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26 de outubro de 2020

4 Tri 20 | Lição 5: O Lamento de Jó | Pb Francisco Barbosa

 

4º TRIMESTRE 2020

ANO 13 | EDIÇÃO Nº 678

 

 

O Lamento de Jó

L I Ç Ã O

05

A Fragilidade Humana e a Soberania Divina

1º NOV 20






LIÇÕES BÍBLICAS CPAD REVISTA ADULTOS   - QUARTO TRIMESTRE DE 2020

 

Texto Áureo

“Porque antes do meu pão vem no meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.” (Jó 3.24)

 

Verdade Prática

O sofrimento pode nos levar a situação de extrema angústia, mas não devemos perder a esperança no agir de Deus

 

Leitura Bíblica em Classe

Jó 3.1-26

 

INTRODUÇÃO

Na lição anterior vimos de perto o drama vivido por Jó. Uma série de calamidades se abateu sobre ele de forma catastrófica. Do estado de riqueza e prosperidade, Jó passou a viver na adversidade; seus amigos foram para consolá-lo, mas ficaram sem palavras ao contemplarem seu debilitado estado de saúde. Entretanto, depois de sete dias, ele rompeu o silêncio com um lamento que veio do fundo da alma. Nesse lamento Jó mirou o dia de seu nascimento e, através de três perguntas, desabafou tudo o que sentia naquele momento: Por que nasci? Por que não nasci morto? Por que ainda continuo vivendo? Nesta lição veremos a reação humana diante do sofrimento. Perceberemos que não há qualquer indício de que Satanás tivesse alcançado êxito diante de Jó. Na perspectiva do patriarca, se Deus era a causa de sua vida, deveria também ser a causa de sua morte, pois se dEle vinha o bem, também deveria vir o mal.

- Na Bíblia, há gente de Deus colocando para fora algumas coisas bem amargas, por exemplo, Jeremias em Jr 20.14-18. O Texto Áureo nos apresenta uma situação que destruía qualquer apetite que Jó pudesse ter tido. O pior medo que alguém poderia sentir estava prestes a acontecer na vida de Jó, e ele está sentindo uma grande ansiedade, o que aumentava ainda mais o medo. “Por causa de seus supremos sofrimentos, Jó caiu no abismo de uma quase total desesperança. Ele proferiu uma maldição, mas não contra Deus, conforme Satanás disse que ele faria (ver Jó 1.11 e 2.5). Ele desejou jamais ter nascido (vss. 2-10 deste capitulo) ou, então, que tivesse morrido por ocasião de seu nascimento (vss. 11-19). Visto que essas bênçãos não lhe tinham sido conferidas, ele desejava morrer em breve (vss. 20-26). Mas ele falou com sua voz miserável sem chegar a ponto nenhum. Ele ignorou tanto Deus como o ser humano, ao proferir o seu “ai”. Em consonância com o costume e a prática dos semitas, Jó não pensou em suicidar-se, embora o suicídio não fosse desconhecido entre eles(CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1872). Vamos pensar maduramente a nossa fé?

 

I – PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NASCI? (3.1-10)

1. “Por que nasci?”. A dor de Jó era profunda e somente a poesia podia expressar toda a carga emocional vivida por ele. Nesse poema, os dez primeiros versículos do capítulo três são a respeito do primeiro questionamento de Jó: Por que nasci? Esse questionamento sai do íntimo de Jó, assim como ocorre com a alma do salmista (130.1). Da mesma forma, o profeta Jeremias expôs os sentimentos diante de seus conflitos (Jr20.14-18). Nesse sentido, o patriarca não está sozinho em lamentar diante da dor

