus. A maior parte dos eruditos, porém, rejeita esse significado, e alguns emendam o hebraico para uma palavra similar, produzindo “jovens”. Seja como for, é evidente que devemos pensar na elite do povo. O profeta falou poeticamente a respeito. Eles eram mais “alvos do que a neve” e mais “brancos do que o leite”. É provável que isso se refira à ótima aparência física deles, e não a qualidades morais superiores. Os hebreus não eram brancos, mas tinham mais ou menos a cor dos árabes modernos. Os judeus de nossos dias foram clareados devido à mistura com europeus. Além disso, o corpo deles era “mais ruivo” do que os corais, e o rosto deles se parecia com safiras. Estamos tratando com expressões poéticas que falam de saúde e boa aparência, e não com descrições exatas de cor da pele. Eles tinham, por assim dizer, uma tez branco- avermelhada, o ideal nos países do Oriente. Cf. I Sam. 17.42 e Can. 5.10. Mas os babilônios estragaram a beleza e cortaram a vida dos jovens israelitas.

Mas agora escureceu-se-lhes o aspecto mais do que a fuligem. A beleza transformou-se em feiura. O branco tornou-se mais escuro que o carvão, a cor da morte. Os poucos sobreviventes foram deixados a morrer nas ruas. Estavam feridos e esfomeados, com o corpo emaciado e a pela enrugada. Eram indivíduos ressecados, duros como a madeira. Estavam praticamente mumificados. Cf. Lam. 5.10. A principal referência é aos efeitos da fome, que dizimava os sobreviventes. Cf. Joel 2.6 e Nee. 2.10. “A pele deles estava gretada e enrugada; a carne estava endurecida; os ossos se tinham tornado como varetas, ou como um pedaço seco de madeira, pois a umidade e o tutano se ressecaram” (John Gill, in loc).

Mais felizes foram as vítimas da espada. Se pudermos falar sobre a felicidade, então felizes são os que morrem devido ao golpe de uma espada. As vítimas da fome sofrem mais. Clamam por pão ou algum outro produto do campo, mas não os há; e, mesmo que houvesse, ninguém lhes daria dessas coisas. A espada só atravessa uma pessoa por uma vez. A fome, especialmente a dos feridos, é algo que se repete continuamente. A vida “fluía” para fora deles gradualmente, que é o sentido literal do hebraico por trás de “se definham”. O Targum tem uma nota horrenda aqui: “Mais felizes são aqueles mortos à espada do que aqueles que morrem de fome. Aqueles que são feridos pela espada têm seus intestinos derramados para fora de uma vez. Mas aqueles mortos de fome têm seus ventres inchados de fome. Seus ventres estouram por falta de alimentos”.

As mãos das mulheres outrora compassivas. As mulheres, sobretudo as mães, que usualmente tinham gestos de compaixão e carinho com os filhos, agora usavam essas mesmas mãos para mergulhar os filhos em grandes vasos com água fervente, a fim de prepará-los como alimentos! Ver Lam. 2.20, onde vemos o canibalismo que ocorreu quando os babilônios cercaram Jerusalém por 30 meses. A história se repete, mostrando (até mesmo nos tempos modernos, entre os povos civilizados) que as pessoas que enfrentam a possibilidade da morte pela fome apelam para comer os semelhantes, mesmo que em sua cultura nada encoraje tal conduta. Que poderia haver de mais terrível do que o corpo de um filhinho a flutuar na água fervente de uma panela? Tais coisas aconteceram novamente quando os romanos assediaram Jerusalém no ano de 70 D. C., conforme informa Josefo (Guerras dos Judeus v.12). Cf. Deu. 28.56,57. “De cenas tão horríveis, é bom que as deixemos para trás o mais rapidamente possível” (Adam Clarke, in loc., que comentou abreviadamente o vs. 10 e se apressou a passar adiante). Certa judia chamada Maria, por ocasião do cerco dos romanos de Jerusalém, matou seu filhinho, cozinhou-o em uma panela grande, comeu parte dele e deixou o resto guardado para uma refeição futura. Os endurecidos soldados romanos, que encontraram a parte do corpinho restante, encheram-se de horror diante do que viram. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3188).

