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7 de dezembro de 2020

4 Tri 20 | Lição 11 A Teologia de Eliú: O Sofrimento É uma Correção Divina? | Pb Francisco Barbosa

 

 

4º TRIMESTRE 2020

ANO 13 | EDIÇÃO Nº 684

L  I  Ç  Ã  O

 

A Teologia de Eliú:

11

O Sofrimento É uma Correção Divina?

13 DEZ 20

A Fragilidade Humana e a Soberania Divina







LIÇÕES BÍBLICAS CPAD REVISTA ADULTOS  -  QUARTO TRIMESTRE DE 2020

 

Texto Áureo

“Ao aflito livra da sua aflição e, na opressão, se revela aos seus ouvidos” (Jó 36.15)

 

Verdade Prática

O sofrimento não deve ser visto apenas sob o aspecto punitivo, mas principalmente, educativo

 

Leitura Bíblica em Classe

Jó 32.1-4 ; 33.1-4; 34.1-6; 36.1-5

 

INTRODUÇÃO

Veremos a teologia de Eliú exposta em quatro grandes discursos teológicos (Jó 32-37). Esses discursos se contrapõem ao que Jó e seus amigos proferiram. Para Eliú, os amigos de Jó falharam na exposição de suas ideias ao patriarca. Este, por outro lado, se equivocar ao apresentar o seu conceito de Deus para fundamentar sua defesa. Assim, mostraremos que Eliú revela um Deus soberano que age segundo o seu conselho e no está obrigado a dar respostas ao homem, além de não haver qualquer injustiça em suas ações, pois, segundo o jovem amigo de Jó, o sofrimento é uma ação pedagógica de Deus para corrigir o homem.

- ELIÚ, o buzita - sua ancestralidade é traçada até a tribo árabe de Buz (Jr 23.23). A "família de Rão" é desconhecida. No hebraico, seu nome significa “Ele é o meu Deus” ou “Meu Deus é Pai”. Eliú afirma que dará sua "opinião" (vs. 6,10,17), mas afirmou que sua palavra vinha por inspiração de Deus (v. 8; cf. 33.6,33). Era jovem ainda quando se envolveu nas intricadas discussões existentes no livro de Jó acerca do problema do mal. Eliú responde indignado diante da defesa de Jó. Eliú, pois, apresentou um longo discurso, no qual argumentou que o sofrimento tem certo propósito disciplinador (Jó 32.6—37.24). É interessante notar que, de fato, essa é uma resposta comum para tentar explicar por que motivo o ser humano sofre, e como é evidente, reveste-se de algum valor, embora existam outras respostas.

O Pr Claudionor de Andrade em sua obra intitulada “Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito” (CPAD), pergunta: “Tem o sofrimento alguma serventia? Joseph De Maistre responde afirmativamente: “Creio no fundo de minha alma e sinto em minha consciência que, se o homem pudesse viver neste mundo isento de todo sofrimento, acabaria por se embrutecer”. Estaria Jó de acordo com De Maistre? Não somente chancelaria tais palavras, como haveria de assinalar: não fora o sofrimento, jamais viria a compreender a perfeita e agradável vontade de Deus. Começou Jó a entender a pedagogia do sofrimento através do judicioso discurso de um jovem teólogo que, ao contrário de seus molestos amigos, pauta cada uma de suas palavras na sabedoria que vem diretamente de Deus. Até este momento, mantivera-se Eliú calado, enquanto Jó e seus interlocutores terçavam armas em torno do sofrimento do justo. Mas, agora, esgotados os argumentos de ambas as partes, resolve o jovem teólogo falar. Terá argumentos conclusivos? Veja como será respondida a pergunta que vem você fazendo insistentemente ao Senhor: Por que o justo tem de sofrer? Existe algum propósito em todo este sofrimento?”(ANDRADE. Claudionor Corrêa de. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 165-166). Vamos pensar maduramente a nossa fé?

 

I – O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELARDEUS

 

1. Deus é soberano (33. 14,15). Nesse primeiro discurso, Eliú destaca a queixa de Jó porque Deus não lhe respondera. Para o jovem amigo do patriarca, este não leva em conta a majestade divina que distingue o Criador de suas criaturas. Nesse sentido, Jó havia ignorado que Deus é infinitamente maior do que o homem e não precisa explicá-lo acerca suas ações nem de seu silêncio.

