Lição 5: A justificação pela fé
Data: 31 de Janeiro de 2016
TEXTO DO DIA
“[...]
isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os
que creem; porque não há diferença” (Rm 3.22). [Comentário: A justiça de
Deus vem ao pecador pela fé. “Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus,
tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em
Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença” (Rm
3.21,22). “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm
10.4 21). “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele
fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21).]
SÍNTESE
Abraão
foi a figura didática adequada para a explicação paulina da justificação pela
fé, pois foi justificado antes da circuncisão e da lei, sem obras meritórias,
mas somente pela fé.
AGENDA DE LEITURA
SEGUNDA — Rm 3.21 - Somos justificados pela fé
TERÇA — Gl 1.6,9 - Alguns dos gálatas depois de justificados, foram
tentados a retroceder
QUARTA — Rm 4.1-8 - A justificação de Abraão foi um presente de Deus
QUINTA — Rm 4.9-16 - Abraão foi justificado antes
da circuncisão e da lei
SEXTA — Hb 11.18 - Abraão acreditava que Deus poderia ressuscitar
Isaque
SÁBADO — Gn 12.1-9 - A justificação de Abraão foi
um protótipo da fé cristã
OBJETIVOS
Após esta
aula, o aluno deverá estar apto a:
- APRESENTAR a doutrina da justificação pela fé;
- CONSCIENTIZAR da insuficiência da lei para a justificação;
- EXPLICAR porquê Paulo utilizou a figura de Abraão para esclarecer a doutrina da justificação pela fé.
INTERAÇÃO
Chegamos
ao ponto central da Epístola aos Romanos, o momento em que Paulo cuidadosamente
preparou para apresentar a grande novidade, a revelação da verdadeira justiça
de Deus, que se constitui na doutrina da justificação pela fé, já indicada em
Romanos 1.17. Até este momento, Paulo teve o cuidado para demonstrar que o
judeu e o gentio estavam em situação de igualdade, que todos pecaram e
destituídos estavam da glória de Deus. Ele conscientizou seus destinatários da
dependência de uma alternativa para salvação, de outra forma, estariam
condenados. No auge da expectativa, apresenta a solução, a salvação somente é
possível por meio do sacrifício de Cristo, pois os sacrifícios do Antigo
Testamento foram transitórios e somente encobriam os pecados. Qual o preço
então? Paulo afirma que o ser humano precisa apenas ter fé e aceitar o
pagamento de sua dívida por Cristo. Para comprovar aos judeu-cristãos ou
cristãos judaizantes, utiliza o maior argumento deles, a figura de Abraão. Ele
era utilizado pelos judeus como modelo da justificação pelas obras, mas, com
base em Gênesis 15.6, Paulo demonstra que Abraão não foi justificado pelas obras,
mas pela fé, antes da circuncisão e da lei. Com isso, o apresenta como pai de
todo aquele que crê como ele, no Deus do impossível e com poder para
ressuscitar (Hb 11.18). O capítulo 4 é uma obra prima do apóstolo.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Sugerimos
a simulação de um júri. Para isso, você precisará dedicar pelo menos uns 25
minutos de sua aula. Os alunos devem ler a parábola do fariseu e do publicano
que se encontra em Lucas 18.9-14. Divida a turma em dois grupos, um grupo para
defender os argumentos do fariseu e o outro para defender os argumentos do
publicano. Dê uns 5 minutos para os grupos se organizarem e definirem um
representante de cada grupo para defender (advogado) seu personagem escolhido
(fariseu ou publicano) diante do juiz, que será você professor(a). Dê
oportunidade para que cada um argumentar e depois contra-argumentar. No final,
dê o veredito final, conforme registrado em Lucas 18.9-14. Aproveite para
explorar os conceitos da doutrina da justificação pela fé.
TEXTO BÍBLICO
Romanos 3.21-31.
21 — Mas, agora, se manifestou,
sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas,
22 — isto é, a justiça de Deus
pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há
diferença.
23 — Porque todos pecaram e destituídos
estão da glória de Deus,
24 — sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus,
25 — ao qual Deus propôs para
propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão
dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;
26 — para demonstração da sua
justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele
que tem fé em Jesus.
27 — Onde está, logo, a jactância?
É excluída. Por qual lei? Das obras? Não! Mas pela lei da fé.
