4º TRIMESTRE 2020 |
ANO 13 | EDIÇÃO Nº 681 |
L I Ç Ã O |
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A Teologia de Zofar: |
08 |
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O Justo não passa por Tribulação? |
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22 NOV 20 |
A Fragilidade Humana e a Soberania Divina |
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LIÇÕES BÍBLICAS CPAD REVISTA ADULTOS - QUARTO TRIMESTRE DE 2020
Texto Áureo
“E terás confiança, porque haverá esperança; olharás em volta e repousarás seguro.” (Jó 11.18)
Verdade Prática
Segundo as Escrituras, até mesmo o justo passa por tribulação.
Leitura Bíblica em Classe
Jó 11.1-10; 20.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos o discurso de Zofar, o último amigo de Jó a falar na série de debates (Jó 11; 20). Ele insistirá na tese de que o justo não passa por tribulação, à semelhança do que pensavam seus amigos Elifaz e Bildade. Todavia, Zofar é mais duro e impiedoso na acusação contra Jó. Ao contrário de seus amigos, ele faz dois discursos suficientes para derramar seu ressentimento contra o Patriarca. Ele o acusa de se levantar contra sabedoria divina e aconselha Jó a voltar-se para Deus
- ZOFAR – o terceiro dos “amigos” de Jó. E chamado naamatita (Jó 2.11; 11.1; 20.1; 42.9), indicando que era de Naamá, do norte da Arábia. Os dois discursos de Zofar encontram-se em Jó 11.1-20 e 20.1-29. Zofar acusou Jó de perversidade e hipocrisia, admoestou-o a arrepender-se de sua rebeldia e disse que Deus punia Jó menos do que seus pecados mereciam (Jó 11.6). (Ronald F. Youngblood; co-editores F. F. Bruce & R. K. Harrison. Dicionário ilustrado da Bíblia. Editora: Vida Nova. pag. 1472). Sua posição era bastante parecida com a de seus amigos, e ele decidiu golpear Jó com a mesma lei de retaliação. Jó precisava se arrepender, disse ele, sem compreender a realidade. Ele estava indignado com os protestos de Jó quanto a sua inocência. Zofar atirou-se dessa forma contra Jó, porque o julgava um presunçoso, ao manter a sua integridade, quando, segundo todas as aparências, estava sofrendo o justo castigo divino. Vamos pensar maduramente a nossa fé?
I – DEUS SE MOSTRA SÁBIO QUANDO AFLIGE OPECADOR
1. Deus grande e sábio. Zofar defende que o sofrimento de Jó fazia parte de um sábio julgamento divino, pois, para ele, Deus demonstra grande sabedoria em reprimir os maus. Por outro lado, os bons jamais passam por tribulação. Para Zofar, se alguém deve algo tem de pagar. Com dureza, o terceiro amigo de Jó não demonstra a mínima compaixão pelo sofrimento do patriarca de Uz ao acusá-lo de que se comporta como um animal irracional, um jumento que não tem entendimento (11.12) ao não percebera sabedoria divina na condução das coisas. Para Zofar, Jó valeu-se na sua defesa de palavras exageradas (11.2), desrespeitosas (11.3), cheias de justiça própria (11.4) e ignorantes sobre as coisas de Deus (11.5,6).
- As alegações contra Jó passaram para um novo nível. Ele não apenas era culpado e impenitente, mas era também um tagarela. De fato, a contínua afirmação de Jó sobre sua inocência e sobre a aparente injustiça de Deus era um pecado que merecia ser castigado, pensava Zofar. Jó nunca afirmou ser sem pecado; de fato, ele tinha consciência de ter pecado (Jó 7.21; 13.26). Mas ainda assim ele sustentava sua inocência de qualquer grande transgressão ou atitude de impenitência, afirmando sua sinceridade e integridade enquanto homem de fé e obediência a Deus. Essa afirmação enfureceu Zofar, que desejou que o próprio Deus confirmasse as acusações dos amigos de Jó. Jó seria muito mais sábio se tão somente conhecesse os insondáveis segredos de Deus; nesse caso, a cena no céu entre Deus e Satanás teria esclarecido tudo. Mas Jó não tinha como conhecer a secreta sabedoria de Deus. Zofar deveria ter aplicado seu ponto de vista a si próprio. Se a sabedoria de Deus era tão profunda, alta, longa e larga, como era possível que ele a compreendesse e tivesse todas as respostas? Como seus amigos, Zofar achava que compreendia Deus e usou a mesma lei da retaliação, o princípio do plantar e colher, para novamente acusar Jó. Ele quis dizer que Jó era ímpio e que ele próprio era sábio, apesar cie que, na verdade, ele estava fora de controle como se fosse "um asno montês"!
