TEXTO ÁUREO
“Mas a nossa cidade está nos céus, donde
também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Fp 3.20).
ENTENDA O TEXTO ÁUREO:
👉 Em Filipenses 3.20,
Paulo afirma que os cristãos possuem uma cidadania celestial real e presente,
da qual procede a esperança ativa pela vinda de Jesus Cristo. O apóstolo
contrasta os inimigos da cruz (vv.18–19), que vivem orientados pela terra, com
os crentes, que vivem sob a jurisdição do Reino dos Céus. Essa identidade
celestial redefine nossa lealdade, esperança e maneira de viver no presente, enquanto
aguardamos o Salvador, o Senhor, Jesus Cristo, que retornará para completar a
redenção. Nosso ἡμῶν (hēmōn) Pertencimento do povo
de Deus; identidade distinta dos “inimigos da cruz”. Pois γὰρ (gar) Introduz a
explicação: a razão do estilo de vida cristão é sua cidadania celestial. Cidadania
τὸ πολίτευμα (políteuma) Status de
pertencimento a um reino; indica que nossa pátria, governo e identidade não são
terrenos, mas celestiais. Nos céus ἐν οὐρανοῖς (en ouranois) Esfera onde Cristo reina; a jurisdição
espiritual à qual já pertencemos. Está / existe ὑπάρχει (hyparchei) Realidade
atual e permanente; nossa cidadania já é verdadeira agora, não apenas futura. De
onde ἐξ οὗ (ex hou) Indica origem;
é dos céus que procede nossa esperança e de onde Cristo voltará. Também
καὶ (kai) Acrescenta a
consequência: não apenas pertencemos ao céu, mas aguardamos algo de lá. Salvador
σωτῆρα (sōtēra) Cristo como
Libertador e Resgatador final; título que contrasta com o culto político ao
imperador. Esperamos ἀπεκδεχόμεθα (apekdechometha) Expectativa intensa e contínua;
esperança ativa e ardente pelo retorno de Cristo. Senhor κύριον (kyrion) Autoridade
suprema e soberana; Cristo é o verdadeiro Rei da nossa pátria celestial. Jesus
Ἰησοῦν (Iēsoun) O nome histórico
do Messias encarnado; enfatiza Sua obra redentora. Cristo Χριστόν (Christon)
O Ungido, o Messias prometido; o Rei que voltará para consumar o Reino.
VERDADE PRÁTICA
Na vinda
de Jesus nosso corpo abatido será transformado em um corpo glorioso, e, como um
ser integral, habitaremos para sempre com Ele no Céu.
ENTENDA AVERDADE PRÁTICA:
👉 Quando o Senhor Jesus
voltar, Ele transformará o nosso corpo de humilhação, tornando-o conforme o Seu
corpo glorificado; e então, renovados integralmente: espírito, alma e corpo,
habitaremos para sempre com Ele, participando da realidade plena do Reino que
já nos pertence nos céus (…e juntamente
com Cristo nos ressuscitou, e com ele nos fez assentar nas regiões celestiais
em Cristo Jesus - Efésios 2.5–6.).
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tito
2.11-14; 1 Pedro 1.13-16
Tito 2
11. Porque a graça de Deus se há manifestado,
trazendo salvação a todos os homens,
👉 A graça é manifestação
da iniciativa divina, revelada na pessoa de Cristo. “A todos” não significa
salvação universal automática, mas oferta universal, disponível a quem crê. A
graça é visível, entrou na história com Cristo. É uma graça que salva e
transforma, não apenas concede perdão. Salvação não é mérito, mas obra
gratuita. A graça “apareceu” como uma luz que irrompe nas trevas. “Manifestou-se”
sugere uma aparição gloriosa, Cristo é a revelação da graça. “A todos”
significa todas as categorias de pessoas, como no contexto anterior (idosos,
jovens, servos). A graça entra no mundo como evento histórico e produz um povo
santo. A graça salvadora é ativa, não meramente doutrinária. Ela opera
libertação real.
12. ensinando-nos que, renunciando à
impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria,
justa e piamente,
👉 A graça educa,
disciplina, corrige. Mostra o que abandonar e o que praticar. “Ensinando” é um
processo contínuo. A graça é mestre e formadora de caráter. A graça não apenas
redime, treina para a santidade, rejeitando “impiedade” e “paixões mundanas”. Vida
cristã exige negação, sobriedade, equilíbrio. A graça opera no presente,
moldando uma vida sóbria (consigo), justa (com o próximo) e piedosa (com Deus).
Termo grego paideuō: disciplina pedagógica. A graça ensina como um tutor.
13. aguardando a bem-aventurada esperança e o
aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo,
👉 Forte ênfase na segunda
vinda como motivação ética. A esperança cristã é bendita porque está enraizada
na fidelidade de Deus. Chama de “bendita esperança” por ser a consumação final
da salvação. A expressão identifica Jesus Cristo como Deus (“nosso grande Deus
e Salvador”). A espera da volta de Cristo molda nossas prioridades. A
manifestação final da glória é tanto do Pai como do Filho, pois Cristo é
verdadeiro Deus. Destaca o caráter glorioso e transformador da Parousia.
14. o qual se deu a si mesmo por nós, para
nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso
de boas obras.
👉 Ênfase no sacrifício
substitutivo e na purificação de um povo zeloso. “Redimir” significa libertar
da escravidão do pecado. Objetivo: formar um povo exclusivo, pertencente a
Deus. Cristo morreu para libertar e purificar, não apenas perdoar. “Zeloso de
boas obras” mostra evidência da salvação. A morte de Cristo produz um povo que
pratica justiça no cotidiano. Redenção inclui preço pago e transformação moral.
Linguagem que remete ao Êxodo, formando um novo povo santo.
1 Pedro 1
13. Portanto, cingindo os lombos do vosso
entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu
na revelação de Jesus Cristo,
👉 A expressão significa
preparação mental para o combate espiritual. “Cingir” é metáfora para
disciplina mental. A esperança é ativa, não passiva. “Preparar a mente” = remover
distrações. Sobriedade é autocontrole espiritual. Viva com foco no futuro, não
nas pressões do presente. A mente deve ser disciplinada como soldado pronto
para marchar. “Completamente esperai” é confiar totalmente na graça futura.
14. como filhos obedientes, não vos
conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância;
👉 Vida de obediência
evidencia nova identidade. A obediência caracteriza a família de Deus. “Não vos
amoldeis”, não deixe que seu padrão de vida seja moldado pela ignorância
anterior. A nova vida exige ruptura com o passado. A obediência é fruto da
regeneração. “Antigas concupiscências” remetem à vida pagã.
15. mas, como é santo aquele que vos chamou,
sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver,
👉 Santidade é obra do
Espírito, mas envolve esforço humano. Deus é santo, portanto Seu povo deve
refletir Seu caráter.Santidade envolve separação do pecado e conformidade com
Cristo. O padrão não é cultural, é o próprio Deus. Santidade não é opcional; é
a vocação do cristão. “Em todo o vosso procedimento” santidade integral.
16. porquanto escrito está: Sede santos,
porque eu sou santo.
👉 Citação direta de
Levítico: chamado à separação e pureza. Mostra a continuidade entre Antigo e
Novo Testamento: Deus sempre quis um povo santo. A santidade de Deus é
absoluta; o cristão é chamado a refletir essa realidade. O caráter de Deus
define o estilo de vida do Seu povo. Santidade como resposta ao Deus santo. A
ordem é imperativa, não sugestiva.
INTRODUÇÃO
Ao longo
deste trimestre fizemos uma jornada de estudos acerca do homem, a obra prima da
Criação. Buscamos conhecer a vontade Deus para o nosso ser como um todo:
espírito, alma e corpo, pois, como enfatiza nossa Declaração de Fé, o homem é
uma unidade na pluralidade e uma pluralidade na unidade. Nesta lição
concluiremos enfatizando o propósito da santificação na perspectiva da Doutrina
Bíblica das Últimas Coisas.