28 — Concluímos, pois, que o homem
é justificado pela fé, sem as obras da lei.
29 — É, porventura, Deus somente
dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente.
30 — Se Deus é um só, que
justifica, pela fé, a circuncisão e, por meio da fé, a incircuncisão,
31 — anulamos, pois, a lei pela
fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei.
COMENTÁRIO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
Nesta lição, iremos estudar a doutrina da
justificação pela fé, que foi o grande fundamento teológico utilizado por
Lutero na Reforma Protestante. Paulo vai esclarecer o que ele já havia indicado
no primeiro capítulo (Rm 1.17). [Comentário:
É fato que hoje, esta doutrina é desconhecida ou mal-compreendida por
muitos cristãos. Foi a questão central levantada pela Reforma Protestante do
século 16, pelo Reformador Lutero. Assim como o “sola Scriptura” foi denominado
o “princípio formal” da Reforma, porque a Bíblia é a fonte de onde procedem
todas as autênticas doutrinas cristãs, a justificação mediante a fé é o seu
“princípio material”, porque envolve a própria substância ou essência do que se
deve crer para a salvação. No passado, a ausência e a incompreensão desta
doutrina trouxeram muitos prejuízos como a escravidão da consciência, conceitos
errados acerca de Deus e Sua justiça, comprometendo toda a Soteriologia, além
de deturpar o Cristianismo. Isso mostra que ela é uma das colunas do
Cristianismo. Sendo assim, compreender o verdadeiro significado dessa doutrina
é algo indispensável a todo cristão.] Let's
think maturely Christian faith?
I. A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
(Rm 3.21-26)
1. O que
é a doutrina da justificação pela fé? A doutrina da justificação pela fé é o cerne da
teologia paulina, utilizada especialmente quando em confronto direto com o
ensino judaico ou dos judeu-cristãos, que defendiam que o homem encontra a
graça de Deus quando cumpre a vontade divina por meio da lei judaica. Paulo
contra-argumenta que basta ao ser humano ter fé na eficácia do sacrifício de
Cristo na cruz para Deus o declarar justo. Os gálatas são chamados à atenção
por Paulo por desprezar este sacrifício e misturar a justificação com a
santificação, confiando nas obras de justiça (Gl 1.6,9), o que Paulo chama de
“outro evangelho”. Martinho Lutero quando traduziu Romanos 3.28, acrescentou
“somente” para dar ênfase, ficando assim o texto: “[...] pela fé somente”. Do
ponto de vista linguístico, Lutero tinha razão de traduzir assim, pois apesar
de o fato das palavras “somente” e “só” terem sido omitidas, esse é realmente o
sentido do texto. [Comentário:
No Antigo Testamento, embora o termo “justificar”
tenha, às vezes, uma conotação moral ou ética, grande parte de sua ocorrência
deixa evidente o aspecto forense do termo, onde uma pessoa é declarada
judicialmente justa por ter uma vida coerente com as exigências da lei (Ex
23.7; Is 5.23; Dt 25.1; Pv 17.15). O sentido no Novo Testamento do termo
“justificar” é mais amplo, pois se trata de uma pessoa declarada justa ante o
tribunal de Deus, com base na justiça de
Cristo. É importante ressaltar que o homem justificado não se torna justo, mas é
declarado justo, tratando-se de duas afirmações diferentes. Um dos erros da
tradição escolástica, no período pré-reforma, foi interpretar o termo
“justificar” como sendo “tornar justo”. Mas, com a Reforma, Lutero reafirmou o
sentido legal do termo. A justificação é o direito legal de se ter acesso e
comunhão com Deus. Não se trata de uma justiça infundida no homem.]
2. O
aspecto forense da doutrina da justificação pela fé. O termo forense está relacionado
ao sistema e práticas judiciais. Neste caso, tem a ver com o conceito da
declaração judicial divina. Para facilitar o entendimento, vamos ilustrar a
figura do supremo tribunal de Deus. Neste tribunal, toda a humanidade tem uma
dívida impagável. Entretanto, Cristo por meio de sua morte na cruz deposita no
“Banco do Céu” o valor suficiente para saldar a dívida de toda a humanidade.