- Deus fala, sim, contestou Jó, de várias maneiras como sonhos e visões, a fim de proteger as pessoas do mal e de caminhos mortais. Deus realmente fala, mas o homem, em sua ignorância, não O ouve. Isso se dá, pelo menos em parte, porque o homem, carregado de pecados, não pode ser atingido pela Palavra divina. Ademais, Deus fala em mistérios, em uma linguagem que os pecadores não podem compreender. Alguns homens simplesmente não se acham onde possam ouvir a Deus. Russell Norman Champlin vai dizer em “Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo” (Ed Hagnos): “Era Jó que estava surdo para com Deus. Deus faia de várias maneiras, conforme Eliú passou a demonstrar. Deus é um revelador, mas o homem se esquece disso. Um pregador que conheci disse estar em terreno de oração. Em outras palavras, numa situação e condição em que as orações de uma pessoa podem ser ouvidas e respondidas por Deus. Eliú falou sobre um homem que estava em terreno apropriado para ele ouvir. Em outras palavras, esse homem estava em uma condição na qual podia ouvir a voz de Deus. Jó, como é óbvio, não estava nesse terreno, pois, de outro modo, não se queixaria por Deus não responder às suas orações. Parte importante do teste de Jó era que Deus tinha deixado de responder às suas orações. Mas isso não acontecia porque Jó fosse culpado. Havia outras razões, até então ocultas. Modos Divinos de Comunicação e a Resposta Humana (33.15-30) Em sonho ou em visão de noite. Eliú, que pensava ser recebedor da iluminação, tinha elevado respeito tanto por visões quanto por sonhos. Há artigos sobre essas manifestações do misticismo no Dicionário; e, como é óbvio, Deus pode comunicar-se com os homens através desses meios e realmente o faz. Quando um homem está dormindo e sua percepção dos sentidos está fechada, então ele pode receber alguma espécie de sonho ou visão. Esses são meios místicos de comunicação porque, realmente, existem sonhos espirituais. O longo artigo sobre Sonhos penetra nesses assuntos, pelo que não estendo aqui a questão. E, como é óbvio, visões válidas comunicam toda a espécie de mistérios e conhecimentos que precisamos saber, embora também existam misticismos falsos e reivindicações frívolas sobre coisas que não são verdadeiras. Ver o artigo geral denominado Misticismo. As revelações são uma subcategoria do misticismo. Precisamos do toque místico em nossa vida, pois esse é um dos meios do desenvolvimento espiritual. Ver no Dicionário o artigo chamado Desenvolvimento Espiritual, Meios do. Não devemos esquecer o elemento ético. A santificação põe o homem no terreno do desenvolvimento. Eliú falava demais e também se jactava em ser um grande místico, mas parece que tinha experiência válida suficiente para ser um pequeno místico. Demos crédito a ele por isso. Ele tinha algo de valor para comunicar”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1998).

 

2. O orgulho do homem priva-o de ouvir Deus. Todavia, mesmo sendo um ser transcendente, Deus não deixa de se revelar ao homem quando julgar necessário. Por isso, Eliú não aceita o argumento de Jó sobre o silêncio de Deus, pois Ele fala ao homem de várias maneiras, incluindo sonhos e visões(Jó 33.14,15). De acordo com Eliú, o problema não é o silêncio do Altíssimo, mas o orgulho humano que não lhe permite escutá-lo. O jovem acredita que mesmo o patriarca considerando-se moralmente puro, padece do pecado de orgulho (Jó 33.17). Na visão de Eliú, a revelação de Deus tem o propósito delivrar o homem da soberba que o conduziria à morte (Jó 33.17,18).

- Na verdade, o argumento do jovem Eliú é que o pecador arrogante, Jó, seria humilhado e só assim, seria curado, no entanto, se permanecesse vangloriando-se de sua inocência, sua condição apenas iria tornando-se cada vez pior.

- Veja o que escreve Matthew Henry em “Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão” (CPAD): “A finalidade e a intenção das admoestações que são enviadas.

