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28 de junho de 2021

Lição 1: A Ascensão de Salomão e a Construção do Templo

 



TEXTO AUREO

“E não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a Casa do Senhor.” (1 Rs 8.11) 

VERDADE PRATICA

O pedido de sabedoria feito por Salomão a Deus aponta para a maturidade espiritual que Deus deseja para seus filhos. 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

1 Reis 4. 29-34; 6.1, 11-14 

INTRODUÇÃO

Por amor ao rei Davi, Deus permitiu que Salomão estabelecesse um reino sólido, próspero, justo, cheio de glória e poder. Foi durante o reinado de Salomão que Israel atingiu seu apogeu na história. Entretanto, mesmo diante de toda essa grandeza, promovida por sua sabedoria, esse destacado monarca se deixou levar por interesses políticos e desejos pecaminosos.

Comentário

Salomão significa “homem de paz” em hebraico. Ele foi o segundo filho de Davi com Bate-Seba e o terceiro rei de Israel sob o reino unido. Após uma perturbadora história de adultério e assassinato protagonizada por Davi e morte do seu primeiro filho como consequência do duplo pecado, Salomão foi o filho que lhe sucedeu no trono. Isso demonstra a grande misericórdia de Deus ao permitir que, mesmo como fruto de uma união questionável, após sofrer as consequências do seu ato, Deus concedeu a Davi a imensurável graça de poder conduzir o seu filho Salomão ao trono. O profeta Natã deu a ele o nome de Jedidias (o amado do Senhor). Tudo indica que Salomão tenha sido o único rei a ser ungido de forma dupla: por um profeta, Natã, e por um sacerdote, Zadoque (1 Rs 1.34).

A condução de Salomão ao trono não se sucedeu sem antes acontecerem muitas tramas dramáticas na família de Davi. Embora este fosse o maior rei de Israel, sucederam-lhe consequências da sua ausência como figura paterna e a sua dificuldade em lidar com a educação adequada dos filhos (1 Rs 1.6), especialmente porque, na cultura patriarcal, da qual Davi era oriundo, eram a mãe e os criados que normalmente cuidavam dos filhos. O rei Davi teve vários problemas com os seus filhos: o incesto de Amnom com Tamar (2 Sm 13.14); a vingança de Absalão matando Amnom (2 Sm 13.28,29), pois Davi não fez nada com Amnom a não ser ficar irado (1 Sm 13.25,26,37; 14.24,32,33); o golpe de estado aplicado por Absalão (2 Sm 15.2-6,10,12-14); e a tentativa de golpe para tornar-se rei feita por Adonias (1 Rs 1.5). Davi já estava velho, o reino à mercê, e ele não tomava a decisão de apontar um sucessor; por isso, foi preciso ajuda do profeta Natã e da mãe de Salomão para que Davi tomasse as providencias para a sua coroação. Portanto, a condução de Salomão ao trono foi antecedida por lutas políticas e morte de alguns dos filhos de Davi — um alto custo de vidas humanas —, o que poderia trazer muitas dificuldades para Salomão. Porém, como o próprio nome Salomão significa, o seu reino foi pacífico, embora tivesse que matar Adonias, o seu irmão; destituir o sacerdote Abiatar por ter participado da conspiração de Adonias (1 Rs 2.26,27,35); matar o antigo general do exército de Davi, Joabe, pelo mesmo motivo (2 Rs 2.29-34); e matar também a Simei, que se voltara contra o seu pai, Davi (1 Rs 2.46). Dessa forma, o seu reino encontrou paz e solidez.

Após a morte de Davi e em função da aliança que Deus tinha para com ele, o Senhor constituiu um reino muito sólido para o seu filho Salomão, permitindo um período de muita prosperidade, glória e poder. O domínio de Israel atingiu o seu maior apogeu na história durante o reinado de Salomão. Dessa forma, uma das tarefas de Salomão era manter e controlar um grande território que recebera como legado do seu pai, Davi.

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

  1. Nomes

A palavra Salomão deriva do hebraico Shelomah, que significa “pessoa pacífica”. Sob as ordens do profeta Natã, ele também recebeu o nome de Jedldias, que significa “amado por Yahweh” (lI Sam. 12.24,25). Mas Salomão foi o nome que prevaleceu, e o homem é chamado assim 300 vezes no Antigo Testamento.

  1. Família

O rei Davi teve muitas mulheres e muitos filhos. Salomão foi aparentemente o décimo filho do rei Davi. Sua mãe era a bela Bate-Seba, que já havia tido um filho de Davi, resultado de seu adultério. Este filho morreu logo após o nascimento, mas sua mãe foi colhida ao harém de Davi depois do assassinato de Urias, marido de Bate-Seba.

Salomão teve seis meio-irmãos que nasceram em Hebrom, cada um de uma mãe diferente (11 Sam. 3.25). A linhagem messiânica, é claro, passou por Salomão (Mal. 1.6).

III. Pano de Fundo Histórico

Saul e Davi tiveram origem humilde, em contraste com Salomão, que nasceu em um palácio. Saul foi capaz de enfraquecer alguns dos inimigos de Israel, mas foi Davi quem realizou a árdua tarefa de unificar o país ao derrotar seus muitos inimigos. Aqueles que ele não aniquilou, conseguiu confinar. De fato, ele derrotou sete pequenos impérios para obter seu poder total. Ver li Sam. 5.17-25; 7.10; 12.26-31; 21.15-22 e I Crô. 18.1. Davi foi o Guerreiro Rei perfeito, enquanto Salomão foi o Construtor Sábio perfeito, capaz de alcançar a época áurea de Israel e tornar-se o maior rei israelita. Mas ele não poderia ter feito isso sem o trabalho preparatório de seu pai que, digamos, lhe ofereceu o império numa bandeja de prata.

Davi unificou o império e assim Salomão recebeu poder sobre tanto o norte como sobre o sul. Esta situação logo desintegrou no reino de seu filho, Reoboão, que, sem sabedoria, criou condições que dividiram o país em duas partes: o sul (Judá e Benjamim) e o norte (as Dez Tribos de Israel).

O Egito, inimigo perene, havia sofrido sérias derrotas que o mantiveram no fundo do cenário por dois séculos.

Isto permitiu que Salomão se engajasse em suas extensas atividades. O império hitita da Anatólia (o território da moderna Turquia) também sofreu um período de derrota nas mãos dos frigianos e dos filisteus. A Assíria era ainda um poder nascente e, assim, não interferiu nos avanços de Salomão, e o dia da Babilônia ainda não havia chego. Salomão tinha vizinhos encrenqueiros, mas nenhum rival verdadeiro.

  1. Chegada ao Poder

Salomão teve rivais ao trono e, na verdade, não era o candidato mais óbvio. Davi havia recebido uma revelação de que “Salomão era o homem certo” para o cargo (I Crô. 22), e isso teve grande influência na escolha daquele filho em particular, entre várias possibilidades. Muitos de seus filhos mais velhos foram eliminados violentamente.

Adonias era mais velho que Salomão e, portanto, a escolha óbvia para o reinado. Ele contava com homens poderosos e tentou forçar a questão. O sumo sacerdote, Abiatar, o apoiou e deu às suas ambições um tipo de aval espiritual.

Um suposto festival religioso em En-Rogel (I Reis 1.9) acabou sendo uma operação política secreta para tomar Adonias o rei. O profeta Natã e Bete-Seba imediatamente planejaram colocar seu homem “Salomão” no poder. Davi ordenou que Zadoque ungisse Salomão como rei. As forças se acumularam em apoio a Salomão, e logo Adonias implorava por misericórdia, asi lando-se nos chifres do alto altar do Tabernáculo. Como prêmio de consolação, ele solicitou que a bela Abisague lhe fosse dada por esposa.

Mas ela fazia parte do harém de Davi, embora continuasse virgem porque o velho rei se tornara impotente antes de incluí-a em sua coleção. Ela acabou sendo apenas um aquece-cama para ele. Em qualquer caso, Salomão, furioso com o fato de que seu meio-irmão tentara ascender à cama de seu pai, ordenou sua execução. Isso significou o fim da rivalidade e a consolidação do poder de Salomão. Ver I Reis 2.24,25.

Abiatar não foi executado, mas a linhagem de Zadoque tomou o oficio de sumo sacerdote, em recompensa por ter apoiado a facção Davi-Salomão. O único xeque ao poder de Salomão foi a opinião do povo em geral. Os impostos ridiculamente altos, o trabalho escravo e a posterior apostasia e idolatria mancharam os anos finais de seu reinado e montaram o palco para a divisão do reino nas partes norte e sul.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 6. Editora Hagnos. pag. 48.

 

SALOMAO O nome de Salomão aparece aproximadamente 300 vezes no Antigo Testamento e 12 vezes no Novo (cf, 1 Rs 1-11; 14,21,26; 2 Cr 1-11; 2 Sm 12.24; 1 Cr 3.10; 22.5-19; 28.5-11,20; Sl 72; 127 (títulos); Pv 1.1; 10.1; Mt 6.29; 12.42; et ai). Salomão, o “homem do crepúsculo e das sombras”, foi o segundo filho de Davi com Bate-Seba. O seu primeiro filho morreu logo após o nascimento (2 Sm 12.18). Salomão foi o quarto filho nascido ao rei Davi em Jerusalém (2 Sm 5.14; 12.24). Como o terceiro rei de Israel, Salomão reinou durante 40 anos (aproximadamente de 971 a 931 ou de 960 a 922 a.C.). Ele também era conhecido como Jedidias, que significa “amado pelo Senhor”.

Mocidade Pouco se sabe a respeito da mocidade de Salomão. Ele era o filho da esposa favorita do rei Davi, Bate-Seba, uma mulher inteligente e encantadora que exercia uma grande influência sobre o rei, e um grande poder sobre a corte. Salomão cresceu em uma casa polígama. O rei Davi casava-se frequentemente (as Escrituras registram 18 casamentos).

Havia constante tensão entre as esposas e os seus respectivos filhos. O harém do rei tomou-se o cenário de todos os tipos de intrigas e contra-intrigas daqueles que faziam as suas manobras para conseguir favores e posições de prestígio. Assim, Salomão cresceu em um tipo de ambiente que acabou por educá-lo e acostumá-lo à arte das práticas políticas rudes e agitadas.

A Luta pelo Trono (1 Rs 1-2)

Durante a enfermidade final de Davi, houve uma disputa enlouquecida pelo trono entre Adonias, o filho mais velho, e Salomão, o seguinte na linha da sucessão. Não era segredo o fato de que depois da briga entre Amnom e Absalão, Davi havia prometido o trono a Salomão.

