4º TRIMESTRE 2020 |
ANO 13 | EDIÇÃO Nº 683 |
L I Ç Ã O |
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A Última |
10 |
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Defesa de Jó |
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6 DEZ 20 |
A Fragilidade Humana e a Soberania Divina |
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LIÇÕES BÍBLICAS CPAD REVISTA ADULTOS - QUARTO TRIMESTRE DE 2020
Texto Áureo
Ou não vê ele os meus caminhos e não conta todos os meus passos” (Jó 31.4)
Verdade Prática
Ao olhar retrospectivamente para o passado, lembre o quanto Deus trabalhou nele
Leitura Bíblica em Classe
Jó 29.1-5; 30.1-5; 31.1-5
INTRODUÇÃO
O capítulo 31 encerra da seguinte forma: “Acabaram-se as palavras de Jó”(Jó 31.40). Trata-se de uma retrospectiva nostálgica do passado Jó (Jó 31.29-31). Por isso, nesta lição, veremos a lembrança de Jó acerca de sua prosperidade material e espiritual, de sua adoração a Deus e das bênçãos que o Todo-Poderoso concedeu à sua casa; mas, agora, em oposição ao momento de escárnio e vergonha que ele passa no presente. Nesse sentido, Jó não aceita que as coisas terminem assim e, portanto, ele deseja se apresentar diante de Deus para defender a sua causa.
- Os três ciclos de discursos que começaram em 3.1 terminaram, e foram de Jó as palavras que deram início e fim a esses ciclos. À medida que Jó aumentava seus esforços para ficar livre das falsas acusações, intensificava a afirmação de que era inocente, comparativamente falando, e exigia justiça. Se uma pessoa fosse inocente, ela poderia atestar sua inocência apresentando uma declaração diante do rei ou de uma divindade. Esse procedimento era comum entre as nações vizinhas de Jó, e era um protocolo frequente nos tribunais. As repetidas palavras “Se... então" eram acrescentadas aos termos da declaração; "Se" indica o possível erro de Jó; "então" descreve a maldição que poderia resultar. Jó aceitaria as maldições (os "então" que aparecem ao longo do capítulo) se ele as merecesse. Era a última tentativa de Jó de se defender diante de Deus o dos homens. Em termos de pureza, pecado de modo geral, verdade, avareza, infidelidade conjugal, imparcialidade, compaixão, materialismo, religião falsa, amor pelos inimigos e estrangeiros, pecado oculto e relações comerciais, Jó não tinha nenhum exemplo claro de pecado. Ele pediu que Deus lhe respondesse e explicasse por que ele estava sofrendo.
- “Na impossibilidade de uma resposta do Todo-poderoso, a quem invocava insistentemente, ele apela para a sua terra, para os seus concidadãos, para que lhe digam se havia cometido qualquer crime, se tinha matado alguém, ou comido sozinho os frutos da terra, ou se os tinha comido sem os pagar devidamente (v. 39). Em caso afirmativo, então, que a sua terra, em lugar de trigo, lhe produzisse cardos, e por cevada, joio (v. 40). Terminam aqui os discursos de Jó, para dar entrada a outro orador, que até agora se manteve silencioso, ouvindo. Deveria estar bem seguro do que iria dizer, pois tinha as opiniões dos amigos e as de Jó também. Estava com o seu arsenal preparado, para refutá-los. É isso que vamos estudar na próxima seção de nosso Estudo. Mesquita” (Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP). Vamos pensar maduramente a nossa fé?
I – JÓ RELEMBRA SEU PASSADO DE GLÓRIA
1. Prosperidade material e espiritual (29.1-11). Jó demonstra um sentimento nostálgico com relação a seu passado. A primeira coisa que se lembrou desse passado glorioso foi a comunhão que ele desfrutou com Deus (Jó 29.2,4). Eram lembranças de um passado que não mais existia. Ele lembra que Deus o protegia (Jó 29.2); suas bênçãos sobre ele e sua família (Jó29.3); sua orientação em meio às dificuldades (Jó 29.3); e a presença real de Deus na vida dele (Jó 29.5). Jó, portanto, havia sido um homem grandemente abençoado por Deus.