 

Jerusalém teve um destino ainda mais triste do que Sodoma. Sodoma se subverteu […] em um momento (6) pela mão de Deus, mas o castigo de Jerusalém tornou-se quase insuportável. A referência a Sodoma ressalta a dimensão da culpa de Jerusalém. Ela era a cidade que tinha o Templo, a lei e os profetas. Visto que teve tanta luz e privilégio, ela mereceu um castigo mais severo do que Sodoma. Deve ter sido difícil para um poeta judeu escrever o versículo 6. Esse versículo retrata de uma forma inesquecível a compreensão de Jeremias do poder degradante do pecado.

“Seus príncipes” — em vez de nazireus (7) — outrora belos em aparência, bem nutridos e populares no meio do povo, estão agora em uma condição deplorável. Seus rostos estão “mais escuros do que a escuridão” (8, lit.); seus nomes estão esquecidos; o povo não os reconhece, porque não passam de esqueletos ambulantes, mirrados e sem vida como um pedaço de pau.

A condição de Judá e Jerusalém é tão deplorável que os mortos à espada (9) são mais ditosos do que os vivos. O cerco à cidade havia privado os viventes das necessidades mais básicas da vida. Algumas mulheres piedosas (10), impelidas pela fome, cozeram seus próprios filhos, para servirem de alimento. Ninguém imaginaria que Jerusalém pudesse chegar a esse ponto! Mesmo os reis da terra (12) estão estupefatos com o destino dessa nação e dessa cidade. O pecado, depois de consumado, gera a morte (Tg 1.15).

Paul Gray. Comentário Bíblico Beacon. Jeremias. Editora CPAD. Vol. 4. pag. 418.

 

 3. A esperança profetizada. A mensagem de Jeremias deixou todos desesperados. Em Lamentações, o profeta desvela toda a sua tristeza. Mas, mesmo assim, não deixou de se lembrar e registrar o quanto Deus é misericordioso e o tamanho da sua fidelidade (Lm 3.22,23). Portanto, assim como Jeremias mudou sua desolação para um estado de esperança, também o cristão deve desenvolver uma atitude de fé diante de suas dificuldades e enfrentamentos. O maior motivo da nossa esperança é a ressurreição de Cristo: “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1.27b).

 

Comentário

O desespero retratado por Jeremias tomou conta de todos, que, no caso de Judá, foi o lamentável ocorrido da destruição da cidade e da ida para o exílio. Mas o desespero pode ser a simples e silenciosa ausência de sentido, de perspectiva, de futuro, de ideal ou de sonhos. Embora ele tenha lamentado profundamente a destruição da cultura, da religião, dos lugares sagrados e da habitação do povo de Judá, a princípio, num gesto de autocomiseração e auto piedade, ele depois se lembrou de algo bom que aconteceria adiante. Ele escreveu um dos livros mais tristes de toda a Bíblia, Lamentações, mas nas suas lamentações ele lembrou-se do Senhor, o que lhe permitiu praticar a resiliência presente na esperança:

As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade. […] Bom é o Senhor para os que se atêm a Ele, para a alma que o busca. Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor. (Lm 3.22-23, 25-26)

Ele disse ainda: “Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais” (Jr 29.11-14).

A palavra esperança tem vários sentidos no hebraico. Pode ser tôhelet, simplesmente esperança; kesel, confiança relacionada com a fé; mabbat, esperança ou expectativa para aqui, que se faz com os olhos, de voltar os olhos para algo; ra`â, ver, contemplar, designando tanto a ação em que o homem olha para Deus quanto de Deus olha para o homem, e seber, livramento que tem em si a capacidade de dar segurança a alguém (Sl 119) e torná-lo feliz (Sl 146). De maneira geral, esperança seria a disposição do espírito que nos induz a esperar uma coisa boa e agradável que se há de realizar ou suceder.

O profeta Isaías, muito antes de Jeremias, já havia sido alertado por Deus da desolação que haveria de acontecer e no fato de que Judá não ouviria a voz de Deus. Mas ele também foi informado de que, dos troncos decepados e queimados, brotaria a esperança: o tronco de Jessé (Is 6).