Adonias pediu o auxílio de Joabe, o general do exército, e de Abiatar, o sacerdote. Seus amigos reuniram-se em En-Rogel, perto de Jerusalém, para sacrificar ovelhas, bois e animais cevados. Esta frustrada festa de coroação nâo incluiu Salomão nem aqueles que eram favoráveis à sua causa. Também Natã, o profeta, Zadoque, o sacerdote e Benaia, o chefe da guarda pessoal de Davi, estavam ausentes. Quando eles souberam do plano de Adonias para apoderar-se do trono, lideraram uma contra-intriga com a ajuda de Bate-Seba, Com as ordens de Davi, Salomão montou a mula real e cavalgou rodeado de seus defensores legais até a nascente de Giom no vale de Cedrom, no lado leste de Sião. Ali Zadoque ungiu o rapaz real com um vaso de azeite do Tabernáculo e, em meio ao som de uma trombeta, o povo gritava “Viva o rei Salomão!” O abortivo coup d’etat de Adonias desmantelou-se. Por sua vez, ele implorou por misericórdia e prometeu lealdade a Salomão, Depois da morte de Davi (1 Rs 2.10), Salomão agiu rapidamente para solidificar sua posse do trono. Como era um mero rapaz (1 Rs 3.7), de 18 anos no máximo, seu pai moribundo lhe deu algumas instruções para livrar-se daqueles que pudessem querer arrancar o poder das suas mãos (1 Rs 2.1-9).

Salomão viu a sabedoria do conselho de Davi e, como um déspota oriental típico, ele rapidamente liquidou os seus principais rivais. Adonias foi executado com base na mera suspeita de que ao pedir ao rei que lhe desse Abisague (a principal concubina de Davi) como esposa, estivesse preparando alguma intriga (1 Rs 2.13-25). Por causa da sua participação no plano de Adonias para roubar o trono, o venerável Abiatar foi deposto do seu sacerdócio e banido para sua cidade natal, Anatote (Anata, cf. 1 Rs 2.26,27), e sua casa foi extinta (1 Sm 2.27-36). Zadoque assumiu o lugar de Abiatar. Joabe, temendo pela própria vida, fugiu para o Tabernáculo para esconder-se. Mas Salomão ordenou que Benaia o matasse. Por sua vez, Benaia sucedeu a Joabe como comandante dos exércitos (1 Rs 2.28-35). Simei, um membro da família de Benjamim, que tinha amaldiçoado Davi violentamente durante a rebelião de Absalão, foi mantido sob vigilância em Jerusalém durante três anos e foi morto quando tentava recuperar dois escravos que tinham fugido para Gate (1 Rs 2.36-46).

PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1739-1740.

 

I-A SABEDORIA DE SALOMÃO

 

1. A virtude de Salomão. Antes mesmo de receber a sabedoria como um dom divino, Salomão já apresentava alguns traços dessa virtude, pois ao ser inquirido por Deus quanto a qualquer pedido que quisesse lhe fazer (1 Rs 3.5), o grande rei escolhera a sabedoria, do que se depreende o quanto já era sábio. Ora, se fosse ganancioso pediria dinheiro, se fosse orgulhoso pediria glória, se fosse vaidoso pediria muitos dias de vida, se fosse vingativo pediria a morte dos inimigos (1 Rs 3.11,13; 2 Cr 1.10). Mas, de que adiantariam todas essas coisas se lhe faltasse a sabedoria? Salomão teve um elevado senso de prioridade ao pedir a Deus a coisa certa.

Comentário

A grande virtude de Salomão foi a sabedoria que ele recebeu como um dom divino, mas, mesmo antes de recebê-la, ele já apresentava alguns traços de sabedoria, pois, ao ser inquirido por Deus quanto a qualquer pedido que quisesse fazer-lhe (1 Rs 3.5), Salomão preferiu a sabedoria; isso por si só já demonstra que ele era um homem sábio, pois, se fosse ganancioso, pediria dinheiro; se fosse orgulhoso, pediria glória; se fosse vaidoso, pediria muitos dias de vida; se fosse vingativo, pediria a morte dos inimigos (1 Rs 3.11,13; 2 Cr 1.10). De que adiantariam todas essas coisas se lhe faltasse a sabedoria? Salomão, portanto, tinha um elevado senso de prioridade para pedir a coisa certa para Deus.

Uma conceituação bíblica de sabedoria seria a correta compreensão da realidade e a base de uma vida ética e moral elevadas (Jó 11.6; Pv 2.6). Ela expressa-se na vida diária em “temor [reverência] do Senhor” (Jó 28.28; Pv 1.7), surge de atitudes de coração e mente e expressa-se em prudência, cuidados e acolhimento nas relações humanas e institucionais. A sabedoria também pode ser expressa em técnicas e perícia (Êx 25.3; 4.28), na habilidade de julgamento entre certo e errado (1 Rs 3; 4.28) e aplica-se na boa administração e liderança (1 Rs 10.4,24; Sl 105.16-22; At 7.10).

A sabedoria expressa no Antigo Testamento reflete os ensinos de um Deus pessoal, justo e bom, cuja conduta deve ser imitada e exibida por aqueles que o temem na vida cotidiana. Nesse sentido, a sabedoria do Antigo Testamento diverge da sabedoria grega, cuja principal fonte é o conhecimento perfeito. Já a sabedoria bíblica não exige conhecimento teórico para fazer-se presente. Ela é o reflexo das virtudes presentes na observância da ética presente na Lei divina, como a prudência que é expressa por aqueles que falam com sabedoria (Sl 37.30; Pv 10.31) e pelo uso sábio do tempo (Sl 90.12).

A sabedoria sempre será oriunda de Deus e do conhecimento que se tem dEle e do relacionamento que se tem com Ele. A sabedoria, portanto, é um dos seus atributos e uma dádiva que Ele dá (Tg 1.5) graciosamente.

“Conhecimento” vem da palavra hebraica yada e é usada para expressar familiaridade com alguém, para relacionamentos íntimos (Êx 33.17; Dt 34.10) e sexuais (Gn 4.1; 19.8), bem como para o relacionamento com alguma divindade (Dt 13.3), ou também com Deus (1 Sm 2.12; 3.7). Portanto, se considerado o relacionamento íntimo, trata-se da comunhão com muita proximidade e afeto. Em se tratando do conhecimento de Deus, sempre que se estabelece esse tipo de relacionamento com Ele, o resultado desse encontro enriquecerá o fiel que assim se interessa por Ele, e um dos resultados é a sabedoria divina oriunda desse encontro íntimo. Se nos relacionamentos humanos já somos enriquecidos com aquilo que o outro tem, quanto mais o será no conhecimento íntimo de Deus.

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

O Senhor apareceu a Salomão num sonho, como para Abraão, Isaque e Jacó e Samuel (Gn 15.12; 26.24; 28.12; ISm 3), o sonho era uma forma normal de revelação divina, mas inferior à palavra profética direta (Nm 12.6-8) e, mais tarde, considerada suspeita (Jr 23.25-32). Natã tinha transmitido a palavra de Deus a Davi (2Sm 7.4; 12.1), mas infelizmente nem ele nem outro sucessor apareceram para guiar Salomão.

Bruce; F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. Editora Vida. pag. 545.

 

O autor sagrado acabara de informar-nos sobre a imensa piedade de Salomão. Provavelmente nenhum outro rei, em toda a história de Israel, mostrou-se tão ativo dentro do sistema sacrificial. Agora somos informados sobre como sua espiritualidade rendeu bons resultados naturais. Salomão deveria tornar-se o mais sábio homem da terra, por dom divino, inspiração e iluminação. Mas isso ocorreria somente se ele tomasse as decisões certas. Fama mundial, riquezas e poder representavam tentação para qualquer monarca. Mas Salomão, embora pudesse ter escolhido e recebido essas coisas, preferiu a sabedoria. Visto ter feito a opção certa, todas as outras coisas lhe foram acrescentadas.

Esse relato mostra-nos que o segredo da grandeza de Salomão foi que, bem no começo de seu reinado, ele fez as escolhas certas, além de ter permanecido ligado a Yahweh mediante uma piedade sincera. Em outras palavras, a espiritualidade de Salomão tinha poder de torná-lo grande em tudo quanto ele era, e foi exatamente o que aconteceu. Ver no Dicionário o artigo chamado Desenvolvimento Espiritual, Meios do. O texto mostra-nos que não devemos rejeitar as experiências místicas.

A experiência mostra-nos que existem sonhos espirituais ou mesmo divinamente inspirados. A maioria das culturas tem, corretamente, acreditado nessa possibilidade. Os exageros na questão não são contrários às manifestações genuínas. Meu artigo descreve os vários tipos de sonhos. Nem todo sonho é igual. O artigo também lista os vários sonhos bíblicos e sua significação. Usualmente, um sonho tem menos poder e é de menos iluminação do que uma visão, mas esse nem sempre é o caso, necessariamente. Ver Atos 2.17 (explicado no Novo Testamento Interpretado), onde os homens de idade é que receberiam os sonhos espirituais, ao passo que os jovens teriam as visões, embora ambas as experiências venham da parte do Senhor.

Novamente, os exageros de pessoas que brincam com as experiências místicas não desmerecem as manifestações autênticas.

Em Gibeom. Salomão estava atarefado em sacrifícios piedosos, e podemos supor seguramente que orações tenham feito parte dos ritos. Assim, sua mente estava condicionada para a “visão noturna” (John Gill) que haveria de seguir-se. Precisamos ter maior condicionamento espiritual, mais cultivo do espírito e da mente, para estarmos sujeitos a movimentos incomuns do Espírito. Isso nos ajuda a crescer espiritualmente e a mostrar-nos mais eficazes.

Pede-me o que queres que eu te dê. O autor sacro não se deu ao trabalho de mencionar as coisas que Salomão poderia ter pedido. Mas havia o óbvio que quase todas as pessoas procuram: dinheiro, prestígio, fama, poder e consolo. Yahweh apresentou um cheque em branco que Salomão preencheria conforme lhe agradasse. Mas a sabedoria estava em sua mente, e foi a sabedoria que ele pôs no cheque.

“Parece haver uma relação de causa e efeito entre a amorosa generosidade de Salomão ao fazer sua oferenda ao Senhor e a amorosa generosidade de Deus ao fazer a Salomão essa oferta” (Thomas L. Constable, in loc.).

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1356-1357.

 

2. O sábio pede sabedoria. Ao pedir sabedoria, Salomão se mostrou um homem humilde, e isso pode ser constatado em uma das respostas que deu ao Senhor: “sou ainda menino pequeno, não sei como sair, nem como entrar” (1 Rs 3.7b). Significa que ele tinha plena consciência da grandeza de sua tarefa (1 Rs 3.8), não permitindo que a imponência do seu reinado lhe conduzisse à prepotência. Ao contrário, demonstrou profundo autoconhecimento, o que é peculiar a toda pessoa sábia.

