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28 de junho de 2025

EBD ADULTOS | Lição 1: A Igreja que Nasceu no Pentecostes | 3° Trim 2025

Pb Francisco Barbosa [@pbassis]

TEXTO ÁUREO

“E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” (At 2.4)

Entenda o Texto Áureo:

E todos foram cheios do Espírito Santo. καὶ ἐπλήσθησαν ἅπαντες Πνεύματος Ἁγίου ἐπλήσθησαν (eplēsthēsan): aoristo passivo de plēroō, “encher completamente”. Implica plenitude momentânea e sobrenatural. Πνεύματος Ἁγίου: “Espírito Santo” – o artigo está ausente em algumas variantes, o que pode enfatizar a natureza e não apenas a pessoa. plēroō no NT frequentemente descreve uma influência poderosa e dominante do Espírito (cf. Ef 5.18), indicando uma capacitação divina para uma missão específica. Neste contexto, o enchimento é externamente visível pela manifestação das línguas. A Bíblia de Estudo Pentecostal entende como a primeira evidência física do batismo no Espírito Santo, algo que pode se repetir (cf. At 4.31). A Bíblia de Estudo MacArthur considera este evento único e fundacional, conectando-o à inauguração da era da igreja, com o dom de línguas como sinal apostólico. O Comentário Beacon: destaca que o termo “encher” indica que os discípulos foram tomados, controlados e equipados para uma nova missão. O enchimento do Espírito não é apenas para “êxtase espiritual”, mas capacitação para proclamar Cristo com poder. “E começaram a falar em outras línguas. καὶ ἤρξαντο λαλεῖν ἑτέραις γλώσσαις ἤρξαντο (ērxanto): “começaram” – indica uma ação iniciada naquele momento. λαλεῖν (lalein): “falar” – usado amplamente para a comunicação verbal. ἑτέραις (heterais): “outras, diferentes” – enfatiza diversidade e distinção linguística. γλώσσαις (glōssais): literalmente “línguas, idiomas”. glōssa pode significar: a língua física, linguagem articulada, idioma estrangeiro (como em At 2.6–11). Aqui, o contexto claramente indica línguas humanas estrangeiras. A BEP vê como uma manifestação sobrenatural de línguas humanas, com a possibilidade de também incluir línguas espirituais (1Co 14). MacArthur reafirma que são idiomas humanos reais usados para autenticar a mensagem apostólica, e que cessaram como dom regular. Beacon: destaca que a experiência foi miraculosa e inteligível, pois os ouvintes “os ouviam falar em suas próprias línguas” (v.6–8). Conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. καθὼς τὸ Πνεῦμα ἐδίδου ἀποφθέγγεσθαι αὐτοῖς καθὼς (kathōs): “à medida que”, “conforme”. ἐδίδου (edidou): imperfeito de didōmi, “dar” – ação contínua. ἀποφθέγγεσθαι (apophthengesthai): “falar com inspiração, declarar solenemente”. apophthengomai é usado apenas 3 vezes no NT (At 2.4; 2.14; 26.25), sempre com sentido de declaração inspirada ou profética. Aqui não é falar casual, mas uma declaração com autoridade divina. A BEP enfatiza que foi o Espírito quem concedeu o dom de forma sobrenatural, sem manipulação ou aprendizado. MacArthur: nota que o controle é total do Espírito, não é um ato humano. O dom é soberano. Beacon: o uso de apophthengesthai sugere que o conteúdo falado foi significativo e relevante espiritualmente, não apenas som ininteligível. A iniciativa foi totalmente do Espírito – não uma técnica aprendida. Não há manipulação emocional ou treino vocal – é uma obra soberana, poderosa e ordenada de Deus, visando edificação e proclamação. Deus enche o crente com o Espírito para capacitá-lo a testemunhar com ousadia. As manifestações espirituais são dadas não para exaltação pessoal, mas para glorificar a Cristo. Ainda hoje, o Espírito concede dons como línguas, profecias, discernimento – mas sempre com ordem, discernimento bíblico e submissão à Palavra. Uma igreja cheia do Espírito é uma igreja centrada em Cristo, missionária, santa e comprometida com a Palavra.

 

VERDADE PRÁTICA

A Igreja nasce no Pentecostes capacitada pelo Espírito para cumprir sua missão.

Entenda a Verdade Prática:

A Igreja não apenas nasceu no Pentecostes — ela irrompeu na história como um exército incendiado pelo Espírito Santo, capacitada pelo próprio Deus para invadir as trevas com a luz do Evangelho, proclamando Cristo com ousadia, sinais e poder, até que o mundo inteiro saiba que Jesus reina.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 2.1-14

1. Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;Produtos pentecostais

dia de Pentecostes. Pentecostes significa "quinquagésimo" e se refere à Festa das Semanas (Êx 34.22-23) ou da Colheita (Lv 23.16), que era celebrada 30 dias depois da Páscoa, em maio/ junho {Lv 23.15-22). Era uma das três festas anuais para as quais o povo devia ir a Jerusalém (veia nota em Êx23.14-19). No Pentecostes, era feita a oferta das primícias (Lv 23:20). O Espírito Santo veio nesse dia como as primícias da herança dos crentes (cf. 2Co 5.5). Os que foram reunidos na igreja de então também foram as primícias da ceifa plena de todos os crentes que estava por vir. no mesmo lugar. No cenáculo mencionado em 1.13. O Pentecostes era uma festa judaica, também conhecida como Festa das Semanas, que ocorria 50 dias após a Páscoa. Essa data marcava a celebração da colheita e o cumprimento da Lei dada no Sinai. Os discípulos estavam reunidos em obediência à ordenança judaica e na espera da promessa de Jesus do batismo no Espírito Santo (At 1:4-5). Essa unidade e espera foram essenciais para o derramamento do Espírito.

2. e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.

um som, como... vento impetuoso. A símile de Lucas descreve a ação de Deus de enviar o Espírito Santo. Na Escritura, com frequência o vento é usado como uma figura do Espírito (cf. Ez 37.9-10; Jo 3.0). A manifestação do Espírito Santo foi acompanhada por um fenômeno audível — o som de um vento impetuoso. Isso simboliza o poder, a força e a presença de Deus que não pode ser contida. O som encheu todo o lugar, mostrando que a ação do Espírito é universal e expansiva, capaz de impactar a comunidade inteira.

3. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.

- O fogo é símbolo da purificação e da presença divina na Bíblia (Êx 3:2; Mt 3:11). As línguas de fogo indicam a capacitação para o ministério e o cumprimento da promessa de Jesus sobre o Espírito Santo. A unção individual mostra que cada discípulo foi especialmente habilitado e purificado para testemunhar e servir. Os discípulos não podiam compreender o significado da vinda do Espírito sem que o Senhor ilustrasse soberanamente com um fenômeno visível o que estava acontecendo, línguas, como de fogo. Assim como o som. o vento também era simbólico; não se tratava de línguas de fogo literais, mas indicadores sobrenaturais, como de fogo, de que Deus estava enviando o Espírito Santo sobre cada crente. Na Escritura, o logo muitas vozes indica a presença divina (cf. Êx 3.2-6). O uso que Deus faz com a aparência de fogo aqui é paralelo ao que ele fez com a pomba quando Jesus foi batizado (Mt 3.11; I c 3:16).

4. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

Todos. Os apóstolos e os 120. Cf. Jl 2.20-32. cheios do Espírito Santo. Em contraste com o batismo com o Espírito, que é ato único no tempo mediante o qual Deus coloca os crentes no seu corpo (veja notas em ICo 12.13), o enchimento é uma realidade repetida do comportamento controlado pelo Espírito, que Deus ordena aos crentes manter (veja notas em Ef 5.18). O batismo no Espírito Santo resulta em enchimento e capacitação para a obra divina. O falar em outras línguas (glossolalia) é a evidência inicial e pública dessa experiência, confirmando o poder do Espírito para comunicação e edificação da igreja (1Co 14). É a capacitação sobrenatural para testemunhar.

5. E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu.

- Jerusalém era o centro religioso e cultural judaico. A diversidade dos presentes indicava que a mensagem de Deus era para todas as nações. O fato de estarem "religiosos" mostra que eles eram observadores da Lei, prontos para ouvir a mensagem do Evangelho que estava para ser proclamada.

6. E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multidão e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.

- O fenômeno das línguas chamou a atenção e gerou surpresa e admiração. O milagre da comunicação transcultural foi um sinal poderoso para mostrar que o Evangelho é universal. Isso também preparou o terreno para o discurso de Pedro, que explicaria o significado da experiência.

7. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! Não são galileus todos esses homens que estão falando?

- Os discípulos eram da Galileia, uma região com sotaque peculiar. A surpresa maior estava no fato deles falarem tão fluentemente línguas estrangeiras, que os ouvintes identificavam a origem deles, mas não esperavam tal habilidade. Isso reforça o caráter sobrenatural da manifestação.

8. Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?

- O impacto do Espírito Santo quebrou barreiras linguísticas e culturais. Isso indica que Deus é soberano e pode comunicar sua palavra a qualquer pessoa, em qualquer língua, independentemente da origem do mensageiro. Essa diversidade linguística aponta para a universalidade do Evangelho.

9. Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia,

- A lista das nações demonstra a amplitude da audiência. Pessoas de regiões distantes estavam presentes em Jerusalém para a festa, simbolizando a abrangência da missão da igreja e o cumprimento da promessa de que o Evangelho alcançaria os confins da terra.

10. e Frígia, e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos),

- A presença de romanos e pessoas de áreas tão diversas mostra que o Pentecostes inaugurava uma nova era, em que o Evangelho seria pregado a todas as nações, cumprindo a Grande Comissão (Mt 28:19-20).

11. e cretenses, e árabes, todos os temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.Estudos do Novo Testamento

- Além dos judeus, havia prosélitos (convertidos ao judaísmo), o que mostra a receptividade do Evangelho para além da etnia judaica. Os crentes já estavam proclamando as "maravilhas de Deus" — os grandes feitos e a salvação por meio de Jesus — em múltiplas línguas, confirmando a universalidade da mensagem.

12. E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer?

- A reação da multidão mostra curiosidade e confusão, sinalizando que o evento sobrenatural chamava a atenção para algo maior. Essa pergunta prepara o terreno para a explicação que Pedro dará em seguida, interpretando o significado daquilo à luz da profecia de Joel.

13. E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.

- Havia também descrença e zombaria. Alguns pensaram que os discípulos estavam embriagados. Isso mostra que a manifestação do Espírito pode ser interpretada de várias formas, e que a fé é necessária para compreender e aceitar o que Deus está fazendo.

14. Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.

- Pedro assume a liderança para explicar o acontecimento, iniciando o primeiro sermão da igreja. Ele chama a atenção da multidão e a prepara para ouvir a verdade, destacando que aquilo não é fruto de embriaguez, mas o cumprimento das promessas de Deus.

 

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INTRODUÇÃO

A Igreja nasceu no dia de Pentecostes. Esse evento marcou o início de uma nova era: a era da Igreja. O Pentecostes era uma das festas mais importantes dos judeus e aconteciam cinquenta dias depois da Páscoa. Foi nesse dia especial que Deus derramou o Espírito Santo sobre todos os discípulos, batizando-os. O derramamento do Espírito no Pentecostes marca o início da Igreja como uma comunidade de profetas, como foi profetizado por Joel (Jl 2.28). No livro de Atos, Lucas ensina que esse acontecimento tinha um significado especial para o fim dos tempos, pois já havia sido anunciado pelos profetas do Antigo Testamento. Além disso, o Pentecostes foi uma prova clara de que Jesus havia ressuscitado. O propósito desse derramamento do Espírito Santo foi dar poder à Igreja para testemunhar de Cristo ao mundo e levá-la à verdadeira adoração. Isso é o que veremos nesta lição.

A Igreja de Cristo não nasceu por força humana, nem por estratégia institucional, mas por um estrondoso mover do Céu. Atos 2 não narra um simples avivamento: testemunhamos aqui o marco inaugural de uma nova era redentiva, predita pelos profetas e selada pelo Cristo exaltado. O Pentecostes, Pentēkostē (πεντηκοστή) — que significa “quinquagésimo” — era originalmente a Festa das Semanas (Lv 23.15-21), colheita das primícias, sinal de gratidão pela provisão de Deus. Agora, torna-se o dia em que o Pai envia o Espírito Santo como prōtos karpos (πρῶτος καρπός) — “primícias” da nova colheita escatológica: a Igreja. É neste cenário de profundo simbolismo e cumprimento profético que o Espírito é derramado, não apenas sobre um homem, mas sobre todos — homens e mulheres, jovens e velhos — cumprindo Joel 2.28 e instaurando a era do Espírito, a era da Igreja viva. O texto grego destaca que “todos ficaram cheios do Espírito Santo” (ἐπλήσθησαν πάντες Πνεύματος Ἁγίου - eplēsthēsan pantes Pneumatos Hagiou), um indicativo claro de que não se tratava de uma experiência isolada, mas coletiva, fundacional e definitiva. Como enfatiza Robert Menzies, “o Pentecostes não foi apenas o nascimento da Igreja, foi o empoderamento profético do povo de Deus”¹. A evidência sobrenatural das línguas faladas (γλώσσαις ἑτέραις glōssais heterais) marca a autenticidade celestial daquele momento. A promessa de Jesus em Atos 1.8 se cumpre: “recebereis poder” (δύναμιν – dynamin). Esse poder não era político ou militar, mas espiritual, para testemunhar com ousadia e fidelidade até os confins da terra — mesmo em meio à perseguição, oposição e martírio. Esse evento é também a demonstração irrefutável de que Jesus não só ressuscitou, mas foi exaltado à destra do Pai (At 2.33). Como bem observa Craig Keener, “o derramamento do Espírito no Pentecostes é a evidência pública do entronamento de Cristo como Senhor cósmico”². Antônio Gilberto reforça que “a Igreja não nasceu como uma organização fria, mas como um organismo vivo, cheio de poder, calor e direção do Espírito”³. O Espírito derramado não apenas capacita, mas une, forma, conduz e transforma. O Pentecostes é, portanto, a reversão de Babel: onde houve confusão, agora há unidade; onde houve dispersão, agora há missão global. Entretanto, muitos reduzem o Pentecostes a uma experiência emocional, esquecendo seu propósito escatológico e missional. A Igreja não foi batizada com o Espírito para se fechar em êxtase, mas para se abrir em proclamação. Como aponta Frank D. Macchia, “o Pentecostes é a fenda por onde o céu invade a terra e transforma a história”. Erra quem busca o fogo apenas para si. O verdadeiro batismo no Espírito leva a um ethos missionário, santificador e profético. A Igreja que nasceu no Pentecostes não foi criada para sobreviver, mas para impactar, incomodar e testemunhar com poder e autoridade celestial. Hoje, mais do que nunca, precisamos resgatar essa identidade. Somos uma comunidade nascida do Espírito, chamada a viver no Espírito e a proclamar a Cristo com poder. O mesmo Espírito que desceu naquele cenáculo habita em nós. O Pentecostes não ficou no passado — ele nos chama à urgência do presente. Que cada discípulo volte ao cenáculo do coração, se renda ao Espírito e seja incendiado novamente. Como o trigo das primícias, sejamos colhidos para Deus e lançados como pão vivo ao mundo faminto._______________