2. Deus não é indiferente à ação do ímpio. O terceiro amigo de Jó acreditava que ele havia se autodeclarado “puro” e “sem culpa” (Jó 11.4; cf 9.21; 10.7). Cria também que Deus não é indiferente à ação do ímpio como Jó parecia ter sugerido. Assim, para Zofar, se Deus debatesse com Jó, como era desejo deste, então não haveria dúvidas de que Ele ficaria contra o patriarca e não ao seu favor. Nesse embate, Deus revelaria a Jó os segredos de sua sabedoria e o homem de Uz veria que Ele estava sendo sábio em tratá-lo como merecia Logo, Jó seria condenado.
- Zofar “acusa Jó de dizer o que não havia dito (v. 4): Pois disseste: a minha doutrina é pura. E se ele tivesse dito isso? Era verdade que Jó era sólido em fé, e ortodoxo em seu juízo, e falava melhor a respeito de Deus, do que seus amigos falavam. Mesmo que ele tivesse se expressado de uma forma imprudente, não se poderia tirar a conclusão de que a sua doutrina não fosse verdadeira. Mas ele o acusa de ter dito, limpo sou aos teus olhos. Jó não tinha dito isso; o que ele disse foi: bem sabes tu que eu não sou ímpio (cap. 10.7); mas ele também disse, eu pequei, e nunca fingiu ter uma perfeição imaculada. Ele tinha de fato afirmado não ser hipócrita como eles o acusavam; mas concluir com isso que ele não se considerava um pecador era uma insinuação injusta. Devemos dar a melhor interpretação às palavras e ações dos nossos irmãos, sim, àquilo que estas palavras e ações transmitirão; mas aqueles que contendem são tentados a dar a pior interpretação possível” (HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 60).
3. Tolos se passando por sábios. Jó reage com ironia “sabedoria” defendida anteriormente por seus amigos “vós”, (Jó 12.2) e agora por Zofar. Este, juntamente com seus amigos, havia se levantado como legítimo representante do verdadeiro saber. Zofar, pois, pretender e presentar o próprio Deus em seu discurso (Jó 13). Todavia, Jó está convencido de que isso não passava de charlatanismo: “Vós, porém, sois convencido de que isso não passava de charlatanismo: “Vós, porém, sois inventores de mentiras e vós todos, médicos que não valem nada” (Jó13.4). inventores de mentiras e vós todos, médicos que não valem nada”(Jó 13.4). Ele, portanto, está resoluto em deixar os amigos e ir à procura de Deus: “Mas eu falarei ao Todo-Poderoso; e quero defender-me perante Deus.” (Jó13.3). O patriarca estava certo de que havia uma sabedoria do alto, que seus amigos desconheciam por completo, e, quando revelada, ficaria ao seu lado (cf. cap. 28). No lugar dos julgamentos dos homens, há uma sabedoria do alto que sonda os corações dos que são chamados pelo nome do Senhor, pois Este não vê como os homens veem (1 Sm 16.7).
- Jó respondeu em defesa própria usando palavras fortes, com grande sarcasmo aos seus amigos sabe-tudo, e então os lembrou de que compreendia os princípios dos quais eles falaram, que eram irrelevantes para sua situação. Como se não bastasse todo seu sofrimento, Jó se desesperou diante da dor de se tornar objeto de chacota de seus amigos, embora fosse inocente. Matthew Henry, em seu Comentário (CPAD), diz: “Note que é uma coisa muito louca e pecaminosa para qualquer um pensar ser mais sábio do que toda a humanidade, ou falar e agir confiantemente e imperiosamente, como se pensasse assim. Ou melhor, ele vai além: “Não só pensais não haver ninguém, mas que não haverá ninguém, tão sábio quanto vós; portanto, que a sabedoria deva morrer convosco, que todo o mundo deva ficar ignorante quando partirdes, e em trevas quando o vosso sol se puser.”