Comentário

Deus apareceu em sonhos para Salomão e deu a ele a opção de pedir o que quisesse. O seu pedido demonstrou a sabedoria que ele já possuía. Nesse mesmo sonho, ele orou a Deus e expôs várias coisas que são dignas de nota: (1) Ele reconheceu a soberania de Deus e a forma como agiu no passado, lembrou-se da fidelidade, justiça e retidão de Davi, o seu pai, e da benevolência que Deus usou para com ele, reconhecendo que ele mesmo, Salomão, é fruto dessa bondade divina. Salomão viu-se como um escolhido de Deus (1 Rs 3.6); (2) Ele reconheceu a sua fraqueza e mostrou-se um homem humilde no pedido de sabedoria, pois uma das respostas que dá a Deus é: “[…] e sou ainda menino pequeno, nem sei como sair, nem como entrar” (1 Rs 3.7b). O próprio Salomão escreveu que “a humildade precede a honra” (Pv 15.33b, ARA), o que se tornou realidade na sua vida. Isso demonstra que ele tinha plena consciência da grandeza da tarefa (1 Rs 3.8), não permitindo que a imponência do reinado fosse motivo de prepotência, mas, acima de tudo, demonstrou um autoconhecimento profundo, muito peculiar a toda pessoa sábia; (3) Ele reconheceu que nem o povo era dele, nem a coroa que estava sobre a sua cabeça, mas que Deus estava acima de tudo e havia elegido um povo numeroso e complexo para Salomão tomar conta (1 Rs 3.8); (4) O pedido vai de acordo com a vontade divina, mostrando que ele não foi egoísta pedindo coisas para si, pois o verdadeiro líder pensa em satisfazer as necessidades do povo, e não em satisfazer os seus próprios interesses e/ou da sua família, mas pede para o bem do povo e segundo as suas necessidades. Ele pediu um coração compreensivo, apto a ouvir, entender e discernir a situação do outro, sabendo fazer a diferença entre o bem e o mal.

Assim como Salomão, a pessoa sábia conhece os seus próprios limites e sempre perscruta o seu coração para encontrar ali tesouros, mas também para perceber as inclinações do coração e as suas próprias falhas e limites, sabendo perfeitamente lidar com elas para não prejudicar a si mesmo e muito menos aos outros. Essa é a grande virtude de Salomão demonstrada ao pedir sabedoria a Deus, pois ele tinha clareza das suas limitações e sentia necessidade de aprimorar a sua habilidade de percepção para julgar corretamente o povo.

Discernir a si mesmo é uma necessidade básica para ter sabedoria. Quem não conhece a si mesmo e não sabe cuidar de si e das suas emoções, desejos e paixões, corre o perigo de agir de forma imprudente e projetar as suas próprias necessidades sobre os outros. Algumas vezes, o que permanece inconsciente poderá ter um efeito devastador sobre as pessoas ao redor que são afetadas pelas decisões desse líder. Todas as decisões precisam estar em harmonia com o coração do líder e com os impulsos que se escondem no seu interior.

O pedido de Salomão revela uma das maiores necessidades de qualquer liderança: o discernimento para entender de forma compassiva qualquer situação e a inteligência para tomar as decisões certas baseadas na justiça e na equidade.

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

Salomão, o Rei-menino. Fora a providência divina que fizera Salomão tornar- se o rei de Israel, mas ele ainda era “verde”, ainda estava “imaturo”, ainda era uma “criança”. Ele se tornou parte integral do pacto davidico, o primeiro a perpetuar sua linhagem, que apontava para o rei Messias, o Filho Maior de Davi.

Notemos os títulos divinos: fora Yahweh-Elohim quem fizera Salomão ser rei. Esse é o Deus Eterno e Todo-poderoso. Ver no Dicionário o artigo intitulado Deus, Nomes Bíblicos de.

“Jeremias falou sobre sí mesmo como uma criança por causa de sua chamada (Jer. 1.6), e Salomão, por semelhante modo, referiu-se a si mesmo como uma “criança”. Essa palavra tenciona, pelo menos em parte, denotar a humildade da inexperiência, mas em parte enfatiza o senso de chamado divino de Salomão a uma tarefa mais do que humana” (Norman H. Snaith, in loc.). Algumas versões e intérpretes mais antigos tomavam a expressão literalmente, pensando que Salomão teria começado a reinar ainda muito jovem. A Septuaginta declara que ele tinha apenas 12 anos de idade. Para Josefo (ver Antiq. Vlll.7.8) ele tinha 14 anos e reinou por oitenta anos! Provavelmente ele tinha cerca de 20 anos, uma idade muito tenra para a tarefa de ser rei. Ele nasceu mais ou menos no tempo da guerra contra os amonitas (ver II Sam. 12.24), e provavelmente isso ocorreu em meados do quinquagésimo aniversário de Davi.

Comparar este versículo com I Crô. 22.5 e 29.1. Salomão não sabia como administrar, como sair e entrar, como um pastor agia com suas ovelhas. Ele estava livre de inimigos principais, o que tinha sido obra de Davi (ver II Sam. 10.19).

Teu servo está no meio do teu povo. O Peso da Responsabilidade de Salomão. O rei-criança (metaforicamente falando) estava enfrentando uma tarefa formidável. Cabia-lhe governar um povo divinamente escolhido, um povo muito numeroso. O último recenseamento feito por Davi mostrou que havia cerca de 1.300.000 capazes de ir à guerra (ver II Sam. 24.9), o que indicaria que a população total de Israel, incluindo homens fora da idade militar, mulheres e crianças, era de cerca de 6.000.000 de habitantes. Assim sendo, apesar de esse número dificilmente justificar as palavras “tão numeroso que se não pode contar”, era, contudo, suficientemente grande para deixar consternada a mente de Salomão. E/e era responsável por toda essa gente! Comparar as expressões “como a areia do mar” (ver II Sam. 17.11) e “como as estrelas do céu” (ver Êxo. 32.13). Parte do Pacto Abraâmico (ver as notas expositivas a respeito em Gên. 15.18) dizia que seus descendentes seriam numerosíssimos. Quanto ao caráter distintivo dos israelitas, que incluía o fato de terem sido divinamente escolhido, ver as notas expositivas em Deu. 4.4-8. A grande responsabilidade de Salomão levou-o a buscar sabedoria acima de todas as coisas, acima de todas as outras vantagens, e seu pedido lhe foi concedido.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1357

 

Ele reconhece a sua própria insuficiência para a realização da grande responsabilidade para a qual ele fora chamado (w. 7,8). E aqui está um duplo argumento para reforçar seu pedido por sabedoria: — (1) Que a sua posição a exigia, como sucessor de Davi (“Tu fizeste reinar teu servo em lugar de Davi, que era um homem muito sábio e bom: Senhor, dá-me sabedoria, para que eu possa manter o que ele fez, e continuar o que ele começou”) e como soberano de Israel: “Senhor, dá-me sabedoria para governar bem; porque é um povo numeroso, para que não seja administrado sem muito cuidado, porque ele é o teu povo, a quem Tu escolheste, e por essa razão deve ser governado para Ti, e quanto mais sabiamente ele for governado, mais glória terás dele”. (2) Que ele precisava dela. Como alguém que tinha um sentimento humilde de sua própria deficiência, ele suplica: Senhor, sou ainda menino pequeno (assim ele se chama de criança em relação ao entendimento, embora seu pai o chame de homem sábio, 2.9), nem sei como sair nem como entrar como devo, nem administrar os negócios diários comuns do governo, muito menos o que fazer em uma situação crítica”. Note: Aqueles que ocupam cargos públicos devem ser muito sensíveis ao peso e importância de seu trabalho e de sua própria insuficiência para realizá-lo, e então eles estão qualificados para receberem instrução divina. A pergunta de Paulo (Quem é suficiente para essas coisas?) assemelha-se muito à de Salomão aqui: Quem poderia julgar a este teu tão grande povo ? (v. 9). Absalão, que foi um tolo, queria ser um juiz; Salomão, que era um homem sábio, treme com a incumbência e suspeita de sua própria aptidão para ela. Os homens mais instruídos e ponderados são os mais inteirados das próprias fraquezas e os mais desconfiados de si mesmos.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 450.

 

3. A sabedoria na prática de vida. Tiago escreveu em sua epístola que existe uma falsa sabedoria que se evidencia pela inveja e sentimento faccioso. Essa sabedoria não vem de Deus, mas é terrena, animal e diabólica (Tg 3.15). É fruto de ciúme, divisionismo, perturbação e obras perversas (Tg 3.16). No entanto, o apóstolo asseverou que se alguém não tem sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente (Tg 1.5). As características desta virtude que vem do alto são: a pureza, a pacificação, a prudência, a benevolência, a misericórdia, os bons frutos, a imparcialidade e a sinceridade (Tg 3.17).

Comentário

O apóstolo Tiago escreveu que existe um tipo de sabedoria que se aprimora em levar vantagem em tudo, que maquina habilidosamente o mal e que é maquiavelicamente calculista para trapacear os outros. Essa sabedoria é terrena, animal e diabólica, pois é fruto de ciúme, divisionismo, confusão e obras maléficas (Tg 3.15,16). No entanto, ele incentiva os crentes a pedirem a Deus sabedoria (Tg 1.5) do alto, que Ele reparte liberalmente a todos, cuja virtude é a pureza, a pacificação, a gentileza, a fácil tratabilidade, a misericórdia e a produção de bons frutos, sem ambiguidades e com sinceridade (Tg 3.17). Essa foi a sabedoria que Salomão recebeu de Deus.

Além da sua sabedoria na condução do reino, Salomão escreveu provérbios e cânticos (1 Rs 4.32) aos milhares. Boa parte deles compõe o Antigo Testamento com o nome de Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Dois salmos também são atribuídos a ele: o Salmo 72, como um Salmo real, e o 127, como um Salmo de sabedoria. Poucos heróis antigos foram tão citados quanto Salomão.

Muitos contos judaicos, árabes e etíopes citam Salomão como uma referência de sabedoria e intelectualidade. Salomão tinha conhecimentos nas mais variadas áreas das ciências (1 Rs 4.31-34).

Salomão organizou os tributos e contribuições do reino de tal forma que, a cada mês, uma tribo era encarregada de manter o palácio real (1 Rs 4.7). Essa prática depois se mostrou pesada para os súditos, que reclamaram a Roboão um alívio dessa carga tributária (1 Rs 12.4). Outro agravante foi que Salomão recrutou 30 mil israelitas para serem os seus escravos (1 Rs 5.13). Essas organizações reais trouxeram pesado ônus para o povo e foram decisivas para a divisão do Reino do Sul e do Norte, além de encontrarem apoio em Jeroboão, que se tornaria o rei do Reino do Norte.

O episódio relevante da sua demonstração de sabedoria, qualidade acompanhada de discernimento e perspicácia, deu-se no caso das duas mães que reclamaram o mesmo filho. Ele provou qual das duas tinha o verdadeiro sentimento de mãe da criança viva quando propôs cortá-la ao meio. Dessa forma, a mãe verdadeira demonstrou o seu amor e, de forma justa, ficou com a criança viva (1 Rs 3.16-28).

A rainha de Sabá ficou estupefata ao contemplar toda a glória, sabedoria, organização e liderança do reinado de Salomão (1 Rs 10.6-9). A sua sabedoria adquiriu uma fama tão grande em toda a terra que nunca houve um homem tão sábio quanto Salomão, exceto Jesus (Mt 12.42; 1 Rs 4.29,30).

