Pb Francisco Barbosa [@pbassis]
TEXTO ÁUREO
“E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar
em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” (At
2.4)
Entenda o Texto Áureo:
- E todos foram cheios do Espírito Santo. καὶ ἐπλήσθησαν ἅπαντες
Πνεύματος Ἁγίου ἐπλήσθησαν (eplēsthēsan): aoristo passivo de plēroō, “encher
completamente”. Implica plenitude momentânea e sobrenatural. Πνεύματος
Ἁγίου: “Espírito Santo” – o artigo está ausente em algumas variantes, o que
pode enfatizar a natureza e não apenas a pessoa. plēroō no NT
frequentemente descreve uma influência poderosa e dominante do Espírito (cf. Ef
5.18), indicando uma capacitação divina para uma missão específica. Neste
contexto, o enchimento é externamente visível pela manifestação das línguas. A Bíblia
de Estudo Pentecostal entende como a primeira evidência física do batismo no
Espírito Santo, algo que pode se repetir (cf. At 4.31). A Bíblia de Estudo
MacArthur considera este evento único e fundacional, conectando-o à inauguração
da era da igreja, com o dom de línguas como sinal apostólico. O Comentário
Beacon: destaca que o termo “encher” indica que os discípulos foram tomados,
controlados e equipados para uma nova missão. O enchimento do Espírito não é
apenas para “êxtase espiritual”, mas capacitação para proclamar Cristo com
poder. “E começaram a falar em outras línguas. καὶ ἤρξαντο λαλεῖν ἑτέραις
γλώσσαις ἤρξαντο (ērxanto): “começaram” – indica uma ação iniciada
naquele momento. λαλεῖν (lalein): “falar” – usado amplamente para a comunicação
verbal. ἑτέραις (heterais): “outras, diferentes” – enfatiza diversidade
e distinção linguística. γλώσσαις (glōssais): literalmente
“línguas, idiomas”. glōssa pode significar: a língua física, linguagem
articulada, idioma estrangeiro (como em At 2.6–11). Aqui, o contexto claramente
indica línguas humanas estrangeiras. A BEP vê como uma manifestação
sobrenatural de línguas humanas, com a possibilidade de também incluir línguas
espirituais (1Co 14). MacArthur reafirma que são idiomas humanos reais usados
para autenticar a mensagem apostólica, e que cessaram como dom regular. Beacon:
destaca que a experiência foi miraculosa e inteligível, pois os ouvintes “os
ouviam falar em suas próprias línguas” (v.6–8). Conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem. καθὼς τὸ Πνεῦμα ἐδίδου ἀποφθέγγεσθαι αὐτοῖς καθὼς
(kathōs): “à medida que”, “conforme”. ἐδίδου (edidou):
imperfeito de didōmi, “dar” – ação contínua. ἀποφθέγγεσθαι
(apophthengesthai): “falar com inspiração, declarar solenemente”. apophthengomai
é usado apenas 3 vezes no NT (At 2.4; 2.14; 26.25), sempre com sentido de
declaração inspirada ou profética. Aqui não é falar casual, mas uma declaração
com autoridade divina. A BEP enfatiza que foi o Espírito quem concedeu o dom de
forma sobrenatural, sem manipulação ou aprendizado. MacArthur: nota que o
controle é total do Espírito, não é um ato humano. O dom é soberano. Beacon: o
uso de apophthengesthai sugere que o conteúdo falado foi significativo e
relevante espiritualmente, não apenas som ininteligível. A iniciativa foi
totalmente do Espírito – não uma técnica aprendida. Não há manipulação
emocional ou treino vocal – é uma obra soberana, poderosa e ordenada de Deus,
visando edificação e proclamação. Deus enche o crente com o Espírito para
capacitá-lo a testemunhar com ousadia. As manifestações espirituais são dadas
não para exaltação pessoal, mas para glorificar a Cristo. Ainda hoje, o
Espírito concede dons como línguas, profecias, discernimento – mas sempre com
ordem, discernimento bíblico e submissão à Palavra. Uma igreja cheia do
Espírito é uma igreja centrada em Cristo, missionária, santa e comprometida com
a Palavra.
VERDADE PRÁTICA
A Igreja nasce no Pentecostes capacitada pelo Espírito para
cumprir sua missão.