Desse modo, individualmente, quem reconhece o depósito efetuado por Cristo,
pela fé, requisita a Deus, o Supremo Juiz, a absolvição pelos pecados (dívida)
cometidos, indicando para pagamento o depósito feito por Jesus. O juiz divino,
ciente do depósito realizado, credita na conta do réu (Gn 15.6) e o declara
justo. Assim, aquele(a) que inicialmente estava condenado(a) pela ira de Deus,
com a justificação, passa a ter a sentença divina retirada, reconciliado com
Deus gratuitamente, em Cristo. [Comentário:
A justificação tem como base a justiça de Cristo. Sendo o homem incapaz de
se auto-justificar, Deus o justifica. Surge então a questão: como Deus, sendo
absolutamente justo, pode justificar o homem injusto e pecador? Paulo responde
e deixa claro que Cristo se fez justiça por nós (Rm 3.24-26; 4.5; 1Co 1.30).
Portanto, Deus não é injusto ao justificar o injusto, pois o fundamento é a
justiça de Cristo e Deus considera a justiça dEle pertencente ao homem. Biblicamente,
a justificação é um conceito jurídico ou forense, e tem o significado de
“declarar justo”. É o ato de Deus mediante o qual ele, em sua graça, declara
justo o pecador, isentando-o de qualquer condenação. Infelizmente, a palavra
portuguesa “justificação”, originária do latim, dá a idéia de “tornar justo”,
no sentido de produzir justiça no justificado. Mas o termo grego original dikaiosyne não se refere a uma mudança
intrínseca no indivíduo, e sim a uma declaração feita por Deus. Visto
que não temos justiça própria e somos culpados diante de Deus, ele nos declara
justos com base na expiação de nossos pecados por Cristo e na sua justiça
imputada a nós.]
3. Jesus
e a doutrina da justificação pela fé. A doutrina da justificação pela fé está presente
na mensagem propagada por Jesus, como pode ser constatada em diversas parábolas
e também no seu próprio estilo de vida. Paulo apresenta uma compreensão da
mensagem de Jesus maior do que qualquer outro autor do Novo Testamento. Um
ensinamento tão crucial como a doutrina da justificação não poderia estar
ausente nos ensinamentos do “Mestre dos mestres”, o Senhor Jesus Cristo. Os
conceitos permeavam toda sua pregação do evangelho. Um dos exemplos clássicos é
o relato do encontro de Jesus com o ladrão que estava ao seu lado na cruz. Por
meio de sua fé em Cristo, o ladrão recebeu a promessa de que estaria com Ele no
paraíso (Lc 23.43), sem exigir nenhum sacramento, obra ou ritual para que
alcançasse a justificação. Outro exemplo é a parábola do fariseu e do
samaritano (Lc 18.9-14), que será analisada no tópico seguinte. [Comentário: A justificação
está claramente associada à expiação. Talvez a demonstração mais clara da
conexão entre expiação e justificação seja aquela feita por Paulo em Romanos
4.25. Cristo “…foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou
por causa da nossa justificação”. A justificação pela fé é a doutrina que marca
o rompimento dos reformadores com a Igreja de Roma. A justificação, de acordo
com o ensino de Roma, era pelas obras. Esse ensino escravizava a mente e o
coração das pessoas, que nunca podiam descansar em Deus, tendo a necessidade de
praticar constantemente as obras recomendadas pela igreja.]
Pense!
A doutrina da justificação pela fé
foi o princípio fundamental da Reforma.
Ponto Importante
Apesar de Jesus não falar especificamente ou de forma sistematizada
sobre a doutrina da justificação pela fé, seus conceitos permeiam seus ensinos
e modo de vida.
II. A INSUFICIÊNCIA DA LEI PARA A
JUSTIFICAÇÃO (Rm 3.27-31; Lc 18.9-14)
1. A
justiça do homem é como trapo de imundícia (vv.27-30). Como poderia um pecador, um ser
humano decaído e miserável, sobreviver diante do tribunal de um Deus
absolutamente santo e justo? A justiça inerente do homem é insuficiente para a
justificação, considerada como trapos de imundícia (Is 64.6; Fp 3.8,9), sendo
necessária uma justiça superior que está fora do homem e que lhe seja atribuída.
