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12 de novembro de 2025

ADULTOS │ LIÇÃO 9: “Vontade - O que move o ser humano” │ 4º Trim. 2025

 

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TEXTO ÁUREO

Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne.” (Gl 5.16).

ENTENDA O TEXTO ÁUREO:

👉 A carta aos Gálatas foi escrita por Paulo para corrigir um grave problema doutrinário: os cristãos da Galácia estavam sendo seduzidos por falsos mestres judaizantes, que tentavam combinar a fé em Cristo com a observância da Lei de Moisés. O apóstolo demonstra que a salvação e a santificação são frutos da graça mediante a fé, e não do esforço humano. O capítulo 5 é o ponto alto dessa argumentação: Paulo contrasta a liberdade no Espírito com a escravidão da carne. Assim, o versículo 16 introduz o princípio espiritual que governa toda a vida cristã: andar no Espírito é o único meio eficaz de vencer os impulsos da carne. Digo, porém (Λέγω δέ, légō de) a expressão introduz uma transição enfática. Paulo muda o tom de exortação para aplicação prática, mostrando o caminho para a vida espiritual autêntica. Andai (περιπατετε, peripateíte) verbo no presente imperativo ativo, indicando ação contínua e habitual. Andar, aqui, não é um ato isolado, mas um estilo de vida, uma caminhada diária orientada pelo Espírito Santo. em Espírito (πνεύματι, pneumati) o dativo instrumental indica meio ou esfera. Não se trata apenas de “andar com o Espírito”, mas “andar pelo poder e sob a direção do Espírito”. É viver segundo os princípios, valores e impulsos que o Espírito produz no coração regenerado (cf. Rm 8.4-14). e não cumprireis (κα ο μ τελέσητε, kai ou mē telēsēte) dupla negação enfática no grego, expressando certeza absoluta: “de modo algum satisfareis” ou “jamais realizareis” as vontades da carne. Paulo assegura que a vitória sobre o pecado não vem do esforço humano, mas da sujeição contínua ao Espírito. a concupiscência da carne (πιθυμίαν σαρκς, epithumían sarkós) literalmente, “os desejos da carne”. A palavra epithumía refere-se a desejos intensos, paixões dominadoras, nem sempre pecaminosas em si, mas corrompidas quando direcionadas fora da vontade de Deus. Já sarx (carne) aqui não designa o corpo físico, mas a natureza humana caída, inclinada ao egoísmo, ao orgulho e à desobediência (cf. Rm 7.18; Cl 3.5). O versículo apresenta um princípio de causalidade espiritual invertida: Não é evitando a carne que andamos no Espírito; é andando no Espírito que vencemos a carne. Paulo não propõe repressão moral, mas transformação espiritual. O domínio da carne é quebrado não pela força da vontade humana, mas pela presença ativa do Espírito Santo dentro do crente. O verbo “andar” indica cooperação contínua, uma disciplina de comunhão e dependência (cf. Jo 15.5).

Aplicação Teológica:

·         Viver segundo o Espírito é submeter cada pensamento, decisão e desejo à direção de Deus.

·         Andar em Espírito não é misticismo, mas obediência prática: escolher o que o Espírito aprova e rejeitar o que Ele reprova.

·         A carne representa todo sistema de vida autônomo, autocentrado e resistente ao governo de Cristo.

·         A vitória sobre a carne não é conquista instantânea, mas resultado de uma caminhada diária de rendição.

O apóstolo Paulo reforça esse princípio em Romanos 8.13: “se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” O mesmo Espírito que regenera também sustenta a vontade do crente, capacitando-o a dizer “não” ao pecado e “sim” à santidade.

Gálatas 5.16 é, portanto, uma chave de libertação espiritual: Quem anda no Espírito não vive submisso à carne, porque o Espírito Santo torna-se o novo centro de comando da vontade humana. A verdadeira liberdade cristã não é fazer o que se quer, mas querer o que o Espírito quer. A carne grita por satisfação imediata; o Espírito conduz à obediência que gera vida. O conflito permanece, mas o domínio muda de mãos. E todo aquele que anda em Espírito descobre, na prática, que a vontade de Deus é “boa, agradável e perfeita” (Rm 12.2).

 

VERDADE PRÁTICA

Guiada por Deus, a vontade é uma bênção extraordinária, vital para a existência humana.

ENTENDA A VERDADE PRÁTICA:

👉 A vontade humana encontra sua verdadeira liberdade somente quando é subjugada ao Espírito Santo; pois andar em Espírito não é reprimir a carne pela força própria, mas permitir que Deus reine sobre nossos desejos, transformando a obediência em prazer e a santidade em caminho natural do coração.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Gálatas 5.16-21; Tiago 1.14,15; 4.13-17.

Gálatas 5

16. Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne.

👉 O apóstolo Paulo usa o verbo peripateite (andar, caminhar), indicando uma vida conduzida continuamente pelo Espírito Santo. Não é um ato pontual, mas uma jornada diária de dependência.

MacArthur destaca que a vitória sobre a carne não se dá por esforço moral, mas pelo controle do Espírito.

BEP (Pentecostal) lembra que andar em Espírito é viver sob o domínio e o poder do Espírito Santo, o que inclui resistência ativa ao pecado.

Plenitude sublinha o aspecto relacional: o Espírito não é uma força, mas uma Pessoa que guia e transforma.

Shedd observa que “andar” implica progresso espiritual, quem anda no Espírito não fica estagnado na fé.

O crente que caminha guiado pelo Espírito não apenas evita o pecado, ele encontra prazer em obedecer.

17. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis.

👉 Aqui Paulo expõe o conflito interior: a carne (sarx) representa a natureza humana decaída; o Espírito, a nova vida em Cristo.

MacArthur explica que esse conflito é evidência da regeneração, o descrente não sente essa luta.

BEP lembra que o Espírito Santo fornece força para dominar as paixões da carne, e que essa guerra dura até a glorificação.

Plenitude ressalta que não se trata de dualismo (Espírito x corpo), mas de moral e domínio: quem reina?

Shedd acrescenta: a carne deseja independência de Deus; o Espírito busca dependência total.

O cristão maduro não nega o conflito, mas aprende a vencê-lo pela submissão diária ao Espírito.

18. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.

👉 Ser guiado pelo Espírito é viver em liberdade da lei como sistema de salvação.

MacArthur: o Espírito substitui a lei como princípio de conduta moral, pois Ele escreve a vontade de Deus no coração.

BEP: o Espírito não abole a lei moral, mas dá poder para cumpri-la.

Plenitude: a “guiança” é relacional, não mecânica, implica sensibilidade espiritual.

Shedd: quem vive debaixo da graça obedece por amor, não por obrigação.

O Espírito liberta o cristão da condenação legalista e o conduz à obediência amorosa.

19. Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia,

👉 Paulo apresenta uma lista de quase quinze pecados, divididos em três grupos:

Imorais (sexuais): prostituição, impureza, lascívia.

Religiosos: idolatria, feitiçarias.

Sociais: inimizades, ciúmes, iras, facções, invejas, homicídios, bebedices, etc.

MacArthur: chama atenção para a palavra “obras” (erga), que contrasta com “fruto” (karpos) no v. 22, o pecado é produto do esforço humano; o fruto é resultado da graça.

BEP: adverte que essas práticas, se persistentes, excluem o crente do Reino (v. 21).

Plenitude: observa que Paulo usa o tempo presente para indicar continuidade, não é queda ocasional, mas estilo de vida.

Shedd: ressalta que a carne não precisa ser ensinada a pecar; é sua natureza.

As “obras da carne” são sintomas de uma alma que abandonou o domínio do Espírito.

20. idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,

👉 Pentecostal.

21. invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus.

 

Tiago 1

14. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.

👉 Tiago desloca a origem da tentação do exterior para o interior.

MacArthur: destaca o verbo “atraído” (exelkomenos) e “seduzido” (deleazomenos), termos da pesca, a isca é o desejo.

BEP: enfatiza a responsabilidade pessoal; o diabo pode tentar, mas não forçar.

Plenitude: nota que a tentação revela o que já habita no coração.

Shedd: compara a tentação à concepção: há uma união entre desejo e ocasião.

Satanás oferece a isca, mas quem morde é o coração que não está cheio de Deus.

15. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.

👉 O pecado nasce de um processo interno, do desejo não controlado à ação.

MacArthur: o pecado amadurecido gera morte espiritual, separação de Deus.

BEP: adverte que a queda começa no pensamento, antes do ato.

Plenitude: mostra o ciclo: desejo→ engano → ação → morte.

Shedd: reforça que o crente precisa cortar o mal “na concepção”, antes de dar frutos.

Todo pecado começa no ventre da vontade, por isso, a santidade nasce da vigilância.

Tiago 4

13. Eia, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos.

👉 Tiago repreende a autossuficiência de quem planeja sem Deus.

MacArthur: chama isso de ateísmo prático, viver como se Deus não existisse.

BEP: ensina que o verdadeiro cristão submete seus planos à direção do Espírito.

Plenitude: destaca o contraste entre o tempo humano (“hoje ou amanhã”) e o tempo divino (“se o Senhor quiser”).

Shedd: lembra que a vida é neblina (atmis), breve e frágil.

Planejar não é pecado; pecar é planejar sem Deus.

14. Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece.

15. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.

👉 Uma expressão de dependência e humildade espiritual.

MacArthur: esse “se” não é ceticismo, mas fé madura.

BEP: é o reconhecimento de que o Espírito tem a palavra final.

Plenitude: o cristão deve planejar com oração e submissão.

Shedd: o erro está em presumir, não em planejar.

A verdadeira sabedoria é alinhar a vontade humana à soberania divina.

16. Mas, agora, vos gloriais em vossas presunções; toda glória tal como esta é maligna.

👉 Tiago encerra com uma advertência: a omissão também é pecado.

MacArthur: o pecado não é apenas transgressão, mas negligência da obediência.

BEP: o Espírito Santo convence o crente não só do erro cometido, mas do bem omitido.

Plenitude: o orgulho é raiz do pecado de omissão.

Shedd: o pecado de omissão é o mais sutil, revela um coração frio.

A vontade de Deus não se cumpre apenas quando evitamos o mal, mas quando praticamos o bem.

17. Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado.

👉 A vontade humana, quando entregue ao Espírito Santo, torna-se instrumento de santificação; quando guiada pela carne, produz destruição. O Espírito não anula nossa vontade, Ele a redime. Por isso, o segredo da vida cristã está em andar no Espírito (Gl 5.16), vigiar os desejos (Tg 1.14-15) e submeter os planos (Tg 4.13-17). A carne quer independência; o Espírito quer comunhão. A vontade humana é o campo de batalha, e o trono pertence a quem a dominar.

 

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INTRODUÇÃO

 

Nas lições anteriores estudamos sobre duas das principais faculdades da alma: o intelecto e a sensibilidade. Vimos a relação entre o que pensamos e sentimos e como pensamentos e sentimentos podem influenciar a vontade e as decisões. Pensar, sentir, desejar e agir costumam compor um mesmo fenômeno na experiência humana. É fundamental compreender como isso funciona à luz da Palavra de Deus. Nesta lição estudaremos mais especificamente a respeito da vontade.

👉 Desde o Éden, o ser humano vive um conflito silencioso entre o que sabe que deve fazer e o que, na verdade, deseja fazer. Em cada escolha, por menor que pareça, algo dentro de nós trava uma batalha: razão, emoção e vontade disputam o controle da alma. A pergunta central desta lição nasce exatamente dessa tensão: o que realmente move o ser humano: a vontade própria ou a vontade de Deus?

Nas lições anteriores, estudamos o intelecto e a sensibilidade, a mente que pensa e o coração que sente. Agora, chegamos à ponte que liga pensamento e sentimento à ação: a vontade. É ela quem decide o rumo final de cada pensamento e sentimento. O intelecto pode compreender o que é certo, e a sensibilidade pode desejar o que é bom, mas sem a vontade, nada se concretiza. A vontade é o ponto de virada entre o que imaginamos e o que nos tornamos.

Contudo, essa faculdade, tão essencial quanto perigosa, foi profundamente afetada pela Queda. O pecado corrompeu nossos desejos e nos inclinou a buscar prazer, poder e autonomia à margem de Deus. Desde então, o ser humano tem sido arrastado, muitas vezes conscientemente, por vontades que o conduzem à escravidão interior. Eis o problema: nossa vontade, sem direção divina, torna-se uma força destrutiva, capaz de nos afastar da vida abundante que o Espírito Santo deseja gerar em nós.

Esta lição parte dessa realidade para afirmar uma verdade libertadora: a vontade humana, quando guiada por Deus, é restaurada como instrumento de bênção e propósito. O Espírito Santo não anula nossa vontade, Ele a redime. Onde antes havia impulsos desordenados, nasce o poder de escolher o bem, resistir ao mal e viver em obediência. Nos próximos tópicos, veremos como pensamentos e desejos moldam nossas decisões; como a carne tenta escravizar a vontade; e como a graça, em Cristo, nos capacita a viver a liberdade dos que “andam no Espírito e não cumprem a concupiscência da carne” (Gl 5.16). Porque, no fim, o que realmente move o ser humano revela quem governa o seu interior.

 

Palavras-Chave:

VONTADE

ENTENDA AS PALAVRAS-CHAVE:

👉 À luz das Escrituras, vontade é a faculdade da alma que expressa o poder de escolher, desejar e agir. É por meio dela que o ser humano manifesta suas decisões morais e espirituais diante de Deus. Desde a criação, o homem recebeu de seu Criador a capacidade de deliberar livremente: “façamos o homem à nossa imagem” (Gn 1.26), refletindo, ainda que de forma limitada, a liberdade divina. Entretanto, após a Queda, essa vontade foi ferida pelo pecado (Rm 7.18-19). O ser humano passou a desejar o que o separa de Deus, tornando-se escravo de impulsos desordenados e inclinações carnais. O apóstolo Paulo descreve essa tensão: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne” (Gl 5.17). A vontade humana, portanto, encontra-se em constante campo de batalha entre dois senhores: o eu e o Espírito Santo. Em Cristo, a vontade é redimida e transformada. A graça não anula nossa capacidade de escolher, mas a liberta do domínio do pecado e a orienta para o bem. O crente regenerado pode, então, afirmar com Jesus: “não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Assim, a vontade guiada pelo Espírito torna-se instrumento de obediência e comunhão com Deus. Ela deixa de ser fonte de rebeldia para se tornar expressão de adoração. O verdadeiro homem espiritual é aquele cuja vontade foi submetida, moldada e dirigida pela vontade perfeita do Pai (Rm 12.2).

 

I. VONTADE: MOTIVAÇÃO E AÇÃO

 

1. Conceito de vontade. Volição ou vontade é a capacidade humana de desejar, querer, almejar, escolher e agir. Pode ser entendida também como motivação. Sem desejo ou vontade não há motivação e, via de consequência, ação. Nesse conceito amplo, há manifestação da vontade mesmo quando o que fazemos não era originariamente nossa vontade, mas de outrem, se a ela aderimos voluntariamente (Sl 143.10; Lc 22.42). A conversão é um exemplo de mudança na vontade humana por meio do arrependimento (At 3.19). Todo verdadeiro cristão é alguém que, impulsionado pela graça de Deus, renunciou sua própria vontade para fazer a vontade de Cristo (Mt 16.24). É o livre-arbítrio funcionando (Hb 2.3; 3.7-13; Ap 22.17).