- Jó não mudou o seu modo de pensar sobre o seu pecado, mas continuou a negar que sua iniquidade o tivesse feito merecer tanta dor. A realidade de suas próprias palavras, registradas no capítulo 28, ainda não havia dominado por completo sua mente, assim, mergulhou novamente no desespero e começou a relembrar sua vida de antes dos fatos dos capítulos 1 e 2, quando era feliz porque Deus estava com ele. Deus ainda estava com ele, mas parecia que havia partido, Jó sentia-se abandonado por Deus. Mas o Senhor demonstraria, ao responder às suas críticas, que sempre esteve com ele ao longo das suas aflições.
- “A saudade dos dias felizes de outrora, quando Deus era o seu guardião (v. 2), é uma coisa tocante; é o ponto culminante de todo este terrível drama. Uma comparação com o seu estado de agora, em que aparentemente Deus era seu rival ou pelo menos estava contra ele, com os dias do passado, quando se considerava vigiado e protegido por seu Deus, forma um contraste doloroso. A última parte do verso 2 pode ser traduzida assim: quando Deus velava por mim. O sentido do termo velar é o da mãe carinhosa, que, enquanto o seu bebê dorme, ela vela por ele para, ao primeiro sinal de despertar, o atender. O hebraico é muito rico nas suas formas de expressão. Jó era velado por Deus, que o considerava personagem importante, como se vê nos versos a seguir. Quando a sua lâmpada continuava sempre acesa sobre a sua cabeça (v. 3). Os versos 3-6 constituem um relato amoroso dos dias do seu vigor, isto é, quando, mais moço, era admirado e querido, quando a amizade de Deus estava sobre a sua cabeça. Naqueles dias, Deus era seu amigo; depois, por motivos que ele ignora, Deus se tornou seu adversário, como confessa no capítulo 31:35. Quando o Todo-poderoso ainda estava comigo e os meus filhos ao redor de mim (v. 5)”. (Mesquita. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).
2. Reconhecimento social (29.14-25). Jó também se lembra de sua antiga condição social, quando exercia a função de um respeitado juiz de sua cidade (Jó 29.7). Tanto os jovens como os velhos o procuravam para serem orientados (29.8). Talvez isso explique a linguagem jurídica que aparece com frequência nos diálogos do livro. Isso demonstra que ele exercia um importante papel social na sua comunidade. Ele ajudava o desvalido, dava orientação de forma sábia e agia com justiça (Jó 29.14-20,21-25). Na sua busca pela justiça social, Jó protegia os pobres e punia os opressores (Jó29.17). Seu amor e defesa pela justiça eram-lhe como uma vestimenta e adorno (Jó 29.14). Ele dava apoio social aos menos favorecidos e era como se fosse os “olhos” do cego. Até mesmo com os estrangeiros ele se preocupava (Jó 29.15,16). Tendo agido com justiça e equidade, nada mais natural que esperasse que seus dias terminassem em paz ao lado de sua esposa e filhos (Jó 29.18). O contrário disso não estava em sua agenda: terminar a vida sem saúde, sem honra e sem paz com Deus.
- A porta era o local da sociedade reservado para os líderes da cidade. Jó havia sido um líder, pois era um homem muito rico e poderoso. Por todo o mundo do antigo Oriente Próximo, a virtude de um homem era medida pela maneira como ele tratava os mais fracos e os membros mais vulneráveis da sociedade. Se ele protegia e oferecia provisão para esse grupo, era respeitado como um nobre. Jó havia feito essas coisas, mas seus acusadores disseram que não, de outro modo não estaria sofrendo. Ao contrário das acusações dos três amigos, Jó foi além dos padrões daqueles dias no que dizia respeito ao cuidado da viúva, do órfão, do pobre, do necessitado e do injuriado. Muita opressão ocorria em tribunais injustos, e ali Jó protegia os mais fracos. Jó tinha uma saúde vigorosa como uma árvore de raízes profundas que desfrutava do orvalho fresco da manhã, e esperava desfrutar de uma vida longa junto com sua família. Jó lembrou seus amigos de que houve um dia que ninguém rejeitava seus conselhos. Era consultado por sua sabedoria. Provavelmente, uma referência a palavras ditas de maneira brincalhona ou jocosa. A palavra de ]ó era tão respeitada que não acreditavam que as suas graças fossem graça mas o levavam a sério.
