LIÇÕES BÍBLICAS CPAD
ADULTOS
1º Trimestre de 2026
Título: A Santíssima
Trindade — O Deus Único Revelado em Três Pessoas Eternas
Comentarista: Douglas
Baptista
Lição 1: O Mistério da Santíssima
Trindade
Data: 4 de janeiro de 2026
TEXTO
ÁUREO
"Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo." (Mt 3.17)
ENTENDA
O TEXTO ÁUREO:
👉 Mt 3.17 é uma das declarações mais densas de toda a Escritura.
Nela, convergem Cristologia, Trindade, missão messiânica e prazer eterno de
Deus. Vou destrinchar com mais rigor teológico, passo a passo. A frase é um
oráculo divino de identificação e aprovação. Deus Pai se manifesta audivelmente
e interpreta o que está acontecendo no batismo de Jesus. Este é (οὗτός ἐστιν)
Revelação pública e identificação messiânica. O demonstrativo “este” (οὗτος)
tem força deíctica: aponta, destaca, identifica. Não é apenas: “Eu tenho um
Filho”, mas: “É exatamente este aqui”, Jesus de Nazaré, que acabou de sair da
água, ungido pelo Espírito. Em termos narrativos, Deus está respondendo à
pergunta: “Quem é Jesus?” Logo no início do Evangelho, o Pai próprio dá a
resposta. Teologicamente, é um ato de autorrevelação divina: Deus Pai se faz
intérprete da identidade do Filho. Combate qualquer ideia de que Jesus “se
tornou” Filho só na cruz ou na ressurreição. Aqui, no início do ministério, o
Pai atesta quem Ele já é. Meu Filho (ὁ υἱός μου) Filho eterno,
Rei messiânico e Israel verdadeiro. A expressão “meu Filho” carrega camadas de
sentido bíblico: Eco de Salmo 2.7: Filho-Rei messiânico; Salmo 2.7: “Tu és meu
Filho, eu hoje te gerei.”. No contexto do Salmo 2, “Filho” é título real
messiânico. Mateus está mostrando: o Rei prometido, o Messias davídico, está
diante de João. Logo: “meu Filho” em Mateus 3.17 é, ao mesmo tempo: Cristológico,
Jesus é o Messias. O Rei chegou; o reino anunciado por João (Mt 3.2) está sendo
personificado no Filho. Eco de Êxodo 4.22 / Oséias 11.1 – Israel como filho. No
AT, Israel é chamado “meu filho” (Ex 4.22; Os 11.1). Jesus, como Filho, é
também o Israel fiel, o verdadeiro povo de Deus em uma só pessoa. Onde Israel
falhou no deserto, o Filho será obediente (note que logo após o batismo vem a
tentação no deserto). Teologicamente: Jesus é o Filho único em sentido ontológico
(Filho eterno, da mesma essência do Pai). E é também o Filho representativo,
cabeça de um novo povo, o verdadeiro Israel. Isso já derruba qualquer leitura
adocionista (como se Ele se tornasse Filho aqui) – Mateus 1–2 já mostrou Sua
origem divina. Aqui não é “adoção”, mas declaração. Amado (ὁ ἀγαπητός) Não só
amado, mas único, precioso, totalmente aceito. O adjetivo ἀγαπητός significa: Amado,
querido, estimado. Em vários contextos, tem nuance de “filho único, precioso”
(como em Gn 22 na LXX: Isaque, “teu filho amado”, o único). Teologicamente: Amor
eterno intratrinitário - O Pai não começa a amar o Filho aqui; Ele apenas
declara um amor eterno (cf. Jo 17.24). O batismo é manifestação histórica de
uma realidade eterna: o Pai sempre amou o Filho.
Contraste com Adão
e Israel:
Adão era filho de Deus em sentido criado, Israel era filho em
sentido pactual.
Ambos falharam.
Jesus é o Filho amado e fiel: nele não há falha, não há
desvio.
Henriquização
soteriológica (Reforma)
O Filho amado é aquele em quem somos aceitos.
Na teologia reformada, o crente é “aceito no Amado” (cf. Ef
1.6 – “no Amado”). Ou seja: o que o Pai diz de Cristo, por união com Cristo,
passa a ecoar sobre nós.
Em quem me comprazo (ἐν ᾧ εὐδόκησα) Plena aprovação e prazer na obediência do Servo.
O verbo εὐδοκέω significa: Ter prazer, aprovar, considerar bom, deleitar-se. A
forma aorista (εὐδόκησα) pode ser entendida como: Um ato decisivo: “Nele
manifestei meu prazer.” Ou, dentro da lógica bíblica, um resumo do prazer
eterno do Pai no Filho, agora revelado no tempo. Eco de Isaías 42.1 – Servo do
Senhor em quem o Senhor se compraz
Isaías 42.1 (LXX):
“Eis o meu servo, a quem
sustenho, o meu eleito, em quem se compraz a minha alma. Pus sobre ele o meu
Espírito…”
Perceba:
Em Mateus 3:
O Espírito desce sobre Jesus.
O Pai declara: “em quem me comprazo”.
Mateus está dizendo:
Jesus é o Servo de Isaías
– o Servo que sofreria, salvaria e estabelecería justiça (Is 42–53).
Isso liga:
Filho-Rei (Salmo 2)
Servo sofredor (Isaías)
Numa só pessoa: o Messias
cruciforme.
Prazer na obediência
perfeita:
O Pai se compraz:
Na pessoa do Filho (quem Ele é eternamente).
E na obediência do Filho (o que Ele faz na
história).
O batismo de Jesus é um
ato de submissão à vontade do Pai (cumprir toda justiça – v.15).
Logo, a frase significa
também:
“Este é o Filho que cumpre
perfeitamente o meu querer, e é por isso que tenho plena satisfação nele.”
Na teologia reformada,
isso se conecta com a obediência ativa de Cristo:
Ele não apenas morre por
nós (obediência passiva).
Ele vive perfeitamente por
nós (obediência ativa), cumprindo a Lei, para imputar a nós sua justiça.
Síntese trinitária:
Pai, Filho e Espírito em harmonia eterna
No batismo:
O Filho está nas águas, em humilde obediência.
O Espírito desce, ungindo-o para a missão.
O Pai fala, declarando amor e prazer.
Teologicamente: Não são
“modos” de um mesmo Deus se manifestando em sequência, mas três Pessoas
distintas atuando simultaneamente.
A frase “meu Filho amado”
pressupõe:
Distinção de pessoas: o Pai não é o Filho.
Comunhão eterna: o Filho é sempre objeto do amor do Pai.
“Em quem me comprazo” mostra:
O Pai não está em conflito
com a obra do Filho; Ele a aprova, a deseja, se alegra nela.
A cruz, que começa a ser
prenunciada aqui, não é plano B, mas expressão do prazer e da vontade eterna de
Deus em salvar (pacto da redenção).
Implicações soteriológicas: aceitos no Amado
O Pai diz: “Nele tenho prazer.”
Pela fé, estamos unidos a Cristo.
Logo, o que Deus declara
sobre o Filho, Ele passa a declarar, por graça, sobre aqueles que estão em
Cristo.
Em termos reformados:
Justificação: somos
declarados justos porque estamos em Cristo, o Filho amado em quem o Pai se
compraz.
Adoção: em Cristo,
deixamos de ser inimigos para sermos feitos filhos. Deus olha para nós em
Cristo.
Santificação: viver
a vida cristã é aprender a viver como quem já é aceito “no Amado”, e não como
quem tenta desesperadamente ganhar o favor de Deus.
VERDADE
PRÁTICA
A doutrina da Trindade é central à fé cristã: um só Deus em três Pessoas
que coexistem e atuam harmoniosamente na Obra da Redenção.
ENTENDA A VERDADE PRÁTICA:
👉 A Trindade não é um detalhe da fé cristã, é o seu próprio
coração pulsante: um único Deus, eternamente existente em três Pessoas
distintas, que amam, governam e agem em perfeita unidade, revelando-se na
criação, consumando-se na cruz e operando de modo harmonioso e soberano em toda
a Obra da Redenção.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Mateus 3.13-17
13 Então,
veio Jesus da Galileia ter com João junto do Jordão, para ser batizado por ele.
