ANO 11 | Nr 1.369 | 2020
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LIÇÕES
BÍBLICAS CPAD JOVENS - 1º Trimestre de 2020
Título:
Jesus Cristo — Filho do Homem, Filho de Deus
Comentarista:
Thiago Brazil
LIÇÃO 7
16 DE FEVEREIRO DE 2020
O SENHORIO DE JESUS CRISTO SOBRE
OS DEMÔNIOS
TEXTO DO DIA
||“Quem pratica o pecado é do
diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto o Filho de Deus
se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (1Jo 3.8). ||
SÍNTESE
|| Devemos estudar sobre a natureza
e operação dos demônios como um caminho para compreendermos como se manifestam
os milagres vindos da parte do Senhor Deus. ||
TEXTO BÍBLICO
Marcos
5.1-9.
COMENTÁRIO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
|| A Palavra de Deus é muito clara ao afirmar que o
objetivo do império das trevas é tríplice: eliminar os filhos de Deus, usurpar
as bênçãos que vem do Altíssimo, e arruinar a criação de Deus (Jo 10.10).
Dediquemo-nos a este tema com o objetivo de superarmos misticismos irracionais.
Estudar acerca da autoridade de Jesus sobre os demônios pode revelar-nos
preciosas verdades sobre o poder do Cristo. || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens, 1º Trimestre
2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- A lição inicia com um equivoco hermenêutico na
interpretação do texto de João 10.10, na tentativa de embasar que o ‘ladrão’ é
o diabo, quando na verdade, Jesus está aplicando em todo o texto dos versículos
9-10, uma maneira proverbial de insistir que a fé em Jesus como o Messias e o
Filho de Deus é o único meio para ser "salvo" do pecado e do inferno,
e receber vida eterna. Somente Jesus Cristo é a única fonte verdadeira de
conhecimento de Deus e a única base para a segurança espiritual. Considerando o
contexto, o assunto abordado pelo Senhor Jesus são os falsos mestres e falsos
pastores de Israel. Ele não estava falando diretamente do diabo como alguns
pensam, mas dos líderes de Israel que, por conta da forma como agiam, eram
ladrões que roubavam, matavam e destruíam vidas, pois lideravam de uma forma
que não agradava a Deus. Sabemos que isso se enquadra precisamente na forma
como os fariseus conduziam suas vidas e liderança de hipocrisia. Embora o diabo
apresente essas características malignas, não podemos dizer que João 10.10 se
refira a ele, é um erro dizer que o texto diz aquilo especificamente sobre o
diabo. Vamos pensar maduramente a fé
cristã?
I. A
ATUAÇÃO DOS DEMÔNIOS NO NOVO TESTAMENTO
||1. Evidências bíblicas sobre a existência de
demônios. Para o estabelecimento de um ponto de partida
mínimo nesta lição é necessário tomarmos como verdade alguns pressupostos
elementares: Existe uma realidade para além do mundo físico-material; há uma
intrínseca conexão entre a realidade física e a realidade espiritual, onde
ações e escolhas em cada um destes campos têm possíveis repercussões entre si;
as diferentes características destas duas realidades implicam, necessariamente,
qualidades diferentes entre os seres que habitam e transitam nelas. O modo mais
fácil de atestar a realidade dos espíritos malignos é analisar os inúmeros
casos em que o Senhor Jesus confrontou e destruiu o poder das forças malignas
(Lc 4.19), este inclusive era um dos destacáveis fatos do ministério de Jesus
conforme defendiam os apóstolos na Igreja Primitiva (At 10.38). A existência de
seres espirituais da maldade é tão evidente nas Escrituras que um dos sinais
designados por Jesus, para caracterizar aqueles que seriam seus discípulos, é a
autoridade para expulsar demônios (Mt 10.8; Mc 16.17). || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens, 1º Trimestre
2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- Lucas 4.19 se refere ao ano aceitavel do Senhor, ou o
ano do favor do Senhor. A passagem lida por Jesus é Isaías 61.1-2. Ele
parou na metade do versículo 2, o restante do versículo profetiza juízo no dia
da vingança de Deus. Uma vez que essa parte do versículo refere-se ao segundo
advento, ele não a leu. É estranho quando o comentarista afirma: “um dos
sinais designados por Jesus, para caracterizar aqueles que seriam seus
discípulos, é a autoridade para expulsar demônios”
e emprega os textos de Mt 10.8 e Mc 16.17. Ali, o expelir demônios era um sinal
que acompanharia a pregação do Evangelho. O sinal que caracteriza e distingue o
verdadeiro cristão não é a operação de sinais, mas sim o amor: “Nisto
todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”
(Jo 13.35).