👉 Ao chegarmos ao final
deste trimestre, concluímos uma jornada que nos levou ao coração da revelação
bíblica sobre quem somos diante de Deus: seres
criados de modo admirável, formados por espírito, alma e corpo, chamados para
viver em comunhão eterna com nosso Criador. Não estudamos apenas
antropologia bíblica; examinamos o propósito divino para nossa existência, a
dignidade do ser humano como imagem de Deus e, sobretudo, o chamado para sermos
um povo separado, moldado pela graça e cheio do Espírito. Agora, nesta última
lição, avançamos para o clímax dessa caminhada: a preparação integral do crente
para a Eternidade. A Escritura revela que a santificação é o eixo que atravessa
toda a vida cristã. Ela nasce da graça que nos salvou, se desenvolve pelo poder
do Espírito Santo e culmina na glorificação futura. Enquanto muitos reduzem a
vida espiritual a conquistas terrenas, a Palavra aponta para um horizonte
maior: a bendita esperança da vinda de Cristo (Tt 2.13). Por isso, a
santificação não é um acessório espiritual, mas o caminho pelo qual Deus nos
ajusta para o encontro final com o Senhor da glória. Cada aspecto de nosso ser,
pensamentos, afetos, desejos e ações, deve ser alinhado ao Reino que já nos
aguarda. Contudo, essa preparação não ocorre num vácuo. Vivemos dias de
confusão doutrinária, deturpações teológicas, discursos vazios e
espiritualidades sem cruz. A santidade bíblica está sendo substituída por um
cristianismo superficial, secularizado e diluído. Por isso, mais do que nunca,
precisamos fincar os pés nos fundamentos das Escrituras e rejeitar ventos de
doutrina que enfraquecem o temor do Senhor. A esperança escatológica não é uma
fuga do mundo; é a força que sustenta a fidelidade do crente num tempo de
relativismo, engano e distrações espirituais. Nesta lição, examinaremos como a
Bíblia conecta santificação e escatologia, como Paulo, Pedro e toda a revelação
neotestamentária nos convocam a viver com os olhos no Céu, o coração na Palavra
e os pés no caminho da obediência. Veremos os perigos das teologias modernas
que desviam o foco do retorno de Cristo e apagamos a chama da santidade. E
também aprenderemos que o Deus que exige santificação é o mesmo que preserva, sustenta
e completa a obra em cada área de nossa vida (1Ts 5.23,24). Prepare-se: esta
lição não é apenas informativa, ela é transformadora. Ela nos chama a olhar
para além dos limites da vida presente, a discernir a batalha espiritual de
nosso tempo e a renovar nosso compromisso com a santidade que glorifica a Deus
e nos prepara para ouvir o brado final: “Eis o Noivo!”. Que o Espírito Santo
abra nossos olhos, reacenda nossa esperança e fortaleça nossa santificação
integral, pois a Eternidade se aproxima e Jesus está às portas. Leiamos,
portanto, com reverência, expectativa e fome pela verdade que molda vidas.
Palavra-Chave:
SANTIFICAÇÃO
👉 A santificação não é um
esforço autônomo, nem uma performance moral para impressionar Deus. Ela é,
antes de tudo, a obra contínua do
Espírito Santo, aplicando ao nosso coração a vida, a pureza e o caráter de
Cristo. A mesma graça que nos salvou é a graça que nos transforma. A
Escritura declara: “Sede santos, porque
Eu sou santo.” (1 Pe 1.16) Esse chamado seria impossível se o próprio Deus
não nos capacitasse. É por isso que Paulo afirma: “É Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua
boa vontade.” (Fp 2.13) A santificação é esse mistério glorioso: Deus opera
em nós, e nós respondemos a Ele. O Espírito
Santo trabalha no íntimo, iluminando a mente, quebrando ídolos, mortificando
pecados e produzindo fruto que jamais conseguiríamos gerar por nossas próprias
forças. E ao mesmo tempo, somos chamados a lutar, vigiar, renunciar, obedecer,
disciplinar a mente e submeter o coração. Essa obra é sobrenatural e
processual: sobrenatural, porque é o Espírito quem santifica; continua hoje,
porque Ele continua agindo hoje com poder, convencendo, fortalecendo,
impulsionando e transformando; progressiva, porque avançamos “de glória em
glória” (2 Co 3.18), enquanto contemplamos Cristo. A santificação não é uma
prisão. É libertação. É o processo pelo qual Deus arranca de nós o que não é
dEle e faz nascer o que só Ele pode produzir. No fim, ser santo é isto: Cristo
tomando forma dentro de nós. (GI 4.19)
I. PRESERVANDO A ESPERANÇA
ESCATOLÓGICA
1. O alvo
celestial. Um dos fatores essenciais para a preservação de uma vida
de santificação integral é a esperança escatológica, o anseio pela Eternidade
com Deus. Diversos textos bíblicos relacionam a santidade com a vinda de
Cristo, de modo a conscientizar os crentes da necessidade de um viver santo (Hb
12.14; 2Pe 3.11-14). Sabendo disso, Satanás sempre repete a estratégia adotada
desde o Éden: busca confundir a mente do ser humano e desviá-lo da perspectiva
estabelecida pelo Criador (Gn 3.4,5). O conceito mais comum de pecado é “errar
o alvo”. A nova vida em Cristo é uma correção de alvo. Visa tirar-nos da
limitada e miserável perspectiva meramente terrena e finita, e nos sintonizar
com um propósito celestial e eterno (Cl 1.3-5).
👉 A vida cristã só
encontra direção quando seus olhos se voltam para o alto. A esperança da vinda
de Cristo não é um detalhe periférico da fé, mas uma força que molda o caráter
e sustenta a santificação diária. A Escritura mostra que a santidade floresce
quando o coração permanece firme na promessa do retorno do Senhor. Por isso, a
esperança escatológica não é uma fuga do presente, mas o fundamento que
realinha nossa vida com o propósito eterno de Deus. O autor de Hebreus afirma
que sem santidade ninguém verá o Senhor, e Pedro exorta a viver de modo santo
enquanto aguardamos novos céus e nova terra. Esses textos revelam que o futuro
prometido deve influenciar o presente de maneira concreta. A santificação não é
movida apenas por esforço moral, mas pela visão da glória futura que Deus nos
preparou. Quando a eternidade ocupa nosso horizonte, as pressões deste mundo
perdem força e a alma encontra estabilidade. As Escrituras mostram que Satanás
sempre tenta romper essa perspectiva. Desde o Éden, sua estratégia tem sido
desviar a mente humana da palavra de Deus, oferecendo caminhos mais fáceis,
imediatos e sedutores. Quando ele distorceu a verdade diante de Eva, ele atacou
principalmente a maneira como ela interpretava Deus e o futuro. Ele continua
fazendo o mesmo, afastando o cristão da visão celestial e empurrando-o para uma
vida regida apenas pelo que se vê. A Bíblia descreve o pecado como errar o
alvo, hamartía no grego. Não se trata apenas de transgredir uma lei, mas de
viver desorientado, mirando objetivos que não refletem a vontade de Deus.