- “Eu me cobria de justiça. Jó usava a justiça como se fosse uma veste, tão intimamente a ela estava ligado. Seu julgamento era como uma veste esplendorosa e imaculada e, também, como uma coroa. Mas quando ele foi derrubado por terra, seus amigos recusaram-se a ajudá-lo. Isso nos mostra quão pequenos eram aqueles homens. Eu me fazia de olhos para o cego. Aquilo que faltava aos homens, Jó provia. Um homem “sem pés” é alguém verdadeiramente fraco. É um aleijado, instável em todos os seus caminhos. É do tipo de homem que a sociedade costuma pisar. Jó, pois, ajudava esse tipo de pessoa. Além disso, atuava como se fosse olhos para os cegos. Talvez devamos entender, literalmente, que Jó servia a esse tipo de gente, mas a aplicação metafórica também não deve ser negligenciada. Aleijados moral, espiritual, econômica e socialmente — essas eram as pessoas que recebiam ajuda de Jó. Por conseguinte, longe de ter sido um opressor dos menos privilegiados, ele era o melhor e mais conhecido benfeitor da cidade. Visão e capacidade são as palavras-chave para a grandeza de uma pessoa. Jó possuía essas duas coisas e, por isso, vivia para aqueles a quem faltava alguma qualidade espiritual. Naturalmente, a maior palavra-chave de todas é amor. Jó, embora grande e poderoso, não se esquecia de amar os outros, cuidando do bem-estar deles, mostrando-se altruísta e até sacrificando-se por eles. No entanto, quando caiu por terra, a terrível tríade o espezinhou. Dos necessitados era pai. Jó continuou, neste versículo, a descrever como beneficiava, geralmente, a sociedade. Existem os órfãos, uma classe que dá pena. Em nosso Brasil, milhares de crianças sem lar e sem pais vagabundeiam pelas ruas das grandes cidades. Que temos feito em favor delas? Jó, contrastando com almas menores, saía de seu caminho para encontrar esses necessitadas e ajudá-los. Embora muitas igrejas evangélicas se gabem de ser as únicas a pregar o evangelho, o que fazem pelos enfermos e necessitados? Essas igrejas são notoriamente fracas quanto a boas obras, ao mesmo tempo que falam orgulhosamente de seus dogmas. Outrossim, a Igreja Católica Romana envergonha as igrejas evangélicas na questão das obras de caridade. Jó chegava ao extremo de procurar pessoas necessitadas. Ele não esperava que elas chegassem às suas portas. Até as causas dos desconhecidos eu examinava. Quando os pobres chegavam e apresentavam uma queixa contra algum opressor, Jó examinava o caso e cuidava para que a justiça fosse feita. Jó opunha-se às injustiças sociais e usava sua sabedoria e poder para diminuí-las, até mesmo em favor de desconhecidos”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1977).
3. Uma ponderação importante. Não há dúvida de que Jó, conforme a Bíblia mostra, era um modelo de justiça social. Todavia, devemos ter o cuidado de não transportar para dentro do texto bíblico nenhuma teoria moderna de justiça social firmada em valores materialistas contrários aos defendidos nas Escrituras. De fato ele era um homem que defendia a justiça social, mas nem de longe se pode classificá-lo como um socialista nos termos modernos. Isso seria forçar o texto, ir além do que está escrito e sobrepor o pensamento político na Bíblia.
- Sem querer acrescentar muito neste ponto, acho conveniente transcrever as palavras de Matthew Henry, no Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão (CPAD): “Ele se valorizava pela repreensão que fazia à violência dos homens orgulhosos e ímpios (v. 17); “Quebrava os queixais do perverso”. Ele não diz que lhes quebrava os pescoços. Não lhes tirava a vida, mas quebrava seus queixais, tirava a sua capacidade de fazer o mal; ele os humilhava, mortificava, e reprimia a sua insolência, desta maneira tirando as presas de seus dentes, livrando as pessoas e os bens dos homens honestos que eram suas presas. Quando já tinham o espólio entre seus dentes e o estavam vorazmente engolindo, ele o resgatava corajosamente, como Davi resgatou o cordeiro da boca do leão, sem temer, ainda que eles rugissem e atacassem como um leão privado de sua presa. Os bons magistrados devem ser um terror e uma restrição aos malfeitores, e uma proteção ao inocente, e, para fazer isto, precisam se armar com zelo, e resolução, e uma coragem destemida. Um juiz no tribunal tem tanta necessidade de ser corajoso e valente como um comandante no campo de batalha”. (HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 141-142).