- Toda a seção de Jó 3.1 a 42.6 é poética — um poema dramático com discursos que tentam compreender o sofrimento de Jó. Ele inicia seu primeiro discurso amaldiçoando o dia em que havia nascido, que deveria ter sido um dia de grande alegria, e enaltecendo o dia em que finalmente chegaria a morte. Poeticamente Jó mostra o seu desejo naquele momento de dor de jamais ter nascido. Entenda que Jó estava em profunda dor e desespero, assim mesmo como registrado no texto áureo. O que Deus estava permitindo que passasse era desesperador, mas ele não amaldiçoou o Senhor, antes, amaldiçoou seu nascimento! Em sua mente, as alegrias que havia tido na vida não compensavam toda aquela dor. Ele achava que seria melhor jamais ter vivido do que estar sofrendo daquela maneira: melhor nunca ter tido riquezas para depois perdê-las; melhor nunca ter tido filhos do que vê-los mortos. Queria que seu dia de nascimento jamais fosse lembrado e que fosse apagado do calendário. Sobre esse questionamento de Jó, O Pr Antônio Neves de Mesquita escreve: “Para que ter de enfrentar a luta contra o destino que o aguarda? A sua tragédia é infinita, o seu sofrimento físico e moral não tem limites. Portanto, para que viver? Nem mesmo a vida de outrora, cheia de cuidados com a religião dos filhos, por quem oferecia sacrifícios, na suposição de terem pecado contra Deus, em seus excessos de comida e bebida, seria a coisa mais desejável; muito menos a de agora, quando sem filhos, sem a mulher, que o repudiara, sem amigos, sozinho com as suas chagas, os seus pesadelos são um espectro para o mundo que o conhecia.(Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).

 

2. Que em lugar da memória viesse o esquecimento Neste momento de dor, Jó não amaldiçoou a Deus, como Satanás previra; em vez disso, amaldiçoou o dia de seu nascimento. No lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do grande sofrimento e decepção. Para o homem de Uz, esse dia teria de ser apagado da memória. Não é assim que muitas vezes nos sentimos? Um dia em que tudo foi mal e temos desejo de nunca mais lembrá-lo

- O Pr Claudionor de Andrade escreve em sua obra ‘Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito’ (CPAD): “Na noite em que Jó nasceu, houve não somente luz, como música: “Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela!” (Jó 3.7). Entretanto, almeja agora não somente apagar aquela luz que lhe iluminou o nascedouro, como sufocar a melodia que lhe embalou os primeiros instantes na terra. Sofocleto chegou a considerar o seu aniversário como aquele pesado tributo a que era obrigado a pagar para continuar existindo. Em contrapartida, Moisés, diante da brevidade da vida humana; ante os sofrimentos que nos cercam; defronte de todos os enfados e canseiras que nos rodeiam; e já em frente ao inexorável da existência, uma só coisa pediu ao Senhor: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (SI 90.12). Que estou eu sugerindo? Não era sábio o coração de Jó? Então, por que amaldiçoa o dia de seu natalício? Seria razoável todo aquele amargor? Responderia ele que sim, como Jonas o fez diante da aboboreira ressequida (Jn 4.9). N o auge do crisol, todas as coisas nos parecem razoáveis e lógicas. Mas, passada a tormenta, percebemos quão ilógicos nos portamos (Jó 42.3). E em nossa ilogicidade que mostra Deus toda a beleza de sua razão(ANDRADE. Claudionor Corrêa de. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 124-126).

 

3. Que em vez da ordem viesse o caos. Mencionamos o desejo de Jó para que o dia de seu nascimento não tivesse entrado no calendário e, que dessa forma, tanto esse dia como essa noite jamais tivessem existido. No lugar da luz que raiou por ocasião do nascimento dele, e que revelou todo seu sofrimento, o patriarca desejou que as trevas dominassem (vv. 4-7). E por que? Porque em vez da paz veio a dor; em vez da ordem, o caos. Desse dor; em vez da ordem, o caos. Desse raciocínio, Jó menciona a imagem do Leviatã. Este famoso e assombroso animal marinho simboliza o caos. O homem de Uz recorre a essa imagem para ilustrar o momento tenebroso que estava vivendo. A lógica é simples: Se Deus não tivesse feito aquele dia, ele não teria sido concebido e, portanto, não passaria por tudo isso. Nesse sentido, o Novo Testamento revela como nosso Senhor é misericordioso e nos trata com amor e ternura nos momentos de tribulação e angústia, pois aos pés da cruz é o melhor lugar para derramar a nossa alma (cf. Jo 11.32,33)