Segundo Silas Queiroz, a queda gerou uma fragmentação profunda na consciência
humana, afastando-a da vocação espiritual para a qual foi criada. O ser humano
passou a construir sua identidade a partir do pó e não da eternidade. A nova
vida em Cristo é justamente o realinhamento desse alvo. Paulo ensina que nossas
afeições e pensamentos devem estar nas coisas que são do alto, onde Cristo
vive. Essa orientação redefine prioridades e cura o coração da miopia
espiritual que nos faz viver como se o mundo presente fosse definitivo. A
regeneração nos devolve a capacidade de enxergar o que os olhos naturais não
percebem, como afirma Gordon Fee ao tratar da obra iluminadora do Espírito. A
esperança escatológica também fortalece a santificação porque nos lembra que já
participamos, de forma antecipada, da realidade futura. Anthony Palma comenta
que o Espírito Santo é as primícias da herança final, despertando em nós um
desejo crescente pela presença de Deus. Cada ato de obediência é, portanto, um
eco da vida que teremos plenamente no Reino consumado. Assim, a santificação
integral é preservada quando o cristão vive com o coração firmado na
eternidade. Quem contempla o alvo celestial não se entrega facilmente ao
pecado, não se curva ao imediatismo e não perde de vista a vocação espiritual
que recebeu. A eternidade com Deus é o norte que nos guia, a chama que purifica
nossos desejos e a verdade que reorganiza toda a vida. Quando o alvo é Cristo e
seu Reino, a jornada se torna clara, firme e cheia de esperança.
ARRINGTON, French L.
Doutrina do Espírito Santo. CPAD.
BEACON. Comentário
Bíblico Beacon. CPAD.
BÍBLIA DE ESTUDO
APLICAÇÃO PESSOAL. Mundo Cristão.
BÍBLIA DE ESTUDO
MACARTHUR. Thomas Nelson.
BÍBLIA DE ESTUDO NVI.
Mundo Cristão.
BÍBLIA DE ESTUDO
PENTECOSTAL. CPAD.
BÍBLIA PLENITUDE. SBB.
CHAMPLIN, R. N. O Novo
Testamento Interpretado Versículo por Versículo.
FEE, Gordon D. Paulo, o
Espírito e o Povo de Deus.
HORTON, Stanley M. Teologia
Sistemática Pentecostal. CPAD.
KEENER, Craig S.
Comentário Bíblico do NT. CPAD.
MENSIES, Robert.
Pentecostalismo Bíblico.
OLIVEIRA, Marcelo.
Alcance um Futuro Feliz e Seguro. CPAD.
QUEIROZ, Silas. Corpo,
Alma e Espírito. CPAD.
2.
Oposições à visão celestial. Jesus enfrentou terríveis
oposições durante seu ministério, a começar pelas tentações do Diabo, que
queria mudar o propósito do Messias e confiná-lo aos limites das conquistas
terrenas (Mt 4.8-10). Respondendo a Pilatos, o Mestre enfatizou: “O meu Reino
não é deste mundo” (Jo 18.36). O apóstolo Paulo travou grandes combates com
opositores que insistiam em reduzir o Evangelho a temas e questões temporais.
Aos Coríntios ele advertiu acerca dos que não criam na ressurreição dos mortos,
um engano que limitaria a eficácia da fé cristã a esta finita vida (1Co 15.12):
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os
homens” (15.19).
👉 Desde o início do
ministério de Jesus, fica claro que o reino que Ele veio revelar não se molda
aos limites do que este mundo consegue oferecer. As primeiras tentações no
deserto já expõem isso. Satanás tentou redefinir o caminho do Messias,
oferecendo-lhe glória imediata, poder político e reconhecimento humano, como se
o Filho de Deus pudesse ser reduzido a mais um governante terreno. Quando o
Diabo mostrou “todos os reinos do mundo e o seu esplendor” (Mt 4.8), tentava
seduzir Jesus a trocar a cruz por coroas passageiras. O verbo grego usado aqui,
deiknymi, indica mostrar com intenção de influenciar; Satanás não queria apenas
apresentar… queria moldar o desejo. A intenção do inimigo era clara:
transformar o Messias em gestor de expectativas humanas. Um Cristo que satisfaz
desejos terrenos, mas abandona a missão eterna, seria útil ao reino das trevas.
Mas Jesus rejeita essa proposta com autoridade divina. Sua resposta ecoa a
verdade que sustentaria todo o Seu ministério: só Deus merece adoração. Só Ele
define o caminho. Só Ele estabelece o Reino. Aqui vemos, como aponta Champlin,
que cada tentação era uma tentativa de arrancar Cristo do plano eterno para um
projeto de poder imediato. Essa mesma compreensão aparece no diálogo com
Pilatos. Quando afirma “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18.36), Jesus não
diz que seu Reino é irrelevante para o mundo, mas que não tem origem nele. A
expressão grega ek tou kosmou toutou indica “não derivado desta ordem
presente”. Ele rejeita qualquer tentativa de encaixar o Reino de Deus nos
moldes políticos, sociais ou ideológicos do século. Horton lembra que o Reino
de Cristo atua dentro da história sem depender dela, age na criação sem ser
fruto dela e transforma a cultura sem se submeter às estruturas que ela cria. O
apóstolo Paulo enfrentou o mesmo tipo de oposição espiritual e ideológica. Nos
seus combates contra mestres que queriam reduzir o Evangelho a discussões deste
tempo presente, fica evidente que o inimigo continua tentando amputar o
cristianismo de sua dimensão eterna. Em Corinto, alguns negavam a ressurreição
dos mortos, e Paulo percebeu imediatamente o perigo: sem a eternidade, o
Evangelho vira moralismo religioso. Sem a ressurreição, Cristo seria apenas
inspiração, não Redentor. É por isso que Paulo declara, com vigor pastoral: “Se
a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais miseráveis
de todos os homens” (1Co 15.19). O verbo grego eleeinós, traduzido como
“miseráveis”, descreve alguém digno de compaixão profunda, alguém enganado no
centro da fé. Negar a ressurreição reduz o cristão a um viajante que caminha
com uma lanterna apagada: religioso, mas sem destino eterno. MacArthur observa
que a fé cristã perde o coração quando perde a esperança da vida futura. As
oposições enfrentadas por Jesus e por Paulo têm a mesma origem espiritual: o
inimigo tenta arrancar dos filhos de Deus a visão celestial, substituindo-a por
expectativas terrenas, urgentes, imediatas. A estratégia é antiga e recorrente.
Menzies explica que toda tentativa de transformar o Evangelho em projeto apenas
humano, político ou moral torna o cristianismo irreconhecível, porque apaga sua
força escatológica. A tentação continua viva em nossos dias. Quando a fé passa
a ser vivida apenas para “melhorar a vida agora”, reduzimos o Evangelho ao
tamanho de nossas preocupações temporais. Mas o Reino que Cristo inaugurou não
cabe em agendas humanas. Ele molda nossos passos no presente, mas nasce da
eternidade e aponta para ela. Santificação, missão, perseverança e esperança só
fazem sentido quando vistas sob essa luz. Por isso, somos chamados a resistir à
mesma sedução que Cristo enfrentou: viver uma fé que não se curva ao
imediatismo, não troca a eternidade por aplausos e não transforma o Reino de
Deus em benefício terreno. A visão celestial nos lembra quem somos, para onde
vamos e por que vale a pena seguir o Cordeiro.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento
Interpretado. SP: Hagnos.
HORTON, S. Teologia Sistemática: Uma
Perspectiva Pentecostal. RJ: CPAD.
MACARTHUR, J. Bíblia de Estudo
MacArthur. SP: Thomas Nelson Brasil.
MENZIES, R. Empowered for Witness: The
Spirit in Luke-Acts. Springfield: Gospel Publishing House.
3.
Inimigos da cruz de Cristo. Aos Filipenses, Paulo
combateu os que pensavam somente nas coisas terrenas: “O fim deles é a
perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles é para confusão deles
mesmos, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3.19). Eram inimigos da Cruz de
Cristo (Fp 3.18). Diante disso, o apóstolo proclamou: “Mas a nossa cidade está
nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que
transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso,
segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp
3.20,21). Há ensinos semelhantes aos Colossenses (Cl 2; 3) e aos
Tessalonicenses (1Ts 4.13).