1.         MENZIES, Robert P. Empowered for Witness: The Spirit in Luke-Acts. T&T Clark, 2004.

2.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary. Vol. 1-4. Baker Academic, 2012.

3.         GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos Apóstolos. CPAD, 2001.

4.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology. Zondervan, 2006.

 

PALAVRA-CHAVE: PENTECOSTES

- Pentecostes vem do grego πεντηκοστή (pentēkostḗ), que significa "quinquagésimo". Refere-se ao quinquagésimo dia após a Páscoa judaica, também conhecido como Festa das Semanas (Shavuot, em hebraico), celebrada para agradecer a Deus pela colheita e, mais tarde, associada à entrega da Lei no Sinai. Em Atos 2, esse dia ganha novo significado: Deus inaugura a nova aliança, não com a entrega de tábuas de pedra, mas com o derramamento do Espírito Santo sobre todos os crentes, cumprindo as profecias de Joel 2.28-29. O Espírito desce como sinal de capacitação, unidade e poder para a missão global da Igreja. No entendimento dos evangélicos pentecostais, o Pentecostes é o marco do Batismo no Espírito Santo — uma experiência posterior à conversão, que capacita o crente com poder, dons espirituais (especialmente o falar em línguas) e ousadia para testemunhar. É visto não como evento único do passado, mas como realidade contínua, disponível à Igreja até hoje.

 

I. A NATUREZA DO PENTECOSTES BÍBLICO

1. De natureza divina. Lucas relata que, por ocasião do derramamento do Espírito no dia de Pentecostes, foi ouvido do céu “um som, como de um vento veemente e impetuoso” que “encheu toda a casa em que estavam assentados” (At 2.2) e que “foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo” (At 2.3). Os estudiosos da Bíblia explicam que esses sinais são manifestações da presença de Deus, chamadas de “teofanias”. Isso significa que Deus se revelou de maneira visível e audível, assim como fez no Monte Sinai, quando entregou a Lei a Moisés. Naquela ocasião, houve trovões, relâmpagos e um som forte, e o povo ouviu a voz de Deus e viu um grande fogo (Êx 19.16). Moisés depois lembrou ao povo desse momento, dizendo: “desde os céus te fez ouvir a sua voz, para te ensinar, e sobre a terra te mostrou o seu grande fogo, e ouviste as suas palavras do meio do fogo” (Dt 4.36).

- Nos acostumamos a fazer referência ao Pentecostes apenas como um marco cronológico na história da Igreja; embora sem a intenção, acabamos por ‘diminuir’ seu significado, importância e aplicabilidade hoje — Pentecostes não foi apenas uma intervenção divina na estrutura do tempo. Foi Deus rasgando os véus entre o céu e a terra, descendo com sinais visíveis e audíveis para inaugurar, com glória, o tempo do Espírito. Lucas é intencional ao descrever que "veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados” (At 2.2). A expressão “do céu” (ἐκ τοῦ οὐρανοῦ - ek tou ouranou) não é decorativa: aponta diretamente para a origem celestial, sobrenatural e soberana daquele evento. O som e o fogo não são meras imagens poéticas — são teofanias, manifestações sensoriais da presença de Deus, assim como ocorrera no Sinai. As “línguas como que de fogo” (γλῶσσαι ὡσεὶ πυρός - glōssai hōsei pyros) são ecos diretos de Êxodo 19, quando Deus desceu sobre o Monte Sinai em meio a trovões, relâmpagos e fogo abrasador (Êx 19.16-19). Moisés relata que o povo viu o fogo e ouviu a voz de Deus do meio dele (Dt 4.36), e esse paralelo é mais do que literário — é teológico. No Sinai, Deus deu a Lei a um povo reunido; no Pentecostes, Deus deu o Espírito a um povo regenerado. No Sinai, Deus se manifestou com temor; no cenáculo, com poder transformador. O mesmo Deus, a mesma santidade, mas agora operando por meio da nova aliança, escrita não em tábuas de pedra, mas no coração dos homens (2Co 3.3). O vento impetuoso — (πνοὴ βιαία - pnoē biaia) — lembra o rúach (ר֫וּחַ), o sopro criador de Gênesis 1.2 e o fôlego de vida em Ezequiel 37.9, onde ossos secos voltam a viver pelo sopro do Espírito. O Espírito que desce em Atos 2 é o mesmo que pairava sobre as águas no princípio: agora, ele sopra não sobre a criação física, mas sobre a nova criação, a Igreja. Craig Keener observa: “O Pentecostes é mais que uma experiência de poder; é a manifestação escatológica da presença de Deus com seu povo.”¹ É o Sinai espiritual da nova aliança. O fogo que não queima, mas consome o pecado e purifica os corações, desceu. Não sobre uma montanha distante, mas sobre cada crente cheio do Espírito. Muitos cristãos, infelizmente, tratam o Pentecostes como um evento do passado ou uma cerimônia litúrgica ocasional. Mas quem compreende sua natureza divina entende que o Pentecostes não terminou — ele se perpetua na vida de cada discípulo que se submete ao governo do Espírito. Como afirma Frank D. Macchia, “o Pentecostes é o batismo da presença divina em meio à carne humana; um batismo que transforma pessoas comuns em testemunhas ardentes do Reino.”² O que isso nos ensina hoje? Que não precisamos de eventos espetaculares, mas de corações disponíveis. O Espírito continua soprando sobre aqueles que se assentam em obediência, como os discípulos no cenáculo. Não basta desejar o fogo — é preciso estar posicionado para recebê-lo. O mesmo Deus que desceu em fogo no Sinai e no cenáculo quer incendiar hoje o altar do seu coração._______________

1.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary, Baker Academic, 2012.

2.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.

