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TEXTO ÁUREO
“Digo, porém: Andai em Espírito e não
cumprireis a concupiscência da carne.” (Gl 5.16).
ENTENDA O TEXTO ÁUREO:
👉 A carta aos Gálatas foi escrita por Paulo para
corrigir um grave problema doutrinário: os cristãos da Galácia estavam sendo
seduzidos por falsos mestres judaizantes, que tentavam combinar a fé em Cristo
com a observância da Lei de Moisés. O apóstolo demonstra que a salvação e a
santificação são frutos da graça
mediante a fé, e não do esforço humano. O capítulo 5 é o ponto
alto dessa argumentação: Paulo contrasta a
liberdade no Espírito com a escravidão da carne. Assim, o
versículo 16 introduz o princípio espiritual que governa toda a vida cristã: andar no Espírito
é o único meio eficaz de vencer os impulsos da carne. Digo, porém (Λέγω δέ, légō de) a expressão introduz
uma transição enfática. Paulo muda o tom de exortação para aplicação prática,
mostrando o caminho para a vida espiritual autêntica. Andai (περιπατεῖτε, peripateíte) verbo no presente imperativo ativo,
indicando ação
contínua e habitual. Andar, aqui, não é um ato isolado, mas um estilo de vida,
uma caminhada diária orientada pelo Espírito Santo. em
Espírito
(πνεύματι, pneumati) o dativo
instrumental indica meio
ou esfera. Não se trata apenas de “andar com o Espírito”, mas “andar pelo poder e sob a
direção do Espírito”. É viver segundo os princípios, valores e
impulsos que o Espírito produz no coração regenerado (cf. Rm 8.4-14). e
não cumprireis
(καὶ οὐ μὴ τελέσητε, kai ou mē telēsēte) dupla negação enfática no grego, expressando certeza absoluta:
“de modo algum satisfareis” ou “jamais realizareis” as vontades da carne. Paulo
assegura que a
vitória sobre o pecado não vem do esforço humano, mas da sujeição contínua ao
Espírito. a concupiscência da carne (ἐπιθυμίαν σαρκὸς, epithumían sarkós) literalmente, “os desejos da carne”. A palavra epithumía
refere-se a desejos
intensos, paixões dominadoras, nem sempre pecaminosas em si,
mas corrompidas quando direcionadas fora da vontade de Deus. Já sarx (carne) aqui
não designa o corpo físico, mas a
natureza humana caída, inclinada ao egoísmo, ao orgulho e à
desobediência (cf. Rm 7.18; Cl 3.5). O versículo apresenta um princípio de causalidade
espiritual invertida: Não
é evitando a carne que andamos no Espírito; é andando no Espírito que vencemos
a carne. Paulo não propõe repressão moral, mas transformação espiritual.
O domínio da carne é quebrado não pela força da vontade humana, mas pela
presença ativa do Espírito Santo dentro do crente. O verbo “andar” indica
cooperação contínua, uma
disciplina de comunhão e dependência (cf. Jo 15.5).
Aplicação Teológica:
·
Viver segundo o Espírito é submeter cada pensamento, decisão e desejo à
direção de Deus.
·
Andar em Espírito não é misticismo, mas obediência prática: escolher o
que o Espírito aprova e rejeitar o que Ele reprova.
·
A carne representa todo sistema de vida autônomo,
autocentrado e resistente ao governo de Cristo.
·
A vitória sobre a carne não é conquista instantânea, mas resultado de uma
caminhada diária de rendição.
O apóstolo Paulo reforça
esse princípio em Romanos 8.13: “se pelo Espírito mortificardes as obras do
corpo, vivereis.” O mesmo Espírito que regenera também sustenta a vontade do
crente, capacitando-o a dizer “não” ao pecado e “sim” à santidade.
Gálatas 5.16 é,
portanto, uma chave
de libertação espiritual: Quem anda no Espírito não vive
submisso à carne, porque o Espírito Santo torna-se o novo centro de comando da
vontade humana. A verdadeira liberdade cristã não é fazer o que se quer, mas querer o que o Espírito quer.
A carne grita por satisfação imediata; o Espírito conduz à obediência que gera
vida. O conflito permanece, mas o domínio muda de mãos. E todo aquele que anda
em Espírito descobre, na prática, que a vontade de Deus é “boa, agradável e
perfeita” (Rm 12.2).
VERDADE PRÁTICA
Guiada por Deus, a
vontade é uma bênção extraordinária, vital para a existência humana.
ENTENDA A VERDADE PRÁTICA:
👉 A vontade humana encontra sua verdadeira liberdade somente quando é
subjugada ao Espírito Santo; pois andar em Espírito não é reprimir a carne pela
força própria, mas permitir que Deus reine sobre nossos desejos, transformando
a obediência em prazer e a santidade em caminho natural do coração.
LEITURA BÍBLICA
EM CLASSE
Gálatas 5.16-21; Tiago 1.14,15;
4.13-17.
Gálatas 5
16. Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a
concupiscência da carne.
👉 O apóstolo Paulo usa o verbo peripateite (andar,
caminhar), indicando uma vida conduzida continuamente pelo Espírito Santo. Não
é um ato pontual, mas uma jornada diária de dependência.
MacArthur destaca que a
vitória sobre a carne não se dá por esforço moral, mas pelo controle do
Espírito.
BEP (Pentecostal) lembra
que andar em Espírito é viver sob o domínio e o poder do Espírito Santo, o que
inclui resistência ativa ao pecado.
Plenitude sublinha o
aspecto relacional: o Espírito não é uma força, mas uma Pessoa que guia e
transforma.
Shedd observa que
“andar” implica progresso espiritual, quem anda no Espírito não fica estagnado
na fé.
O crente que caminha
guiado pelo Espírito não apenas evita o pecado, ele encontra prazer em
obedecer.
17. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito,
contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que
quereis.
👉 Aqui Paulo expõe o conflito interior: a carne (sarx)
representa a natureza humana decaída; o Espírito, a nova vida em Cristo.
MacArthur explica que
esse conflito é evidência da regeneração, o descrente não sente essa luta.
BEP lembra que o
Espírito Santo fornece força para dominar as paixões da carne, e que essa
guerra dura até a glorificação.
Plenitude ressalta que
não se trata de dualismo (Espírito x corpo), mas de moral e domínio: quem
reina?
Shedd acrescenta: a
carne deseja independência de Deus; o Espírito busca dependência total.
O cristão maduro não
nega o conflito, mas aprende a vencê-lo pela submissão diária ao Espírito.
18. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da
lei.
👉 Ser guiado pelo Espírito é viver em liberdade da lei
como sistema de salvação.
MacArthur: o Espírito
substitui a lei como princípio de conduta moral, pois Ele escreve a vontade de
Deus no coração.
BEP: o Espírito não
abole a lei moral, mas dá poder para cumpri-la.
Plenitude: a “guiança” é
relacional, não mecânica, implica sensibilidade espiritual.
Shedd: quem vive debaixo
da graça obedece por amor, não por obrigação.
O Espírito liberta o
cristão da condenação legalista e o conduz à obediência amorosa.
19. Porque as obras da carne são manifestas, as quais são:
prostituição, impureza, lascívia,
👉 Paulo apresenta uma lista de quase quinze pecados,
divididos em três grupos:
Imorais (sexuais):
prostituição, impureza, lascívia.
Religiosos: idolatria,
feitiçarias.
Sociais: inimizades,
ciúmes, iras, facções, invejas, homicídios, bebedices, etc.
MacArthur: chama atenção
para a palavra “obras” (erga), que contrasta com “fruto” (karpos) no v. 22, o
pecado é produto do esforço humano; o fruto é resultado da graça.
BEP: adverte que essas
práticas, se persistentes, excluem o crente do Reino (v. 21).
Plenitude: observa que
Paulo usa o tempo presente para indicar continuidade, não é queda ocasional,
mas estilo de vida.
Shedd: ressalta que a
carne não precisa ser ensinada a pecar; é sua natureza.
As “obras da carne” são
sintomas de uma alma que abandonou o domínio do Espírito.
20. idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações,
iras, pelejas, dissensões, heresias,
👉 Pentecostal.
21. invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas
semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que
os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus.
Tiago 1
14. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua
própria concupiscência.
👉 Tiago desloca a origem da tentação do exterior para o
interior.