👉 João Batista está pregando arrependimento (3.1–12) e anunciando
a chegada do Messias. Nesse cenário, Jesus “vem” (gr. paraginetai, aparece), um
verbo que sugere entrada pública e decisiva na missão. Ele sai da Galileia,
região comum, longe do centro religioso, e se dirige ao Jordão, lugar simbólico
de novos começos (Josué 3; 2Rs 2). O Messias se coloca na fila dos pecadores,
não porque tenha pecado, mas porque assume o papel de Servo Substituto (Is 53).
Seu batismo não é para arrependimento, mas para identificação com o povo e
inauguração do seu ministério.
14 Mas
João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?
👉 Ele, porém, o dissuadia.
O batismo de João simbolizava arrependimento, e João viu que isso não se
aplicava àquele que ele sabia ser o imaculado Cordeiro de Deus (cf. Jo 1.29).
15 Jesus,
porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir
toda a justiça. Então, ele o permitiu.
👉 nos convém cumprir toda a justiça. Aqui Cristo está se identificando com os pecadores. Ele por fim
levaria os pecados da humanidade sobre si; a perfeita justiça de Cristo seria
imputada aos pecadores (2Co 5.21). Esse ato de batismo era uma parte necessária
da justiça que ele estava assegurando para os pecadores. Esse primeiro
acontecimento público de seu ministério também é rico em significado; 1)
retratou a sua morte e ressurreição (cf. Lc 12.50); 2) por meio disso,
prefigurou a importância do batismo cristão (veja nota no v. 6); 3) marcou a
sua primeira identificação pública com aqueles cujos pecados carregaria (Is
53.11; IPe 3.18) e 4) foi uma afirmação pública do seu ministério messiânico
por meio de um testemunho vindo direto do céu.
16 E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os
céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele.
👉 Jesus... o Espírito de Deus... uma voz dos céus. As três pessoas da Trindade são claramente delineadas aqui. A
ordem do Pai para que o Filho fosse ouvido e a vindicação e capacitação do
Espírito inauguraram oficialmente o ministério de Cristo.
17 E eis
que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.
👉 meu Filho amado, em quem me comprazo. Esse pronunciamento celestial combina a linguagem do Sl 2.7 com
Is 42.1, profecias que eram bem conhecidas daqueles que tinham expectativas
messiânicas. Cf. 17.5; Mc 1.11; 9.7; Lc 3.22; 9.35.
INTRODUÇÃO
O batismo de Jesus retrata um dos momentos da revelação divina sobre a
natureza trinitária de Deus. Nele, de maneira simultânea, as três Pessoas da
Trindade se manifestam: o Filho é batizado, o Espírito Santo desce como pomba e
o Pai fala dos céus. O episódio fornece uma base sólida para a doutrina da
Trindade. Nesta lição, vamos abordar o mistério da Trindade sob três aspectos:
a revelação no batismo de Jesus, a distinção e unidade das pessoas divinas e a
relevância da Trindade para a fé cristã.
👉 Daremos o ‘pontapé’ inicial desse primeiro trimestre de 2026,
abordando um tema importantíssimo para a fé cristã – é o que define se um grupo
é cristão ou não – a crença na Trindade. O batismo de Jesus nos coloca diante
de um dos momentos mais luminosos da revelação divina: a manifestação explícita
da Trindade na história. Ali, sem confusão nem separação, as três Pessoas se
revelam simultaneamente: o Filho entra nas águas, o Espírito desce em forma de
pomba e o Pai proclama Sua aprovação. Esse encontro sagrado não apenas confirma
a identidade de Cristo, mas oferece uma das bases mais sólidas para
compreendermos o Deus Triúno. Esta cena narrada em Mateus nos conduz a um dos
cenários mais profundos da revelação bíblica: às margens do Jordão, Deus Se
deixa conhecer não por conceitos abstratos, mas por meio de uma manifestação
concreta e simultânea de Sua própria vida: o Filho entra nas águas, o Espírito
Santo desce suavemente como pomba e o Pai declara Seu amor desde os céus. Esse
encontro não é mero detalhe narrativo. Ele abre diante de nós uma janela rara
para contemplarmos quem Deus é em Sua eternidade. Por isso, ao longo da
história, intérpretes como John Owen, Letham, Horton e Berkof afirmam que
Mateus 3 não apenas descreve um evento, mas revela a estrutura da fé cristã. A
doutrina da Trindade é essencial porque toca o centro da nossa confissão: Deus
é um em essência e três em Pessoa, distinto e plenamente unido. Embora
ultrapasse nossa capacidade de compreensão exaustiva, ela não é irracional.
Pelo contrário, é a resposta mais fiel ao modo como Deus Se deu a conhecer nas
Escrituras. Tentativas de simplificá-la, como fizeram antigas heresias, acabam
distorcendo a identidade do próprio Deus. Por isso, estudar a Trindade é
necessário, não para esgotá-La, mas para adorar com entendimento Aquele que se
revelou. O batismo de Jesus se destaca como uma fonte excepcional para esse
estudo. Ali, as três Pessoas agem não em sequência, mas em perfeita
simultaneidade. A voz do Pai não é a do Filho. A descida do Espírito não é a
encarnação do Verbo. Cada Pessoa cumpre Sua função, e nenhuma delas age
isoladamente. A unidade se vê na harmonia; a distinção, na atuação singular.
Como observa o Comentário Bíblico Pentecostal, o evento é uma “epifania
trinitária” que une, num único quadro, aquilo que o Novo Testamento inteiro
confirma. Ao examinarmos o texto, percebemos que Mateus usa palavras escolhidas
com precisão. A voz que vem do céu declara “Este é o meu Filho amado” (Mt
3.17). O termo “Filho” no grego huios aponta para relação eterna, não apenas
funcional. “Amado” traduz agapētos, termo usado para aquilo que é único,
precioso e distinto. A descida do Espírito “como pomba” não indica fraqueza,
mas simboliza presença criadora, como em Gênesis 1.2. Assim, o batismo nos permite
ver, no mesmo instante, a intimidade eterna da Trindade que atua na história. Estudar
essa doutrina amplia nossa visão espiritual. Sem a Trindade, a cruz perde seu
sentido, a salvação se torna incompreensível e a vida cristã perde seu
fundamento. É o Pai quem envia, o Filho quem redime e o Espírito quem aplica a
salvação ao coração humano. Onde uma Pessoa age, as outras duas estão
igualmente presentes. A fé cristã é essencialmente trinitária em sua origem,
forma e destino. Ao longo desta lição, caminharemos por três trilhas
fundamentais: como o batismo de Jesus revela a Trindade, como as Pessoas
divinas se distinguem sem dividir a essência de Deus e como essa verdade
transforma nossa compreensão da fé, da comunhão e da vida diária. O estudo não
é apenas intelectual. Ele nos chama a reconhecer que fomos criados, salvos e
selados por um Deus que vive em perfeita comunhão. E somos convidados a
participar, pela graça, dessa vida abundante. Que o mesmo Deus que Se revelou
no Jordão ilumine o nosso entendimento, fortaleça nossa fé e nos conduza à
adoração cheia de reverência diante do mistério que nos salva.
ARRINGTON, French
L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD,
2014.
BERKHOF, Louis.
Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
HORTON, Stanley.
Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
LETHAM, Robert. A
Trindade: na Escritura, História, Teologia e Adoração. São Paulo: Cultura
Cristã, 2015.
LONGMAN III,
Tremper (Ed.). Dicionário Bíblico Baker. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
OWEN, John. A
Doutrina da Trindade: Provada pela Bíblia. Edição clássica trad.
CPAD. Santíssima
Trindade (Livro de Apoio Adulto). Rio de Janeiro: CPAD..
Palavra-Chave: Trindade
(Palavra-chave é o termo ou expressão central que resume,
direciona e organiza uma ideia, tema ou conteúdo, funcionando como o ponto de foco da comunicação. Ela é
importante porque guia o leitor, clarifica o assunto principal e facilita a
compreensão, memorização e busca de informações. Para usar bem uma
palavra-chave, escolhe-se um termo preciso, repetido estrategicamente ao longo
do texto, e que represente fielmente o núcleo da mensagem, servindo como um
farol que orienta todo o desenvolvimento do conteúdo.)
