Comentário elaborado por Pb Alessandro Silva.
TEXTO AUREO
“Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele despedaçou e nos sarará. fez a ferida e a ligará.” (Os 6.1)
VERDADE PRATICA
Deus sempre adverte seu povo sobre os perigos da idolatria e suas terríveis consequências.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
2 Reis 17.1-14,17-20,29
INTRODUÇÃO
O cativeiro de Israel ocorreu durante o reinado do rei Oséias. Nessa época, a Assíria começava a crescer e a se tornar um grandioso império, controlando várias nações, inclusive Israel. Durante os últimos trinta anos de Israel, o país foi acometido de muitas tragédias, injustiças e assassinatos, em razão de desprezarem e mandamentos de Deus. A nação israelita entrou em decadência política, social, econômica e religiosa.
Comentário
Durante os últimos 30 anos de Israel, o país foi acometido de muitas tragédias e assassinatos, especialmente por desobedecerem aos mandamentos de Deus. Instalou-se o caos político com cinco dinastias e quatro assassinatos de reis. A nação estava em colapso político, social, econômico e religioso. As advertências de Deus para que abandonassem a idolatria e fossem poupados não surtiu efeito. A nação afundava-se nos seus pecados cada vez mais. A solução de Deus para o seu povo escolhido foi a dispersão por meio do cativeiro, não sem antes agir com misericórdia e amor, como demonstrado pelo profeta Oseias.
Antes de experimentarem o caos descrito anteriormente, sob o reinado de Jeroboão II, a nação passou por prosperidade econômica e reconquistas territoriais, cujas posses foram perdidas para a Síria, que dominou a região palestina por algum tempo. Ele fortificou a capital Samaria e, após várias conquistas, estabeleceu um reinado de paz e prosperidade. Mas, infelizmente, conforme demonstram os profetas Amós e Oseias, esse resultado foi alcançado com corrupção e injustiça social, e, religiosamente, eles estavam cheios de hipocrisia e sincretismo. Períodos de prosperidade não fizeram o povo voltar-se para Deus e adorá-lo como estava na Lei. Foi na época de Jeroboão II que se levantaram os principais profetas escritores no Reino do Norte, que foram Jonas e Amós. Oseias surgiu um pouco mais tarde.
O cativeiro de Israel ocorreu durante o reinado do rei Oseias, que usurpara o trono do seu antecessor, Peca, assassinando-o e, assim, tornando-se o décimo nono rei de Israel. Nessa época, o Império Assírio estava começando a crescer e tornar-se imponente, controlando várias nações, inclusive Israel, que era um reino vassalo da Assíria.
Anteriormente, os reis Peca, de Israel, e Rezim, da Síria, fizeram uma aliança para deter o avanço da Assíria e tentaram incluir o Reino de Judá nessa aliança. Como Judá negou-se a ajudar, eles invadiram Judá causando-lhe pesadas perdas. Acaz, rei de Judá, pediu auxílio à Assíria contra a invasão dos reis da aliança. Ao ser atendido pela Assíria, o rei Tiglate-Pileser devastou a Síria e Israel, matou Rezim e substituiu Peca por Oseias, tornando-se o seu vassalo, tendo que lhe render submissão e lealdade.
Portanto, a conspiração impetrada por Oseias contra o seu antecessor Peca foi apoiada pela Assíria. Por esse motivo, Tiglate-Pileser, rei da Assíria, jactava-se de haver colocado Oseias como rei de Israel. Porém, ao cabo de algum tempo de reinado, Oseias, rebelando-se contra a Assíria, foi buscar apoio do Faraó Sô, do Egito, e cancelou o pagamento dos tributos que Israel era obrigado a pagar à Assíria, obrigando a Assíria a empreender uma campanha militar contra Israel. Nessa época, o rei da Assíria era Salmaneser V. A Assíria foi um dos primeiros grandes impérios e ficou conhecida pela sua força bélica e a sua crueldade desferida contra os seus inimigos, cortando os seus lábios, língua, membros sexuais, orelha e nariz e, ainda por cima, obrigando-os a trabalhar como escravos.
Além disso, eles tinham métodos de matança ainda mais cruéis: os inimigos eram esfolados vivos, queimados ou espetados numa estaca até ficarem totalmente exauridos. Os assírios espalhavam o horror por onde passavam, causando muito medo em todas as nações e fazendo com que quase ninguém lhes oferecesse resistência.
O poderio de terror assírio somente seria vencido quando surgiu Nabopolassar e o seu filho Nabucodonosor, que venceram o Império Assírio e fortaleceram o Império Babilônico. O terror do invasor foi previsto pelo profeta Oseias: “Samaria virá a ser deserta, porque se rebelou contra o seu Deus; cairão à espada, seus filhos serão despedaçados, e as suas mulheres grávidas serão abertas pelo meio” (Os 13.16).
Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.
Chegou o Fim Inevitável. O reino do norte, Israel, estava prestes a ser obliterado. A sorte não podia mais esperar pelo devido desfecho. Oséias foi o último rei de Israel. Dessa vez, não apenas um rei, mas um reino inteiro morreria. A antiga síndrome do pecado-julgamento-destruição poria fim àquela confusão toda. A Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura assinalaria o fim da nação de Israel. A nação do norte, Israel, tinha caído em uma irreversível apostasia. A história dessa nação de Israel tinha degenerado em matar, ser morto e idolatrar. A paciência divina se tinha esgotado.
“Oséias foi o último rei do reino do norte. Ele precisou submeter-se ao rei da Assíria; mais tarde, porém, ele se rebelou, atiçado pelas promessas do Egito. Então, o rei da Assíria aprisionou Oséias, cercou a cidade de Samaria, e, quando a cidade caiu, após um cerco de três anos, ele deportou uma larga porção da população” (Norman H. Snaith, in loc.). Mas essa não foi a primeira deportação. Ver II Reis 15.29. O cativeiro assírio não foi um acontecimento em uma única fase. Foi um processo que se prolongou por várias décadas, tendo havido três deportações principais. Mas no fim o cativeiro assírio mostrou-se absolutamente eficaz: Israel, o reino do norte, foi varrido da face da terra.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1531.
Esse cativeiro também é connhecido como cativeiro das dez tribos de Israel. Embora nos refiramos a esse cativeiro como um único evento, na realidade envolveu um complexo processo. A maior parte da população das tribos israelitas do norte foi levada em exílio, não para a Babilônia (que foi a experiência da tribo de Judá; ver sobre o Cativeiro Babilónico), mas para a Assíria (que vide). O período durante o qual essa remoção teve lugar, estendeu-se por cerca de cento e cinqüenta anos. Podemos dividir esse período em quatro fases: a. a daqueles levados cativos por Tiglate-Pileser III, nos dias de Peca, rei de Israel, em cerca de 740 A.C. Nesse exílio estiveram envolvidas as tribos transjordânicas de Israel (I Crô. 5:26), e os habitantes da Galiléia (II Reis 15:29). O destino deles foi a Assíria, b. Durante o reinado de Oséias, rei de Israel, Salmaneser, rei da Assíria, invadiu Israel por duas vezes (II Reis 17:3,5), provavelmente levando os israelitas que tinham sobrevivido na outra invasão, c. Seu sucessor, Sargão II, em 721 A.C., conquistou a capital, Samaria, e levou mais de vinte e sete mil pessoas. Isso está registrado nos anais de Corsabade. d. O que não fora levado cativo pelos reis anteriores, outros monarcas assírios,—especialmente Esar-Hadom, em cerca de 681-668 A.C., levou embora.
Atualmente, há estudiosos que acreditam que os descendentes desses exilados israelitas, em várias levas, encontram-se, muito misturados com outros povos, na região em torno do lago Vã, na porção extremo oriental da moderna Turquia, onde esse país tem fronteiras comuns com o sul da União Soviética, com o Irã ocidental e com o norte do Iraque. Se isso corresponde à realidade dos fatos, é algo que não sabemos dizer. (ALB AM BAD BAR E)
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 675.
I – SAMARIA É CERCADA PELO REI DA ASSÍRIA
1. Israel sob o reinado de Jeroboão II. A nação de Israel experimentou prosperidade económica e conquistas de territórios perdidos para a Síria que, durante algum tempo, dominava a Palestina. Mas infelizmente, conforme nos adverte os profetas Amós e Oséias, esses resultados foram alcançados através de corrupção, injustiça social, hipocrisia religiosa e sincretismo (2 Rs 17.2,29-33). Os períodos de prosperidade não fizeram o povo retornar a Deus para adorá-lo, conforme a Lei.
Comentário
Cada nação fez ainda os seus próprios deuses nas cidades que habitava. A idolatria generalizada continuou, a despeito dos débeis esforços contrários em Betei, e a despeito da continuação da praga dos leões. Os santuários e templos do norte (Israel) foram tomados e os antigos deuses foram substituídos pelos deuses dos recém-chegados, ou foram aceitos, e a esses foram acrescentadas outras divindades. Assim sendo, a idolatria cresceu espetacularmente naquela terra que tinha antes pertencido aos filhos de Abraão e que Yahweh lhes dera como possessão.
Nos santuários dos altos. Temos aqui outra alusão aos “lugares altos” (ver a respeito no Dicionário), os santuários locais. Os pagãos aproveitaram esse grande número de santuários que os israelitas tinham deixado, e adicionaram ali sua própria idolatria pagã, ou substituíram por suas próprias formas, de acordo com a vontade deles.
Que os samaritanos tinham feito. Temos aqui o primeiro uso bíblico do termo “samaritanos”, vocábulo esse que veio a indicar um povo misto, o qual, em tempos posteriores, aderiu à sua própria forma de yahwismo, com sua própria versão do Velho Testamento, o Pentateuco. Por meio desse texto, aprendemos que os samaritanos eram, virtualmente, pagãos puros. O elemento israelita entre eles deve ter sido extremamente pequeno, embora não fosse inexistente (ver II Crônicas 30.1 e 34.9). A última dessas duas citações diz respeito especificamente a um remanescente de Israel, ao passo que a primeira delas mostra que algum yahwismo sobreviveu no antigo território de Israel.
De acordo com as fontes informativas judaicas, os samaritanos seriam descendentes de colonos que os assírios implantaram no reino do norte, que se amalgamaram com os israelitas que os assírios haviam deixado na terra. Porém, se houve miscigenação, então os filhos tornaram-se israelitas puros, pois a teologia samaritana não demonstra sinal de influência pagã. Ver detalhes no artigo que tenta explicar essas questões.
Cada grupo de imigrantes assirios estabeleceu seus próprios ídolos pagãos; e o autor sagrado nos fornece aqui alguma delineação sobre a questão.
- Sucote-Benote (os da Babilônia). Esse nome próprio nunca foi explicado de modo satisfatório. O artigo que me serviu de fonte informativa diz o que pode ser dito. Esperaríamos nomes típicos da Babilônia, como Marduque-Zarbanít ou Marduque-Zapanitum. Pelo contrário, temos aqui uma combinação com – benote (filhas de). Alguns eruditos pensam que o texto massorético tenha corrompido o nome original, que seria típico da Babilônia. Seja como for, parece termos aqui em vista Sakkut (o planeta Saturno), com sua conseqüente adoração às estrelas.
- Nergal (de Cuta). Essa era a principal divindade adorada naquela cidade. Tratava-se de uma divindade do submundo, mas era também parte da adoração astral da Mesopotâmia, identificada com o planeta Marte. Havia um dia especialmente devotado a ele, a cada mês, o dia vinte e oito. Quanto a detalhes, ver o artigo. Muitas cidades da antiguidade tinham suas formas especiais dessa idolatria.
- Asima (de Hamate). Os papiros de Elefantina tem o nome composto ‘s-m- bethel, ao que tudo indica uma referência à esposa secundária de Nahu. Quanto a detalhes, ver o artigo. As evidências demonstram que havia certa variedade de tipos dessa idolatria, dependendo do colorido local.
- Nibaz (dos aveus). Não possuímos nenhuma informação sobre essardivindade pagã, embora existam algumas poucas conjecturas. As tradições judaicas dizem que esse deus era adorado sob a forma da cabeça de um cão, mas essa referência é duvidosa. Ver o artigo sobre ele, no Dicionário, quanto a maiores detalhes.
- Tartaque (também dos aveus). Não temos informações certas sobre essa divindade pagã, embora as tradições judaicas nos digam que esse deus era adorado sob a forma de um asno. Quanto a maiores detalhes, ver o artigo no Dicionário.
- Adrameieque (dos sefarvitas). Um deus que requeria sacrifícios humanos no fogo, entre outras formas de adoração estranhas e corrompidas. Provavelmente deveríamos ler aqui Adade-meleque, onde Meleque significa “rei”, no idioma assírio. Adade, por sua vez, era uma antiga divindade da Babilônia, um deus das tempestades e da chuva, chamado de “príncipe dos céus e da terra”. Seu nome aparece nos textos de Ras Shamra. Seu culto tinha muitas manifestações locais diferentes.