MacArthur: destaca o
verbo “atraído” (exelkomenos) e “seduzido” (deleazomenos), termos da pesca, a
isca é o desejo.
BEP: enfatiza a
responsabilidade pessoal; o diabo pode tentar, mas não forçar.
Plenitude: nota que a
tentação revela o que já habita no coração.
Shedd: compara a
tentação à concepção: há uma união entre desejo e ocasião.
Satanás oferece a isca,
mas quem morde é o coração que não está cheio de Deus.
15. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o
pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
👉 O pecado nasce de um processo interno, do desejo não
controlado à ação.
MacArthur: o pecado
amadurecido gera morte espiritual, separação de Deus.
BEP: adverte que a queda
começa no pensamento, antes do ato.
Plenitude: mostra o
ciclo: desejo→ engano → ação → morte.
Shedd: reforça que o
crente precisa cortar o mal “na concepção”, antes de dar frutos.
Todo pecado começa no
ventre da vontade, por isso, a santidade nasce da vigilância.
Tiago 4
13. Eia, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos a tal
cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos.
👉 Tiago repreende a autossuficiência de quem planeja
sem Deus.
MacArthur: chama isso de
ateísmo prático, viver como se Deus não existisse.
BEP: ensina que o
verdadeiro cristão submete seus planos à direção do Espírito.
Plenitude: destaca o
contraste entre o tempo humano (“hoje ou amanhã”) e o tempo divino (“se o
Senhor quiser”).
Shedd: lembra que a vida
é neblina (atmis), breve e frágil.
Planejar não é pecado;
pecar é planejar sem Deus.
14. Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que
é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece.
15. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se
vivermos, faremos isto ou aquilo.
👉 Uma expressão de dependência e humildade espiritual.
MacArthur: esse “se” não
é ceticismo, mas fé madura.
BEP: é o reconhecimento
de que o Espírito tem a palavra final.
Plenitude: o cristão
deve planejar com oração e submissão.
Shedd: o erro está em
presumir, não em planejar.
A verdadeira sabedoria é
alinhar a vontade humana à soberania divina.
16. Mas, agora, vos gloriais em vossas presunções; toda glória
tal como esta é maligna.
👉 Tiago encerra com uma advertência: a omissão também é
pecado.
MacArthur: o pecado não
é apenas transgressão, mas negligência da obediência.
BEP: o Espírito Santo
convence o crente não só do erro cometido, mas do bem omitido.
Plenitude: o orgulho é
raiz do pecado de omissão.
Shedd: o pecado de
omissão é o mais sutil, revela um coração frio.
A vontade de Deus não se
cumpre apenas quando evitamos o mal, mas quando praticamos o bem.
17. Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete
pecado.
👉 A vontade humana, quando entregue ao Espírito Santo,
torna-se instrumento de santificação; quando guiada pela carne, produz
destruição. O Espírito não anula nossa vontade, Ele a redime. Por isso, o
segredo da vida cristã está em andar no Espírito (Gl 5.16), vigiar os desejos
(Tg 1.14-15) e submeter os planos (Tg 4.13-17). A carne quer independência; o
Espírito quer comunhão. A vontade humana é o campo de batalha, e o trono
pertence a quem a dominar.
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estudo, cada palavra, é fruto de oração e dedicação para alimentar sua fé. Mas
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INTRODUÇÃO
Nas lições
anteriores estudamos sobre duas das principais faculdades da alma: o intelecto
e a sensibilidade. Vimos a relação entre o que pensamos e sentimos e como
pensamentos e sentimentos podem influenciar a vontade e as decisões. Pensar,
sentir, desejar e agir costumam compor um mesmo fenômeno na experiência humana.
É fundamental compreender como isso funciona à luz da Palavra de Deus. Nesta
lição estudaremos mais especificamente a respeito da vontade.
👉 Desde o Éden, o ser humano vive um conflito
silencioso entre o que sabe que deve fazer e o que, na verdade, deseja fazer.
Em cada escolha, por menor que pareça, algo dentro de nós trava uma batalha:
razão, emoção e vontade disputam o controle da alma. A pergunta central desta
lição nasce exatamente dessa tensão: o
que realmente move o ser humano: a vontade própria ou a vontade de Deus?
Nas lições anteriores,
estudamos o intelecto e a sensibilidade, a mente que pensa e o coração que
sente. Agora, chegamos à ponte que liga pensamento e sentimento à ação: a vontade. É
ela quem decide o rumo final de cada pensamento e sentimento. O intelecto pode
compreender o que é certo, e a sensibilidade pode desejar o que é bom, mas sem a vontade, nada se
concretiza. A vontade é o ponto de virada entre o que
imaginamos e o que nos tornamos.
Contudo, essa faculdade,
tão essencial quanto perigosa, foi profundamente afetada pela Queda. O pecado
corrompeu nossos desejos e nos inclinou a buscar prazer, poder e autonomia à
margem de Deus. Desde então, o ser humano tem sido arrastado, muitas vezes
conscientemente, por vontades que o conduzem à escravidão interior. Eis o problema:
nossa vontade, sem direção divina, torna-se uma força destrutiva, capaz de nos
afastar da vida abundante que o Espírito Santo deseja gerar em nós.
Esta lição parte dessa
realidade para afirmar uma verdade libertadora: a vontade humana, quando guiada por Deus, é
restaurada como instrumento de bênção e propósito. O Espírito
Santo não anula nossa vontade, Ele a redime. Onde antes havia impulsos
desordenados, nasce o poder de escolher o bem, resistir ao mal e viver em
obediência. Nos próximos tópicos, veremos como pensamentos e desejos moldam
nossas decisões; como a carne tenta escravizar a vontade; e como a graça, em
Cristo, nos capacita a viver a liberdade dos que “andam no Espírito e não
cumprem a concupiscência da carne” (Gl 5.16). Porque, no fim, o que realmente
move o ser humano revela quem
governa o seu interior.
Palavras-Chave:
VONTADE
ENTENDA AS PALAVRAS-CHAVE:
👉 À luz das Escrituras, vontade é a faculdade da alma que expressa o poder
de escolher, desejar e agir. É por meio dela que o ser humano manifesta suas
decisões morais e espirituais diante de Deus. Desde a criação, o homem recebeu
de seu Criador a capacidade de deliberar livremente: “façamos o homem à nossa
imagem” (Gn 1.26), refletindo, ainda que de forma limitada, a liberdade divina.
Entretanto, após a Queda, essa vontade foi ferida pelo pecado (Rm 7.18-19). O
ser humano passou a desejar o que o separa de Deus, tornando-se escravo de
impulsos desordenados e inclinações carnais. O apóstolo Paulo descreve essa
tensão: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne”
(Gl 5.17). A vontade humana, portanto, encontra-se em constante campo de
batalha entre dois senhores: o eu e o Espírito Santo. Em Cristo, a vontade é
redimida e transformada. A graça não anula nossa capacidade de escolher, mas a
liberta do domínio do pecado e a orienta para o bem. O crente regenerado pode,
então, afirmar com Jesus: “não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Assim,
a vontade guiada pelo Espírito torna-se instrumento de obediência e comunhão
com Deus. Ela deixa de ser fonte de rebeldia para se tornar expressão de
adoração. O verdadeiro homem espiritual é aquele cuja vontade foi submetida,
moldada e dirigida pela vontade perfeita do Pai (Rm 12.2).
I. VONTADE:
MOTIVAÇÃO E AÇÃO
1. Conceito de vontade. Volição ou vontade é a capacidade humana de
desejar, querer, almejar, escolher e agir. Pode ser entendida também como
motivação. Sem desejo ou vontade não há motivação e, via de consequência, ação.
Nesse conceito amplo, há manifestação da vontade mesmo quando o que fazemos não
era originariamente nossa vontade, mas de outrem, se a ela aderimos
voluntariamente (Sl 143.10; Lc 22.42). A conversão é um exemplo de mudança na
vontade humana por meio do arrependimento (At 3.19). Todo verdadeiro cristão é
alguém que, impulsionado pela graça de Deus, renunciou sua própria vontade para
fazer a vontade de Cristo (Mt 16.24). É o livre-arbítrio funcionando (Hb 2.3;
3.7-13; Ap 22.17).