 

2. Um evento paralelo ao Sinai. Assim como no Sinai, onde a presença de Deus se tornou real, como uma das experiências mais marcantes na história do antigo povo de Deus, de uma forma muito mais gloriosa e profunda, o Pentecostes marcou o Encontro do Espírito de Deus com a Igreja. Pentecostes, portanto, é a experiência do Espírito Santo. Lá no Sinai, a letra da Lei foi escrita em tábuas de pedras (Dt 9.10,11); aqui, no Pentecostes, a Palavra de Deus foi escrita nos corações (Jr 31.33; 2 Co 3.3).

O Pentecostes, como registrado em Atos 2, não pode ser compreendido em toda sua profundidade sem ser lido à luz do Sinai. Ambos são momentos de revelação divina que marcaram a identidade e a missão do povo de Deus. No Sinai, Deus formou Israel como nação por meio da Lei; no Pentecostes, Deus formou a Igreja como comunidade espiritual por meio do Espírito. O que foi sombra e tipo no deserto, agora se cumpre com glória excedente (2Co 3.7-9). O som do trovão cede lugar ao som do céu; o fogo que ardia sobre o monte agora repousa sobre os discípulos. A teofania no Sinai encontra seu clímax escatológico no cenáculo — mas agora, não é mais um encontro de um povo com tábuas, mas do Espírito com corações regenerados. Moisés subiu ao monte para receber a Lei escrita “com o dedo de Deus” (Dt 9.10); no Pentecostes, é o próprio Espírito quem escreve a vontade de Deus nas tábuas do coração humano (Jr 31.33; 2Co 3.3). No Sinai, o povo tremia de medo diante da santidade divina. No Pentecostes, a Igreja é cheia de ousadia para anunciar o Evangelho com poder. O que era externo, agora é interno; o que era relacionalmente distante, agora é intimamente habitado. Como afirma Gordon Fee, “o Pentecostes inaugura o tempo em que o Espírito não apenas age sobre o povo de Deus, mas habita nele de modo permanente.”¹ Essa transição da letra para o Espírito não anula a Lei, mas cumpre seu propósito de santidade, agora em uma nova dimensão. Paulo é categórico: “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Co 3.6). Isso não é desprezo pela revelação antiga, mas reconhecimento de que o que era provisório agora foi superado pela plenitude do Espírito. Robert P. Menzies declara: “O Pentecostes é a proclamação de que a era do Espírito começou, e com ela, a era da comunhão direta entre Deus e seu povo.”² Contudo, um erro comum é tratar o Pentecostes como uma experiência carismática isolada ou emocional. Muitos o reduzem a dons ou manifestações, esquecendo seu caráter formador e aliançador. O Pentecostes é um novo Êxodo — o êxodo da escravidão espiritual para a liberdade de viver e andar no Espírito. É a resposta à promessa de Ezequiel 36.26-27: “Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos.” O que poucos percebem é que o Pentecostes não apenas concede dons — ele imprime identidade, molda caráter e estabelece missão. Assim como o Sinai foi o dia da consagração de Israel, o Pentecostes é o dia da consagração da Igreja. É o momento em que Deus sela, com fogo e vento, o seu povo para uma obra eterna. E assim como o povo no Sinai foi chamado a obedecer à Lei como resposta à Aliança, a Igreja é chamada a viver em santidade, cheia do Espírito, como testemunha viva da Nova Aliança. O Espírito que desceu continua sendo derramado — não mais sobre montes, mas sobre vidas dispostas, sedentas e obedientes. O fogo ainda cai — mas só onde há altar. _______________

1.         FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The Holy Spirit in the Letters of Paul, Hendrickson Publishers, 1994.

2.         MENZIES, Robert P. Empowered for Witness: The Spirit in Luke-Acts, T&T Clark, 2004.

 

3. Centrada em Cristo e nos tempos finais. Na sua pregação no dia de Pentecostes, Pedro deixou claro que esse evento estava totalmente ligado a Jesus. Ele mostrou que o derramamento do Espírito Santo estava diretamente relacionado à morte, ressurreição e ascensão de Cristo (At 2.23,24, 32,33). Isso significa que, embora o Pentecostes seja uma manifestação do Espírito Santo, ele também é cristocêntrico, ou seja, tem Cristo como seu centro. Sem a cruz de Cristo, o Pentecostes perderia seu verdadeiro significado, pois não há Pentecostes sem a cruz. Além disso, Pedro explicou que o Pentecostes foi o cumprimento da profecia de Joel (Jl 2.28), que anunciava que Deus derramaria o seu Espírito sobre toda a humanidade. Quando Pedro usou a expressão “nos últimos dias” (At 2.17), ele mostra que esse evento tinha um significado escatológico, ou seja, estava ligado ao plano de Deus para os tempos finais.

- Certamente o ramo Pentecostal do Protestantismo tem enfatizado a experiência com o batismo no Espírito Santo – assim nasceu e assim deve continuar pregando as Boas Novas – no Poder do Espírito; mas, Pentecostes é mais do que uma experiência espiritual intensa — é a proclamação pública de que Jesus Cristo reina. Naquele dia, Pedro não começou sua pregação exaltando o Espírito Santo, mas apontando para a glória de Cristo ressuscitado. Ele declara: “A este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2.32-33). Em outras palavras, o Pentecostes é o ato entronizador do Cristo glorificado. O Espírito desce, não como fim em si mesmo, mas como selo da vitória do Cordeiro. O Pentecostes é o aplauso do Céu à cruz do Calvário. Sem a cruz, não haveria Espírito derramado; sem o Cristo ressuscitado, não haveria Igreja viva. A pregação de Pedro é clara: o derramamento do Espírito está diretamente ligado à morte (At 2.23), ressurreição (v.24) e ascensão de Jesus (v.33). Como ensina o Dr. Anthony D. Palma, “o Pentecostes foi a proclamação visível de que a obra de Cristo havia sido aceita por Deus, e o Espírito era agora o presente escatológico oferecido a todo aquele que cresse.”¹ Cristo é o doador do Espírito, e o Espírito é o selo de que Ele está entronizado. A experiência pentecostal, portanto, é cristocêntrica por natureza e deve nos levar sempre de volta à cruz, onde tudo foi consumado (Jo 19.30). Pedro também esclarece que o Pentecostes não foi um evento isolado, mas o cumprimento direto da profecia de Joel (Jl 2.28-32). Ao citar: “E acontecerá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne…” (At 2.17), ele inaugura o tempo escatológico. O termo “últimos dias” (ἐν ταῖς ἐσχάταις ἡμέραις - en tais eschatais hēmerais) não se refere apenas ao fim do mundo, mas a toda a era entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Como explica Gordon Fee, “o Pentecostes marca o início da era final, onde o Espírito sinaliza a presença do Reino agora, em antecipação à sua consumação.”² Um erro comum entre cristãos é dissociar o Pentecostes da cruz e da missão. Muitos o veem como um avivamento emocional ou um culto poderoso, mas negligenciam seu centro: Cristo crucificado, ressuscitado e exaltado. O Espírito não veio para nos entreter, mas para nos capacitar a testemunhar sobre Jesus com ousadia, clareza e poder. Como observa Frank D. Macchia, “o batismo no Espírito é uma experiência de proclamação — o Espírito é missionário por natureza, porque o Cristo glorificado é missionário por essência.”³ Poucos percebem que, ao dizer “nos últimos dias”, Pedro não só explicava a profecia, mas também nos posicionava dentro do plano escatológico de Deus. A Igreja é, desde Atos 2, um povo do fim, vivendo com urgência, poder e expectativa. O Espírito que desceu é o penhor da herança (Ef 1.13-14), o selo da promessa, o fogo que impulsiona a missão global. O Pentecostes nos coloca em marcha até que o mesmo Cristo que subiu do monte das Oliveiras retorne em glória. A pergunta é: estamos vivendo como Igreja que nasceu do fogo, ou nos tornamos frios em meio ao conforto?_______________

1.         PALMA, Anthony D. The Holy Spirit: A Pentecostal Perspective, Logion Press, 2001.

2.         FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The Holy Spirit in the Letters of Paul, Hendrickson Publishers, 1994.