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

O contraste sobre a origem da sabedoria (Tg 3.15-17a)

Há uma sabedoria que vem do alto e outra que vem da terra. Há uma sabedoria que vem de Deus e outra engendrada pelo próprio homem. A Bíblia traz alguns exemplos da tolice da sabedoria do homem: primeiro, a torre de Babel parecia ser um projeto sábio, mas terminou em fracasso e confusão (Gn 11.9). Segundo, pareceu sábio a Abraão descer ao Egito em tempo de fome em Canaã, mas os resultados provaram o contrário (Gn 12.10-20).

Terceiro, o rei Saul pensou que estava sendo sábio quando colocou a sua armadura em Davi (ISm 17.38,39). Quarto, os discípulos pensaram que estavam sendo sábios pedindo a Jesus para despedir a multidão no deserto, mas o plano de Cristo era alimentá-la por meio deles (Mt 14.15,16).

Quinto, os especialistas em viagens marítimas pensaram que era sábio viajar para Roma e por isso não ouviram os conselhos de Paulo e fracassaram (At 27.9-11). A sabedoria da terra tem três características; terrena, animal (náo espiritual) e demoníaca.

Em primeiro lugar, ela é terrena (3.15).

É a sabedoria deste mundo (ICo 1.20,21). A sabedoria de Deus é tolice para o mundo e a sabedoria do mundo é tolice para Deus.

A sabedoria do homem vem da razão, enquanto a sabedoria de Deus vem da revelação. A sabedoria do homem desemboca no fracasso, a sabedoria de Deus dura para sempre.

Augusto Comte é o pai do Positivismo. O Positivismo prega que o problema básico da humanidade é a educação.

As pessoas são más, dizem, porque são ignorantes. Desde o Iluminismo francês do século 18, o homem começou a sentir orgulho de seu conhecimento, da sua razão, de suas conquistas. Embalado pelo otimismo do humanismo idolátrico, o homem pensou em construir um paraíso na terra com as suas próprias mãos. Mas esse sonho dourado transformou-se em pesadelo. No auge do otimismo humanista, o século 20 foi sacudido por duas sangrentas guerras mundiais. A sabedoria terrena não conseguiu resolver o problema da humanidade. O homem tem conhecimento, dinheiro, poder, ciência, mas é um ser corrompido e mau, mais amam os prazeres que de Deus. Emregue a si mesmo, o homem é apenas um monstro, ainda que bafejado de requintado conhecimento.

Em segundo lugar, ela é animal ou não-espiritual (3.15).

A palavra grega é psykikos. Essa palavra é traduzida por natural, (ICo 2.14; 15.44,46) como oposto de espiritual.

Em Judas 19, essa palavra é traduzida como sensual. Essa sabedoria está em oposição à nova natureza que temos em Cristo. É uma sabedoria totalmente à parte do Espírito de Deus. Essa sabedoria escarnece das coisas espirituais. O mundo está cada vez mais secularizado. As coisas de Deus não importam. A Palavra de Deus não governa a vida familiar, econômica, profissional, sentimental das pessoas. Empurramos Deus para dentro dos templos.

Em terceiro lugar, ela é demoníaca (3.15).

Essa foi a sabedoria usada pela serpente para enganar Eva, induzindo-a a querer ser igual a Deus e fazendo-a descrer de Deus para crer nas mentiras do diabo. As pessoas hoje continuam crendo nas mentiras do diabo (Rm 1.18-25). O diabo se transfigura em anjo de luz para enganar as pessoas. Pedro revelou essa sabedoria quando tentou induzir Cristo a fugir da cruz (Mc 8.32,33). Norman Champlin sintetiza esses três tipos trágicos de sabedoria da seguinte maneira: Essa sabedoria é “terrena” porque busca distinções terrenas e pertence a categorias terrenas. Além disso, ela é sensual, isto é, natural, porque é o resultado de princípios que atuam sobre os homens naturais, como a inveja, a ambição, o orgulho, etc.

Finalmente, ela é demoníaca, porque, primeiramente, veio do diabo, constituindo a imagem mesma de seu orgulho, de sua ambição, de sua malignidade e de sua falsidade.

Agora, Tiago fala sobre a sabedoria do alto. A verdadeira sabedoria vem de Deus, do alto, visto que ela é fruto de oração (1.5), ela é dom de Deus (1.17). Essa sabedoria está em Cristo: Ele é a nossa sabedoria (iCo 1.30). Em Jesus nós temos todos os tesouros da sabedoria (Cl 2.3). Essa sabedoria está na Palavra, visto que ela nos torna sábios para a salvação (2Tm 3.15). Ela nos é dada como resposta de oração (Ef 1.17; Tg 1.5).

LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 72-75.

 

A origem e os padrões deste tipo de sabedoria são do mundo, e não de Deus. Os seus professores são egocêntricos e superficiais. Esta sabedoria não vem com a fé – ela é terrena e animal. “Animal” pode se referir ao homem natural. A palavra para “animal” é usada no Novo Testamento a respeito da pessoa que não tem o Espírito de Deus (3.15), ou que não aceita a orientação que vem do Espírito de Deus (I Co 2.14). Este tipo de pessoa ensina somente a sabedoria desta vida, baseada tipicamente nos sentimentos humanos e no raciocínio humano. A verdadeira origem destes pensamentos é o diabo, cujos objetivos são sempre destrutivos e podem produzir na igreja, no lar e no trabalho uma atmosfera que prejudica os relacionamentos. Pense na rapidez com que as palavras, a linguagem e o tom de voz podem criar uma atmosfera destrutiva.

As pessoas tomadas de inveja e egoísmo (versão NTLH) pensam que precisam ser as primeiras em tudo. Elas não suportam ver outra pessoa no centro das atenções, ou ter alguém fazendo sombra sobre o que elas fazem.

Isto leva a desejos e estratégias de vingança, que, por fim, levam a desastres. Em contraste, as sete características da sabedoria celestial apresentadas a seguir são unidas como pérolas.

Elas são o que a sabedoria é e produz. A sabedoria que vem do alto é… para. Para dar frutos para Deus, nós devemos ter integridade moral e espiritual. Ela é também pacífica. Esta é a paz que vai além da paz interior; é o oposto à luta. E a paz entre as pessoas, e entre as pessoas e Deus. Deve ser a paz que afeta a comunidade.

Os cristãos não devem apenas preferir a paz, mas também devem procurar transmiti-la. É moderada (ou bondosa, versão NTLH) em todas as ocasiões. Isto é o oposto do egoísmo. Ela não exige os seus próprios direitos. Ser bondoso é ter os outros em consideração, é temperar a justiça com a misericórdia. É o tipo de tratamento que nós gostaríamos de receber dos outros. Esta sabedoria também é tratável (ou amigável, versão NTLH). A sabedoria celestial é razoável, flexível – disposta a ouvir e a mudar. Assim como os bons soldados seguem voluntariamente as ordens dos seus superiores, as pessoas que têm sabedoria celestial seguem voluntariamente as ordens de Deus e respondem positivamente à sua correção.

Esta sabedoria também é cheia de misericórdia e de bons frutos. A sabedoria de Deus é cheia do perdão gracioso de Deus. E o seu amor leva a ações práticas, ajudando e servindo a outros. Devemos estar dispostos a perdoar mesmo quando os problemas que estamos enfrentando são culpa de outra pessoa. A sabedoria de Deus é sem parcialidade, o que quer dizer determinada e livre de preconceitos com relação às pessoas e sem hesitações com relação a Deus (1.5-8). Finalmente, é sem hipocrisia, o que significa que é “sincera”. A sabedoria de Deus torna as pessoas autênticas.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 680-681.

 

II – A CONSOLIDAÇÃO DO PODER

1. A glória do reino de Salomão. O reinado de Salomão não apenas se tornou amplo em termos territoriais, mas foi firmado e estabelecido em paz e justiça (1 Rs 4.24). O povo de Judá e Israel tinha tanta fartura e vivia em tão boas condições que podia até festejar e se alegrar (1 Rs 4.20). Todos os governos, quando administrados sob essas premissas, se tornam duradouros trazendo ao povo paz e segurança (1 Rs 4.25a).

Comentário

O reinado de Salomão tornou-se amplo em termos territoriais e serviçais, bem como foi firmado e estabelecido em justiça e paz (1 Rs 4.24), permitindo ao povo tanta fartura e condições ideais que esses podiam fazer festas e alegrarem-se (1 Rs 4.20). Todos os governos, inclusive a Igreja do Senhor, quando são administrados sob essas premissas básicas, tornam-se duradouros e trazem segurança ao povo (1 Rs 4.25a).

No reinado de Salomão, houve muita riqueza para ele e para o povo (1 Rs 4.25). Havia uma excepcional organização de provisões e suprimentos diários para o palácio do rei, da ordem de “três mil quilos de farinha de trigo e seis mil quilos de farinha de outros cereais; dez bois gordos, vinte bois de pasto e cem carneiros; fora veados, gazelas, corços e aves domésticas” (1 Rs 4.22,23, NTLH). Ele também organizou um grande exército composto de soldados bem equipados e alimentados, em torno de 1.400 carros de guerra, 12 mil cavaleiros, além de ter construído 4 mil estábulos para cavalos, que eram negociados no Egito.

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

Sobre todos os reis aquém do Eufrates. Ou seja, a oeste desse rio. “O autor sacro, neste versículo, vivia a leste do rio Eufrates; e isso deixa claro que temos aqui o trabalho de um editor exilado” (Norman H. Snaith, in loc.).

Tifsa. Esta cidade ficava às margens norte do rio Eufrates.

Gaza. Esta era uma das cidades filisteias, no sul (cf. o vs. 21). Portanto, temos aqui outra afirmação concernente à extensão do reino de Salomão, de norte a sul. Ver sobre Tifsa e Gaza no Dicionário. A paz tinha sido estabelecida, graças às conquistas de Davi sobre as oito nações cananeias (ver as notas em II Sam. 10.19). Desfrutando de paz e de muito dinheiro, e de toda a sabedoria de que dispunha, não é de admirar que Salomão tenha conseguido fazer Israel subir à sua maior glória. Ver o artigo chamado Salomão como ilustração.

Judá e Israel habitavam confiados. O autor sacro enfatiza novamente a unidade do país. Tanto o norte quanto o sul participavam de todos os benefícios do governo salomônico. Ele também quis dar a entender que cada homem era um proprietário, e tinha suas próprias provisões, de modo que, para todos os efeitos práticos, gozava de independência financeira. Cada qual possuía suas próprias terras, com sua produção de uvas e figos (e todas as demais coisas necessárias para um bom suprimento alimentar, embora essas coisas não sejam especificamente mencionadas).

“Cada indivíduo vivia sob sua videira e sua figueira (vs. 25). Essa é uma expressão figurada que indica paz e prosperidade (cf. Miq. 4.4 e Zac. 3.10). Tanto a videira quanto a figueira eram símbolos da nação de Israel e retratavam a abundância agrícola que havia na Terra Prometida” (Thomas L. Constable, in loc).