- Anameleque (também dos sefarvitas). É provável que devêssemos ler aqui Anu-meleque, para concordar com o que sabemos sobre a antiga idolatria da área da Assíria-Babilônia. Anu era o grande deus-firmamento dos babilônios. Ele é mencionado nas inscrições de Hamurabi. Os deuses da natureza eram: Anu (do firmamento); Enlil (da terra); Ea (das águas) e Nergal (do submundo). Por conseguinte, a idolatria assegurou que tudo fosse corrompido pela falsa adoração. Ver no Dicionário o artigo chamado Deuses Falsos, bem como o deus falso mencionado aqui sob o sétimo ponto.
Assim temiam o Senhor. Ecletismo. Dentro de sua horrenda mistura de “um deus para tudo e para todos”, eles adicionaram o yahwismo-, e, sem dúvida, em muitos santuários da antiga nação de Israel homens ainda tentavam seguir a legislação mosaica, ou isolada, ou misturada com formas do paganismo. A nação do norte, Israel, depois que se separou de Judá, sempre fora assim, mas agora novas formas de idolatria vieram com os recém-chegados, para “enriquecer” o culto religioso. A religião samaritana, em suas formas posteriores, requeria que os sacerdotes fossem descendentes de Arão, mas no estágio mencionado no presente versículo, coisa alguma parecida com isso estava sendo observada.
“Somente uma religião híbrida existia na terra… Não somente o sangue deles se havia corrompido mediante casamentos mistos com aquela gente pagã, mas a religião deles também foi infectada pelo paganismo” (Raymond Calking, in loc.).
“Esse sincretismo havia sido proibido pelo Senhor (ver Èxodo 20.3)” (Thomas L. Constable, in loc.).
Dentre os do povo constituíram sacerdotes dos lugares altos. Ou seja, a regra que dizia que um sacerdote só podia ser aproveitado dentre os descendentes de Abraão não estava sendo praticada, nem poderia tê-lo sido, pois não havia sido deixada na terra nenhuma casta sacerdotal. Eles precisavam fazer sacerdotes vindos de qualquer classe, de qualquer povo. Eles agiram como tinha agido Jeroboão I, concernente à ordenação de sacerdotes. Ver I Reis 12.31. Ver Èxodo 6.18,20; 28.1 quanto às restrições bíblicas referentes aos sacerdotes levíticos.
Temiam o Senhor e ao mesmo tempo serviam aos seus próprios deuses. Um autêntico ecletismo. Embora “temessem o Senhor” (ou seja, praticassem o yahwismo de acordo com os ditames da lei mosaica), eles também participavam nas idolatrias das sete nações (ver Êxodo 33.2; Deuteronômio 7.1) que os filhos de Israel tinham expulsado da Terra Prometida. Essa mistura os condenava, porque quebrava o segundo e o terceiro dos Dez Mandamentos (ver a respeito no Dicionário), o que foi letal para a religião.
Segundo o costume das nações dentre as quais tinham sido transportados. Em sua história posterior, eles também adotaram a idolatria da Síria e da Assina, a Síria sendo um inimigo constante e implacável, e a Assíria como o povo que os levara ao cativeiro. Esse fato nos impressiona como um absurdo. Ver o capítulo 16 de II Reis, que mostra como Acaz imitou a idolatria assíria, e até teve um altar idólatra especial estabelecido no terreno do templo de Jerusalém, que substituiu o altar de bronze dedicado a Yahweh.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1536.
Os nove anos do reinado de Oséias, que antecederam o “furacão” assírio que passou pelo Reino do Norte, foram caracterizados pela prática da iniquidade. Entretanto, essa afirmação fica suavizada pela frase, contudo, não como os reis de Israel que foram antes dele (2). Talvez esta seja uma referência ao fato de Oséias permitir que pessoas de outras tribos fossem a Jerusalém para celebrar a festa da Páscoa (2 Cr 30.10ss).
A Religião Sincretista dos Samaritanos (17.29-33)
O resultado foi que os povos das regiões da Mesopotâmia combinaram o culto ao Deus de Israel com a sua antiga religião. Assim, ao Senhor temiam e também a seus deuses serviam (33). Não sabemos como foi resolvido o problema dos leões. E provável que eles deixaram de ser um problema à medida que a população aumentava. Os povos são relacionados novamente, cada um com o seu deus particular que trouxeram a Samaria (30,31; cf. 24). Sucote-Benote (30), o deus dos babilônios, não pode ser explicado de forma adequada. Parece que ele tinha alguma ligação com Zarbanit, a consorte de Marduque, o principal deus da Babilônia. Nergal, do povo de Cuta, era uma divindade masculina que originalmente estava associada com o calor do sol e do fogo, mais tarde foi o deus da guerra e da caça, e por fim passou a ser o deus dos desastres em geral. Asima dos hamateus pode ser uma variação de Aserá ou o primeiro elemento do Ashembethel mencionado nos papiros de Elefantina. Nibaz e Tartaque (31) não puderam ser identificados com algum grau de certeza. Foi sugerido que o primeiro tinha origem elamita; mas isso ainda é questionável e também foi proposto que o segundo podia ser uma variante da deusa síria Atargatis relacionada com Atar ou Anate. Adrameleque, do povo de Sefarvaim, é considerado uma variante hebraica de Adadmeleque (Adadmilki). Parece que Anameleque teria alguma relação com o deus sumério-acadiano Anu. Em fontes sírias, como nessa passagem bíblica, o elemento divino melech (o termo hebraico para malik) ocorre na composição de nomes de deuses associados com o sacrifício humano.
Harvey E. Finley. Comentário Bíblico Beacon I e II Reis. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 368; 370-371.
Que, sendo assim ensinados, eles criaram uma religião sincretista, adoravam ao Deus de Israel por temor e a seus próprios ídolos por amor. Ao Senhor temiam, mas a seus deuses serviam (v. 33). Todos eles concordaram em adorar ao Deus da terra de acordo com o costume, observar as festas e os ritos de sacrifício judaicos, mas cada nação fez, paralelamente, seus próprios deuses, não apenas para seu uso particular em suas famílias, mas para serem colocados nas casas dos altos (v. 29). Os ídolos de cada país são aqui mencionados (w. 30,31). Os eruditos estão perdidos no que se refere ao significado de vários desses nomes, e não chegam a um acordo sobre as representações sob as quais esses deuses eram adorados. Se pudermos dar crédito às tradições dos doutores judeus, eles nos dizem que Sucote-Benote era adorado em uma galinha e pintinhos, Nergal em um galo, Asima em um bode sem pêlo, Nibaz em um cão, Tartaque em um asno, Adrame- leque em um pavão e Anameleque em um faisão. Nossos próprios eruditos nos dizem que, mais provavelmente, Sucote-Benote (que significa as tendas das filhas) era Vénus. Nergal, sendo adorado pelos cutitas, ou persas, era o fogo. Adrameleque e Anameleque eram apenas nomes diferentes de Moloque. Veja como os idólatras eram vãos em suas imaginações e maravilhe-se com a sua estupidez. Nossa grande ignorância a respeito desses ídolos nos ensina a realização daquela palavra que Deus tinha falado, que todos esses falsos deuses desapareceriam (Jr 10.11). Todos eles estão sepultados no esquecimento, enquanto que o nome do verdadeiro Deus continuará para sempre.
- Diz-se aqui que essa superstição misturada continuou até ao dia de hoje (v. 41), até o tempo quando esse livro foi escrito e muito tempo depois, mais de trezentos anos ao todo, até o tempo de Alexandre o Grande, quando Manasses, irmão de Jado, o sumo sacerdote dos judeus, tendo se casado com a filha de Sambalate, governador dos sama- ritanos, passou por cima deles, conseguiu permissão de Alexandre para construir um templo no monte Gerizim, atraiu muitos judeus até ele, e convenceu os samaritanos a jogarem fora todos os seus ídolos e adorarem apenas ao Deus de Israel. Mas a sua adoração era misturada com tanta superstição que nosso Salvador lhes disse que eles não sabiam o que adoravam (Jo 4.22).
A respeito dos israelitas que foram levados para a terra da Assíria. O historiador tem oportunidade de falar deles (v. 33), mostrando que seus sucessores na terra fizeram o que eles tinham feito (segundo o costume das nações dentre as quais tinham sido transportados), eles adoraram ao Deus de Israel e àqueles outros deuses. Mas o que os cativos fizeram na terra de sua aflição? Eles se emendaram e foram trazidos ao arrependimento pelas suas tribulações? Não, eles seguiram o antigo costume (v. 34). Quando as duas tribos foram posteriormente levadas para a Babilônia, elas foram curadas de sua idolatria e, por essa razão, depois de setenta anos, foram trazidas de volta com alegria. Mas as dez tribos foram endurecidas no forno, e por isso com justiça se perderam nele e foram abandonadas para perecerem.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 609.
2. A traição do rei Oséias. O rei da Assíria, Salmaneser, descobriu que Oseias, seu vassalo, o traíra ao buscar apoio do Egito e interromper o pagamento dos tributos ao seu reino (2 Rs 17.3.4). Enfurecido, o soberano mandou prender Oseias, marchou com seus exércitos contra Samaria, e a sitiou por três anos (2 Rs 17.5). A partir daí, Israel não teria mais chances de negociação; só lhe restaria a guerra e a consequente deportação.
Comentário
Oseias foi considerado um rei rebelado quando buscou apoio do Egito e interrompeu o pagamento dos tributos de reino vassalo. Isso enfureceu tanto o rei Assírio Salmeneser V que ele fez um cerco a Samaria que durou três anos. Agora, Israel não teria mais chances nem negociações, e somente a guerra e a deportação resolveriam a situação.
Os cercos a qualquer cidade na Idade Antiga eram repletos de muitos sofrimentos, pois as entradas da cidade eram fechadas; ninguém podia sair; os campos ficavam sem cultivo; as mercadorias necessárias não entravam na cidade, prejudicando, assim, o comércio e o escambo; a água muitas vezes era racionada e extremamente escassa, de forma que uma pesada angústia era infligida ao povo.
Essa estratégia de guerra era utilizada pelo exército inimigo para esvair as forças de resistência da cidade a ser conquistada; portanto, três anos de cerco foi um longo tempo de desespero para uma nação que já fazia tempo que não se importava mais com o culto a Deus.
Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.
Contra ele subiu Salmaneser, rei da Assíria. A única outra referência bíblica a esse rei assírio fica em II Reis 18.9. Foi rei da Assíria entre 726 e 722 A. C. Conforme o meu artigo demonstra, vários reis foram chamados por esse nome. O rei aqui em pauta é discutido no quarto ponto daquele artigo. Seu pai chamava-se Adade-Nirari III. Ele recebeu tributo de Israel e provocou perturbações locais, mas foi Sargão quem efetuou o cerco de Samaria. Por esse tempo, Salmaneser já havia morrido. Ao que parece, Salmaneser encabeçou duas invasões a Israel (em 727 e 724 A. C.), mas não levou suas campanhas militares ao extremo de obter a vitória total e a deportação dos habitantes de Samaria.
Oséias, sabedor de que compartilharia da temível sorte da Síria (ver II Reis 16.9), decidiu poupar Samaria, e simplesmente pagou tributo. A primeira deportação de Israel já havia ocorrido (ver II Reis 15.29). A estrela da Assíria estava subindo no firmamento; e a de Israel estava descendo. O fim estava próximo para o reino do norte, Israel, mas Oséias adiou isso por mais algum tempo, comprando o rei assírio com dinheiro e com o pagamento de tributo. Acaz havia feito a mesma coisa (ver II Reis 16.7 ss.), mas finalmente o tributo não seria mais suficiente para os gananciosos assírios. O tributo era uma taxa anual, e não apenas uma contribuição feita de uma vez só (vs. 4).
Uma Conspiração é Descoberta. O tributo era muito pesado. A enfraquecida nação de Israel estava sendo esmagada. Oséias procurou ajuda no Egito e, no ano em que fez isso, não pagou seu tributo à Assíria.
Sô, rei do Egito. Esse nome suscita dificuldades, porquanto é difícil colocá-lo dentro da dinastia dele, e com os nomes de homens que governaram o Egito como reis. Alguns estudiosos têm tentado identificar Sô com dois reis da vigésima quinta dinastia (etíope), ou seja, Shabaka ou Shabataka. Sargão mencionou certo Sibu, um general egípcio que ele derrotou em Rafia (na estrada para o Egito, a vinte e sete quilômetros de Gaza). O ano foi 720 A. C. Ele também mencionou Pim (Faraó), rei do Egito. Mediante uma manipulação de vogais (e não de consoantes), o nome Sewe poderia ser lido como Sô, e essa palavra, por sua vez, poderia ser um simples equivalente a Shabi, que significa “príncipe” ou “governante”. Nesse caso, nenhum nome próprio está em vista, e a identificação permanece assim na dúvida. Alguns eruditos escolhem Osorcom IV (que governou por volta de 727-716 A. C.) como a pessoa em vista. Winckler diz que não está em pauta o Egito (Miçrayim), e sim o reino árabe de Muçri.