A essência da justificação é de que o homem é perdoado com justiça, entretanto,
é preciso entender que tal justiça alcançada por Cristo por sua perfeita
obediência e o sacrifício de si mesmo, sendo posteriormente atribuída ao
crente. Essa justificação traz como efeito o perdão, a paz com Deus e a certeza
da salvação. As boas obras não são consideradas como causa, mas como
consequências da justificação. Antes da justificação, Deus é um juiz irado que
mantém a condenação da lei, mas após a justificação inocenta e trata o pecador
como filho. [Comentário:
A morte expiatória de Cristo assegura uma parte de nossa justificação, ou
seja, aquela que diz respeito ao perdão, enquanto sua ressurreição obtém para
nós o outro elemento, o da justiça. Como morte e ressurreição permanecem juntas
como aspectos gêmeos da realização central de Cristo, o mesmo acontece com a
expiação e a justificação. A morte na cruz não foi o final para Jesus. Sua
morte foi o cumprimento de uma importante etapa de sua obra, que teve
continuidade em sua ressurreição, ascensão, sessão à destra do Pai e em sua
obra permanente como Profeta, Sacerdote e Rei. Por sua vez, foi a ressurreição
que deu significado à morte e lançou luz para os discípulos sobre tudo o que
havia ocorrido anteriormente. Foi sua ressurreição que deixou claro para os discípulos
e para todos aqueles que o viram pregado na cruz que ele realmente era quem
dizia ser: o Messias prometido. Além do mais, a própria ideia da ressurreição
exige a morte primeiro, ou isso não é ressurreição. Da mesma forma como morte e
ressurreição são inseparáveis e mutuamente necessárias, assim também a
justificação não pode ocorrer sem a expiação pelos pecados, pois as pessoas não
podem ser consideradas justas se elas estão sob a ira de Deus. Por outro lado,
a expiação também não pode ser entendida sem seu companheiro inseparável, o
recebimento da justiça, que nos capacita não apenas a sermos trazidos a um
estado de inocência, mas nos faz aptos para entrarmos em comunhão com um Deus
justo e santo. Relativo à ‘trapos de
imundícia’, os “atos de justiça” que Isaías tinha em mente eram, muito
provavelmente, os rituais superficiais oferecidos por Israel, desprovidos de
uma fé e de uma obediência sinceras. m Isaías 65.1-7, o Senhor rejeita os
sacrifícios pecaminosos de Israel. Eles são um insulto ao Senhor, fumaça para
seu nariz, assim como a “obediência” ritualista de Isaías 58 não impressionou
ao Senhor porque seu povo continuava oprimindo o pobre. Os “atos de justiça”
eram “trapos imundos” porque não eram nem um pouco justos. Tinham aparência
boa, mas não passavam de farsa, literalmente uma cortina de fumaça para
acobertar a incredulidade e a desobediência deles. Então, não é correto pensar
que todo “ato de justiça” do crente são trapos imundos aos olhos de Deus.
Aliás, no versículo anterior, Isaías 64.5, Isaías declara: “Vens ajudar aqueles
que praticam a justiça com alegria, que se lembram de ti e dos teus caminhos”.
Não é impossível o povo de Deus praticar atos de justiça que agradam a Deus. Sobre
isso, John Piper explica: “Às vezes as pessoas são descuidadas e falam de forma
negligente sobre toda a justiça humana, como se não houvesse nada que agradasse
a Deus. Muitas vezes elas citam Isaías 64.6 que diz que nossa justiça é como
‘trapo de imundícia’. É verdadeiro – gloriosamente verdadeiro – que ninguém do
povo de Deus, antes ou depois da cruz, seria aceito pelo Deus imaculadamente
santo se a justiça perfeita de Cristo não nos fosse imputada (Romanos 5.19; 1
Coríntios 1.30; 2 Coríntios 5.21). Mas isso não quer dizer que Deus não produza
nessas pessoas ‘justificadas’ (antes e depois da cruz) uma justiça experiencial
que não é ‘trapo de imundícia’. Ao contrário, ele o faz; e essa justiça é
preciosa a Deus e é exigida, não como fundamento da justificação (que é a
justiça de Cristo somente) mas como evidência de sermos filhos verdadeiramente
justificados de Deus”. John Piper, Graça Futura (São Paulo, SP: Shedd
Publicações, 2009), pág. 148. Os que geram fruto em cada boa obra e crescem no
conhecimento de Deus são totalmente agradáveis a Deus (Cl 1.10). Apresentar
nosso corpo como sacrifício vivo agrada a Deus (Rm 12.1). Cuidarmos de nosso
irmão mais fraco agrada a Deus (Rm 14.18). Obedecer nossos pais agrada a Deus
(Cl 3.20). Ensinar a Palavra de forma autêntica agrada a Deus (1 Ts 2.4). Orar
por autoridades de governo agrada a Deus (1 Tm 2.1-3). Sustentar familiares em
necessidade agrada a Deus (1 Tm 5.4). Partilhar recursos financeiros com outros
agrada a Deus (Hb 13.16). Agrada a Deus quando guardamos os seus mandamentos (1
João 3.22). Em linhas gerais, sempre que você confia em Deus e o obedece, ele
se agrada disso. Wayne Grudem, “Pleasing God by Our Obedience”,
em For the Fame of God’s Name: Essays in Honor of John Piper, ed. Sam Storms
and Justin Taykir (Wheaton, IL: Crossway, 2010), pág. 277..]