- “Os demônios são anjos caídos, como Apocalipse 12:9
indica: "E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama
diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e,
com ele, os seus anjos." A queda de Satanás do céu é simbolicamente
descrita em Isaías 14:12-15 e Ezequiel 28:12-15. Quando caiu, Satanás levou
alguns dos anjos com ele - um terço deles, de acordo com Apocalipse 12:4. Judas
6 também menciona anjos que pecaram. Então, biblicamente, os demônios são anjos
que, juntamente com Satanás, decidiram rebelar-se contra Deus. Alguns dos
demônios já estão guardados "sob trevas, em algemas eternas" (Judas
1:6) pelo seu pecado. Outros estão livres para vaguear e são referidos como
"os dominadores deste mundo tenebroso.... as forças espirituais do mal,
nas regiões celestes" em Efésios 6:12 (cf. Colossenses 2:15). Os demônios
ainda seguem a Satanás como seu líder e batalham contra os santos anjos em uma
tentativa de frustrar o plano de Deus e atrapalhar o Seu povo (Daniel 10:13). Os
demônios, como seres espirituais, têm a capacidade de tomar posse de um corpo
físico. A possessão demoníaca ocorre quando o corpo de uma pessoa é totalmente
controlado por um demônio. Isso não pode acontecer com um filho de Deus, uma
vez que o Espírito Santo habita no coração do crente em Cristo (1 João 4:4). Jesus,
durante o Seu ministério terreno, encontrou muitos demônios. Claro que nenhum
deles era mais poderoso que o próprio Cristo: "Chegada a tarde,
trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele meramente com a palavra expeliu os
espíritos..." (Mateus 8:16). A autoridade de Jesus sobre os demônios é uma
das provas de que Ele era realmente o Filho de Deus (Lucas 11:20). Os demônios
que O encontraram sabiam quem Ele era, e temiam: "E eis que gritaram: Que
temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do
tempo?" (Mateus 8:29). Os demônios sabem que o seu fim será um de
tormento. Satanás e seus demônios agora têm o objetivo de destruir a obra de
Deus e enganar qualquer pessoa (1 Pedro 5:8, 2 Coríntios 11:14-15). Os demônios
são descritos como espíritos do mal (Mateus 10:1), espíritos imundos (Marcos
1:27), espíritos mentirosos (1 Reis 22:23) e os anjos de Satanás (Apocalipse
12:9). Satanás e seus demônios enganam o mundo (2 Coríntios 4:4), promulgam a
falsa doutrina (1 Timóteo 4:1), atacam os cristãos (2 Coríntios 12:7, 1 Pedro
5:8) e combatem os santos anjos (Apocalipse 12 :4-9). Os demônios/anjos caídos
são inimigos de Deus, mas são inimigos derrotados. Cristo tem despojado
"os principados e as potestades”, e “publicamente os expôs ao desprezo,
triunfando deles na cruz" (Colossenses 2:15). À medida que nos submetemos
a Deus e resistimos ao diabo, não temos nada a temer. "Filhinhos, vós sois
de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em
vós do que aquele que está no mundo" (1 João 4:4)”
(gotquestions)
||2. Características dos demônios no Novo Testamento. Nosso
conhecimento sobre estes seres é muito limitado e absolutamente condicionado
àquilo que as Escrituras falam, por isso é importante concentrarmo-nos no que a
Palavra diz, e nunca em crendices populares ou fábulas religiosas. Eles são
compreendidos como seres angelicais que, em virtude de pecados e rebeldias (2Pe
2.4; Jd 6), perderam seu status celeste e tornaram-se operadores do império da
morte (Hb 2.14). Eles são conhecedores da existência e do poder de Deus (Tg
2.19), bem como da divindade de Cristo (Mc 1.34). Em muitos casos a atuação
destes seres espirituais está diretamente associada a enfermidades e
acontecimentos trágicos (Lc 6.18). As forças da maldade podem operar de modo
isolado ou em conjunto, e é evidente que a operação em grupo traz consequências
muito mais devastadoras aos oprimidos (Mt 12.43-45; 17.21; Mc 5.9; Lc 8.2). || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens, 1º Trimestre
2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- Esses anjos caídos, de acordo com Jd 6, ''não guardaram o seu estado original",
ou seja, possuíram homens que coabitavam com mulheres de maneira promiscua. Ao
que parece, essa e uma referencia aos anjos caídos de Gênesis 6 (filhos de Deus):
1) antes do dilúvio (v. 5; Gn 1.6-3), que
deixaram seu estado normal e cobiçaram mulheres e
2) antes da destruição de Sodoma e Gomorra (Gn
19).