👉 Desde a aurora da humanidade, o que verdadeiramente define nosso ser não é o que pensamos nem o que sentimos; é o que decidimos à luz de ambos. A vontade é esse poder latente que conecta mente e emoção ao mundo da ação. No original grego, duas palavras nos ajudam a captar sua dinâmica: theléma (θέλημα) expressa desejo, inclinação ou vontade voluntária. Já boulé/ boulema (βουλή/βούλημα) designa propósito deliberado, resolução ou plano estabelecido. Biblical Hermeneutics Stack Exchange+1 Na Escritura, ao mesmo tempo em que vemos o homem chamado a “fazer a vontade de Deus” (Mt 7.21), também vemos o conflito interno entre uma vontade caída e o Espírito que renova (Gl 5.16-21). Assim, quando falamos em vontade, estamos pontuando o lugar onde o livre-arbítrio humano encontra o chamado divino; onde o desejo profundo impulsiona a escolha; onde a alma decide agir. Na psicologia moderna, esse fenômeno é tratado sob o conceito de volition ou volição: processo cognitivo pelo qual o indivíduo decide e se compromete com um curso de ação, diferenciado da simples motivação ou emoção. Dicionário APA de Psicologia+2PMC+2 Tal abordagem confirma que a vontade não é mera intenção nem mero impulso, mas decisão consciente que gera realização, “sem desejo ou vontade não há motivação e, via de consequência, ação”.

A vontade humana foi ferida pela Queda, ela não opera mais como originalmente planejada por Deus. O que antes era livre adesão à vontade do Pai tornou-se uma arena de conflitos: a mente sabe, a sensibilidade sente, mas a vontade vacila ou se rende ao desejo da carne. A consequência é uma vida de pulsões desordenadas, escolhas maquiadas de liberdade mas escravizadas ao pecado. A vontade humana é, por natureza, uma faculdade neutra e essencial, concedida por Deus para desejar, escolher e agir, mas ferida e distorcida pelo pecado. Em Cristo, essa vontade não é anulada, mas redimida: quando submetida ao Espírito Santo, torna-se instrumento de obediência, de liberdade genuína e de ação significativa. Assim, a vontade orientada por Deus revela o que somos, e o que podemos tornar-nos.

 

2. Do pensamento à ação. Um pensamento pode ser apenas um pensamento, sem relação alguma com um sentimento ou um desejo. Por exemplo: podemos pensar em uma viagem que fizemos sem que isso nos traga qualquer emoção. Mas também podemos recordar com nostalgia e desejar viajar novamente. E esse desejo pode nos motivar a comprar a passagem e repetir a experiência. Em um caso assim ocorre um fenômeno completo: pensamento, sentimento, desejo e ação. Aconteceu com Eva no Éden. Em sua conversa com a serpente, a mulher refletiu sobre o significado do fruto da árvore da ciência do bem e do mal até ser enganada (1Tm 2.14). Ao acreditar na falsa elevação que obteria (“sereis como Deus”, Gn 3.5) certamente sentiu alguma emoção. O próximo passo foi a manifestação do desejo, que gerou a ação: tomou do fruto e comeu (Gn 3.6).

👉 Toda ação nasce de um pensamento. Mas nem todo pensamento se transforma em ação. Há ideias que passam pela mente como sombras, sem tocar o coração. Outras, porém, encontram morada na emoção, inflamam o desejo e, finalmente, movem a vontade. É nesse processo invisível (pensar, sentir, desejar e agir) que se revela a estrutura espiritual do ser humano. Na Escritura, esse movimento é antigo como o Éden. Eva não caiu apenas porque viu o fruto, mas porque refletiu sobre ele. O verbo hebraico usado em Gênesis 3.6, ra’ah (ver, contemplar), implica olhar com discernimento e prazer¹. Ela não apenas percebeu o fruto; interpretou-o. A tentação começou no campo da mente, quando o pensamento passou a dialogar com o engano. O inimigo sabia: antes de tocar o fruto, era preciso tocar a vontade. Tiago descreve o mesmo princípio espiritual: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, havendo concebido, dá à luz o pecado” (Tg 1.14-15). O verbo grego deleazomenos (seduzir) era usado na pesca; significa ser fisgado por algo que brilha². Assim como o peixe não percebe o anzol de imediato, o coração humano é fisgado pelo desejo que nasce de um pensamento cultivado. O pecado não começa nas mãos, mas na imaginação. A psicologia moderna chama esse processo de volição: o ato de decidir e agir conscientemente³. A teologia, porém, o compreende como o ponto de encontro entre alma e espírito, onde a liberdade humana se inclina ou à carne, ou ao Espírito (Gl 5.16-17). Silas Queiroz, em Corpo, Alma e Espírito, ensina que a vontade é “o eixo da alma racional, o ponto em que o homem escolhe entre obedecer ou resistir ao Espírito”. Por isso, quando a mente é renovada pela Palavra (Rm 12.2), a vontade é reorientada pela graça. Observe: Eva pensou, sentiu, desejou, agiu e caiu. Cristo, no Getsêmani, pensou, sentiu, desejou, orou e venceu (Lc 22.42). A diferença não estava na ausência de emoção, mas na submissão da vontade. No grego, Jesus usa thelō “quero” para afirmar Sua própria vontade, mas logo a submete: “Não se faça a minha vontade (thelēma), mas a tua” (Lc 22.42). A vitória espiritual nasce quando a vontade humana é rendida à divina. Nos bastidores da alma, o Espírito Santo trava uma batalha silenciosa: quem dominará sua vontade determinará o curso de sua vida. Gordon Fee comenta que o Espírito não apenas capacita, mas reconfigura o querer do crente. A obediência, portanto, não é esforço mecânico, mas fruto de um coração transformado (Fp 2.13). Quando o Espírito governa o pensamento e o desejo, Ele converte impulsos em propósito, e tentações em testemunho. Por isso, cada discípulo de Cristo deve perguntar-se: quem está conduzindo minha vontade hoje, o Espírito ou a carne? É aqui que a teologia se torna prática. Não basta conhecer a verdade; é preciso desejá-la. Como ensinava Antônio Gilberto, “a verdadeira santificação começa quando o crente deseja, de todo o coração, agradar ao Senhor”. A vontade, portanto, é o altar invisível onde a fé se transforma em obediência. Tudo o que pensamos, sentimos e decidimos revela a quem realmente pertencemos.

1.       BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

2.       CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2002.

3.       AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Dictionary of Psychology. Washington, D.C.: APA, 2020.

4.       QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

5.       FEE, Gordon D. Paul, the Spirit, and the People of God. Peabody, MA: Hendrickson, 1996.

6.       GILBERTO, Antônio. Obras da Carne e Fruto do Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

7.       HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.

8.       ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

9.       MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. Nashville: Thomas Nelson, 2017.

10.    PLENITUDE, Bíblia de Estudo Plenitude. São Paulo: Vida, 2009.

 

3. Fraqueza de vontade. Adão pecou sem ser enganado. Isso significa que seu entendimento da proibição e consequências relativas ao fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal não foi alterado. O problema de Adão se deu na esfera da vontade. Em vez de permanecer firme em seu propósito de obedecer a Deus, decidiu pecar aderindo à vontade de Eva, que lhe deu o fruto (Gn 3.6; Rm 5.12). Quantas decisões erradas tomamos plenamente conscientes de suas consequências! Da violação de uma restrição alimentar a condutas mais graves, muitas vezes o desejo fala mais alto que a razão. A busca do prazer pelo prazer é uma característica da cultura hedonista. Vícios e compulsões arrastam multidões, mesmo que elas conheçam seus destrutivos efeitos. Assim, só Jesus pode libertar o ser humano de prisões espirituais (Jo 8.36; Rm 1.16).