Observe que é loucura nossa pensarmos que haverá uma grande perda, sim, uma perda irreparável quando morrermos, ou que deveríamos ser poupados; Deus tem o seu precioso Espírito, e pode levantar outros, mais qualificados do que somos, para fazerem a sua obra. Quando homens sábios e homens bons morrem é uma consolação pensar que a sabedoria e a bondade não morrerão com eles. Alguns pensam que Jó aqui reflete sobre a comparação que Zofar fez dele (como ele pensava) e de outros com a cria de um jumento montês, cap. 11.12. “Sim,” ele diz, “devemos ser jumentos; só vós sois homens.” (HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 64).
II – A CONVERSÃO COMO RESPOSTA À AFLIÇÃO
1. Purificação moral. Nos versículos 13-20 do capítulo 11, Zofar conclui seu discurso sobre a situação de 16. Ele não tem dúvidas de que o patriarca está em pecado e, por isso, a única forma de ele se restabelecer é por meio de uma purificação moral. Zofar, portanto, conclama Jó ao arrependimento e conversão. Ele enumera três passos para que isso aconteça: vida nessas circunstâncias? Haveria conduta correta (v.13); oração (v.13) e renúncia ao pecado (11.14). Então, segundo Zofar, se Jó cumprisse essas condições, reconhecendo que estava em pecado, Deus o restauraria de sua miséria. Entretanto, a ideia de arrependimento de Zofar é mais de natureza externado que interna. O que está em vista é uma teologia do moralismo salvífico em vez da graça divina. Nesse aspecto, o arrependimento não passava de um mero ritual. Na teologia de Zofar a simples prática desses ritos traziam consigo o poder de conferir o favor divino. Na verdade, isso era o que se conhece hoje como legalismo religioso.
- Na verdade, no texto de Jó 11.13, Zofar estabeleceu quatro passos para o arrependimento de Jó:
1º consagre seu coração a Deus;
2º estenda as mãos em direção a Deus, clamando por perdão;
3º lance para longe a iniquidade; e
4º não permita que qualquer pecado habite em sua tenda.
Se Jó desse esses passos, seria abençoado. Se ele não se arrependesse, morreria. Zofar estava certo de que a vida de fé em Deus é baseada na penitência e na obediência. Ele estava certo de que Deus abençoa seu povo com esperança, segurança e obediência. Mas, como seus amigos, estava errado em não compreender que Deus permite sofrimentos aparentemente injustos e imprevisíveis por razões que nos são desconhecidas. Ele estava errado em presumir que a resposta para Jó era o arrependimento. Zofar iniciou essa seção falando diretamente a Jó: "Se dispuseres... estenderes..." e concluiu falando proverbialmente: "Mas os olhos dos perversos...". Ao agir dessa maneira, Zofar evitou chamar Jó diretamente de perverso, mas foi ainda mais bem-sucedido sendo indireto. No final, disse a Jó que seu pecado lhe causaria a morte.
2. É possível negociar com Deus? Estudiosos destacam que Zofar tenta induzir Jó a negociar com Deus a fim de se ver livre de suas dificuldades. Era exatamente isso que Satanás desejava que Jó fizesse (Jó 1.9). O Diabo acusou Jó de ter uma fé interesseira, com base nas promessas de prosperidade em troca de sua obediência. Se Jó tivesse seguido o conselho de Zofar, teria feito exatamente o que o Inimigo queria.
- No capítulo 1.9-11, Satanás declarou que os crentes verdadeiros só são fiéis enquanto prosperam. Tire-lhes a prosperidade, afirma, e rejeitarão a Deus. Ele queria provar que a salvação não é permanente, que a fé salvadora pode ser quebrada e que os que são de Deus poderiam passar a ser dele. Satanás repetiu essa afronta com Jesus em Mateus 4, a Pedro em Lucas 22.31 e a Paulo em 2º Coríntios 12.27. “Donald Grey Barnhouse fez uma declaração, certa feita, que, de forma surpreendente e maravilhosa, mostra tanto a transcendência como a imanência de Deus: “Nossos grandes problemas são pequenos para o infinito poder de Deus, mas nossos pequenos problemas são grandes para o seu amor de Pai”. O que Barnhouse enfatiza é que o Todo-Poderoso, embora transcenda infinitamente o homem em poder e sabedoria, acha-se presente no dia-a-dia de cada um de nós. Ele não se limitou a criar-nos; sustém-nos com os seus amorosos desvelos, cuidando até do azeite de nossa botija. Zofar, porém, não acreditava num Deus tão maravilhoso assim. Cria ele num Deus que, apesar de haver criado o mundo, não se preocupa com este. Pois se acha demasiado ocupado com os assuntos das cortes celestes para enfastiar-se com o cotidiano humano. Que o patriarca Jó, por conseguinte, procurasse conforto noutra parte; de Deus, não haveria ele de receber qualquer lenitivo. Esse amigo de Jó tinha uma crença incompleta no Todo-Poderoso; era um perfeito deísta. Esquecia-se ele, porém, que, não basta saber que Deus existe; é imprescindível acreditar que o Deus infinito é também o amoroso Pai que estará sempre ao nosso lado” (ANDRADE. Claudionor Corrêa de. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 157-158).