👉 Paulo descreve um
conflito que permanece atual. Em Filipos, ele confronta um tipo de
espiritualidade que trocava a cruz por vantagens imediatas, reduzindo o
Evangelho ao tamanho dos desejos humanos. Ele afirma que alguns “só pensam nas
coisas terrenas” (Fp 3.19). O verbo phroneō, traduzido como “pensar”, significa
orientar a mente, definir as prioridades do coração. Eram pessoas que usavam
Deus para alcançar o que queriam, mas não se entregavam a Ele. Por isso Paulo
os chama de inimigos da cruz. Não porque negassem Jesus com os lábios, mas
porque rejeitavam o caminho da submissão, do arrependimento e da vida moldada
pela eternidade. A doutrina da prosperidade, tão difundida hoje, revive essa
mesma tentação. Ela apresenta um Cristo útil, mas não soberano. Um Cristo que
existe para cumprir expectativas, não para transformar corações. É o mesmo
“deus do ventre” mencionado por Paulo, expressão que, segundo o Comentário
Histórico-Cultural do NT, descreve pessoas governadas por apetites imediatos.
Quando a fé gira apenas em torno de conquistas materiais, a cruz é esvaziada e
o discipulado se torna centrado no eu. MacArthur observa que essa mentalidade
não apenas desvia da verdade, mas produz um cristianismo sem renúncia, sem
dependência e sem esperança eterna. Em contraste, Paulo conduz os filipenses a
levantar os olhos. Ele afirma que “a nossa cidadania está nos céus” (Fp 3.20).
A palavra politeuma indica não apenas um local de origem, mas a identidade e os
valores que moldam a vida diária. Ou seja, não pertencemos a este século,
embora vivamos nele. Nossas prioridades, nossa ética e nossa esperança fluem do
Reino que não passa. É essa consciência celestial que impede o Evangelho de ser
capturado por promessas imediatistas. Como lembra Horton, a fé cristã se
fortalece quando encontra seu eixo na eternidade, não quando é moldada pelas
demandas do presente. Paulo ainda reforça que esperamos o Salvador que virá
transformar “o nosso corpo abatido” e conformá-lo “ao seu corpo glorioso” (Fp
3.21). Essa promessa coloca todo sofrimento, toda renúncia e toda perseverança
em perspectiva. A doutrina da prosperidade tenta antecipar no presente aquilo
que só será plenamente revelado na volta de Cristo. Já a fé bíblica sabe
esperar. Ela vive neste mundo, mas não se deixa definir por ele. Fee aponta
que, quando a igreja perde de vista a esperança escatológica, ela facilmente
transforma bênçãos espirituais em produtos de consumo religioso. Por isso Paulo
chama a igreja a discernir o coração do verdadeiro Evangelho. O discípulo de
Cristo não vive para acumular vantagens, mas para avançar rumo ao dia em que o
Senhor restaurará todas as coisas. Esse foco eterno nos cura da ansiedade de
ter, nos liberta da sedução do imediatismo e nos sustenta nas provações. A cruz
não promete conforto, mas vida. Não promete riquezas, mas transformação. E essa
verdade, quando acolhida no coração, produz um cristianismo que permanece firme
quando tudo ao redor treme.
FEE, Gordon D. Paul’s Letter to the
Philippians. NICNT.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática:
Uma Perspectiva Pentecostal. CPAD.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. Thomas Nelson Brasil.
KEENER, Craig. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. CPAD.
SINOPSE I
A esperança
na eternidade com Cristo fortalece a santificação e mantém o crente focado no
propósito celestial.
AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO
SANTIFICAÇÃO
NO NOVO TESTAMENTO
“No Novo
Testamento, a santificação não é retratada como um processo lento de abandono
ou desistência do pecado, pouco a pouco, mas é apresentada como um ato definido
e decisivo pelo qual o crente — pela graça de Deus — é libertado do controle de
Satanás e rompe claramente com o pecado (isto é, tudo o que ofende, se opõe e
desafia a Deus e não corresponde aos seus padrões) para viver por Deus e para
Deus (Rm 6.18; 2Co 5.17; Ef 2.4-6; Cl 3.1-3). Ao mesmo tempo, no entanto, a
santificação é descrita como um processo de uma vida inteira, pelo qual um
seguidor de Cristo continua a mortificar as tendências pecaminosas do corpo (Rm
8.1-17; veja Rm 8.13, nota), é transformado progressivamente para que seja mais
semelhante a Jesus (2Co 3.18), cresça em graça (2Pe 3.18), exercite maior amor
por Deus e pelos outros (Mt 22.37-39; 1Jo 4.7,8,11,20,21; veja Mc 12.30, nota)
e satisfaça os propósitos de Deus para a sua vida.” (Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição
Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p.2350).
II. PERIGOS DE TEOLOGIAS MODERNAS
1. Um
cristianismo secularizado. Vivemos o perigo de um
cristianismo secular, reduzido a pautas e militâncias ideológicas, sociais,
políticas e econômicas, enfrentadas por expedientes meramente humanos (Lc
17.26-30; 18.1-8; 2Co 10.4,5). Assiste-se à difusão de uma “teologia pública”
que não confronta o pecado. Que confunde e empobrece o sentido de relevância da
fé, enfraquecendo a missão da Igreja. Sob o pretexto de levá-la para a arena pública,
atua para tirá-la da arena espiritual. Enquanto mais secularismo, menos poder.
Jesus espera que conservemos entre nós os verdadeiros sinais que devem seguir
os que crerem: expulsão de demônios, novas línguas, maravilhas e curas divinas
(Mc 16.17,18). E tudo isso na perspectiva e expectativa da Eternidade.
👉 A igreja enfrenta hoje
um desafio silencioso, porém devastador. Não é apenas a oposição externa, mas a
diluição interna da fé. Paulo afirma que “a nossa luta não é contra seres
humanos” (Ef 6.12). O verbo palē, traduzido como luta, descreve um combate
corpo a corpo, intenso, espiritual e constante. Quando perdemos essa
perspectiva, facilmente trocamos a batalha invisível por guerras terrenas, e o
Evangelho deixa de moldar nosso coração para ser usado como ferramenta de
militância. Esse é o perigo do cristianismo secularizado, que mantém a forma
religiosa, mas perde a força que nasce da dependência do Espírito. Jesus
alertou que os dias que antecederiam a sua volta seriam parecidos com os de Noé
e Ló, dias marcados não apenas pelo pecado, mas pela indiferença espiritual (Lc
17.26-30). Um tempo em que as pessoas estariam ocupadas demais com o imediato
para perceber o eterno. A secularização do cristianismo segue o mesmo caminho:
ela tira dos olhos da igreja a urgência espiritual e substitui pela ansiedade
de conquistar espaço cultural. Como observa Horton, quando a igreja se torna
refém das demandas sociais, ela perde seu caráter profético e se torna apenas
mais uma voz entre muitas. A chamada “teologia pública”, muitas vezes, nasce
desse desejo de relevância. Ela busca ocupar os palcos da sociedade, mas evita
confrontar o pecado, a idolatria e a necessidade de arrependimento. Keener
lembra que quando a igreja deixa de falar da verdadeira conversão, ela
automaticamente reforça os valores da cultura que deveria transformar. O
problema não é a presença cristã na sociedade. O problema é quando essa
presença deixa de anunciar o Evangelho para se ajustar às expectativas da
cultura. Política, economia e justiça social têm sua importância, mas não podem
substituir a missão espiritual da igreja. Paulo nos lembra que “as armas com as
quais lutamos não são humanas” (2Co 10.4). O termo hopla, armas, no grego,
aponta para instrumentos espirituais concedidos por Deus. Orar, jejuar, pregar
a Palavra e depender do Espírito sempre foram os meios pelos quais o Reino
avança. Quando trocamos essas armas pelos métodos do mundo, podemos até ganhar
debates, mas perdemos batalhas espirituais. A igreja não transforma pelo poder,
mas pelo testemunho. Não pelo domínio político, mas pela ação regeneradora do
Espírito. O secularismo tenta redefinir o que significa ser “relevante”. Ele
diz que para influenciar, precisamos ser aceitos; para falar, precisamos nos
adaptar; para crescer, precisamos dialogar com a cultura em seus próprios
termos. Mas o Evangelho segue outra lógica. Hughes afirma que a verdadeira
relevância da igreja nasce da sua santidade, sua vida de oração e sua
fidelidade às Escrituras. Relevância sem santidade é apenas ativismo.