👉 A história da queda no Éden não começou com ignorância, mas com escolha. Adão sabia exatamente o que Deus havia ordenado. Seu entendimento não foi obscurecido. Ele pecou não por engano, mas por fraqueza de vontade. O texto de Gênesis 3.6 revela algo profundo sobre a natureza humana: a mente pode compreender a verdade, mas se a vontade se curva ao desejo, a razão perde sua força. É nesse abismo entre saber e querer que a carne triunfa sobre o Espírito. No hebraico, a palavra nephesh (נֶפֶשׁ), frequentemente traduzida como alma, inclui o centro dos afetos, desejos e decisões, é ali que a vontade habita. No Novo Testamento, o termo grego thelēma (θέλημα) descreve tanto o ato de querer quanto o propósito moral de agir. Em Adão, o thelēma humano foi corrompido: sua vontade se desviou da obediência para o egoísmo. Ele preferiu agradar a si e à esposa, e não ao Criador (Rm 5.12). Essa escolha inaugurou o conflito que todos nós sentimos: a tensão entre o que sabemos que é certo e o que desejamos fazer (Gl 5.17). A psicologia moderna reconhece essa dualidade. A teoria da dissonância cognitiva, proposta por Leon Festinger, explica que o ser humano sofre quando suas ações contradizem suas crenças. Mas a Bíblia já denunciava essa tensão há milênios. Paulo descreve o mesmo dilema em Romanos 7.19: “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.” A vontade, quando separada do poder do Espírito, torna-se escrava dos impulsos da carne. Jesus, no Getsêmani, mostrou o caminho da restauração da vontade: “Não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Aqui, o thelēma humano se submete completamente ao thelēma divino. A vitória de Cristo na cruz começou na entrega da vontade no jardim. Somente o Espírito Santo pode operar essa transformação em nós, pois Ele molda nossos desejos para que a vontade de Deus se torne o nosso prazer (Fp 2.13). A fraqueza de vontade é, portanto, mais do que um defeito moral, é o sintoma de uma alma desconectada do seu propósito original. O homem natural deseja o que destrói, mesmo sabendo que o fim é morte (Rm 1.32). A busca do prazer pelo prazer, o hedonismo, é a expressão cultural desse rompimento interior. A vontade sem o Espírito é uma força autodestrutiva; a vontade guiada por Deus é libertação e vida (Jo 8.36). Por isso, o discipulado cristão é o campo de treinamento da vontade. Cada escolha diária é uma pequena cruz, uma rendição progressiva do “eu quero” ao “seja feita a tua vontade”. A graça não anula a vontade humana; ela a redime. É nesse processo que o cristão aprende que verdadeira liberdade não é fazer o que se quer, mas querer o que Deus quer. Assim, a luta entre carne e Espírito não é apenas um combate ético, mas uma reeducação da vontade, um convite constante para que o thelēma humano volte a pulsar em harmonia com o thelēma divino. E quando isso acontece, o que antes era fraqueza se transforma em poder, e o que era desejo desordenado se torna adoração.

 

BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. São Paulo: Thomas Nelson, 2020.

BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. São Paulo: SBB, 2018.

BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

KEENER, Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2018.

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

 

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SINOPSE I

A vontade é a capacidade humana de desejar e agir, sendo influenciada por pensamentos, sentimentos e decisões espirituais.

AUXÍLIO TEOLÓGICO

“OS COMPONENTES BÁSICOS DOS SERES HUMANOS

O Novo Testamento menciona ainda a ‘mente’ (nous, dianoia) e a ‘vontade’ (thelema, boulema, boulêsis). A ‘mente’ denota a faculdade da percepção intelectual, bem como a capacidade de fazer julgamentos morais. Em certas ocorrências no pensamento grego parece formar um paralelo com o pensamento do Antigo Testamento. Em outros termos, parece que os gregos distinguiam os dois (ver Mc 12.30). Ao considerar a ‘vontade ou volição’ humana pode ser representada, por um lado, como um ato da mente que se dirige a uma escolha livre. Mas, por outro lado, pode ser motivada por um desejo que provém pressuroso do inconsciente. Posto que os escritores sagrados usavam esses termos de várias maneiras (assim como fazemos na linguagem cotidiana), é difícil determinar com precisão, pelas Escrituras, onde termina a ‘mente’ e começa a ‘vontade.’” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, pp.245,246).

 

II. DESEJOS: DA ESCRAVIDÃO À REDENÇÃO

 

1. A experiência do deserto. O povo de Israel tornou-se escravo dos seus desejos durante a peregrinação pelo deserto: “deixaram-se levar da cobiça, no deserto, e tentaram a Deus na solidão. E ele satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a alma” (Sl 106.14,15). Apesar das grandes maravilhas operadas por Deus, os hebreus, tomados de ingratidão, lembravam-se das comidas do Egito e se deixavam dominar por seus desejos (Nm 11.5,6). Pensavam, sentiam e desejavam o que lhes era servido na casa da escravidão, de onde haviam sido libertos com mão forte (Êx 20.2; Dt 26.8). O culto aos desejos lhes trouxe terríveis consequências: perecimento e morte (Sl 78.29-33; Nm 11.33,34; 14.29). Como nos adverte Paulo, tudo isso foi escrito para aviso nosso. Não nos deixemos levar por nossos próprios desejos (1Co 10.1-13).

👉 O deserto sempre foi o palco onde a vontade humana é revelada e provada. Foi ali que Israel, recém-liberto do Egito, mostrou que a escravidão do corpo é mais fácil de quebrar do que a escravidão do coração. O salmista recorda com tristeza: “Deixaram-se levar da cobiça no deserto, e tentaram a Deus na solidão. E ele satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a alma” (Sl 106.14,15). O termo hebraico usado aqui para cobiça é ta’avah (תַּאֲוָה), que significa anseio intenso, apetite ardente. Trata-se de um desejo que ultrapassa a fronteira da necessidade e invade o território da idolatria. Mesmo depois de verem o mar se abrir e o maná descer do céu, os israelitas foram vencidos pelo ta’avah. Em vez de se alegrarem com o cuidado de Deus, desejaram o sabor do Egito (Nm 11.5,6). É uma cena trágica: o povo liberto ansiando novamente pela escravidão. A mente ainda estava presa às cebolas e aos peixes do Nilo, enquanto os pés caminhavam rumo à Terra Prometida. Essa é a marca de uma vontade deformada, ela deseja o que Deus já libertou, e resiste ao que Deus quer transformar. O deserto, no plano divino, era mais que um trajeto geográfico; era uma escola espiritual. Deus conduziu Israel por aquele caminho para testar o coração (Dt 8.2). O verbo hebraico nasá (נָסָה), traduzido como provar ou testar, implica o propósito pedagógico de revelar o que está dentro do ser humano. No deserto, não há distrações. Lá, o povo teve de lidar com a verdade sobre si mesmo: os desejos do Egito ainda viviam dentro deles. A psicologia chama isso de “memória afetiva”: tendemos a romantizar o passado, esquecendo a dor e lembrando apenas o prazer. Israel transformou a escravidão em nostalgia. E assim, quando Deus lhes concedeu carne para comer, o prazer se converteu em juízo. O texto de Números 11.33-34 descreve o local como Quibrote-Hataavá “sepulcros da cobiça”. Cada túmulo ali era o memorial de uma vontade que se recusou a ser moldada pela obediência. Paulo revisita essa história em 1 Coríntios 10.6-13 para advertir a Igreja: os mesmos impulsos que destruíram Israel podem escravizar o cristão hoje. O apóstolo usa o verbo grego epithymeō (πιθυμέω), desejar intensamente, o mesmo termo usado por Tiago ao explicar que o pecado nasce do desejo (Tg 1.14). Em outras palavras, a batalha entre carne e Espírito é, antes de tudo, uma guerra de vontades, a escolha entre desejar o que Deus quer ou o que a carne exige. O deserto, portanto, continua sendo o grande laboratório da alma. É o lugar onde Deus não apenas revela a nossa fraqueza, mas também nos convida a render a vontade ao Seu Espírito. A vontade que insiste em voltar ao Egito nunca alcançará Canaã. Mas a vontade que aprende a desejar o que Deus deseja experimenta o verdadeiro descanso. O discipulado cristão consiste exatamente nisso: desaprender os desejos do Egito e aprender a desejar Cristo. Porque, quando o Espírito governa o coração, até o deserto se transforma em altar.