1. Manter os homens longe do pecado, e particularmente do pecado da soberba (v. 17). Para que Ele possa “apartar o homem do seu desígnio”, isto é, dos seus maus propósitos, para que possa mudar o seu estado de espírito e o curso da sua vida, a sua disposição e inclinação, ou impedir algum pecado em particular em que ele corra o risco de cair, e também para que Ele possa afastar o homem da sua obra, possa fazê-lo deixar a obra do homem, que opera para o mundo e a carne, e possa colocá-lo para realizar a obra de Deus. Muitos homens foram interrompidos em um caminho pecaminoso pelas oportunas repreensões da sua própria consciência, dizendo: Não faças esta coisa abominável que o Senhor aborrece. Particularmente, desta maneira Deus esconde a soberba dos homens, isto é, esconde deles aquelas coisas que são o motivo da sua soberba e impede que a sua mente permaneça sobre elas, apresentando-lhes as razões que têm para ser humildes.

Para que Ele possa esconder do homem a soberba (assim alguns interpretam), para que possa arrancar aquela raiz de amargura que é a causa de muito pecado. Deus humilhará e esconderá a soberba de todos aqueles para os quais Deus tem misericórdia armazenada. A soberba torna as pessoas ansiosas e resolutas na busca de seus propósitos; eles desejam ter as coisas à sua maneira, e por isto Deus os aparta de seus desígnios, mortificando a sua soberba.

2. Proteger os homens da destruição (v. 18). Enquanto os pecadores estão buscando seus maus propósitos, e gratificando a sua soberba, as suas almas estão se precipitando para a cova, para a espada, para a destruição, tanto neste mundo como no futuro; mas quando Deus, pelas admoestações da consciência, os retira do pecado, Ele desvia desta maneira as suas almas da cova, do abismo sem fundo, e os salva da destruição pela espada da vingança divina, de modo que a iniqüidade não será a sua ruína. Aquilo que afasta os homens do pecado os salvará do inferno, salvará da morte uma alma (Tg 5.20). Veja que graça é estar sujeito às restrições de uma consciência desperta. Fiéis são as feridas, e gentis são os grilhões deste amigo, pois graças a eles a alma é salva da condenação, pela qual pereceria eternamente”. (HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 162).

 

3. Uma ponderação importante. Além de sonhos e visões, Eliú também destaca que Deus usa a enfermidade como canais de comunicação entre Deus e o homem (Jó 33.19-22). Por causa dela, Ele pode enviar um anjo para anunciar a Jó o seu dever por (Jó 33.23), dizer o que ele deve fazer e, também, interceder em favor da saúde do patriarca. Dessa forma, esse mensageiro anuncia o que é justo e bom a fim de recuperar o estado de justiça que Jó desfrutava antes da enfermidade. As funções que são atribuídas a esse mensageiro-mediador fazem com que os intérpretes bíblicos vejam nesse ser celeste uma referência ao anjo do Senhor, uma teofania do Senhor Jesus Cristo (Gn 16.9; 22.11; Ex 3.2; Jz6.11). Não há dúvidas de que esse mediador é a mesma testemunha celestial que Jó pedia que defendesse a sua causa (Jó 16.19) e o redentor que o justificasse depois de sua morte (Jó 19.25). Nesse sentido, conforme podemos atestar no livro, o ministério desse mensageiro é um ato decorrente inteiramente da graça de Deus em favor de Jó para mediar sua causa e resgatá-lo (33.24).

- Jó lamentou que o seu sofrimento não era merecido. Eliú respondeu a essa reclamação afirmando ser mensageiro de Deus, um mediador enviado para mostrar que o Senhor não age arbitrariamente, mas permite o sofrimento como uma maneira de levar a pessoa a submeter-se a Ele e a arrepender-se, para que sua vida possa ser poupada. Deus permite o sofrimento para o benefício espiritual. ANDERSEN escreve: “Os homens também são advertidos por Deus através da corriqueira experiência da doença. Jó a conhece perfeitamente. Nenhum indício de um oráculo falado acompanha esta revelação. A lista de horríveis sintomas dada por Eliú termina com outra referência à morte que confronta o doente. O v. 22 oferece um paralelo com o v. 18. À palavra mmtym, “os que matam,” embora possa significar os portadores da morte, não é uma designação muito boa para os habitantes da cova. O texto de Pope, “as águas da morte” (pág. 251), tem muita coisa a seu favor”. (Francis I. Andersen. Jó Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 248).