Tendo descoberto a conspiração, e não tendo recebido seu tributo anual, Salmaneser marchou contra Samaria; ele capturou Oséias e lançou-o em uma prisão. Mas antes de a conquista ter terminado, ele mesmo morreu, e a Sargão foi conferido o dever de acabar com Samaria e deportar seus habitantes para solo assírio. Cf. Jeremias 32.2,3; 33.1 e 36.5.
Salmaneser gostaria de ter vivido o bastante para ver Israel no cativeiro, mas não lhe foi conferido esse luxo psicológico. Seu sucessor, Sargão, após um cerco de três anos, veria o fim da tarefa. É uma coisa terrível alguém ser cortado pela morte, antes de um projeto pessoal estar terminado. Oh, Senhor! Livra-nos de tal coisa! Alguns eruditos, porém, fazem este quinto versículo referir-se a Salmaneser, enquanto o versículo sexto referir-se-ia a Sargão II. O cerco durou três anos para produzir os efeitos desejados. É possível que Salmaneser tenha continuado por dois anos, e que Sargão tenha terminado a tarefa, em mais um ano. Nas inscrições assírias, Sargão afirma ter cumprido a tarefa em apenas um ano. Salmaneser era irmão de Sargão II.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1532.
A Traição contra a Assíria (17.3,4)
Oséias iniciou o seu reinado sob Tiglate-Pileser. Quaisquer que tenham sido as políticas específicas impostas a Israel, aparentemente ele subiu ao trono depois de Tiglate- Pileser. Parece que Salmaneser veio à Palestina como parte de uma campanha voltada ao oeste. Nessa época, Oséias ficou sendo servo dele e dava-lhe presentes (3), isto é, o rei da Assíria reduziu o Reino do Norte à posição de vassalo e lhe cobrava tributos anuais66. Um partido que se opunha ao pagamento de tributos anuais aos assírios provavelmente influenciou Oséias a tentar fazer uma aliança com o Egito e, ao mesmo tempo, parar de pagar o tributo a Salmeneser. Com base nos detalhes registrados nos anais assírios, Sô, rei do Egito (4), foi identificado com Sib‘e (em hebraico Siwe), comandante de uma das pequenas monarquias do delta egípcio67.
Salmaneser mandou prender Oséias por causa de sua rebelião. Aposição desse detalhe no relato bíblico parece indicar que, através de oficiais da terra ou por outros meios, o imperador assírio mandou prender o rei de Israel antes de iniciar o ataque contra Samaria. Entretanto, essa afirmação pode significar simplesmente que ele foi capturado e preso depois da queda da cidade.
Samaria é Sitiada pela Assíria (17.5,6)
Inúmeras fontes extrabíblicas comprovam e complementam o relato bíblico sobre a queda de Samaria como conseqüência do cerco dos assírios. Entretanto, no versículo 3 não está claro se o rei da Assíria (5) deve ser entendido como Sargão II ou Salmaneser V A tendência é acreditar que Sargão era o governante assírio que estava realmente no poder na época da derrota de Samaria. Aafirmação da Crônica Babilónica de que Salmaneser conquistou Samaria não deve ser entendida como uma contradição às afirmações sobre Sargão, mas como um complemento a ela. A combinação das informações dessas fontes sugere que Salmaneser V deu início ao cerco, mas que ele morreu no outono do último ano de seu reinado (723/722) e que seu sucessor, Sargão II, completou a conquista de Samaria69. Por outro lado, Olmstead afirma veementemente que Salmaneser V era o rei ao qual foi feita uma referência no versículo 5.
Harvey E. Finley. Comentário Bíblico Beacon I e II Reis. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 368.
3. A advertência dos profetas. O aumento da riqueza nacional, especialmente sob o reinado de Jeroboão II, fez com que pequenos proprietários fossem espoliados pelos mais ricos, até que se tornassem pobres e servos desses usurpadores. Enquanto os mais abastados viviam na extravagância, os pobres eram vilipendiados e permaneciam na miséria. Essas injustiças fizeram com que os profetas Amós e Oséias formalizassem graves denúncias (Am 5.6-9). Todos estes brutais pecados da nação de Israel foram apontados pelos profetas com pesadas advertências ao arrependimento, e apelos à misericórdia e ao amor de Deus (Os 7.11-14). O Todo-Poderoso sempre abominou o sincretismo em Israel, em que o povo adorava os ídolos e ao mesmo tempo oferecia cultos a Deus. Foi por isso que o profeta Amós advertiu àquela obstinada nação com tanta severidade (Am 5.21-27). Deus não se deixa escarnecer, e não tolera um coração dividido com outros deuses ou objetos de adoração. Esses falsos deuses influenciavam o coração do povo, inclinando-o contra a vontade de Deus declarada em sua Palavra.
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O aumento da riqueza nacional, especialmente sob o reinado de Jeroboão II fez com que pequenos proprietários fossem espoliados por proprietários mais ricos, até que os primeiros tornaram-se pessoas pobres e servos desses espoliadores, tendo que cultivar a terra onde outrora eram proprietários independentes. Enquanto os ricos viviam luxuosamente na sua extravagância, os pobres eram vilipendiados e viviam na miséria. Essa injustiça fez com que os profetas Amós e Oseias fizessem as suas denúncias, […] especialmente devido ao fato de que os ricos expropriadores de seus vizinhos mais pobres eram meticulosos na realização daquilo que consideravam seus deveres religiosos. Os profetas insistiam incansavelmente que aquilo que Yahweh requeria de Seu povo não era holocaustos de animais cevados, mas sim, justiça e lealdade ao pacto, pela falta do que a nação estava à beira do desastre maior do que qualquer coisa que a havia atingido até o momento.
Incansavelmente, Deus enviou os seus profetas, em especial Amós e Oseias no Reino do Norte, com apelos para que a terrível sentença fosse revogada pelo arrependimento. “Buscai o Senhor e vivei, para que não se lance na casa de José como um fogo, e a consuma, e não haja em Betel quem o apague” (Am 5.6).
Deus abominou o sincretismo que o povo estava praticando, adorando os ídolos, sendo injustos e infiéis e, ao mesmo tempo, querendo oferecer culto a Deus, misturando a sua devoção com outros deuses. Por isso, o profeta Amós advertiu: Aborreço, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me dão nenhum prazer. E, ainda que me ofereçais holocaustos e ofertas de manjares, não me agradarei delas, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias dos teus instrumentos. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça, como o ribeiro impetuoso. Oferecestes-me vós sacrifícios e oblações no deserto por quarenta anos, ó casa de Israel? Antes, levastes a tenda de vosso Moloque, e o altar das vossas imagens, e a estrela do vosso deus, que fizestes para vós mesmos. Portanto, vos levarei cativos, para além de Damasco, diz o Senhor, cujo nome é Deus dos Exércitos. (Am 5.21-27)
Deus não se deixa escarnecer. Ele especialmente não tolera quando o coração está dividido com outros deuses que disputam lugar e dão ordens ao coração humano; ou seja, o ser humano passa a fazer escolhas segundo o seu falso deus em detrimento das sábias escolhas da Palavra de Deus, que são vida.
Todos os pecados de Israel foram amplamente incluídos nas profecias com sérias advertências ao arrependimento e apelando à misericórdia e ao amor de Deus: Porque Efraim é como uma pomba enganada, sem entendimento; invocam o Egito, vão para a Assíria. Quando forem, sobre eles estenderei a minha rede e, como aves do céu, os farei descer; castigá-los-ei, conforme o que eles têm ouvido na sua congregação. Ai deles, porque fugiram de mim; destruição sobre eles, porque se rebelaram contra mim; eu os remi, mas disseram mentiras contra mim. E não clamaram a mim com seu coração, mas davam uivos nas suas camas; para o trigo e para o vinho se ajuntam, mas contra mim se rebelam. (Os 7.11-14)
Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.
Porque Efraim é como uma pomba enganada. A pomba não dá evidências de ser um pássaro muito inteligente. Estudos modernos sobre a inteligência das aves demonstram que as espécies diferem muito quanto a esse quesito. A inteligência dos pássaros está altamente envolvida na questão da sobrevivência. Aqui Israel é comparado a uma ave tola e ingênua que perde a vida por causa da ausência de inteligência. Em vez de correr para Yahweh, pedindo-Lhe ajuda, arrependendo-se e endireitando as coisas para melhor, mediante a ajuda divina, Israel se refugiou em poderes estrangeiros pagãos, como o Egito e Assíria, e acabou queimando-se. É provável que este versículo se refira aos partidos pró- egípcio e pró-assírio que encorajavam alianças com potências estrangeiras, na esperança de impedir a conquista assíria mediante aplacamento, tributos e alianças falsas. “Tudo isso tem um aspecto familiar. Trata-se da antiga história do jogo sórdido da diplomacia e da política, com suas palavras ribombantes, usadas para encobrir a ganância e a intriga. Israel, sem dúvida, pensava estar sendo esperta por causa de suas normas oportunistas e sem princípios. Na verdade, porém, era apenas uma pomba estúpida, pronta para ser apanhada pelo gavião” (Harold Cooke Phillips, in loc.).
“Sob Menaém (cerca de 743-738 A. C.), Israel submeteu-se ao controle assírio (ver II Reis 15.19,20). Peca (cerca de 734 A. C.) aliou-se em uma coligação contra a Assíria, que Tiglate-Pileser III esmagou violentamente (ver II Reis 15.29). Oséias (cerca de 732-722 A. C.), depois de reconhecer o domínio assírio por algum tempo, suspendeu o pagamento dos tributos e tentou firmar aliança com o Egito (II Reis 17.3,4). Esse ato de rebeldia provocou uma norma política estrangeira que, durante vinte anos, vinha sendo caracterizada por medidas vacilantes e expedientes” (Robert B. Chisholm, Jr., in loc.).
Quando forem, sobre eles estenderei a minha rede. Todo esse pragmatismo não deixou de ser observado por Yahweh, cujo pacto com Israel vinha sendo constantemente desconsiderado, enquanto os estrangeiros tomavam conta de tudo e a idolatria determinava o espírito religioso de Israel. Yahweh apanharia a pomba insensata em sua rede de retribuição, tal como um passarinheiro sem misericórdia termina com a vida de algum pássaro impotente.
Castígá-los-ei, segundo o que eles têm ouvido na sua congregação.
Nessas palavras temos uma tentativa da nossa versão portuguesa de compreender um hebraico obscuro e, possivelmente, corrupto. 1. A Revised Standard Version diz apenas: “Eu os castigarei por causa de seus feitos ímpios” (“feitos” substitui a frase “segundo o que eles têm ouvido na sua congregação”). 2. “Eu os castigarei conforme os tenho advertido” (NCV, com outro palpite, referindo-se a advertências dadas na congregação por parte de profetas fiéis). 3. Eu os castigarei com aflições avassaladoras, o que é sugerido pelo texto da Septuaginta. 4. Nyberg e Weiser, em seu livro Das Buch der zwoif kieinen Propheten, in loc., tentaram presen/ar a metáfora do aprisionamento do pássaro com “eu os capturarei quanto ouvir o ruído de suas asas” (cf. Juí. 14.8).
Sem dúvida, Oséias mesmo tinha falado em suas assembleias, proferindo as advertências apropriadas, em concordância com a lei. Ver Lev. 26.14-39; Deu.
28.13-68 e 32.15,35, com reverberações nos versículos que se seguem.
A Infidelidade de Efraim a Yahweh (7.13-16)
Ai deles! porque fugiram de mim. Maldições divinas acompanhariam o caminho daqueles réprobos. As palavras dos profetas tinham sido rejeitadas, e os pseudo-sábios tinham corrido a alianças estrangeiras em busca do que o arrependimento sincero deveria realizar. O termo hebraico ‘oy (ai!) implica condenação iminente para a qual o povo não estava preparado, enquanto esvoaçava como se fosse um bando de pombas tolas. Israel estava sob sentença de morte (8.1-14), e nem ao menos sabia disso. As transgressões da lei mosaica haviam condenado o povo a uma sentença horrenda. Yahweh queria ser o Redentor de Seu povo, mas esse mesmo povo O forçou a feri-los com o exército assírio. Eles apresentavam falsamente Sua mensagem, e seus profetas eram homens cheios de mentiras, prometendo paz e não falando em arrependimento. Yahweh fora capaz de redimir Seu povo do Egito (ver Deu. 7.8; 9.26; II Sam. 7.23; Sal. 72.42; Miq. 6.4). O Deus do êxodo não mudara em nada Sua mente. Mas a geração dos tempos de Oséias não queria essa redenção. E, assim sendo, não haveria redenção. Aqueles réprobos estavam cheios de mentiras pagãs e falsificações da espiritualidade. Fingiam ser adoradores de Yahweh, mas tudo não passava de fraude. Cf. Sal. 78.36 e Jer. 3.10. Mediante sua vida e suas palavras, eles testemunhavam contra a verdade do Senhor e contra a Sua pessoa. Afirmavam poder fazer o que bem entendessem, pois Yahweh olharia em outra direção. Não acreditavam na lei da colheita segundo a semeadura.
