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27 de setembro de 2020

4 Tri 20 | Lição 1: O LIVRO DE JÓ | Pb Francisco Barbosa

 4º TRIMESTRE 2020

ANO 12 | EDIÇÃO Nº 674

 

 

O LIVRO DE JÓ

L I Ç Ã O

01

A Fragilidade Humana e a Soberania Divina

4 OUT 20






LIÇÕES BÍBLICAS CPAD REVISTA ADULTOS - QUARTO TRIMESTRE DE 2020

 

Texto Áureo

“Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.” (Tg 5.11)

- Jó é o exemplo clássico de um homem que suportou com paciência o sofrimento e foi abençoado por Deus por sua perseverança na fé. Tiago confortou seus leitores ao dizer que Deus tinha um propósito para o sofrimento deles, assim como ele tinha para o de Jó (Jó 42). Lembrar-se do caráter do Senhor é uma grande fonte de consolo no sofrimento. As Escrituras repetidamente afirmam sua compaixão e misericórdia (Êx 34.6; Nm 14.18: 1Cr 2l.13; 2Cr 30.9; Sl 25.6; 78.38; 86.5,1 5; 103.8,13; 116.5; 136.1; 145.8: Lm 3.22; Jl 2.1.3; Jn 4.2; Mq 7.18; Lc 6.36).

 

Verdade Prática

O livro de Jó não é apenas uma preciosidade da literatura universal, mas, sobretudo, uma poderosa resposta de Deus para as grandes questões da vida.

 

Leitura Bíblica em Classe

2 Timóteo 3.16; Ezequiel 14.14,19,20; Tiago 5.11.

 

INTRODUÇÃO

Neste trimestre estudaremos o Livro de Jó, uma das obras mais fascinantes da Bíblia. Não há em toda Literatura bíblica outra obra semelhante. Diferente na sua estrutura, no estilo e, sobretudo, no conteúdo, o Livro de Jó demonstra a grandeza de Deus diante da finitude humana. É, portanto, uma obra que alimenta a nossa esperança quando tudo mais parece ter perdido o sentido.

- Começando mais um novo e último trimestre deste ano, somos presenteados com o estudo do livro de Jó. Nele temos um texto que propõe um conjunto de discussão para além de Israel e de seu povo. Este livro é sempre atual e pujante, que questiona as doutrinas estabelecidas, colocando em destaque o tema da justiça, do sofrimento e da religião. É com essa ótica que iremos, ao longo destes meses, meditar de forma inspiradora para uma teologia prática que nos leve para além da lógica e dos princípios estabelecidos. Nossos comentários serão apresentados exaltando uma teologia que se desenvolve na prática do sofrimento e ressignificando a dor, sem o peso dos sacrifícios que mantém vivos os esquemas de retribuição em troca do silêncio e da conformação. O Livro de Jó nos ajuda a entender o seguinte: Satanás não pode nos afligir com destruição física e financeira sem a permissão de Deus. Deus tem poder sobre o que Satanás pode e não pode fazer. Isso vai além de nossa capacidade humana de entender o “porquê” por trás de todo o sofrimento no mundo. Os ímpios vão receber o pagamento por suas ações. Nem sempre podemos culpar o nosso sofrimento e pecado em nossos estilos de vida. Sofrimento às vezes pode ser permitido em nossas vidas para purificar, testar, ensinar ou fortalecer a alma. Deus continua a ser suficiente e a merecer e desejar o nosso amor e louvor em todas as circunstâncias da vida. Vamos pensar maduramente a nossa fé?

 

I – AUTORIA, LOCAL E DATA DO LIVRO DE JÓ

1. O autor de Jó. Quem escreveu o Livro de Jó é motivo de longos debates. As opiniões passam por Moisés, Eliú, Salomão, Ezequias, Isaías e, até mesmo, Esdras. Os que não acreditam no mover sobrenatural de Deus sobre os autores bíblicos fazem do livro uma colcha de retalhos. Afirmam ser ele a produção de vários autores e em diferentes épocas. Entretanto, o cristianismo histórico e conservador não tem o livro de Jó como uma ficção religiosa, mas como uma narrativa poética inspirada por Deus e redigida por um único autor. A própria Bíblia não apresenta indicações do autor do livro, mas o fato é que o autor conhecia a forma poética e nela expressou a maior parte do livro.