 

BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. São Paulo: Thomas Nelson, 2020.

BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. São Paulo: SBB, 2018.

HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

KEENER, Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2018.

OLIVEIRA, Marcelo. Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

CHAMPLIN, R. N. Comentário Bíblico. São Paulo: Hagnos, 2015.

 

2. Os desejos na era cristã. O drama dos desejos continua na era cristã, com uma diferença fundamental: Cristo venceu o pecado e nos dá poder para também vencê-lo (Rm 6.3-6,11-14). Contudo, enquanto estivermos neste corpo mortal enfrentaremos um conflito espiritual constante. Todo o cristão precisa decidir diariamente entre sua vontade carnal e a vontade do Espírito: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis” (Gl 5.17). A carne (sarx, natureza pecaminosa) tem seus próprios desejos, que são contrários ao Espírito. Vê-se, então, em nosso interior, uma luta travada. Cabe-nos decidir entre satisfazer os desejos da carne, que são pecaminosos, ou atender a voz do Espírito e viver segundo sua direção (Gl 5.18).

👉 O drama dos desejos não terminou com o Antigo Testamento; ele apenas mudou de cenário. Agora, o campo de batalha é o coração do discípulo de Cristo. A diferença essencial é que, pela cruz, a vitória já foi conquistada. Em Cristo, o poder do pecado foi quebrado, e o crente recebeu a capacidade real de viver em novidade de vida (Rm 6.3-6,11-14). O verbo grego usado por Paulo, katargeō (καταργέω), traduzido como “anular” ou “tornar inoperante”, revela que a antiga escravidão da carne foi desativada pelo poder da morte e ressurreição de Jesus. O pecado não é mais o senhor; Cristo é. Entretanto, a vitória espiritual não elimina a tensão interior. Enquanto habitamos este corpo mortal, o conflito entre a vontade da carne e a vontade do Espírito persiste. Paulo descreve essa batalha em Gálatas 5.17 com precisão cirúrgica: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne.” O verbo grego epithymeō (πιθυμέω), cobiçar, expressa o anseio intenso, a inclinação apaixonada que busca satisfação fora de Deus. É o mesmo termo que Tiago usa para descrever a gênese do pecado (Tg 1.14). A carne, sarx (σάρξ), representa a natureza humana decaída, inclinada à autossuficiência e hostil à direção do Espírito. Essa oposição não é simbólica; é existencial. O Espírito Santo habita o crente para renovar sua mente, enquanto a carne insiste em impor o padrão do velho homem. Cada pensamento, emoção e decisão tornam-se um campo de guerra. Por isso, Paulo afirma: “para que não façais o que quereis” (Gl 5.17). A frase expressa o cerne do discipulado: a rendição da vontade. O cristão é chamado a submeter seus desejos, não a negá-los de forma ascética, mas a redirecioná-los para Deus. O Espírito não destrói os desejos humanos; Ele os purifica. O prazer, a ambição, o amor e até a fome por significado, todos são dons que, sem o governo do Espírito, tornam-se deuses. A vida cristã é, portanto, uma contínua crucificação interior: “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24). O verbo stauroō (σταυρόω), “crucificar”, aqui no tempo aoristo, indica um ato decisivo e definitivo que tem efeitos contínuos, o crente foi unido a Cristo em Sua morte, e agora vive sustentado por Seu Espírito (Gl 2.20). Viver guiado pelo Espírito não é um estado místico, mas uma escolha diária. É aprender a discernir a voz divina em meio aos ruídos do ego. O Espírito Santo não força; Ele conduz. Ele não impõe Sua vontade, mas forma Cristo em nós, até que o “querer e o efetuar” (Fp 2.13) sejam expressão da própria vontade de Deus. Esse é o ponto culminante da santificação: quando a vontade humana, antes inclinada ao mal, é transformada pela graça em vontade cooperadora com o Espírito. Hoje, os desejos continuam sendo o espelho do coração. Aquilo que desejamos revela quem governa nossa vida. Por isso, o convite de Paulo continua ecoando: “Andai em Espírito” (Gl 5.16). Essa expressão, no original grego peripateite pneumati (περιπατετε πνεύματι), significa literalmente mantenham o ritmo de sua vida no Espírito”. É uma imagem de caminhada, constante, consciente e relacional. Não se trata apenas de evitar o pecado, mas de aprender a desejar como Jesus desejava. A era cristã é a era da vontade redimida. O Espírito Santo habita em nós para realinhar nossos desejos com os de Deus. E quanto mais Ele governa a vontade, mais livres nos tornamos. O cristão maduro não é aquele que não sente tentações, mas aquele que aprendeu a desejar corretamente. Porque, no fim, a verdadeira liberdade não está em fazer o que queremos, mas em querer o que o Espírito quer.

 

BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. São Paulo: Thomas Nelson, 2020.

BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. São Paulo: SBB, 2018.

HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

KEENER, Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2018.

PALMA, Anthony D. A Doutrina do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

OLIVEIRA, Marcelo. Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

CHAMPLIN, R. N. Comentário Bíblico. São Paulo: Hagnos, 2015.

 

3. A decisão do homem redimido. A obra da salvação realizada por Cristo nos liberta do poder do pecado. Diante dos desejos da carne e da vontade do Espírito, o homem redimido inclina-se “para as coisas do Espírito” (Rm 8.5). Isso é resultado de sua nova natureza (Ef 4.24; 2Co 5.17). Significa que não podemos nos conformar com os desejos do velho homem, mas, pelo poder do Espírito, nos dedicar ao processo de mortificação de nossa carne, a velha natureza (Rm 8.11-13; Cl 3.5). Nossos desejos pecaminosos não deixam de existir, mas em Cristo triunfamos sobre eles; vivendo, andando e frutificando no Espírito (Gl 5.22-25; 1Jo 3.6).