- Pedro toma emprestada uma palavra da mitologia
grega usada para inferno, "tartarus".
Os gregos ensinavam que o tartarus era um lugar abaixo do Hades reservado para os seres humanos,
deuses e demônios mais perversos. Os judeus, no final, passaram a usar esse
termo para descrever o lugar para onde os anjos caídos foram enviados. Para
eles, o termo definia o lugar mais baixo do inferno, as profundezas do abismo,
o lugar mais terrível de tortura e sofrimento eterno. Jesus, em espírito,
entrou nesse lugar quando o seu corpo eslava no tumulo e, durante o período de
tempo entre a sua morte e a sua ressurreição, proclamou o seu triunfo sobre os demônios
(Cl 2.14; IPe 3.18-19).
- Os demônios tinham
medo de ir para esse lugar e rogaram a Jesus durante a vida dele na terra que não
os enviasse para lá (Mt 8.29; Lc 8.31). Nem todos os demônios estão presos.
Muitos vagam pelos céus e pela terra (cf. Ap 12.7-9). Alguns estão
temporariamente presos (Ap 9.1-12). Por causa de seu pecado em Gn 6,
esses demônios estão permanentemente presos nas trevas, reservados para juízo. Esses
demônios permanentemente encarcerados são como presos que estão esperando a sentença
final, tartarus é somente um lugar temporário no sentido de que, no dia
do juízo, os anjos maus confinados ali serão, por fim, lançados no lago de fogo
(Ap 20.10).
||3. A superioridade do Reino de Deus sobre o império
das trevas. Uma verdade importante que precisa ser dita com
relação a batalha espiritual é que ela é absolutamente assimétrica, isto é, os
conjuntos de forças e os participantes deste conflito cósmico-espiritual
possuem forças diferentes. Por exemplo, é óbvio que anjos e demônios são mais
fortes do que humanos (2Cr 32.21; Sl 8.5; Hb 2.7). Dentre os seres espirituais
existe uma hierarquia de tal modo que entre anjos existe pelo menos um que é
chamado de “anjo principal” ou arcanjo (Dn 10.13; 1Ts 4.16; 2Pe 2.11; Jd 9; Ap
12.7) e entre os espíritos malignos também (Lc 11.15). Todavia, sobre tudo e
todos, há a soberania de nosso Deus que — conforme sua onipotência — tem poder
infinitamente superior (Ne 9.32). A diferença fundamental entre o Reino de Deus
e o império do mal é que enquanto este organiza-se apenas para a destruição da
humanidade, o Reino do Pai veio para trazer o bem e a felicidade ao mundo (Jo
10.20,21). O Novo Testamento declara o poder soberano de Jesus sobre os
demônios (Mt 12.28); ainda que o maligno insista em tentar prejudicar os filhos
de Deus, temos em Jesus e no seu poder um socorro bem presente em nossos
instantes de guerra e conflito espiritual. ||
[Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens, 1º Trimestre 2020. Lição 7, 16
Fevereiro, 2020]
- “Cristo é o centro do universo. Em Romanos 11.36
diz: porque dEle, e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois,
a glória eternamente amém! Sim, as Escrituras com propriedade, falam e
descrevem a Pessoa do Senhor, tanto no sentido da Sua humilhação quanto da Sua
exaltação. Um dia todo joelho se dobrará, toda língua confessará que Jesus é o
Senhor. Mas seria muito bom se as Escrituras falassem só de Cristo, todavia
elas nos falam também da obra do inimigo das nossas almas, satanás.
- Existem dois reinos, o de Deus e o de Satanás. O
homem ao pecar contra o seu Criador abandonou o reino divino e seu comando e se
colocou ao lado do reino de Lúcifer e debaixo de suas ordens. O poder das
trevas tem grande influência sobre toda a humanidade, por isso, para
compreender a obra redentora de Cristo também precisamos levar em conta a obra
desagregadora de Satanás.