Entenda a Verdade Prática:
- A Igreja não apenas nasceu no Pentecostes — ela
irrompeu na história como um exército incendiado pelo Espírito Santo,
capacitada pelo próprio Deus para invadir as trevas com a luz do Evangelho,
proclamando Cristo com ousadia, sinais e poder, até que o mundo inteiro saiba
que Jesus reina.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 2.1-14
1. Cumprindo-se
o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;Produtos
pentecostais
- dia de Pentecostes. Pentecostes significa "quinquagésimo"
e se refere à Festa das Semanas (Êx 34.22-23) ou da Colheita (Lv 23.16), que
era celebrada 30 dias depois da Páscoa, em maio/ junho {Lv 23.15-22). Era uma
das três festas anuais para as quais o povo devia ir a Jerusalém (veia nota em
Êx23.14-19). No Pentecostes, era feita a oferta das primícias (Lv 23:20). O
Espírito Santo veio nesse dia como as primícias da herança dos crentes (cf. 2Co
5.5). Os que foram reunidos na igreja de então também foram as primícias da
ceifa plena de todos os crentes que estava por vir. no mesmo lugar. No
cenáculo mencionado em 1.13. O Pentecostes era uma festa judaica, também
conhecida como Festa das Semanas, que ocorria 50 dias após a Páscoa. Essa data
marcava a celebração da colheita e o cumprimento da Lei dada no Sinai. Os
discípulos estavam reunidos em obediência à ordenança judaica e na espera da
promessa de Jesus do batismo no Espírito Santo (At 1:4-5). Essa unidade e
espera foram essenciais para o derramamento do Espírito.
2. e, de repente, veio do céu um som,
como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam
assentados.
- um som, como...
vento impetuoso.
A símile de Lucas descreve a ação de Deus de enviar o Espírito Santo. Na
Escritura, com frequência o vento é usado como uma figura do Espírito (cf. Ez
37.9-10; Jo 3.0). A manifestação do Espírito Santo foi acompanhada por um
fenômeno audível — o som de um vento impetuoso. Isso simboliza o poder, a força
e a presença de Deus que não pode ser contida. O som encheu todo o lugar,
mostrando que a ação do Espírito é universal e expansiva, capaz de impactar a
comunidade inteira.
3. E foram vistas por eles línguas
repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.
- O fogo é símbolo da purificação e da presença divina na Bíblia (Êx
3:2; Mt 3:11). As línguas de fogo indicam a capacitação para o ministério e o
cumprimento da promessa de Jesus sobre o Espírito Santo. A unção individual
mostra que cada discípulo foi especialmente habilitado e purificado para
testemunhar e servir. Os
discípulos não podiam compreender o significado da vinda do Espírito sem que o
Senhor ilustrasse soberanamente com um fenômeno visível o que estava
acontecendo, línguas, como de fogo. Assim como o som. o vento também era
simbólico; não se tratava de línguas de fogo literais, mas indicadores
sobrenaturais, como de fogo, de que Deus estava enviando o Espírito Santo sobre
cada crente. Na Escritura, o logo muitas vozes indica a presença divina (cf. Êx
3.2-6). O uso que Deus faz com a aparência de fogo aqui é paralelo ao que ele
fez com a pomba quando Jesus foi batizado (Mt 3.11; I c 3:16).
4. E todos foram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem.
- Todos. Os apóstolos e os 120. Cf. Jl
2.20-32. cheios do Espírito Santo. Em contraste com o batismo com o Espírito,
que é ato único no tempo mediante o qual Deus coloca os crentes no seu corpo
(veja notas em ICo 12.13), o enchimento é uma realidade repetida do
comportamento controlado pelo Espírito, que Deus ordena aos crentes manter
(veja notas em Ef 5.18). O batismo no Espírito Santo resulta em enchimento e
capacitação para a obra divina. O falar em outras línguas (glossolalia) é a
evidência inicial e pública dessa experiência, confirmando o poder do Espírito
para comunicação e edificação da igreja (1Co 14). É a capacitação sobrenatural
para testemunhar.
5. E em Jerusalém estavam habitando
judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu.
- Jerusalém era o centro religioso e cultural judaico. A diversidade
dos presentes indicava que a mensagem de Deus era para todas as nações. O fato
de estarem "religiosos" mostra que eles eram observadores da Lei,
prontos para ouvir a mensagem do Evangelho que estava para ser proclamada.
6. E, correndo aquela voz, ajuntou-se
uma multidão e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria
língua.
- O fenômeno das línguas chamou a atenção e gerou surpresa e
admiração. O milagre da comunicação transcultural foi um sinal poderoso para
mostrar que o Evangelho é universal. Isso também preparou o terreno para o
discurso de Pedro, que explicaria o significado da experiência.
7. E todos pasmavam e se maravilhavam,
dizendo uns aos outros: Pois quê! Não são galileus todos esses homens que estão
falando?