ENTENDA A PALAVRA-CHAVE:
👉 A Trindade é a doutrina que afirma que Deus é um só em essência
e três em Pessoa — Pai, Filho e Espírito Santo — coexistindo eternamente em
perfeita unidade. O termo tem origem no latim Trinitas, usado por Tertuliano no
século II para sintetizar a verdade bíblica já confessada pela igreja
primitiva. Sua defesa nasce da necessidade de proteger a revelação das
Escrituras contra heresias que negavam a plena divindade do Filho e do
Espírito. Definir essa doutrina é essencial porque sem a Trindade não há
criação, encarnação, cruz, ressurreição nem salvação. Ela é a estrutura que
sustenta toda a fé cristã.
I. A
REVELAÇÃO TRINITÁRIA NO BATISMO DE JESUS
1.
O batismo do Filho: a obediência de Cristo. Jesus, o Deus encarnado (Jo 1.14), desceu às águas
do Jordão para ser batizado por João Batista (Mt 3.13). Este ato, à primeira
vista, pode parecer desnecessário, já que Jesus não era um pecador (2 Co 5.21;
Hb 4.15). Contudo, Ele disse: "Deixa por agora, porque assim nos convém
cumprir toda a justiça" (Mt 3.15). Jesus não precisava ser batizado como
uma forma de expressar arrependimento (Mt 3.6). Contudo, Ele submeteu-se a essa
tradição judaica, associando-se à condição dos pecadores que veio salvar (Mt
5.17). Assim, o batismo de Jesus é um gesto de identificação com a humanidade
pecadora e uma atitude de obediência ao plano redentor do Pai. Esse é o início
visível da missão messiânica, que culminaria na cruz (Fp 2.8).
👉 Jesus não buscou o Jordão por necessidade pessoal, mas por
fidelidade ao Pai. Mateus apresenta esse momento com precisão. O Filho eterno,
agora encarnado, aproxima-se de João para ser batizado. O gesto causa espanto,
pois o batismo de João estava ligado ao arrependimento. Jesus, porém, é
descrito em toda a Escritura como o Cordeiro sem mancha. Ele não carregava
pecado algum. Ainda assim, Ele afirma que era necessário “cumprir toda a
justiça” (Mt 3.15). A expressão justiça,
do grego dikaiosýnē, indica conformidade
perfeita com a vontade do Pai. Jesus não veio contornar o caminho da
obediência. Ele veio percorrê-lo por completo, desde o primeiro passo até a
cruz. Ao entrar nas águas, o Filho assume publicamente seu lugar ao lado
daqueles que veio redimir. Ele não se
identifica com o pecado deles, mas com a condição deles. A Bíblia de Estudo
MacArthur lembra que Jesus se apresenta como o verdadeiro Israel, que passa
pelas mesmas águas onde o povo fora purificado antes de entrar na Terra
Prometida. O Comentário Bíblico Pentecostal observa que esse gesto inaugura a
missão messiânica com um sinal claro de solidariedade: o Messias começa seu
ministério onde o pecador recomeça sua vida. Ele desce às águas como Aquele que
carrega sobre si a história humana e se dispõe a restaurá-la.
O batismo também
aponta para a perfeita submissão do Filho ao plano eterno do Pai. Stanley Horton
destaca que a obediência de Cristo não é um detalhe da salvação, mas o próprio
coração do evangelho. O Filho encarnado viveu cada ato em total conformidade com
a vontade divina. Sua descida ao Jordão antecipa sua descida ainda mais
profunda, a entrega na cruz. Paulo declara que Ele “humilhou-se a si mesmo” (Fp
2.8). O batismo é, portanto, o primeiro passo dessa jornada de autoentrega,
sinalizando que toda a vida de Jesus seria vivida em completa obediência. Esse
momento também revela que Jesus inaugurava um novo tempo na história da
redenção. O Comentário Histórico-Cultural do NT recorda que João pregava no
limiar entre a antiga e a nova aliança. Quando Jesus entra nas águas, Ele
atravessa esse limiar e introduz o Reino de Deus com autoridade. Ele não apenas
confirma o ministério de João, mas o supera, mostrando que o batismo verdadeiro
que viria não seria apenas com água, mas com o Espírito Santo. Assim, o gesto
de Jesus aponta para o que Ele mesmo realizaria: uma purificação de dentro para
fora, transformando o coração humano.
Para nós, esse ato
do Senhor não é apenas um dado histórico, mas um chamado pastoral. Se o Santo
de Deus se colocou ao lado de pecadores para cumprir a vontade do Pai, também
somos convidados a viver em obediência humilde. O batismo de Jesus nos lembra
que seguir Cristo é trilhar o caminho da entrega e da fidelidade. Ali
aprendemos que a fé verdadeira não busca atalhos. Ela se submete ao Pai e se
coloca no lugar onde Deus deseja que estejamos. Esse gesto do nosso Salvador deve
nos inspirar em nossa caminhada diária, renovando em nós um coração que deseja estar
debaixo da obediência ao Senhor, servir e viver para a glória daquele que
desceu às águas por nós.
ARRINGTON, French
L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD,
2014.
BERKHOF, Louis.
Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
HORTON, Stanley.
Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
LONGMAN III,
Tremper (Ed.). Dicionário Bíblico Baker. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
MACARTHUR, John.
Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.
2.
A descida do Espírito: a unção para o Ministério. Logo após sair das águas,
Jesus viu os céus se abrirem e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma
corpórea como uma pomba (Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.22; Jo 1.32). Essa manifestação
visível indicava ser Ele o Messias prometido, o Cristo, literalmente "o
Ungido" de Deus (Is 11.2; 4.2.1). Essa unção, porém, não deve ser
confundida como uma "adoção do Espírito", como se Jesus passasse a
ser o Messias naquele instante. Antes mesmo do batismo, Ele já era o Filho de
Deus (Lc 1.32). Portanto, a vinda do Espírito sobre Jesus na ocasião do batismo
representa sua unção pública e visível, marcando o início de seu ministério
terreno e capacitando-O para cumprir a missão redentora, conforme as profecias
messiânicas (Is 61.1,2; Lc 4.18–21).
👉 A vinda do Espírito sobre Jesus não foi um mero sinal externo, foi
a revelação pública de quem Ele sempre foi. Assim que saiu das águas, os
evangelhos registram que Jesus viu os céus se rasgarem e o Espírito descer
sobre Ele como pomba. A linguagem empregada por Mateus, Marcos e Lucas descreve
um ato divino que rompe o silêncio. O verbo grego schízō, usado por Marcos para
“rasgar” os céus, reforça que algo decisivo acontecia. Deus abria o céu para
apresentar Seu Filho como o Messias prometido. Não era um novo título. Era a
confirmação visível do que já era eterno. Esse momento não significa que Jesus
passou a ser o Cristo naquela hora. Ele sempre foi o Filho, gerado desde a
eternidade, como afirma Lucas ao registrar o anúncio do anjo a Maria. A descida
do Espírito não é adoção, mas autenticação. O Comentário Bíblico Pentecostal
observa que essa cena ecoa Isaías 11.2. O Messias seria ungido pelo Espírito
para realizar a obra redentora. O Espírito repousa sobre Ele como quem assina
um decreto celestial: o Redentor chegou. João Batista também testemunha essa
verdade ao afirmar que viu o Espírito permanecer sobre Ele, confirmando que
Jesus era Aquele que batizaria com o Espírito Santo. A manifestação do Espírito
naquele instante inaugura o ministério público de Jesus. A Bíblia de Estudo
MacArthur destaca que a presença do Espírito capacita o Servo do Senhor para
cumprir cada etapa da missão profética anunciada em Isaías 61. Ele pregaria
boas novas, libertaria os cativos, restauraria os quebrantados e proclamaria o
ano da graça de Deus. O que ocorre no Jordão é a investidura messiânica. O
Filho eterno, agora encarnado, recebe a unção visível que confirma sua missão
diante do povo. Não é que Ele estivesse espiritualmente vazio antes desse
momento. Pelo contrário. A unção revela ao mundo o que o céu sempre soube.