Influência sem verdade é apenas retórica. E engajamento sem arrependimento é
apenas discurso. A igreja perde poder quando tenta conquistar o mundo por meios
humanos. Jesus afirmou que precisamos “orar sempre e nunca desanimar” (Lc
18.1). Esse é o ritmo da fé que não se dobra diante da pressão cultural.
Arrington lembra que a oração não é fuga, mas resistência. Ela nos posiciona
diante de Deus e contra as trevas. Uma igreja que ora profundamente discerne
melhor, prega com autoridade e vive com coragem. Uma igreja que ora pouco
torna-se facilmente seduzida por qualquer agenda que prometa impacto rápido. Por
isso Jesus ordenou que conservássemos entre nós os sinais que acompanham os que
creem (Mc 16.17-18). Elas não são demonstrações de poder humano, mas evidências
de que o Reino está agindo. Libertação, curas, manifestações espirituais e
transformação de vida são marcas de uma igreja que vive no Espírito. Menzies
observa que quando os dons espirituais diminuem, entram em seu lugar
estratégias humanas. E toda vez que a igreja troca o sobrenatural por métodos
sociológicos, ela perde a capacidade de confrontar o coração humano. A
verdadeira influência da igreja não está em sua força social, mas em sua
fidelidade espiritual. Somos chamados a testemunhar Cristo, resistir ao pecado,
viver em santidade e pregar a mensagem que transforma. A sociedade muda quando
pessoas mudam, e pessoas mudam quando o Evangelho é anunciado com poder. Nosso
chamado não é conquistar posições, mas proclamar o Reino. Não é dominar o
espaço público, mas manifestar o caráter de Cristo. E fazemos isso olhando para
a eternidade, sabendo que é o Espírito quem convence, liberta, cura e
santifica.
ARRINGTON, French L. O Espírito Santo
na Teologia de Paulo. CPAD.
FEE, Gordon D. God’s Empowering
Presence. Hendrickson.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática:
Uma Perspectiva Pentecostal. CPAD.
KEENER, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. CPAD.
HUGHES, R. Kent. Disciplines of a
Godly Man. Crossway.
MENZIES, Robert. Empowered for
Witness. T&T Clark.
2. Falsos
discursos. O cristianismo moderno corre um sério risco de ser marcado,
em parte, mais por discurso que prática (Tg 1.22). Isso ganha uma amplitude
ainda maior em tempos de comunicação tão volátil. Oriundas de canais mais
voltados à cultura e intelectualidade, são muitas as vozes “cristãs” que
criticam toda e qualquer tradição, ignorando seus fundamentos. Como
pentecostais clássicos, devemos nos precaver de teologias modernas alheias à
realidade do crente em seu cotidiano; em seu bairro ou comunidade rural, e
permanecer crendo, praticando e pregando um Evangelho simples, porém, integral
e poderoso: Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e em breve voltará.
Quando se perde o senso da iminente volta de Jesus, compromete-se o valor da
santificação (1Jo 3.3).
👉 A fé cristã sempre
carregou uma tensão sagrada entre o que dizemos e o que vivemos. E, neste tempo
de palavras rápidas e opiniões fáceis, essa tensão se intensifica. Tiago nos
adverte que ouvir sem praticar é enganar a si mesmo. E, se somos honestos,
percebemos como a cultura atual empurra a igreja para um cristianismo mais
falado do que encarnado. É fácil comentar, analisar, reagir. Difícil é viver de
maneira coerente com aquilo que afirmamos crer. Vivemos num cenário em que
muitas vozes “cristãs” se levantam nas redes e na academia. Algumas são
críticas, intensas, debochadas. Outras desconsideram a sabedoria histórica da
igreja, ignoram fundamentos essenciais e tratam a fé como produto cultural.
Como lembra o Comentário Histórico-Cultural, este é um dos sinais da
fragmentação espiritual de nossos tempos. Por isso, como igreja local,
precisamos de discernimento para não confundir tendências filosóficas com
evangelho, nem permitir que discursos bonitos substituam uma vida santificada. Como
pentecostais clássicos, aprendemos com os nossos pais na fé que o evangelho não
é uma ideia para ser debatida, mas uma verdade para ser vivida. A Bíblia de
Estudo Pentecostal reforça que a fé bíblica se manifesta no cotidiano simples:
no lar, na vila, no campo, no trabalho. É nesse chão concreto da vida que
testemunhamos Cristo. Por isso, não nos envergonhamos do evangelho integral que
recebemos: Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e voltará em glória.
Não é um slogan. É a realidade prática do Reino que já rompeu na história. D.
L. Moody dizia que, para muitos, a única Bíblia que será lida é a nossa própria
vida. Essa afirmação nos confronta. Antes de abrir a boca, a vida já pregou. E
quando a vida contradiz aquilo que anunciamos, a mensagem perde peso. Champlin
observa que o mundo é profundamente sensível à incoerência moral do crente. Não
basta argumentar bem. É preciso viver de maneira íntegra, humilde e cheia do
Espírito. A Escritura também revela que a perda da esperança na volta de Cristo
corrói a santificação. João é direto ao afirmar que quem tem essa esperança se
purifica a si mesmo. A palavra grega para purificar, hagnízō, carrega o sentido
de um processo contínuo, como quem limpa o coração para recebê-lo a qualquer
momento. Quando essa expectativa diminui, o crente relaxa, tolera o pecado e se
acostuma com a tibieza espiritual. O Comentário Beacon destaca que a esperança
da segunda vinda é um dos motores da vida santa. Não se trata de medo, mas de
amor. Quem espera Cristo vive para honrá-lo. Santificação não é isolamento, mas
transformação. Não é rigidez, mas maturidade. É permitir que o Espírito Santo
forme em nós o caráter de Jesus e testemunhe ao mundo quem ele realmente é. A
comunicação de hoje torna tudo rápido, mas nada profundo. Palavras se dissolvem
no fluxo da internet. A única coisa que permanece é o tipo de vida que
escolhemos viver. É aí que o evangelho brilha. É aí que a igreja se torna luz.
Hughes nos lembra que a disciplina espiritual é o caminho onde o Espírito molda
nossos afetos, prioridades e atitudes. Não é perfeição. É fidelidade. Que
vivamos, portanto, de modo coerente. Que nosso testemunho seja maior do que
nosso discurso. Que nossa esperança na volta do Senhor mantenha o coração
desperto e a vida limpa. O mundo não precisa de mais argumentos. Precisa de
homens e mulheres cuja vida seja prova viva de que Cristo reina.
ARRINGTON, French L. Comentário
Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento
Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2012.
HUGHES, R. Kent. Disciplinas do Homem
Cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.
MOODY, Dwight L. Pensamentos e
Sermões. Chicago: Moody Publishers, s/d.
PINTO, Hernandes D. et al. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de
Janeiro: CPAD, 1995.
3.
Prosperidade, existencialismo e engajamento cultural. Ao
longo da história do Cristianismo, não poucos ventos teológicos vieram e se
foram. A própria Teologia da Prosperidade, uma das mais recentes, já não causa
o mesmo impacto de quando surgiu. Reduzir a esperança cristã a conquistas
terrenas leva a frustrações, além de conduzir a uma visão meramente
existencial. Foi o que Paulo concluiu diante dos que, em Corinto, negavam o
caráter escatológico da fé cristã. O apóstolo não os poupou. Chamando-os de “bestas
feras”, ironizou: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1Co 15.32).