- Russell Norman Champlin em seu ‘Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo’ (Hagnos), escreve: “Ainda personificando a Noite, Jó esperava que, de alguma maneira, a noite de sua concepção ficasse estéril (literalmente, no hebraico, ficasse “pedregosa’). A concepção de um filho costuma levar a um nascimento jubiloso. Jó preferiria a esterilidade, para que não houvesse um dia que seria de profunda tristeza, em vez de alegria. “Jó imprecou males sobre o dia em que ele nasceu, e agora (vs. 7) sobre a noite em que ele fora concebido” (John Gill, in loc.). Ele queria que a noite em que fora concebido se tomasse tão estéril como a pederneira. Cf. Isa. 49.21. “Os orientais, emocionais como são, gritavam quando um menino nascia. Mas Jó disse: ‘dela sejam banidos os sons de júbilo’, ou seja, naquela noite na qual uma concepção prometeu que nasceria um filho”. Viver é sofrer, e há grande futilidade em toda a vida. A bondade é quando não há fagulha de vida para começar uma existência humana. O pessimismo era a teologia de Jó, no momento(CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1874).

- O livro de Jó nos ajuda a corrigir algumas noções erradas, que às vezes assumimos como certas. A primeira delas, contestada desde o primeiro capítulo de Jó é: o crente não sofre. Parte substancial do livro de Jó trata exatamente do sofrimento de um crente.

 

II – SEGUNDO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NÃO NASCIMORTO? (3.11-19)

1. Descansando em paz. Os intérpretes observam que o discurso de Jó a partir do versículo onze muda de amaldiçoar para reclamar. A partir desse versículo, Jó passa reclamar por não ter nascido morto. Para ele nascer morto teria sido melhor do que existir naquelas condições (v.11-13). Era a melhor maneira de não passar por toda aquela tribulação. Essas palavras de Jó revelam uma coisa: Ele queria descanso de todo o seu sofrimento. O que Jó pedia era uma possibilidade real, pois muitos fetos nascem mortos (vv. 16). Para ele a morte era uma forma de descansar em paz (vv. 13-15)

- Jó abandona o tema de jamais ter nascido e começa a falar do desejo de ter sido um natimorto; a seguir, passa para o desejo de que a "luz" na vida fosse extinta pela morte. É importante frisar aqui que, não há nenhum indício de que ele desejasse cometer suicídio, pois não havia nada para detê-lo. Jó ainda confiava na soberana mão de Deus para a questão de sua morte, mas considerou muitas maneiras pelas quais a morte seria uma melhora considerável para aquela situação por causa da dor que sentia. É interessante notar o estado da alma de Jó. Ele este abatidíssimo! A morte parece ser melhor do que a vida (v. 13-19).

- Mais uma vez vejamos o que escreve o Pr Anônio Neves de Mesquita em sua obra ‘Jó Uma interpretação do sofrimento humano’ (JUERP): “Por que não morri na madre ou ao nascer? (v. 11). Tudo que há de mais carinhoso, como um regaço que recebe um novo ser, está para sempre amaldiçoado; por que houve um regaço que me acolhesse? (v. 12). Tudo que há na vida de mais contentamento, que é a chegada de um novo ser para alegrar um lar e aumentar uma família, está agora denegrido. Para Jó, tal coisa é um símbolo de dor, de aflição, pois a morte é o seu maior desejo, porquanto assim estaria tranqüilo e sossegado. Sim, isso é o mais desejável para este sofredor; todavia, quanto mais a quer, mais ela foge dele. E por que os seios, para que eu mamasse (v. 12). Não há quadro mais expressivo do que o de uma boa mãe acalentando ao seio o seu rebento. É a coisa mais linda e mais sugestiva, porque dá a idéia de uma nova vida em flor. Para Jó, porém, tudo isso é abominável, é símbolo de desgraça. O seu sofrimento engolfa tudo que há de mais lindo e de mais especioso na vida. Se houvesse morrido ao nascer estaria em paz, descansaria com os grandes da terra, que dormem no pó, conselheiros que edificaram para si mausoléus, príncipes que nadavam em ouro (vv. 14,15). (Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).