- Satanás, antes da sua revolta nos céus, era a
criatura mais perfeita que Deus havia criado; foi-lhe dada autoridade sobre os
outros anjos. Vivia dia e noite na presença da divindade. Mas com seu orgulho,
com sua vaidade, com sua revolta foi expulso da presença de Deus e veio à
terra.
Os anjos caídos continuam com o poder que receberam
de Deus, assim também o mandato cultural que o homem recebeu de Deus no Edem
continua com ele. Quanto aos anjos as Escrituras denominam de tronos,
dominações, principados e potestades. Assim sendo satanás tem certo poder na
esfera celeste bem como na esfera terrestre sobre as criaturas caídas. Contudo,
não há um dualismo entre Deus e o diabo, eles não medem forças, pois o Todo
poderoso é somente o Deus Trino, o Senhor. Satanás atua dentro da esfera em que
Deus permite ele atuar.
Jesus disse: Eu sou a Luz do mundo, quem me segue
não andará em trevas, pelo contrário, terá a luz da vida (João 8.12). Jesus
veio para destruir as obras do diabo, para libertar o homem da escravidão de
satanás e instaurar o Reino de Deus. Paulo declara com toda a clareza que não é
contra adversários de carne e sangue que o homem tem de lutar, mas contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra
as forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Efésios 6.12).
Jesus venceu Satanás através do seu sacrifício na
cruz; foi na cruz que Ele esmagou a cabeça da serpente; foi na cruz que Ele
pagou todo escrito de dívida que havia contra o homem. Jesus disse: Se eu, pelo
dedo de Deus, expulso os demônios, significa que chegou até vós o Reino de Deus
(Lucas 11.20). Jesus é o valente, o mais forte, aquele que amarrou o diabo,
espoliou-o e sufocou-o. Os dias estão contados para a ação satânica sobre a
criação. Haverá o fim da história sobre a terra, o juízo final, a ressurreição
dos mortos.
Ao ser avisado por alguns fariseus de que Herodes
Antipas, filho do Herodes, o Grande, tinha a intenção de matá-lo, Jesus
destemidamente o chama de raposa, ou seja, um assassino, sanguinário, adúltero
e outros mais, dizendo que Ele, Jesus, continuaria o seu ministério de expulsar
os demônios e curar os enfermos. Não se amedrontou diante de tal informação,
não fugiu, e tão pouco parou de realizar o que devia realizar, ou seja, cumprir
integralmente a Sua obra de evangelizar até o fim.
Jesus serenamente caminhou para Jerusalém mesmo
sabendo que seria lá que Ele morreria a cidade que apedrejava e matava os
profetas. Ele profere duas profecias a que veio cumprir-se. Uma delas foi que a
multidão o aclamaria como Messias, dizendo: Bendito o que vem em nome do Senhor
(Lucas 13.35), o que aconteceu na sua entrada triunfal em Jerusalém, quando
montado num jumentinho foi saudado pelas pessoas que colocavam ramos para Ele
passar. A segunda profecia cumpriu no ano 70 DC quando o general romano Tito
invadiu e assolou a cidade de Jerusalém, deixando a casa deserta – ou seja, a
cidade de Jerusalém.
A luta contra Satanás abrange toda humanidade –
todos os homens, em todos os tempos e em todos os lugares. Porém, em certas
épocas da história e em certos acontecimentos o poder de Satanás se faz sentir
mais fortemente. Por exemplo: quando Jesus foi tentado logo após o seu batismo,
foi um fato que demonstra a ousadia do maligno em tentar destruir o plano de
salvação do homem. Nas sociedades históricas, ao estudarmos o comportamento
social, podemos notar algumas manifestações do diabo, mais intensas do que em
outras. Hoje em dia há um agir satânico no meio de jovens e adolescentes para
dar fim a própria vida.
O reino das trevas usa todas as ideologias
possíveis para influenciar as pessoas a por fim na própria vida. Muitos dizem
que a causa dos suicídios é a falta de sentido da vida ou a depressão não
tratada. Sabemos que esses são fatores que contribuem, mas atrás de tudo isso
está a mão maligna do Inimigo agindo para ceifar vidas incautas.
O reino de Cristo veio para dar vida ao homem.