2. A
parábola do fariseu e do publicano (Lc 18.9-14). Os fariseus observavam os mais
rigorosos padrões legalistas com jejuns, orações, esmolas e outros rituais que
excediam as leis cerimoniais mosaicas. Jesus apresenta por meio da parábola
algo que chocou seus ouvintes: colocar um cobrador de impostos, considerado
traidor pelos judeus, em melhor posição, quanto à justificação, do que um
fariseu. A lição de Jesus é clara: O publicano reconhecia que sua dívida era
muito alta e não tinha condições de pagá-la, a única coisa que poderia fazer
era rogar pela misericórdia de Deus. Não recorreu a obras que havia realizado,
nem ofereceu fazer nada, simplesmente rogou que Deus fizesse por ele o que ele
próprio não podia fazer, somente baseado na fé e misericórdia divinas. Por
outro lado, o fariseu demonstrou arrogância, confiando que os jejuns
realizados, dízimos e outras obras consideradas justas, o tornariam aceito por
Deus. Uma cobrança de retribuição. Porém Jesus afirma que dos dois, somente o
publicano foi justificado. [Comentário:
Esta parábola sobre dois grandes pecadores foi contada pelo Senhor Jesus.
Um dos homens sabia que era pecador e o confessou diante de Deus. O outro não
sabia que era pecador e gabava-se de sua justiça. É a história de um homem que
pensava ser bom, mas que foi para o inferno e de outro que sabia ser mau e foi
para o céu. A aplicação desta parábola é clara: Quando consideramos nossa
própria atitude na oração, é ela mais parecida com a do fariseu ou com a do
coletor de impostos? Humilhamo-nos na presença de Deus ou achamo-nos
agradecendo-lhe porque não somos como outras pessoas pecadoras? Humilhamo-nos
ou agradecemo-lhe por nossa força e o fato que não caímos como outros caíram?
Sentimos a necessidade de exclamar, como o fez o coletor de impostos: "Ó
Deus, sê propício a mim, pecador"?]
3. A
justificação pela fé e a santificação (v.31). O apóstolo tem o cuidado para não ser entendido
como um libertino, sem regras e disciplina. A justificação pela fé não
significa que uma vez justificado, o crente pode fazer o que bem entender.
Precisa-se tomar cuidado com algumas afirmações teológicas, como por exemplo, a
que ensina que “uma vez salvo, salvo para sempre”. A justificação, como já
vimos, é imediata, instantânea. No entanto, uma vez justificado, o crente deve
manter sua vida de comunhão com Deus e desenvolver a santificação, que é
progressiva. Alguns críticos da Bíblia afirmam que Paulo contradiz Tiago,
porque este assegura que a fé é comprovada pelas obras. Isto é um equívoco,
pois eles tratam de momentos diferentes da salvação. Paulo fala da justificação,
que é mediante a fé e acontece instantaneamente na conversão (ato estático),
enquanto Tiago fala da santificação que vai sendo desenvolvida após a conversão
(processo contínuo). [Comentário:
É verdade que, depois de serem justificados, os crentes continuam sendo
pecadores, isto é, continuam cometendo pecados (Tg 3.2; 1Jo 1.8). Aliás, a
Escritura nos mostra claramente que os redimidos muitas vezes cometem pecados
bastante graves. O próprio Cristo ensinou os discípulos a orarem diariamente
pelo perdão de pecados (Mt 6.12) e as pessoas piedosas mencionadas na Bíblia
estão sempre pedindo perdão pelos seus pecados (Sl 32.5; 51.1-4; 130.3-4). Na
verdade, na justificação, Deus realmente remove de nós a culpa pelo pecado,
isto é, a sujeição do pecador à punição eterna devida ao pecado (a morte
eterna), mas não a culpabilidade inerente a qualquer pecado que seja praticado.