- Os discípulos eram da Galileia, uma região com sotaque peculiar. A
surpresa maior estava no fato deles falarem tão fluentemente línguas
estrangeiras, que os ouvintes identificavam a origem deles, mas não esperavam
tal habilidade. Isso reforça o caráter sobrenatural da manifestação.
8. Como, pois, os ouvimos, cada um, na
nossa própria língua em que somos nascidos?
- O impacto do Espírito Santo quebrou barreiras linguísticas e
culturais. Isso indica que Deus é soberano e pode comunicar sua palavra a
qualquer pessoa, em qualquer língua, independentemente da origem do mensageiro.
Essa diversidade linguística aponta para a universalidade do Evangelho.
9. Partos e medos, elamitas e os que
habitam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia,
- A lista das nações demonstra a amplitude da audiência. Pessoas de
regiões distantes estavam presentes em Jerusalém para a festa, simbolizando a
abrangência da missão da igreja e o cumprimento da promessa de que o Evangelho
alcançaria os confins da terra.
10. e Frígia, e Panfília, Egito e
partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como
prosélitos),
- A presença de romanos e pessoas de áreas tão diversas mostra que o
Pentecostes inaugurava uma nova era, em que o Evangelho seria pregado a todas
as nações, cumprindo a Grande Comissão (Mt 28:19-20).
11. e cretenses, e árabes, todos os
temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.Estudos do
Novo Testamento
- Além dos judeus, havia prosélitos (convertidos ao judaísmo), o que
mostra a receptividade do Evangelho para além da etnia judaica. Os crentes já
estavam proclamando as "maravilhas de Deus" — os grandes feitos e a
salvação por meio de Jesus — em múltiplas línguas, confirmando a universalidade
da mensagem.
12. E todos se maravilhavam e estavam
suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer?
- A reação da multidão mostra curiosidade e confusão, sinalizando que
o evento sobrenatural chamava a atenção para algo maior. Essa pergunta prepara
o terreno para a explicação que Pedro dará em seguida, interpretando o
significado daquilo à luz da profecia de Joel.
13. E outros, zombando, diziam: Estão
cheios de mosto.
- Havia também
descrença e zombaria. Alguns pensaram que os discípulos estavam embriagados.
Isso mostra que a manifestação do Espírito pode ser interpretada de várias
formas, e que a fé é necessária para compreender e aceitar o que Deus está
fazendo.
14. Pedro, porém, pondo-se em pé com os
onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em
Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.
- Pedro assume a liderança para explicar o acontecimento, iniciando o
primeiro sermão da igreja. Ele chama a atenção da multidão e a prepara para
ouvir a verdade, destacando que aquilo não é fruto de embriaguez, mas o
cumprimento das promessas de Deus.
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INTRODUÇÃO
A Igreja nasceu no dia de Pentecostes. Esse evento marcou o
início de uma nova era: a era da Igreja. O Pentecostes era uma das festas mais
importantes dos judeus e aconteciam cinquenta dias depois da Páscoa. Foi nesse
dia especial que Deus derramou o Espírito Santo sobre todos os discípulos,
batizando-os. O derramamento do Espírito no Pentecostes marca o início da
Igreja como uma comunidade de profetas, como foi profetizado por Joel (Jl
2.28). No livro de Atos, Lucas ensina que esse acontecimento tinha um
significado especial para o fim dos tempos, pois já havia sido anunciado pelos
profetas do Antigo Testamento. Além disso, o Pentecostes foi uma prova clara de
que Jesus havia ressuscitado. O propósito desse derramamento do Espírito Santo
foi dar poder à Igreja para testemunhar de Cristo ao mundo e levá-la à
verdadeira adoração. Isso é o que veremos nesta lição.
- A Igreja de Cristo não nasceu por força humana, nem
por estratégia institucional, mas por um estrondoso mover do Céu. Atos 2 não
narra um simples avivamento: testemunhamos aqui o marco inaugural de uma nova
era redentiva, predita pelos profetas e selada pelo Cristo exaltado. O
Pentecostes, Pentēkostē (πεντηκοστή) — que significa “quinquagésimo” —
era originalmente a Festa das Semanas (Lv 23.15-21), colheita das primícias,
sinal de gratidão pela provisão de Deus. Agora, torna-se o dia em que o Pai
envia o Espírito Santo como prōtos karpos (πρῶτος καρπός) — “primícias”
da nova colheita escatológica: a Igreja. É neste cenário de profundo simbolismo
e cumprimento profético que o Espírito é derramado, não apenas sobre um homem,
mas sobre todos — homens e mulheres, jovens e velhos — cumprindo Joel 2.28 e
instaurando a era do Espírito, a era da Igreja viva. O texto grego destaca que
“todos ficaram cheios do Espírito Santo” (ἐπλήσθησαν πάντες Πνεύματος Ἁγίου -
eplēsthēsan pantes Pneumatos Hagiou), um indicativo claro de que não se
tratava de uma experiência isolada, mas coletiva, fundacional e definitiva.