- O livro não menciona o nome de seu autor; Jó é um candidato improvável porque a mensagem do livro está baseada na sua ignorância quanto ao que havia acontecido no céu e qual a relação desses acontecimentos com suas aflições. Uma tradição talmúdica sugere Moisés como o autor, já que a terra de Uz ficava próxima de Midiã, onde Moisés viveu por 40 anos, e poderia ter obtido um registro da história nesse lugar. Outras pessoas sugerem que Eliú, o jovem que fala antes da resposta de Deus no livro de Jó, foi o escritor. Ainda outros acreditam que Salomão escreveu o livro de Jó, porque era muito sábio e tinha acesso a literatura parecida nesse tempo. Todas essas sugestões são apenas... sugestões. Não há forma de identificar com certeza quem escreveu o livro de Jó. A pessoa que escreveu o livro de Jó não é importante, senão teria se identificado. O mais importante é a mensagem de Jó, que lida com um problema universal: o sofrimento.

 

2. A pessoa histórica de Jó. A Bíblia mesma atesta que Jó foi uma pessoa histórica. O profeta Ezequiel confirma que ele, de fato, foi uma pessoa real, correlacionando-o ao lado de Noé e Daniel (Ez 14.14). Tiago, por exemplo, atesta a realidade histórica do principal personagem do Livro, bem como sua autenticidade textual, quando destaca a perseverança de Jó (Tg 5.11).

- Em Ezequiel 14.14, Deus usa Jó, Daniel e Noé como exemplos de retidão. Essa profecia de Ezequiel foi dada um pouco antes de Nabucodonosor destruir Jerusalém e levar o povo para o exílio na Babilônia. Isso mostra que o livro de Jó já era bem conhecido entre os judeus dessa época. Portanto, o livro de Jó deve ter sido escrito antes do exílio na Babilônia.

- “Se Jó foi uma figura humana literal, conforme cremos, então ele pode ter sido um xeque que vivia perto do deserto da Arábia, nos tempos dos patriarcas do Antigo Testamento (não há qualquer menção à lei mosaica, nesse livro de Jó). É possível que Jó fosse uma personagem histórica, e que um autor posterior, conhecendo a história mediante a tradição oral, a tenha reduzido à forma escrita. Mas, por essa altura, a genealogia e o arcabouço histórico de Jó se tinham perdido, pelo que esses detalhes não foram registrados, ainda que importantes para a mentalidade dos hebreus.(CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4546)

 

3. A terra de Jó. Já no início do seu texto, o Livro de Jó destaca que ele era da “terra de Uz” (Jó 1.1). Como Jó, Uz era uma terra real. Os comentaristas situam Uz ao sul de Edom e a oeste do deserto da Arábia, se estendendo a Leste, indo até a Babilônia (Jr 4.21; 25.20).

- Jó aparece como habitante da terra de Uz (Jó 1.1), era uma cidade murada e com portões (29.7-8), onde ele desfrutava de uma posição de grande respeito. A cidade ficava na terra de Uz, ao norte da Arábia, adjacente a Midiã, onde Moisés viveu por 40 anos (Êx 2.13).

- “A terra de Uz, onde dizia-se que Jó vivia (Jó 1.1). A Bíblia fornece várias observações que nos ajudam a localizar essa terra: era um país (território) localizado próximo aos sabeus e caldeus (Jó 1.1, 1517). Era acessível aos temanitas e naamitas (Jó 2.11). Os buzitas estavam relacionados a ela (Jó 32.2). Os edomitas governaram o lugar em épocas passadas (Jer. 24.20; Lam. 4.21). Ficava próxima a um deserto (Jó 1.19). Teve vários xeques, chefes de tribos, povos semitas (Jer. 25.20, 23). Na terra de Uz ficava a colônia de Edom, que é uma “filha” do local (Lam. 4.21). Além das observações da Bíolia, temos o testemunho de Josefo, que situava o lugar no nordeste da Palestina, dizendo “Uz fundou Traconites e Damasco” (Ant. 1.6.4). As tradições árabes estão de acordo com isso. Talvez o wadi Sirhan moderno, ao sul de Jebel ed Druz, seja situado no antigo território. Essa é uma grande depressão rasa, parecida com uma planície de cerca de 300 km de extensão e com uma média de 30 km de largura. Possui terra pastoril abundante, o que se ajusta a Jó 1.3. Há água suficiente para suportar animais silvestres e domesticados, além de uma população humana razoável, especialmente se os povos envolvidos fossem tribos nômades de números pequenos de indivíduos. Os mapas da Zondervar Pictorial Encyclopedia of the Bible localizam Uz próximo a Damasco, mas o wadi Sirhan, a leste do mar Morto, de forma que contradiz os aspectos das informações dadas acima. A localização a leste do mar Morto parece ser mais lógica.(CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 5416).