Jesus mesmo foi quem disse: eu vim para que tenham vida e vida em abundancia. A
vida plena só pode ter aquele que aceita o reino de Cristo e todas as
implicações resultantes de estar nesse reino. Entrar no reino de Deus é ser
perdoado, purificado e constantemente se santificando pela Graça maravilhosa do
Senhor.”” (Reino
de Cristo vs Reino de Satanás, por Rev.
Washington Paulo Emrich, disponível em: IPSW)
II. O
ENDEMONINHADO GADARENO
||1. Uma vida devastada pelo maligno. O relato da
libertação do oprimido de Gadara é um registro da força devastadora no mal na
vida de uma pessoa; porém, esta mesma narrativa é reveladora da graça
libertadora do Senhor Jesus. Pensemos sobre como o grande amor do Salvador vem
em nosso favor para reestabelecer em nós a imagem de Deus (Cl 3.10) desgastada
pelo pecado e deformada pelo maligno (2Co 4.4). A história deste homem,
registrada nos sinóticos, é o enredo de uma tragédia: Privado da convivência
com sua família (Mc 5.19; Lc 8.39), isolado de qualquer relação social (Mc 5.4;
Lc 8.29), um homem oprimido pelo maligno a ponto de perder a própria identidade
e consciência (Mc 5.9; Lc 8.30). Além disso, as forças demoníacas impeliam-no a
um desejo de autodestruição e desvalorização de si tão devastador que o homem
oprimido matinha práticas de automutilação (Mc 5.5), não tomava banhos nem
vestia roupas (Lc 8.27) e morava num cemitério (Mt 8.28). Este é o caso nas
Escrituras onde há maior riqueza de detalhes na descrição de como operava a
ação demoníaca na vida de uma pessoa. Temos em Mateus 12.43-45 a clássica
descrição da metodologia de ataque dos demônios na vida de uma pessoa;
entretanto, o caso do gadareno demonstra o sofrimento de um indivíduo
específico, atacado por espíritos malignos, há também no relato do gadareno a
constatação da absoluta necessidade da intervenção de Jesus para libertação dos
oprimidos do Diabo. || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens,
1º Trimestre 2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- A narrativa de Marcos menciona apenas um dos
homens possuídos por demônios, que provavelmente era o mais destacado dos dois;
Tanto Mc 5.2 quanto Lc 8.27 mencionam apenas um dos homens. Fica claro que um
prevalecia sobre o outro (veja Mt 8.28). É interessante notar o lugar de
habitação deste homens possídos – os sepulcros – que naqueles dias eram
normalmente habitados por pessoas com problemas mentais. Consistiam de cavernas escavadas na rocha, em
torno das cidades e aldeias. O que sobressai aqui é o quão terrível era o
estado destes possuídos, tendo em vista que para o judeu era vedado o contato
com cadáveres, era uma grave contaminação, o que dirá, morar entre eles, viver
numa área assim era um tormento adicional. Estes espíritos demoníacos que
estavam controlando o homem, por si mesmos eram moralmente imundos e causavam
muito dano aquele a quem possuíam. Interessante ainda, notar que esses homens
clamavam e feriam-se com pedras - "clamando" descreve um grito continuo
e sobrenatural, proferido com intensa emoção. As "pedras"
provavelmente eram rochas feitas de pederneira com extremidades dentadas e
afiadas. Os demônios sabiam que Jesus era uma divindade, o Deus-Homem, o que
fica notavelmente claro com o uso da designação natural para os judeus e
gentios para se referirem ao Deus único e verdadeiro de Israel e distingui-lo
de todos os outros falsos deuses e ídolos: “Deus Altíssimo".
||2. Uma libertação extraordinária. Não há
qualquer tipo de espetacularização da libertação do homem de Gadara, muito
menos algum tipo de concessão ao maligno. Vemos no ato de Jesus um compromisso
com a restauração da espiritualidade e dignidade daquela pessoa. Este não é o
único caso nos Evangelho de um indivíduo opresso por mais de uma entidade
demoníaca, Lucas 8.2 registra que Maria Madalena fora liberta de sete demônios.