Não clamam a mim de coração. “Não me chamam do fundo do coração. Tão-somente jazem em seus leitos e clamam. Eles vêm juntos atrás de cereais e vinho novo, mas na realidade afastam-se de mim” (NCV). Não havia arrependimento na sua mente. Eles pediam socorro por causa de sua aflição, mas isso não se transformava em clamor pela ajuda divina, condicionada pela lei mosaica e seus requisitos. Eles pediam favores, uma boa colheita e comida em abundância, mas tinham abandonado a Fonte de todo o bem-estar. Para obter cereais e vinho eles se acutilavam, o que provavelmente se refere às lacerações do corpo que os adoradores de Baal praticavam, a fim de obter favores da parte dele. Portanto, temos aqui o quadro ridículo de israelitas a praticar lacerações corporais proibidas, para obter favores de uma divindade cananéia. Lacerar-se era sinal de lamentação, o que os adoradores não deveriam fazer (ver Jer. 16.6; 41.5; 47.5). A lei de Moisés proibia as automutilações (ver Deu. 14.1). Os profetas de Baal cortavam a si mesmos tentando conseguir a ajuda do deus das tempestades (ver I Reis 18.28).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3462.
Eles estavam desvairados em seus conselhos, e recorriam a métodos muito errados quando estavam em aflição (v. 11,12): Efraim é como uma pomba enganada, sem entendimento. Ser indefeso como uma pomba, sem fel, e não ferir ou prejudicar os outros, é louvável; mas ficar desorientado como uma pomba, sem entendimento, não sabendo como se defender e prover a sua própria segurança, é uma vergonha.
- A estupidez de uma pomba é: (1) Que ela não se lamenta pela perda dos seus filhotes que são tirados dela, mas fará o seu ninho outra vez no mesmo lugar; assim eles têm o seu povo levado embora pelo inimigo, e não são afetados por isto, mas continuam se relacionando com aqueles que lhes tratam barbaramente. (2) Que ela é facialmente atraída pela isca no ninho, e não tem esperteza, não tem entendimento, para discernir o perigo, como muitas aves têm, Provérbios 1.17. Ela se apressa para o laço, e não sabe que ele está ali contra a sua vida (Pv 7.23); assim eles eram atraídos a fazerem associações com nações vizinhas que eram a ruína deles.
(3) Que, quando ela está assustada, não tem coragem de permanecer no pombal, onde está segura, e debaixo da proteção cuidadosa do seu dono, mas bate as asas e paira, buscando abrigo primeiro em um lugar, depois em outro, e assim se expõe excessivamente; desse modo este povo, quando estava em aflição, não buscava a Deus, não voava como as pombas para as suas janelas onde poderiam ter ficado protegidas de todas as aves de rapina que as atacavam, mas se lançou para fora da proteção de Deus, e então invocou o Egito para os ajudar, e foram com toda pressa para a Assíria, para buscar em vão a ajuda que poderiam, pelo arrependimento e pela oração, ter encontrado mais perto de casa, no Senhor seu Deus. Note que é uma coisa louca e sem sentido que aqueles que têm um Deus no céu confiem em criaturas para obterem refúgio e alívio, sim, as bênçãos que deveriam ter somente nele; e aqueles que agem deste modo são um povo sem entendimento, sem discernimento. Agora:
- Veja o que acontece com esta pomba tola (v. 12): Quando eles forem para o Egito e para a Assíria, eu estenderei a minha rede sobre eles. Note que aqueles que não se sujeitam à misericórdia de Deus devem esperar ser perseguidos pela justiça de Deus. Aqui: (1) Eles são apanhados em uma armadilha: “Eu estenderei a minha rede sobre eles, os farei sofrer, para que possam ver a sua loucura e pensar em voltar.” Note que é comum que aqueles que se afastam de Deus encontrem armadilhas onde esperavam encontrar abrigos. (2) Eles são humilhados; lançam voo para cima, orgulhosos de suas alianças estrangeiras e por confiarem nelas; mas eu os farei descer, deixarei que eles voem muito alto, como as aves do céu, que são abatidas voando. Note que Deus pode e abaterá aqueles que se exaltarem como uma águia, Obadias 3 e 4. (3) Eles são obrigados a sofrer as consequências da sua loucura: Castigá-los-ei. Observe que as decepções que enfrentamos na criatura, quando depositamos nela a nossa confiança, são castigos ou disciplinas necessários, para que possamos aprender a ser mais sábios da próxima vez. (4) Em tudo isso a Escritura é cumprida. E conforme o que eles têm ouvido na sua congregação; eles foram avisados muitas vezes pela palavra de Deus lida, pregada, e cantada, em suas reuniões religiosas: “Vã é a ajuda do homem”, no filho do homem não há ajuda; eles ouviram tanto da lei como dos profetas que juízos Deus traria sobre eles por causa da impiedade que praticavam; e como ouviram agora, eles verão, eles sentirão.” Note que cabe a nós prestarmos atenção na palavra de Deus que ouvimos na congregação, para sermos governados por ela, pois em breve devemos ser julgados por ela; e isto justificará a Deus na condenação dos pecadores, e servirá de agravante por terem recebido um claro aviso público; é isto que a congregação deles ouviu muitas vezes, mas não quiseram aceitar o aviso. Filho, lembra-te de que foi dito a ti o que aconteceria; e agora vedes que não eram palavras vãs. Veja Zacarias 1.6.
Eles fugiram de Deus e se rebelaram contra Ele, apesar dos vários métodos que Ele usou para mantê-los em Sua aliança, v. 13-15. Observe aqui:
- Como Deus tinha tratado com eles de forma bondosa e afetuosa, como um soberano misericordioso a um povo que lhe era estimado, e cuja prosperidade ele tinha no coração. Ele os tinha remido (v. 13), os tirado, a princípio, da terra do Egito, e desde então, os livrado de muitas angústias. Ele lhes tinha ensinado e fortalecido os seus braços, v. 15. Quando a força deles estava enfraquecida, como um braço quebrado ou deslocado, Deus resolveu o problema, e o imobilizou, como um cirurgião faz com um osso quebrado, para ligá-lo novamente. Deus tinha dado a Israel vitórias sobre os siros (2 Rs 13.16,17), tinha restabelecido os seus termos (2 Rs 14.25,26), os havia cingido com força para a batalha. “Embora eu os tenha castigado” (assim se lê na anotação de margem de algumas traduções), “às vezes os tenha corrigido por causa dos seus erros e, portanto, os tenha ensinado, em outras vezes tenha fortalecido os seus braços e os aliviado, embora eu tenha usado meios tanto comuns como incomuns para operar sobre eles, isto não serviu para nada; eles eram à prova de misericórdia e à prova de juízo.”
- Como a conduta deles tinha sido insolente em relação a Ele, o que é descrito aqui pela condenação e humilhação de todos aqueles que haviam continuado em qualquer caminho de impiedade, para que pudessem ver o quanto o pecado deles é extremamente odioso, o quanto é hediondo, como o Deus do céu interpreta isto, e o quanto se ressente disso. (1) Ele os havia buscado, e os levado a fazer uma aliança com Ele, mas eles fugiram dele, como se tivesse sido seu inimigo perigoso, sim, Aquele que, na realidade, sempre mostrou ser um amigo fiel deles. Eles se afastaram dele, como a pomba tola do seu ninho, pois aqueles que deixam a Deus não acharão nenhum descanso nem tranquilidade na criatura, mas vagarão eternamente. Eles fugiram de Deus quando deixaram de adorá-lo, e abandonaram o seu serviço, e se retiraram da aliança que tinham com Ele. (2) Ele tinha lhes dado as suas leis, que são todas santas, justas, e boas, pelas quais planejava mantê-los no caminho certo; mas eles transgrediram contra Ele; pecaram com arbitrariedade e obstinação, intencionalmente e presunçosamente (este é o significado das palavras); eles arrombaram a cerca da lei divina, e com isso frustraram o plano do amor divino. (3) Ele tinha feito com que as Suas verdades fossem conhecidas por eles, e lhes dado todas as provas possíveis da sinceridade da Sua boa-vontade para com eles; contudo, eles disseram mentiras contra Ele. Eles estabeleceram falsos deuses para competirem com Ele; negaram a sua providência e o seu poder; e assim negaram ao próprio Senhor, Jeremias 5.12. Eles rejeitaram as mensagens que lhes foram enviadas pelos seus profetas, e disseram uns aos outros que teriam paz, embora continuassem no pecado; isto era diretamente contrário ao que o Senhor havia dito. Em suas confissões hipócritas de religião, demonstrações de devoção, e promessas de mudança, eles mentiram ao Senhor; e Ele as considerou como mentiras contra Si mesmo. (4) Ele era, por direito, o seu Senhor e Rei, e tinha sempre governado em Jacó com justiça, e para o bem público; no entanto, eles se rebelaram contra Ele, v. 14. Eles não só fugiram dele, mas levantar armas contra Ele; se pudessem, teriam deposto o precioso e bendito Senhor, e estabelecido outro.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 947-948.
II – OS PECADOS DO POVO E SUA QUEDA
1. O terrível pecado da idolatria. Desde que o reino de Israel foi dividido, o Norte se inclinou mais intensamente à idolatria que o Sul. Provavelmente esta foi a razão de Israel ter sido levado para o cativeiro algumas dezenas de anos antes de Judá. Apesar do caos espiritual e rejeição de Israel, Deus queria salvar o povo. Foi então que o Senhor convocou o profeta Oséias para uma situação bastante estranha. Pediu que ele se casasse com uma prostituta e tivesse filhos com ela (Os 1.2). Essa prostituta representaria a nação de Israel. Oseias cumpriu a ordem do Senhor e se casou com Gômer (Os 1.3) e teve três filhos. Cada filho que o profeta tinha com a prostituta mostrava a desaprovação divina com o povo de Israel. Deus colocou o casamento do profeta Oséias como uma lição prática da infidelidade do reino do Norte. Nesta metáfora, a prostituta (Israel) deixa seu marido (Deus) para se deleitar com seus amantes (Egito e Assíria) e ainda pagava para estar com eles. Hoje se pode ver o mesmo padrão de vida imoral sempre que o povo de Deus se desvia da genuína dedicação ao Todo-poderoso (Pv 5.3).
Comentário
Desde que o reino foi dividido entre o Norte e o Sul, a opção do Reino do Norte foi aplicar-se à idolatria. Além da inclinação natural a esse mal, havia um receio de que o povo do Norte nostalgicamente quisesse ir adorar a Jeová em Jerusalém, o que seria um grave problema político, pois poderia ocasionar a fragilização por meio da religião ao Reino do Norte. Dessa forma, assim que ocorreu a divisão, houve uma preocupação em estabelecer locais de culto a Jeová como em Betel, Gilgal e Jericó, mas também em aproveitar a inclinação à idolatria do povo, e, nesses mesmos locais e em outros de Israel, foram erguidos locais de culto para divindades pagãs.
Assim, havia várias opções para o povo não se dirigir a Jerusalém. Essa política foi iniciada por Jeroboão I, motivo pelo qual ele tornou-se referência principal para a idolatria e o sincretismo religioso em todo o livro de Reis.
A inclinação de Israel para a idolatria foi muito maior que a do Reino de Judá. Certamente, esse foi o motivo por que o cativeiro de Israel aconteceu algumas dezenas de anos antes do de Judá. A lista de reis de Israel que constam no livro de Reis não tem nenhum que tenha sido bom no sentido de encaminhar o povo para um compromisso com Deus. A maioria deles praticou idolatria abertamente e ainda incentivou o povo a fazê-lo; já outros adoravam os ídolos e a Deus como se fossem divindades de um mesmo páreo (2 Rs 17.33).
As histórias narradas em 1 e 2 Reis dão conta de que os reis de Israel prestaram culto a outros deuses e ídolos; utilizaram-se e construíram altares idólatras, colunas sagradas e postes sagrados, especialmente a Aserá; construíram ídolos de metal em forma de bezerros; prestaram culto a Baal; seguiram costumes pagãos dos povos com os quais estabeleceram alianças; praticaram o mal secretamente, sobretudo crimes de injustiça social, corrupção e idolatria; queimaram os seus filhos em sacrifício aos falsos deuses; e praticaram a adivinhação e a feitiçaria, o que foi terminantemente proibido na Lei Mosaica. Portanto, é uma lista interminável de atrocidades e perversidades para um povo que fora escolhido por Deus dentre todas as nações da terra. Os pecados sociais quanto à exploração ou à indiferença para com o pobre foram duramente criticados pelos profetas. Percebe-se que eles trataram esse problema em pé de igualdade com a idolatria.