O gesto do Espírito
descendo em forma de pomba também comunica algo profundo sobre o caráter da
missão de Cristo. Segundo Longman III, a pomba no contexto bíblico pode
simbolizar pureza, paz e renovação. A missão do Messias não nasce da violência,
mas da mansidão. Jesus não inicia seu ministério esmagando inimigos, mas
restaurando quebrantados. A unção do Espírito o conduz a servir, a curar e a
entregar a própria vida. É o poder de Deus expresso em humildade, o mesmo poder
que o levará ao deserto para vencer o tentador e, depois, à cruz para derrotar
o pecado. Perceba que, se o próprio Jesus, o Filho eterno, exerceu seu
ministério na dependência plena do Espírito, quanto mais nós precisamos dessa
capacitação. O Espírito que ungiu Jesus agora habita em cada crente. Ele nos
forma, sustenta e envia. Aprendemos com o Jordão que ninguém cumpre a vontade
de Deus na força dos próprios braços. A vida cristã só floresce quando nos
rendemos ao mesmo Espírito que conduziu nosso Senhor. Assim, o batismo de Jesus
se torna também um chamado para buscarmos uma vida moldada, guiada e capacitada
pelo Espírito Santo.
ARRINGTON, French
L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD,
2014.
HORTON, Stanley.
Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
LONGMAN III,
Tremper (Ed.). Dicionário Bíblico Baker. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
MACARTHUR, John.
Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.
3.
A voz do Pai: a aprovação celestial. Por fim, uma voz audível do céu proclama: "Este
é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.17; Lc 3.22; Mc 1.11).
Trata-se de uma declaração solene e pública do Pai, que não apenas confirma a
identidade messiânica, mas também a divindade de Jesus. Essa afirmação remete
às mensagens messiânicas e proféticas de que Jesus é o Filho eterno, o Ungido
de Deus, aquele que agrada plenamente ao Pai (Sl 2.7; Is 4.2.1). A voz
celestial não inaugura sua Filiação, mas a proclama diante da humanidade,
confirmando a encarnação do Verbo (Jo 1.14). Desse modo, a voz de Deus no
batismo autentica não somente a missão redentora de Jesus, mas, ainda,
demonstra sua Filiação divina: Ele é o Filho em quem o Pai tem completo prazer.
👉 A cena culmina quando uma voz clara e soberana irrompe dos céus:
“Este é o meu Filho amado, em quem tenho prazer” (Mt 3.17, NVI). Não foi um
sussurro místico percebido apenas por Jesus, mas uma manifestação audível e
inconfundível, destinada a ser testemunhada. Os evangelhos indicam que a voz
foi suficientemente perceptível para que João e os presentes entendessem que
algo extraordinário estava acontecendo. Assim como no Sinai, Deus fala de modo
que Sua vontade seja conhecida, e não escondida. O Pai não veio lançar
confusão, mas revelar o Rei que estava entre eles. A finalidade dessa voz não
era inaugurar uma nova relação entre o Pai e o Filho, mas confirmar diante dos
homens o que já era verdadeiro desde toda a eternidade. A expressão grega ho huios mou ho agapētos (“meu Filho
amado”) aponta para um relacionamento único, exclusivo e anterior à criação. Louis
Berkof lembra que Cristo é Filho “não por adoção, mas por geração eterna”, e
Horton reforça que esse momento não cria a filiação; apenas a torna pública. O
Pai declara o que sempre foi: o Filho eterno se fez carne, e agora inicia
oficialmente Sua missão redentora.
Essa declaração
também cumpre as Escrituras. O eco do Salmo 2.7 e de Isaías 42.1 revela que o
Messias prometido é ao mesmo tempo o Servo perfeito que vive para agradar ao
Pai. A frase “em quem me comprazo” traduz o verbo grego eudokeō, que descreve
prazer profundo, aprovação absoluta. Não há falha, hesitação ou sombra de
desagrado no Filho. Ele é aquele em quem o Pai encontra perfeita alegria, como
destacam MacArthur e o Comentário Beacon. Essa cena ensina que a vida cristã
começa ouvindo a voz que revela quem Cristo é. O Pai chama nossos olhos para
Jesus e nos convida a confiar nEle como único Salvador. Assim como a voz do céu
confirmou a identidade do Filho, também nos lembra que nossa fé repousa em uma
revelação objetiva e histórica. Não seguimos mitos, mas um Deus que fala, que
age e que se deu a conhecer plenamente no Filho. Por fim, a declaração divina
confronta nossa própria caminhada. Se o Pai encontra prazer total em Cristo,
então seguir Jesus é aprender a encontrar prazer no que o Pai ama. A Filiação
eterna do Filho nos chama a viver como filhos adotados, refletindo Sua
obediência, Seu caráter e Seu compromisso com a vontade do Pai. A mesma voz que
ecoou no Jordão continua nos direcionando hoje: olhar para Cristo, ouvir Sua
Palavra e viver para a glória do Deus triúno.
ARRINGTON, French
L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.
BERKOF, Louis.
Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã.
HORTON, Stanley.
Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.
KEENER, Craig.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.
LONGMAN III,
Tremper (Ed.). Dicionário Bíblico Baker. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.
LETHAM, Robert. A
Trindade: na Escritura, História, Teologia e Adoração. São Paulo: Cultura
Cristã.
OWEN, John. A
Doutrina da Trindade: Provada pela Bíblia.
Bíblias de Estudo:
Pentecostal (Edição Global CPAD); Aplicação Pessoal; MacArthur; Plenitude.
SINOPSE I
A revelação da Trindade
no batismo de Jesus confirma que o Pai, o Filho e o Espírito Santo coexistem
eternamente e atuam harmoniosamente na obra da redenção.
AMPLIANDO O
CONHECIMENTO
"DEUS É TRINO (isto
é, três-em-Um) – Ele é um Deus, um único Ser (Dt 6.4; Is 45.21; 1 Co 8.5–6; Ef
4.6; 1 Tm 2.5), que se revelou em três pessoas distintas (não separadas), mas
inter-relacionadas e completamente unidas: Pai, Filho e Espírito Santo (p.ex.,
Mt 28.19; 2 Co 13.14; 1 Pe 1.2). Cada pessoa é completamente divina (isto é,
completamente Deus) e igual às outras; no entanto, não são três Deuses, mas
apenas um Deus." Amplie mais o seu conhecimento, lendo a obra Bíblia de
Estudo Pentecostal Edição Global, editada pela CPAD.
AUXÍLIO
BIBLIOLÓGICO
"BATISMO. O ritual
iniciatório do cristianismo. O rito é de grande importância para conectar o
indivíduo a Cristo e à comunidade maior de crentes. O batismo carrega uma igual
medida de simbolismo e tradição, evocando uma conexão entre a circuncisão
pactuada e a purificação ritual do AT e a regeneração e renovação do NT. O
precursor imediato do batismo cristão foi o batismo de João Batista (Mt 3 e
paralelos), um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados, preparando
os corações dos pecadores para a vinda do Messias. Jesus, embora sem pecado
algum, foi batizado por João para 'cumprir toda a justiça' (Mt 3.15, NVI),
identificando-se assim com os pecadores e com a missão de redenção que o Pai
lhe havia confiado. João havia predito que o Messias traria "o batismo com
o Espírito e com fogo" (Mt 3.11). Os discípulos de Jesus continuaram o
batismo de João durante o seu ministério terreno (Jo 4.1,2).
O batismo foi imediatamente importante na
Igreja Primitiva, pois Jesus ordenara aos discípulos: '... fazei discípulos
[...] batizando-os' (Mt 28.19, ARA). Após a morte e a substituição de Judas,
entre os 'que conviveram conosco [...] desde o batismo de João' (At 1.21,22). O
primeiro sermão cristão foi: 'Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado'
(2.38). Os apóstolos lideraram os novos crentes em Cristo imediatamente ao
batismo (2.13,38; 8.9,10; 10.48; 16.15,33; 18.8; 19.5; 22.16)' (LONGMAN III,
Tremper (Ed.). Dicionário Bíblico Baker. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.76).
II – A
DISTINÇÃO E A UNIDADE DAS PESSOAS DIVINAS
1.
Unidade e distinção pessoal. A doutrina da Trindade afirma que Deus é uma só
essência (Gr. ousia), mas subsiste em três pessoas distintas (Gr. hipóstases).
A Obra da Redenção, por exemplo, é trinitária em sua essência: o Pai planeja e
elege (Ef 1.4); o Filho executa a obra expiatória (Jo 3.16; Hb 9.12); e o
Espírito aplica os benefícios da salvação (Tt 3.5; Rm 8.16). Assim, a unidade
divina, longe de contradizer a Trindade, é enriquecida por ela, revelando um
Deus que é, ao mesmo tempo, uno em essência e Triúno em Pessoa. O Deus bíblico
não é uma unidade absoluta, monolítica ou impessoal, mas sim uma unidade
composta e dinâmica, eternamente subsistente em três pessoas distintas: Pai,
Filho e Espírito Santo.