“Os filhos de Israel não eram mais obrigados a habitar em cidades fortificadas, por temor a seus adversários. Antes, espalharam-se por todo o território do país, que eles cultivavam em todos os rincões. Eles sempre tinham o privilégio de comer os frutos de seus próprios labores” (Adam Clarke, in loc).

Tipologia. Em Cristo, há abundância espiritual e pleno suprimento para a alma.

Desde Dã até Berseba. Em outras palavras, em todas as terras. Estes dois lugares falam sobre o extremo norte e o extremo sul do território de Israel. Ver as notas em I Sam. 3.20 sobre essa expressão. A distância entre esses lugares era apenas de 240 quilômetros, o que significa que Israel era menor do que o estado de São Paulo. Naturalmente, Salomão ampliou seu reino muito mais ao norte do que Dã, mas a expressão, proverbial que era, continuou a falar sobre a totalidade de Israel.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1364.

 

A sua plenitude: e deu Deus a Salomão sabedoria, XX e muitíssimo entendimento, grande conhecimento a respeito de países distantes e das histórias de tempos anteriores, pensamento ágil, memória forte e clareza de julgamento, tal como nenhuma pessoa tivera. Isso é chamado de largueza de coração, pois o coração freqüentemente é considerado como tendo poderes intelectuais. Ele tinha um grande conhecimento, via as coisas como um todo, e tinha uma admirável faculdade de organização. Alguns entendem por sua largueza de coração a coragem e a audácia que ele tinha e a grande certeza com a qual dava seus preceitos e decisões. Ou isso pode significar a sua disposição de praticar o bem com o seu conhecimento. Ele era muito generoso e comunicativo, tinha o dom da palavra assim como o da sabedoria, era tão generoso em relação à sua erudição quanto era em relação ao alimento, não negava nada a ninguém que estava ao se redor. Note: E muito desejável que aqueles que recebem grandes dádivas de qualquer tipo, devam ter grandes corações para usá-las para o bem dos outros; e isto vem da mão de Deus (Ec 2.24). Ele dilatará o coração (SI 119.32). A grandeza da sabedoria de Salomão é ilustrada por comparação. Caldéia e Egito eram nações famosas pela erudição; dali os gregos emprestaram a sua. Mas os maiores sábios dessas nações não estavam à altura de Salomão (v. 30). Se a natureza supera a habilidade, muito mais a graça. O conhecimento que Deus concede por um favor especial ultrapassa aquele que a pessoa adquire por seu próprio esforço. Havia alguns sábios no tempo de Salomão que tinham grande reputação, principalmente Hemã, e outros que eram levitas e empregados por Davi na música do templo (1 Cr 15.19).

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 464-465.

 

2. O orgulho precede a ruína. Infelizmente, até mesmo os homens mais sábios estão sujeitos à queda quando deixam de temer a Deus e entram por caminhos tortuosos. Os desvios de Salomão foram chegando aos poucos, à medida que fazia pequenas concessões em seu coração e estabelecia acordos e conchavos políticos que deterioraram sorrateiramente seus valores espirituais (1 Rs 11.1,2). Salomão enganou a si mesmo pela ganância e pela sede de poder que deixou invadir seu coração. Todavia, é importante destacar que isso não aconteceu no início do seu reinado (1 Rs 11.4-6). Essa degradação de valores começou conforme Salomão permitia que pequenos desvios assumissem proporções gigantescas.

Comentário

Infelizmente, até mesmo os homens mais sábios estão sujeitos à queda quando deixam de temer a Deus e entram em caminhos tortuosos. Nesse sentido, Salomão acabou desenvolvendo uma sabedoria idiotizada pelo orgulho e pelo poder. Esses desvios foram chegando aos poucos na vida de Salomão, na medida em que ele foi fazendo pequenas concessões no seu coração e estabelecendo acordos e conchavos políticos que foram deteriorando sorrateiramente os seus valores espirituais, enganando a si mesmo a partir da ganância e da sede de poder que foram entrando no seu coração. É importante observar que esses valores deteriorados não estavam presentes no início do seu reinado, mas foram ocupando espaço na medida em que Salomão foi permitindo certos desvios, que até eram pequenos no início, mas que depois assumiram proporções gigantescas, cujas advertências estão contidas no Salmo 73.

A pessoa que adquire riqueza e poder e é desprovida de sabedoria leva uma vida de prepotência e arrogância (Pv 16.19; 18.23). Desse modo, ela vê as pessoas como objetos, e não como criaturas de Deus e nem como seu próximo. As pessoas nessa situação tendem a lutar constantemente para manter seu status quo. Por isso, tratam as pessoas subordinadas ou em condições de dependência como se nunca fossem precisar delas. Elas investem nos relacionamentos com pessoas em condições financeiras e de poder semelhantes com o propósito de trocas de favores e interesses. Elas vivem uma vida de insegurança constante, sempre com medo de perder o poder e, por esse motivo, não dormem enquanto não maquinam o que fazer para manter-se no controle (Pv 4.16; Sl 36.4; Is 57.20; Ml 2.1).

Os desvios e as suas consequências haviam sido preconizados pelo legislador Moisés, referindo-se ao futuro rei de Israel em Deuteronômio 17.16,17:

Porém não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar ao povo ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o Senhor vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si.

Percebe-se que Moisés, na sua sabedoria, previu os problemas oriundos da ganância e da luxúria, mas Salomão tropeçou exatamente naquilo que Moisés havia-lhe prevenido nas suas ordenanças. Nota-se a diferença do coração de Davi para o de Salomão. O primeiro sempre se arrependia dos seus pecados e consertava o erro cometido. Já Salomão não se arrependeu, pois justamente as muitas riquezas, glória e luxúria causaram-lhe cegueira espiritual e uma quase impossibilidade de arrependimento (ver Lc 18.25). O próprio Salomão, enquanto ainda dependente de Deus e não das suas habilidades, disse: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas” (Pv 3.5,6). Mas, infelizmente, ele deixou de confiar em Deus e trouxe sérias consequências, permitindo que se perdesse boa parte daquilo que ele havia adquirido e organizado. Por isso, Deus voltou-se contra Salomão e predisse a ruína do seu reino quando os seus filhos assumissem o trono (1 Rs 11.9-13).

Salomão fez alianças políticas com vários reinos antigos territorialmente próximos, porém, outros longínquos, em troca de casamentos com princesas desses reinos e outros benefícios econômicos. Com isso, trouxe sérios comprometimentos ao seu reino, tendo que edificar lugares sagrados pagãos para agradar as suas mulheres e construir castelos imponentes para elas, como no caso da filha de Faraó (1 Rs 3.1; 7.8). A tradição de escritos antigos afirma que ele teve um filho com a rainha de Sabá chamado Menelik I, que seria o fundador da casa real etíope.

Em busca de mais poder e prestígio, Salomão fez tratados políticos com povos pagãos e teve em troca acesso a mais poder, glória e luxúria (1 Rs 11.1,2), que, em função dos envolvimentos, o levaram também ao paganismo e à grave desobediência ao Senhor (1 Rs 11.4-10). Dessa forma, Salomão cedeu às três principais tentações que podem destruir a pureza do coração humano: poder, sexo e dinheiro. Essas três forças não são más em si. Todas fazem parte da boa criação de Deus, mas podem levar à ruína quando dominam a pessoa e são usadas de forma imprópria e irresponsável. No caso de Salomão, levaram-no a adorar os deuses pagãos Astarote, Quemos e Milcom (2 Rs 23.13).

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

Sendo já velho. O jovem Salomão conseguiu aguentar toda essa atividade sexual e, ao mesmo tempo, devotar-se a Yahweh. Mas conforme foi envelhecendo, começou a abandonar qualquer pretensão de devoção. Que o coração de Salomão não era perfeito no tocante ao yahwismo e às suas demandas, sem dúvida, é uma declaração sem nenhum exagero. Davi, embora fosse polígamo e sangrento homem de guerra, tinha um coração (relativamente) perfeito. Ver sobre Davi, homem segundo o coração de Deus, em I Sam. 13.14. Mas Salomão, em seus muitos excessos de dinheiro, poder, fama e sexo, não foi capaz de preservar o que seu pai fez. Ele insultou a Yahweh-Elohim, o eterno e Todo-poderoso Deus. Ver no Dicionário o artigo chamado Deus, Nomes Bíblicos de. Apesar de todos os seus erros, Davi não caiu na idolatria.

“Chegando ao final de seu reinado, Salomão já se aproximava dos 60 anos de idade, pois Reoboão, seu filho e sucessor, tinha 41 anos de idade quando começou a reinar (I Reis 14.21)” (John Gill, in toe.). Assim sendo, enquanto homens mais idosos vão ficando mais e mais sábios, Salomão, ao envelhecer, perdeu seu senso de propriedade e maculou a sabedoria que Deus ihe dera.

Não deveríamos lançar a culpa pelos problemas de Salomão sobre a alegada debilidade e senilidade. Antes, sua inclinação para o ecletismo saiu de seu controle, e suas esposas continuaram a rasgá-lo em pedaços. O que não deveria ter acontecido a um sábio ocorreu de forma prodigiosa. Isso, naturalmente, é uma advertência para todos.

Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia.

(I Coríntios 10.12)

Astarote, deusa dos sidônios. Ela era uma vil deusa do sexo, também conhecida largamente no mundo antigo como Istar e Astarte. Na Síria, ela aparecia como a consorte feminina do deus Baal. Era deusa da fertilidade e sua adoração envolvia orgias sexuais e deboche, bem como a adoração às estrelas. Os costumes variavam de acordo com a localização geográfica, mas ela representava uma abominação para os hebreus. Ver II Reis 23.13. E um fato curioso que, nas moedas de Sidom, Astarote era retratada de pé na proa de uma galera, inclinada para a frente com o braço direito estendido. Dessa maneira, ela se tornou o protótipo de todas as figuras de proa dos navios veleiros. Que Salomão tivesse caído nesse ardil de Astarote, é quase impossível acreditar. Somente uma significativa desintegração da sua personalidade permitiria tal coisa.

Milcom, abominação dos amonitas. Ver o Dicionário quanto a detalhes. Esta palavra significa rei e com as vogais alteradas (a escrita hebraica continha somente consoantes) tornava-se melek, palavra hebraica que também significa “rei”. Possivelmente era uma variedade do nome Moleque (vs. 7). Temos em vista aqui a adoração daquele deus conforme era efetuada no culto dos amonitas. O ‘ culto variava segundo a área geográfica. Ver Lev. 18.21 e Amós 1.13.

Os autores judaicos mostram-se bondosos para com Salomão, afirmando que o seu problema fora permitir às esposas continuar com os costumes no tocante a seus deuses, mas ele mesmo não participava disso. Parece, contudo, que o crime de Salomão ia muito além da mera permissividade. Havia também alguma prática aberta. O texto diz que Salomão “seguiu” esses deuses. Ele chegou a demonstrar entusiasmo pelas práticas sincretistas. Ver I Reis 11.7 e 33 e II Reis 23.13.