Essa culpabilidade permanece e sempre produz nos crentes um sentimento de
culpa, de separação de Deus, de tristeza, de arrependimento, de frustração e
assim por diante. Por isso eles sentem necessidade de confessar os seus
pecados, até mesmo os pecados antigos que porventura ainda os incomodem (Sl
25.7; 51.5-9). O crente tem, no íntimo, consciência de seu pecado e essa
consciência o leva a confessá-lo e a buscar em Deus a consoladora segurança do
perdão. A consciência do perdão e de um renovado relacionamento filial com Deus
muitas vezes é perturbada e obscurecida pelo pecado, mas é novamente despertada
e fortalecida pela confissão e pela oração. (...) Os crentes são, antes de
tudo, filhos de Deus por adoção. Isso significa, naturalmente, que eles não são
filhos de Deus por natureza. Nem todos os seres humanos são filhos de Deus.
Somente aqueles que possuem um relacionamento filial com Deus, por meio de
Cristo, são filhos de Deus. Por intermédio dessa adoção, Deus coloca o pecador
no estado de filho e passa a tratá-lo como filho. Em virtude de sua adoção, os
crentes são inseridos na família de Deus, ficam sob a lei da obediência filial
e passam a ter direito a todos os privilégios da filiação. A adoção como filhos
e a filiação moral dos crentes andam de mãos dadas. Por um lado, eles são
adotados por Deus como filhos. Por outro, eles passam a se comportar como
filhos de Deus. Paulo nos mostra esses dois elementos da adoção funcionando
lado a lado: “…Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de
filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de
seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4.4-6). O Espírito de Cristo nos regenera e
nos santifica e nos estimula a nos dirigirmos a Deus cheios de confiança,
vendo-o como nosso Pai. Somos adotados por Deus e tratados como seus filhos.
Por isso, devemos assumir nossa relação filial com Deus e nos comportarmos como
seus filhos. http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/justificacao-o-ponto-de-partida-da-reforma/]
Pense!
Jovem, já pensou em quão grandiosa é a misericórdia de Deus e quão
infinito é seu amor, a ponto de dar seu único filho para morrer e pagar o preço
pela dívida que era sua?
Ponto Importante
Não se pode confundir justificação com
santificação.
III. ABRAÃO COMO EXEMPLO DA JUSTIFICAÇÃO
PELA FÉ (Rm 4.1-25)
1. A
justificação de Abraão não foi por obras meritórias (vv.1-8). Paulo não evita o campo
escolhido pelos seus adversários, mas refreia os judeus que se gloriavam por
serem filhos de Abraão. Ele cita Gênesis 15.6 por fazer parte da Escritura
hebraica, totalmente aceita pelos judeus, para demonstrar que Abraão foi
justificado, pela fé e não por qualquer obra efetuada. Paulo passa a trabalhar
com o significado de “creditar” usado pela primeira vez na epístola para
demonstrar que Abraão foi justificado não porque tinha crédito com Deus, mas
porque a fé demonstrada de que Deus pode justificar o ímpio gratuitamente foi
creditada em sua conta, o suficiente para sua justificação. Para reforçar o
argumento, Paulo utiliza também a figura de Davi, citando o Salmos 32.1,2
Portanto, a justificação vem a nós gratuitamente como um presente. [Comentário: Os judaizantes
do passado pregavam que a justiça provinha das obras (At 15.1; Gl 2.21). apóstolo
Paulo diz pela inspiração que somos salvos pela fé e não pelas obras. (Ef
2.8-10). A salvação pela fé, e não pelas obras, isto é, pela guarda da Lei, não
é uma doutrina peculiar do Novo Testamento; é, também, característica do Antigo
Pacto. Paulo retrocede no tempo, para além de Moisés, e toma Abraão como
exemplo de fé. Abraão tinha fé em Deus, isto é, cultivava um dedicado e leal
relacionamento com seu Deus, cria nas suas promessas (Rm 4.20,21; Gn 12.1-3;
15.5,6) e vivia em obediência ao Senhor (Gn 12.1-4; 22.1-19; Hb 11.8-19; Tg
2.21,22;). A fé de Abraão foi "imputada" por justiça.