3.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.

 

SINÓPSE I

O Pentecoste Bíblico é um evento de natureza divina, centrado em Cristo e nos “tempos finais”.Produtos pentecostais

 

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

“UM VENTO VEEMENTE E IMPETUOSO

[…] LÍNGUAS […] DE FOGO. Em algumas ocasiões no passado, o fogo havia acompanhado a presença de Deus (cf. Êx 3.1-6; 13.21; 1 Rs 18.38-39), de modo que esse sinal pode ter assegurado particularmente os crentes judeus de que o que estava acontecendo realmente vinha de Deus. O ‘fogo’ também pode ter simbolizado a maneira como o povo de Deus foi consagrado (isto é, separado, purificado) para a obra e o propósito de trazer honra a Cristo (Jo 16.13-14) e para o testemunho a respeito dEle (veja 1.8; 13.31, notas).” Amplie mais o seu conhecimento, lendo a Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global, editada pela CPAD, p.1924.

 

AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“O DIA DE PENTECOSTES (2.1- 41). A festividade judaica do Dia de Pentecostes assume novo significado em Atos 2, pois é o dia no qual o Espírito prometido desce em poder e torna possível o avanço do evangelho até aos confins da terra. O batismo dos apóstolos com o Espírito Santo no Dia de Pentecostes serve de fundação da missão da Igreja aos gentios. Essa experiência corresponde à unção de Jesus com o Espírito no rio Jordão (Lc 3.21,22). Existem semelhanças entre estes dois eventos. O Espírito desceu sobre Jesus depois que Ele orou (Lc 3.22); no Dia de Pentecostes, os discípulos também são cheios com o Espírito depois que oram (At 1.14). Manifestações físicas acompanham ambos os eventos. No rio Jordão, o Espírito Santo desceu em forma corpórea de pomba, e no Dia de Pentecostes a presença do Espírito está evidente na divisão de línguas de fogo e no fato de os discípulos falarem em outras línguas. A experiência de Jesus enfatizava uma unção messiânica para seu ministério público pelo qual Ele pregou o Evangelho, curou os doentes e expulsou demônios; os apóstolos agora recebem o mesmo poder do Espírito. Derramamentos subsequentes do Espírito em Atos são semelhantes à experiência dos discípulos em Jerusalém” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento – Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.631).

 

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II. O PROPÓSITO DO PENTECOSTES BÍBLICO

1. Promover a verdadeira adoração. As manifestações externas, como o som ou vento e o fogo ocorridos no Pentecostes, prendem nossa atenção. Contudo, não podemos perder de vista o que o Pentecostes produz internamente na vida do crente. Um dos propósitos marcantes do Pentecostes em Jerusalém foi promover a verdadeira adoração: “temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus” (At 2.11). Logo, o Pentecostes que não adora não é bíblico. De fato, quando os gentios experimentaram o Pentecostes, eles também “magnificavam” a Deus (At 10.46). Da mesma forma, o apóstolo Paulo diz que um crente pentecostal, cheio do Espírito, dá “bem as graças” (1 Co 14.17). O fogo pentecostal promove o verdadeiro louvor.

O verdadeiro Pentecostes não começa com fogo visível, mas com corações incendiados. Embora os sinais externos em Atos 2 — o som do céu, o vento impetuoso e as línguas de fogo — capturem nossa imaginação, Lucas nos convida a olhar para um propósito mais profundo: a exaltação das grandezas de Deus. Os que ouviram os discípulos disseram, atônitos: “os ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa própria língua” (At 2.11, NVI). A palavra usada para “grandezas” é megaleia (μεγαλεῖα), e indica feitos majestosos, gloriosos, sublimes. O Pentecostes legítimo, portanto, não termina em uma experiência — ele transborda em adoração pura, viva e exaltadora do Deus Altíssimo. Adoração é o resultado imediato e inevitável do verdadeiro batismo no Espírito. Quando o Espírito toma posse de alguém, Ele não apenas distribui dons — Ele produz rendição. Em Atos 10.46, os gentios, ao receberem o Espírito, começaram a “magnificar” a Deus (μεγαλυνόντων τὸν Θεόν - megalunontōn ton Theon), a mesma raiz grega de “grandezas” em Atos 2. O Espírito que desceu no cenáculo continua sua obra em Cesareia: onde o Espírito se manifesta, a glória de Deus é proclamada. Craig Keener observa: “O falar em línguas, mais do que um sinal externo, é uma forma de adoração não domesticada, nascida do coração tocado pela glória de Deus.”¹ Paulo, escrevendo à igreja de Corinto, reforça esse princípio: quem ora no Espírito “dá bem as graças” (1Co 14.17), indicando que a oração no Espírito é também ação de graças dirigida a Deus. O culto pentecostal não é centrado em performance, nem em manifestações descontroladas — mas em adoração dirigida pelo Espírito (en pneumati – ἐν πνεύματι) como expressão máxima de gratidão e rendição. Frank D. Macchia declara: “O Pentecostes não nos leva ao ego; ele nos leva ao trono. Ele desorienta o ‘eu’ e reorienta o ‘Tu’ eterno.”² Infelizmente, um dos maiores erros do cristianismo moderno é tratar o Pentecostes como um fim em si mesmo — uma experiência sensorial, emocional ou apenas eclesiástica. Mas o verdadeiro Pentecostes nos desloca do centro e coloca Deus no lugar de honra. Se um culto ‘pentecostal’ não gera adoração sincera, reverente e centrada na grandeza de Deus, ele carece da essência do Pentecostes bíblico. Como ensina Antônio Gilberto: “O fogo que vem do céu purifica, aquece e sobe — e só sobe aquilo que é aceito por Deus.”³ A primeira obra do Espírito no Pentecostes não foi fazer os discípulos falarem em línguas, mas fazê-los adoradores em espírito e em verdade (Jo 4.23). O som do céu foi apenas o prenúncio de uma adoração celestial que, pela primeira vez, tocava a terra em diversas línguas. O Pentecostes é, portanto, a resposta do Céu à fome do homem por Deus — e o nascimento de uma Igreja cuja linguagem primeira é o louvor._______________

1.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary, Baker Academic, 2012.

2.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.