O que era mau perante o Senhor. A degradação de Salomão levou-o a uma idolatria ativa, e não somente a uma atitude permissiva mediante a qual suas esposas continuaram a adorar deuses pagãos. O presente versículo certamente prova isso.

Yahweh viu o caminho de Salomão e ficou desagradado diante disso. A calamidade sobreviria a Israel. O país já estava na estrada dos cativeiros (ver a respeito nos Dicionário). A parte norte do país (Israel) se separaria do sul (Judá), e a nação permaneceria dividida até o cativeiro assírio (722 A. C.), que levou as dez tribos do norte. Nenhum remanescente haveria de retornar. Entretanto, do cativeiro babilónico (597 A. C.), voltaria um remanescente, e Israel começaria de novo, tendo nas tribos de Judá e Benjamim as únicas fontes de população. Por essa razão, todos os hebreus atuais são chamados judeus. Mas a síndrome do pecado-calamidade continuaria perseguindo Israel até o fim. Salomão cumpriu sua parte para fazer essa síndrome entrar em ação.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1402.

 

O perigo do casamento com incrédulos é descrito no versículo 2, uma citação de Deuteronômio 7:4: “pois elas [farão] desviar teus filhos de mim” – exatamente o que aconteceu com Salomão (vv. 3, 4, 9). Os amonitas e moabitas eram descendentes de Ló, sobrinho de Abraão (Gn 19:30ss). Os amonitas adoravam o terrível deus Moloque e sacrificavam suas crianças nos altares dessa divindade (Lv 18:21; 20:1-5; e ver Jr 7:29-34; Ez 16:20-22). Quemos era o deus mais importante dos moabitas, e Astarote, a deusa do povo de Tiro e Sidom. Uma vez que era a deusa da fertilidade, a adoração a Astarote incluía a “prostituição legalizada”, tanto de mulheres quanto de homens que atuavam como prostitutos templares numa forma de adoração indescritivelmente obscena (ver Dt 23:1-8; 1 Rs 14 :24; 15:12; 22 :46 ). Os babilônios também adoravam essa deusa e a chamavam de Ishtar.

Salomão havia exortado o povo, dizendo: “Seja perfeito o vosso coração para com o Senhor” (8:61); em outras palavras, tenham um coração inteiramente consagrado ao Senhor. Mas o coração do próprio rei não era perfeito para com Deus (v. 4). Salomão não abandonou Jeová de todo, mas fez dele um dos muitos deuses que adorava (9:25), uma conduta que violava diretamente os dois primeiros mandamentos dados no Sinai (Êx 20:1-6). O Senhor Jeová é o único Deus, o verdadeiro Deus vivo, e não aceita ser colocado no mesmo nível que os falsos deuses das nações. “Eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim” (Is 46:9).

A transigência de Salomão não apareceu de um dia para o outro, pois o rei foi se entregando aos poucos à idolatria (Sl 1:1).

Primeiro, permitiu que suas esposas adorassem os próprios deuses, depois tolerou sua idolatria e até construiu santuários para esses deuses. Por fim, começou a participar das práticas pagãs com suas esposas. O amor sensual do rei por suas muitas esposas foi mais atraente que seu amor pelo Senhor, o Deus de Israel. Salomão foi um homem de coração dividido e desobediente, e pessoas instáveis e de coração dobre são perigosas (Tg 1:8). De que maneira Israel poderia ser luz para as nações gentias quando seu rei adorava e apoiava abertamente os deuses dessas nações? Salomão costumava oferecer sacrifícios e queimar incenso ao Senhor Jeová, mas, quando ficou mais velho, começou a incluir em sua adoração os falsos deuses venerados por suas esposas (8:25; 11:8).

Ao ler o Livro de Eclesiastes, descobrimos que, quando o coração de Salomão começou a se afastar do Senhor, o rei passou por um período de cinismo e de desespero.

Chegou até mesmo a questionar se valia a pena viver. Uma vez que o rei deixou de caminhar lado a lado com o Senhor, seu coração ficou vazio, de modo que saiu em busca de prazer, envolveu-se em empreendimentos comerciais com várias nações estrangeiras e se dedicou a um enorme programa de construção. Porém, em momento algum encontrou alegria nessa vida. No Livro de Eclesiastes, Salomão escreve pelo menos trinta vezes a palavra “vaidade”.

Seu amor pelos valores espirituais foi substituído por um amor pelos prazeres físicos e pela riqueza material e, aos poucos, seu coração se distanciou do Senhor. Primeiro, tornou-se amigo do mundo (Tg 4:4), depois, foi contaminado pelo mundo (Tg 1:27), em seguida passou a amar o mundo (1 jo 2:1 5-1 7) e a se conformar com o mundo (Rm 12:2). Infelizmente, o resultado desse declínio pode levar o indivíduo a ser condenado com o mundo e a perder tudo (1 Co 11:32). Foi o que aconteceu com Ló (Gn 13:10-13; 14:11, 12; 19:1 ss), e é o que pode acontecer com os cristãos nos dias de hoje.

WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 432-433.

 

III – A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO

 

A maior realização arquitetônica do antigo Israel foi o seu magnífico Templo em Jerusalém. Situado politicamente no centro do país, também era o foco religioso da nação onde a glória de Deus era residente entre o seu povo. Por conseguinte, foi destinado para estar no centro dos conflitos religiosos e políticos.

O Templo tornou-se objeto de conflitos religiosos internos, com idólatras e reformadores alternadamente profanando ou rededicando seus lugares santos. Conflitos políticos externos levaram os inimigos de Israel a repetidamente saquear seus tesouros e forçar os reis dos judeus a diminuir e deformar suas estruturas com o propósito de pagar tributos. E por duas vezes, os poderes estrangeiros destruíram o Templo completamente.

Em nosso estudo do Templo de Jerusalém é importante lembrar que na sucessão histórica houve três Templos que estiveram no monte do Templo entre 960 a.C. e 70 d.C. O Primeiro Templo teve sua construção iniciada em 967 a.C. e terminada em 960 a.C. Os babilônios destruíram este Templo em 586 a.C. (Para mais informações sobre evidências arqueológicas desta destruição, vide o Capítulo 12.) O Templo foi reconstruído sob a liderança de um sacerdote chamado Zorobabel, sendo que as fundações foram lançadas em 538 a.C. e a estrutura dedicada em 515 a.C. Por quase 500 anos este Segundo Templo permaneceu em sua forma modesta de reconstrução até ao período romano. Então o rei dos judeus nomeado pelos romanos, Herodes, o Grande, restaurou-o completamente, iniciando os trabalhos em 19 a.C. e dedicando-o dez anos depois. Esta restauração total foi feita sob todos os aspectos. Herodes aumentou e reformou o Templo, dobrando sua plataforma em relação ao tamanho anterior.

Se bem que em termos históricos e arquitetônicos este tenha sido a terceira construção, religiosamente ainda era considerado o Segundo Templo, porque a oferta dos sacrifícios não foi interrompida durante a transição entre as estruturas. Foi neste Segundo Templo há pouco restaurado que Jesus foi dedicado quando criança (aproximadamente em 6 a.C.). Apesar de Herodes já ter dedicado o Templo, os trabalhos continuaram por outros 46 anos (Jo 2.20). Depois, em 70 d.C., o exército romano destruiu o edifício.5 Novas evidências da presença deste exército foram recentemente localizadas fora de Jerusalém na escavação de um acampamento da Décima Legião (aquela que destruiu a cidade e o Templo). Ademais, a inscrição de Vespasiano-Tito descoberta em 1970 numa coluna de pedra perto do monte do Templo celebra o imperador pai e o general filho da Décima Legião, bem como Silva, o comandante romano da Décima Legião. Em 73 d.C., Silva atacou os judeus que tinham fugido para Massada.

Price. Randall,. Arqueologia Bíblica. Editora CPAD. Ed. 5, 2006.

 

1. O nobre propósito de Salomão. O propósito de Salomão na construção do Templo foi muito nobre: “edificar uma casa ao nome do Senhor, meu Deus” (1 Rs 5.5). Nisso se percebe que havia pureza no coração do sábio rei de Israel nos primeiros anos de seu reinado. Na construção do Templo, foram empregados diversos materiais de altíssimo valor, tais como cedro do Líbano e muito ouro. Todo o Templo foi revestido de ouro. O Lugar Santíssimo teve as paredes, o teto e o piso revestidos de ouro puro (1 Rs 6.20-22). Salomão quis demonstrar seu imenso amor a Deus edificando lhe uma morada de altíssima qualidade e excelência.

Comentário

O propósito de Salomão na construção do Templo foi muito nobre: “para a adoração do meu Deus, o Senhor” (1 Rs 5.5, NTLH). Nisso se percebe a pureza do coração de Salomão nos primeiros anos do seu reinado, e foi nesse propósito que ele construiu o Templo. Foram empregados muitos materiais nobres na construção, como cedro do Líbano, e também muito ouro. Todos os utensílios e detalhes do Templo foram feitos com muito esmero, pompa e glória, exatamente para demonstrar o amor de Salomão por Deus e para dar a Ele uma morada da mais excelente qualidade.

Foi desejo de Davi construir o Templo para o culto a Deus, pois, até então, a Arca da Aliança, que simbolizava a presença de Deus entre o povo, estava guardada numa tenda que Davi havia feito para ela (2 Sm 6.12,17). Davi fez as plantas e desenhou os modelos de como seria o Templo que o próprio Deus havia-lhe mostrado (1 Cr 28.11-19), mas, quando intentou construir, foi impedido por Deus por intermédio do profeta Natã (2 Sm 7.4-13), por ter sido um homem de muitas guerras e mortes (1 Cr 22.8). Percebe-se, nesse sentido, que Deus já começava a revelar a sua não aprovação às guerras e mortes de que o seu povo participava, negando a Davi o desejo de construir o Templo por este ter derramado muito sangue.

No Novo Testamento, por meio de Jesus (Mt 5.21,22), a Revelação completa de Deus, há vários apelos para que sempre haja paz (Mt 5.9), devendo-se amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem (Mt 5.44).

Deus, porém, consolou Davi quanto à construção do Templo dizendo que a sua casa subsistiria para todo sempre. Ele, portanto, atentou para o bom propósito do coração de Davi proporcionando-lhe promessas muito maiores do que a construção de um templo: a construção de uma dinastia que não teria fim (2 Sm 7.14-16). Diante dessa promessa, Davi rendeu adoração, louvores e gratidão a Deus (2 Sm 7.18.29).