 

2. Livre de tribulações. O dilema de Jó aumenta à medida que o seu sofrimento ganha intensidade. Ele continua com seu argumento da “não-existência” (vv. 16-19). Ele está convencido de que se não tivesse se tornado um “ser”, nada disso estaria acontecendo. Ele desejava ter sido como um “natimorto”, um feto que nunca viu a luz (v.16). A palavra hebraica nephel, usada no versículo 16 como “natimorto”, possui o sentido de “um aborto espontâneo” e é traduzido dessa forma em Eclesiastes 6.3 e Salmo 58.8. Aqui em nenhum momento Jó faz uma apologia ao aborto, mas usa-o no sentido metafórico de “descanso do sofrimento”. No lugar de ter sido abortado, ele nasceu e foi lançado no mundo da tribulação. O raciocínio é claro: Para os que morreram cessara, mas angústias e tribulações da vida presente.

- “Jó, em seu primeiro discurso no capítulo três, mostra que não é mais o homem benigno e paciente da prosa. Ele é um ser mortal de quem a existência terrestre é tão dolorosa que a morte não lhe causa temor.(TERRIEN, Samuel. Coleção grande comentário bíblico: Jó. Trad. Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1994, p. 80). A morte é comparada a um “repouso” e a uma “libertação” (versículos 13, 17, 19), um evento que alinha ricos e pobres, feitores e escravos (versículos 14-15, 18). Jó não sabia a razão de seu sofrimento, muito menos do que se passara nas regiões celestiais, sobre a acusação de Satanás e assim não compreendeu que Deus estava provando que seu amor era verdadeiro. Tanto Jó quantos seus amigos, apenas sabiam que Deus é Justo, e por essa razão lhes era incompreensível como uma pessoa inocente poderia sofrer. Eles pensavam que o sofrimento era sempre um castigo pelos pecados (Jó 4.7-9).

- “Jó está pensando no Sheol, onde grandes e pequenos, bons e maus dormem o sono eterno da vida. Supõe que lá haja descanso. É uma espécie de Nirvana budista, onde não há consciência nem sensação alguma. Uma aniquilação de tudo que foi e que poderia ser. Jó conjetura o que seja a morte, para onde vão grandes e pequenos, ricos e pobres, juntando-se todos num mesmo lugar. Lá, pensava ele, haveria paz. Entretanto, quanto mais pensa na morte, tanto mais ela foge dele. Parece que se sente até relativamente feliz, em estar junto com os grandes da terra, mas em paz, onde as paixões da vida não existem, as competições acabaram e os ruídos cessaram. Tudo é silêncio e sossego. O feitor lá não existe, nem o verdugo; o escravo está livre do seu senhor, e a tarefa da senzala já terminou. O Sheol é um mundo negativo, mesmo na teologia judaica, onde todos aguardam o dia da sua recompensa. É um mundo parado. O silêncio é eterno, a monotonia é completa. É a negação da vida ativa, da luta pelo melhor. Para Jó, no entanto, era isso que convinha, que o convidava, que o seduzia. Fugir da vida, desta vida de dores, de sofrimentos, de injustiças, eis a sua suprema aspiração. Entretanto a morte estava muito longe; agarrados a ele estavam só as suas feridas, os seus tumores, os pesadelos e sobressaltos. Este era o seu viver presente e era-lhe abominável. A morte, sim, era doce, suave, embora longe; isso o devorava, pois não cândida e acalentadora, e tinha ideia do fim da sua situação, se demoraria ou se seria em breve; e, uma vida assim é, sem dúvida, mil vezes mais insuportável do que a pior das mortes. Ai estaria toda a solução da vida de Jó. Não havia outra alternativa(Mesquita. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).

 

3. Uma realidade para o cristão. O Novo Testamento nos ensina que enquanto estivermos neste mundo estaremos sujeitos à dor, ao luto, ao sofrimento (Fp 4 .11,12). Mas, ao mesmo tempo, temos uma promessa consoladora de Jesus (Jo 16.33, cf. Fp 4.13).