Assim como Jeremias mudou a sua desolação para um estado de esperança, também o cristão, diante das suas dificuldades e enfrentamentos, desenvolve essa mesma atitude esperançosa, pois a falta de esperança produz a tristeza, que leva ao abatimento e à frustração, que leva a fraqueza, ao desânimo e ao cansaço de não querer ser o que Deus pensa que podemos ser. Paulo sabia dos sofrimentos que todo o universo enfrenta por causa do pecado, mas também manifestou a esperança da redenção: Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo (Rm 8.22-25).

A prova mais certa para termos motivos de esperança é a ressurreição de Cristo: “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1.27). Assim, nossa esperança está além-mundo: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 16.19). Essa esperança não é conformista do estado presente, mas antecipa o Reino de Deus do “ainda não” para o “já agora”, trazendo uma atitude ativa de mudar as circunstâncias difíceis por meio de atitudes de esperança. Para a vida aqui, enquanto se espera o Reino de Cristo, as bem-aventuranças são a garantia da esperança.

A anunciação do evangelho sempre deve envolver desespero diante do pecado humano e esperança diante de “tão grande salvação” preparada por ele — em contraste com a falsa esperança no “aqui e agora” anunciada por falsos profetas. Pois, sempre que a esperança é colocada em efemeridades, ela traz frustrações. “Porque, em esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos” (Rm 8.24,25). Assim, nossa esperança é paradoxal:

É-nos prometida a vida eterna — a nós, que estamos mortos; énos anunciada uma feliz ressurreição, mas, enquanto isso, estamos cercados de corrupção; somos chamados justos e, não obstante, reside em nós o pecado; ouvimos falar de uma felicidade indizível e, enquanto isso, somos aqui oprimidos por uma miséria sem fim; abundância de todos os bens nos é prometida, mas só somos ricos de fome e sede. O que seria de nós se não nos apoiássemos na esperança, e se nossos sentidos não se dirigissem para fora deste mundo, no caminho iluminado pela palavra e pelo Espírito de Deus em meio a essas trevas?

Caminhamos entre realismo e esperança; porém, muitas vezes, o realismo nada mais é que pessimismo. Somente a esperança pode ser chamada de realista, porque, em Cristo, somente ela toma a sério as possibilidades que enchem tudo o que é real com a realidade do Reino de Deus que ainda virá, mas que já está. Por isso, a esperança é um fruto da fé.

Quando estivermos desanimados, nossa esperança deve repousar em Deus. “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a salvação da minha face e o meu Deus” (Sl 42.11). Na esperança, motivam-se outras boas virtudes: a fé e o amor, que vêm “por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual já, antes, ouvistes pela palavra da verdade do evangelho” (Cl 1.5). A esperança cresce quando nos lembramos da promessa da ressurreição. “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança” (1 Ts 4.13). (Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD).

 

As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos.

Este versículo é um dos mais conhecidos e citados do livro de Lamentações. Talvez seja a luz mais brilhante do livro. Fala de uma misericórdia abundante ou, conforme diz a Revised Standard Version, de um “amor constante”, traduzindo o termo hebraico hesed. Deus lembra a aliança com Seu povo e mostra-se longânimo para com os pecados deles. Portanto, não trata com eles de maneira estrita, punindo-os por seus pecados, quando seria razoável feri-los em Sua ira. Ele permanece com o povo que escolheu e continua a aplicar Sua disciplina sem destruí-los. Deus trabalha visando a modificação do povo, e não a sua destruição. Seu amor é poderoso e, assim, atinge mais alto que a mais distante estrela e mais baixo que o mais profundo inferno. Até seus juízos são remediais, e não meramente retributivos (ver I Ped. 4.6). Os artigos do Dicionário, chamados Misericórdia e Amor, oferecem muito material, incluindo poemas ilustrativos.

“Judá fora rebaixado, mas não eliminado. Deus estava punindo os judeus por seus pecados, mas não os rejeitou como o povo em pacto com Ele… O pacto não fora ab-rogado. De fato, o amor leal de Deus podia ser visto em Sua fidelidade, ao cumprir Suas maldições (ver Deu. 28)” (Charles H. Dyer, in Ioc.).