Salomão executou a obra de construção do Templo conforme o modelo que Davi, o seu pai, havia-lhe fornecido. Era dividido internamente em três cômodos: um vestíbulo chamado Ulam, de 4,5 m de comprimento; uma sala de culto chamada Hekal, cujo significado pode ser palácio ou templo, também chamada de Lugar Santo, medindo 18m de comprimento; e o Debir, cujo significado é a “câmara de trás”, que foi chamado de Santo dos Santos, onde ficava a Arca da Aliança e era inacessível, a não ser ao sumo sacerdote uma vez por ano. Esse compartimento era um cubo perfeito que media 9m de comprimento, altura e largura (1 Rs 6.16-21). Toda parte interna do Templo foi coberta de ouro em todas as paredes (1 Rs 6.22).

No lugar Santo, Hekal, ficava o Altar de Incenso, a Mesa dos Pães da proposição e o Candelabro (1 Rs 7.48). Todos esses móveis e utensílios eram feitos de ouro (1 Rs 7.50). O Altar de Bronze, onde eram oferecidos os sacrifícios, ficava do lado de fora do Templo (1 Rs 9.25; 2 Rs 16.14). A sudeste do Templo, havia uma grande cuba (pia) de bronze sustentada por 12 figuras de touros com capacidade para 40 mil litros de água (1 Rs 7.23-26), que servia para a purificação dos sacerdotes (Êx 30.18-21). Havia também dez bacias de bronze quadradas com 1,80m tanto de largura quanto de comprimento e 1,30m de altura, nas quais cabiam 85 litros de água (1 Rs 7.27-39), destinadas para lavar as vítimas.

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

Pelo que intento edificar uma casa ao nome do Senhor. Yahweh ficara agradado com o desejo de Davi edificar o templo e dera Sua palavra de aprovação ao projeto. Mas o tempo da construção ainda não havia chegado. Salomão seria o correto instrumento no tempo certo. Ver em II Samuel 7 o desejo original de Davi e a permissão divina acerca da construção do templo. Natã, o profeta, proferiu essa boa palavra.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1366.

 

2. O templo do Espírito Santo. Essa visão de Deus centrada no templo é uma forte característica do Antigo Testamento, mas com a redenção do homem, efetuada por Cristo na cruz do Calvário, a morada de Deus passa a ser o próprio homem regenerado. E é nesse lugar que deve haver riqueza e beleza, porque o Espírito de Deus habita nele (1 Co 6.19).

Comentário

Essa visão de Deus centrada no Templo é uma característica do Antigo Testamento, mas com a redenção do ser humano efetuada por Cristo na cruz, a morada de Deus passa a ser o homem regenerado. Nesse lugar, deve haver beleza, pois o Espírito Santo habita nele (1 Co 6.19). A glória que foi manifestada no Templo de Salomão agora é manifestada na comunhão dos irmãos por meio de Cristo e no coração de cada crente regenerado.

A presença de Deus no Templo é uma teofania do Antigo Testamento, necessária à revelação progressiva de Deus na história do seu povo. Já no Novo Testamento, a ênfase demasiada sobre o local de culto e a sua valorização excessiva como local da presença de Deus ofusca o verdadeiro local dessa presença, que é dentro de cada crente que se torna morada do Espírito Santo. Jesus disse: “Eu derribarei este templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens” (Mc 14.58).

Portanto, no Novo Testamento, o Templo não é um lugar fixo geográfico, mas é ambulante, porque o seu povo movimenta-se no mundo como sinal do Reino de Deus. Todavia, é evidente também que, quando vários desses templos individuais do Espírito Santo, ou seja, as pessoas, ajuntam-se no templo/igreja, cria-se uma grande assembleia onde Deus, em Cristo, manifesta a sua presença não por causa do templo físico em si, mas por causa de os filhos de Deus em Cristo, em quem Ele habita, estarem juntos. Foi por isso que Jesus tirou a ênfase no Templo quando disse: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20). Essa compreensão ajusta um desvio doutrinário presente em muitas igrejas e lideranças de uma supervalorização do templo, do seu embelezamento exagerado e caro, o que pode tornar-se uma idolatria. A idolatria templária já havia sido denunciada pelo profeta Jeremias (26.8-13), quando a manutenção das instituições se tornaram mais importantes do que as reformas espirituais necessárias e o correto atendimento das necessidades do povo. Essa mesma ideia é expressa pelo profeta Ezequiel (8.6-18; 9.6-11).

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

Aquele que está unido com Cristo é um espírito. Aquele que se entrega a Ele, é assim consagrado a Ele e separado para o seu uso, e é depois disso possuído, ocupado e habitado pelo seu Espírito Santo. Esta é a própria noção de templo – um lugar onde Deus habita e que é consagrado para o uso dele, para seu próprio direito e reivindicação de suas criaturas.

Os verdadeiros cristãos são tais templos do Espírito Santo. Ele não deve, portanto, ser Deus? Mas a inferência clara é que, por isso, não nos pertencemos. Nós somos de Deus, possuídos por e para Deus; mais ainda, isto em virtude de uma aquisição que Ele fez de nós: “porque fostes comprados por bom preço”. Resumindo, nossos corpos foram feitos para Deus, eles foram comprados por Ele.

Se nós somos cristãos, de fato eles são dele, e Ele os habita e os ocupa pelo seu Espírito, de maneira que nossos corpos não são nossos, mas dele. E nós profanaremos seu templo, o sujaremos, o prostituiremos, e o ofereceremos ao uso e serviço de uma prostituta? Que horrível sacrilégio!

Isto é roubar a Deus no pior sentido. Note que o templo do Espírito Santo deve ser guardado santo. Nossos corpos devem ser guardados para aquele a quem pertencem, e devem ajustar-se para seu uso e residência.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 453.

 

  1. “Ou vocês não sabem?” A conjunção comparativa ou fornece um motivo adicional para se fugir da imoralidade sexual. Pela última vez nesse capítulo, Paulo pergunta retoricamente aos coríntios se eles têm conhecimento definido (ver vs. 2, 3, 9, 15, e 16). Novamente eles precisam dar uma resposta afirmativa à pergunta. Presumimos que numa ocasião anterior Paulo lhes tenha instruído sobre o uso apropriado e o destino do corpo físico.
  2. “Seu corpo é um templo do Espírito Santo dentro de vocês.” Paulo faz os coríntios se lembrarem da sacralidade de seu corpo. Ele observa que o Espírito Santo faz sua habitação dentro deles, de modo que o corpo deles é seu templo. Ele escreve as duas palavras, corpo e templo, no singular para aplicá-las ao crente individual. E mais, por meio da ordem de palavras no grego, ele coloca ênfase sobre o Espírito Santo. Aos coríntios Paulo escreve literalmente: “Seu corpo é um templo daquele que está dentro de vocês, a saber, o Espírito Santo”, isto é, o corpo físico do cristão pertence ao Senhor e serve como residência do Espírito Santo.

Quanta honra ter o Espírito de Deus habitando dentro de nós! Observe que Paulo escreve a palavra templo (ver o comentário sobre 3.16).

O grego tem duas palavras que são traduzidas “templo”. A primeira é hieron, que se refere ao complexo do templo em geral, como na cidade de Jerusalém. A segunda é naos, que denota o prédio do templo, com o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo (ver, por ex., Êx 26.31-34; Hb 9.1-5). No presente versículo é usado naos. Para o judeu, esse era o lugar onde Deus habitava entre seu povo até a destruição do templo em 70 d.C. Para o cristão, não num local geográfico fixo, e sim no corpo do crente individual, é onde o Espírito de Deus se agrada viver. Na Igreja primitiva, Irineu chamava os cristãos individuais de “templos de Deus” e descrevia-os como “pedras para o templo do Pai”.59 Então, se o Espírito de Deus habita dentro de nós, devemos evitar entristecê-lo (Ef 4.30) ou apagar sua chama (1Ts 5.19).

  1. “Que receberam de Deus.” Nesse breve segmento do versículo, Paulo ensina, primeiro, que os crentes individuais possuem e continuam a possuir o dom, ou dádiva, do Espírito Santo. A seguir, ele revela que a origem do Espírito é de Deus.
  2. “E vocês não pertencem a si mesmos.” Nós não somos os donos de nosso próprio corpo, porque Deus nos criou, Jesus nos redimiu e o Espírito Santo faz sua habitação dentro de nós. O Deus triuno reivindica que pertencemos a ele, mas nos deixa livres para consagrar e ceder nosso corpo físico a ele. Em contraste, aqueles que cometem a fornicação profanam o templo do Espírito Santo e causam dano espiritual e físico inexprimível para si e para os outros. Por esse motivo, Paulo exorta-nos a fugir da imoralidade sexual (v. 18). Por Deus ser dono de nosso corpo, nós somos mordomos dele e precisamos prestar contas a ele. Portanto, devemos montar guarda sobre a santidade dele e protegê-lo de poluição e destruição. O templo de Deus é santo e precioso.

Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento I Coríntios. Editora Cultura Cristã. pag. 285-287.

 

3. A glória do Senhor. A glória do Senhor se manifestou no Templo, depois de pronto, em duas ocasiões especiais: a primeira foi quando os sacerdotes levaram a Arca para o Lugar Santíssimo. A glória foi tanta que eles não puderam permanecer de pé para ministrar os serviços sagrados (1 Rs 8.11; 2 Cr 5.14). A alegria e o temor da presença de Deus fizeram Salomão proferir uma das mais belas orações da Bíblia (1 Rs 8.22-53; 2 Cr 6.14-42), que reconhece a grandeza, o senhorio, o poder, a misericórdia e o amor de Deus sobre todas as coisas. A segunda ocasião que a glória do Senhor se manifestou foi quando Deus respondeu a Salomão na inauguração do Templo (2 Cr 7.1-3). Desta vez, além da glória, desceu também fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios.

Comentário

A glória do Senhor manifestou-se no Templo depois de pronto de forma extraordinária em vários momentos. O primeiro foi quando os sacerdotes levaram a Arca para o Lugar Santíssimo, de tal forma que não puderam retornar ao local e tiveram que parar o seu trabalho (1 Rs 8.11; 2 Cr 5.14). Percebe-se que a glória do Senhor manifestou-se num ambiente de intensa adoração, por meio de instrumentos musicais e cantores que salmodiavam ao Senhor (2 Cr 5.12,13). A alegria e o temor da presença do Senhor fizeram Salomão proferir uma das mais belas orações da Bíblia (1 Rs 8.22-53; 2 Cr 6.14-42), reconhecendo a grandeza do Senhor Deus, bem como o seu senhorio, poder, misericórdia e amor sobre todas as coisas. A segunda vez em que a glória do Senhor manifestou-se foi quando Salomão acabou de proferir a oração de inauguração (2 Cr 7.1-3).

Dessa vez, além da glória, também desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios. Segundo a teologia meritória do Antigo Testamento, a presença de Deus no meio do seu povo seria retirada se o povo fosse infiel, como, de fato, aconteceu no reinado dos reis idólatras.

A presença da glória do Senhor no Templo é importante porque ela representa a própria presença dEle no local. Assim como a sua presença esteve no Tabernáculo no deserto (Êx 33.9; 40.34,35; Nm 12.4-10), agora também estava presente no Templo; trata-se do símbolo de que Deus tomou posse da sua casa e que agora ela é sua.