3.         GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos Apóstolos, CPAD, 2001.

4.         OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, 2003.

5.         Comentário Bíblico Beacon, vol. 8, CPAD, 2006.

6.         Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.

7.         Bíblia de Estudo MacArthur, Thomas Nelson, 2011.

8.         Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém – Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.

9.         CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Hagnos, 2002.

 

2. Poder para testemunhar. O Pentecostes tem uma dimensão escatológica, pois aconteceu “antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor” (At 2.20). No entanto, essa realidade dos últimos tempos não significa que a Igreja deve ter uma visão escapista, ou seja, desejar fugir do mundo a qualquer custo. O Pentecostes não foi dado para que os crentes se isolassem, mas para que fossem capacitados a testemunhar e viver no mundo até a volta de Cristo. A Igreja deve aguardar com esperança, mas também cumprir sua missão até o fim. Para cumprir essa missão ela necessita de poder para testemunhar (Lc 24.49; At 1.8). De fato, é isso o que acontece depois do Pentecostes (At 4.33).

O Pentecostes é uma convocação para enfrentar o mundo com ousadia. Ao citar Joel em sua pregação, Pedro declara que o derramamento do Espírito ocorre “antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor” (At 2.20). Isso posiciona o Pentecostes dentro do drama escatológico da redenção: é um ato de Deus no tempo presente, preparando Seu povo para viver entre o “já” da primeira vinda de Cristo e o “ainda não” da Sua segunda vinda. Como bem destaca Douglas Oss, “o Pentecostes é o início dos últimos dias, e seu propósito é empoderar uma Igreja que testemunha em meio à tensão escatológica.”¹ Contudo, a consciência dos tempos finais não deve gerar uma fé evasiva ou alienada. Pelo contrário, a promessa do Espírito foi dada para capacitar a Igreja a permanecer no mundo — como sal, luz e testemunha — até a volta gloriosa de Cristo. O Senhor Jesus foi claro: “ficai… até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49), e novamente em Atos 1.8: “recebereis poder [dýnamis], ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas…” A palavra grega para “testemunhas” é mártyres (μάρτυρες), de onde vem “mártir” — termo que carrega a noção de proclamar com a vida, mesmo até a morte. Após o Pentecostes, não vemos discípulos escondidos, mas homens e mulheres inflamados pelo Espírito, proclamando Cristo com intrepidez: “com grande poder [dýnamis] os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus” (At 4.33). A obra do Espírito é missão, e missão exige poder. Como afirma Craig Keener: “O Espírito Santo não é apenas o dom que confirma a salvação — Ele é o dom que capacita para a proclamação.”² O Pentecostes não foi para o cenáculo apenas; foi para as praças, os tribunais, os areópagos, as prisões e os confins da terra. Muitos, no entanto, incorrem no erro de buscar o Espírito apenas para experiências internas ou êxtases litúrgicos. Mas um Pentecostes que não desemboca em evangelização é incompleto. Um fogo que não se transforma em proclamação se torna fumaça. Frank D. Macchia resume bem: “O batismo no Espírito nos insere no coração da missão de Deus; é uma convocação ao mundo, não um refúgio dele.”³ O propósito é claro: receber poder para viver, sofrer, resistir, amar e pregar, até que o Rei retorne. O poder prometido em Atos 1.8 não era meramente para sinais, mas para perseverança em meio à perseguição. A Igreja nasce debaixo do fogo do Espírito, mas também sob o fogo da oposição. Ela não é chamada a fugir do mundo, mas a transformá-lo. O Pentecostes é, portanto, a unção do céu sobre os pés que caminham em terra hostil — os pés daqueles que anunciam a paz, proclamam as boas novas e vivem em santidade, cheios do Espírito, até que venha o glorioso Dia do Senhor._______________

1.         OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, 2003.

2.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary, Baker Academic, 2012.

3.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.

 

SINÓPSE II

O propósito do Pentecostes Bíblico é promover a verdadeira adoração e capacitar os crentes para testemunhar.

 

III. CARACTERÍSTICAS DO PENTECOSTES BÍBLICO

1. Uma experiência específica. Em Atos dos Apóstolos, o derramamento do Espírito no dia de Pentecostes é mostrado como o “batismo no Espírito Santo” dos crentes (At 1.5,8). Naquele dia o Senhor Jesus batizou quase 120 pessoas no Espírito Santo (At 1.15; 2.4). Essas pessoas já eram regeneradas, isto é, salvas. Jesus já havia dito que elas já estavam limpas pela Palavra (Jo 15.3); e que seus nomes estavam arrolados nos céus (Lc 10.20). Eram, portanto, crentes. Contudo, Jesus as mandou esperar pela experiência pentecostal, isto é, o batismo no Espírito Santo (At 1.5). O Pentecostes bíblico é, por conseguinte, distinto da salvação. Na verdade, a obra salvífica de Cristo na Cruz proveu a bênção pentecostal (At 2.33).

 

O Pentecostes bíblico é uma experiência objetiva, concreta e específica na vida dos crentes. Em Atos 1.5, Jesus afirma categoricamente: “vocês serão batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias”. A palavra usada por Lucas para “batizar” é baptisthēsthe (βαπτισθήσεσθε), do verbo baptizō, que transmite a ideia de imersão completa. Essa linguagem é decisiva: o batismo no Espírito Santo é uma imersão espiritual dada por Cristo aos que já são salvos, como um revestimento sobrenatural para uma nova dimensão de vida e serviço. Os cerca de 120 discípulos (At 1.15) que receberam o batismo no Espírito já haviam sido regenerados. Jesus havia declarado: “vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3), e disse que seus nomes estavam “escritos nos céus” (Lc 10.20), o que aponta para a certeza da salvação. Mesmo assim, Ele os instrui a esperar: “Ficai… até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49). A conclusão é clara: o batismo no Espírito é distinto da regeneração. Ele não é necessário para ser salvo, mas é indispensável para viver uma vida cheia de poder, ousadia e frutificação ministerial. O próprio Pedro afirma, em Atos 2.33, que a experiência do Pentecostes foi possível porque Jesus, exaltado à destra de Deus, recebeu do Pai o Espírito prometido e o derramou sobre a Igreja. A cruz proveu a redenção, mas a exaltação de Cristo proveu o Pentecostes. Como observa Robert P. Menzies: “O dom do Espírito é um presente escatológico dado pelo Cristo glorificado para capacitar seu povo como comunidade profética.”¹ Isso significa que o batismo no Espírito Santo não é um acessório opcional, mas o próprio sinal de que estamos vivendo na plenitude dos tempos (Hb 1.1-2). Um erro recorrente é confundir o batismo no Espírito com a regeneração. Embora o Espírito atue na salvação, o batismo no Espírito é uma experiência posterior e distinta, com propósito específico: revestir o crente de poder para testemunhar, orar, adorar e servir com eficácia sobrenatural. Frank D. Macchia afirma: “O batismo no Espírito não é apenas um incremento da espiritualidade — é uma experiência pentecostal que nos insere na missão divina com fogo e voz.”² O Pentecostes, como experiência distinta da salvação, também revela a lógica do Reino: Deus salva para depois enviar, limpa para depois encher, e enche para depois incendiar o mundo com a verdade. O batismo no Espírito é o selo visível de uma Igreja invisível que age com autoridade, com paixão, com ousadia. É um altar em chamas na alma do crente. É uma vida que não se contenta em ser apenas redimida, mas clama por ser revestida._______________

1.         MENZIES, Robert P. Empowered for Witness: The Spirit in Luke-Acts, T&T Clark, 2004.

2.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.