"Imputar" significa creditar na conta da pessoa. Isso significa que a
fé salvífica do cristão é tida como equivalente à justiça no tocante ao seu
efeito. A Escritura nos ensina que somos justificados pela fé (Rm 3.28,30) ou
mediante a fé (Rm 5.1; Gl 2.16; Fp 3.9), mostrando, assim, que existe uma
estreita relação entre a justificação e a fé.]
2. A
justificação de Abraão não foi por meio da circuncisão (vv.9-16). Um dos argumentos mais fortes
utilizados pela epístola aos Romanos é da paternidade de Abraão de todos
aqueles que creem, desenvolvido em Romanos 4.9-12. O período em que Abraão foi
declarado justo pela sua fé na palavra de Deus, conforme descrito em Gênesis
15.6, correspondia a uma época bem anterior à sua circuncisão. Se a fé e a
justificação de Abraão ocorrem antes da circuncisão, ele também é pai dos
gentios, que creem independentes de circuncisão. Os versículos 13 a 16 trazem um
novo elemento, a antítese entre a lei e a promessa. Esclarece que a lei mosaica
foi estabelecida depois da promessa e justificação de Abraão pela fé (430 anos
depois). Portanto, não influenciou na justificação. Dessa forma, Abraão foi
justificado antes da circuncisão e do estabelecimento da Lei, por não serem
requisitos necessários para a justificação. [Comentário:
Paulo encerrou o capítulo 3 com a afirmação que a fé confirma e não anula
a lei. Ele continua o seu argumento, citando o exemplo do pai do povo da
aliança, Abraão. Todos os judeus respeitavam profundamente o pai de sua nação.
Mostrando que Abraão foi justificado por fé, e não por obras de lei, Paulo
reforça a sua defesa do evangelho entre os judeus. Abraão recebeu a graça de
Deus pela fé antes de ser circuncidado (veja Gênesis 12, onde recebeu as
promessas, e Gênesis 17, onde recebeu a ordenança da circuncisão 24 anos
depois). A circuncisão por si só não serve para nada diante de Deus. É
necessária a obediência, andando “nas pisadas da fé que teve Abraão...antes de
ser circuncidado” (Rm 4.12).]
Pense!
Abraão demonstrou uma fé ainda maior, pois creu na ressurreição de seu
filho (Hb 11.18), mesmo antes de haver qualquer menção de ressureição na
Bíblia.
Ponto Importante
Se tivesse alguém que pudesse ser justificado por obras, Abraão o seria,
com toda certeza. Mas o apóstolo contrapõe a justificação pelas obras citando o
livro de Gênesis 15.6 que afirma ter sido Abraão justificado pela fé, e não
pelas obras.
CONCLUSÃO
Aprendemos
que a justificação pela fé é uma doutrina bíblica que acertadamente exclui a
necessidade de obras meritórias para a salvação do ser humano, porém não abre
possibilidade para o antinomismo e precede a santificação. [Comentário: Com a Reforma
Protestante no século 16, o resgate da doutrina da justificação pela fé trouxe
nova vida para a igreja de Cristo. A redescoberta desta doutrina provocou a
rejeição da justificação pelas obras. A justificação pela fé continua trazendo
novidade de vida hoje. Sempre que um pecador descobre em Cristo o perdão para
os seus pecados, é adotado como filho de Deus e se torna herdeiro do reino de
Deus.] “NaquEle que me garante:
"Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de
Deus" (Ef 2.8)”,
Francisco Barbosa
Campina Grande-PB
Janeiro de 2016
ESTANTE DO PROFESSOR
GILBERTO,
Antônio. O Fruto do Espírito: A plenitude de Cristo na vida do crente.
1ª Edição. RJ: CPAD, 2004.
HORA DA REVISÃO
1. Conceitue a da doutrina da justificação pela fé.
A
doutrina da justificação pela fé é o cerne da teologia paulina, utilizada
especialmente quando em confronto direto com o ensino judaico ou dos
judeu-cristãos, que defendiam que o homem encontra a graça de Deus quando
cumpre a vontade divina por meio da lei judaica.
2. De acordo com a lição, qual é a situação final da pessoa que está
condenado pela ira de Deus e reconhece o sacrifício vicário de Cristo e
requisita sua justificação ao Supremo Juiz?