 

4. A época de Jó. A maioria dos comentaristas situa os fatos narrados no Livro de Jó dentro do período patriarcal (Abraão, Isaque e Jacó). Dentre outros, alguns fatos contribuem para esse entendimento: O sacerdócio como instituição ainda não existia, visto que Jó era o sacerdote de sua própria casa (Jó 1.5); as filhas de Jó eram coerdeiras juntamente com seus irmãos (Jó 42.15), o que não era permitido pela lei mosaica (Nm 27.8); a palavra hebraica qesitah, traduzida como “uma peça de dinheiro” (Jó 42.11), só aparece em outras duas ocasiões na Bíblia: uma em Gênesis 33.19 e a outra em Josué 24.32.

- A época retrata no livro de Jó parece ser o tempo dos patriarcas. Não há nenhuma referência a reis, nem ao templo, nem à Lei de Moisés. A data da autoria do Livro de Jó seria determinado por quem foi o seu autor. Se Moisés foi o autor, a data seria por volta de 1440 AC. Se Salomão foi o autor, a data seria em torno de 950 AC. Já que não sabemos de certeza quem foi o autor, não podemos saber exatamente quando foi escrito.

- A data de redação do iivro pode ser bem posterior aos acontecimentos que ele relata. Essa conclusão se baseia:

a. na idade de Jó (42.16);

b. ele chegou perto dos 200 anos de idade, o que está de acordo com o período patriarcal (Abraão viveu 175 anos; Gn 25.7);

c. na unidade social, que era a de família patriarcal;

d. no fato de que os caldeus que mataram os servos de Jó (1.17) eram nômades e ainda não haviam se estabelecido em cidades;

e. no fato de que a riqueza de Jó era medida pelos seus rebanhos em vez de pelo ouro e prata (1.3; 42.12);

f. nas funções sacerdotais de Jó dentro de sua família (1.4-5); e

g. no silêncio básico sobre assuntos como a aliança de Abraão, Israel, o êxodo e a lei de Moisés. Os acontecimentos da odisséia de Jó parecem ser patriarcais. Jó, por outro lado, parecia conhecer a história de Adão (31.33) e o dilúvio dos dias de Noé (12.15). Esses detalhes históricos/culturais parecem situar os acontecimentos cronologicamente numa provável época após Babel (Gn 11.1-9), mas anterior a Abraão ou contemporânea dele (Gn 11.27ss.).

 

II – ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ

1. Prosa e poesia. O leitor que deseja ler o Livro de Jó precisa dar-se conta de que diante dele há uma obra de natureza poética. Isso não torna o livro de Jó menos inspirado do que outros da Bíblia, mas revela que ele pertence a um diferente gênero literário. Jó precisa ser lido dessa forma. A estrutura dessa obra demonstra isso. O texto é uma combinação de prosa poesia-prosa (nessa ordem). Ele está literariamente organizado assim: Uma prosa nos primeiros capítulos; uma longa poesia no meio; mais uma prosa no último capítulo. Assim, o prólogo (Jó 1.1-2.13) e o epílogo (Jó 42.7-17) estão em prosa; o texto intermediário em poesia (Jó 3.1-42.6).

- “Quanto ao estilo literário Sellin-Fohrer observam que o livro "nos mostra que seu autor é um mestre da palavra raramente superado, um mestre dotado de poder de criatividade barroca e possuidor de elevada cultura, como nos indicam não só as imagens, numerosas e multiformes, que exprimem os sentimentos mais variados em um só e mesmo discurso, como também as expressões raras, ou que já nem mesmo se usavam."(E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo, Edições Paulinas 1980), vol.II, p. 480).