 

II – O SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR AJUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS

 

1. Ajustiça de Deus demonstrada. Quando defende a justiça de Deus, Eliú faz coro com seus amigos na acusação contra Jó. Em sua perspectiva, os argumentos de Jó não passavam de insolência. Como pode o Todo-Poderoso agir com injustiça conforme Jó deixou subtender? Deus jamais age injustamente, pois isso contraria sua própria natureza (Jó 34.10,12).

- CHAMPLIN  afirma que: “Na verdade, Deus não procede maliciosamente. Realizar um ato errado ou perverter a justiça era algo impossível, uma perversão da própria ideia da natureza de Deus. Nesse caso, de onde vem toda a dor que nos assedia, chegando mesmo a atingir homens bons, de maneira tão arbitrária e inútil? Mas Eliú insistia em não haver nenhuma corrupção ou capricho no trato de Deus para com os homens. Deus é o “Criador Fiel”, que sempre faz o que é bom. Ele não se parece com o temível deus dos gregos, Zeus, que feria os homens por qualquer razão, ou mesmo sem nenhuma razão. Bildade negou que Deus pudesse perverter a justiça (ver Jó 8.3), e Eliú repete aqui essa noção, para efeito de ênfase. O homem continuava a raciocinar com base em sua fraca teologia, que não levava em conta as causas secundárias. Contudo, para Jó “as tendas dos tiranos gozam paz” (Jó 12.6). Para Jó, Deus parecia indiferente ao destino dos homens (capitulo 12)”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos).

 

2. O caráter justo de Deus.  Para não haver dúvida, Eliú passa a descrever o caráter justo de Deus:

(1) Ele age com justiça quando retribui ao homem o que ele merece (Jó 34.11);

(2) Deus não precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que não recebeu autoridade de nenhum outro ser criado (Jó34.13);

(3) como o provedor da vida humana, Ele tem todo o poder de manter ou não a humanidade (Jó 34.14,15);

(4) o Todo-Poderoso não faz acepção de pessoas, quer sejam reis, nobres ou pobres (Jó 34.16-20);

(5) Deus é onisciente e como tal conhece os passos e as intenções de todos os homens sem precisar inquiri-los em juízo (J6 34.21-25); (6) Ele é justo para punir os maus (Jó 34.25-30).