Amós assim se refere ao assunto:
Ouvi esta palavra, vós, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que quebrantais os necessitados. […] (4.1). Ouvi isto, vós que anelais o abatimento do necessitado e destruís os miseráveis da terra, dizendo: Quando passará a lua nova, para vendermos o grão? E o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganadoras, para comprarmos os pobres por dinheiro e os necessitados por um par de sapatos? E, depois, venderemos as cascas do trigo. Jurou o Senhor pela glória de Jacó: Eu não me esquecerei de todas as suas obras para sempre! (8.4-7).
Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis um tributo de trigo, edificareis casas de pedras lavradas, mas nelas não habitareis; vinhas desejáveis plantareis, mas não bebereis do seu vinho. Porque sei que são muitas as vossas transgressões e enormes os vossos pecados; afligis o justo, tomais resgate e rejeitais os necessitados na porta. […] Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis. Aborrecei o mal, e amai o bem, e estabelecei o juízo na porta; talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos, tenha piedade do resto de José. (5.11,12,14,15) O profeta Oseias faz um brilhante trocadilho com a falsidade existente na adoração aos deuses, referindo-se ao fato de que os falsos deuses adorados por Israel não lhes socorreram no momento de maior aflição. Tais deuses, ante os quais a nação de Israel prostrava-se com rituais, cultos e sacerdotes, eram impotentes para socorrê-la:
Os moradores de Samaria serão atemorizados pelo bezerro de Bete-Áven, porquanto o seu povo se lamentará por causa dele, como também os seus sacerdotes (que nele se alegravam), e por causa da sua glória, que se apartou dela. (10.5) Especialmente grave era a forma como os sacerdotes entraram em conluio com os administradores e governantes para extorquir o povo. Vejamos o que escreveu Oseias sobre isso:
Como hordas de salteadores que espreitam alguém, assim é a companhia dos sacerdotes que matam no caminho para Siquém; sim, eles têm praticado abominações. Vejo uma coisa horrenda na casa de Israel: ali está a prostituição de Efraim; Israel é contaminado. (Os 6.9,10)
Tempo depois, o profeta Jeremias profetizou algo parecido para Judá: “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja; e que fareis no fim disso?” (Jr 5.30,31). Jeremias aponta para um faz-de-conta, como num acordo coletivo silencioso e subjetivo, em que o clero e o povo fazem de conta que servem a Deus.
Além das causas morais, sociais e espirituais descritas anteriormente e que ocasionaram o cativeiro, outras causas também podem ser apontadas, mas que certamente são consequências do declínio moral e espiritual:
A divisão do reino deixou Israel enfraquecido e este não pode enfrentar sozinho os seus inimigos. As alianças que Israel fez com as nações vizinhas também o enfraqueceram, pois muitas vezes ele teve que pagar elevados tributos. Além do mais, enfraqueceu-se lutando contra Judá. Sobretudo, os reis do norte eram indignos. Houve várias revoltas, acompanhadas muitas vezes de regicídios e mudanças de dinastia. Dezenove reis e nove dinastias reinaram nos dois séculos de sua existência, e dentre estes reis, dez morreram de forma violenta.
Essa situação espiritual calamitosa de Israel atraiu a indignação divina, até que, conforme relato de Reis, Ele expulsou-os da sua presença. Os israelitas foram levados cativos pela Assíria em 722 a.C., ao final do cerco a Samaria, que durou três anos. Segundo os registros do rei assírio Sargão II, foram exilados 27.280 cativos. Os deportados nunca mais voltaram, exceto alguns poucos para repovoar Samaria; certamente, os exilados desapareceram para sempre, absorvendo as práticas pagãs e misturando-se com os demais povos.
Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.
Gômer, uma Mulher de Adultérios (1.2,3)
Quando pela primeira vez falou o Senhor por intermédio de Oséias. Símbolo da Prostituição e do Adultério. Um profeta ou sacerdote não podia tomar como esposa uma mulher prostituta, sobretudo se ela continuasse praticando a sua “arte”. É assunto de discussões se a esposa de Oséias já era uma prostituta, ou se ela se prostituiu depois de ter-se casado com ele. Este versículo, considerado isoladamente, subentende a primeira possibilidade. Encontramos aqui uma ordem altamente irregular, dada pelo próprio Yahweh. Todas as regras deveriam ser quebradas. Esse homem santo deveria buscar uma prostituta, ainda praticante, para tomá-la como esposa. Através de tão estranha circunstância seria ensinada uma lição objetiva espiritual. A nação de Israel era essa prostituta-adúltera, e Yahweh era seu marido. A nós cabe aprender lições sobre a infidelidade, o julgamento e o amor de Deus, que é capaz de restaurar até o pior dos pecadores.
Quando pela primeira vez. Quando o ministério de Oséias estava apenas começando, bem no início de sua carreira, ele recebeu esse mandato incomum. O nome Oséias significa “salvação”. Haveria muitos a serem salvos, sob circunstâncias difíceis. Ver no Dicionário o artigo chamado Idolatria. Nisso consiste o adultério espiritual. Ver também o verbete chamado Adultério. Israel tornou-se uma nação caracterizada pela idolatria, pelo adultério e pela apostasia.
Logo no começo do ministério de Oséias, o Senhor o instruiu a casar-se com uma mulher adúltera. Essa relação, caracterizada pela infidelidade por parte da esposa, era um retrato da infidelidade de Israel ao pacto com o Senhor (ver Osé. 2.2-23).
Foi-se, pois, e tomou a Gômer. Quanto ao que se sabe ou se conjectura sobre Gômer, ver no Dicionário o-artigo com esse nome, segundo ponto, onde ofereço as várias interpretações concernentes a essa mulher, em relação às condições de seu casamento. 1. O texto sacro certamente não é metafórico, no sentido que a coisa inteira seja uma parábola, e não uma história real. 2. O casamento foi literal. Alguns estudiosos insistem em que Gômer não era uma prostituta quando Oséias se casou com ela. Isso equivale a dizer que o vs. 2 deste livro “antecipa” aquilo em que ela se transformaria, e não o que ela era quando se casou. 3. Porém, se aceitarmos o versículo tal e qual ele se manifesta, sem pensar em truques, teremos de aceitar que ela era uma mulher que freqüentava as ruas, quando de seu casamento com Oséias. E se Gômer era uma mulher israelita, então torna-se necessário que ela fosse uma idólatra, alguém que adorava os bezerros de Jeroboão, em Dã ou Betei. Nesse caso, Oséias tomou uma adúltera espiritual, mas o texto está falando de adultério físico, o que também acaba sendo um adultério espiritual.
Oséias conseguiu tirar Gômer do bordel, mas não foi capaz de tirar o bordel de Gômer.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3447.
Estas palavras, o princípio da palavra do Senhor através de Oséias, pode se referir: 1. Ao grupo glorioso de profetas que foi levantado por volta desta época. Nesta época, viveram ali e profetizaram: Joel, Amós, Miquéias, Jonas, Obadias, e Isaías. Mas, Oséias foi o primeiro deles a predizer a destruição de Israel. O princípio desta palavra do Senhor foi dado através dele. Lemos na história deste Jeroboêo, aqui mencionado (2 Rs 14.27), que o Senhor ainda não havia dito que iria riscar o nome de Israel. Mas, logo depois de ter dito que iria fazê-lo, Oséias foi o profeta que começou a declarar isso. Este fato tornou esta tarefa muito mais difícil para ele; Oséias deveria ser o primeiro a levar uma mensagem desagradável, algum tempo antes de qualquer um ser levantado para ajudá-lo. Ou: 2. As próprias profecias de Oséias. Esta foi a primeira mensagem que Deus enviou a ele para este povo, para lhes dizer que eles eram uma geração má e adúltera. Ele poderia ter desejado ser dispensado de tratá-los de forma tão dura, até que tivesse ganho autoridade e reputação, e algum valor nos sentimentos deles. Mas não; ele deveria começar com esta mensagem, para que eles pudessem saber o que esperar de um profeta do Senhor. Ele não deveria somente pregar isto a eles, mas seria necessário descrever, publicar, e deixar a mensagem registrada como um testemunho contra eles. Agora aqui:
IO profeta deve, como um espelho, mostrar-lhes os pecados que praticavam, e mostrar como as suas atitudes eram excessivamente pecaminosas, excessivamente odiosas. O profeta recebe ordens para tomar para si uma mulher de prostituições e ter filhos de prostituição, v. 2. E ele fez isso, v. 3. Ele se casou com uma mulher de má fama, Gomer, filha de Diblaim, não uma que havia se casado e cometido adultério, porque então ela teria sido morta, mas uma que havia vivido escandalosamente na sua condição de solteira. Casar-se com alguém assim não era malum in se – mal em si, mas apenas malum per accidens – incidentalmente um mal, uma atitude imprudente, indecente, ou inconveniente, e, portanto, proibida aos sacerdotes, e que, se realmente fosse feito, seria uma aflição para o profeta (isto é trazido como uma maldição sobre Amazias, a sua mulher ser uma meretriz, Amós 7.17); mas não foi um pecado porque Deus o ordenou para uma finalidade santa. Se foi ordenado, era seu dever, e ele deveria confiar a Deus a sua reputação. Mas alguns comentaristas pensam que isto foi feito em visão, ou que não passe de uma parábola; e esta era uma forma de ensino comumente usada entre os antigos, particularmente pelos profetas. Aquilo que eles queriam transmitir aos outros, eles transferiam a si mesmos em uma figura, como diz o apóstolo Paulo, 1 Coríntios 4.6. Ele deveria tomar uma mulher de prostituições, e ter filhos com ela; todos iriam suspeitar (embora fossem filhos legítimos) que eram filhos de prostituição, gerados em adultério, porque é muito comum que aqueles que vivem lascivamente na condição de solteiro não vivam de um modo melhor na condição de casado. “Agora” (disse
Deus) “Oséias, este povo é para mim uma desonra, um desgosto e um aborrecimento, como uma mulher de prostituições e filhos de prostituição seriam para ti. Porque a terra cometeu grandes prostituições.” Em todos os casos de impiedade eles se desviaram do Senhor; mas a sua idolatria é, especialmente, a prostituição de que eles são acusados. Dar a qualquer criatura a glória que é devida somente a Deus é uma ofensa e uma afronta a Deus, assim como é para o marido o fato da esposa abraçar o seio de um estranho. E especialmente assim na vida daqueles que fizeram uma profissão de fé, e que foram tomados em aliança com Deus; isto é o mesmo que quebrar os laços do matrimônio; este é um pecado hediondo e odioso, e, tanto quanto qualquer coisa, intoxica a mente e afasta o coração. A idolatria é uma grande prostituição, pior do que qualquer outra; é se desviar do Senhor, para com quem estamos sob as maiores obrigações do que qualquer esposa em relação ao seu marido. A terra se prostituiu; não é aqui e ah uma pessoa específica que é culpada de idolatria, mas toda a terra está contaminada com ela; o pecado se tornou nacional, a doença é epidêmica. Que coisa odiosa seria para o profeta, um homem santo, ter uma mulher de prostituições e filhos de prostituição como ela! Que exercício seria da sua paciência, e, se ela persistisse nisso, o que poderia ser esperado além dele lhe dar uma carta de divórcio? E não é então muito mais ofensivo ao Deus santo ter um povo como esse, que, além de tudo, deseja ser chamado pelo Seu nome e ter um lugar em Sua casa? Como é grande a Sua paciência com eles! E como é justo que Ele os rejeite! E como se Ele tivesse se casado com Gomer, filha de Diblaim, que provavelmente era naquela época uma meretriz conhecida. A terra de Israel era como Gomer, filha de Diblaim. Gomer significa corrupção; Diblaim significa dois bolos, ou caroços de figos; isto indica que Israel estava próximo da ruína, e que a sua luxúria e sensualidade eram a sua causa. Eles eram como os figos ruins que não podiam ser comidos; eles eram muito maus. Isto sugere que o pecado era o filho da abundância, e que a destruição era a filha do abuso da abundância. Alguns dão este sentido para a ordem aqui dada ao profeta: “Vai, toma uma mulher de prostituições, porque, se fosses procurar uma mulher honesta e recatada, não acharias; pois toda a terra, e todo o povo que nela habita, está entregue à prostituição, a acompanhante habitual da idolatria. ”
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 911.
2. Outras causas do cativeiro. Os pecados relacionados à exploração e indiferença para com o pobre foram duramente criticados pelos profetas. Percebe-se que tais iniquidades são colocadas em pé de igualdade com a idolatria. O profeta Amós condenou estas transgressões de maneira implacável: “Ouvi esta palavra, vós, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que quebrantam os necessitados […] Ouvi isto, vós que anelais o abatimento do necessitado e destruís os miseráveis da terra (Am 4.1; 8.4). A situação era tão grave que até os sacerdotes fizeram um conluio com os governantes para extorquir o povo (Os 6.9,10). Deus fez um juramento dizendo que jamais se esqueceria das maldades de Israel (Am 8.4-7).