3. A angústia de Jó. Diante das insistentes acusações dos amigos e do silêncio de Deus, Jó dá sinais de desânimo (cap. 12-13). Ele manifesta de vez toda a sua condição humana. O justo sofre! Se Jó seguisse o conselho de Zofar estaria assinando um termo de confissão. Assumindo algo que não havia feito. Ele sabia de sua integridade e, por isso, não se sujeita a esse capricho do amigo. Isso lança num dilema angustiante. No capítulo14, ele demonstra que sua esperança está desvanecendo, comparando-se a uma flor que é cortada, uma sombra que desaparece e um empregado que trabalha, mas que logo é dispensado. Qual o sentido da vida nessas circunstâncias? Haveria esperança? Jó parece estar desiludido Até mesmo uma árvore quando tem seu tronco cortado volta a ter brotos novamente, mas isso não acontecia com o homem. Nesse aspecto, o homem se assemelhava mais a água que evapora ou que se infiltra na terra. Diante desse quadro, Jó se pergunta: “Morrendo o homem, porventura, tornará a viver?” (Jó 14.14). Era a pergunta de um homem crente e piedoso, porém, angustiado, que não tem medo de expressar sua verdadeira condição humana.
- “Morrendo o homem, porventura tornará a viver? Uma leve esperança enviou um raio brilhante pelo caminho cada vez mais largo do futuro. Jó levantou aquela dúvida antiquíssima: “Se um homem morrer, tornará a viver?”. Ele tentou acreditar que seus sofrimentos, que terminariam mediante a morte do corpo, irromperiam em outra vida, sem sofrimentos. Deus haveria de querer de volta a obra de Suas mãos (vs. 15), mas agora sob outra forma. A primeira forma, o corpo físico, seria aniquilado pela morte e pelo sepulcro; a segunda forma seria diferente e melhor, em substituição à primeira. Assim sendo, o Oleiro celestial receberia de volta Sua obra em uma forma aperfeiçoada. Ou, pelo menos, essa era a esperança de Jó. Ele poderia estar pensando na reencarnação, uma doutrina comum da época, em alguns lugares do Oriente. Ou, mais provavelmente ainda, ele estava pensando na ressurreição, outra ideia comum em algumas culturas. No presente texto, temos um ótimo toque, porquanto Jó, limitado que estava pela teologia herdada de seus pais, estava cego quanto a esperar algo melhor para além do sepulcro. Mas, em seu desespero, ele avançou para além dos limites impostos pela sua cultura e tentou encontrar consolo em outra ideia, que não fazia parte de seu meio ambiente teológico. De fato, caros leitores, isso é tudo quanto temos para fazer. Não nos podemos limitar ao que temos herdado em nossas igrejas tradicionais. Devemos buscar algo diferente, algum bendito suplemento para nossas imposições teológicas. Somente então a teologia fará sentido”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1913).
III – DEUS JULGA E CASTIGA OS PECADORES
1. O castigo dos maus. O capítulo 20 contém o segundo discurso de Zofar. Nele, Zofar lembra a Jó que a aparente prosperidade dos ímpios não passa de ilusão e dura apenas um instante. Na verdade ele repete o que 12 a 14 desse mesmo capítulo são usados por Zofar para comparar o deleite do ímpio à uma comida envenenada. Ela pode saciar, mas proporcionará uma digestão trágica (Jó 20.14). Dessa forma, tudo o que o ímpio adquiriu de forma desonesta e pecaminosa terá que devolver e restituir (Jó 20.18). Esse ímpio terá como adversário o próprio Deus, que o julgará e punirá (Jó 20.27-29).