II – JÓ LAMENTA SEU ESTADO PRESENTE
1. Desprezo por parte dos jovens e das classes menos favorecidas (30.1,23). Após lembrar com tristeza da sua antiga condição social próspera, Jó lamenta o ponto que havia chegado sua miséria. No Antigo Oriente, os mais velhos eram objetos de grande estima (Pv 20.29). Por isso, quando gozava de sua prosperidade, ele era respeitado não apenas pelos mais velhos, mas também pelos mais jovens. Entretanto, Jó lembra que “agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho”(Jó 30.1). De homem respeitado, ele passou a ser visto como uma escória social (16 30.1-8). Jó, portanto, lamentava estar no fundo do poço.
- Jó deixou de recordar os bons dias do passado e começou a lamentar suas perdas atuais. Jó descreveu esses zombadores como vagabundos irremediáveis que, por causa de sua inutilidade e perversidade eram bem-vindos na sociedade, de modo que foram banidos da terra. Esses homens ordinários haviam feito de Jó o objeto de sórdido entretenimento. Como escreve Russell Norman Champlin em ‘Testamento Interpretado versículo por versículo’ (Hagnos): “Mas agora se riem de mim. Houve tempo em que os jovens fugiam da presença de Jó. Eles temiam ficar perto do homem augusto, Jó. Ver Jó 29.8. Agora, em sua arrogância, na presença do homem enfermo e caído, eles se punham de pé e proferiam piadas. Escarneciam dele, zombavam de seus sofrimentos e chamavam-no de verme. Aqueles jovens patifes eram de classe tão desprezível que, anteriormente, Jó nem teria chamado seus pais para acompanhar cães aos seus rebanhos, para fazer o mesmo tipo de serviço que faziam seus cachorros, ou para dirigir o trabalho dos animais. Em outras palavras, os pais deles nem eram tão bons quanto cães, e Jó jamais teria permitido que trabalhassem para ele em suas terras. Mas, agora, seus filhos adolescentes, aqueles insensatos, tinham coragem de zombar do nobre Jó. Os pais daqueles jovens idiotas eram tão inferiores a Jó que ele jamais os chamaria para fazer o trabalho de agricultores seus. Mas agora seus jovens filhos tomaram-se atormentadores de Jó. Um jovem zombar de um idoso era uma descortesia impensada no antigo Oriente Próximo e Médio. E isso nos mostra a que estado aviltante as coisas se tinham desintegrado para Jó”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1978).
2. Abatimento físico e emocional (30.16-31). O patriarca se sente um homem abandonado por Deus, por isso, essa lembrança o lança numa profunda tristeza e produz em sua vida um grande sofrimento que, além de físico, era também de natureza emocional. Como o salmista, Jó lamenta suas dores (Sl 42.4). Nas suas vestes, ele via uma prova real de seu sofrimento (Jó 30.18). Nesse sentido, no versículo 18 aparece a palavra “desfigurou”. Alguns intérpretes acreditam que a palavra melhor traduzida é “manchada”. Ou seja, as feridas abertas de Jó havia manchado suas vestes. Ele imagina que Deus está por trás de todo esse sofrimento (Jó 30.19) e que, mesmo depois de clamar, o Altíssimo lhe ignora. O homem de Uz sente-se caçado como um animal selvagem e atormentado por um furacão (Jó 3.21,22)
- A vida de Jó sofreu uma derrocada, as aflições dominam, seus ossos incomodavam, sua dor lancinante nunca cedia, sua pele ("veste") estava desfigurada, e ele foi reduzido à lama, pó e cinzas. A noite segurava violentamente as vestes de Jó e o desfigurava. Alguns intérpretes, entretanto, veem Deus neste versículo. Deus surge em cena como um assaltante, com Seu grande poder (veja estes textos e confira com Jó 30.16-19: Jó 9.4; 10.16; 12.13; 24.22; 26.12,14 e 27.11). Talvez agora a noite se tenha transmutado em Deus, em uma metáfora expandida. Deus torturava Jó em seu leito, à noite. Mais difícil de explicar é a referência, aqui, às