Comentário
Como hordas de salteadores que espreitam alguém. Havia bandos de ladrões (King James Version) que assaltavam nas áreas ao redor, lançando emboscadas contra os peregrinos ou viajantes de qualquer espécie, a fim de matar e saquear. Entre eles estavam os sacerdotes, que não eram diferentes de outros varões brutais que havia na região. As palavras “matam no caminho para Siquém” (cf. Juí. 9.25) têm causado alguma discussão. Que o leitor preste atenção a estes pontos:
- Diz a NCV: “Eles assassinam pessoas no caminho para Siquém”, sendo que Siquém era uma das cidades de refúgio. Ver no Dicionário o artigo chamado Cidades de Refúgio, quanto a detalhes. Não sabemos dizer se esse fator tinha algo que ver com os assassinatos ou não. Talvez os sacerdotes rejeitassem essa instituição e fizessem assassinatos de vingança, antes que os fugitivos pudessem chegar à segurança em uma das cidades de refúgio.
- Ou então esses assassinatos tinham por propósito o roubo. Eles tinham transformado em comércio o jogo do assassinato.
- Alguns eruditos veem aqui assassinatos espirituais, através da idolatria e do paganismo, e não assassinatos literais, mas isso fica aquém do que o texto bíblico está tentando ensinar.
- Outros estudiosos compreendem que os sacerdotes cometiam esses crimes a caminho para Siquém, nas peregrinações. Nesse caso, eles assassinavam colegas peregrinos para ficar com seus bens, um vil ato de traição, para dizermos o mínimo.
- Ou, finalmente, assaltos hostis contra Siquém estão em vista aqui.
Praticam abominações. O vocábulo hebraico zimmah, traduzido aqui como “abominações”, era usado para indicar os pecados mais grosseiros, como: incesto (Lev. 18.17); prostituição cultual (Lev. 18.17); estupro (Juí. 20.5,6); adultério (Jó 31.9,10). Outros entendem estar em pauta a grosseira idolatria, o mais ridículo pecado que um sacerdote poderia cometer. Uma Doença Incurável (6.10 – 7.2)
Vejo uma cousa horrenda na casa de Israel. A idolatria-adultério- apostasia de Israel foi diagnosticada como incurável. Talvez esta seção continue com a tirada contra os sacerdotes ou, agora, a acusação é generalizada para falar contra todos os cidadãos da “casa de Israel”, provavelmente um sinônimo de Efraim. A palavra “Efraim” é usada 36 vezes no livro de Oséias, usualmente como termo alternativo para Israel. Era a maior e mais forte tribo dos dias de Oséias, pelo que esse nome é usado para representar o país inteiro. Mas alguns entendem aqui o termo “casa” referindo-se ao templo ou santuário, provavelmente o de Betei, um dos mais horrendos locais da idolatria no reino do norte. Aqui, idolatria e prostituição são a mesma coisa, havendo uma forma inteiramente debochada de idolatria que era praticada juntamente com a prostituição sagrada. “… o espírito da prostituição está no meio deles, e não conhecem ao Senhor” (Osé. 5.4). Osé. de 5.3 já havia dito como Efraim fora inteiramente contaminada por sua prostituição. Cf. este versículo com Jer. 5.30; 18.13 e 23.14.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3460.
A corrosão dos valores morais (4.1-3)
Israel estava vivendo obstinadamente no pecado. Tornara-se pior do que as nações pagãs. Tinha caído num poço mais profundo do que aqueles que sempre viveram mergulhados nas trevas. Amós menciona alguns desses terríveis pecados: Em primeiro lugar, o culto ao corpo (4.1). Basã é o território situado a leste do rio Jordão, entre o monte Hermom e as montanhas de Gileade. As vacas de Basã eram notórias por sua condição de bem nutridas e fortes, porque as pastagens dessa região eram luxuriantes (Dt 32.14; SI 22.12; Ez 39.18).'”” Nessa região, as reses eram famosas pela sua beleza e carne. Ao chamar as mulheres de Samaria de vacas de Basã, Amós diz que elas só se preocupavam com o corpo, com a aparência, com a sensualidade e com o prazer.
Crabtree diz que o pejorativo vacas de Basã é bastante forte e picante, indicando o poder e a influência das mulheres elegantes na corrupção da vida social e econômica do povo de Israel.'”‘^ Amós diz a essas mulheres que elas, à semelhança das vacas de Basã, engordam para o abate. Era uma geração hedonista que vivia para atender aos desejos do corpo. Vivia para o luxo. Vivia para gratificar os ditames da carne. As mulheres de Samaria eram como o escol do gado, contentes com uma existência puramente animal, e não desejavam nada mais. Era o corpo, e não a alma, que preenchia as suas horas ativas. Hoje vivemos numa geração que idolatra o corpo. É o culto ao corpo.
Warren Wiersbe diz que o luxo pode ser identificado quando as pessoas com abundância de dinheiro, de tempo e de conforto usam tudo isso para satisfação própria, para um constante lazer despropositado. Viver no luxo é ser controlado pelos bens. E usar o que temos para nosso próprio deleite, ignorando as necessidades dos outros.
Em segundo lugar, a busca desenfreada do prazer (4.1).
As mulheres viviam entregues à bebedeira. Entregavam-se aos excessos, em festas caras e requintadas. A vida girava em torno do prazer. Essas “mulheres da sociedade” passavam todo o dia ociosas, bebendo vinho e dizendo aos maridos o que fazer. A prosperidade material sem o temor de Deus torna as pessoas extravagantes e tirânicas. Elas buscam o prazer a qualquer preço. Elas são insaciáveis e irrequietas.
Em terceiro lugar, a ganância insaciável aliada à opressão do pobre (4.1). As mulheres instruíam e empurravam seus maridos para tomar o pouco do pobre a fim de alimentarem sua ganância e satisfazerem a seus desejos carnais. A sociedade em que essas mulheres eram as determinantes não passava de um grupo que florescia nas misérias e nas indignidades acumuladas sobre os indefesos. Os pobres e os necessitados eram despojados e oprimidos sem escrúpulos de consciência.
As mulheres de Samaria se entregaram a dois graves delitos: não apenas viviam de forma fútil, mas também o faziam às custas dos pobres. Os ricos empregaram formas sórdidas de acumular riquezas. O luxo de suas casas e as taças de vinho reluzentes eram o pão arrancado da boca do pobre. A fim de usufruir o luxo, essas mulheres oprimiam e esmagavam os pobres. O apóstolo Paulo exorta os ricos a praticarem o bem e serem ricos de boas obras (iTm 6.17-19).
Em quarto lugar, a inversão dos papéis no casamento (4.1).
Os homens são mandados pelas mulheres e o fazem pelos piores motivos. Essas matronas vivem no luxo e empurram seus maridos para a linha perigosa da opressão ao pobre.
Seus maridos eram continuamente instados a proporcionar-lhes tudo que necessitassem para suas festanças, bebedeiras e bacanais, diz Feinberg.J. A. Motyer diz que as mulheres são as que determinam o rumo da sociedade. Elas sempre foram as guardiãs finais da moral, da moda e dos padrões.
Amós pode tomar o pulso da sociedade examinando suas mulheres típicas.
Amós diz que não está longe do juízo de Deus a terra cuja feminilidade é degradada, e tal era Samaria nos dias de Amós, diz Charles Feinberg.
Em quinto lugar, o justo juízo de Deus sobre o pecado (4.2,3). Amós fala sobre duas coisas solenes nesses dois versículos: Primeira, o juramento de Deus (4.2). O pecado jamais fica impune. Deus jura por Sua própria santidade que os opressores serão oprimidos. A santidade de Deus é o que faz Deus o que Ele é. A. B. Davidson diz que a santidade não é uma palavra que expressa qualquer atributo da divindade, mas expressa a própria divindade. Rowley diz que o homem teme quando se coloca diante de Deus, não por causa da consciência da sua humanidade na presença do divino poder, mas por causa da consciência do seu pecado na presença da pureza moral de Deus. J. A. Motyer diz que a questão e jurar “por” alguma coisa naturalmente significa acrescentar uma nota de certeza ao juramento. É o equivalente a dizer: “O juramento que faço é tão certo quanto a existência daquilo pelo qual o faço”. Deve ser algo de grande peso intrínseco e de grande urgência que a própria o povo diante do tribunal de Deus natureza de Deus tenha de ser invocada para apoio. O que afrontou a Deus a tal ponto? Uma sociedade e uma região organizada com base na autossatisfação humana.’^’ Tanto a abastada casa samaritana (4.1-3) quanto os frequentados templos de Betei e de Gilgal (4.4,5) estão organizados para a mesma finalidade. Tudo está organizado pelo ego e para o ego.
Os que oprimem o pobre para viverem nababescamente serão saqueados e levados cativos.
Segunda, o cativeiro humilhante (4.2,3). Aquelas mulheres que viviam nas altas rodas, com roupas caras, com joias reluzentes, deliciando-se em festas regadas de vinho, seriam arrastadas pelas ruas da cidade com fisgas, como se fossem peixes presos pelos anzóis. Elas seriam tratadas como gado que vai para o matadouro. Era costume dos assírios colocar ganchos no nariz ou no lábio inferior dos prisioneiros, amarrá-los a cordas e puxá-los como animais, quer para o cativeiro, quer para a morte. Era isso que o inimigo faria com as matronas ricas de Samaria.
LOPES. Hernandes Dias. AMOS Um clamor pela justiça social. Editora Hagnos. pag. 91-94.
Discurso de juízo contra as mulheres ricas de Samaria (4.1-3).
O chamado à atenção segue o padrão estereotipado de imperativos masculinos (3.1; 5.1), embora o grupo visado seja feminino (veja outro exemplo no comentário sobre Joel 2.22). O epíteto sarcástico vacas de Basã parece referir-se ao luxo que aquelas mulheres ricas desfrutavam e também a certa voluptuosidade e sensualidade que seu estilo de vida extravagante lhes propiciava. Além disso, alguns (Koch, p. 46) notam indícios de culto da fertilidade no título vacas, como se elas se considerassem consortes de Javé, a quem adoravam em santuários sob a imagem do deus-touro (cf. os bezerros baalizados de Oséias). Basã, a região mais fértil de Gileade, ao longo do rio Jarmuque, na Transjordânia, era um sinônimo de prosperidade na agricultura e na criação de animais (SI 22.12). A robustez que as mulheres e seus maridos consideravam beleza e bênção (cf SI 73.4-7; Ct 7.1,2; 8.10) era, de acordo com Amós, prova de seus crimes. Tal prosperidade era obtida a um custo incrível: opressão cruel (cf. 3.9) e molestamento incansável dos pobres e necessitados (cf 2.6,7). Maridos (senhores , ARC, PIB) deixa aberta a possibilidade de algumas mulheres serem concubinas, além de esposas. O desejo de beber a qualquer custo pode ser um comentário adicional a 2.8 e também uma antecipação de 6.6.
A certeza de seu julgamento e sua intensidade são os temas dos versículos 2-3. O juramento divino (jurou) outorga uma seriedade absoluta à ameaça de julgamento. Deus sustenta essa ameaça com todo o peso de Sua santidade, Seu caráter divino, a excelência intrínseca que O distingue da maneira como todas Suas criaturas se comportam (cf. comentário sobre Os 11.9). Veja como Amós emprega outros juramentos divinos para tomar solenes os anúncios de juízo em 6.8 e 8.7. O drama da ameaça é acentuado pela fórmula escatológica eis que virão dias sobre vós” (BJ), empregada aqui por Amós pela primeira vez (cf 8.11, outro anúncio de juízo, e 9.13, uma promessa de salvação).
Os dias são a época da intervenção divina na história e na política para acertar todas as contas. A fórmula aqui utilizada fortalece a ênfase de Amós de que a vinda futura de Deus trará duras surpresas para Israel (cf. 2.6-16; 3.1,2), armando o palco para o completo desenvolvimento de tal surpresa em seu oráculo de lamento no dia do Senhor (5.18-20).
A intensidade do julgamento das mulheres é clara, mas não o seu exato caráter, em grande parte por não conhecermos precisamente o significado dos instrumentos do cativeiro, no versículo 2 nem a localização e o sentido de Harmom (ou “Hermom”), no versículo 3. A maioria das traduções interpreta os apetrechos como “anzóis” ou “fisga de pesca” (ARA; IBB; ARC; PIB; Mays, com pontos de interrogação).