👉 Falar sobre a Trindade é entrar no centro do mistério de Deus; É
falar daquilo que é incompreensível. Santo Agostinho contribuiu para o dogma da
Santíssima Trindade ao defender que há uma única natureza divina subsistindo em
três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Ele formulou a ideia de que Deus é
uma só essência em três pessoas distintas, e enfatizou que todas as operações
externas de Deus são obras conjuntas das três pessoas. Para Agostinho, o
Espírito Santo é o elo que une o Pai e o Filho em um vínculo de amor, e essa
união se estende aos cristãos, tornando a Igreja o "templo do Espírito
Santo".
Não tratamos de um conceito abstrato, mas
da forma como o Deus Vivo se revelou. A Escritura afirma que Ele é um só Deus,
eterno e soberano, mas que existe pessoalmente como Pai, Filho e Espírito
Santo. A fé cristã nasce dessa revelação. A Trindade não é um detalhe da
doutrina, mas o próprio fundamento da vida cristã, da adoração e da salvação. A
Bíblia descreve Deus como uma única ousia, uma só essência divina,
sem divisão ou partes. Porém essa essência subsiste em três hypóstaseis,
três Pessoas reais e distintas. O termo não significa “máscara” ou “modo de
operação”, mas pessoa plena, com consciência e vontade. Anthony Palma observa
que a revelação bíblica não permite reduzir a Trindade a funções temporárias de
Deus, mas afirma distinções pessoais eternas. O Pai não é o Filho, o Filho não
é o Espírito e o Espírito não é o Pai. Ainda assim, os três são igualmente
Deus. Esta é a unidade que ultrapassa qualquer unidade humana. Essa unidade
essencial aparece com força na obra da redenção. Paulo mostra que o Pai
planejou e elegeu em amor “antes da criação do mundo” (Ef 1.4). Ele é a fonte
de toda graça. O Filho, o Verbo eterno feito carne, realiza a expiação ao
entregar Sua vida por nós (Jo 3.16; Hb 9.12). Ele não age independentemente do
Pai, mas em perfeita harmonia com Sua vontade. Já o Espírito Santo torna essa
obra viva dentro de nós. Ele regenera, renova e testemunha ao nosso espírito que
somos filhos de Deus (Tt 3.5; Rm 8.16). French Arrington destaca que a salvação
só é plenamente compreendida quando percebemos essa obra triúna operando em
cada etapa da jornada do cristão.
A Trindade não é uma soma de três deuses, nem uma unidade rígida e
impessoal. O Deus da Bíblia é profundamente relacional. Ele existe
eternamente em perfeita comunhão, amor e cooperação entre o Pai, o Filho e o
Espírito. A unidade divina não sufoca a distinção e a distinção não ameaça a
unidade. Como observam os Comentários Bíblicos Beacon e Horton, o ser de Deus é
dinamismo puro, um compartilhar eterno de glória e vontade. A comunhão que
buscamos na igreja nasce justamente dessa realidade divina. Esse entendimento
também molda nossa vida prática. Se Deus é comunhão eterna, então viver
isolado, fechado em si mesmo, não combina com a fé cristã. Somos chamados a
refletir esse relacionamento divino em nossas relações, em nossa vida de
serviço e nas nossas escolhas diárias. Deus não nos salvou apenas
individualmente. Ele nos inseriu na comunidade dos santos para aprendermos a
amar como Ele ama. A Trindade se torna, assim, não apenas uma doutrina para
estudar, mas um espelho para transformar nossa vida.
A doutrina da Trindade também fortalece
nossa confiança. Se o Pai planejou, o Filho realizou e o Espírito aplica, então
nossa salvação está segura nas mãos do Deus Triúno. Cada Pessoa se move em
direção à nossa redenção. Não nos aproximamos de um Deus distante, mas de um
Pai que nos escolheu, de um Filho que nos amou até a morte e de um Espírito que
habita em nós. A Trindade é a garantia de que Deus se envolve com a história e
com cada detalhe de nossa vida. Quando compreendemos esse mistério, não com
explicações frias, mas com adoração, algo muda dentro de nós. A doutrina deixa
de ser teoria e se torna um convite a conhecer mais profundamente o Deus que
nos criou e nos salvou. Somos chamados a responder com fé, obediência e
comunhão. A unidade e a distinção do Deus Triúno revelam que Ele é maior do que
podemos imaginar, mas também mais próximo do que ousamos pensar. A Trindade nos
leva a dobrar os joelhos e a levantar os olhos.
ARRINGTON, French
L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.
HORTON, Stanley.
Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.
KEENER, Craig S.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.
PALMA, Anthony D. O
Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD.
Comentário Bíblico
Beacon. Rio de Janeiro: CPAD.
Bíblia de Estudo
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.
Bíblia de Estudo
Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD.
2.
A Pluralidade na Unidade no Antigo Testamento. O Antigo Testamento
aponta para uma pluralidade dentro da unidade divina. O nome hebraico Elohim,
plural de Eloah, é utilizado para designar o Deus único de Israel: "No
princípio, criou Deus (Elohim) os céus e a terra" (Gn 1.1). No texto, o
sujeito (Deus) está no plural, enquanto o verbo "criou" (bara) está
no singular, indicando uma pluralidade pessoal em uma única essência divina.
Essa estrutura gramatical incomum reaparece em outros textos bíblicos (cf. Gn
1.26; 3.22; 11.7; Is 6.8). Essas passagens evidenciam que o monoteísmo do AT
não nega a Trindade, mas admite pluralidade interna na divindade. Assim sendo,
a doutrina da Trindade não contraria a unidade de Deus conforme revelada nas
Escrituras, mas a completa e a qualifica.
👉 A revelação do Deus único no Antigo Testamento nunca foi plana
ou monolítica. Desde as primeiras linhas da Escritura, percebemos que a unidade
divina carrega em si uma riqueza interna que ultrapassa a simplicidade
numérica. Em Gênesis 1.1, o termo Elohim, um plural majestoso – como explicam
os exegetas em sua maioria, é combinado ao verbo “criou” no singular. Essa
construção incomum, observada por comentaristas como Champlin e pelo Comentário
Pentecostal do Novo Testamento, não sugere politeísmo, mas aponta para uma
pluralidade pessoal dentro da única essência divina. A Bíblia abre sua
narrativa mostrando que o Deus que cria é ao mesmo tempo um e mais do que
simples unidade aritmética. Essa tensão santa reaparece em diversos momentos
das Escrituras. Quando Deus declara “Façamos o homem à nossa imagem” (Gn 1.26),
o hebraico usada para “façamos” (naʿaseh) preserva o plural. O mesmo ocorre em
Gênesis 3.22 e 11.7, e mais tarde na visão de Isaías, quando o Senhor pergunta:
“Quem irá por nós?” (Is 6.8). A pluralidade dos pronomes não compromete o
monoteísmo de Israel, mas revela que o Deus das alianças não é uma unidade
solitária. Como observam Fee e Arrington, a Escritura mantém a tensão entre
unidade absoluta e diversidade pessoal, preparando o caminho para a revelação
plena no Novo Testamento.
Muitos teólogos e tradições cristãs, como
a Igreja Católica e as principais denominações protestantes, usam analogias com
cautela, pois a natureza de Deus é considerada um mistério que transcende a
compreensão humana plena; Mas podemos tomar a liberdade para tentar explicar a
Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) usando a composição do ser humano
(corpo, alma e espírito) como um modelo de "três em um", um conceito
teológico conhecido; Mas é importante notar que ela tem limitações
significativas e não é universalmente aceita como uma explicação perfeita para
a Trindade, lógico! Mas serve para nos dar uma luz sobre o assunto.
O Antigo Testamento, portanto, não
apresenta a Trindade de maneira explícita, mas acena para ela de forma coerente
e progressiva. O próprio movimento da revelação bíblica indica que Deus
escolheu anunciar-se gradualmente. O Espírito de Deus paira sobre as águas no
início da criação (Gn 1.2), fala pelos profetas e vivifica o povo de Deus. O
Anjo do Senhor aparece com autoridade divina, recebe adoração e fala como Deus.