👉 A salvação não é apenas um livramento da condenação eterna; é uma libertação real do poder do pecado. Quando o Espírito Santo regenera o coração humano, Ele não apenas perdoa, mas transforma a estrutura mais profunda da vontade. Paulo declara: “Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne, mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito” (Rm 8.5). O verbo grego usado aqui para “cogitar” é phronein, que significa “ter a mente voltada, pensar continuamente”. Assim, a nova vida em Cristo não é uma experiência emocional isolada, mas uma mudança radical de mentalidade e direção. Antes da regeneração, a vontade humana estava escravizada ao pecado. Como escreve Horton (2024, p. 531), “a vontade, corrompida pelo pecado, não possui em si mesma poder de retornar a Deus; é o Espírito quem desperta, convence e redireciona o coração humano”. Isso explica por que o crente redimido agora se inclina “para as coisas do Espírito” (Rm 8.5). A vontade, outrora inclinada para o ego e a carne, é agora habilitada pela graça a desejar o que agrada a Deus (Fp 2.13). Contudo, a carne (sarx), expressão paulina para a natureza caída, ainda tenta reassumir o controle. Ela sussurra velhos desejos, reacende antigos hábitos e busca corromper a nova natureza. Por isso, Paulo ordena: “Fazei morrer (nekrosate) a vossa natureza terrena” (Cl 3.5). O verbo está no imperativo ativo, indicando que a mortificação é um ato contínuo e deliberado, um processo diário de cooperação com o Espírito. Como ensina Antônio Gilberto (apud Bíblia de Estudo Pentecostal, p. 1798), “a santificação é progressiva: o crente precisa submeter sua vontade constantemente ao domínio do Espírito Santo”. O homem redimido, portanto, vive num campo de batalha interior. O conflito entre carne e Espírito não é sinal de fraqueza, mas evidência de vida espiritual. “Pois a carne milita contra o Espírito” (Gl 5.17), e o verbo grego epithumei (“deseja intensamente”) descreve essa luta como uma tensão de vontades. A carne deseja autonomia; o Espírito deseja comunhão. O redimido escolhe, a cada manhã, a quem entregará o governo de sua alma. Segundo Silas Queiroz (2021, p. 98), “a vontade é a expressão mais nobre da alma; quando redimida, ela se torna instrumento de adoração”. Essa verdade muda tudo. Não é mais o homem que luta para agradar a Deus, mas Deus que, pelo Espírito, molda a vontade do homem para que deseje o que Ele deseja. A graça não apenas perdoa; ela reprograma a direção da alma. O resultado é visível. O homem redimido não apenas evita o pecado; ele frutifica. O Espírito o conduz a uma vida de pureza, domínio próprio e amor. Paulo resume: “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl 5.25). O verbo “andar” (stoichein) significa “seguir em linha reta”, indicando disciplina espiritual e coerência de vida. Andar no Espírito é manter o passo com Deus, submeter a vontade humana ao compasso divino. O verdadeiro sinal de maturidade cristã não é ausência de tentação, mas perseverança em resisti-la. O homem redimido aprendeu que a liberdade não é fazer o que quer, mas querer o que Deus quer. Ele sabe que cada decisão é um altar onde a vontade humana é colocada diante do fogo do Espírito. E ali, no segredo da obediência, a graça vence novamente a carne.

 

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

GILBERTO, Antônio. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

HORTON, Stanley M. (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.

KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

OLIVEIRA, Marcelo. Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

 

SINOPSE II

Os desejos podem escravizar o ser humano, mas em Cristo há poder para vencê-los e viver segundo o Espírito.

AUXÍLIO TEOLÓGICO

“A IMAGEM DE DEUS NOS SERES HUMANOS

A respeito da imagem moral de Deus nos seres humanos, ‘Deus fez ao homem reto’ (Ec 7.29). Até mesmo os pagãos, que não possuem conhecimento da Lei escrita de Deus, conservam uma Lei moral escrita por Ele em seus corações (Rm 2.14,15). Em outras palavras, somente os seres humanos possuem a capacidade de sentir o que é certo e errado, bem como o intelecto e a vontade necessários para escolher entre eles. Por esta razão, os seres humanos são chamados livres agentes morais. Diz-se também que possuem autodeterminação. Efésios 4.22-24 parece indicar que a imagem moral de Deus, embora não completamente erradicada na Queda, foi afetada negativamente até certo ponto. Para ter restaurada a imagem moral ‘em verdadeira justiça e santidade’, o pecador precisa aceitar a Cristo e se tornar uma nova criação.” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.260).

 

III. O ENSINO SOBRE OS DESEJOS, EM TIAGO

 

1. Atração e engano. Tiago 1.14,15 trata dos desejos carnais e suas consequências. Empregando o conhecido termo “concupiscência” (epithumia) com o sentido de “maus desejos”, o apóstolo refere-se ao processo de tentação e pecado: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado por sua própria concupiscência” (Tg 1.14). A faculdade da vontade é retratada neste texto como um elemento de comunicação interna que tem a capacidade de atrair e enganar. Assim sendo, o mau desejo é capaz de afetar a própria razão, levando-a a acreditar que o pecado não produz consequências ruins, mas boas. Nesse processo, a mente é entorpecida depois do desejo ter sido aguçado.

👉 A batalha contra o pecado começa muito antes de qualquer ato. Ela nasce dentro da mente, em um terreno silencioso e quase invisível: o coração humano. Tiago descreve esse processo com uma precisão espiritual impressionante: “Cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg 1.14). O termo grego usado para “concupiscência” é epithumía, que significa “um desejo intenso, uma ânsia dominadora”. Não é apenas vontade, é desejo em ebulição, uma força que tenta ocupar o lugar da obediência. O apóstolo mostra que o problema não está nas circunstâncias, mas dentro de nós. O verbo “atraído” vem de exelkó, usado na pesca, e descreve o movimento do peixe que, seduzido pelo brilho da isca, se aproxima até ser fisgado. É uma imagem poderosa: o desejo pecaminoso lança sua isca nas águas da alma e atrai a vontade humana até prendê-la. A seguir, Tiago usa deleazó (“enganado” ou “seduzido”), um termo usado para caçadas. Assim, somos ao mesmo tempo o peixe fisgado e a presa enredada, o desejo nos convence de que o pecado não trará morte, mas prazer, alívio ou satisfação. Perceba o que Tiago faz aqui: ele revela que o pecado não começa na ação, mas na crença enganosa de que podemos controlar o desejo. O homem se deixa atrair, e sua razão é persuadida a justificar o erro. A mente é entorpecida, a consciência silenciada, e o coração se torna cúmplice da tentação. O engano é interno, e é por isso que o apóstolo não culpa o diabo, mas o próprio homem. Como observa MacArthur (2017, p. 1904), “Tiago transfere a responsabilidade do pecado do tentador para o tentado”. Essa é uma verdade que incomoda, mas liberta. A vontade humana é, como explica Silas Queiroz (2021, p. 57), “o campo de batalha onde corpo, alma e espírito se enfrentam”. Quando o desejo não é submetido ao Espírito, ele sequestra a razão e reescreve as prioridades da alma. Por isso, Tiago mostra o ciclo completo: o desejo gera o pecado, e o pecado, consumado, gera a morte (Tg 1.15). É uma progressão inevitável, a cobiça fecunda o ato, o ato dá à luz a culpa, e a culpa, se não for levada à cruz, conduz à ruína espiritual. Mas há uma boa notícia: o Espírito Santo é o único capaz de quebrar esse ciclo. Ele não apenas convence o homem do pecado, mas ilumina a mente obscurecida. O mesmo Espírito que habita o crente (Rm 8.11) capacita-o a reconhecer a isca antes de mordê-la. Quando o desejo começa a despertar, o Espírito fala, e o coração sensível ouve. O segredo da vitória não é força de vontade, mas vontade rendida. Segundo French L. Arrington (2014, p. 501), “a tentação só tem poder sobre quem tenta satisfazer o desejo fora da vontade de Deus”. Por isso, Tiago nos chama a uma fé prática e vigilante: discernir o momento exato em que o desejo tenta ocupar o trono da alma e substitui-lo pela obediência. O cristão maduro não nega o desejo; ele o disciplina. Aprende a identificar as iscas do inimigo e a responder com a Palavra: “Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti” (Sl 119.11). Esse texto não é apenas um alerta; é um espelho. Ele nos convida à autoavaliação espiritual: o que tem governado minha vontade? Quais desejos têm sido alimentados no silêncio da alma? Tiago nos lembra que a tentação não é o fim da fé, mas o campo onde ela é provada e amadurecida. A cada vez que escolhemos a voz do Espírito em vez do apelo da carne, a imagem de Cristo é formada em nós, e a vontade humana, antes escrava, torna-se finalmente livre.