A NEB chama-os de “escudos” e “cestos de peixe”, enquanto Wolff defende algo como “cordas” e “harpões” (cf BJ). Os captores puxam e aguilhoam suas presas corpulentas como se elas fossem um rebanho de bois empacados, forçando-as a passar pelas muitas brechas nos muros da cidade, os quais foram danificados de tal forma que as portas, caso ainda de pé, tornam-se desnecessárias(v. 3).1 Alguma ajuda na identificação de Harmom, que muitos comentaristas emendam para “Hermom”, sugerindo a cadeia de montanhas oposta ao Líbano e que fica além de Damasco (cf 5.27), pode ter vindo de D. N. Freedman e F. I. Andersen. Partindo de uma sugestão de W. F. Albright, eles relacionam o “Harmom” de Amós com o hrnm ugarítico e com a moderna Hermel, próxima de Cades, no rio Orontes. Eles também assinalam que tal localização está de acordo com Amós 5.27 (cf. 2 Reis 25.6, que descreve a apresentação de Zedequias a Nabucodonosor, seu captor, em Ribla, a poucos quilômetros de Harmom).2 O que não se deve perder nessa palavra cruel às mulheres impiedosas, cujo paralelo bíblico mais próximo é Isaías 3.6 — 4.1, é o fato de que elas são consideradas pessoalmente responsáveis. Qualquer que tenha sido a cumplicidade de seus maridos (ou senhores) em seus crimes, aqui só elas são acusadas e somente sua punição é descrita. Nada no sistema social deles, por mais patriarcal que pudesse parecer de acordo com outros padrões, dava-lhes a mínima desculpa quando chegassem os dias de julgamento.
David Allan Hubbard. Joel e Amós Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 174-176.
III – OS ESTRANGEIROS OCUPAM SAMARIA
1. A mistura de gente e o sincretismo. Após o exílio, alguns israelitas pobres permaneceram em Samaria e na região. A política dos assírios era que os territórios espoliados fossem ocupados por povos de outras etnias e origens; promovendo assim, uma grande migração e reassentamento de pessoas. O objetivo era misturar as nacionalidades para evitar possíveis rebeliões e enfraquecer as províncias. Essa mistura de gente (Ne 13.3; Jr 25.20) fez com que o povo de Israel, que restou em Samaria junto aos deportados de outras nações, tornasse a religião israelita ainda mais sincrética. É por isso que temos no Evangelho de João: “os judeus não se comunicam com os samaritanos” (Jo 4.9).
Comentário
Havia sobrado uns poucos israelitas pobres que ficaram após o exílio em Samaria e região. A política Assíria era de que o território espoliado e vencido seria reocupado por povos de outras regiões e etnias, provocando, assim, uma grande migração e reassentamento de pessoas, misturando-se às nacionalidades para evitar rebeliões e enfraquecer as províncias. Esse procedimento do império fez com que o povo que restou em Samaria, aliado aos que foram para ali deportados pelos assírios, tornasse a religião ainda mais sincrética. Veja a lista de deuses que eram adorados nesse novo momento da história samaritana: Sucote-Benote, Nergal, Asima, Nibaz, Tartaque, Adrameleque e Anameleque (2 Rs 17.30-31).
Essa mistura de gente em Israel após o cativeiro assírio deu início ao povo samaritano, uma raça mista e odiada pelos judeus, em que qualquer pessoa era nomeada sacerdote ao bel-prazer daquele que tinha condições de sustentar um sacerdote. Como a terra ficou muito menos habitada do que era antes, leões começaram a proliferar e atacar as pessoas. Foi daí que surgiu a lenda de que atacaram pelo motivo de que não estavam adorando o deus da terra. Por causa disso o imperador assírio enviou um sacerdote a Betel que conhecia os costumes judaicos para tentar aplacar a ira de Deus. Israel, no entanto, já não adorava mais ao Senhor Deus fazia muito tempo.
“Mesmo quando esses povos adoravam o Senhor, também prestavam culto aos seus ídolos. Até hoje seus filhos e seus netos continuam a fazer o que os seus antepassados faziam” (2 Rs 17.41, NVI).
Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.
Naquele dia se leu para o povo no livro de Moisés. Estes três versículos devem ser vinculados a Nee. 12.44-47 como uma continuação. É usada a terceira pessoa do singular. As reformas de Neemias começam a ser narradas no vs. 4, e ali temos o “eu”, referindo-se a coisas que o próprio Neemias disse e fez. Ver acima sobre as memórias de Neemias. Nee. 12.44-13.3 fala sobre a comunidade ideal, que tinha de ser pura, separada dos gentios, separada dos pagãos. A leitura da lei de Moisés revela que os amonitas e moabitas não tinham parte na comunidade de Israel, por causa de infrações causadas no passado, quando eles procuraram impedir a conquista da Terra Prometida por parte de Israel. Ver Deu. 23.35 quanto à passagem em questão.
No paico do Israel pós-exílico, os amonitas eram o povo liderado pelo horrendo Tobias (ver Nee. 2.10 e 13.4-8). Os moabitas (povo que residia adjacente a Amom, mais ao sul) também estiveram envolvidos em planos contra o projeto de Neemias. Dentro do contexto antigo, tanto os moabitas quanto os amonitas estavam vedados de entrar na comunidade de Israel, devido a altiva oposição (ver Deu. 23.3). Seus atos, no tempo de Neemias, foram suficientes para desqualificá-los de participar na comunidade ideal estabelecida por Neemias. Os moabitas tinham ido tão longe, nessa oposição, que chegaram a contratar Balaão (vs. 1) para amaldiçoar Israel (Núm. 22-25), pelo que se tinham tomado malignamente culpados. Balaque era o homem que tivera a idéia diabólica de contratar Balaão para amaldiçoar Israel, e, embora nenhuma maldição tivesse sido permitida por Yahweh, os casamentos mistos com os moabitas arruinaram a separação e distinção de Israel como nação.
Note-se que os atos dessas nações foram condenados pelo manual da fé religiosa dos hebreus, a saber, a legislação mosaica.
Vs. 3. Ouvir a lei era suficiente para fazer os israelitas agir. Os hebreus estavam familiarizados com a antiga sindrome do pecado-calamidade-julgamento- restauração e ansiavam por evitar qualquer manifestação dessa sindrome no tempo de Neemias. A comunidade ideal era extremamente sensível à mera leitura das Escrituras que falavam sobre a separação entre Israel e outros povos. Mas logo veremos que a comunidade ideal não era assim tão ideal, conforme o tempo foi passando. Quando Neemias voltou a Jerusalém, logo percebeu que tinha muitas reformas a fazer, para que a comunidade ideal voltasse a seu estado inicial. Neste presente versículo, a lei lida foi um reflexo de Deu. 23.3. A “mistura estrangeira” (American Jewish Translation) precisava ser eliminada. Os judeus pensavam em si mesmos como a farinha pura, ao passo que os misturados com o paganismo, por meio de casamentos mistos, compunham a massa corrompida.
Extensão da Separação. Alguns eruditos pensam que os estrangeiros foram completamente banidos de Jerusalém e enviados a seus países de origem. Mas outros supõem que a exclusão foi apenas dos privilégios do templo e do culto. Quanto a outro banimento, anteriormente feito, ver Esd. 10.15-44.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1814-1815.
A ameaça do ecumenismo (13.1-3)
Neemias tange dois aspectos importantes sobre a questão do ecumenismo:
Primeiro, o ecumenismo é uma mistura proibida por Deus (13.1,2). A proibição de Deus não é racial, mas religiosa. Os amonitas e moabitas adoravam outros deuses. Eles não só foram hostis ao povo de Deus, mas contrataram um profeta amante do dinheiro para amaldiçoá-lo. A tolerância com o mal foi a causa da quebra da aliança firmada. O sacerdote Eliasibe, que sempre fora um opositor velado, com a ausência de Neemias por doze anos, abusivamente usou seu posto para desviar o povo de Deus. Possivelmente nesse tempo, o profeta Malaquias está denunciando a corrupção do sacerdócio de Jerusalém (Ml 2.1-9). O alerta do livro de Neemias é que a mistura com aqueles que adoram outros deuses corrompe a teologia, o culto e a moral.
Segundo, para não se cair na teia do ecumenismo, é imperativo um afastamento (13.3). Deus nunca ordenou ao seu povo a se unir com os pagãos com o fim de ganhá-los. A ordem de Deus é sempre: “Retirai-vos do meio deles…” (2Co 6.17). “Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices de seus pecados e para não participardes de seus flagelos” (Ap 18.4). Neemias diz que o povo, ao ouvir a Palavra de Deus, apartou de Israel todo elemento misto (13.3). Foi a leitura pública das Escrituras que tornou Israel consciente das suas obrigações diante de Deus como Seu povo. Há muita coisa do mundo entrando na Igreja que precisa ser tirado. Alguém, apropriadamente, já disse: “Procurei a igreja e a encontrei no mundo; procurei o mundo e o achei na igreja”. Infelizmente, por dolo de uns e conivência de outros, existem doutrinas falsas entrando nos seminários, nos púlpitos, nas igrejas. Precisamos nos acautelar. Muitas igrejas que um dia professaram uma fé genuína em Deus e adotaram doutrinas evangélicas ortodoxas estão hoje de braços dados com seitas heréticas. Com isso, essas igrejas perderam sua mensagem e sua autoridade como embaixadora de Deus.
LOPES. Hernandes Dias. Neemias, O líder que restaurou uma nação. Editora Hagnos. pag. 204-205.
Um povo à parte
Podemos identificar a passagem no livro de Moisés, visto que os w . 1 e 2 resumem fielmente Deuteronômio 23.3-5. Fiel ao estilo do Antigo Testamento, a proibição é inflexível e sem qualificações, para causar o impacto mais poderoso, mas o leitor sabe que noutros trechos há considerações que dão equilíbrio. É o amonita ou moabita na sua capacidade nativa de inimigo e corrompedor inveterado de Israel que está em mira, o adorador ou “adoradora de deus estranho” (Ml 2.11), subvertendo a vida e até mesmo o idioma de Israel (w . 23ss.). Mas basta vir como convertido, tal qual Rute, a moabita, e terá direito a uma recepção bem diferente.
Mais uma vez, foi a leitura pública das Escrituras que tornou Israel consciente das suas obrigações diante de Deus como um povo (cf. 8.1 ss., 13ss.; 9.3ss.). A ocasião exata em que esta leitura foi realizada é incerta, visto que a expressão: Naquele dia, não é necessariamente precisa, e os w . 4-6 demonstram que foi depois do primeiro mandato de Neemias como governador (ver o segundo parágrafo de comentários sobre 12.44-47, acima).
Kidner. Derek,. Esdras e Neemias Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 141.
2. Jesus e os samaritanos. Apesar do antagonismo entre judeus e samaritanos, Jesus os contemplou com muito amor. Ele deu atenção à mulher samaritana e lhe anunciou o Reino, fazendo-a conhecedora da Fonte de Água que sacia a sede humana de forma definitiva (Jo 4.13,14). E, em razão da dúvida daquela mulher sobre o legítimo lugar de adoração a Deus, Jesus foi enfático em dizer que o lugar não é físico ou geográfico, e sim espiritual: o coração do homem (Jo 4.23,24). Na parábola do “bom samaritano”. Jesus contrasta a religiosidade excessiva dos líderes religiosos judeus com a natural espiritualidade de um samaritano. Foi aquele homem, considerado indigno, que mostrou compaixão para com o ferido à beira do caminho: “Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão” (Lc 10.33). O Mestre quebrou paradigmas de religiosidade e espiritualidade ao se relacionar de forma amável e acolhedora com os samaritanos.
Comentário
A mistura de etnias, culturas e religiosidades em Samaria após o cativeiro assírio gerou uma mistura de gente e um sincretismo tão grande que Judá, o Reino do Sul, passou a não suportar mais essa situação e condenou tal atitude — embora alguns reis posteriores tenham chamado algumas pessoas do Norte para adorarem a Deus em Jerusalém. É por esse motivo que a Bíblia afirma que “os judeus não se comunicam com os samaritanos” (Jo 4.9). Embora houvesse uma preocupação com a mistura e a adoração a falsos deuses por parte dos judeus, isso também criou uma cultura de intolerância religiosa que Jesus Cristo utilizou para denunciar muitas práticas hipócritas dos judeus da sua época.
O antagonismo com os samaritanos era tão grande que as autoridades religiosas de Israel dos tempos de Jesus afirmaram: “[…] Não dizemos nós bem que és samaritano e que tens demônio?” (Jo 8.48). Essa afirmação foi feita pelas autoridades quando Jesus falou-lhes que tinham por pai o Diabo e que lhes faziam as vontades, e não a vontade do seu Pai (Jo 8.42-47).
Apesar desse antagonismo entre judeus e samaritanos, Jesus olhou com muito carinho para estes. Certa vez, Ele intentou passar a noite numa aldeia samaritana, mas foi impedido por eles (Lc 9.52,53). Apesar disso, Ele recebeu com carinho a mulher samaritana e anunciou a ela o Reino de Deus, mostrando a fonte da água que sacia a sede de forma a nunca mais ter sede. Jesus também a informou sobre qual é o verdadeiro lugar de adoração diante da dúvida dela quando afirmou que o coração é o lugar mais ideal para praticar a adoração, e não um lugar geográfico específico. Jesus desmontou o antagonismo entre judeus e samaritanos que existia há séculos quando afirmou que até mesmo os sincretistas samaritanos seriam aceitos por Deus se o adorassem em espírito e em verdade.