Acautelemo-nos também da cosmovisão cristã inspirada na escatologia
calvinista-amilenista, que, descrendo no Arrebatamento da Igreja e em um
Milênio literal, enfatiza o engajamento político e cultural para a redenção dos
sistemas humanos, e não a proclamação do Evangelho para a salvação dos
pecadores. A pregação bíblica é: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para
que sejam apagados os vossos pecados” (At 3.19).
👉 Os primeiros cristãos
sabiam que a fé não podia ser reduzida a desempenho terreno ou conquista
pessoal. Paulo deixa isso claro quando confronta a comunidade de Corinto.
Alguns, negando a ressurreição futura, viviam de forma prática como se esta
vida fosse o único palco da existência. O apóstolo responde citando um
provérbio conhecido: “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (1Co 15.32,
NVI). Ele não está apenas ironizando; está expondo a lógica devastadora de uma
espiritualidade sem esperança escatológica. Sem ressurreição, tudo se torna
frágil, e o discipulado perde o peso eterno que o sustenta. O termo
“morreremos” traduz o verbo grego apothnḗskō, que sugere cessar por
completo. Paulo mostra o absurdo de viver como se a morte fosse o ponto final.
Se Cristo ressuscitou, a morte é apenas uma porta. Se Cristo não ressuscitou,
tudo é vão. A vida cristã ganha seu valor pela certeza da ressurreição
vindoura. O apóstolo, portanto, expõe a raiz do problema: perder a expectativa
do futuro transforma o presente em desorientação espiritual. Paulo argumenta a
partir da própria experiência. “Se foi por meras razões humanas que lutei com
feras em Éfeso…” (1Co 15.32). A expressão “lutei com feras” é metafórica e
indica oposição intensa. O Comentário Bíblico Pentecostal destaca que Paulo
fala da hostilidade de seus perseguidores, não de um combate literal. Sua
pergunta é pastoral: “Por que eu sofreria por Cristo se o futuro não estivesse
garantido?” A resposta é óbvia. Apenas uma fé que contempla a ressurreição
enxerga o valor do sacrifício e da perseverança. Nesse cenário, surge um
desafio contemporâneo. Nossa geração ainda enfrenta teologias que reduzem a
esperança cristã a conquistas terrenas. Quando a mensagem se centraliza em
prosperidade, realização pessoal e bem-estar imediato, a fé é esvaziada de sua
dimensão eterna. Sem a ressurreição futura como eixo, a espiritualidade corre o
risco de virar um humanismo religioso, onde Deus existe apenas para validar o
projeto individual. Essa distorção não produz santidade nem perseverança. Ao
mesmo tempo, precisamos tratar com responsabilidade a diversidade escatológica
entre cristãos sinceros ao longo da história. Entre reformados amilenistas (há reformado dispensacionalista, à exemplo
de John MacArthur), por exemplo, não há negação da ressurreição, nem da
segunda vinda de Cristo. O arrebatamento não é rejeitado, mas compreendido como
parte da manifestação final de Jesus, sem a separação em dois eventos
distintos. Teólogos como Hoekema e Berkhof afirmam claramente a centralidade do
juízo final, da ressurreição dos mortos e da consumação do Reino. Trata-se de
uma leitura diferente da estrutura dos eventos, e não da sua realidade. Também
é incorreto dizer que o amilenismo substitui a missão evangelizadora pelo
engajamento cultural. A tradição reformada histórica mantém forte ênfase na
proclamação do arrependimento e da fé, como destaca o Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. A pregação continua sendo o meio
ordinário pelo qual Cristo chama pecadores à salvação. Qualquer ênfase
cultural, nos setores neocalvinistas, é vista como resultado do discipulado,
não como sua essência. A missão não muda: arrependimento, fé e santificação.
A exortação de Paulo, porém, continua válida para
todos os cristãos, independentemente de tradição teológica: qualquer visão que
dilua a urgência da vida eterna enfraquece a santidade presente. Quando a
igreja perde a consciência de que vive entre a cruz e a volta de Cristo,
esfria-se a vigilância espiritual. João reforça isso ao afirmar: “Todo aquele
que nele tem essa esperança purifica-se a si mesmo” (1Jo 3.3, NVI). A esperança
futura alimenta a vida santa agora. Por isso precisamos de discernimento
pastoral. A igreja não pode permitir que a esperança cristã seja sequestrada
pela busca de prosperidade nem pelo imediatismo secular. Mas também não pode
criar caricaturas de irmãos que, embora pensem diferente em alguns pontos,
conservam a mesma fé na volta gloriosa de Cristo. O equilíbrio é uma marca do
discipulado maduro. A responsabilidade bíblica é maior do que as disputas
doutrinárias periféricas. No fim, o chamado permanece o mesmo que atravessou
gerações: anunciar Cristo aos pecadores. “Arrependam-se, pois, e convertam-se,
para que os seus pecados sejam cancelados” (At 3.19, NVI). Esta é a mensagem
que molda a igreja, sustenta o missionário, corrige o coração e prepara o povo
para a eternidade. A esperança cristã não está nas coisas que passam, mas no
Cristo que vem.
Que vivamos hoje orientados pelo amanhã. Quem se
agarra à ressurreição não desperdiça a vida, não negocia a santidade e não
perde o foco da missão. A fé que olha para o futuro transforma o presente. E
essa fé não pode ser negociada.
ARRINGTON, French L. Comentário
Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
BEACON. Comentário Bíblico Beacon. Rio
de Janeiro: CPAD.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
KEENER, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2014.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil.
SINOPSE II
Teologias
seculares e distorcidas enfraquecem a missão da Igreja e desviam o foco da
santificação e da volta de Cristo.
III. CONSERVANDO ESPÍRITO, ALMA E
CORPO
1. Prontos
para o retorno de Cristo. Em 1 Tessalonicenses 5.23
Paulo apresenta a santificação intimamente ligada ao propósito da eternidade.
Em uma epístola que eminentemente trata da volta de Jesus, o apóstolo dedica o
último capítulo para abordar exatamente a obra da santificação. Do versículo 12
ao 22, refere-se aos deveres do cristão em sua vida pessoal e comunitária,
concluindo com uma enfática advertência: “Abstende-vos de toda aparência do
mal” (1Ts 5.22). Na sequência, aborda a obra divina no processo de
santificação: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso
espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23). O desejo do apóstolo era que,
uma vez santificados, os tessalonicenses permanecessem conservados em
santificação, prontos para o retorno de Cristo.
👉 A exortação de Paulo em
1 Tessalonicenses 5 surge como um chamado urgente para que a igreja viva
desperta diante da breve e certa vinda do Senhor. Ao aproximar-se do final da
carta, o apóstolo não separa escatologia de santidade; pelo contrário, ele
mostra que esperar por Cristo é, essencialmente, um modo de viver. Por isso,
depois de orientar a comunidade sobre relações, atitudes e discernimento
espiritual, Paulo conclui com uma ordem firme: “Abstenham-se de toda forma de
mal” (1Ts 5.22). A expressão grega eídous poneroû indica não apenas evitar atos
maus, mas afastar-se de tudo o que se apresenta, parece ou se insinua como mal.