Foi por isso que Ezequias, ao receber as cartas ameaçadoras de Senaqueribe, apresentou-as diante de Deus no Templo, e são vários os Salmos que celebram a presença de Deus no Templo (Sl 27.4; 42.5; 76.3; 84; 122.1-4; 132.13,14; 134). Embora Deus não habite em templos feitos por mãos de homens (Is 66.1; At 17.24), a representatividade da sua presença manifestou-se no Templo. O próprio Salomão, na sua oração de consagração do Templo, reconheceu a transcendência de Deus para além do Templo: “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tendo edificado” (1 Rs 8.27).

Pommerening. Claiton Ivan,. O Plano de Deus para Israel em meio a infidelidade da Nação. Editora CPAD.

 

O templo foi construído e enfeitado (ver II Crõ. 2.1-4.22); o templo foi dedicado (II Crõ. 5.2-7.10); e Salomão ofereceu sua especial e eloquente ação de graças (capítulo 6). Então houve um período de oferta dos sacrifícios apropriados (ver II Crô. 7.1-10). As bênçãos e as maldições de Deus foram proferidas no tocante à questão inteira e sua aplicação futura (ver II Crô. 7.11-22).

“Como que para dramatizar a Sua resposta à oração de Salomão, de maneira visual, o Senhor enviou fogo do céu para consumir os sacrifícios que tinham sido preparados (cf. Lev. 9.24; I Crô. 21.26), e a nuvem de Sua glória (cf. II Crô. 5.1-14) encheu o templo de Jerusalém. Tão avassalado ficou o povo pela teofania, que caiu de rosto em terra e aclamou a fidelidade ao pacto (amor, no hebraico, hesed, o amor leal de Deus; cf. II Crô. 5.13; 6.14; 7.6; 20.21)” (Eugene H. Merrill, inloc.).

Tendo Salomão acabado de orar, desceu fogo do céu. Os vss. 1-3 são comentários do cronista, material que não se encontra no trecho paralelo de I Reis. E, naturalmente, os críticos supõem que sejam ornamentos imaginários do autor sagrado, que se afastou de sua fonte informativa a fim de destacar o drama da narrativa. Cf. Lev. 9.23,24 quanto a um relato similar a respeito dos sacrifícios oferecidos por Arão.

Orar. Aqui a referência é à oração eloquente de Salomão (II Crô. 6.12-21). Salomão orou para que o templo cumprisse o propósito para o qual fora construído ser um lugar de adoração e justiça para todos os povos. O caráter distintivo da nação de Israel seria provado desse modo. Ver Deu. 4.4-8 sobre essa distinção. Mas Israel também seria a fonte de uma bênção universal, em antecipação à era do evangelho (II Crô. 6.33).

“Todo ato de adoração era acompanhado por sacrifícios. A língua preternatural de fogo acendeu a massa de carne e foi um sinal da aceitação, por parte do Ser divino, da oração de Salomão (ver Lev. 9.24 e I Reis 18.38). A glória do Senhor encheu a casa com o que era símbolo da presença e da majestade de Deus (ver Èxo. 40.35)” (Jamieson, in Ioc.). Era a glória da Shekinah do Senhor, conforme explica o Targum. Cf. I Reis 8.10,19 e ver no Dicionário o artigo intitulado Shekinah.

Os sacerdotes não podiam entrar na casa do Senhor. A glória de Yahweh fechou temporariamente o acesso ao templo. Nem os próprios sacerdotes que tinham autorização para ministrar ali podiam entrar. O templo abriria uma nova avenida de acesso, mas, pelo momento, o povo deveria ficar boquiaberto diante da majestosa presença de Deus. Naturalmente, a própria estrutura do templo falava sobre a limitação do acesso. Mas quando o crente se tomou o templo do Espírito (I Co. 3.16) e a Igreja se tomou, coletivamente falando, o lugar da manifestação da presença de Deus, o Seu templo (ver Efé. 2.20-22), então essas limitações foram eliminadas. Ver no Dicionário o artigo chamado Acesso.

Quando passou o momento de terror, então os sacerdotes procederam com seus sacrifícios necessários, a fim de santificar a ocasião (vss. 5 ss.).

Cf. o vs. 2 com II Crô. 5.14 e I Reis 8.11. O autor sagrado queria que reconhecêssemos a presença manifestada nas ocasiões próprias e que houve contatos com o Ser divino. Isso reflete o teísmo (ver a respeito no Dicionário). O toque místico é parte necessária de nossa espiritualidade e um agente poderoso que facilita nosso crescimento espiritual.

Todos os filhos de Israel, vendo. A Reação Popular. A presença de Yahweh deu ao povo uma fé intensa e um poderoso senso de gratidão. Isso os levou a adorar ao Senhor. A prostração (ajoelhar-se com a testa tocando no solo) era uma maneira de os orientais expressarem extrema dedicação ao Ser divino, bem como humildade diante da presença divina. Era nessa postura que eles expressavam os mais profundos sentimentos de reverência e respeito. Os israelitas foram levados a assumir de súbito, e sem premeditação, a posição prostrada.

Porque é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre. A bondade e a misericórdia de Deus foram as qualidades divinas mais louvadas na oportunidade. Ver sobre ambos os termos no Dicionário. A justiça de Deus sempre será administrada com amor, que é Seu atributo mais conspícuo, na substância do qual todos os Seus outros atributos operam. Ver no Dicionário o artigo intitulado Atributos de Deus. Cf. declarações similares em I Crô. 16.34-41; 23.30; II Crô. 5.13; 20.21. Envolvido estava o seu amor leal (no hebraico, hesed, conforme também se vê em II Crô. 5.13; 6.14; 6.14; 7.3; 20.21),

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1653-1654.

 

A resposta misericordiosa que Deus imediatamente deu à oração de Salomão: O fogo desceu do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios, v. 1. Desta maneira, Deus testificou a sua aprovação em relação a Moisés (Lv 9.24), a Gideão (Jz 6.21), a Davi (1 Cr 21.26), e a Elias (1 Rs 18.38); e, de um modo geral, aceitar a oferta chamada de holocausto é, na terminologia hebraica, transformá-la em cinzas, Salmos 20.3. O fogo desceu aqui, não quando se matava os sacrifícios, mas quando se fazia a oração.

  1. Este fogo indicava que Deus era: (1) Glorioso em Si mesmo; porque o nosso Deus é um fogo consumidor, terrível mesmo em seus lugares sagrados. Este fogo, surgindo (como é provável) do meio das trevas espessas, o tornou mais terrível, como no Monte Sinai, Êxodo 24.16,17. Os pecadores em Sião tinham motivos para temer perante aquela visão, e para dizer, Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Isaías 33.14. E ainda: (2) Misericordioso para com Israel; porque este fogo, que poderia de modo justo tê-los consumido, voltou a sua atenção para o sacrifício que foi oferecido em seu lugar, e o consumiu; assim Deus indicou a eles que aceitou as suas ofertas e que a sua ira foi desviada deles. Apliquemos isto: (1) Ao sofrimento de Cristo. Agradou ao Senhor moê-lo, e colocá-lo em angústia, no que Ele mostrou a sua boa-vontade para com os homens, tendo posto sobre o precioso e bendito Salvador a iniquidade de todos nós. A sua morte era a nossa vida, e Ele foi feito pecado e uma maldição para que pudéssemos herdar a justiça e uma bênção. Este sacrifício foi consumido para que pudéssemos escapar. Aqui estou Eu; deixai-os ir. (2) Para a santificação do Espírito, que desce como fogo, consumindo as nossas paixões e corrupções, os animais precisavam ser sacrificados na antiga dispensação. Se aqueles sacrifícios não fossem feitos, o povo estaria perdido. Hoje, na nova dispensação, está aceso nas nossas almas um fogo santo de sentimentos piedosos e devotos, que deve ser sempre mantido ardendo no altar do coração. A evidência mais segura da aceitação de Deus em relação às nossas orações é a descida do fogo santo sobre nós. Não ardia em nós o nosso coração? Lucas 24.32. Como outra evidência de que Deus aceitou a oração de Salomão, a glória do Senhor encheu a casa. O coração que é assim cheio com uma santa admiração e reverência pela glória divina – o coração ao qual Deus se manifesta em sua grandeza, e (o que não é menos do que a sua glória) em sua bondade – é reconhecido como um templo vivo.

O grato retorno feito a Deus por este sinal misericordioso do seu favor.

O povo adorou e louvou a Deus, v. 3. Quando eles viram o fogo de Deus descer do céu assim, não fugiram apavorados, mas mantiveram as suas posições nos pátios do Senhor, e aproveitaram isto: (1) Com reverência, para adorarem a glória de Deus: Eles se curvaram com o rosto em terra e adoraram, expressando assim o seu terrível temor da majestade divina, a sua alegre submissão à autoridade divina, e o senso que tinham da sua indignidade para entrar na presença de Deus e a sua incapacidade de resistir diante do poder da sua ira. (2) Com gratidão, para reconhecer a bondade de Deus; mesmo quando o fogo do Senhor desceu, eles o louvaram, dizendo, Ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre. Esta é uma canção que nunca está fora de época, e que os nossos corações e línguas jamais deveriam deixar de pronunciar. Aconteça o que acontecer, Deus é bom. Quando Ele se manifesta como um fogo consumidor para os pecadores, o Seu povo pode se regozijar nele como a sua luz. Na realidade, eles tinham muitos motivos para dizer que Deus é bom. “É por causa das misericórdias do Senhor que não somos consumidos; o Seu sacrifício, em nosso lugar, nos obriga a ser muito gratos.”

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 705-706.

 

 

CONCLUSÃO

Nunca houve na terra um homem com tanta sabedoria como Salomão, e que soubesse empregá-la com justiça e correção durante anos de reinado. Este grande rei de Israel, em seu governo, proporcionou ao povo de Deus um longo período de paz, harmonia e prosperidade. Ele usou sua sabedoria tanto para consolidar seu poder quanto para construir um majestoso Templo para morada e culto a Deus.

 

PARA REFLETIR

A respeito de “A Ascensão de Salomão e a Construção do Templo”, responda:

  • O que levou Salomão a pedir sabedoria a Deus?

Salomão tinha um elevado senso de prioridade.

  • Qual era a maior virtude de Salomão?

Sua sabedoria.

  • Quais são os dois tipos de sabedoria apresentados na Bíblia?

A falsa sabedoria que se evidencia pela inveja e sentimento faccioso, e a sabedoria que vem de Deus (Tg 3.14-17).

  • O que levou Salomão à ruína? E por quê?

Salomão começou a fazer pequenas concessões em seu coração e a estabelecer acordos e conchavos políticos que deterioraram sorrateiramente seus valores espirituais (1 Rs 11.1,2).

  • A partir da redenção do homem efetuada por Cristo no Calvário, qual o local de habitação do Espírito Santo?

O próprio homem regenerado (1Co 6.19).

 

Estudo elaborado pelo Pb Alessandro Silva. Disponível no site https://professordaebd.com.br