Outro episódio de Jesus que envolve samaritanos é a parábola do Bom Samaritano. Nesse caso, Jesus está contrastando a religiosidade excessiva dos líderes religiosos judeus com a espiritualidade cotidiana do samaritano, que, indigno e idólatra aos olhos da liderança religiosa judaica, mostrou compaixão para com o ferido à beira do caminho, contrastando com o cerimonialismo religioso do levita e do sacerdote. “Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão” (Lc 10.33).
Jesus quebrou paradigmas de religiosidade e espiritualidade quando contou essa parábola e, por conseguinte, quando se relacionou de forma acolhedora com os samaritanos.
Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.
A mulher samaritana, pois em sua incredulidade, tornou-se um bom tipo de todos aqueles que se deixam envolver pelas coisas terrenas, mas cujos sentidos espirituais por isso mesmo ficam embotados. A exemplo dos peixes que vivem em águas subterrâneas, e que assim jamais contemplam a luz do dia, e por isso não tem olhos, mas apenas órbitas vazias, assim também essa casta de pessoas espiritualmente insensíveis não possui qualquer visito espiritual, não podendo entender as metáforas usadas pelos profetas; e ainda que o próprio Jesus pudesse ensiná-las como sucedeu à mulher samaritana, isso em nada as ajudaria.
Em contraste com isso, no livro apócrifo do V.T., intitulado Sabedoria, podemos ler: *Aqueles que beberam de mim a Sabedoria tornarão a ter sede» (24:21). Compreendemos bem o que isso quer dizer, pois a alma sempre busca maiores conhecimentos, e jamais fica realmente satisfeita. Mas é cm Cristo, que o espírito humano tem mitigado a sua ·sede», quando a alma finalmente, atinge o alvo da glorificação completa, o que subentende a busca por algo que é ilusivo, e que na realidade, jamais é inteiramente possuído.
Aquilo que no livro apócrifo de Sabedoria é denominado ·sede·, nos lábios de Cristo aparece como ·fonte que salta para a vida eterna·, palavras essa que subentendem um abundante suprimento para todas as necessidades humanas. Semelhante pra o caso do poço de Jacó, que era suficiente para suprir água para todos os seus familiares, e até mesmo para todos os seus rebanhos, o que mostra que esse poço produzia água em abundância. Da mesma maneira, a água espiritual salta em abundância, e. finalmente, transforma a vida espiritual mortal (a atual experiência da salvação) em vida imortal ou vida eterna. Essa água não repousa enquanto não tiver saltado para a eternidade. £ bem possível que essa água tenha sido concebida como um oceano. Todos os rios e fontes de água eventualmente fluem para 0 oceano, e esse é o seu destino apropriado e inevitável. Da mesma forma, essa fonte de água que salta, e que simboliza as operações do Espirito Santo, só estacará ao chegar à glória. As operações do Espírito dc Deus só terminam na eternidade. ·A fonte salta para a vida eterna… A água. uma vez bebida, transforma-se em um manancial, e o manancial se transforma em uma fonte que flui incessantemente para o oceano da vida eterna». (Lange, in loc.).
Naturalmente, Jesus—não pretendia ensinar—que o desejo espiritual e o anelo de realização e cumprimento terminam quando da conversão, da santificação e da vida eterna. O comentário feito por Drusius, conforme é citado por Vincent (in loc.), ilustra bem esse ponto: *Aquele que bebe da água da sabedoria, tem sede e não tem sede. Tem sede porque deseja cada vez mais sofregamente o que bebe. E não tem sede porque fica tão satisfeito que jamais deseja beber de outra coisa».
Não podemos imaginar que o estado eterno consista de uma apatia prolongada, eterna, onde todo desejo se faça ausente; pelo contrário, tais anglos serão inteiramente espiritualizados; c é justamente nesse sentido que quem bebe da água que Jesus dá jamais tem sede novamente, porquanto não encontra coisa alguma superior a essa água, que lhe chame a atenção. A inquirição por Deus, a sua verdade e a sua plenitude, são uma inquirição eterna, esse é o verdadeiro sentido da existência humana, e esse é o destino do homem. (Quanto a outras notas sobre a questão da ·água da vida» ou da ·água viva», ver as explicações referentes ao vs. 10 deste mesmo capitulo).
As interpretações sobre este versículo dependem dos respectivos pontos de vista dos intérpretes acerca da atitude da mulher samaritana; e essas interpretações podem ser esboçadas como segue:
- Palavras de ironia. A mulher não estaria falando sério, mas continuava cm atitude de piada, zombando de tudo. Porém, o contexto parece ser contra essa ideia, pois apresenta a samaritana como espiritualmente embotada, mas evidentemente honesta c inquiridora.
- Sua resposta teria sido meio-honesta, meio-esportiva, e alguns veem nela a tentativa de compreender o mistério, fazendo Jesus declarar-se abertamente e mostrar aquela água, sem importar qual fosse, de alguma maneira concreta. Essa interpretação não é impossível, quando entendemos, pelo próprio versículo, que a samaritana ainda não compreendia qualquer coisa sobre a água espiritual, porque imaginava que a possessão dessa água tornaria desnecessário vir ao poço buscar água.
- Pressentiria a mulher samaritana que Jesus a estava conduzindo a algo mais elevado a um plano espiritual mais alto. Alguns intérpretes mostram-se tão místicos a ponto de sugerirem que ela se dirigira ao poço naquele dia. sentindo alguma consciência de sua necessidade, e procurando resposta ou solução para a mesma.
- A resposta da mulher foi sincera e ela estava realmente querendo alguma água miraculosa, que teria o efeito anunciado por Jesus. Se esta última interpretação expressa a verdade—e isso não 6 impossível—então concluímos que ela tinha certa noção supersticiosa sobre o que Jesus queria dizer, e não ideias essencialmente espirituais. As interpretações segunda e quarta parecem ser as mais corretas. O de que se pode estar certo é que essa resposta mostra que ela ainda não havia realmente entendido 0 que Jesus procurava dizer-lhe.
Geralmente condenamos a mulher samaritana por sua contínua interpretação literal sobre as palavras de Cristo. Arthur John Gossip (1,1 loc.) tem uma interessante observação acerca desse particular: ·Sentimo-nos inclinados, injustamente, perplexos, a desprezá-la por suas interpretações tão literalmente obtusas, bem como por causa do cru materialismo dos seus interesses, que eram os únicos que pareciam atrai-la. Porém, como geração que somos, temos o direito de assim pensar? Porque, se encararmos os fatos, seremos forçados, apesar de nosso mais completo conhecimento sobre os propósitos e oferecimentos de Cristo, a nos situarmos juntamente com cia, como pessoas merecedoras da mesma condenação… Se Cristo puder ajudar-nos a produzir uma nova ordem social… menos horas de trabalho, salários mais polpudos, habitações melhores… ah! essas são coisas reais, sólidas e substanciais; e então jubilosamente trabalharemos com ele e sob suas ordens, para obtermos essas coisas. Porém, no que concerne àquelas nebulosidades espirituais sobre as quais ele fala—quem as quer?… Cristo acredita numa civilização de indivíduos. A vida de um homem, segundo Cristo nos assegura, não consiste da abundância das coisas que ele possui. (Ver Luc. 12:15).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 2. pag. 324-325.
Jesus desperta seu senso de necessidade (4.13-15)
Jesus foi categórico com a mulher samaritana, ao declarar: Quem beber desta água voltará a ter sede. Nicodemos não entendeu quando Jesus falou sobre novo nascimento, e a mulher samaritana não entendeu quando Jesus falou sobre a água da vida. Tanto o erudito Nicodemos quanto a ignorante samaritana não entenderam a linguagem espiritual de Jesus.
As coisas deste mundo não satisfazem. Nada que o homem jogue para dentro do coração satisfaz. A agua do poço de Jacó não satisfaz para sempre. A água do poço de Jacó fica fora da alma e não é capaz de satisfazer as necessidades do coração. A água do poço de Jacó é de quantidade limitada, diminui e desaparece. Concordo com Charles Erdman quando ele diz: “Satisfação era exatamente aquilo a que essa pobre mulher aspirava. Atrás disso andara toda a vida, e nessa busca não respeitara nem as leis de Deus, nem as dos homens. Entretanto, continuava sedenta; e a sede nunca seria satisfeita, senão quando achasse em Cristo o Senhor e Salvador pessoal”.
A água que Jesus concede é um manancial completo e perpétuo que jorra para a vida eterna. Que água é essa, a água da vida? A promessa de Deus é derramar água sobre o sedento (Is 44.3). Deus convida todos: Vos, todos os que tendes sede, vinde às águas (Is 53.1). Deus prometeu que seu povo tiraria com alegria águas do poço da salvação (Is 12.3). Jesus disse: Se alguém tem sede, venha a mim e beba (Jo 7.37). O Espírito que flui como rio dentro de nós é essa fonte que jorra para a vida eterna (Jo 7.38). William Barclay diz que, para o judeu, água viva significava água corrente. Tratava-se da água que fluía de uma nascente, em oposição à água estancada de uma cisterna. Há no texto duas palavras distintas para “fonte”. A primeira delas épegue, provavelmente com o significado de mina de água ou olho d’água (4.6,14); a segunda é phrear, que denota um poço cavado ou uma cisterna. Dessa palavra vem o conhecido termo “lençol freático”, traduzido aqui por poço (4.11,12). E E Bruce considera as duas palavras apropriadas para o poço de Jacó; o poço foi escavado, mas é alimentado por uma veia subterrânea que raramente falha.
A vida dessa mulher era como uma cisterna cavada, um poço de águas paradas (phrear), mas Jesus ofereceu a ela uma fonte de águas refrescantes, que jorraria de dentro dela para a vida eterna (pegue).
No milagre realizado em Caná da Galileia (2.6-11) e na conversa com Nicodemos (3.5), a água já tinha um sentido espiritual. Aqui, a água do poço de Jacó, simbolizando a antiga ordem herdada tanto por samaritanos como por judeus, é contrastada com a nova ordem, o dom do Espírito, a vida eterna. Concordo com D. A. Carson quando ele diz que há ecos de promessas do Antigo Testamento nessa promessa de Jesus. No dia da salvação, o povo de Deus tirará águas das fontes da salvação com alegria (Is 12.3); eles não sentirão fome nem sede (Is 49.10). O derramar do Espírito de Deus será como o derramar de água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca (Is 44.3). A linguagem da satisfação e transformação interior traz à mente uma série de profecias, antecipando o novo coração e a troca do falido formalismo religioso por um coração que conhece e experimenta Deus, ansioso por fazer sua vontade (Jr 31.29-34; Ez 36.25-27; Jl 2.28-32). Warren Wiersbe tem razão ao dizer que o evangelho de João revela claramente que existe um novo sacrifício (1.29), um novo templo (2.19-21; 4.20-24), um novo nascimento (3.17) e uma nova água (4.11).
LOPES. Hernandes Dias. João. As glorias do Filho de Deus. Editora Hagnos. pag. 127-129.
CONCLUSÃO
Não faltou advertências para que Israel abandonasse a idolatria e fosse poupado do cativeiro. Todavia, nada surtiu efeito. Cada vez mais a nação afundava em seus pecados. A maneira drástica, porém misericordiosa e amorosa, de Deus retornar seu povo ao aconchego do seu amor, foi, infelizmente, conduzi-lo ao cativeiro e à dispersão. Que Deus nos ajude a atentarmos mais para a sua Palavra a fim de não colhermos os amargos frutos da desobediência.
PARA REFLETIR
A respeito de “O Cativeiro de Israel: Reino do Norte”, responda:
· Em que consistiu a traição do rei Oséias ao reino assírio?
Oseias buscou
apoio do Egito e interrompeu o pagamento dos tributos ao seu reino assírio.
· Em que período ocorreu o cativeiro de Israel?
O cativeiro de
Israel ocorreu durante o reinado do rei Oséias.
· De que forma Deus mostrou seu amor pelo povo escolhido?
Deus usou a
vida conjugal do profeta Oséias como metáfora para ilustrar o que estava
acontecendo no relacionamento entre Deus e Israel.
· Quais paradigmas Jesus quebrou com a parábola do Samaritano?
Os Paradigmas
das falsas, religiosidade e espiritualidade.
· Qual foi a maneira drástica, porém, misericordiosa e amorosa, de Deus retornar seu povo ao conchego do seu amor?
Deus conduziu
o povo de Israel ao cativeiro e à dispersão
Comentário elaborado por Pb Alessandro Silva. Disponível em: https://professordaebd.com.br/10-licao-3-tri-21-o-cativeiro-de-israel-reino-do-norte/. Acesso em: 30 AGO 2021.