👉 Desde a aurora da humanidade, o que verdadeiramente
define nosso ser não é o que pensamos nem o que sentimos; é o que decidimos à
luz de ambos. A vontade é esse poder latente que conecta mente e emoção ao
mundo da ação. No original grego, duas palavras nos ajudam a captar sua
dinâmica: theléma (θέλημα) expressa desejo, inclinação ou vontade
voluntária. Já boulé/ boulema (βουλή/βούλημα) designa propósito
deliberado, resolução ou plano estabelecido. Biblical Hermeneutics
Stack Exchange+1 Na Escritura, ao mesmo
tempo em que vemos o homem chamado a “fazer a vontade de Deus” (Mt 7.21),
também vemos o conflito interno entre uma vontade caída e o Espírito que renova
(Gl 5.16-21). Assim, quando falamos em vontade, estamos pontuando o lugar onde
o livre-arbítrio humano encontra o chamado divino; onde o desejo profundo
impulsiona a escolha; onde a alma decide agir. Na psicologia moderna, esse
fenômeno é tratado sob o conceito de volition ou volição: processo
cognitivo pelo qual o indivíduo decide e se compromete com um curso de ação,
diferenciado da simples motivação ou emoção. Dicionário APA de
Psicologia+2PMC+2 Tal abordagem confirma
que a vontade não é mera intenção nem mero impulso, mas decisão consciente
que gera realização, “sem desejo ou vontade não há motivação e, via de
consequência, ação”.
A vontade
humana foi ferida pela Queda, ela não opera mais como originalmente planejada
por Deus. O que antes era livre adesão à vontade do Pai tornou-se uma arena de
conflitos: a mente sabe, a sensibilidade sente, mas a vontade vacila ou se
rende ao desejo da carne. A consequência é uma vida de pulsões desordenadas,
escolhas maquiadas de liberdade mas escravizadas ao pecado. A vontade humana é,
por natureza, uma faculdade neutra e essencial, concedida por Deus para
desejar, escolher e agir, mas ferida e distorcida pelo pecado. Em Cristo, essa
vontade não é anulada, mas redimida: quando submetida ao Espírito Santo,
torna-se instrumento de obediência, de liberdade genuína e de ação
significativa. Assim, a vontade orientada por Deus revela o que somos, e o que
podemos tornar-nos.
2. Do pensamento à ação. Um pensamento pode ser apenas um pensamento,
sem relação alguma com um sentimento ou um desejo. Por exemplo: podemos pensar
em uma viagem que fizemos sem que isso nos traga qualquer emoção. Mas também
podemos recordar com nostalgia e desejar viajar novamente. E esse desejo pode
nos motivar a comprar a passagem e repetir a experiência. Em um caso assim
ocorre um fenômeno completo: pensamento, sentimento, desejo e ação. Aconteceu
com Eva no Éden. Em sua conversa com a serpente, a mulher refletiu sobre o significado
do fruto da árvore da ciência do bem e do mal até ser enganada (1Tm 2.14). Ao
acreditar na falsa elevação que obteria (“sereis como Deus”, Gn 3.5) certamente
sentiu alguma emoção. O próximo passo foi a manifestação do desejo, que gerou a
ação: tomou do fruto e comeu (Gn 3.6).
👉 Toda ação nasce de um pensamento. Mas nem todo
pensamento se transforma em ação. Há ideias que passam pela mente como sombras,
sem tocar o coração. Outras, porém, encontram morada na emoção, inflamam o
desejo e, finalmente, movem a vontade. É nesse processo invisível (pensar,
sentir, desejar e agir) que se revela a estrutura espiritual do ser humano. Na
Escritura, esse movimento é antigo como o Éden. Eva não caiu apenas porque viu
o fruto, mas porque refletiu
sobre ele. O verbo hebraico usado em Gênesis 3.6, ra’ah (ver, contemplar), implica
olhar com discernimento e prazer¹. Ela não apenas percebeu o fruto; interpretou-o.
A tentação começou no campo da mente, quando o pensamento passou a dialogar com
o engano. O inimigo sabia: antes de tocar o fruto, era preciso tocar a vontade.
Tiago descreve o mesmo princípio espiritual: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.
Então a cobiça, havendo concebido, dá à luz o pecado” (Tg 1.14-15). O verbo
grego deleazomenos
(seduzir) era usado na pesca; significa ser fisgado por algo que brilha². Assim
como o peixe não percebe o anzol de imediato, o coração humano é fisgado pelo
desejo que nasce de um pensamento cultivado. O pecado não começa nas mãos, mas
na imaginação. A psicologia moderna chama esse processo de volição: o ato de
decidir e agir conscientemente³. A teologia, porém, o compreende como o ponto
de encontro entre alma e espírito, onde a liberdade humana se inclina ou à
carne, ou ao Espírito (Gl 5.16-17). Silas Queiroz, em Corpo, Alma e Espírito,
ensina que a vontade é “o eixo da alma racional, o ponto em que o homem escolhe
entre obedecer ou resistir ao Espírito”⁴. Por isso, quando a mente é renovada pela Palavra (Rm 12.2), a vontade é reorientada pela graça. Observe: Eva pensou, sentiu, desejou, agiu e caiu.
Cristo, no Getsêmani, pensou,
sentiu,
desejou,
orou
e venceu (Lc 22.42). A diferença não estava na ausência de emoção, mas na
submissão da vontade. No grego, Jesus usa thelō
“quero” para afirmar Sua própria vontade, mas logo a submete: “Não se faça a
minha vontade (thelēma),
mas a tua” (Lc 22.42). A vitória espiritual nasce quando a vontade humana é
rendida à divina. Nos bastidores da alma, o Espírito Santo trava uma batalha
silenciosa: quem dominará sua vontade determinará o curso de sua vida. Gordon
Fee comenta que o Espírito não apenas capacita, mas reconfigura o querer
do crente⁵. A obediência, portanto, não é esforço mecânico, mas fruto de um coração transformado (Fp 2.13). Quando o Espírito governa o pensamento e o desejo, Ele converte
impulsos em propósito, e tentações em testemunho. Por isso, cada discípulo de
Cristo deve perguntar-se: quem está conduzindo minha vontade hoje, o Espírito
ou a carne? É aqui que a teologia se torna prática. Não basta conhecer a
verdade; é preciso desejá-la. Como ensinava Antônio Gilberto, “a verdadeira
santificação começa quando o crente deseja, de todo o coração, agradar ao
Senhor”⁶. A vontade, portanto, é
o altar invisível onde a fé se transforma em obediência. Tudo o que pensamos,
sentimos e decidimos revela a quem realmente pertencemos.
1.
BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD,
1995.
2.
CHAMPLIN, R. N. O
Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo:
Hagnos, 2002.
3.
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Dictionary of Psychology.
Washington, D.C.: APA, 2020.
4.
QUEIROZ, Silas. Corpo,
Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
5.
FEE, Gordon D. Paul,
the Spirit, and the People of God. Peabody, MA: Hendrickson, 1996.
6.
GILBERTO, Antônio. Obras
da Carne e Fruto do Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
7.
HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.
8.
ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo
Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
9.
MACARTHUR, John. Bíblia
de Estudo MacArthur. Nashville: Thomas Nelson, 2017.
10. PLENITUDE, Bíblia de Estudo Plenitude.
São Paulo: Vida, 2009.
3. Fraqueza de vontade. Adão pecou sem ser enganado. Isso significa que
seu entendimento da proibição e consequências relativas ao fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal não foi alterado. O problema de Adão se deu na
esfera da vontade. Em vez de permanecer firme em seu propósito de obedecer a
Deus, decidiu pecar aderindo à vontade de Eva, que lhe deu o fruto (Gn 3.6; Rm
5.12). Quantas decisões erradas tomamos plenamente conscientes de suas
consequências! Da violação de uma restrição alimentar a condutas mais graves,
muitas vezes o desejo fala mais alto que a razão. A busca do prazer pelo prazer
é uma característica da cultura hedonista. Vícios e compulsões arrastam
multidões, mesmo que elas conheçam seus destrutivos efeitos. Assim, só Jesus
pode libertar o ser humano de prisões espirituais (Jo 8.36; Rm 1.16).
👉 A história da queda no Éden não começou com ignorância, mas com escolha.