 

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

GILBERTO, Antônio. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

HORTON, Stanley M. (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.

KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

OLIVEIRA, Marcelo. Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2001.

BEACON, Comentário Bíblico. Vol. 10. Kansas City: Beacon Hill Press, 2015.

 

2. Abortando o processo. Na lição 7 estudamos sobre a importância de interromper maus pensamentos para evitar a prática de pecados. Pelo texto de Tiago observamos que é preciso, também, abortar os maus desejos. Aliás, eles são ainda mais perigosos, pois podem influenciar diretamente nossas decisões. Quando encontra seu objeto ou alvo, o desejo se torna intenso. Se não for rejeitado, não descansa até convencer, derrubando as barreiras da consciência: “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15). Que o Senhor nos livre de toda a tentação (Mt 6.13). Não nos esqueçamos, contudo, de fazer a nossa parte: viver em constante vigilância e oração (Mt 26.41).

👉 O pecado raramente chega de súbito. Ele se forma em silêncio, nas sombras dos desejos não disciplinados. Tiago, com precisão cirúrgica, descreve o nascimento dessa tragédia moral: o desejo, quando encontra espaço, concebe; e o que nasce dessa gestação é o pecado e, amadurecido, ele gera morte (Tg 1.15). A metáfora é poderosa: o apóstolo fala de um processo interno, gradual, quase invisível, mas que termina sempre da mesma forma na ruína espiritual. O termo grego que Tiago usa para “concupiscência” é epithymía (πιθυμία), que não é apenas um desejo natural, mas um anseio desordenado, inflamado, que ultrapassa o limite da vontade santificada. É o desejo que, em vez de servir, passa a dominar. Amos Yong observa que o pecado, antes de ser um ato, é um desarranjo do amor; amamos o que não deveríamos, e amamos menos o que deveríamos amar” (YONG, 2011). Essa inversão interior é o início do afastamento de Deus. Abortar o processo, portanto, não é apenas resistir à tentação já manifesta, mas discernir e cortar pela raiz o desejo deformado antes que ele conceba o pecado. Como ensina Anthony D. Palma, “a santificação começa no campo invisível da mente e das afeições, onde os pensamentos e desejos precisam ser julgados à luz da Palavra” (PALMA, 2012). O verdadeiro campo de batalha é interno e a vigilância espiritual é o escudo que impede o inimigo de penetrar o coração. Quando Tiago fala que “a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado”, ele usa o verbo syllambánō (συλλαμβάνω), o mesmo empregado para “conceber” uma vida no ventre. A imagem é vívida: o desejo, quando alimentado, se une à vontade e gera uma ação pecaminosa. O Espírito Santo nos chama, então, a interromper essa gestação espiritual, a abortar o mal antes que nasça. Não se trata de repressão cega, mas de substituição santa: matar o desejo errado alimentando o desejo certo, o de agradar a Deus (Gl 5.16-17). A Bíblia de Estudo Pentecostal observa que o “processo da tentação inclui atração, engano e concessão” (CPAD, 1995). A atração desperta, o engano convence e a concessão consuma. É por isso que a oração do Pai Nosso nos ensina a pedir: “não nos deixes cair em tentação” (Mt 6.13). Jesus sabia que o maior perigo não é a tentação em si, mas o flerte com ela. É a mente entretida com o pecado que dá permissão ao desejo para crescer. Craig Keener comenta que “Tiago ecoa a sabedoria sapiencial judaica, onde o pecado é um processo de autoengano progressivo” (KEENER, 2014). É por isso que Paulo ordena: “Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra” (Cl 3.5). O verbo nekroō (νεκρόω) significa “fazer morrer”, “privar de força vital”. A fé madura não apenas resiste, mas sufoca o mal em seu nascimento, antes que ele respire. O chamado pastoral desta lição é poderoso e urgente: vigiar e orar não é apenas uma disciplina devocional, é um ato de sobrevivência espiritual. Enquanto o mundo alimenta desejos desordenados, o cristão é chamado a discernir o que nasce dentro de si. A vitória começa quando o Espírito Santo encontra em nós um coração disposto a dizer “não” ao pecado e “sim” à vontade de Deus. Que aprendamos, pela graça, a abortar todo processo que tenta roubar-nos da vida abundante em Cristo.

 

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

HORTON, Stanley M. (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.

KEENER, Craig S. Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2014.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.

PALMA, Anthony D. O Espírito Santo e Você. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

YONG, Amos. Renewing the Church through the Power of the Spirit. Grand Rapids: Baker Academic, 2011.

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

OLIVEIRA, Marcelo. Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

Comentário Bíblico Beacon: Novo Testamento. Kansas City: Beacon Hill Press, 1990.

Comentário Bíblico Champlin: Novo Testamento. São Paulo: Candeia, 2001.

 

SINOPSE III

Tiago revela como os maus desejos geram o pecado, alertando sobre a necessidade de vigilância e domínio espiritual.

 

CONCLUSÃO

Apesar de nossa tendência pecaminosa, não podemos encarar os desejos apenas de forma negativa. A vontade humana é uma faculdade essencial para a nossa existência. Quando guiada por Deus é uma grande bênção, responsável por nos mover para pequenas e grandes realizações. Como é bom amanhecer motivado todos os dias! O ânimo e o entusiasmo fazem parte de uma vontade sadia e ativa. São dados por Deus e servem para nos impulsionar para as tarefas cotidianas, independentemente da fase da vida (Sl 92.12-14; Jl 2.28; Tg 4.15).

👉 Embora carreguemos dentro de nós a tendência pecaminosa herdada de Adão, os desejos humanos não devem ser vistos apenas como inimigos da fé. A vontade é uma dádiva divina, uma das faculdades mais nobres da alma, pela qual refletimos a imagem do Criador. Quando submissa ao Espírito Santo, ela se torna o motor que impulsiona o crente à obediência, ao serviço e ao amor. Deus não anulou nossa vontade, Ele a redimiu em Cristo para que fosse instrumento de Sua glória. O salmista declara: “O justo florescerá como a palmeira e crescerá como o cedro do Líbano... mesmo na velhice dará frutos” (Sl 92.12-14). Essa vitalidade espiritual é resultado de uma vontade renovada, fortalecida pela comunhão com Deus. O Espírito Santo reacende o ânimo e infunde entusiasmo santo enthousiasmós, literalmente “ter Deus dentro de si”. Assim, a energia interior que nos move para a vida é, na verdade, uma centelha da própria presença divina em nós. O profeta Joel anunciou um tempo em que “vossos filhos e filhas profetizarão... e vossos velhos terão sonhos” (Jl 2.28). O mesmo Espírito que reprime o desejo carnal é o que desperta o desejo santo. Ele transforma a força que antes nos inclinava ao pecado em poder para cumprir a vontade de Deus. Stanley Horton afirma que “a vontade humana, quando rendida ao Espírito, é capacitada a cooperar com a graça, tornando o crente participante ativo da santificação” (HORTON, 2024, p. 311). Tiago, por sua vez, nos lembra que toda decisão humana deve ser envolta em dependência: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15). Essa expressão ean ho Kyrios thelēsē sublinha o reconhecimento de que toda vontade humana só encontra plenitude dentro da vontade soberana de Deus. Não é passividade, mas submissão ativa; não é desistência, mas confiança. Quando a vontade é guiada pelo Espírito, ela se torna um rio que corre no curso certo. Desejar passa a ser bênção, não maldição. A vida cristã, então, deixa de ser uma luta exaustiva contra a carne e se torna uma jornada alegre de cooperação com o Espírito. O desejo deixa de gerar pecado e passa a gerar frutos: amor, alegria, paz, domínio próprio (Gl 5.22-23). A verdadeira maturidade espiritual consiste em aprender a desejar o que Deus deseja. Quando isso acontece, a alma encontra descanso, o corpo encontra propósito e a mente encontra direção. A vontade humana, redimida pela graça, torna-se o eco da vontade divina em nós. Que cada dia seja vivido com esse clamor: “Senhor, inclina o meu coração aos teus testemunhos e não à cobiça” (Sl 119.36).