3.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary, Baker Academic, 2012.

4.         ARRINGTON, French L. The Acts of the Apostles: A Theological Commentary, Hendrickson, 1988.

5.         GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos Apóstolos, CPAD, 2001.

6.         OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, 2003.

7.         Comentário Bíblico Beacon, vol. 8, CPAD, 2006.

8.         Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.

9.         Bíblia de Estudo MacArthur, Thomas Nelson, 2011.

10.       Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém – Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.

11.       CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Hagnos, 2002.

 

2. Uma experiência definida e contínua. Como resultado do enchimento do Espírito Santo, os crentes “começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.4). A Escritura é clara em mostrar que a evidência inicial do batismo pentecostal foi os crentes falarem em outras línguas. Não há dúvidas de que outros resultados ou evidências do batismo no Espírito Santo se seguem. Contudo, foi o falar em línguas, não o sentir uma grande alegria ou mesmo um amor afetuoso demonstrado por eles, que deixou os crentes judeus convencidos de que os gentios haviam recebido o batismo no Espírito Santo (At 10.44-46).

O Pentecostes foi uma experiência definida e verificável, com sinais inconfundíveis. Em Atos 2.4, Lucas registra: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.” A construção verbal usada no original grego — ἤρξαντο λαλεῖν ἑτέραις γλώσσαις (ērxanto lalein heterais glōssais) — indica uma ação clara e específica que teve início naquele momento. Ou seja, não foi algo subjetivo ou apenas interior, mas uma manifestação concreta e perceptível. O batismo no Espírito Santo não é apenas sentido — é vivido, reconhecido e ouvido. Ao longo do livro de Atos, o falar em línguas surge como a evidência inicial repetida e identificável do batismo no Espírito. Em Atos 10, quando o Espírito desce sobre os gentios na casa de Cornélio, Pedro e os demais judeus ficam convencidos de que eles haviam recebido a mesma experiência pentecostal. Por quê? Porque “os ouviam falar em línguas e exaltar a Deus” (At 10.46). O critério para o reconhecimento não foi um sentimento de alegria, nem uma declaração subjetiva. Foi a mesma manifestação objetiva que ocorrera no Pentecostes original. Como explica Anthony D. Palma: “O falar em línguas serviu como evidência inequívoca de que os gentios haviam sido igualmente batizados no Espírito, sem distinção.”¹ Isso não significa que o batismo no Espírito se resume ao fenômeno das línguas. O Espírito Santo produz muitos frutos e dons na vida do crente — poder para testemunhar, fervor na oração, sensibilidade à Palavra, paixão pela missão e transformação moral. Mas a evidência inicial física e perceptível, segundo o padrão bíblico, foi e continua sendo o falar em línguas. Essa não é uma doutrina construída por tradição, mas extraída de padrões consistentes nas Escrituras (At 2.4; 10.44-46; 19.6). Um erro comum é tentar substituir essa evidência por emoções subjetivas. Muitos confundem o batismo no Espírito com um “toque”, uma comoção ou uma alegria passageira. Mas o Pentecostes não é um arrepio — é um revestimento com propósito, selado por um sinal audível. Como ensina Frank D. Macchia: “O falar em línguas é o alvorecer de uma nova linguagem para uma nova humanidade; é a irrupção do Reino nos lábios do adorador.”² Poucos compreendem que o Pentecostes foi definido no tempo, mas se desdobra continuamente na vida do crente, através do enchimento -. Ser cheio do Espírito não é um evento único como o Batismo, mas um chamado constante à renovação (enchei-vos do Espírito — Ef 5.18). O mesmo Espírito que inaugurou o Pentecostes em Atos 2 continua a operar hoje com poder e sinais, batizando e enchendo, fazendo da Igreja uma comunidade profética, adoradora e corajosa. O batismo no Espírito é o selo de que pertencemos a uma geração do fim, que fala a linguagem do céu em uma terra em convulsão._______________

1.         PALMA, Anthony D. The Holy Spirit: A Pentecostal Perspective, Logion Press, 2001.

2.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.

3.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary, Baker Academic, 2012.

4.         ARRINGTON, French L. The Acts of the Apostles: A Theological Commentary, Hendrickson, 1988.

5.         OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, 2003.

6.         Comentário Bíblico Beacon, vol. 8, CPAD, 2006.

7.         Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.

8.         Bíblia de Estudo MacArthur, Thomas Nelson, 2011.

9.         GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos Apóstolos, CPAD, 2001.

10.       Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém – Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.

11.       CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Hagnos, 2002.

 

3. As línguas e o amor. A evidência física e inicial ou sinal do batismo no Espírito Santo foi o falar em outras línguas. Não foi uma grande alegria ou um amor afetuoso que evidenciaram o batismo no Espírito Santo. Paulo, por exemplo, disse que “o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). O apóstolo escreveu para uma igreja Pentecostal e o amor aparece aqui não como uma evidência de enchimento, mas de crescimento e maturidade em Cristo.

O batismo no Espírito Santo, conforme o testemunho claro e repetido das Escrituras, é inicialmente evidenciado pelo falar em outras línguas, conforme o Espírito concede (At 2.4; 10.46; 19.6). Essa evidência não é produto humano nem imitação — é resultado direto da ação soberana do Espírito, que concede uma expressão sobrenatural como sinal do revestimento espiritual. O fenômeno das línguas, portanto, não é periférico nem secundário: ele é o sinal físico inicial da imersão no Espírito prometida por Cristo (At 1.5; 2.33). É importante, porém, entender que a evidência não é o fim do processo. O falar em línguas é o início de uma vida espiritual transformada — e não o cume da espiritualidade. Paulo, escrevendo aos romanos, afirma: “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). O verbo grego ekkechytai (ἐκκέχυται) — “derramado” — descreve uma ação contínua e abundante. Contudo, observe: Paulo aqui não trata do batismo no Espírito, mas da regeneração e do amadurecimento progressivo dos crentes em Cristo. Esse texto mostra que o amor é fruto da presença do Espírito na vida do regenerado, não a evidência do batismo pentecostal. O erro de muitos intérpretes modernos está em confundir fruto com sinal. O falar em línguas é o sinal inicial; o amor é fruto do crescimento espiritual (Gl 5.22). O primeiro acontece no início da experiência pentecostal; o segundo se desenvolve ao longo da jornada cristã. Como afirma Gordon D. Fee: “O dom do Espírito é a entrada na vida do Espírito; os frutos revelam sua continuidade.”¹ Paulo foi ainda mais incisivo em 1 Coríntios 13, ao corrigir uma igreja pentecostal e carismática, que falava em línguas, profetizava e operava milagres, mas estava dividida por egoísmo e vaidade. Sua exortação foi clara: sem amor, até os dons mais extraordinários perdem o valor espiritual (1Co 13.1-3). Mas note: ele não nega os dons, nem os despreza — apenas mostra que os dons não substituem o caráter. O verdadeiro Pentecostes começa com línguas, mas deve prosseguir em vida cheia de amor, humildade, compaixão e serviço. Poucos percebem que o equilíbrio entre línguas e amor é o que sustenta a espiritualidade bíblica. Línguas sem amor tornam-se barulho vazio; amor sem poder torna-se moralismo impotente. O Espírito que enche os lábios com línguas novas é o mesmo que molda o coração com o amor de Cristo. O Pentecostes autêntico, portanto, não é medido apenas pelo que sai da boca, mas pelo que se revela no coração — e o amor, nesse caso, não é o sinal do batismo, mas o selo da maturidade._______________

1.         FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The Holy Spirit in the Letters of Paul, Hendrickson Publishers, 1994.