- Em Jó 20.1-29 Zofar inicia seu segundo e último discurso, no qual novamente aconselhou Jó a considerar o destino do perverso. O mal na vida afasta todo o contentamento, o que significava que Jó não tinha alegrias por causa de pecado, assim como a pessoa do versículo 19: “Oprimiu e desamparou os pobres, roubou casas que não edificou”. Zofar concluiu que mais do que apenas perder o contentamento da vida por causa de pecado, o perverso sofre a fúria de Deus determinada para tal perversidade.
- Russell Norman Champlin comenta: “Tal, é da parte de Deus, a sorte do homem perverso. O indivíduo ímpio, tão repleto de bens, perdeu tudo, mas ainda assim tem uma “rica” herança, a ira de Deus que nivela todas as coisas. Essa é a “porção” dele, e Deus é quem tratou com ele. Quando falamos em riquezas materiais, naturalmente pensamos em heranças, porque as riquezas passam de pai para filho. Quando Zofar falou sobre heranças, viu o que Deus tinha de reserva para o ímpio rico que explorou outras pessoas. Foi, de fato, uma visão terrível. Há um decreto divino envolvido na questão. Não devemos cristianizar este texto, fazendo a ira de Deus referir-se a algum julgamento depois da morte biológica de um homem. Essa doutrina não entrou na teologia dos hebreus senão na época em que foram produzidos os livros do período intermediário entre o Antigo e o Novo Testamento. Zofar falava sobre o aniquilamento absoluto do pecador, antes e por ocasião da morte física” (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1949).
2. Jó diante de um paradoxo. O capítulo 21 traz a resposta de Jó ao argumento de Zofar. Para o patriarca a tese de Zofar de que os ímpios são sempre punidos era contraditada pela experiência. Os ímpios poderiam sim ser punidos, mas isso nem sempre parecia acontecer, conforme descrito: “Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?” (Jó 21.7). Jó havia constatado que os ímpios pareciam gozar de longevidade e prosperidade (16 21.8). Além de terem vida longa, eles passavam seus dias em total regalia e morriam em total felicidade, como podemos constatar neste versículo: “Passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura” (Jó 21.13-ARA)
- A réplica de Jó ao último discurso de Zofar, concluindo o segundo ciclo de discursos, refutou o simplista conjunto de leis pelas quais os zombadores viviam. Jó demonstrou que o ímpio prospera, e uma vez que esse fato é claro, eles argumentaram que o ímpio apenas sofre, por inferência, talvez o justo sofra. Essa afirmação apresentou um sério problema para o caso supostamente aberto e fechado pelos amigos contra Jó. Jó pediu que seus amigos se calassem e ouvissem uma verdade importante e assustadora (vs. 1-6), ou seja, que os perversos prosperam, sim, apesar de negarem a Deus (vs. 14-15), e eles prosperam não por méritos próprios, mas pela atuação de Deus (v. 16). Os amigos de Jó defenderam a tese de que o pecado produz sofrimento e por conseguinte, o sofrimento comprova a presença do pecado. Jó nega ambos os lados da tese. Seu atraente esboço da vida despreocupada dos perversos, assemelha-se ao quadro do justo, pintado anteriormente por Elifaz no capítulo 5.17-27.
3. A verdade vem à tona. A lei da retribuição não se aplica a todas as esferas da existência humana nem explica os caminhos soberanos do Altíssimo pois Deus também “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45).