- ANDERSEN escreve: “Eliú repete a verdade, evidente em si mesma, de que Deus não pode praticar a perversidade. liga três pensamentos a esta proposição. Primeiramente, infere da supremacia de Deus como Criador que não deve prestar contas a pessoa alguma (13). Isto nos deixa à beira de um abismo. Se, pois, tudo quanto Deus fez está certo por definição, e se, por Ele ser Soberano, causa tudo quanto acontece, segue-se que tudo é certo, desaparecendo a categoria do mal. Em segundo lugar, os w. 14 e 15 especificam que todo ser vivente depende de Deus para sua existência, de modo que Ele, de modo indiscriminado ou universal, pode retirar esta dádiva da existência sem errar ao fazer assim. Este é um belo reconhecimento de Deus como dono de tudo, e uma bela homenagem ao Seu poder. Mas não deixa fundamento para dizer que qualquer ato de Deus é “bom” ao invés de “mau.” “O poder faz o direito,” é o resumo da doutrina de Eliú, e nesta ênfase chega bem próximo ao argumento de Jó. Foge da dificuldade, no entanto, ao apelar para a doutrina de que Deus retribui a cada pessoa conforme o comportamento dela (11), declarando isto em termos grosseiros e individualistas. Mas é justamente isto que está sendo batido, e não é resposta alguma ao problema. Visto que os verbos estão no singular, as perguntas que se seguem são endereçadas a Jó. A NEB fornece o nome. As referências a povo e reinar nos w. 29-30, parecem completar uma estrofe que começa no v. 18 com referências paralelas á rei e príncipes. Se o governo de monarcas humanos não pode ser questionado, é inconcebível que 0 universo seja governado por alguém que aborrecesse o direito (17). Esta é uma mera asseveração. Por que o poder supremo não pode ser demoníaco (segundo os nossos padrões)? Ou um Absoluto “além do bem e do mal,” pensamento este irresistível a muitas mentes humanas, e que frequentemente ameaça a confiança que Jó tem na bondade de Deus. Isto nunca poderia ser mais do que uma cega afirmação da fé, ou é razoável esperar algum tipo de explicação da justiça dos atos de Deus que parecem errados segundo nossos julgamento moral? A resposta que Eliú oferece para este problema não está totalmente clara. Enfatiza que o conhecimento de Deus é completo e infalível (21,22, 25a, 28b), de modo que Suas ações estão além da compreensão humana. Já estamos familiarizados com semelhantes tentativas de proibir a pesquisa humana. Em 24.1, Jó queria saber por que Deus não dirigida tribunais públicos com sessões regulares, de modo que ficasse patente que a justiça estava sendo feita. Eliú responde que os julgamentos de Deus são inflingidos sem prévio aviso e sem processo (20, 24 (sem os inquerir), 25b). Esta resposta é estimulada, não tanto pela indignação contra os maus, mas, sim, pela atenção para com o clamor do pobre (28). E é feito publicamente (26) aos que são notoriamente perversos (27), e tudo sem parcialidade (19). Os governantes opressores, no entanto, parecem ser os objetos especiais da destruição da parte de Deus, e o fato de que podem ser quebrados repentinamente sem ajuda humana (20), parece ser evidência suficiente para Eliú de que Deus está operando. Nenhuma explicação é necessária, de modo que Jó não tem motivos de queixa porque Deus tem guardado silêncio no que diz respeito a ele. Deus não está obrigado a dar explicações a homem algum, as quais, de qualquer maneira, um homem poderia não compreender porque não vê toda a realidade dos fatos, ao passo que Deus vê tudo. Mas os w. 29-30 não são satisfatórios, e alguns têm achado neles um pensamento mais escuro e mais perturbador. Mesmo se Deus estiver inativo, deixando o mal sem refreá-lo, quem o condenará? Se Ele escolher esconder Seu rosto, quem pode levá-Lo a revelá-lo? A única explicação possível, ressaltada pela NEB, é que “faz reinar o ímpio” para castigar “uma nação teimosa.” Os profetas conseguiram conceber o pensamento de que o assírio era a vara da ira de Deus (e.g. Is 10.5), e Habacuque podia pensar a mesma coisa acerca dos babilônios. Mas sempre acrescentavam que estas nações, apesar de terem sido usadas por Deus de tal maneira, eram plenamente responsáveis por suas más ações, e, no devido tempo, pagariam por elas. Isto, porém, envolve um estágio histórico, a culpa coletiva, e longos períodos de tempo, que não são usados no livro de Jó. Assim, o problema permanece focalizado na aparente injustiça na maneira de Deus tratar um só homem: Jó”. (Francis I. Andersen. Jó Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 252-253).

 

3. A defesa da soberania de Deus. Atente para a seguinte pergunta: “Será que Deus deve recompensá-lo segundo o que você quer ou não quer?” (Jó 34.33 – NAA). Eliú encerra o capítulo mostrando a Jó que Deus, em sua soberania e livre vontade, não tem a obrigação de agir segundo o querer do homem. Sendo soberano, Ele não está sujeito a qualquer julgamento humano. Por todo o livro de Jó o autor destaca a soberania divina. Um exemplo disso está claro no uso da palavra “Todo-poderoso” que ocorre 31vezes. Para Eliú, portanto, por ser Soberano, Deus Jamais age com injustiça como Jó dera a entender. Todavia, é preciso destacar duas coisas sobre fala de Eliú. Primeiramente, ele, assim como seus amigos, erra por partir do princípio de que Jó havia cometido pecado. Em segundo lugar, Eliú exalta apenas ajustiça de Deus e nada diz acerca de sua misericórdia. Para ele, o Altíssimo havia posto sua justiça soberana acima do seu amor, o que é um erro crasso. Deus, sem dúvida alguma, é justo; mas grandiosamente amoroso e misericordioso.