O Comentário Beacon observa que esse “Anjo” muitas vezes se identifica com
YHWH, mas se distingue dele, antecipando a revelação do Filho. Esses fios
narrativos criam um tecido teológico consistente: o Deus único age, fala e se
manifesta por meio de múltiplas expressões pessoais, sem jamais dividir Sua
essência. A unidade divina permanece intacta, mas é uma unidade viva,
relacional e cheia de movimento. É por isso que Amos Yong destaca que a
pneumatologia e cristologia do Antigo Testamento, mesmo sem nomear “Trindade”,
constroem a base para compreendermos o único Deus como comunhão eterna de amor.
Essa revelação não é apenas doutrinária. Ela molda nossa fé e nossa
espiritualidade. Se Deus é eternamente relacional, então fomos criados para
viver em comunhão, não no isolamento. Se o Pai, o Filho e o Espírito agem em
perfeita harmonia, a igreja é chamada a refletir essa harmonia em suas
relações, ministérios e decisões. A Trindade não é um enigma matemático, mas o
fundamento da vida cristã.
Assim, longe de contradizer o monoteísmo
bíblico, a doutrina da Trindade o aprofunda. Deus é um, mas Sua unidade é plena
de vida, amor e comunhão. O Antigo Testamento prepara o terreno. O Novo
Testamento revela a plenitude. E nós, como povo redimido, adoramos o Deus que
sempre foi Pai, sempre foi Filho e sempre foi Espírito, desde antes de tudo
existir.
ARRINGTON, French
L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
BEACON, Declaração
de Fé Wesleyana e Comentário Bíblico. Comentário Bíblico Beacon. Kansas City:
Casa Nazarena de Publicações, 1969.
CHAMPLIN, Russel
Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo:
Hagnos, 2005.
FEE, Gordon D.
Paul, the Spirit, and the People of God. Peabody: Hendrickson, 1996.
YONG, Amos.
Renewing the Christian Mind. Waco: Baylor University Press, 2016.
3.
A Trindade Explicitada no Novo Testamento. A Trindade não é vista como três deuses, mas como
três Pessoas em um único Deus. Por exemplo, na fórmula batismal
"batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt
28.19); o substantivo singular "nome" (Gr. ónoma), indica uma só
essência, seguida por três Pessoas distintas. O mesmo ocorre na bênção apostólica
"a graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do
Espírito Santo sejam com vós todos" (2 Co 13.13); esse texto associa as
três Pessoas de modo equitativo. Ainda, as Escrituras afirmam que fomos
"eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito,
para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pe 1.2); aqui a
participação das três Pessoas divinas na obra da salvação é nitidamente
evidenciada. E Paulo acrescenta "há um só corpo e um só Espírito... um só
Senhor... um só Deus e Pai de todos" (Ef 4.4-6); essa tríade (Espírito,
Senhor, e Deus Pai) reflete obviamente a estrutura trinitária da divindade.
👉 O Novo Testamento rompe qualquer dúvida sobre a identidade do
Deus revelado nas Escrituras. Ele não apresenta três deuses competindo entre
si, mas um único Deus que se manifesta eternamente em três Pessoas distintas.
Essa verdade, que o Antigo Testamento preparou de forma progressiva, é
declarada com clareza por Jesus ao ordenar que seus discípulos batizassem as
nações “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). O termo grego
traduzido por “nome” é ónoma, singular, e indica uma única essência
compartilhada por três Pessoas reais. A fórmula batismal não é apenas liturgia;
é teologia revelada na prática da igreja. Essa unidade na diversidade se torna
ainda mais evidente quando Paulo encerra sua segunda carta aos coríntios com a
bênção apostólica. Ele coloca lado a lado a graça de Cristo, o amor do Pai e a
comunhão do Espírito (2 Co 13.13). No original, não há hierarquia entre eles;
há igualdade de honra e participação. O Comentário Pentecostal do NT destaca
que essa tríplice bênção só faz sentido se as três Pessoas partilham da mesma
natureza divina, mas exercem funções diferentes na vida do povo de Deus. A
igreja primitiva já vivia essa realidade antes mesmo de sistematizá-la. Pedro
reforça essa harmonia trinitária ao descrever a salvação como obra conjunta do
Pai, do Filho e do Espírito. Fomos “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”,
somos “santificados pelo Espírito” e conduzidos à obediência e à aspersão do
sangue de Jesus Cristo (1 Pe 1.2). Aqui, três ações inseparáveis revelam uma
mesma operação divina. Como observam Menzies e Arrington, a salvação não é
fragmentada; é um ato trinitário completo. O Pai planeja, o Filho redime, o
Espírito aplica. A união dessas obras não apenas confirma a Trindade, mas
demonstra como ela sustenta a fé cristã na prática.
Paulo retoma essa estrutura ao ensinar
sobre a unidade da igreja em Efésios 4.4-6. Ele afirma que há “um só Espírito”,
“um só Senhor” e “um só Deus e Pai de todos”. Essa tríade, presente no
vocabulário paulino, não é casual. Ela expressa o modo como o Deus triúno age
para manter sua igreja unida. O Comentário Histórico-Cultural observa que Paulo
usa essas expressões como confissão litúrgica, mostrando que a comunidade
cristã já reconhecia a obra coordenada das três Pessoas. Essa revelação molda
nossa espiritualidade. Não adoramos um Deus distante e impessoal. Vivemos
diante do Pai que nos escolhe, do Filho que nos resgata e do Espírito que nos
conforma à imagem de Cristo. A vida cristã só floresce quando aprendemos a
discernir a ação das três Pessoas e a responder a elas com fé, obediência e
gratidão. Compreender a Trindade não é um exercício teórico; é abrir o coração
para o modo como Deus se deu a conhecer, para que vivamos em comunhão com Ele e
refletindo Sua glória.
ARRINGTON, French
L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
MENZIES, Robert P. Empowered
for Witness: The Spirit in Luke-Acts. Sheffield: Sheffield Academic Press,
1994.
KEEFER, Craig S.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
SINOPSE II
A unidade e a distinção
das Pessoas divinas mostram que a Trindade não é três deuses, mas um só Deus em
essência, revelado como Pai, Filho e Espírito Santo.
AUXÍLIO
BIBLIOLÓGICO
"DEUS. O nome
pessoal de Deus mais importante é Yahweh (YHWH), que é traduzido na maioria das
bíblias por 'O Senhor'. Na sarça ardente, no deserto de Horebe, Deus
primeiramente revelou a Moisés o seu nome pessoal em forma de sentença: 'EU SOU
O QUE SOU' (Êx 3.13-15). Embora ponto de debate, o nome divino "YHWH"
parece originar-se de uma forma abreviada dessa frase. Jevvá, que falou com Moisés
e com seu povo na época do Êxodo, é o Deus que estava com Abraão, Isaque, Jacó.
De acordo com o testemunho de Jesus, 'o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o
Deus de Jacó' é identificado como o Deus 'dos vivos' (Mt 22.32). [...] O Deus
cristão da Bíblia é o Deus trino. Deus é um, porém existe em três pessoas
distintas: o Pai, o Filho e o Espírito (Mt 28.19). O Filho é um com o Pai (Jo
10.30) e é identificado também como 'Filho do homem' e 'Senhor' e 'Deus' (Mt
1.25; Jo 20.28; 2 Co 3.17,18; Gl 3.28; 5.3,4; 10.16; 1 Tm 3.16; Tt 2.13; 2 Pe
1.1). Todos os três compartilharam a mesma obra da criação (Gn 1.1-3), salvação
(1 Pe 1.2), habitação (Mt 28.18-20; At 16.6; Jo 14.17; 1 Co 3.4.2)"
(LONGMAN III, Tremper (Ed.). Dicionário Bíblico Baker. Rio de Janeiro: CPAD,
2023, p.76).
III – A
RELEVÂNCIA DA TRINDADE PARA A FÉ CRISTÃ
1.
Desenvolvimento doutrinário da Trindade. A doutrina da Trindade não é uma elaboração tardia
da fé cristã, ela emerge das Escrituras como a revelação progressiva do Deus
vivo (Dt 6.4; Mc 12.29; Rm 1.3,4; Is 7.14; Jo 16.13; 2 Co 3.17). Sua plena
compreensão foi definida nos primeiros séculos da Igreja. O Concílio de Niceia
(325 d.C.) proclamou que o Filho é "da mesma substância" (Gr.
homoousios) do Pai, condenando a ideia de que Ele fosse uma criatura exaltada.