Adão sabia exatamente o que Deus havia ordenado. Seu entendimento não foi
obscurecido. Ele pecou não por engano, mas por fraqueza de vontade. O texto de
Gênesis 3.6 revela algo profundo sobre a natureza humana: a mente pode
compreender a verdade, mas se a vontade se curva ao desejo, a razão perde sua
força. É nesse abismo entre saber e querer que a carne triunfa sobre o
Espírito. No hebraico, a palavra nephesh (נֶפֶשׁ), frequentemente traduzida como “alma”, inclui o centro dos afetos, desejos e decisões, é ali que a vontade habita. No Novo Testamento, o termo grego thelēma
(θέλημα) descreve tanto o ato de querer quanto o propósito moral de agir. Em
Adão, o thelēma humano foi corrompido: sua vontade se desviou da obediência
para o egoísmo. Ele preferiu agradar a si e à esposa, e não ao Criador (Rm
5.12). Essa escolha inaugurou o conflito que todos nós sentimos: a tensão entre
o que sabemos que é certo e o que desejamos fazer (Gl 5.17). A psicologia
moderna reconhece essa dualidade. A teoria da dissonância cognitiva, proposta
por Leon Festinger, explica que o ser humano sofre quando suas ações
contradizem suas crenças. Mas a Bíblia já denunciava essa tensão há milênios.
Paulo descreve o mesmo dilema em Romanos 7.19: “Pois o que faço não é o bem que
desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.” A vontade,
quando separada do poder do Espírito, torna-se escrava dos impulsos da carne. Jesus,
no Getsêmani, mostrou o caminho da restauração da vontade: “Não se faça a minha
vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Aqui, o thelēma humano se submete completamente
ao thelēma divino. A vitória de Cristo na cruz começou na entrega da vontade no
jardim. Somente o Espírito Santo pode operar essa transformação em nós, pois
Ele molda nossos desejos para que a vontade de Deus se torne o nosso prazer (Fp
2.13). A fraqueza de vontade é, portanto, mais do que um defeito moral, é o
sintoma de uma alma desconectada do seu propósito original. O homem natural
deseja o que destrói, mesmo sabendo que o fim é morte (Rm 1.32). A busca do
prazer pelo prazer, o hedonismo, é a expressão cultural desse rompimento
interior. A vontade sem o Espírito é uma força autodestrutiva; a vontade guiada
por Deus é libertação e vida (Jo 8.36). Por isso, o discipulado cristão é o
campo de treinamento da vontade. Cada escolha diária é uma pequena cruz, uma
rendição progressiva do “eu quero” ao “seja feita a tua vontade”. A graça não
anula a vontade humana; ela a redime. É nesse processo que o cristão aprende
que verdadeira liberdade não é fazer o que se quer, mas querer o que Deus quer.
Assim, a luta entre carne e Espírito não é apenas um combate ético, mas uma
reeducação da vontade, um convite constante para que o thelēma humano volte a
pulsar em harmonia com o thelēma divino. E quando isso acontece, o que antes
era fraqueza se transforma em poder, e o que era desejo desordenado se torna
adoração.
BÍBLIA DE ESTUDO
PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
BÍBLIA DE ESTUDO
MACARTHUR. São Paulo: Thomas Nelson, 2020.
BÍBLIA DE ESTUDO
PLENITUDE. São Paulo: SBB, 2018.
BÍBLIA DE ESTUDO
APLICAÇÃO PESSOAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.
HORTON, Stanley (Ed.).
Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.
QUEIROZ, Silas. Corpo,
Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
KEENER, Craig S.
Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2018.
ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
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SINOPSE
I
A
vontade é a capacidade humana de desejar e agir, sendo influenciada por
pensamentos, sentimentos e decisões espirituais.
AUXÍLIO
TEOLÓGICO
“OS COMPONENTES BÁSICOS DOS SERES HUMANOS
O
Novo Testamento menciona ainda a ‘mente’ (nous, dianoia) e a ‘vontade’ (thelema,
boulema, boulêsis). A ‘mente’ denota a faculdade da percepção intelectual, bem
como a capacidade de fazer julgamentos morais. Em certas ocorrências no
pensamento grego parece formar um paralelo com o pensamento do Antigo
Testamento. Em outros termos, parece que os gregos distinguiam os dois (ver Mc
12.30). Ao considerar a ‘vontade ou volição’ humana pode ser representada, por
um lado, como um ato da mente que se dirige a uma escolha livre. Mas, por outro
lado, pode ser motivada por um desejo que provém pressuroso do inconsciente.
Posto que os escritores sagrados usavam esses termos de várias maneiras (assim
como fazemos na linguagem cotidiana), é difícil determinar com precisão, pelas
Escrituras, onde termina a ‘mente’ e começa a ‘vontade.’” (HORTON, Stanley
(Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª Edição. Rio de
Janeiro: CPAD, 2024, pp.245,246).
II. DESEJOS: DA
ESCRAVIDÃO À REDENÇÃO
1. A experiência do deserto. O povo de Israel tornou-se
escravo dos seus desejos durante a peregrinação pelo deserto: “deixaram-se
levar da cobiça, no deserto, e tentaram a Deus na solidão. E ele satisfez-lhes
o desejo, mas fez definhar a alma” (Sl 106.14,15). Apesar das grandes maravilhas
operadas por Deus, os hebreus, tomados de ingratidão, lembravam-se das comidas
do Egito e se deixavam dominar por seus desejos (Nm 11.5,6). Pensavam, sentiam
e desejavam o que lhes era servido na casa da escravidão, de onde haviam sido
libertos com mão forte (Êx 20.2; Dt 26.8). O culto aos desejos lhes trouxe
terríveis consequências: perecimento e morte (Sl 78.29-33; Nm 11.33,34; 14.29).
Como nos adverte Paulo, tudo isso foi escrito para aviso nosso. Não nos
deixemos levar por nossos próprios desejos (1Co 10.1-13).
👉 O deserto sempre foi o palco onde a vontade humana é revelada e provada.
Foi ali que Israel, recém-liberto do Egito, mostrou que a escravidão do corpo é
mais fácil de quebrar do que a escravidão do coração. O salmista recorda com
tristeza: “Deixaram-se levar da cobiça no deserto, e tentaram a Deus na
solidão. E ele satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a alma” (Sl 106.14,15).
O termo hebraico usado aqui para cobiça é ta’avah (תַּאֲוָה), que significa “anseio intenso”, “apetite ardente”. Trata-se de um desejo que ultrapassa a fronteira da
necessidade e invade o território da idolatria. Mesmo depois de verem o mar se
abrir e o maná descer do céu, os israelitas foram vencidos pelo ta’avah. Em vez
de se alegrarem com o cuidado de Deus, desejaram o sabor do Egito (Nm 11.5,6).
É uma cena trágica: o povo liberto ansiando novamente pela escravidão. A mente
ainda estava presa às cebolas e aos peixes do Nilo, enquanto os pés caminhavam
rumo à Terra Prometida. Essa é a marca de uma vontade deformada, ela deseja o
que Deus já libertou, e resiste ao que Deus quer transformar. O deserto, no
plano divino, era mais que um trajeto geográfico; era uma escola espiritual.
Deus conduziu Israel por aquele caminho para testar o coração (Dt 8.2). O verbo
hebraico nasá (נָסָה), traduzido como “provar” ou “testar”, implica o propósito pedagógico de revelar o que
está dentro do ser humano. No deserto, não há distrações. Lá, o povo teve de
lidar com a verdade sobre si mesmo: os desejos do Egito ainda viviam dentro deles.
A psicologia chama isso de “memória afetiva”: tendemos a romantizar o passado,
esquecendo a dor e lembrando apenas o prazer. Israel transformou a escravidão
em nostalgia. E assim, quando Deus lhes concedeu carne para comer, o prazer se
converteu em juízo. O texto de Números 11.33-34 descreve o local como
Quibrote-Hataavá “sepulcros da cobiça”. Cada túmulo ali era o memorial de uma
vontade que se recusou a ser moldada pela obediência. Paulo revisita essa
história em 1 Coríntios 10.6-13 para advertir a Igreja: os mesmos impulsos que
destruíram Israel podem escravizar o cristão hoje. O apóstolo usa o verbo grego
epithymeō (ἐπιθυμέω), “desejar intensamente”, o mesmo termo usado por Tiago ao explicar que o pecado nasce do desejo
(Tg 1.14). Em outras palavras, a batalha entre carne e Espírito é, antes de tudo, uma guerra de vontades, a escolha entre desejar
o que Deus quer ou o que a carne exige. O deserto, portanto, continua sendo o
grande laboratório da alma. É o lugar onde Deus não apenas revela a nossa fraqueza,
mas também nos convida a render a vontade ao Seu Espírito. A vontade que
insiste em voltar ao Egito nunca alcançará Canaã. Mas a vontade que aprende a
desejar o que Deus deseja experimenta o verdadeiro descanso. O discipulado
cristão consiste exatamente nisso: desaprender os desejos do Egito e aprender a
desejar Cristo. Porque, quando o Espírito governa o coração, até o deserto se
transforma em altar.