- Deus não adequará a sua maneira de agir ao que os homens pensam. Ele não consulta homens. Se escolher castigar, decidirá quando é o tempo de cessar o castigo. E CHAMPLIN também vai nessa linha quando escreve: “Pois retribuirá ao homem segundo as suas obras. A posição teológica antiga, a doutrina da Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura (ver a respeito no Dicionário), uma vez mais foi trazida como argumento para debate entre Jó e seus críticos. De fato, os homens colhem aquilo que semeiam (ver Gál. 6.7,8), mas algumas vezes o sofrimento acomete um inocente. Os quatro críticos terríveis de Jó não encontraram essa doutrina em seus livros de teologia. Talvez o caos possa atacar e, realmente, ataca os justos, tanto quanto os injustos, por isso precisamos orar por proteção contra essa possibilidade. Além disso, existem os mistérios do reino de Deus, que não somos capazes de sondar. A lei da retribuição opera agora em parte, e em parte operará depois desta vida (ver Jer. 32.19; Rom. 2.6; I Ped. 1.17 e Apo. 22.12), mas não pode explicar todos os aspectos do problema do mal: por que os homens sofrem e por que sofrem como sofrem? A teologia patriarcal não antecipava que, após esta vida, “haveria recompensas ou punições”, de modo que Eliú falava somente das coisas más que acontecem aos pecadores, aqui nesta vida. Mas a experiência humana demonstra a inadequação dessa doutrina. Outros fatores explicam melhor os sofrimentos humanos”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2003).

 

III – O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS

 

1. O caráter pedagógico do sofrimento (36.7-15). Há uma diferença entre o pensamento teológico de Eliú e ode seus amigos. Elifaz, Bildade e Zofar acreditavam que o sofrimento de Jó era por causa de um pecado cometido por ele e sua recusa em reconhecê-lo. Eliú também crê dessa forma, mas vai além. Embora compreenda que, durante sua provação, Jó se comportou deforma pecaminosa, Eliú introduz a ideia de que O sofrimento tem um caráter pedagógico (Jó 36.15). O caráter pedagógico do sofrimento está na capacidade de nos fazer refletir e voltar para Deus. Dessa forma, os justos aprendem com o sofrimento.

- Eliú repete a ideia de que, mesmo ao enviar dificuldades, Deus é justo e misericordioso, cuida dos justos, convence-os do pecado, ensina-os a afastar-se do pecado e recompensa a obediência ou pune a rebeldia deles. Em contraste com os pecadores hipócritas, o pobre homem reto tem acesso a Deus. Ele o ouve; Ele o livra; Ele o faz prosperar. Tal homem tem vida longa e cheia de alegria, e morre feliz! A única exceção é que isso nem sempre acontece de fato, embora seja um bom ideal. ANDERSEN escreve: “Embora pareça um pouco lacônico, este versículo parece resumir a tudo. Há um jogo sutil nos sons das raízes aqui, impossível de captar numa tradução. O instrumental por meio de é favorecido, embora “de” (para fora de) é outro significado possível. De qualquer maneira, a ideia do pobre ser salvo pela sua pobreza (Dhorme prefere esta nuança, ao invés de aflição, ou de “sofrimento,” NEB), é declarada de modo paradoxal. É Deus quem salva; a adversidade fornece a ocasião, tirando-se o devido proveito dela”. (Francis I. Andersen. Jó Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 260).

 

2. Adorando a Deus na tormenta. No capitulo 36 e versículo 26, Eliú afirma que Deus é grande, e nós o não compreendemos. Para ilustrar o argumento de grandeza de Deus, ele faz uma explanação sobre a ação de Deus nas estações do ano: Outono, Inverno, Primavera e Verão. O argumento de Eliú tem por objetivo demonstrar a grandeza de Deus sobre a criação e como esse fato deve fazer com que Jó o reconheça como grande e o louve como tal (Jó 36.24-25). A fala de Eliú põe em destaque o argumento contraditório de Jó, que por um lado magnificava a majestade de Deus, mas por outro murmurava contra Ele. Nesse aspecto, Eliú acerta em mostrar que a adoração e a murmuração não podem coexistir, são atitudes excludentes. Jó 37.6-13 ilustra de forma poética o pensamento do orador. E uma metáfora da situação do patriarca, que no meio da tormenta, em todo o seu impacto e estrondo, pode contemplar o caráter pedagógico do amor de Deus.