Como enfatiza Robert Menzies, “o Pentecostes não foi apenas o nascimento da
Igreja, foi o empoderamento profético do povo de Deus”¹. A evidência sobrenatural das
línguas faladas (γλώσσαις ἑτέραις – glōssais heterais) marca a
autenticidade celestial daquele momento. A promessa de Jesus em Atos 1.8 se
cumpre: “recebereis poder” (δύναμιν – dynamin). Esse poder não era
político ou militar, mas espiritual, para testemunhar com ousadia e fidelidade
até os confins da terra — mesmo em meio à perseguição, oposição e martírio. Esse
evento é também a demonstração irrefutável de que Jesus não só ressuscitou, mas
foi exaltado à destra do Pai (At 2.33). Como bem observa Craig Keener, “o
derramamento do Espírito no Pentecostes é a evidência pública do entronamento
de Cristo como Senhor cósmico”². Antônio Gilberto reforça que “a Igreja não
nasceu como uma organização fria, mas como um organismo vivo, cheio de poder,
calor e direção do Espírito”³. O Espírito derramado não apenas capacita,
mas une, forma, conduz e transforma. O Pentecostes é, portanto, a reversão de
Babel: onde houve confusão, agora há unidade; onde houve dispersão, agora há
missão global. Entretanto, muitos reduzem o Pentecostes a uma experiência
emocional, esquecendo seu propósito escatológico e missional. A Igreja não foi
batizada com o Espírito para se fechar em êxtase, mas para se abrir em
proclamação. Como aponta Frank D. Macchia, “o Pentecostes é a fenda por onde o
céu invade a terra e transforma a história”⁴. Erra quem busca o fogo apenas para si. O
verdadeiro batismo no Espírito leva a um ethos missionário, santificador
e profético. A Igreja que nasceu no Pentecostes não foi criada para sobreviver,
mas para impactar, incomodar e testemunhar com poder e autoridade celestial. Hoje,
mais do que nunca, precisamos resgatar essa identidade. Somos uma comunidade
nascida do Espírito, chamada a viver no Espírito e a proclamar a Cristo com
poder. O mesmo Espírito que desceu naquele cenáculo habita em nós. O Pentecostes
não ficou no passado — ele nos chama à urgência do presente. Que cada discípulo
volte ao cenáculo do coração, se renda ao Espírito e seja incendiado novamente.
Como o trigo das primícias, sejamos colhidos para Deus e lançados como pão vivo
ao mundo faminto._______________
1.
MENZIES, Robert P. Empowered
for Witness: The Spirit in Luke-Acts. T&T Clark, 2004.
2.
KEENER, Craig S. Acts: An
Exegetical Commentary. Vol. 1-4. Baker Academic, 2012.
3.
GILBERTO, Antônio. A Bíblia
Fala Hoje: Atos dos Apóstolos. CPAD, 2001.
4.
MACCHIA, Frank D. Baptized in
the Spirit: A Global Pentecostal Theology. Zondervan, 2006.
PALAVRA-CHAVE: PENTECOSTES
- Pentecostes
vem do grego πεντηκοστή (pentēkostḗ), que significa "quinquagésimo".
Refere-se ao quinquagésimo dia após a Páscoa judaica, também conhecido como
Festa das Semanas (Shavuot, em hebraico), celebrada para agradecer a Deus pela
colheita e, mais tarde, associada à entrega da Lei no Sinai. Em Atos 2, esse
dia ganha novo significado: Deus inaugura a nova aliança, não com a entrega de
tábuas de pedra, mas com o derramamento do Espírito Santo sobre todos os
crentes, cumprindo as profecias de Joel 2.28-29. O Espírito desce como sinal de
capacitação, unidade e poder para a missão global da Igreja. No entendimento
dos evangélicos pentecostais, o Pentecostes é o marco do Batismo no Espírito
Santo — uma experiência posterior à conversão, que capacita o crente com poder,
dons espirituais (especialmente o falar em línguas) e ousadia para testemunhar.
É visto não como evento único do passado, mas como realidade contínua,
disponível à Igreja até hoje.
I. A NATUREZA DO PENTECOSTES BÍBLICO
1. De natureza divina. Lucas relata que,
por ocasião do derramamento do Espírito no dia de Pentecostes, foi ouvido do
céu “um som, como de um vento veemente e impetuoso” que “encheu toda a casa em
que estavam assentados” (At 2.2) e que “foram vistas por eles línguas
repartidas, como que de fogo” (At 2.3). Os estudiosos da Bíblia explicam que
esses sinais são manifestações da presença de Deus, chamadas de “teofanias”.