- As passagens de Fp 4.11,12 citadas, refletem um Paulo maduro, experimentado e treinado a enfrentar as situações que a vida lhe oferecesse, quer em abundância e alegria, quer em pobreza. Ele emprega no versículo 11 para alegria, o termo grego que significa "ser autossuficiente" ou "estar satisfeito". É a mesma palavra traduzida por "suficiência" em 2Co 9.8, e nos indica independência de qualquer necessidade de ajuda, e isto “em toda e qualquer situação”, sua alegria e contentamento em Deus não dependia de circunstâncias. Paulo sabia como passar com recursos modestos, bem como viver em prosperidade, de fartura como de fome. Ele sabia como estar contente tanto quando tinha muito para comer quanto quando era privado do suficiente para comer. Não podemos esperar esse grau de maturidade de todos os crentes, mas certamente, este é o nosso alvo! O dia no qual poderemos bradar: “Tudo posso!”. O dia no qual compreenderemos que nossa força para suportar "todas as coisas" (vs. 11-12), incluindo a dificuldade e a prosperidade no mundo material, está “naquele que me fortalece”. Esta é a oportunidade para entendermos que, porque os cristãos estão em Cristo (Gl 2.20), ele instila neles a sua força, a fim de sustentá-los até que recebam alguma provisão (Ef 3.16-20; 2Co 12.10).

- “Em uma nota final de encorajamento, Jesus prometeu aos discípulos paz por meio da união com Ele – pois Ele venceu o mundo ao ressuscitar dos mortos. O mundo, o sistema de Satanás que é contrário a Deus, irá causar aos crentes muitas aflições. Mas Jesus derrotou o sistema de Satanás, obteve a vitória e venceu o mundo. Antes da sua própria aflição, Jesus já podia falar de uma missão cumprida. Isto acrescenta impacto à sua vitória sobre Satanás, uma vez que Ele não só a obteve, mas também a predisse! Os discípulos poderiam alegrar-se continuamente com a vitória porque estavam no time vencedor. Jesus resumiu tudo o que lhes tinha dito esta noite, unindo temas de 14.27-29,16.1-4e 16.9-11. Com estas palavras Ele disse aos discípulos que tivessem coragem. Apesar das lutas inevitáveis que teriam, eles não estariam sós. Assim como o Pai de Jesus não o deixou sozinho, Jesus também não nos abandona nas nossas lutas. Se nos lembrarmos de que a vitória definitiva já foi obtida, podemos reivindicar a paz de Cristo nos tempos mais conturbados. Jesus quer que tenhamos paz(Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 585).

 

III – TERCEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE CONTINUO VIVO? (3.20-26)

1. Vale a pena viver? Nessa terceira seção do capítulo três Jó faz uma quarta pergunta (3.20): “Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?”. As outras perguntas estão em 3.1; 3.12; 3.16. A palavra hebraica amel, traduzida aqui como “miserável”, é usada no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas funções. Em outras palavras, para Jó a vida havia se tornado intolerável.

- Mais uma vez, é importante lembrar que não há nenhum indício de que ele desejasse tirar a própria vida, pois não havia nada para detê-lo: Jó estava em profunda dor e desespero,  quisesse cometer suicídio, o que o impediria? Muito menos há aqui uma defesa a esse procedimento como solução final à dor e sofrimento. Jó ainda confiava na soberana mão de Deus para a questão de sua morte, mas considerou muitas maneiras pelas quais a morte seria uma melhora considerável para aquela situação por causa da dor que sentia. O Pr Antônio Neves de Mesquita escreve: “A morte, para o cristão, é um fato natural e até a mensageira de Deus, que bem-vindo, quando encarada como vem buscar o servo cansado das agruras desta vida. Foi assim para São Francisco de Assis, que a chamava de “morte, doce, morte”. Para Jó seria a fuga do desespero; a luz, que a morte era para ele o fim tenebroso de tudo. lega aos servos de Deus, Então a sua queixa: Por que se concede luz ao Miserável e vida aos amargurados de coração (vv. 20,21). A luz, bênção mui desejável aqui e além, era para Jó o sofredor, o contrário. As trevas lhe eram supremo desejo. Os que esperam a morte, e ela não vem, são infelizes, pois a vida não interessa aos desesperados. Esta linguagem não implicava numa acusação a Deus porquanto, Jó manteve integralmente a sua devoção ao Criador; está, fala no vazio. Cremos que, no íntimo de sua alma, restava a esperança em Deus, e isso mostrou noutros discursos, se bem que aqui coloque frente a frente a sua situação de indescritível desespero. É assim que se deve entender a linguagem um tanto arrogante de Jó. Uma queixa, quando muito, pois Deus foi quem lhe mandou esta prova. Um homem como Jó cava pela morte mais do que por tesouros escondidos. Seu sonho predileto: morrer, descansar. Um túmulo era a coisa mais desejável; isso que horroriza a tantos era mina para ele (v. 21)(Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).