- “Samuel J. Schultz considera o livro de Jó como sendo “apropriadamente classificado como um drama épico. Apesar de que a porção principal da composição seja de natureza poética e tenha a forma de um debate, o arcabouço é escrito em prosa. Neste último, a narrativa provê a base para a discussão inteira.”(Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1995), p. 265).

- Além da poesia hebraica encontrada nos livros de Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cânticos dos Cânticos o gênero da poesia também aparece no Pentateuco e nos livros proféticos. Na poesia hebraica do Antigo Testamento e usada abundantemente as formas literárias do paralelismo entre as frases. O livro dos provérbios se destaque nesse aspecto, encontramos nele muitos paralelismos. Para conhecer mais sobre literatura sapiencial, visite este link: ipnatal.org.

 

2. Organização. No texto em poesia há a seguinte organização: Um monólogo feito por Jó; três ciclos de diálogos entre Jó e seus amigos (Elifaz, Bildade e Zofá); quatro outros discursos de um quarto amigo jovem, Eliú; seguido pela revelação de Deus onde Ele manifesta o seu poder e graça; e, finalmente, a humilhação de Jó diante da revelação divina e sua restauração completa.

- “Neste livro temos: (1) A história dos sofrimentos de Jó, e sua paciência nessas circunstâncias (caps. 1-2, não sem uma mistura de fragilidade humana, conforme o cap. 3). (2) Uma discussão entre Jó e os seus amigos, sobre eles, na qual: [1] Os oponentes eram Elifaz, Bildade e Zofar. [2] O indagado era Jó. [3] Os moderadores eram: Primeiro, Eliú, caps. 32-37. E, mais adiante, o próprio Deus, caps. 38-41. (3) A conclusão de tudo na honra e na prosperidade de Jó, cap. 42. No todo, aprendemos que muitas são as aflições dos justos, mas que quando o Senhor os livra delas, toda provação da sua fé redundará em louvor, honra, e glória”. (HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 2).

 

3. Abundância de figuras de linguagens. O livro é rico em metáforas. Esse recurso estilístico é usado pelo autor bíblico quando ele quer dar mais expressividade e maior vivacidade ao texto. O autor almeja que seu texto seja “colorido” ao invés de “preto e branco”. Jó, por exemplo, usa a figura do “vai-e-vem” do Tecelão para demonstrar a brevidade da vida (Jó 7.6; cf. “vento” Jó 7.7; “nuvem” 7.9; “sombra 8.9,14.2; “uma corrida”, “uma águia”, “uma flor” 9.25,26, 14.2). No livro também há o recurso estilístico de paralelismos onde os elementos literários repetem-se na mesma ordem.

- “Chamamos de figura de linguagem os recursos expressivos empregados para gerar efeitos nos discursos, ampliando a ideia que se pretende passar e que não seria possível com o uso restrito e literal das palavras. Esses recursos podem dar o efeito de exagero, ausência, similaridade, lirismo ou estranheza, priorizando a alteração da construção das sentenças ou a semântica (o significado) ou a sonoridade (a forma)(mundoeducacao.uol.). As principais Figuras de Linguagem são Metáfora, Símile, Analogia, Metonímia, Perífrase, Sinestesia, Hipérbole, Elipse (ou Zeugma), Silepse, Hipérbato (ou Inversão), Polissíndeto, Antítese, Paradoxo, Gradação (ou Clímax) e Personificação (ou Prosopopeia).

- “Há abundantes figuras de pensamento ou de linguagem de vários tipos na poesia: símile, metáfora, personificação, hipérbole, apóstrofe, etc. Elas são, em primeiro lugar, uma outra forma de expressão. Mas também visam desafiar o leitor na interpretação, conseguida por meio de relacionamentos. Uma figura de linguagem ocorre quando utilizamos uma palavra com um sentido secundário”. (Carneiro. Moisés,. Livros Poéticos, Curso Básico em Teologia. Instituto Belém. pag. 11).