Jesus fez, através do amor, aquilo que os poderes humanos, com suas correntes
de ferro esmiuçadas (Lc 8.29), foram incapazes de realizar. Não são protocolos
humanos, palavras mágicas ou rituais místicos que libertam a humanidade da
dominação do mal, mas apenas o poder de Jesus Cristo (Rm 16.20). A restauração
foi imediata e radical, de tal forma que aquele homem ficou assombrosamente
liberto e em paz, segundo o próprio testemunho dos demais moradores da cidade
(Mc 5.15; Lc 8.35). Este é o resultado das ações de Deus na vida de cada um dos
seus filhos: alegria e restauração (2Co 5.17; Rm 8.1). || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens, 1º Trimestre
2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- “Conjuro-te...
que não me atormentes!” Marcos acrescenta a palavra "conjuro";
que mostra que o demônio tentou fazer com que Jesus suavizasse a severidade do
seu inevitável destino. O mais provável é que Jesus tenha feito essa pergunta
em vista do apelo do demônio para que não fosse atormentado. Contudo, ele não
precisava saber o nome do demônio para que pudesse expulsa-lo. Em vez disso, Jesus
fez a pergunta para destacar a realidade e a complexidade desse caso. Legião é
um termo latino conhecido tanto pelos judeus como pelos gregos dessa época, que
definia uma unidade militar romana composta por 6.000 homens de infantaria. Ao
identificar-se por Legião, indicou que o homem era controlado por um numero
muito grande de espíritos malignos militantes, uma verdade reiterada pela expressão
"porque somos muitos". O demônio
entendeu que Jesus tinha todo o poder sobre ele e dirigiu-se a Jesus com um
intenso desejo de que o seu pedido fosse atendido, não mandasse para fora do
pais, queriam permanecer na mesma área onde estavam exercendo seus poderes
malignos. de acordo com seus propósitos soberanos, Jesus permitiu que os demônios
entrassem nos porcos e os destruíssem, o texto não nos fornece outra
explicação, mas, ao fazer isso, Jesus deu ao homem uma poderosa, visível e
clara lição da imensidade do mal do qual ele fora liberto. Agora, todos podiam
testificar a condição pacífica deste homem liberto, em total contraste com o
seu estado anterior de agitação e desassossego, livre da agitação frenética
impulsionada pela legião que o possuía.
||3. Sobre nossa imagem restaurada em Cristo. O pecado
roubou a plenitude da glória de Deus de nossas vidas (Rm 3.23). Todo o plano de
Deus na história da humanidade através de Jesus de Nazaré tem como finalidade
principal restaurar esta gloriosa comunhão perdida (Jo 17.21,22). Desta forma,
vencer as forças do maligno não significa demonstrar habilidades especiais de
domesticação de espíritos imundos, como pensavam os filhos de Cevas (At
19.13-17), mas de uma vida restaurada em relacionamentos — com Deus e com os
homens — e em dignidade (Rm 5.10; 1Co 15.52). Há lugares e igrejas onde a
prática de exorcismos tornou-se instrumento de poder e lucro por parte de
líderes religiosos pseudocristãos. Com relação a esta questão o Evangelho
contemporâneo precisa voltar a sua essência, isto é, a pregação com poder e
autoridade sobre as forças das trevas, visando a liberdade das pessoas e não
uma forma de enriquecimento a partir do sofrimento alheio. || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens,
1º Trimestre 2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- Em Romanos 1.18-3.20, Paulo apresenta os seus
argumentos a respeito da condição espiritual de todo homem e apresenta a
esmagadora evidencia da pecaminosidade do ser humano, revelando o quão
desesperadamente ele precisa dessa justiça que somente Deus pode fornecer. Ele
apresenta a acusação de Deus contra o descrente e imoral pagão (Rm 1.18-32; os
gentios), a pessoa exteriormente religiosa e moral (Rm 2.1-3.8; os judeus) e
conclui mostrando que todas as pessoas merecem o castigo de Deus (Rm 3.9-20).
- Sobre a afirmativa “o Evangelho contemporâneo precisa
voltar a sua essência, isto é, a pregação com poder e autoridade sobre as
forças das trevas,”, sabemos que a Igreja é o Corpo de Cristo e a
única maneira de o mundo enxergar a Cristo é através do Seu Corpo, a Igreja - “Grande é este mistério: digo-o, porém, a
respeito de Cristo e da Igreja”
(Ef 5.32). Assim, a finalidade única desse Corpo é fazer o Nome do Senhor
conhecido através da evangelização. Nos textos de Jo 13-16; Lc 10.1-20; At
1.1-8, há instruções de Jesus sobre a vida da igreja sobressai-se a obra missionária.