BÍBLIA DE ESTUDO
PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
BÍBLIA DE ESTUDO
MACARTHUR. São Paulo: Thomas Nelson, 2020.
BÍBLIA DE ESTUDO
PLENITUDE. São Paulo: SBB, 2018.
HORTON, Stanley (Ed.).
Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.
ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
QUEIROZ, Silas. Corpo,
Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
KEENER, Craig S.
Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2018.
OLIVEIRA, Marcelo.
Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
CHAMPLIN, R. N.
Comentário Bíblico. São Paulo: Hagnos, 2015.
2. Os desejos na era cristã. O drama dos desejos continua na
era cristã, com uma diferença fundamental: Cristo venceu o pecado e nos dá
poder para também vencê-lo (Rm 6.3-6,11-14). Contudo, enquanto estivermos neste
corpo mortal enfrentaremos um conflito espiritual constante. Todo o cristão
precisa decidir diariamente entre sua vontade carnal e a vontade do Espírito:
“Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes
opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis” (Gl 5.17). A carne
(sarx, natureza pecaminosa) tem seus próprios desejos, que são contrários ao
Espírito. Vê-se, então, em nosso interior, uma luta travada. Cabe-nos decidir
entre satisfazer os desejos da carne, que são pecaminosos, ou atender a voz do
Espírito e viver segundo sua direção (Gl 5.18).
👉 O drama dos desejos não terminou com o Antigo Testamento; ele apenas mudou
de cenário. Agora, o campo de batalha é o coração do discípulo de Cristo. A
diferença essencial é que, pela cruz, a vitória já foi conquistada. Em Cristo,
o poder do pecado foi quebrado, e o crente recebeu a capacidade real de viver
em novidade de vida (Rm 6.3-6,11-14). O verbo grego usado por Paulo, katargeō
(καταργέω), traduzido como “anular” ou “tornar inoperante”, revela que a antiga
escravidão da carne foi desativada pelo poder da morte e ressurreição de Jesus.
O pecado não é mais o senhor; Cristo é. Entretanto, a vitória espiritual não
elimina a tensão interior. Enquanto habitamos este corpo mortal, o conflito
entre a vontade da carne e a vontade do Espírito persiste. Paulo descreve essa
batalha em Gálatas 5.17 com precisão cirúrgica: “Porque a carne cobiça contra o
Espírito, e o Espírito contra a carne.” O verbo grego epithymeō (ἐπιθυμέω), “cobiçar”, expressa o anseio intenso, a inclinação apaixonada que busca satisfação
fora de Deus. É o mesmo termo que Tiago usa para descrever a gênese do pecado
(Tg 1.14). A carne, sarx (σάρξ), representa a natureza humana decaída,
inclinada à autossuficiência e hostil à direção do Espírito. Essa oposição não
é simbólica; é existencial. O Espírito Santo habita o crente para renovar sua
mente, enquanto a carne insiste em impor o padrão do velho homem. Cada
pensamento, emoção e decisão tornam-se um campo de guerra. Por isso, Paulo
afirma: “para que não façais o que quereis” (Gl 5.17). A frase expressa o cerne
do discipulado: a rendição da vontade. O cristão é chamado a submeter seus
desejos, não a negá-los de forma ascética, mas a redirecioná-los para Deus. O
Espírito não destrói os desejos humanos; Ele os purifica. O prazer, a ambição,
o amor e até a fome por significado, todos são dons que, sem o governo do
Espírito, tornam-se deuses. A vida cristã é, portanto, uma contínua
crucificação interior: “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências” (Gl 5.24). O verbo stauroō (σταυρόω), “crucificar”,
aqui no tempo aoristo, indica um ato decisivo e definitivo que tem efeitos
contínuos, o crente foi unido a Cristo em Sua morte, e agora vive sustentado
por Seu Espírito (Gl 2.20). Viver guiado pelo Espírito não é um estado místico,
mas uma escolha diária. É aprender a discernir a voz divina em meio aos ruídos
do ego. O Espírito Santo não força; Ele conduz. Ele não impõe Sua vontade, mas
forma Cristo em nós, até que o “querer e o efetuar” (Fp 2.13) sejam expressão
da própria vontade de Deus. Esse é o ponto culminante da santificação: quando a
vontade humana, antes inclinada ao mal, é transformada pela graça em vontade
cooperadora com o Espírito. Hoje, os desejos continuam sendo o espelho do
coração. Aquilo que desejamos revela quem governa nossa vida. Por isso, o
convite de Paulo continua ecoando: “Andai em Espírito” (Gl 5.16). Essa
expressão, no original grego peripateite pneumati (περιπατεῖτε πνεύματι), significa literalmente “mantenham o ritmo de sua
vida no Espírito”. É uma imagem de caminhada, constante, consciente e
relacional. Não se trata apenas de evitar o pecado, mas de aprender a desejar
como Jesus desejava. A era cristã é a era da vontade redimida. O Espírito Santo
habita em nós para realinhar nossos desejos com os de Deus. E quanto mais Ele
governa a vontade, mais livres nos tornamos. O cristão maduro não é aquele que
não sente tentações, mas aquele que aprendeu a desejar corretamente. Porque, no
fim, a verdadeira liberdade não está em fazer o que queremos, mas em querer o
que o Espírito quer.
BÍBLIA DE ESTUDO
PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
BÍBLIA DE ESTUDO
MACARTHUR. São Paulo: Thomas Nelson, 2020.
BÍBLIA DE ESTUDO
PLENITUDE. São Paulo: SBB, 2018.
HORTON, Stanley (Ed.).
Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.
ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
QUEIROZ, Silas. Corpo,
Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
KEENER, Craig S.
Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2018.
PALMA, Anthony D. A
Doutrina do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.
OLIVEIRA, Marcelo.
Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
CHAMPLIN, R. N.
Comentário Bíblico. São Paulo: Hagnos, 2015.
3. A decisão do homem redimido. A obra da salvação realizada por
Cristo nos liberta do poder do pecado. Diante dos desejos da carne e da vontade
do Espírito, o homem redimido inclina-se “para as coisas do Espírito” (Rm 8.5).
Isso é resultado de sua nova natureza (Ef 4.24; 2Co 5.17). Significa que não
podemos nos conformar com os desejos do velho homem, mas, pelo poder do
Espírito, nos dedicar ao processo de mortificação de nossa carne, a velha
natureza (Rm 8.11-13; Cl 3.5). Nossos desejos pecaminosos não deixam de
existir, mas em Cristo triunfamos sobre eles; vivendo, andando e frutificando
no Espírito (Gl 5.22-25; 1Jo 3.6).