 

 

III – NATUREZA E MENSAGEM DO LIVRO DE JÓ

1. Por que os justos sofrem? Algumas das questões mais importantes levantadas no Livro de Jó são eminentemente de natureza teológica e, também, filosófica. A questão do sofrimento do inocente é a principal delas. Por que sofre o justo? Ou ainda, por que os ímpios prosperam enquanto o justo sofre? Ao longo dos anos, tanto teólogos quanto filósofos têm procurado dar explicações para esse dilema humano. No contexto de Jó, a ideia que prevalece é a de que somente os maus sofrem em consequências de seus pecados. Se havia sofrimento era porque havia culpa do sofredor. Nesse aspecto, ao longo de seus 42 capítulos, o autor procura demonstrar um novo olhar sobre essa questão.

- “Sellin-Fohrer fazem uma preciosa contribuição em perceber que "o poeta de Jó não aborda o problema da Teodicéia, sob a forma do sofrimento merecido do justo, ou sob a forma da justiça de Deus, em contraposição com a experiência humana. Isto estaria em contradição com o pensamento concreto e subjetivo do israelita. Também ele não apresenta pura e simplesmente um acontecimento. Pelo contrário: trata-se aí de um problema vital: o problema da existência humana vivida no sofrimento; trata-se da questão sobre o modo de proceder corretamente dentro dessa existência. Jó vive o comportamento que lhe parece possível e correto. Os amigos querem ensinar-lhe um comportamento que, no seu parecer, é o melhor, e Deus o coloca diante do problema decisivo no que respeita a seu comportamento. (...) A narrativa que enquadra o poema interpreta o sofrimento como provação do homem que deve, por este meio, confirmar a sua piedade que alimentar até então. Os amigos de Jó atribuem a infelicidade às culpas do homem, e o convidam a se desviar do mal, a se voltar humildemente para Deus e a se converter radicalmente. (...) Passando por cima de todas estas opiniões – as ortodoxas e as heréticas -, o poeta de Jó, que faz Deus condenar, inclusive, os amigos de Jó, apesar de sua fé imaculada, e recomendá-los à intercessão daquele Jó que antes parecia tão herético, parte em busca de sua própria solução, a qual atesta a profunda influência da fé profética: a atitude correta do homem no sofrimento é o silêncio humilde, na plena entrega de si mesmo, brotando da paz com Deus, e baseada não somente na intuição de que o sofrimento decorre de uma intervenção misteriosa, impenetrável, mas inteiramente lógica de Deus, mas também na certeza da comunhão com Deus, a qual faz com que tudo o mais seja secundário."(E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, pp. 496-497).

 

2. Existe bondade desinteressada? Para muitas pessoas qualquer prática religiosa não passa de barganha. Essa era também a tese do Diabo. Para ele, Jó só permanecia fiel a Deus porque recebia benefício em troca: Jó era um homem agraciado com muitos bens; com uma família formidável; cercado de muitos amigos; e gozava de boa saúde. Nessas condições, como disse Satanás, todos são devotos. Todavia, vindo o infortúnio, a tragédia e a calamidade, será que esse fervor religioso permaneceria? Satanás estava disposto a apostar que a espiritualidade de Jó não subsistiria a uma prova de fogo. 0 livro mostra como Jó se comportou nessa prova.

- É comum ouvirmos o jargão “Deus tem um plano na vida de cada homem”, e assim, sem compreensão adequada, afirma-se a soberania divina. O propósito teológico do livro de Jó é mostrar a soberania de Deus. Deus usa os piores ataques de Satanás para o cumprimento do seu santo decreto (Jó 42:2). O soberano Deus ilustra através da vida de Jó, que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Para que não haja qualquer dúvida sobre o papel de Deus nessa experiência, foi ele quem iniciou o diálogo com o adversário. Não era o adversário quem estava presidindo. De qualquer maneira, Satanás levantou a questão crucial que poderia muito bem ter sido levantada por qualquer outra pessoa, talvez até pelo próprio Jó: será que Jó serve a Deus por motivos puros ou será que ele só o faz porque é abençoado?

- Esta é uma questão tão atual e comum em nosso meio que, esquecemos de confrontar nossa real intenção em servir ao Senhor. Qual a sua motivação em servir a Deus? A partir do momento em que o homem for capaz de servir a Deus por nada, simplesmente por que Ele é Deus, aí ele encontra o sentido maior da devoção, o centro da espiritualidade, o coração como fonte dos afetos.