- Em vez de reclamar e questionar Deus, como vinha fazendo, e que era pecado (como mais tarde confessaria, em 42.6), Jó precisava ver Deus em seu sofrimento e adorá-lo (33.24). Veja como CHAMPLIN se refere a isso: “A Oxford Annotated Bible afirma que agora temos o quinto discurso de Eliú, embora “sem a introdução usual… O Governante soberano da natureza, Seu propósito e Sua benevolência aparecem no desdobramento majestático das estações, como o outono (vss. 7-33), o inverno (Jó 37.1-13) e o verão (vss. 14-22), sequência que aponta para o calendário outonal, com a festividade do Ano Novo durante o outono” (o que é dito no vs. 26). A grandeza da natureza inspira os homens a reflexão teológica. Para que haja tão grande efeito, também deve haver uma Causa, e essa causa é Deus. A natureza ensina duas coisas principais sobre o Ser divino: há um grande poder ali, bem como uma grande inteligência. Alicerçados sobre tais fatos, os teólogos inventaram as doutrinas da onipotência e da onisciência de Deus. Nenhum ser humano pode sondar as questões do início de Deus, ou por quantos anos Ele tem existido. Nós o chamamos de eterno. Ele é dotado de uma infinitude que não pode ser investigada. Bertrand Russell afirmou, corretamente, que há certas perguntas que não podemos formular com proveito, e qualquer pergunta que sonde a eternidade ou a infinitude de Deus é obviamente fútil. Esses são simplesmente dogmas que aceitamos sem investigação alguma, pois há neles um sentido intuitivo. A natureza nos sugere esses atributos, mas o assunto está acima de nossos poderes de investigação”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2012).

 

CONCLUSÃO

 

Vimos nessa lição três aspectos da teologia de Eliú. Primeiramente, o jovem amigo defende o direito de Deus ficar em silêncio mesmo quando achamos que ele deve falar. Acredita que Jó não consegue escutar a Deus devido o seu orgulho. Entretanto, o equívoco de Eliú está no fato de associar o sofrimento de Jó ao pecado. Segundo, ele destaca que Deus tem todo o direito de ser soberano e como tal agir com justiça. Todavia, ele se equivoca em colocar essa soberania acima de seu amor, pois, primeiramente, Deus é amor. E, finalmente, Eliú vê no sofrimento um papel pedagógico.

- Um novo participante, que havia estado com os outros três, entrou no debate sobre a condição de Jó – o mais jovem, Eliú, que trouxe uma nova abordagem para a questão do sofrimento de Jó. Irado com os outros três, ele tinha algumas ideias diferentes, mas também foi bastante duro com Jó. Eliú está irado, cheio de arrogância e falando demais, mas sua abordagem é renovadora após os repetitivos discursos dos outros, ainda que não tenha tido utilidade alguma para Jó. Por que foi necessário o registro e a leitura desses quatro discursos violentos de Eliú? Porque eles aconteceram como parte da história, enquanto Jó ainda aguardava que o próprio Deus se revelasse (capítulos 38—41). “Quão maravilhosa é a pedagogia do sofrimento! Se incrédulos, ensina-nos a crer. Se intempestivos, disciplina-nos em um amor paciente e temperante. Se indiferentes, leva-nos a chorar com os que choram e a alegrar-se com os que se alegram. Sim, Deus educava a Jó por intermédio do sofrimento. E o mesmo está Ele fazendo com neste instante. Por isto, não se desespere! Este é o modo pelo qual o Senhor educa seus filhos”” (ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p.168).

 

PARA REFLETIR

A respeito de “A Teologia de Eliú: O Sofrimento E uma Correção Divina?”, responda:

• O que Eliú destaca em seu primeiro discurso?

R: Nesse primeiro discurso, Eliú destaca a queixa de Jó porque Deus não lhe respondera.

• Segundo Eliú, qual o problema em relação ao silêncio de Deus?

R: De acordo com Eliú, o problema não é o silêncio do Altíssimo, mas o orgulho humano que não lhe permite escutá-lo.

• Cite pelo menos duas características do caráter justo de Deus.

R: 1) Ele age com justiça quando retribui ao homem o que ele merece (Jó 34.11): (2) Deus não precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que não recebeu autoridade de nenhum outro ser criado (Jó 34.13).

• Quais são as duas coisas destacadas acerca de Eliú pelo comentarista?

R: Primeiramente, ele, assim como seus amigos, erra por partir do princípio de que Jó havia cometido pecado. Em segundo lugar, Eliú exalta apenas ajustiça de Deus e nada diz acerca de sua misericórdia.

• Fale acerca do caráter pedagógico do sofrimento.

R: O caráter pedagógico do sofrimento está na capacidade de nos fazer refletir e voltar para Deus.

 

 

4 Tri 20 | Lição 11 A Teologia de Eliú: O Sofrimento É uma Correção Divina? | Pb Francisco Barbosa