Este versículo tira o livro da futilidade. Deus ainda haveria de escrever outro capítulo contando a história da tragédia e insuflando-a com esperança e prosperidade, finalmente. Diz a Septuaginta: “As misericórdias do Senhor não me abandonaram”. A versão siríaca diz: “As misericórdias do Senhor, elas não têm fim”. Aben Ezra lembrou que “não há fim das misericórdias do Senhor”. “O Senhor-é cheio de misericórdias, que Ele concede de maneira livre e soberana. Elas são a mola da todas as coisas boas e nunca falham. Eis a razão pela qual o povo de Deus nunca é, e nunca será, consumido, ainda que falhe. As misericórdias divinas são de eternidade a eternidade, e estão guardadas em Cristo, o Cabeça dos pactos. Ver Sal. 89.28 e 103.17” (John GUI, in loc.). (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3182-3183).

 

As misericórdias de Deus nunca cessarão; suas misericórdias não têm fim (22). Mesmo quando falhamos, Ele permanece fiel! Além do mais, suas misericórdias se renovam a cada manhã (23). A continuidade da misericórdia de Deus é uma prova da sua fidelidade,3 por isso o profeta clama: Grande é a tua fidelidade4. Esses pensamentos provocam uma resposta sincera, e o profeta continua: A minha porção é o Senhor (i.e., a soma total dos meus desejos); portanto, esperarei nele (24). Enquanto o profeta confessa sua fé em Deus, outras coisas tomam conta da sua mente. (Paul Gray. Comentário Bíblico Beacon. Jeremias. Editora CPAD. Vol. 4. pag.413-414).

 

As misericórdias do Senhor que não são consumidos – Sendo assim humilhado, e vendo a si mesmo e sua pecaminosidade em um ponto adequado de vista, ele acha que Deus, em vez de lidar com ele em juízo, tem lidado com ele em misericórdia, e que, embora a aflição era excessiva, ainda nos mares que a menos do que a sua iniqüidade merecia. Se, de fato, qualquer pecador ser mantido fora do inferno, é porque falha de Deus compaixão não.

Renovam-se cada manhã – Dia e noite proclamar a misericórdia e compaixão de Deus. Quem poderia existir ao longo do dia, se não houvesse uma providência superintende contínua? Quem poderia ser preservado no meio da noite, se o guarda de Israel nunca dormia ou dormia? (ADAM CLARKE. Comentário Bíblico de Adam Clarke. Lamentações de Jeremias).

 

 

CONCLUSÃO

A experiência do reino de Judá no cativeiro é uma triste lição para todos os crentes. Quando os “falsos deuses” ocupam o coração de uma pessoa, ela se torna cativa de suas escolhas erradas. A boa notícia é que, pela misericórdia de Deus, Judá retornou à sua Terra Prometida. Deus ainda usa suas misericórdias para com seu povo. Elas não têm fim. “Novas são cada manhã” (Lm 3.23).

 

 

PARA REFLETIR

A respeito de “O Cativeiro de Judá”, responda:

 

  • Quais foram as calamidades que se abateram sobre Judá?

Dentre muitas, a pobreza, a miséria, a fome, o cativeiro e a morte.

  • Que advertência Jeremias deu ao rei Zedequias?

Ele deveria se render ao rei de Babilônia para que sua integridade fosse preservada.

  • Quanto tempo durou o cerco a Jerusalém?

Dezoito meses.

  • Em qual livro da Bíblia estão registrados os lamentos de Jeremias? Que lição este livro nos passa?

Lamentações de Jeremias. Assim como Jeremias mudou sua desolação para um estado de esperança, também o cristão deve desenvolver uma atitude de fé diante de suas dificuldades e enfrentamentos.

  • Qual é o maior motivo da nossa esperança?

A ressurreição de Cristo.

 

Subsídio elaborado por: Pb Alessandro Silva. Disponível em: https://professordaebd.com.br/13-licao-3-tri-21-o-cativeiro-de-juda/. Acesso em: 20 SET 21.