Isso significa que Deus se revelou de maneira visível e audível, assim como fez
no Monte Sinai, quando entregou a Lei a Moisés. Naquela ocasião, houve trovões,
relâmpagos e um som forte, e o povo ouviu a voz de Deus e viu um grande fogo
(Êx 19.16). Moisés depois lembrou ao povo desse momento, dizendo: “desde os
céus te fez ouvir a sua voz, para te ensinar, e sobre a terra te mostrou o seu
grande fogo, e ouviste as suas palavras do meio do fogo” (Dt 4.36).
- Nos
acostumamos a fazer referência ao Pentecostes
apenas como um marco cronológico na história da Igreja; embora sem a intenção,
acabamos por ‘diminuir’ seu significado, importância e aplicabilidade hoje — Pentecostes
não foi apenas uma intervenção divina na estrutura do tempo. Foi Deus rasgando
os véus entre o céu e a terra, descendo com sinais visíveis e audíveis para
inaugurar, com glória, o tempo do Espírito. Lucas é intencional ao descrever
que "veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e
encheu toda a casa onde estavam assentados” (At 2.2). A expressão “do céu”
(ἐκ τοῦ οὐρανοῦ - ek tou ouranou) não é decorativa: aponta diretamente
para a origem celestial, sobrenatural e soberana daquele evento. O som e o fogo
não são meras imagens poéticas — são teofanias, manifestações
sensoriais da presença de Deus, assim como ocorrera no Sinai. As “línguas como
que de fogo” (γλῶσσαι ὡσεὶ πυρός - glōssai hōsei pyros) são ecos
diretos de Êxodo 19, quando Deus desceu sobre o Monte Sinai em meio a trovões,
relâmpagos e fogo abrasador (Êx 19.16-19). Moisés relata que o povo viu o fogo
e ouviu a voz de Deus do meio dele (Dt 4.36), e esse paralelo é mais do que
literário — é teológico. No Sinai, Deus deu a Lei a um povo reunido; no
Pentecostes, Deus deu o Espírito a um povo regenerado. No Sinai, Deus se
manifestou com temor; no cenáculo, com poder transformador. O mesmo Deus, a
mesma santidade, mas agora operando por meio da nova aliança, escrita não em
tábuas de pedra, mas no coração dos homens (2Co 3.3). O vento impetuoso — (πνοὴ
βιαία - pnoē biaia) — lembra o rúach (ר֫וּחַ), o sopro
criador de Gênesis 1.2 e o fôlego de vida em Ezequiel 37.9, onde ossos secos
voltam a viver pelo sopro do Espírito. O Espírito que desce em Atos 2 é o mesmo
que pairava sobre as águas no princípio: agora, ele sopra não sobre a criação
física, mas sobre a nova criação, a Igreja. Craig Keener
observa: “O Pentecostes é mais que uma experiência de poder; é a manifestação
escatológica da presença de Deus com seu povo.”¹ É o Sinai espiritual da nova
aliança. O fogo que não queima, mas consome o pecado e purifica os corações,
desceu. Não sobre uma montanha distante, mas sobre cada crente cheio do
Espírito. Muitos cristãos, infelizmente, tratam o Pentecostes como um evento do
passado ou uma cerimônia litúrgica ocasional. Mas quem compreende sua natureza
divina entende que o Pentecostes não terminou — ele se perpetua na vida de cada
discípulo que se submete ao governo do Espírito. Como afirma Frank D. Macchia,
“o Pentecostes é o batismo da presença divina em meio à carne humana; um
batismo que transforma pessoas comuns em testemunhas ardentes do Reino.”² O
que isso nos ensina hoje? Que não precisamos de eventos espetaculares, mas de
corações disponíveis. O Espírito continua soprando sobre aqueles que se assentam
em obediência, como os discípulos no cenáculo. Não basta desejar o fogo — é
preciso estar posicionado para recebê-lo. O mesmo Deus que desceu em fogo no
Sinai e no cenáculo quer incendiar hoje o altar do seu coração._______________
1.
KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary,
Baker Academic, 2012.
2.
MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A
Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.
2. Um evento paralelo
ao Sinai. Assim como
no Sinai, onde a presença de Deus se tornou real, como uma das experiências
mais marcantes na história do antigo povo de Deus, de uma forma muito mais
gloriosa e profunda, o Pentecostes marcou o Encontro do Espírito de Deus com a
Igreja. Pentecostes, portanto, é a experiência do Espírito Santo. Lá no Sinai,
a letra da Lei foi escrita em tábuas de pedras (Dt 9.10,11); aqui, no
Pentecostes, a Palavra de Deus foi escrita nos corações (Jr 31.33; 2 Co 3.3).