Abaixo estão três aplicações práticas, extraídas de toda a teologia, exegese e espiritualidade desenvolvidas na Lição sobre a Vontade, à luz de Gálatas 5, Tiago 1 e 4, e dos princípios vistos nas partes anteriores. O foco da lição é discipular, pastoral e prático, transformando o conteúdo teológico em atitudes concretas para o dia a dia:

1. Submeta seus desejos à direção do Espírito Santo: A verdadeira liberdade não está em fazer o que se quer, mas em querer o que Deus quer. A carne insiste em transformar desejos legítimos em ídolos sutis. O Espírito, porém, disciplina o coração, redirecionando nossos anseios para o propósito eterno. Antes de cada decisão, grande ou pequena, ore e pergunte: “Essa escolha glorifica a Deus ou apenas satisfaz a minha vontade?” (Gl 5.16-17). Cultive o hábito diário de consultar o Espírito Santo antes de agir. Essa prática espiritual molda o caráter e alinha a vontade humana à divina (Rm 12.2).

2. Vigie seus pensamentos, pois o pecado nasce na vontade antes de se tornar ação: Tiago ensina que o pecado não começa na queda, mas na concepção do desejo (Tg 1.14-15). Isso significa que o combate precisa acontecer no campo das intenções, antes que o desejo amadureça e gere pecado. Desenvolva discernimento espiritual para identificar desejos perigosos ainda em sua fase inicial. Substitua-os por pensamentos renovados pela Palavra (Fp 4.8). A vigilância constante e a oração (Mt 26.41) funcionam como muralhas espirituais que impedem que maus desejos se transformem em atitudes destrutivas.

3. Transforme sua vontade em instrumento de adoração e serviço: Deus não quer destruir sua vontade, mas santificá-la. A graça não apaga o querer humano; ela o transforma em cooperação com o propósito divino. Quando guiada pelo Espírito, a vontade se torna força criativa para o bem, motor de perseverança e expressão de amor. Ore diariamente como Jesus orou: “Não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Sirva ao Senhor com entusiasmo (enthousiasmós “cheio de Deus”) nas pequenas tarefas do cotidiano. Faça de sua vontade um altar onde cada decisão se torne um ato de adoração.

ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

HORTON, Stanley M. (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.

PALMA, Anthony D. O Espírito Santo e Você. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

Comentário Bíblico Beacon: Novo Testamento. Kansas City: Beacon Hill Press, 1990.

Comentário Bíblico Champlin: Novo Testamento. São Paulo: Candeia, 2001.

YONG, Amos. Renewing the Church through the Power of the Spirit. Grand Rapids: Baker Academic, 2011.

Viva para a máxima glória do Nome do Senhor Jesus!

Viva conectado a Cristo, adore com sinceridade, sirva com amor e aja com justiça, para que cada atitude reflita a glória de Deus no mundo.

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REVISANDO O CONTEÚDO

1. Qual o conceito de vontade?

Volição ou vontade é a capacidade humana de desejar, querer, almejar, escolher e agir. Pode ser entendida também como motivação.

2. Como se dá um fenômeno completo, envolvendo vontade e ação?

Em um caso assim ocorre um fenômeno completo: pensamento, sentimento, desejo e ação.

3. Como se dá o conflito entre vontade e razão?

Da violação de uma restrição alimentar a condutas mais graves, muitas vezes o desejo fala mais alto que a razão. A busca do prazer pelo prazer é uma característica da cultura hedonista.

4. Como deve agir o homem redimido diante dos desejos da carne?

Diante dos desejos da carne e da vontade do Espírito, o homem redimido inclina-se “para as coisas do Espírito” (Rm 8.5).

5. Como os desejos atuam para nos enganar?

Assim sendo, o mau desejo é capaz de afetar a própria razão, levando-a a acreditar que o pecado não produz consequências ruins, mas boas.

 

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

VONTADE — O QUE MOVE O SER HUMANO

Nesta aula, veremos mais um aspecto inerente à natureza humana. Não menos importante do que os demais, vamos compreender com maiores detalhes a vontade ou volição como também é chamada. Na cosmovisão cristã, a vontade é um tema muito discutido, haja vista ser uma capacidade humana que ficou comprometida pela ação do pecado após a Queda. Vale destacar que a volição não é por natureza ruim. Antes, é a motivação inerente da alma, que nos leva a agir e a tomar decisões. Foi o Criador quem nos concedeu essa capacidade e, portanto, nos cabe o dever de submetê-la a Deus, conforme os ensinamentos de sua santa Palavra.

As Escrituras são contundentes em mostrar que a vontade divina, muitas vezes, contraria os anseios da natureza humana sem Deus. Grande parte dos desejos humanos é influenciada diretamente pela ganância do possuir o que não lhe pertence, do ser na intenção de satisfazer ao ego e do poder para ostentação e status (1Jo 2.16, 17). O grande desafio da vida cristã é viver neste mundo de tal forma que os desejos da natureza humana não comprometam as decisões ou mesmo a conduta cristã. Nesse sentido, os anseios da natureza humana devem ser disciplinados pelo ensino da Palavra de Deus. O apóstolo Paulo ressalta que “a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis” (Gl 5.17).

De acordo com o estudo doutrinário da Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global (CPAD), “’A natureza pecaminosa’, ou a ‘carne’ (gr. ‘sarx’), indica a natureza humana com os seus desejos corruptos e a sua tendência de desafiar a Deus e seguir o seu próprio caminho. Isto tem acontecido desde que o primeiro homem e a primeira mulher desobedeceram a Deus e permitiram que o pecado entrasse no mundo e infectasse a existência humana (Gn 3; Rm 5.12-21). A natureza pecaminosa permanece nos cristãos, mesmo depois que eles decidem aceitar e seguir a Cristo; ela continua a ser o seu inimigo mortal, que batalha contra o seu espírito (Rm 8.6-8,13; Gl 5.17,21). Os que seguem as tendências e os comportamentos da natureza pecaminosa não podem fazer parte do Reino de Deus (Gl 5.21). Por este motivo, é preciso resistir a esta natureza pecaminosa e matá-la, espiritualmente, por meio de uma contínua batalha espiritual que os cristãos devem travar e vencer, pelo poder do Espírito Santo (Rm 8.4-14)” (2022, p.2126). Por essa razão, o crente deve ter sua mente ocupada continuamente com coisas espirituais (Cl 3.2-7), buscando a sabedoria que vem do Alto (Tg 3.13-18), a fim de que o exercício diário resulte em uma vida que mortifique a carne e cultive o Fruto do Espírito (Gl 5.19-22).