O Concílio de Constantinopla (381 d.C.) completou a formulação trinitária ao
afirmar a divindade do Espírito Santo. Desde os primeiros séculos, estudiosos
da fé cristã têm ensinado a perfeita unidade em Deus, sem confundir a identidade
de cada pessoa divina. Assim, aprendemos que o Pai, eterno e não gerado, é a
fonte; o Filho é gerado do Pai; e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.
Desse modo, o apóstolo Paulo ensina a natureza trinitária da espiritualidade
cristã: o cristão ora ao Pai, por meio do Filho, no poder do Espírito Santo (Ef
2.13,18).
👉 Desde os primeiros passos da fé cristã, a igreja jamais adorou
três deuses. Ela confessava um único Deus vivo, exatamente como as Escrituras
afirmam: “O Senhor é o nosso Deus, o Senhor é o único” (Dt 6.4). Jesus
reafirmou essa mesma verdade em sua própria pregação (Mc 12.29). No entanto, ao
mesmo tempo em que a comunidade cristã proclamava a unidade divina, ela
experimentava a ação distinta do Pai, do Filho e do Espírito. A fé da igreja
nascia, portanto, dentro de uma tensão sagrada: um Deus, três Pessoas. Não era
uma invenção tardia, mas a leitura fiel do que o próprio Deus demonstrava em
sua obra redentora. Os primeiros cristãos não elaboraram sistemas filosóficos
sobre Deus; eles descreveram o que viram. Eles viram o Filho encarnado,
verdadeiro homem e verdadeiro Deus (Rm 1.3,4). Viram o Espírito agir com
autoridade divina, guiando, consolando e revelando a verdade, exatamente como
Jesus prometera: “Ele os guiará a toda a verdade” (Jo 16.13). E viram o Pai
conduzindo toda a história da salvação. A igreja primitiva não precisou
inventar uma doutrina trinitária; ela apenas se curvou diante de uma revelação
que se impunha. Com o crescimento da igreja, surgiram interpretações distorcidas
que tentavam reduzir Cristo a uma criatura exaltada ou negar a divindade plena
do Espírito. Tais ideias ameaçavam o próprio evangelho, porque, se Cristo não
fosse Deus, sua obra não teria poder para salvar; e, se o Espírito não fosse
Deus, não haveria nova criação no coração humano. A necessidade de formular uma
doutrina clara não nasceu de debates acadêmicos, mas da urgência pastoral de
proteger a fé dos discípulos. Como explica Horton, a sã doutrina é sempre
resposta à verdade de Deus revelada na história e vivida pela igreja.
Foi nesse contexto que o Concílio de
Niceia, em 325 d.C., afirmou que o Filho é homoousios com o Pai, isto é, “da
mesma substância”. Em grego, o termo carrega a ideia de compartilhar a mesma
essência divina. A igreja apenas colocou em palavras aquilo que já cria: que o
Pai e o Filho são eternos e igualmente Deus. Niceia não acrescentou algo novo à
fé cristã; apenas declarou o que o Novo Testamento sempre ensinou. Como indica
o Comentário Pentecostal, essa afirmação preservou a verdade bíblica contra
qualquer diluição da divindade de Cristo. Algumas décadas depois, o Concílio de
Constantinopla (381 d.C.) completou essa confissão ao afirmar a plena divindade
do Espírito Santo. Essa decisão não foi apenas teórica, mas profundamente
prática. Negar a divindade do Espírito destruiria a própria experiência cristã
de santificação, consolo e poder. Como argumenta Gordon Fee, a vida do cristão
é impossível sem o Espírito que procede do Pai e do Filho. A igreja reconheceu
oficialmente aquilo que sempre viveu: o Espírito é Deus, eterno, pessoal,
atuante.
Desde então, a fé cristã confessa uma
única essência divina compartilhada por três Pessoas distintas. O Pai é eterno
e não gerado, fonte de toda a divindade. O Filho é eternamente gerado do Pai, e
o Espírito procede do Pai e do Filho. Essa linguagem, presente no ensino dos
pais da igreja, não tenta explicar o mistério, mas preservá-lo. Como lembra
Champlin, ao falar da Trindade não explicamos Deus; apenas guardamos os limites
da revelação, sem confundir as Pessoas nem separar a essência.
Essa fé molda
profundamente a espiritualidade cristã. Paulo afirma que o cristão tem acesso
ao Pai, “por meio de Cristo”, “no Espírito” (Ef 2.18). Esse movimento
trinitário não é apenas teologia; é vida diária. Oramos ao Pai porque Ele nos
recebe. Oramos por meio do Filho porque Ele é o caminho. Oramos no Espírito
porque é Ele quem vivifica a nossa devoção. Compreender a Trindade não é uma curiosidade
acadêmica. É aprender a viver diante do Deus que se revelou assim: Pai que nos
amou, Filho que nos salvou, Espírito que nos santifica.
ARRINGTON, French
L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
CHAMPLIN, Russell
Norman. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. São Paulo:
Hagnos, 2015.
FEE, Gordon D.
Paul, the Spirit, and the People of God. Peabody: Hendrickson, 1996.
HORTON, Stanley M.
Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
2.
Implicações doutrinárias. A negação da Trindade resultou em heresias. O triteísmo (crença em três
deuses separados) viola a unidade de Deus, pois a Bíblia revela a existência de
"um só Deus" (1 Co 8.6). O unitarismo afirma que somente o Pai é
Deus, negando a divindade de Cristo e do Espírito Santo, contrariando as
Escrituras que ensinam a divindade de ambos (Jo 1.1; At 5.3,4). O unicismo (ou
modalismo), ensina que Deus se manifesta em três formas sucessivas, porém, no
batismo de Jesus está claro que as três pessoas são distintas e se manifestaram
simultaneamente (Mt 3.16,17). Assim sendo, o monoteísmo bíblico ensina que
"há um só Deus que subsiste em três pessoas distintas". A compreensão
distorcida dessa doutrina tem sérias implicações para a salvação: "E a
vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus
Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). A doutrina da Trindade é inseparável
do Evangelho, pois o Deus que salva é o mesmo Deus que se revela.
👉 As distorções sobre a Trindade sempre produziram caminhos
perigosos, porque qualquer erro na compreensão de quem Deus é inevitavelmente
corrompe a fé e a vida cristã. Alguns negam a Triunidade e, ao fazê-lo, criam
versões fragmentadas do próprio Deus.
O triteísmo vê o Pai, o Filho e o
Espírito como três deuses independentes, ferindo o testemunho claro das
Escrituras de que há “um só Deus” (1 Co 8.6). Os comentaristas destacam que
essa forma de leitura rompe a unidade divina e cria uma divindade que a Bíblia
jamais ensinou.
O unitarismo, por sua vez, eleva o Pai
como o único Deus verdadeiro, mas suprime a divindade plena do Filho e do
Espírito. No entanto, a Palavra é explícita: o Logos é Deus (Jo 1.1) e o
Espírito Santo é tratado como Deus em Atos 5.3-4. A negação de Sua divindade
fere a própria estrutura da revelação bíblica. Como afirma MacArthur, reduzir
Cristo a menos do que Deus é desmontar o próprio Evangelho.
O unicismo, conhecido também como
modalismo, afirma que Deus apenas se manifesta em três modos diferentes ao
longo da história, e não como três Pessoas distintas. Essa leitura ignora o
batismo de Jesus, onde a Trindade irrompe simultaneamente na história: o Filho
desce às águas, o Espírito repousa sobre Ele, e o Pai declara desde os céus. O
texto grego reforça essa simultaneidade ao empregar verbos distintos de ação
contínua (katabainō para “descer”, laleō para “falar”). Como destaca Anthony
Palma, este é o maior golpe contra o modalismo.
Quando a doutrina
da Trindade é mal compreendida, toda a fé cristã se desorganiza. Se o Filho não
é Deus, Sua obra não pode salvar. Se o Espírito não é Deus, Ele não pode
regenerar. Se o Pai age sozinho, o Evangelho deixa de ser uma ação perfeita da
comunhão divina. Por isso Jesus afirma que a vida eterna consiste em conhecer o
único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem Ele enviou (Jo 17.3). O
conhecimento de Deus nunca é opcional para a salvação. O monoteísmo bíblico não
afirma três deuses, nem um Deus solitário, nem um Deus que veste máscaras. Ele
declara um único Deus que subsiste eternamente em três Pessoas distintas e
eternamente relacionadas. Como observa Gordon Fee, a beleza do Cristianismo é que
o Deus que nos chama à comunhão é Ele mesmo comunhão perfeita. A Trindade não é
um detalhe teológico, mas o coração da fé cristã, pois o Deus que salva é o
Deus que se revela. Negá-la é comprometer o Evangelho. Compreendê-la é adorar
com entendimento.