- O Pentecostes, como registrado em Atos 2, não pode ser
compreendido em toda sua profundidade sem ser lido à luz do Sinai. Ambos são
momentos de revelação divina que marcaram a identidade e a missão do povo de
Deus. No Sinai, Deus formou Israel como nação por meio da Lei; no Pentecostes,
Deus formou a Igreja como comunidade espiritual por meio do Espírito. O que foi
sombra e tipo no deserto, agora se cumpre com glória excedente (2Co 3.7-9). O
som do trovão cede lugar ao som do céu; o fogo que ardia sobre o monte agora
repousa sobre os discípulos. A teofania no Sinai encontra seu clímax
escatológico no cenáculo — mas agora, não é mais um encontro de um povo com
tábuas, mas do Espírito com corações regenerados. Moisés subiu ao monte para
receber a Lei escrita “com o dedo de Deus” (Dt 9.10); no Pentecostes, é o
próprio Espírito quem escreve a vontade de Deus nas tábuas do coração humano
(Jr 31.33; 2Co 3.3). No Sinai, o povo tremia de medo diante da santidade
divina. No Pentecostes, a Igreja é cheia de ousadia para anunciar o Evangelho
com poder. O que era externo, agora é interno; o que era relacionalmente
distante, agora é intimamente habitado. Como afirma Gordon Fee, “o Pentecostes
inaugura o tempo em que o Espírito não apenas age sobre o povo de Deus, mas
habita nele de modo permanente.”¹ Essa transição da letra para o Espírito não
anula a Lei, mas cumpre seu propósito de santidade, agora em uma nova dimensão.
Paulo é categórico: “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Co 3.6).
Isso não é desprezo pela revelação antiga, mas reconhecimento de que o que era
provisório agora foi superado pela plenitude do Espírito. Robert P. Menzies declara:
“O Pentecostes é a proclamação de que a era do Espírito começou, e com ela, a
era da comunhão direta entre Deus e seu povo.”² Contudo, um erro comum é
tratar o Pentecostes como uma experiência carismática isolada ou emocional.
Muitos o reduzem a dons ou manifestações, esquecendo seu caráter
formador e aliançador. O Pentecostes é um novo Êxodo — o êxodo da
escravidão espiritual para a liberdade de viver e andar no Espírito. É a
resposta à promessa de Ezequiel 36.26-27: “Porei dentro de vós o meu Espírito
e farei que andeis nos meus estatutos.” O que poucos percebem é que o
Pentecostes não apenas concede dons — ele imprime identidade, molda caráter e
estabelece missão. Assim como o Sinai foi o dia da consagração de
Israel, o Pentecostes é o dia da consagração da Igreja. É o momento em que Deus
sela, com fogo e vento, o seu povo para uma obra eterna. E assim como o povo no
Sinai foi chamado a obedecer à Lei como resposta à Aliança, a Igreja é chamada
a viver em santidade, cheia do Espírito, como testemunha viva da Nova Aliança.
O Espírito que desceu continua sendo derramado — não mais sobre montes, mas
sobre vidas dispostas, sedentas e obedientes. O fogo ainda cai — mas só onde há
altar. _______________
1.
FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The
Holy Spirit in the Letters of Paul, Hendrickson Publishers, 1994.
2.
MENZIES, Robert P. Empowered for Witness: The
Spirit in Luke-Acts, T&T Clark, 2004.
3. Centrada em Cristo
e nos tempos finais. Na sua pregação no dia de Pentecostes, Pedro deixou claro
que esse evento estava totalmente ligado a Jesus. Ele mostrou que o
derramamento do Espírito Santo estava diretamente relacionado à morte,
ressurreição e ascensão de Cristo (At 2.23,24, 32,33). Isso significa que,
embora o Pentecostes seja uma manifestação do Espírito Santo, ele também é
cristocêntrico, ou seja, tem Cristo como seu centro. Sem a cruz de Cristo, o
Pentecostes perderia seu verdadeiro significado, pois não há Pentecostes sem a
cruz. Além disso, Pedro explicou que o Pentecostes foi o cumprimento da profecia
de Joel (Jl 2.28), que anunciava que Deus derramaria o seu Espírito sobre toda
a humanidade. Quando Pedro usou a expressão “nos últimos dias” (At 2.17), ele
mostra que esse evento tinha um significado escatológico, ou seja, estava
ligado ao plano de Deus para os tempos finais.