Uma igreja que não prega o evangelho fielmente, cristocêntrico, não sente a
responsabilidade pelo bem-estar moral e espiritual dos que a rodeiam, nem
expressa interesse pelos pobres e necessitados onde quer que eles sejam
encontrados, perdeu seu direito à autenticidade, constituindo-se numa negativa
viva de seu Senhor. Uma igreja verdadeira é reconhecida, sobretudo, pela sua
pregação de Cristo em palavras e ordenanças, e pelo seu compromisso com a obra missionária.
III. JESUS
EXPULSA UM DEMÔNIO DE UM HOMEM MUDO
||1. Uma doença que oprimia. A Escritura
está repleta de relatos de pessoas que sofriam de enfermidades e que foram
curadas de suas doenças graças ao poder de Jesus de Nazaré (Mt 9.22; Mc 10.52;
Lc 17.19); por outro lado, existem também vários registros de indivíduos que
foram libertos de opressões demoníacas (Mc 1.23-27; 3.11,12; 5.2-20; 7.25-30).
Há, todavia, um conjunto mais específico de milagres realizados pelo Salvador
que envolviam não apenas a cura, mas também a libertação espiritual de pessoas
(Mc 9.25; Lc 9.42). Analisemos um caso específico de cura por meio da
libertação: Mateus 9.30-33. A palavra grega para designar a doença deste homem
(v.32) se refere a uma incapacidade de comunicar-se com as pessoas. É uma
enfermidade que comprometia o indivíduo em um amplo espectro comunicacional, às
vezes é traduzida por mudez, em outros contextos surdez ou podem ser as duas
enfermidades ao mesmo tempo. E uma última possibilidade de compreensão,
caracterização desta palavra grega, seria uma pessoa com problemas cognitivos
severos. Assim, a cura realizada por Jesus restaurou àquele homem a capacidade
de compreender o mundo, de tornar-se novamente alguém autônomo, livre para
decidir sozinho. Essa é uma das características mais marcantes do ministério de
Jesus: o poder para ministrar não apenas a cura, mas a libertação por meio da
cura (Lc 4.16-21; At 10.38); desta forma, esse também deve ser um dos
diferenciais na atuação de um seguidor de Cristo, isto é, comprometer-se com o
bem-estar integral — físico e espiritual — da sociedade. || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens,
1º Trimestre 2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- A unidade da igreja procede de seu fundamento do
único Deus (Ef 4.1-6). Todos os que pertencem verdadeiramente à igreja são um
só povo e, portanto, a igreja verdadeira será distinguida por sua unidade. Isso
implica cuidado especial, zeloso pelo bem-estar integral daqueles que são
integrados ao Corpo de Cristo, bem como, daqueles oprimidos pelo diabo. Isso
faz parte da missão da Igreja, qual seja: estabelecer o Reino de Deus.
Participar da construção do Reino de Deus em nosso mundo, pelo Espírito Santo,
constitui-se na tarefa evangelizante da Igreja.
Envolver-se com o Deus da Bíblia significa estar sujeito e disposto ao envio e
sustento missionário.
||2. A manifestação de um milagre. Diferente
de muitos supostos curandeiros ou exploradores da fé alheia, a libertação na
vida daquele homem não foi algo lento, que aconteceu depois de uma série de
rituais ou protocolos cerimoniais; ao contrário, atesta-nos Mateus que
imediatamente após as palavras de Jesus, o homem passou a comunicar-se
naturalmente com as pessoas (v.33). É assim que se identifica um milagre: não
há condicionantes ou impedimentos, quando Deus realiza sua obra ninguém pode
impedir (Is 43.13). Por isso, tenha muito cuidado com quem cria pré-requisitos
religiosos para a realização de milagres. Nunca se deve utilizar do momento de
uma ação milagrosa de Deus para fazer-se marketing religioso ou autopromoção
ministerial; todo o milagre glorifica exclusivamente ao Senhor. Desta forma, se
um ato incrível não render glórias ao Altíssimo, nunca poderá ser definido como
milagre (Jo 6.14). || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens,
1º Trimestre 2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- A Bíblia informa pelo menos três propósitos para
um milagre:
(1) glorificar a natureza de Deus (Jo
2.11; 11.40);
(2) confirmar as credenciais de certas
pessoas na posição de porta-vozes de Deus (At 2.22; Hb 2.3,4); e
(3) propiciar evidências para que haja
fé em Deus (Jo 6.2,14; 20.30,31).