PALMA, Anthony D.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
FEE, Gordon D.
Paul, the Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.
MACARTHUR, John.
Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
CHAMPLIN, R. N. O
Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2019.
SINOPSE III
A doutrina da Trindade é
indispensável para a fé cristã, pois revela o Deus que salva e garante a
integridade do Evangelho.
CONCLUSÃO
Compreender a Trindade é fundamental para manter a fidelidade
doutrinária. Ela não apenas protege a integridade da revelação de Deus, mas
também sustenta toda a estrutura da salvação. Crer na Trindade é crer no Deus
que salva e que se manifesta plenamente como Pai, Filho e Espírito Santo. Por
isso, a doutrina da Trindade deve ser confessada, celebrada e ensinada como um
fundamento inegociável da fé cristã.
👉 Compreender quem Deus é sempre foi central para a fé cristã.
Quando a Trindade é negada ou distorcida, toda a estrutura do Evangelho se
abala, porque deixamos de lidar com o Deus que se revelou. A Escritura insiste
que há um único Deus verdadeiro, mas também revela três Pessoas divinas que
agem, falam e se relacionam entre si. Por isso, heresias como o triteísmo
surgem quando a unidade divina é fragmentada e o Pai, o Filho e o Espírito são
tratados como três deuses independentes. O testemunho bíblico, porém, permanece
firme ao declarar que há “um só Deus” (1 Co 8.6). Como lembra a Bíblia de
Estudo MacArthur, a unidade trinitária não é matemática, mas ontológica: Deus é
um em essência, mas três em pessoa. Outras distorções seguem rumo inverso, como
o unitarismo, que preserva a unidade, mas suprime a plena divindade do Filho e
do Espírito. Contudo, João afirma de forma contundente que o Logos “era Deus”
(Jo 1.1), e Pedro identifica o Espírito Santo como Deus ao confrontar Ananias e
Safira (At 5.3-4). O modalismo, por sua vez, tenta explicar o mistério
reduzindo as três Pessoas a três modos de atuação divina. Mas o batismo de
Jesus desmente essa leitura, porque ali as três Pessoas atuam simultaneamente:
o Filho desce às águas, o Espírito desce sobre Ele e o Pai fala desde os céus.
O verbo grego usado para “descer”, katabainō, descreve uma ação visível, pontual
e independente, reforçando a distinção pessoal que o modalismo ignora. Como
destaca Anthony Palma, esse episódio é uma das evidências mais sólidas da
Triunidade revelada na história. A fé cristã sempre confessou um monoteísmo
trinitário: um só Deus em três Pessoas eternas. Negar qualquer uma dessas
verdades compromete o próprio Evangelho. Se o Filho não é Deus, Sua obra não é
suficiente para salvar. Se o Espírito não é Deus, Ele não pode regenerar,
santificar ou habitar em nós. E se o Pai age sozinho, sem o Filho e sem o
Espírito, o plano redentor se torna incoerente com a própria revelação bíblica.
Jesus afirmou que a vida eterna consiste em conhecer o Pai e o Filho (Jo 17.3),
mostrando que a salvação é inseparável da revelação trinitária. Como diz Gordon
Fee, a beleza do cristianismo é que Deus nos chama à comunhão a partir da Sua
própria comunhão eterna. A Trindade não é um detalhe doutrinário, mas o coração
pulsante da fé, porque o Deus que salva é o mesmo Deus que se revela. Ao
concluir esta importante lição, precisamos extrair três aplicações práticas
para a vida do nosso aluno:
1. Cultive uma vida devocional que adore
ao Pai, ao Filho e ao Espírito, reconhecendo que cada Pessoa divina atua de
forma única para sua salvação e santificação.
2. Leia as Escrituras buscando perceber a
ação da Trindade, pois isso fortalecerá sua fé e corrigirá percepções
distorcidas que ameaçam a compreensão do Evangelho.
3. Viva com segurança espiritual, sabendo
que sua salvação é obra do Deus trino: planejada pelo Pai, realizada pelo Filho
e aplicada pelo Espírito.
PALMA, Anthony D.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
FEE, Gordon D.
Paul, the Spirit, and the People of God. Grand Rapids: Baker Academic, 1996.
MACARTHUR, John. Bíblia
de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
CHAMPLIN, R. N. O
Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2019.
REVISANDO O CONTEÚDO
1.
Por que
Jesus desceu às águas do Jordão para ser batizado por João Batista, se ele não
precisava ser batizado como expressão de arrependimento?
Porque Ele quis
identificar-se com os pecadores e cumprir toda a justiça.
2.
O que
significava a manifestação visível do Espírito no batismo de Jesus?
Foi a unção pública e
visível para o início do seu ministério messiânico.
3.
O que
afirma a doutrina da Trindade no que diz respeito à unidade e distinção pessoal
de Deus?
Que Deus é um só em
essência, mas subsiste em três Pessoas distintas.
4.
Qual a
relevância do desenvolvimento doutrinário da Trindade para a fé cristã?
Preservar a verdade do
Evangelho e a integridade da revelação de Deus.
5.
Explique
a diferença entre triteísmo, unitarismo e unicismo.
O triteísmo crê em três
deuses separados; o unitarismo nega a divindade do Filho e do Espírito; o
unicismo ensina que Deus se manifesta em modos diferentes, mas não como Pessoas
distintas.
SUBSÍDIOS
ENSINADOR CRISTÃO
O MINISTÉRIO DA
SANTÍSSIMA TRINDADE
Caríssimo(a)
professor(a), a santa paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo seja com
você! Estamos iniciando um novo trimestre de estudos com a revista Lições
Bíblicas Adultos, editada pela CPAD. Nesta nova oportunidade, estudaremos sobre
a natureza de Deus, que se revela em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Na Teologia, essa doutrina é conhecida como Doutrina da Trindade.
A estudo sobre a natureza
trinitária de Deus é um dos ensinamentos mais importantes da fé cristã. Ele
elucida, à luz das Escrituras, a revelação divina a partir das três Pessoas
gloriosas que coexistem e atuam harmoniosamente na obra de redenção da
humanidade. De modo sucinto, a base da doutrina da Trindade consiste em afirmar
que o nosso Deus é um só em essência e triúno em pessoa. Trata-se de uma
unidade composta, dinâmica e eterna que subsiste em três pessoas distintas:
Pai, Filho e Espírito Santo (Ef 1.4; Jo 3.16; Rm 8.16). Compreender esse
aspecto é fundamental para lidarmos com as falsas doutrinas que tentam negar a
existência da Trindade e distanciar os indoutos da verdadeira fé em Deus.
Dentre esses falsos ensinamentos que persistem em nossos dias está o unicismo.
O pastor Esequias Soares,
na sua obra Manual de Apologética Cristã, editada pela CPAD, discorre que os
unicistas “no Oriente eram chamados sabelianistas, pois o heresiarca Sabélio
foi quem mais se destacou na propagação dessa heresia. Sabélio defendia uma
forma inadequada da Trindade, ensinando que o Pai, o Filho e o Espírito Santo
eram apenas três aspectos da Divindade, sendo, portanto, uma mesma Pessoa, ou
seja, Pai, Filho e Espírito Santo seriam nomes diferentes de uma mesma Pessoa.
[...] O Credo Atanasiano, no seu quarto artigo de fé, afirma: ‘Não confundimos
as Pessoas, nem separamos a substância’. Os unicistas confundem as Pessoas,
mutilando a personalidade do Pai e do Filho com a doutrina das ‘manifestações’,
que é uma maneira camuflada de negar Jesus como o Filho de Deus. A Bíblia diz
que negar o Pai e o Filho traz a condenação [...] (1Jo 2.22,23)” (2002,
pp.317,319).
A negação da existência
da Trindade é uma das formas de afastar os cristãos do conhecimento de quem é
Deus e, consequentemente, de como devemos nos relacionar com Ele. Portanto,
conhecer profundamente esta doutrina é crucial para que não sejamos enganados.