2.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.

3.         ARRINGTON, French L. The Acts of the Apostles: A Theological Commentary, Hendrickson, 1988.

4.         OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, 2003.

5.         PALMA, Anthony D. The Holy Spirit: A Pentecostal Perspective, Logion Press, 2001.

6.         Comentário Bíblico Beacon, vol. 8, CPAD, 2006.

7.         Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.

8.         GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos Apóstolos, CPAD, 2001.

9.         Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém – Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.

 

SINOPSE III

O Pentecostes Bíblico é caracterizado por uma experiência definida e contínua, na qual as línguas são a evidência do enchimento do Espírito.

 

AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

FALAR EM LÍNGUAS

“Falar em línguas é o sinal inicial do batismo com o Espírito. Serve como manifestação externa do Espírito e acompanha o batismo ou imersão no Espírito. Para Pedro, o sinal milagroso demonstra a plenitude do Espírito. Ele aceita línguas como a evidência de que os cento e vinte foram cheios com o Espírito. Como sinal inicial, as línguas transformam uma profunda experiência espiritual num acontecimento reconhecível, audível e visível. Os crentes recebem a certeza de que foram batizados com o Espírito. O próprio Jesus não falou em línguas, nem mesmo no rio Jordão. Sua unção especial foi normativa para seu ministério, mas o derramamento do Espírito em Atos 2 é normativo para os crentes. A distinção entre Jesus e os crentes é que Ele inicia a nova era como Senhor” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento – Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.632).

 

CONCLUSÃO

Como vimos, o Pentecostes marcou o início da era da Igreja. Jesus, agora glorificado, batizou os crentes no Espírito Santo (At 2.4), e o Espírito Santo os inseriu no Corpo de Cristo, que é a Igreja (1 Co 12.13), cujo nascedouro foi no Pentecostes. Esse evento é essencial porque mostrou que Deus deseja uma Igreja capacitada para cumprir sua missão que é pregar o Evangelho ao mundo, tanto por palavras quanto por ações. No entanto, essa missão só pode ser realizada com êxito pelo poder do Espírito Santo.

O Pentecostes não foi apenas o marco inaugural da Igreja, mas sim, foi o ato soberano de Cristo glorificado, que, exaltado à destra do Pai, derramou o Espírito Santo sobre os crentes (At 2.33), batizando-os em poder (At 2.4). Naquele instante, uma nova comunidade foi formada — não por afinidade social ou étnica, mas pela ação sobrenatural do Espírito que os inseriu no Corpo de Cristo (1Co 12.13). A Igreja nasceu não de uma organização humana, mas de uma invasão divina; seu DNA é celestial, sua origem é espiritual, e seu combustível é o Espírito Santo. Esse evento inaugural foi mais que histórico — foi profético. Deus não queria apenas uma Igreja reunida, mas uma Igreja revestida. Uma Igreja que não apenas proclama com os lábios, mas que demonstra com a vida. Uma Igreja que não apenas carrega uma mensagem, mas que é a mensagem viva. E para isso, Jesus não deixou seus discípulos apenas com memórias, mas com poder. Como ensinou Gordon D. Fee: “A missão da Igreja não é possível com apenas boa teologia — é necessária a capacitação contínua do Espírito.”¹ O Pentecostes é, portanto, a matriz da missão. Ele declara que a tarefa de evangelizar o mundo — de Jerusalém até os confins da Terra — não será cumprida com retórica humana, programas vazios ou religiosidade inofensiva. Só pelo poder do Espírito a Igreja pode impactar, transformar e permanecer fiel em meio ao caos dos últimos dias. Por isso, o Pentecostes não é passado — ele é presente contínuo. É a convocação de uma Igreja que ora como quem geme, prega como quem arde, ama como quem foi incendiado. O Pentecostes não termina em Atos 2. Ele continua em cada crente que, hoje, se entrega ao mover do Espírito, busca o revestimento de poder e se torna testemunha viva do Cristo ressurreto. A pergunta não é se o Pentecostes aconteceu — é se ele ainda acontece em você. Porque a Igreja nasceu no fogo, e só pode viver e cumprir sua missão se permanecer incendiada pelo Espírito de Deus._______________

1.         FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence, Hendrickson Publishers, 1994.

2.         KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary, Baker Academic, 2012.

3.         MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.

4.         OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, CPAD, 2003.

5.         PALMA, Anthony D. The Holy Spirit: A Pentecostal Perspective, Logion Press, 2001.

6.         GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos Apóstolos, CPAD, 2001.

7.         Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém – Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.

8.         Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.

9.         Bíblia de Estudo MacArthur, Thomas Nelson, 2011.

 

Meu ministério aqui é um chamado do coração — compartilhar o ensino da Palavra de Deus de forma livre e acessível, para que você, irmão ou irmã em Cristo, possa crescer na fé e no conhecimento das Escrituras, sem barreiras, com subsídios preparados por um Especialista em Exegese Bíblica do Novo Testamento.

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REVISANDO O CONTEÚDO

1. Quais fenômenos registrados em Atos 2.2,3 são considerados teofânicos?

“Um som, como de um vento veemente e impetuoso” e “línguas repartidas, como que de fogo”.

2. Segundo o apóstolo Pedro, qual profecia do Antigo Testamento se cumpriu no Pentecostes, e como isso demonstra o aspecto escatológico desse evento?

Pedro explicou que o Pentecostes foi o cumprimento da profecia de Joel (Jl 2.28), que anunciava que Deus derramaria o seu Espírito sobre toda a humanidade.

3. Cite um dos propósitos marcantes do Pentecostes em Jerusalém, conforme Atos 2.11.

Um dos propósitos marcantes do Pentecoste em Jerusalém foi promover a verdadeira adoração: “temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus” (At 2.11).

4. Segundo Atos 1.8, para que a Igreja necessita do poder do Espírito Santo?

Para cumprir essa missão ela necessita de poder para testemunhar (Lc 24.49; At 1.8).

5. Por que o Pentecostes bíblico é distinto da salvação, segundo Atos 1.5 e Atos 2.33?

Porque, na verdade, a obra salvífica de Cristo na Cruz proveu a bênção pentecostal (At 2.33).