Aquele(a)
que inicialmente estava condenado(a) pela ira de Deus, com a justificação é
retirada a sentença divina (declarado justo), reconciliado com Deus
gratuitamente, em Cristo.
3. Cite uma parábola de Jesus que demonstra que a lei e as obras são
insuficientes para a justificação diante de Deus.
A
parábola do fariseu e do samaritano (Lc 18.9-14).
4. Explique qual a diferença entre a justificação e a santificação (Paulo
x Tiago).
A
justificação se dá mediante a fé e acontece instantaneamente na conversão (ato
estático), enquanto a santificação que vai sendo desenvolvida após a conversão
(processo contínuo).
5. Por que Paulo utilizou a figura de Abraão para exemplificar a doutrina
da justificação pela fé?
Porque
o exemplo de Abraão demonstra que ele foi justificado antes da circuncisão e da
lei, e sua fé constitui um protótipo da fé cristã, por crer incondicionalmente
em Deus e no seu poder de ressuscitar.
SUBSÍDIO I
Caro
professor, “Deus
nos ordena que ensinemos os jovens. Os jovens de hoje são os líderes de amanhã.
Eles estabelecem metas, fazem escolhas e vivem a vida levando em conta suas
decisões. O ministério de ensino de jovens deve ser excelente.
Os jovens
encontram-se numa encruzilhada. As pessoas que estão em contato com as crianças
de hoje têm a sensação agourenta de uma crise acelerada e problemática. Algo
deve ser feito. Há uma urgência sobre o ministério da mocidade, e aqueles que a
consideram de baixa prioridade.
Ensinar
os jovens é importante para a nossa igreja, por causa do período em que se encontram
na vida. Decisões cruciais são tomadas à medida que passam para a maioridade.
Nós os ensinamos, não apenas para ampará-los como jovens, mas também para
ajudá-los a se tornar líderes adultos.
Procuramos
formar neles as qualidades e características da maioridade cristã. Nosso mais
profundo desejo é que o andar cristão dos jovens torne-se um estilo de vida, no
conhecimento da Palavra de Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador.
Os jovens
procuram respostas, e, na maioria das vezes, seguem seus líderes” (GANGEL,
Kenneth O; HENDRICKS, Howard, G. Manual de Ensino para o Educador Cristão.
1ª Edição. RJ: CPAD, 1999, p.149).
SUBSÍDIO II
“Por
Jesus Cristo, somos libertos da antiga lei, para andarmos ‘em novidade de vida’
(Rm 6.4; veja também Jr 31.31-34). O que quer isso dizer? Que por estarmos
livres da Lei, podemos viver como bem quisermos? Certamente que não! Significa
que agora o Espírito de Cristo em nós habita e que a nossa nova natureza da
parte de Deus está no controle. Esta nova natureza nada tem a ver com a
satisfação de desejos maus ou egoístas; seu propósito e prazer é obedecer e
agradar a Deus. A nova natureza possibilita ao crente obedecer a Deus e viver
uma vida que agrada ao Senhor. [...]. Quanto mais o crente viver e andar
segundo o Espírito, e tendo a Palavra de Deus como a sua regra de fé e modo de
proceder, ele viverá vitoriosamente neste mundo, vitória esta sobre os
adversários de nossa alma, a saber: o pecado, o mundo, nós mesmos (a carne) e o
Diabo e seus poderes (veja Gl 5.16-18,25; Rm 8.1-16). [...] Resumamos o que
isto significa: 1) A pessoa que é salva pela fé em Jesus Cristo e assim
permanece já não está sob o jugo da lei do Antigo Testamento; 2) A partir de
sua conversão a Cristo, o Espírito Santo passa a habitar no crente e lhe comunica
uma nova natureza espiritual; 3) Enquanto o crente entrega incondicionalmente o
controle de sua vida ao Espírito Santo, ele vive uma vida cristã vitoriosa
sobre o pecado, o mundo, o Diabo e o ‘eu’; 4) O que determina a conduta do
crente doravante é o controle do Espírito sobre sua vida, à medida que ele o
permite. Em Cristo, o crente, como nova criatura espiritual, não está mais sob
o domínio da Lei, nem da velha natureza e suas inclinações” (GILBERTO, Antônio.
O Fruto do Espírito: A plenitude de Cristo na vida do crente. 1ª
Edição. RJ: CPAD, 2004, p.148).