vestes de Jó. Provavelmente, Jó falava sobre seu corpo como se fossem vestes. Esse corpo, desfigurado pelo pus e pelos ferimentos, tornou-se uma veste apertada que ameaçava sufocá-lo. É interessante a observação do Pastor batista Antônio Neves de Mesquita, em ‘Jó, Uma interpretação do sofrimento humano’ (JUERP), já citado no tópico 1: “Jó não eram só os seus caçoadores que o oprimiam. Os pavores, falados noutros passos, voltam a ser o seu tormento, e como por uma ventania é varrida a sua honra, pois estava desmoralizado perante os que o haviam conhecido e agora o viam naquela condição. A sua felicidade passou como uma nuvem (V. 15). Era um homem desamparado e torturado. A sua alma como que se derramava dentro dele, os dias da aflição dele se apoderaram. A noite verruma os ossos e os desloca e não descansa o mal que me rói (v. 17). Os efeitos da doença eram piores de noite, como são todos os sofrimentos; e, como não dormia, sentia-se num vazio, com a alma derramada. Pela grande violência do seu mal, estava desfigurada a sua veste. Parece que a tradução deveria ser: Pela minha doença, a minha veste ficou muito larga, o meu corpo está muito magro para ela. Há diversas interpretações para este verso. Uns pretendem interpretar o intumescimento do corpo por causa dos tumores, de modo que a túnica se apresentava como a gola do vestido. É difícil entender o que significa a frase “está desfigurada a minha veste”. Também não nos parece muito útil entrarmos na apreciação das diversas interpretações de um determinado verso, pois o que interessa a este Estudo é a parte normal e comum”. (Mesquita. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).
3. Deus teria abandonado Jó? O sofrimento emocional de Jó refletia a sua crença de que havia sido abandonado por Deus (Jó 30.16-23). Todavia, era também um reflexo de ter sido abandonado pelos homens (30.24-31). Junto a isso, ele observou que o seu clamor foi totalmente desconsiderado. Doía saber que havia ajudado muitas pessoas carentes e necessitadas de socorro (Jó 30.25), mas agora o seu clamor por socorro ser totalmente ignorado. Em vez de ajudado, ele era repelido como uma escória social (Jó 30.26). Quantas pessoas não passam por esse sentimento? Quantas vezes um sentimento de injustiça não assola-nos à alma? Cheguemo-nos diante de Deus e entreguemos tudo em seu altar.
- “Clamo a ti, e não me respondes; estou em pé, mas apenas olhas para mim” (Jó 30.20) - Isto causou o maior sofrimento de todos — o que parecia ser o cruel silêncio de Deus; Veja o grito de desespero de Jó no versículo 21: “Tu foste cruel comigo; com a força da tua mão tu me "combates.” - Parece que Jó está dizendo que Deus deveria ter mais simpatia, já que ele mesmo a tinha, de modo a não destruir totalmente o que já estava arruinado. Jó pensava assim e clamou por socorro em seu sofrimento, mas recebeu apenas o mal – “Aguardava eu o bem, e eis que me veio o mal; esperava a luz, veio-me a escuridão” (v. 26).
III – O FUTURO EM ABERTO DE JÓ
1. Jó em defesa de sua ética sexual (31.1-4). Seus amigos silenciaram, Jó sabe que nada está resolvido, o futuro ainda está em aberto e se mostra incerto. Haverá alguma resposta? Ao querer mostrar a sua inocência, Jó ainda sente a necessidade de se defender. A primeira defesa dele é em relação ao comportamento ético-sexual, dizendo que sempre se comportou com integridade em todas as esferas da sua vida. Nos versículos 1- 4 do capítulo 31, ele mostra, por exemplo, que jamais permitiu desvios de seu comportamento sexual, fazendo uma aliança com os próprios olhos para evitar a luxúria e a impureza quando olhasse para uma donzela. Segundo o ensino do Novo Testamento, somos estimulados também a fazer um concerto com os próprios olhos (Mt 5.27-30).