- Obviamente, nem todas as pessoas acreditam que um
evento assim seja um ato de Deus, mesmo tendo testemunhado um milagre. Mas
neste evento, de acordo com o Novo Testamento, o milagre é uma testemunha
contra elas. João se lamentou pelo povo: “E, ainda que tivesse feito tantos
sinais diante deles, não criam nele” (Jo 12.37). O próprio Jesus falou nestes
termos ao se referir a algumas pessoas: “Se não ouvem a Moisés e aos Profetas,
tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite” (Lc 16.31).
Portanto, neste sentido, o resultado (e não o propósito) da descrença em
milagres se constitui em condenação para o incrédulo (cf. Jo 12.31,37). (Texto extraído
da obra “Teologia Sistemática: Introdução à Teologia, A Bíblia, Deus,
a Criação”, editada pela CPAD).
||3. A blasfêmia pelo bem realizado. A maldade
dos religiosos da época era algo tão monstruoso que, após a miraculosa
libertação do homem oprimido, atribuíram tal acontecimento a uma intervenção do
próprio maligno (Mt 9.34). A blasfêmia deste tipo de afirmação torna-se mais
evidente quando consideramos que milagres como este que Jesus realizou nada
mais eram que o cumprimento de profecias anunciadas centenas de anos antes (Is
35.5,6). || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens,
1º Trimestre 2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- Quando em Mt 9.34 os fariseus acusam Jesus de
realizar sinais e prodígios pelo poder do maioral
dos demônios, apesar de já terem visto o suficiente sobre o poder de Jesus
para saber que esse poder era de Deus, no entanto, em sua obstinada descrença,
disseram que o poder dele vinha de Satanás (Mt 12.24; cf. 25.41; Mc 3.22; Lc
11.15.
CONCLUSÃO
||Os casos do gadareno e do homem curado de mudez
denunciam de modo contundente, que os ataques do maligno ainda podem ser
articulados em conluio, isto é, em uma trama maligna de demônios. || [Lições Bíblicas CPAD, Revista Jovens, 1º Trimestre
2020. Lição 7, 16 Fevereiro, 2020]
- Em toda a história do Antigo Testamento nunca
houve uma época ou pessoa que tenha exibido tão amplo poder de cura. As curas
físicas foram raras no Antigo Testamento. Cristo optou por mostrar a sua
divindade ao curar, ressuscitar mortos e libertar pessoas de demônios. Isso não
apenas mostrou o poder do Messias sobre os mundos físico e espiritual, mas
também demonstrou a compaixão de Deus para com aqueles que eram afligidos pelo pecado.
Esse poder foi designado à Sua igreja, e sobre nós está esta responsabilidade
de combater o reino das trevas, não numa batalha espiritual épica, mas levando
a Palavra fielmente, cristocêntrica, a todos os confins da terra, começando por
Jerusalém!
Pb
Francisco Barbosa
HORA DA REVISÃO
||1. Qual o pressuposto básico para
toda e qualquer discussão sobre demônios?
A
aceitação da existência de uma realidade para além do mundo físico, isto é, o
mundo espiritual, o qual é habitado por um conjunto de seres específicos desta
realidade.
2. Existe alguma relação entre
mundo espiritual e realidade material?
Sim,
de tal forma que aquilo que acontece no mundo material repercute no espiritual
e vice-versa.
3. Que lições sobre a operação dos
demônios entre nós podemos retirar a partir do caso do gadareno?
A
ação deles visa desfigurar a imagem de Deus em nós; a operação dos demônios
nunca atinge apenas um indivíduo, mas sempre famílias e sociedades inteiras; a
demonização do homem era um resumo da demonização de toda uma sociedade.
4. A libertação do homem com mudez
revela-nos o que sobre a dinâmica dos milagres segundo a Bíblia?
Que
os milagres ocorrem com naturalidade e segundo o tempo de Deus; qualquer ação
fora da normalidade que não rende glória a Deus jamais poderá ser chamada de
milagre; milagres são ações de um Deus poderoso em favor dos marginalizados e opressos
pelo Diabo.
5. Apresente mais dois casos em que
a ação de Jesus produziu simultaneamente cura e libertação.
Marcos
9.25; Lucas 9.42; Lucas 6.18. ||