 

3. Pode o homem compreender Deus? Os últimos capítulos de Jó mostram os impactos que a revelação divina tem sobre os homens. Como Paulo, que foi verdadeiramente mudado quando contemplou o Senhor numa visão (At 9.1-17), assim também Jó é totalmente transformado quando contempla a majestade do Senhor (Jó 38-42). A questão para Jó não foi tanto o entender Deus, mas experimentá-Lo. Viver e experiência Deus mudou completamente a vida de Jó! Eis uma grande lição deixada por esse precioso livro.

- O Pr Antônio Neves de Mesquita comenta: “O esforço de Satanás para convencer a Deus de que ninguém o serve desinteressadamente. Todos têm, de um modo ou de outro, os seus interesses ligados ao culto a Deus (caps. 1 e 2). Nesse campo de cogitações, Satanás insinua que a religião de Jó é consequência da sua prosperidade; portanto, uma vez privado da mesma, renunciará imediatamente ao culto a Deus. Deus aceitou o desafio e autorizou Satanás a destruir a fortuna de Jó, para verificar que a sua piedade não resultava da riqueza, mas, sim, do amor e reconhecimento do próprio Jó. A seguir vem a outra prova. Se Deus lhe tirasse a saúde, Jó amaldiçoaria a Deus. Satanás tem permissão para destruir a saúde de Jó, porém este continuou firme na sua crença em Deus. Desta prova resultou o drama que constitui o Livro de Jó(Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).

 

 

CONCLUSÃO

Nesta lição apresentamos algumas informações básicas sobre o contexto histórico e literário de Jó. Quanto ao seu gênero o livro é de natureza poética. Isso é importante para a compreensão da própria estrutura como o livro foi organizado. Vimos que o livro apresenta princípios teológicos que transcendem o espaço e o tempo. Esses princípios são para todas as épocas e culturas. O que é demonstrado é que o conhecimento de Deus é o anseio de todo ser humano.

- Pode parecer desnecessário, mas uma lição introdutória como esta é crucial para uma compreensão definitiva do conteúdo do livro estudado. Jó é um daqueles livros chamados de poéticos e de sabedoria e faz parte de todo o contexto da história do povo de Israel, desde os tempos da formação inicial com Abraão e vai até o final dos livros proféticos que formam o Antigo Testamento. Este livro tem encantado muitas gerações de crentes piedosos que o leem buscando conhecer mais sobre a misericórdia de Deus e como nós devemos sempre depender Dele. Jó em sua narrativa nos apresenta um modelo de fé e fidelidade a Deus que nos serve como um farol de esperança, pois o sofrimento é um processo do próprio desdobramento da vida. Vamos aprender ser crentes incansáveis como Jó, pois a sabedoria procedente de Deus, possibilita-nos a conhecê-lo verdadeiramente até mesmo em nossas reclamações e murmurações contra Ele. Bom estudo a todos!

 

 

PARA REFLETIR

A respeito de “O Livro de Jó”, responda:

1 – O que o profeta Ezequiel confirma a respeito de Jó?

O profeta Ezequiel confirma que ele, de fato, foi uma pessoa real, correlacionando-o ao lado de Noé e Daniel (Ez 14.14).

2 – Cite exemplos em que os fatos narrados em Jó remontam ao período patriarcal.

O sacerdócio como instituição ainda não existia, visto que Jó era o sacerdote de sua própria casa (Jó 1.5); as filhas de Jó eram coerdeiras juntamente com seus irmãos (Jó 42.15), o que não era permitido pela lei mosaica (Nm 27.8).

3 – Como o texto de Jó está organizado literariamente?

Ele está literariamente organizado assim: Uma prosa nos primeiros capítulos; uma longa poesia no meio; mais uma prosa no último capítulo.

4 – Por que o livro é rico em Metáforas?

Esse recurso estilístico é usado pelo autor bíblico quando ele quer dar mais expressividade e maior vivacidade ao texto.

5 – Qual é a principal questão apresentada no Livro de Jó?

A questão do sofrimento do inocente é a principal questão levantada no Livro de Jó.

 

 

4 Tri 20 | Lição 1: O LIVRO DE JÓ | Pb Francisco Barbosa