- À medida que Jó aumentava seus esforços para ficar livre das falsas acusações, intensificava a afirmação de que era inocente, comparativamente falando, e exigia justiça. Jó Permanece Puro no Meio da Impureza (vv. 13-19). ANDERSEN comenta: “A Concupiscência. Jó lança-se ao juramento sem preliminares. O olho como o primeiro instrumento do pecado é mencionado mais de uma vez. Jó começa, não com a forma normal da confissão negativa, mas, sim, com uma declaração dos fatos. Tinha feito uma aliança. Se Jó parece demasiadamente escrupuloso ao evitar até mesmo a ocasião da possível tentação, é porque é muito sensível quanto àquilo que está em jogo. A tradução como no v. 1b, embora seja literal, não parece encaixar-se. Visto que o significado da linguagem que se segue é esclarecido por Eclesiástico 9:5, Dhorme prefere entender mãh como um negativo. Talvez tenha razão. Assim traduz a NEB. Jó é cauteloso, porque a pergunta que habitualmente fazia acerca de toda ação era: “O que Deus pensará?” Posto que Deus observa os meus caminhos, tudo quanto importa é a porção e a herança que a pessoa tem com Ele. A idéia de galardão, ou mesmo de castigo futuro, está presente. A lição principal é a certeza da retribuição divina sobre o malfeitor (3). A firmeza das convicções de Jó sobre esta questão deve ser notada. A justiça de Deus é sua crença principal, e é mais uma resposta aos estudiosos que removeram declarações semelhantes dos discursos anteriores de Jó, como sendo uma concessão ao ponto de vista dos amigos, feita pelos escribas, que Jó não teria dado. Seguindo a pressuposição de que todos os pecados sexuais devam ser tratados no mesmo trecho, o v. 1 tem sido mudado de lugar ou a referência dos olhares lascivos tem sido alterada mudando-se donzela para “estultícia” ou outras palavras semelhantes”. (Francis I. Andersen. Jó Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 239-240).
2. Jó em defesa de sua ética social (31.16-23). Jó também faz uma defesa de sua ética social. Ele já havia mostrado que a justiça social marcou sua forma de agir. Todavia, ele lembra que isso só foi possível porque procurou conduzir-se sempre por princípios de uma ética social. Por exemplo, ele sempre tratou o órfão e a viúva com humanidade; os escravos, mesmo sendo sua propriedade, tinham liberdade para o procurarem e apresentarem-lhe suas queixas. O seu comportamento ético-social o habilitou a agir como tribuno dos desvalidos (Jó 31.13-23). Lembremo-nos da verdadeira religião, como bem Tiago afirmou: “Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (1.27). Eis um dos fundamentos de nossa ética social
- Acrescento aqui apenas o que diz CHAMPLIN, em obra já citada: “Se a alguém vi perecer por falta de roupa. Jó supria aos pobres o vestuário e a proteção necessários. Ele era um modelo de comportamento social. Algumas pessoas assim beneficiadas não expressavam nenhuma gratidão a ele (vs. 20), mas isso não o impedia de continuar suas doações. Ele dava aos necessitados, e não necessariamente aos agradecidos. “Jó vestia os despidos não com vestes esplendorosas, mas com um vestuário decente e útil, não com a lã das ovelhas de nossos animais, mas com a lã produzida por seus próprios rebanhos” (John Gili, in loc.). Se eu levantei a mão contra o órfão, por me ver apoiado pelos juízes. Justiça no Tribunal. Jó era um homem de poder, um conselheiro e, provavelmente, um juiz. Ele pode ter influenciado casos, de qualquer maneira que assim tenha querido fazer. Ele não arrebatava a propriedade da viúva, por um testemunho manipulado ou falso. Nem permitia que outros perpetrassem a injustiça no tribunal. Na porta, o lugar onde se julgavam os casos, ele estava presente para garantir a justiça e a bondade. Ele tomava a peito a causa do necessitado que não tinha dinheiro para comprar os juízes e conseguir falsas testemunhas. Jó era o campeão das classes menos privilegiadas. Era um benfeitor social, a força dos fracos”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1985-1986).