👉 A salvação não é apenas um livramento da condenação eterna; é uma
libertação real do poder do pecado. Quando o Espírito Santo regenera o coração
humano, Ele não apenas perdoa, mas transforma a estrutura mais profunda da
vontade. Paulo declara: “Porque os que se
inclinam para a carne cogitam das coisas da carne, mas os que se inclinam para
o Espírito, das coisas do Espírito” (Rm 8.5). O verbo grego usado aqui para
“cogitar” é phronein, que significa “ter a mente voltada, pensar
continuamente”. Assim, a nova vida em Cristo não é uma experiência emocional
isolada, mas uma mudança radical de mentalidade e direção. Antes da
regeneração, a vontade humana estava escravizada ao pecado. Como escreve Horton
(2024, p. 531), “a vontade, corrompida pelo pecado, não possui em si mesma
poder de retornar a Deus; é o Espírito quem desperta, convence e redireciona o
coração humano”. Isso explica por que o crente redimido agora se inclina “para
as coisas do Espírito” (Rm 8.5). A vontade, outrora inclinada para o ego e a
carne, é agora habilitada pela graça a desejar o que agrada a Deus (Fp 2.13). Contudo,
a carne (sarx), expressão paulina para a natureza caída, ainda tenta reassumir
o controle. Ela sussurra velhos desejos, reacende antigos hábitos e busca
corromper a nova natureza. Por isso, Paulo ordena: “Fazei morrer (nekrosate) a
vossa natureza terrena” (Cl 3.5). O verbo está no imperativo ativo, indicando
que a mortificação é um ato contínuo e deliberado, um processo diário de
cooperação com o Espírito. Como ensina Antônio Gilberto (apud Bíblia de Estudo
Pentecostal, p. 1798), “a santificação é progressiva: o crente precisa submeter
sua vontade constantemente ao domínio do Espírito Santo”. O homem redimido,
portanto, vive num campo de batalha interior. O conflito entre carne e Espírito
não é sinal de fraqueza, mas evidência de vida espiritual. “Pois a carne milita
contra o Espírito” (Gl 5.17), e o verbo grego epithumei (“deseja intensamente”)
descreve essa luta como uma tensão de vontades. A carne deseja autonomia; o
Espírito deseja comunhão. O redimido escolhe, a cada manhã, a quem entregará o
governo de sua alma. Segundo Silas Queiroz (2021, p. 98), “a vontade é a
expressão mais nobre da alma; quando redimida, ela se torna instrumento de
adoração”. Essa verdade muda tudo. Não é mais o homem que luta para agradar a
Deus, mas Deus que, pelo Espírito, molda a vontade do homem para que deseje o
que Ele deseja. A graça não apenas perdoa; ela reprograma a direção da alma. O
resultado é visível. O homem redimido não apenas evita o pecado; ele frutifica.
O Espírito o conduz a uma vida de pureza, domínio próprio e amor. Paulo resume:
“Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl 5.25). O verbo “andar”
(stoichein) significa “seguir em linha reta”, indicando disciplina espiritual e
coerência de vida. Andar no Espírito é manter o passo com Deus, submeter a
vontade humana ao compasso divino. O verdadeiro sinal de maturidade cristã não
é ausência de tentação, mas perseverança em resisti-la. O homem redimido
aprendeu que a liberdade não é fazer o que quer, mas querer o que Deus quer.
Ele sabe que cada decisão é um altar onde a vontade humana é colocada diante do
fogo do Espírito. E ali, no segredo da obediência, a graça vence novamente a
carne.
ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
GILBERTO, Antônio.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
HORTON, Stanley M.
(Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD,
2024.
KEENER, Craig S.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
MACARTHUR, John. Bíblia
de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
QUEIROZ, Silas. Corpo,
Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
OLIVEIRA, Marcelo.
Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
SINOPSE
II
Os
desejos podem escravizar o ser humano, mas em Cristo há poder para vencê-los e viver
segundo o Espírito.
AUXÍLIO
TEOLÓGICO
“A IMAGEM DE DEUS NOS SERES HUMANOS
A
respeito da imagem moral de Deus nos seres humanos, ‘Deus fez ao homem reto’
(Ec 7.29). Até mesmo os pagãos, que não possuem conhecimento da Lei escrita de
Deus, conservam uma Lei moral escrita por Ele em seus corações (Rm 2.14,15). Em
outras palavras, somente os seres humanos possuem a capacidade de sentir o que
é certo e errado, bem como o intelecto e a vontade necessários para escolher
entre eles. Por esta razão, os seres humanos são chamados livres agentes
morais. Diz-se também que possuem autodeterminação. Efésios 4.22-24 parece
indicar que a imagem moral de Deus, embora não completamente erradicada na
Queda, foi afetada negativamente até certo ponto. Para ter restaurada a imagem
moral ‘em verdadeira justiça e santidade’, o pecador precisa aceitar a Cristo e
se tornar uma nova criação.” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma
Perspectiva Pentecostal. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.260).
III. O ENSINO
SOBRE OS DESEJOS, EM TIAGO
1. Atração e engano. Tiago 1.14,15 trata dos desejos carnais e suas
consequências. Empregando o conhecido termo “concupiscência” (epithumia) com o
sentido de “maus desejos”, o apóstolo refere-se ao processo de tentação e
pecado: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado por sua própria
concupiscência” (Tg 1.14). A faculdade da vontade é retratada neste texto como
um elemento de comunicação interna que tem a capacidade de atrair e enganar.
Assim sendo, o mau desejo é capaz de afetar a própria razão, levando-a a
acreditar que o pecado não produz consequências ruins, mas boas. Nesse
processo, a mente é entorpecida depois do desejo ter sido aguçado.
👉 A batalha contra o pecado começa muito antes de qualquer ato. Ela nasce dentro
da mente, em um terreno silencioso e quase invisível: o coração humano. Tiago
descreve esse processo com uma precisão espiritual impressionante: “Cada um é tentado, quando atraído e engodado
pela sua própria concupiscência” (Tg 1.14). O termo grego usado para
“concupiscência” é epithumía, que significa “um desejo intenso, uma ânsia
dominadora”. Não é apenas vontade, é desejo em ebulição, uma força que tenta
ocupar o lugar da obediência. O apóstolo mostra que o problema não está nas
circunstâncias, mas dentro de nós. O verbo “atraído” vem de exelkó, usado na
pesca, e descreve o movimento do peixe que, seduzido pelo brilho da isca, se
aproxima até ser fisgado. É uma imagem poderosa: o desejo pecaminoso lança sua
isca nas águas da alma e atrai a vontade humana até prendê-la. A seguir, Tiago
usa deleazó (“enganado” ou “seduzido”), um termo usado para caçadas. Assim,
somos ao mesmo tempo o peixe fisgado e a presa enredada, o desejo nos convence
de que o pecado não trará morte, mas prazer, alívio ou satisfação. Perceba o
que Tiago faz aqui: ele revela que o pecado não começa na ação, mas na crença
enganosa de que podemos controlar o desejo. O homem se deixa atrair, e sua
razão é persuadida a justificar o erro. A mente é entorpecida, a consciência
silenciada, e o coração se torna cúmplice da tentação. O engano é interno, e é
por isso que o apóstolo não culpa o diabo, mas o próprio homem. Como observa
MacArthur (2017, p. 1904), “Tiago transfere a responsabilidade do pecado do
tentador para o tentado”. Essa é uma verdade que incomoda, mas liberta. A
vontade humana é, como explica Silas Queiroz (2021, p. 57), “o campo de batalha
onde corpo, alma e espírito se enfrentam”. Quando o desejo não é submetido ao
Espírito, ele sequestra a razão e reescreve as prioridades da alma. Por isso,
Tiago mostra o ciclo completo: o desejo gera o pecado, e o pecado, consumado,
gera a morte (Tg 1.15). É uma progressão inevitável, a cobiça fecunda o ato, o
ato dá à luz a culpa, e a culpa, se não for levada à cruz, conduz à ruína
espiritual. Mas há uma boa notícia: o Espírito Santo é o único capaz de quebrar
esse ciclo. Ele não apenas convence o homem do pecado, mas ilumina a mente
obscurecida. O mesmo Espírito que habita o crente (Rm 8.11) capacita-o a
reconhecer a isca antes de mordê-la. Quando o desejo começa a despertar, o
Espírito fala, e o coração sensível ouve. O segredo da vitória não é força de
vontade, mas vontade rendida. Segundo French L. Arrington (2014, p. 501), “a
tentação só tem poder sobre quem tenta satisfazer o desejo fora da vontade de
Deus”. Por isso, Tiago nos chama a uma fé prática e vigilante: discernir o
momento exato em que o desejo tenta ocupar o trono da alma e substitui-lo pela
obediência. O cristão maduro não nega o desejo; ele o disciplina. Aprende a
identificar as iscas do inimigo e a responder com a Palavra: “Escondi a tua
palavra no meu coração, para não pecar contra ti” (Sl 119.11). Esse texto não é
apenas um alerta; é um espelho. Ele nos convida à autoavaliação espiritual: o
que tem governado minha vontade? Quais desejos têm sido alimentados no silêncio
da alma? Tiago nos lembra que a tentação não é o fim da fé, mas o campo onde
ela é provada e amadurecida. A cada vez que escolhemos a voz do Espírito em vez
do apelo da carne, a imagem de Cristo é formada em nós, e a vontade humana,
antes escrava, torna-se finalmente livre.
ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
GILBERTO, Antônio.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
HORTON, Stanley M.
(Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD,
2024.
KEENER, Craig S.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
MACARTHUR, John. Bíblia
de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
QUEIROZ, Silas. Corpo,
Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
OLIVEIRA, Marcelo.
Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
CHAMPLIN, R. N. O Novo
Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2001.
BEACON, Comentário
Bíblico. Vol. 10. Kansas City: Beacon Hill Press, 2015.
2. Abortando o processo. Na lição 7 estudamos sobre a importância de
interromper maus pensamentos para evitar a prática de pecados. Pelo texto de
Tiago observamos que é preciso, também, abortar os maus desejos. Aliás, eles
são ainda mais perigosos, pois podem influenciar diretamente nossas decisões.
Quando encontra seu objeto ou alvo, o desejo se torna intenso. Se não for
rejeitado, não descansa até convencer, derrubando as barreiras da consciência:
“Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado,
sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15). Que o Senhor nos livre de toda a
tentação (Mt 6.13). Não nos esqueçamos, contudo, de fazer a nossa parte: viver
em constante vigilância e oração (Mt 26.41).
👉 O pecado raramente chega de súbito. Ele se forma em silêncio, nas sombras
dos desejos não disciplinados. Tiago, com precisão cirúrgica, descreve o
nascimento dessa tragédia moral: o desejo, quando encontra espaço, concebe; e o
que nasce dessa gestação é o pecado e, amadurecido, ele gera morte (Tg 1.15). A
metáfora é poderosa: o apóstolo fala de um processo interno, gradual, quase
invisível, mas que termina sempre da mesma forma na ruína espiritual. O termo
grego que Tiago usa para “concupiscência” é epithymía (ἐπιθυμία), que não é apenas um desejo natural, mas um anseio desordenado, inflamado, que
ultrapassa o limite da vontade santificada. É o desejo que, em vez de
servir, passa a dominar. Amos Yong observa que “o pecado, antes de ser
um ato, é um desarranjo do amor; amamos o que não deveríamos, e amamos menos o
que deveríamos amar” (YONG, 2011). Essa inversão interior é o início do
afastamento de Deus. Abortar o processo, portanto, não é apenas resistir à
tentação já manifesta, mas discernir e cortar pela raiz o desejo deformado
antes que ele conceba o pecado. Como ensina Anthony D. Palma, “a santificação
começa no campo invisível da mente e das afeições, onde os pensamentos e
desejos precisam ser julgados à luz da Palavra” (PALMA, 2012). O verdadeiro
campo de batalha é interno e a vigilância espiritual é o escudo que impede o inimigo
de penetrar o coração. Quando Tiago fala que “a concupiscência, havendo
concebido, dá à luz o pecado”, ele usa o verbo syllambánō (συλλαμβάνω), o mesmo
empregado para “conceber” uma vida no ventre. A imagem é vívida: o desejo,
quando alimentado, se une à vontade e gera uma ação pecaminosa. O Espírito
Santo nos chama, então, a interromper essa gestação espiritual, a abortar o mal
antes que nasça. Não se trata de repressão cega, mas de substituição santa:
matar o desejo errado alimentando o desejo certo, o de agradar a Deus (Gl
5.16-17). A Bíblia de Estudo Pentecostal observa que o “processo da tentação
inclui atração, engano e concessão” (CPAD, 1995). A atração desperta, o engano
convence e a concessão consuma. É por isso que a oração do Pai Nosso nos ensina
a pedir: “não nos deixes cair em tentação” (Mt 6.13). Jesus sabia que o maior
perigo não é a tentação em si, mas o flerte com ela. É a mente entretida com o
pecado que dá permissão ao desejo para crescer. Craig Keener comenta que “Tiago
ecoa a sabedoria sapiencial judaica, onde o pecado é um processo de autoengano
progressivo” (KEENER, 2014). É por isso que Paulo ordena: “Mortificai, pois, os
vossos membros que estão sobre a terra” (Cl 3.5). O verbo nekroō (νεκρόω)
significa “fazer morrer”, “privar de força vital”. A fé madura não apenas
resiste, mas sufoca o mal em seu nascimento, antes que ele respire. O chamado
pastoral desta lição é poderoso e urgente: vigiar e orar não é apenas uma
disciplina devocional, é um ato de sobrevivência espiritual. Enquanto o mundo
alimenta desejos desordenados, o cristão é chamado a discernir o que nasce
dentro de si. A vitória começa quando o Espírito Santo encontra em nós um
coração disposto a dizer “não” ao pecado e “sim” à vontade de Deus. Que
aprendamos, pela graça, a abortar todo processo que tenta roubar-nos da vida
abundante em Cristo.
ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
GILBERTO, Antônio.
Manual da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
HORTON, Stanley M.
(Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2024.
KEENER, Craig S.
Comentário Bíblico do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2014.
MACARTHUR, John. Bíblia
de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
PALMA, Anthony D. O
Espírito Santo e Você. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
YONG, Amos. Renewing the
Church through the Power of the Spirit. Grand Rapids: Baker Academic, 2011.
QUEIROZ, Silas. Corpo,
Alma e Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
OLIVEIRA, Marcelo.
Alcance um Futuro Feliz e Seguro. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
Bíblia de Estudo
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
Comentário Bíblico
Beacon: Novo Testamento. Kansas City: Beacon Hill Press, 1990.
Comentário Bíblico
Champlin: Novo Testamento. São Paulo: Candeia, 2001.
SINOPSE
III
Tiago
revela como os maus desejos geram o pecado, alertando sobre a necessidade de
vigilância e domínio espiritual.
CONCLUSÃO
Apesar de nossa
tendência pecaminosa, não podemos encarar os desejos apenas de forma negativa.
A vontade humana é uma faculdade essencial para a nossa existência. Quando
guiada por Deus é uma grande bênção, responsável por nos mover para pequenas e
grandes realizações. Como é bom amanhecer motivado todos os dias! O ânimo e o
entusiasmo fazem parte de uma vontade sadia e ativa. São dados por Deus e
servem para nos impulsionar para as tarefas cotidianas, independentemente da
fase da vida (Sl 92.12-14; Jl 2.28; Tg 4.15).
👉 Embora carreguemos dentro de nós a tendência pecaminosa herdada de Adão,
os desejos humanos não devem ser vistos apenas como inimigos da fé. A vontade é
uma dádiva divina, uma das faculdades mais nobres da alma, pela qual refletimos
a imagem do Criador. Quando submissa ao Espírito Santo, ela se torna o motor
que impulsiona o crente à obediência, ao serviço e ao amor. Deus não anulou
nossa vontade, Ele a redimiu em Cristo para que fosse instrumento de Sua
glória. O salmista declara: “O justo
florescerá como a palmeira e crescerá como o cedro do Líbano... mesmo na
velhice dará frutos” (Sl 92.12-14). Essa vitalidade espiritual é resultado
de uma vontade renovada, fortalecida pela comunhão com Deus. O Espírito Santo
reacende o ânimo e infunde entusiasmo santo enthousiasmós, literalmente “ter
Deus dentro de si”. Assim, a energia interior que nos move para a vida é, na
verdade, uma centelha da própria presença divina em nós. O profeta Joel
anunciou um tempo em que “vossos filhos e
filhas profetizarão... e vossos velhos terão sonhos” (Jl 2.28). O mesmo
Espírito que reprime o desejo carnal é o que desperta o desejo santo. Ele
transforma a força que antes nos inclinava ao pecado em poder para cumprir a
vontade de Deus. Stanley Horton afirma que “a vontade humana, quando rendida ao
Espírito, é capacitada a cooperar com a graça, tornando o crente participante
ativo da santificação” (HORTON, 2024, p. 311). Tiago, por sua vez, nos lembra
que toda decisão humana deve ser envolta em dependência: “Se o Senhor quiser,
viveremos e faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15). Essa expressão ean ho Kyrios thelēsē sublinha o
reconhecimento de que toda vontade humana só encontra plenitude dentro da
vontade soberana de Deus. Não é passividade, mas submissão ativa; não é
desistência, mas confiança. Quando a vontade é guiada pelo Espírito, ela se
torna um rio que corre no curso certo. Desejar passa a ser bênção, não
maldição. A vida cristã, então, deixa de ser uma luta exaustiva contra a carne
e se torna uma jornada alegre de cooperação com o Espírito. O desejo deixa de
gerar pecado e passa a gerar frutos: amor, alegria, paz, domínio próprio (Gl
5.22-23). A verdadeira maturidade espiritual consiste em aprender a desejar o
que Deus deseja. Quando isso acontece, a alma encontra descanso, o corpo
encontra propósito e a mente encontra direção. A vontade humana, redimida pela
graça, torna-se o eco da vontade divina em nós. Que cada dia seja vivido com
esse clamor: “Senhor, inclina o meu coração aos teus testemunhos e não à
cobiça” (Sl 119.36).