A santificação começa quando o cristão aprende a discernir e rejeitar até as
sombras que o afastam de Deus. Logo em seguida, Paulo desloca a atenção do
esforço humano para a obra divina. Ele afirma: “Que o próprio Deus de paz os
santifique inteiramente” (1Ts 5.23). O termo “santifique” vem de hagiasai, que
carrega a ideia de separar para Deus e transformar em conformidade com o Seu
caráter. Não se trata de um aperfeiçoamento parcial, mas de uma renovação
completa: “inteiramente” traduz holoteleis, palavra rara no Novo Testamento que
descreve algo alcançado por inteiro, em todas as dimensões do ser. Assim, Paulo
mostra que a santificação não é um evento isolado, mas um processo abrangente
no qual Deus age de forma contínua e profunda. Paulo então descreve essas
dimensões: “espírito, alma e corpo”. Aqui, ele não propõe uma antropologia
rígida, mas destaca que Deus opera na totalidade da pessoa humana. Vários
comentaristas lembram que Paulo não está classificando partes, mas enfatizando
que nada em nós fica fora do alcance do Espírito Santo. Horton observa que a
santificação envolve tanto a esfera interior, desejos, pensamentos, afeições,
quanto a conduta visível que molda nossas relações no mundo. Assim,
santificação, nesse contexto, é Deus restaurando toda a vida do crente para que
ela reflita o futuro reino que já começou a se manifestar no presente. O
propósito é claro: que sejamos “conservados irrepreensíveis” até a vinda de
Cristo. O termo amémptous descreve alguém que, ao ser examinado, não apresenta
nada que o acuse diante de Deus. Paulo não promete perfeição sem pecado nesta
vida, mas uma vida guardada, preservada e amadurecida pelo Espírito para o
encontro final com o Senhor. A santificação, portanto, é tanto vigilância
humana quanto preservação divina. O crente se afasta de toda forma de mal,
enquanto o Deus de paz o mantém firme, íntegro e preparado para o grande Dia. A
mensagem de Paulo aos tessalonicenses continua atual. A santificação não é um
adorno espiritual, mas uma marca essencial de quem vive na expectativa da
segunda vinda. Cada escolha, palavra e hábito revela se estamos ou não
caminhando em direção ao Cristo que virá. Assim como aquela igreja jovem foi
chamada a discernir o mal e abraçar a obra transformadora do Espírito, também
nós somos convocados a viver de modo íntegro, permitindo que Deus molde cada
aspecto da nossa existência. Esperar por Cristo é viver já como cidadãos do seu
reino.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
ARRINGTON, French L. Comentário
Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento
Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2018.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
WILSON, Marvin. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.
2. Uma
santificação completa. Conscientes de nossa imperfeição e de
que ainda habita em nós uma natureza carnal, devemos desejar e buscar
constantemente nos aperfeiçoar em santificação (Ap 22.11). Uma santificação
completa, na qual parte alguma de nosso ser fique de fora; nem mesmo nossos
afetos, pensamentos e intenções (Mt 5.8). Tudo em nós deve ser santificado; no
espírito, na alma e no corpo. Por nossa própria força isso é impossível, mas
pelos meios da Graça Divina isso é plenamente possível. Que vivamos desfrutando
de uma profunda convicção de nossa salvação, anelando pela vinda de Cristo. Se
algo faltar, não nos esqueçamos: o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo
o pecado (1Jo 1.7).
👉 A santificação completa
não nasce do impulso humano, mas da consciência humilde de que ainda carregamos
traços da velha natureza. Por isso, a Escritura nos chama a uma busca
perseverante por pureza. Quando João declara “Continue o justo a praticar a
justiça; e continue o santo a santificar-se” (Ap 22.11), ele aponta para um
movimento contínuo, que não termina nesta vida. O verbo hagiasthētō,
“santifique-se”, aparece no imperativo, indicando um chamado permanente. Não se
trata de um aperfeiçoamento ocasional. É uma jornada diária em que o crente permite
que Deus refine sua vida enquanto aguarda o desfecho da história. Jesus
aprofunda essa visão ao afirmar: “Bem-aventurados os puros de coração, pois
verão a Deus” (Mt 5.8). A palavra “puros” traduz o grego katharoi, termo usado
para algo limpo, sem mistura, livre de duplicidade. Cristo não promete bênção
aos moralmente impecáveis, mas aos que vivem diante de Deus com o coração sem
reservas, onde pensamentos, intenções e afetos são alinhados à vontade divina.
A verdadeira santificação alcança regiões internas que ninguém vê, pois Deus
examina o coração e ali deseja operar transformação. Essa obra precisa tocar
todo o nosso ser. A Bíblia não admite áreas intocadas. Afetos, desejos,
hábitos, reações, disciplina do corpo, formação da alma e sensibilidade
espiritual são parte desse processo. Horton observa que o Espírito Santo não
compartimenta a vida; Ele a renova por completo, porque deseja formar em nós
uma maturidade que reflita a vida do próprio Cristo. A santificação não é
apenas um comportamento alinhado, mas uma vida reorganizada pela presença de
Deus. Aqui chegamos ao ponto decisivo. Por mais que desejemos crescer, nossas
forças não são suficientes. O texto original lembrava que “pelos meios da Graça
Divina isso é plenamente possível”, e essa afirmação resume a teologia bíblica
da santificação. Deus mesmo disponibiliza meios concretos pelos quais Ele
trabalha em nós. A Palavra que julga intenções, a oração que molda afetos, a
comunhão que corrige caminhos, a ceia que alimenta esperança e o Espírito que
produz fruto. Esses meios não são recursos acessórios, mas instrumentos da
Graça que transformam a vida de qualquer crente disposto a se submeter. É por
isso que a santificação bíblica nunca é motivo de desespero. Ela nasce da
certeza de que Deus não abandona o que começou. Enquanto caminhamos, carregamos
a convicção de que pertencemos a Cristo. Nossa esperança não está na
performance espiritual, mas na obra dEle em nós. Onde houver falhas, a
Escritura nos lembra que “o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo
pecado” (1Jo 1.7). João usa o verbo katharízei no presente, indicando ação
contínua. Essa purificação não é um evento isolado, mas um fluxo constante da
graça sobre a vida daqueles que andam na luz. Assim, vivemos entre dois tempos.
No presente, somos chamados a nos santificar. No futuro, veremos Deus face a
face. Entre esses dois momentos, a Graça sustenta, corrige e transforma. Que
nossa caminhada seja marcada por esse anseio santo: ser cada dia mais parecido
com Cristo, enquanto esperamos com alegria o dia em que toda santificação será
completada pela Sua presença.
ARRINGTON, French L. Comentário
Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento
Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2018.
WILSON, Marvin. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
SINOPSE
III
A
santificação deve abranger todo o ser do crente como preparo integral para a
vinda do Senhor.
AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO
“VOS
SANTIFIQUE EM TUDO
Paulo
conclui esta epístola com uma oração pelos cristãos de Tessalônica, pedindo que
Deus continue a operar em cada aspecto de seu ser — espírito, alma e corpo —, desenvolvendo-os,
purificando-os e preparando-os para os seus propósitos. Todo o seu ser deveria
ser preservado para Deus e ‘conservad[o] irrepreensíve[l]’ (veja 2.10, nota)
até a volta de Jesus. Observe que eles não conseguiriam isto por seus próprios
esforços, mas ‘Fiel é o que vos chama, o qual [Deus] também o fará’ (v.24).” (Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição
Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p.2236).
CONCLUSÃO
Pela graça
de Deus estamos concluindo mais um trimestre. Vivemos neste mundo, mas não
pertencemos a ele (Jo 17.14). Que, como peregrinos e forasteiros, jamais
percamos o anseio pela Eternidade com Deus (1Pe 2.11). Enquanto aqui
estivermos, vivamos na inteira dependência do Senhor Jesus. Cheguemo-nos
diariamente a Ele com inteira certeza de fé, confiados em seu sacrifício por
nós na cruz do Calvário. Purificados no espírito, na alma e no corpo,
permaneçamos firmes (Hb 10.19-23). “Nossa esperança é sua vinda!” (Hino 300 da
Harpa Cristã).
👉 Chegamos ao final deste
trimestre conscientes de que estudar a Palavra nunca é apenas um exercício
intelectual. É sempre um chamado de Deus para voltarmos o coração a Ele. Jesus
afirmou que não pertencemos ao mundo, embora ainda vivamos nele, e essa
afirmação revela nossa verdadeira identidade. Fomos separados. Fomos tirados
das trevas para caminhar na luz. Somos discípulos enviados, mas também
estrangeiros que não se acomodam às estruturas desta era. Pedro chama a igreja
de peregrinos e forasteiros, expressão que indica alguém que vive numa terra
que não é sua. Isso não é romantização da vida cristã. É memória espiritual.