3. Jó busca a resposta de Deus (31.35-37). Agora Jó se dirige a Deus na forma exclamativa: “Ah! Quem me dera um que me ouvisse!” (v.35). Ele já havia feito uma viagem retrospectiva sobre o seu passado, agora ele faz uma análise sobre sua situação presente, mas seu olhar está no futuro. Ele quer se apresentar diante de Deus porque está consciente de sua inocência. Sua confiança é de um príncipe que se apresenta diante de um tribunal (Jó 31.37). Ele confia de que será inocentado. Como podemos nos apresentar diante de Deus e justificar os nossos atos? Pela graça divina, por meio de Jesus Cristo, o Filho de Deus, Ele mesmo nos justifica (Rm 8.31-33).
- “Que o meu adversário escreva a sua acusação!” Jó desejava que Deus, o perfeito promotor que conhece perfeitamente as alegações, Tivesse escrito um livro que revelasse a sabedoria e a vontade do Deus, o as razões para sua dor. Isso o terá inocentado de todas as acusações de seus amigos. ANDERSEN comentando os versículos 35-37, escreve: “Este é o desafio final. Jó exige ser ouvido. Assina um documento. Jó 19.23 e 31.35 devem ser interligados um ao outro. Porque a letra hebraica tãu é a última do alfabeto, BJ [em inglês] dá a sugestão criativa de que Jó quer dizer: “Já disse tudo quanto queria, desde o A até o Z.” A letra tinha o formato de uma cruz, e significava “marca,” e, portanto, “assinatura.” A referência seguinte à acusação escrita pelo adversário leva-nos para a terminologia dos processos jurídicos. Jó ficaria orgulhoso em levar semelhante documento sobre o seu ombro, usando-o como coroa… como príncipe. Longe de ficar envergonhado, Jó luta até o fim, ansioso por ver a causa concluída, confiante quanto ao resultado final. Está capacitado para prestar contas de todos os seus passos”. (Francis I. Andersen. Jó Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 243).
CONCLUSÃO
Nesta lição, vimos que Jó lembrou de seu passado abençoado e de como agiu com integridade e humanidade com o próximo. Nunca havia agido de forma injusta com ninguém nem tampouco cometido pecados que o desonrassem moralmente. Sua integridade estava intacta. Assim, ele acredita que chegou o grande momento de se apresentar diante de Deus e receber de o veredito de que é um homem injustiçado e inocente.
- Os textos lidos apresentam um resumo da defesa de Jó; ele o faz como se estivesse relatando histórias de seu passado. Sentimos que o desejo de Jó é de “voltar aos bons velhos tempos”. E estes velhos dias incluíam Deus em todas as circunstâncias: “…como nos dias em que Deus me guardava” (v. 2). Ele confessou que tinha cometido os pecados comuns da mocidade (veja Jó 13.26), mas negou que fosse culpado dos muitos e graves pecados que os seus amigos o acusaram de ter praticado. De igual forma, ele se recusa a entender que estava sendo punido por Deus com aqueles imensos sofrimentos por causa de seus “pecados atuais” ou mesmo do passado. De fato, Jó se apresenta como um homem inocente, que não merecia as agonias pelas quais ele estava sendo sujeitado.
PARA REFLETIR
A respeito de “A Última Defesa de Jó”, responda:
• Qual a primeira coisa que Jó se lembrou de seu passado?
R: A primeira coisa que se lembrou desse passado glorioso foi a comunhão que ele desfrutou com Deus (Jó 29.2,4).
• Quem procurava Jó para pedir orientação?
R: Tanto os jovens como os velhos o procuravam para serem orientados (29.8).
• De homem respeitado, como Jó passou a ser visto?
R: De homem respeitado, ele passou a ser visto como uma escória social (1ó 30.1-8).
• O que o sofrimento emocional de Jó refletia?
R: sofrimento emocional de Jó refletia a sua crença de que havia sido abandonado por Deus (Jó 30.16-23).
• Que comportamento ético-social de Jó o habilitou?
R: O seu comportamento ético-social o habilitou a agir como tribuno dos desvalidos.
4 Tri 20 | Lição 10: A Última defesa de Jó | Pb Francisco Barbosa