 

2. Sem o favor de Deus? Jó novamente volta a indagar: “Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?” (Jó 3.23). A pergunta busca o significado do sentido de todo aquele processo. Ela busca compreender o porquê de Deus permitir o sofrimento. Aqui há um paralelo com Provérbios 4.18, onde é dito que “o caminho do justo é como a luz da aurora que brilha mais e mais até ser dia perfeito”. Na literatura sapiencial, a palavra hebraica traduzida como “caminho” é derek e se refere ao caminho da sabedoria de Deus, que conduz a vida. Para o patriarca esse fato havia se tornado um paradoxo, pois ele não sabia por que Deus escolheu para ele o caminho do sofrimento

- No capítulo 1.10, Satanás falou de uma cerca de proteção e bênçãos, enquanto Jó em 3.23, falou dessa cerca como a prisão de um morto-vivo! Isso porque em vez de pão, lhe sobrevinha “gemidos... lamentos”, uma situação que destruía qualquer apetite que ele pudesse ter tido. O sofrimento faz perder a noção das coisas e leva o sofredor a inverter os valores da vida! Então, caso enfrentemos desfortúnios, e nos sobrevenha tamanha dor como esta de Jó, a ponto de questionarmos ao Senhor assim mesmo como Jó, não se desespere, é perfeitamente compreensível... Deus vai ao cabo dos dias determinados para a aflição esclarecer os seus propósitos.

- A morte, para uns, é o fim de tudo; para Jó era o começo, era o descanso. Como escreve o Pr Antônio Neves de Mesquita: “Só os loucos preferem morrer, a viver. É o último ato que um pobre mortal pode praticar a morte. Acredita-se que os suicidas são criaturas que perderam a esperança da vida. A morte para os tais é uma felicidade, porque termina tudo, pensam. Esta era a situação de Jó. Por que se concede luz àquele cujo caminho é escuro, oculto, àquele a quem Deus (Elohim) cercou por todos os lados? (v. 23). Para os tais, parece, não havendo salda para a vida, a morte é mesmo o melhor. Neste ponto Jó estaria com a razão. Essa filosofia é discutível numa pessoa que ainda conserva o senso das coisas, ainda não enlouqueceu; todavia, a dor também enlouquece. Só o amor a Deus e a segurança da Sua presença podem dar, ao aflito, o consolo e a coragem para desejar viver. Temos visto pessoas sofrendo fisicamente as maiores agonias, mas lucidamente louvando a Deus; no entanto, há sofrimento moral que perturba tanto os sentidos, que oblitera a razão, e tudo se altera em tal pessoa (compare o verso 23 com o Sal. 118:5). Por que, em vez do meu pão, me vêm gemidos (v. 24)(Mesquita. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).

 

3. Um caminho de sabedoria e maturidade. Muitas vezes sentimo-nos iguais a Jó, desorientados, passando por uma via dolorosa do sofrimento. E como ele, não imaginamos nem compreendemos que Deus está agindo. É preciso, porém, olhar para o alto onde Cristo vive (Cl 3.1-4). Nele, podemos manter o equilíbrio e confiança durante a tormenta e, assim, trilhar um caminho de sabedoria e maturidade no sofrimento

- Para encerrar este comentário, gostaria de sugerir um caminho diferente do que vem sendo proposto ao longo dos tópicos e subtópicos desta lição, um caminho exposto de maneira sutil. O caminho a seguir não é o de apenas olhar para o alto, mas sim, o de compreendermos quem nós somos em Cristo, e qual é a nossa posição em NEle! Esta é a maneira concreta que nos é disponibilizada pelo Evangelho, veja: uma vez que fomos ressuscitados (ou correussuscitados) com Cristo, e por causa da nossa união com Ele, nós participamos, espiritualmente, da sua morte e ressurreição no momento em que nascemos de novo; fomos vivificados, e agora estamos vivos nele de modo a podermos compreender as verdades espirituais, a realidade, as bênçãos e a vontade de Deus para o nosso viver “...vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus...” (Gl 2.20). As bênçãos gloriosas são os privilégios e as riquezas do reino celestial, todas as quais estão à nossa disposição. São elas que Paulo chamou de "coisas lá do alto". A posição de honra e majestade desfrutada por Cristo como o Filho exaltado de Deus, torna-o a fonte de bênçãos para o seu povo. Assim, a ordem paulina para nós é cristalina: Pensai (Cl 3.2), isto é, disponha a sua mente na direção das coisas do céu, com a compreensão de que, se Cristo ressuscitou e foi entronizado na glória, nós com Ele também ressuscitamos e já estamos entronizados com Ele! Os pensamentos celestiais podem vir somente pelo entendimento das realidades celestiais que se encontram na Escritura (consulte agora mesmo e reflita Rm 8.5; 12.2; Fp 1.23; 4.8; 1Jo 2.15-17). A cruz marcou nossa morte com Cristo, quando os cristãos foram unidos com ele, o castigo pelo pecado deles foi pago e eles ressuscitaram com ele para uma nova vida oculta juntamente com Cristo, em Deus. Essa significativa expressão tem um sentido triplo:

a) os cristãos têm uma vida espiritual comum com o Pai e com o Filho! (1Co 6.17; 2Pe 1.4);

b) o mundo não pode compreender a grande importância da nova vida do cristão (1Co 2.14; 1Jo.3.2); e

c) os cristãos estão eternamente seguros e protegidos de todos os inimigos espirituais, bem como têm acesso a todas as bênçãos de Deus (Jo 10.28; Rm 8.31-39; Hb 7.25; 1Pe 1.4).

-É por causa destas três expressões, e somente por causa delas, que “podemos manter o equilíbrio e confiança durante a tormenta e, assim, trilhar um caminho de sabedoria e maturidade no sofrimento”. Com os olhos fitos naquele que, de fato, nos justifica!

 

 

CONCLUSÃO

Nesta lição vimos o dilema de Jó. Desconhecendo a razão das adversidades que se abateram sobre ele, o patriarca não negou a Deus nem o amaldiçoou. Todavia, ele expôs toda a sua humanidade, de forma que o leitor que apenas o contempla sem, contudo, participar de seu drama, tem dificuldade de entender seu lamento, principalmente, quando ele se dirige a Deus. E o lamento de um corpo ferido e de uma alma, que mesmo amando a Deus, se derrama angustiada

- De fato, é difícil apontar qual razão do sofrimento e drama enfrentado por Jó. Por que o justo sofre? Para responder essa questão, precisamos tomar a palavra “justo” e entendê-la a partir de dois pontos de vista: humano e divino. Do ponto de vista humano, a pessoa de Jó é da maior integridade. Como pode, então, alguém tão íntegro sofrer? Do ponto de vista divino, não há justo, nem um sequer. Jó é reconhecido por Deus como reto e íntegro. Mas será que por alguém ser reto e íntegro significa que esse alguém é justo? Pela Escritura, não. O propósito de Deus no livro parece ter sido, então, o de desnudar a Jó de sua auto-justificação e conduzi-lo a uma completa confiança naquele que, de fato, justifica. Assim pode-se aprender que Deus é digno de todo louvor mesmo que ele não derrame bênçãos e ainda que ele pode usar o sofrimento como um meio de fortalecer ou enfraquecer alguém. De qualquer forma, Deus sabe o que é melhor para nós, para a sua própria glória.

- A grande conclusão a que chegamos é que “mesmo caminhando com Deus, o sofrimento pode nos fazer lamentar”.

 

 

PARA REFLETIR

A Respeito de “O Lamento de Jó”, responda:

• Os dez primeiros versículos do capítulo três dizem a respeito de que?

R: Os dez primeiros versículos do capítulo três são a respeito do primeiro questionamento de Jó: Por que nasci?

• O que Jó amaldiçoou? E por quê?

R: No lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do grande sofrimento e decepção.

• Qual foi a observação dos intérpretes sobre o discurso de Jó a partir do versículo onze?

R: Os intérpretes observam que o discurso de Jó a partir do versículo onze muda de amaldiçoar para reclamar.

• Em que sentido a palavra “miserável” é usada?

R: É usada no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas funções.

• Qual é o significado da palavra “caminho”?

R: Refere-se ao caminho da sabedoria de Deus que conduz a vida.

 

 

4 Tri 20 | Lição 5: O Lamento de Jó | Pb Francisco Barbosa