- Sobre Mateus 5.45, o Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento (CPAD) traz o seguinte esclarecimento: “A marca do verdadeiro filho “do Pai que está no céu” (Mt 5.45) é ter o coração do Pai. Repare na acusação do irmão mais velho na parábola de Lucas do filho pródigo, o motivo de ele recusar amar seu irmão errante (Lc 15-25-31) – Assim também Jesus exige amor incondicional. O perdão amoroso recebido de Deus requer que o perdão amoroso seja dado aos outros (Mt 6.12; 18.21-35). Como prova de que esta é a intenção de Deus, Jesus relata que o Pai envia o sol e a chuva necessários tanto para os justos quanto para os injustos (v. 45)” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. pag. 48). Isso ensina claramente que o amor de Deus se estende até mesmo aos seus inimigos. Esse amor universal de Deus é manifesto em bênçãos que Deus concede a todos de maneira indiscriminada. Os teólogos chamam isso de graça comum. Deve ser diferenciada do amor eterno de Deus pelos seus eleitos (Jr 31.3), mas trata-se, de qualquer maneira, de boa vontade sincera (SI 145.9). E Deus tem um objetivo didático ao fazer que seu sol se levante sobre todos e mande chuva sobre os seus e também sobre os que o rejeitam; estas dádivas da providência comum, em Sua paciência e generosidade, são distribuídas indiferentemente, para os bons e os maus, para os justos e os injustos; para que possamos distinguir o amor do ódio não pelo que está diante de nós, mas pelo que há dentro de nós; não pelo brilho do sol sobre as nossas cabeças, mas pela ascensão do Sol da Justiça em nossos corações.
- Matthew Henry afirma que “as dádivas da generosidade de Deus para os homens maus, que estão em rebelião contra Ele, nos ensinam a fazer o bem àqueles que nos odeiam; especialmente considerando que embora haja em nós uma m ente lasciva, que é inimiga de Deus, ainda assim compartilhamos de sua generosidade. Em sexto lugar, só serão aceitos como filhos de Deus aqueles que procuram se assemelhar a Ele, particularmente em sua bondade” (HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 60).
CONCLUSÃO
Vimos como Jó continua sua defesa contra os argumentos de seus amigos, que insistem em acusá-lo de pecado. Ele está convencido de que é inocente e que não cometeu nada que justifique tamanho sofrimento. Os amigos de Jó, por desconhecerem as razões de seu sofrimento, o acusam de forma impiedosa; e patriarca, por desconhecer a ação de Deus nesse episódio, chega ao limite do desespero e desesperança. Todavia, como das outras vezes, mesmo angustiado e não sabendo como Deus permite tudo isso, Jó não diz palavras blasfematórias contra o seu Criador.
- Zofar diz que todos os maus são punidos, mas Jó apresenta um paradoxo: a experiência mostra que muitos deles são bem sucedidos. “o discurso de Zofar faz com que Jó assuma uma posição positiva em relação aos argumentos dos seus amigos. Ele contradiz esses argumentos com evidência prática. Ele constata que prosperidade e retidão não andavam invariavelmente juntas Também fica evidente pela observação da vida que a maldade nem sempre é castigada” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.64).” Jó pediu que seus amigos se calassem e ouvissem uma verdade importante e assustadora, ou seja, que os perversos prosperam, apesar de negarem a Deus, são alvo das bênçãos de Deus e usufruem de tudo aquilo que Deus tem de bom debaixo do sol. Jó repele as afirmações dos amigos a respeito do julgamento dos pecadores. Para refutar essa perspectiva, Jó sugeriu que seus amigos eram culpados de dizer como Deus deve lidar com as pessoas. Mais uma vez, Jó se referiu às afirmações de seus amigos, Zofar nesse caso, que tentava provar a teoria que “pecado é igual a sofrimento”.
PARA REFLETIR
A respeito de “A Teologia de Zofar: O Justo não Passa por Tribulação?”, responda:
• O que Zofar defende?
R: Zofar defende que o sofrimento de Jó fazia parte de um sábio julgamento divino, pois, para ele, Deus demonstra grande sabedoria em reprimir os maus.
• De quê Jó estava certo?
R: O patriarca estava certo de que havia uma sabedoria do alto, que seus amigos desconheciam por completo, e, quando revelada, ficaria ao seu lado (cf. cap. 28).
• Quais os três passos que Zofar enumera para que Jó supostamente se arrependesse e convertesse?
R: Ele enumera três passos para que isso aconteça: conduta correta (v.13); oração (v.13) e renúncia ao pecado (11.14).
• Que sinais o patriarca Jó dá diante das acusações dos amigos e do silêncio de Deus?
R: Diante das insistentes acusações dos amigos e do silêncio de Deus, Jó dá sinais de desânimo (cap. 12-13).
• O que Jó havia constatado em relação aos ímpios?
R: Jó havia constatado que os ímpios pareciam gozar de longevidade e prosperidade (6 21.8).
4 Tri 20 | Lição 8: A Teologia De Zofar: O Justo não passa por Tribulação? | Pb Francisco Barbosa