Abaixo estão três
aplicações práticas, extraídas de toda a teologia, exegese e espiritualidade
desenvolvidas na Lição sobre a Vontade, à luz de Gálatas 5, Tiago 1 e 4, e dos
princípios vistos nas partes anteriores. O foco da lição é discipular, pastoral
e prático, transformando o conteúdo teológico em atitudes concretas para o dia
a dia:
1. Submeta seus desejos à direção do Espírito Santo: A verdadeira liberdade
não está em fazer o que se quer, mas em querer o que Deus quer. A carne insiste
em transformar desejos legítimos em ídolos sutis. O Espírito, porém, disciplina
o coração, redirecionando nossos anseios para o propósito eterno. Antes de cada
decisão, grande ou pequena, ore e
pergunte: “Essa escolha glorifica a Deus ou apenas satisfaz a minha
vontade?” (Gl 5.16-17). Cultive o hábito diário de consultar o Espírito Santo
antes de agir. Essa prática espiritual molda o caráter e alinha a vontade
humana à divina (Rm 12.2).
2. Vigie seus pensamentos, pois o pecado nasce na vontade
antes de se tornar ação: Tiago ensina que o pecado não começa na queda, mas na
concepção do desejo (Tg 1.14-15). Isso significa que o combate precisa
acontecer no campo das intenções, antes que o desejo amadureça e gere pecado. Desenvolva
discernimento espiritual para identificar desejos perigosos ainda em sua fase
inicial. Substitua-os por pensamentos renovados pela Palavra (Fp 4.8). A
vigilância constante e a oração (Mt 26.41) funcionam como muralhas espirituais
que impedem que maus desejos se transformem em atitudes destrutivas.
3. Transforme sua vontade em instrumento de adoração e
serviço: Deus não quer destruir
sua vontade, mas santificá-la. A graça não apaga o querer humano; ela o
transforma em cooperação com o propósito divino. Quando guiada pelo Espírito, a
vontade se torna força criativa para o bem, motor de perseverança e expressão
de amor. Ore diariamente como Jesus orou: “Não se faça a minha vontade, mas a
tua” (Lc 22.42). Sirva ao Senhor com entusiasmo (enthousiasmós “cheio de Deus”)
nas pequenas tarefas do cotidiano. Faça de sua vontade um altar onde cada
decisão se torne um ato de adoração.
ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
GILBERTO, Antônio.
Manual da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
HORTON, Stanley M.
(Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2024.
MACARTHUR, John. Bíblia
de Estudo MacArthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2017.
PALMA, Anthony D. O
Espírito Santo e Você. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
Bíblia de Estudo
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
Comentário Bíblico Beacon:
Novo Testamento. Kansas City: Beacon Hill Press, 1990.
Comentário Bíblico
Champlin: Novo Testamento. São Paulo: Candeia, 2001.
YONG, Amos. Renewing the
Church through the Power of the Spirit. Grand Rapids: Baker Academic, 2011.
Viva para
a máxima glória do Nome do Senhor Jesus!
Viva conectado a Cristo, adore com sinceridade, sirva com amor e
aja com justiça, para que cada atitude reflita a glória de Deus no mundo.
Meu
ministério aqui é um chamado do coração: compartilhar o ensino da
Palavra de Deus de forma livre e acessível, para que você, irmão ou irmã em
Cristo, possa crescer na fé e no conhecimento das Escrituras, sem barreiras,
com subsídios preparados por um Especialista em Exegese Bíblica do Novo Testamento.
Todo o material que ofereço é fruto de
oração, estudo e dedicação, e está disponível gratuitamente para que a luz do
Evangelho alcance ainda mais vidas sedentas pela verdade. Porém, para que essa
missão continue firme, preciso da sua ajuda.
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REVISANDO O
CONTEÚDO
1. Qual
o conceito de vontade?
Volição
ou vontade é a capacidade humana de desejar, querer, almejar, escolher e agir.
Pode ser entendida também como motivação.
2. Como
se dá um fenômeno completo, envolvendo vontade e ação?
Em
um caso assim ocorre um fenômeno completo: pensamento, sentimento, desejo e
ação.
3. Como
se dá o conflito entre vontade e razão?
Da
violação de uma restrição alimentar a condutas mais graves, muitas vezes o
desejo fala mais alto que a razão. A busca do prazer pelo prazer é uma
característica da cultura hedonista.
4. Como
deve agir o homem redimido diante dos desejos da carne?
Diante
dos desejos da carne e da vontade do Espírito, o homem redimido inclina-se
“para as coisas do Espírito” (Rm 8.5).
5. Como
os desejos atuam para nos enganar?
Assim
sendo, o mau desejo é capaz de afetar a própria razão, levando-a a acreditar
que o pecado não produz consequências ruins, mas boas.
SUBSÍDIOS
ENSINADOR CRISTÃO
VONTADE — O QUE MOVE O SER HUMANO
Nesta
aula, veremos mais um aspecto inerente à natureza humana. Não menos importante
do que os demais, vamos compreender com maiores detalhes a vontade ou volição
como também é chamada. Na cosmovisão cristã, a vontade é um tema muito
discutido, haja vista ser uma capacidade humana que ficou comprometida pela
ação do pecado após a Queda. Vale destacar que a volição não é por natureza
ruim. Antes, é a motivação inerente da alma, que nos leva a agir e a tomar
decisões. Foi o Criador quem nos concedeu essa capacidade e, portanto, nos cabe
o dever de submetê-la a Deus, conforme os ensinamentos de sua santa Palavra.
As
Escrituras são contundentes em mostrar que a vontade divina, muitas vezes,
contraria os anseios da natureza humana sem Deus. Grande parte dos desejos
humanos é influenciada diretamente pela ganância do possuir o que não lhe
pertence, do ser na intenção de satisfazer ao ego e do poder para ostentação e
status (1Jo 2.16, 17). O grande desafio da vida cristã é viver neste mundo de
tal forma que os desejos da natureza humana não comprometam as decisões ou
mesmo a conduta cristã. Nesse sentido, os anseios da natureza humana devem ser
disciplinados pelo ensino da Palavra de Deus. O apóstolo Paulo ressalta que “a
carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se
um ao outro; para que não façais o que quereis” (Gl 5.17).
De acordo com o estudo doutrinário da Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global (CPAD), “’A natureza pecaminosa’, ou a ‘carne’ (gr. ‘sarx’), indica a natureza humana com os seus desejos corruptos e a sua tendência de desafiar a Deus e seguir o seu próprio caminho. Isto tem acontecido desde que o primeiro homem e a primeira mulher desobedeceram a Deus e permitiram que o pecado entrasse no mundo e infectasse a existência humana (Gn 3; Rm 5.12-21). A natureza pecaminosa permanece nos cristãos, mesmo depois que eles decidem aceitar e seguir a Cristo; ela continua a ser o seu inimigo mortal, que batalha contra o seu espírito (Rm 8.6-8,13; Gl 5.17,21). Os que seguem as tendências e os comportamentos da natureza pecaminosa não podem fazer parte do Reino de Deus (Gl 5.21). Por este motivo, é preciso resistir a esta natureza pecaminosa e matá-la, espiritualmente, por meio de uma contínua batalha espiritual que os cristãos devem travar e vencer, pelo poder do Espírito Santo (Rm 8.4-14)” (2022, p.2126). Por essa razão, o crente deve ter sua mente ocupada continuamente com coisas espirituais (Cl 3.2-7), buscando a sabedoria que vem do Alto (Tg 3.13-18), a fim de que o exercício diário resulte em uma vida que mortifique a carne e cultive o Fruto do Espírito (Gl 5.19-22).