Significa guardar viva a certeza de que fomos feitos para a eternidade. Nada
aqui é definitivo. Tudo aqui é provisório. O Comentário Beacon lembra que a
esperança cristã não é fuga, mas força para viver no presente sem perder o
horizonte da glória futura. Enquanto caminhamos, a vida cristã exige uma
dependência prática e diária de Cristo. Hebreus 10 afirma que podemos nos
aproximar de Deus com “inteira certeza de fé”. O termo grego parrēsía transmite
coragem e confiança diante de Deus, não porque somos capazes, mas porque Cristo
abriu um novo e vivo caminho pelo Seu sangue. A Escritura não nos convida a uma
fé tímida, mas a uma aproximação ousada, sustentada pelo sacrifício perfeito do
Senhor Jesus. Essa aproximação transforma quem somos. Santifica nosso espírito,
molda nossa alma e disciplina nosso corpo. Santificação não é reforma moral. É
obra profunda que Deus realiza em nós por meio dos meios de graça. A Palavra
confronta, a oração alinha, a comunhão fortalece, a ceia reaviva a esperança e
o Espírito age onde não conseguimos agir sozinhos. Somos chamados a permanecer
firmes, não por causa da nossa constância, mas pela fidelidade dAquele que
prometeu.
Ao longo da Lição 13, vimos que a santificação é uma
caminhada que envolve todo o ser. João encerra o Apocalipse dizendo que “o
santo continue a santificar-se”. O verbo no imperativo indica um processo
contínuo. Não é uma conquista instantânea, mas um amadurecimento moldado pela
graça. E Jesus, no Sermão do Monte, promete que os “puros de coração”, os
katharoi, verão a Deus. Pureza não é ausência de falhas, mas ausência de
duplicidade. Coração íntegro. Vida alinhada. Olhar fixo na eternidade. Por isso
o hino declara com tanta força: “Nossa esperança é Sua vinda”. A igreja sempre
viveu sustentada por essa certeza. Esperamos o retorno de Cristo não como quem
foge do presente, mas como quem sabe que tudo faz sentido à luz da Sua
promessa. Essa esperança firma os passos e impede o coração de se perder nas
distrações do mundo. É ela que nos lembra que a história não termina aqui.
Concluir o trimestre é relembrar que Deus tem nos
conduzido. Ele nos corrigiu, nos ensinou, nos confrontou e nos fortaleceu.
Agora, seguimos adiante com o mesmo clamor: que a Palavra transforme o que
ainda precisa ser mudado e que o coração permaneça desperto para a eternidade
que se aproxima. Que vivamos como quem já pertence ao Reino e caminha para
casa. Nesta conclusão, não podemos deixar de extrair três aplicações práticas
poderosas e transformadoras para a vida dos nossos alunos:
1. Cultive diariamente a
aproximação ousada com Deus. Aproxime-se com
parrēsía, não com medo. Faça da Palavra e da oração seu espaço diário de
realinhamento espiritual.
2. Viva como peregrino neste
mundo. Avalie o que tem
dominado seus afetos. Pergunte-se se seu coração está mais preso ao transitório
ou ao eterno.
3. Submeta-se aos meios
da graça. A santificação não
avança por força própria. Deixe que o Espírito molde seu caráter por meio da comunhão,
da ceia, do serviço e da obediência crescente.
1. ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
2. BEACON. Comentário
Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
3. CHAMPLIN, R. N. O
Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2018.
4. HORTON, Stanley.
Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
5. HUGHES, R. Kent.
Disciplinas do Homem Cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
6. MACARTHUR, John.
Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
7. WILSON, Marvin.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2013
REVISANDO O CONTEÚDO
1. Qual a
relação entre santificação e esperança escatológica?
Um dos
fatores essenciais para a preservação de uma vida de santificação integral, é a
esperança escatológica, o anseio pela Eternidade com Deus.
2. Qual a
estratégia satânica em relação à eternidade?
Satanás
sempre repete a estratégia adotada desde o Éden: busca confundir a mente do ser
humano e desviá-lo da perspectiva estabelecida pelo Criador (Gn 3.4,5).
3. Como
se caracteriza o cristianismo secular?
Vivemos o
perigo de um cristianismo secular, reduzido a pautas e militâncias ideológicas,
sociais, políticas e econômicas, enfrentadas por expedientes meramente humanos
(Lc 17.26-30; 18.1-8; 2Co 10.4,5).
4. Cite
alguns perigos de teologias modernas.
Cristianismo
secularizado, falso discursos, prosperidade, existencialismo e engajamento
cultural.
5. Por
que temos que nos acautelar da cosmovisão calvinista-amilenista?
Acautelemo-nos
também da cosmovisão cristã inspirada na escatologia calvinista-amilenista,
que, descrendo no arrebatamento da Igreja e em um Milênio literal, enfatiza o
engajamento político e cultural para a redenção dos sistemas humanos e não a
proclamação do Evangelho para a salvação dos pecadores.
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
PREPARANDO
O CORPO, A ALMA E O ESPÍRITO PARA A ETERNIDADE
Estamos
concluindo mais um trimestre. Nesta última lição, estudaremos sobre o preparo
do crente para encontrar com o Senhor na eternidade. O alvo final do crente é a
vida com Cristo na eternidade e, para tanto, precisa enfrentar as oposições e
inimigos cruéis que surgem ao longo da trajetória. Essas oposições se
manifestam por meio das teologias modernas, falsos ensinos, modismos e
narrativas que surgem na intenção de fragilizar o compromisso da igreja com o
Evangelho puro e simples. Em contrapartida, a ausência de uma teologia bem
fundamentada, cristocêntrica e com propósito na eternidade, tem resultado na
pregação de um Evangelho empobrecido, sem poder do Espírito e secularizado.
Diante
desse cenário, aqueles que almejam preservar a sã doutrina precisam conhecer os
fundamentos doutrinários que regem a nossa fé (2Tm 3.15). Para tanto, a
Declaração de Fé trata-se de um importante documento elaborado pelas lideranças
da Assembleia de Deus com vistas a ajudar milhares de irmãos a compreenderem
esses fundamentos. Vale ressaltar que tais fundamentos doutrinários têm como
origem a Palavra de Deus. Conhecê-los profundamente fortalece a igreja a não
ceder aos caprichos daqueles que querem negociar valores e princípios da nossa
fé que são inegociáveis. Há, por exemplo, muitos que negam a atualidade do
batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais. Há quem negue também a
necessidade da santificação do espírito, da alma e do corpo por meio da
perseverança da fé. A oração de Paulo revela uma petição para que o Deus de paz
nos conserve plenamente irrepreensíveis para a vinda do Senhor Jesus Cristo
(1Ts 5.23).
Sobre a
santidade, adoração e liturgia, nossa Declaração
de Fé das Assembleias de Deus (CPAD) afirma: “A santificação é
obra do Espírito Santo na vida do crente regenerado e se dá de forma tanto
instantânea como progressiva. Ela é um requisito para a vida cristã, pois Deus
é Santo e puro. Ela é possível a todos os crentes, pois Jesus se ofereceu em
sacrifício para nos oferecer a salvação e santificar a sua igreja: ‘para a
santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra’ (Ef 5.26). A
santidade divina é um atributo comunicável admirável, e implica separação de
tudo o que é pecaminoso e impuro e exclusividade de vida para o serviço e
adoração a Deus, por parte daqueles que foram alcançados pelo Evangelho. Ela é
vista como um requisito para que se veja a Deus na eternidade: ‘Segui a paz com
todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor’ (Hb 12.14)”. (2025,
pp.137,138). Neste mundo, precisamos perseverar na fé e na santidade,
comprometidos com a ética cristã, para estarmos preparados para a Volta do
Senhor Jesus.