- Certamente
o ramo Pentecostal
do Protestantismo tem enfatizado a experiência com o batismo no Espírito Santo
– assim nasceu e assim deve continuar pregando as Boas Novas – no Poder do
Espírito; mas, Pentecostes é mais do que uma experiência espiritual intensa — é
a proclamação pública de que Jesus Cristo reina. Naquele dia,
Pedro não começou sua pregação exaltando o Espírito Santo, mas apontando para a
glória de Cristo ressuscitado. Ele declara: “A este Jesus, Deus
ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela
destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou
isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2.32-33). Em outras palavras, o
Pentecostes é o ato entronizador do Cristo glorificado. O
Espírito desce, não como fim em si mesmo, mas como selo da vitória do Cordeiro.
O Pentecostes é o aplauso do Céu à cruz do Calvário. Sem a cruz, não haveria
Espírito derramado; sem o Cristo ressuscitado, não haveria Igreja viva. A
pregação de Pedro é clara: o derramamento do Espírito está diretamente
ligado à morte (At 2.23), ressurreição (v.24) e ascensão de Jesus (v.33).
Como ensina o Dr. Anthony D. Palma, “o Pentecostes foi a proclamação visível de
que a obra de Cristo havia sido aceita por Deus, e o Espírito era agora o
presente escatológico oferecido a todo aquele que cresse.”¹ Cristo é o doador do Espírito,
e o Espírito é o selo de que Ele está entronizado. A experiência pentecostal,
portanto, é cristocêntrica por natureza e deve nos levar sempre de volta à
cruz, onde tudo foi consumado (Jo 19.30). Pedro também esclarece que o
Pentecostes não foi um evento isolado, mas o cumprimento
direto da profecia de Joel (Jl 2.28-32). Ao citar: “E acontecerá nos
últimos dias, diz Deus, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne…”
(At 2.17), ele inaugura o tempo escatológico. O termo “últimos dias” (ἐν ταῖς
ἐσχάταις ἡμέραις - en tais eschatais hēmerais) não se refere apenas ao
fim do mundo, mas a toda a era entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.
Como explica Gordon Fee, “o Pentecostes marca o início da era final, onde o
Espírito sinaliza a presença do Reino agora, em antecipação à sua consumação.”² Um
erro comum entre cristãos é dissociar o Pentecostes da cruz e da missão. Muitos
o veem como um avivamento emocional ou um culto poderoso, mas negligenciam seu
centro: Cristo crucificado, ressuscitado e exaltado. O
Espírito não veio para nos entreter, mas para nos capacitar a
testemunhar sobre Jesus com ousadia, clareza e poder. Como observa Frank
D. Macchia, “o batismo no Espírito é uma experiência de proclamação — o
Espírito é missionário por natureza, porque o Cristo glorificado é missionário
por essência.”³
Poucos percebem que, ao dizer “nos últimos dias”, Pedro não só
explicava a profecia, mas também nos posicionava dentro do plano
escatológico de Deus. A Igreja é, desde Atos 2, um povo do fim,
vivendo com urgência, poder e expectativa. O Espírito que desceu é o penhor da
herança (Ef 1.13-14), o selo da promessa, o fogo que impulsiona a missão
global. O Pentecostes nos coloca em marcha até que o mesmo Cristo que subiu do
monte das Oliveiras retorne em glória. A pergunta é: estamos vivendo como
Igreja que nasceu do fogo, ou nos tornamos frios em meio ao conforto?_______________
1.
PALMA, Anthony D. The Holy Spirit: A Pentecostal
Perspective, Logion Press, 2001.
2.
FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The
Holy Spirit in the Letters of Paul, Hendrickson Publishers, 1994.
3.
MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A
Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.
SINÓPSE I
O Pentecoste Bíblico é um evento
de natureza divina, centrado em Cristo e nos “tempos finais”.Produtos
pentecostais
AMPLIANDO O CONHECIMENTO
“UM VENTO VEEMENTE E IMPETUOSO
[…] LÍNGUAS […] DE FOGO. Em
algumas ocasiões no passado, o fogo havia acompanhado a presença de Deus (cf.
Êx 3.1-6; 13.21; 1 Rs 18.38-39), de modo que esse sinal pode ter assegurado
particularmente os crentes judeus de que o que estava acontecendo realmente
vinha de Deus. O ‘fogo’ também pode ter simbolizado a maneira como o povo de
Deus foi consagrado (isto é, separado, purificado) para a obra e o propósito de
trazer honra a Cristo (Jo 16.13-14) e para o testemunho a respeito dEle (veja
1.8; 13.31, notas).” Amplie mais o seu conhecimento, lendo a Bíblia de Estudo Pentecostal
Edição Global, editada pela CPAD, p.1924.
AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“O DIA DE PENTECOSTES (2.1- 41).
A festividade judaica do Dia de Pentecostes assume novo significado em Atos 2,
pois é o dia no qual o Espírito prometido desce em poder e torna possível o
avanço do evangelho até aos confins da terra. O batismo dos apóstolos com o
Espírito Santo no Dia de Pentecostes serve de fundação da missão da Igreja aos
gentios. Essa experiência corresponde à unção de Jesus com o Espírito no rio
Jordão (Lc 3.21,22). Existem semelhanças entre estes dois eventos. O Espírito
desceu sobre Jesus depois que Ele orou (Lc 3.22); no Dia de Pentecostes, os
discípulos também são cheios com o Espírito depois que oram (At 1.14).
Manifestações físicas acompanham ambos os eventos. No rio Jordão, o Espírito
Santo desceu em forma corpórea de pomba, e no Dia de Pentecostes a presença do
Espírito está evidente na divisão de línguas de fogo e no fato de os discípulos
falarem em outras línguas. A experiência de Jesus enfatizava uma unção
messiânica para seu ministério público pelo qual Ele pregou o Evangelho, curou
os doentes e expulsou demônios; os apóstolos agora recebem o mesmo poder do
Espírito. Derramamentos subsequentes do Espírito em Atos são semelhantes à
experiência dos discípulos em Jerusalém” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento – Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.631).
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II. O PROPÓSITO DO PENTECOSTES
BÍBLICO
1. Promover a
verdadeira adoração. As manifestações externas, como o som ou vento e o fogo
ocorridos no Pentecostes, prendem nossa atenção. Contudo, não podemos perder de
vista o que o Pentecostes produz internamente na vida do crente. Um dos
propósitos marcantes do Pentecostes em Jerusalém foi promover a verdadeira
adoração: “temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus”
(At 2.11). Logo, o Pentecostes que não adora não é bíblico. De fato, quando os
gentios experimentaram o Pentecostes, eles também “magnificavam” a Deus (At
10.46). Da mesma forma, o apóstolo Paulo diz que um crente pentecostal, cheio
do Espírito, dá “bem as graças” (1 Co 14.17). O fogo pentecostal promove o
verdadeiro louvor.
- O verdadeiro Pentecostes não começa com fogo visível,
mas com corações incendiados. Embora os sinais externos em Atos 2 — o som do
céu, o vento impetuoso e as línguas de fogo — capturem nossa imaginação, Lucas
nos convida a olhar para um propósito mais profundo: a exaltação das
grandezas de Deus. Os que ouviram os discípulos disseram, atônitos: “os
ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa própria língua” (At 2.11,
NVI). A palavra usada para “grandezas” é megaleia (μεγαλεῖα), e indica
feitos majestosos, gloriosos, sublimes. O Pentecostes legítimo, portanto, não
termina em uma experiência — ele transborda em adoração pura, viva e
exaltadora do Deus Altíssimo. Adoração é o resultado imediato e
inevitável do verdadeiro batismo no Espírito. Quando o Espírito toma posse de
alguém, Ele não apenas distribui dons — Ele produz rendição. Em Atos 10.46, os
gentios, ao receberem o Espírito, começaram a “magnificar” a Deus (μεγαλυνόντων
τὸν Θεόν - megalunontōn ton Theon), a mesma raiz grega de “grandezas”
em Atos 2. O Espírito que desceu no cenáculo continua sua obra em Cesareia:
onde o Espírito se manifesta, a glória de Deus é proclamada. Craig Keener
observa: “O falar em línguas, mais do que um sinal externo, é uma forma de
adoração não domesticada, nascida do coração tocado pela glória de Deus.”¹ Paulo,
escrevendo à igreja de Corinto, reforça esse princípio: quem ora no Espírito
“dá bem as graças” (1Co 14.17), indicando que a oração no Espírito é
também ação de graças dirigida a Deus. O culto pentecostal não é
centrado em performance, nem em manifestações descontroladas — mas em adoração
dirigida pelo Espírito (en pneumati – ἐν πνεύματι) como
expressão máxima de gratidão e rendição. Frank D. Macchia declara: “O
Pentecostes não nos leva ao ego; ele nos leva ao trono. Ele desorienta o ‘eu’ e
reorienta o ‘Tu’ eterno.”² Infelizmente, um dos maiores erros do
cristianismo moderno é tratar o Pentecostes como um fim em si mesmo — uma
experiência sensorial, emocional ou apenas eclesiástica. Mas o verdadeiro
Pentecostes nos desloca do centro e coloca Deus no lugar de
honra. Se um culto ‘pentecostal’ não gera adoração sincera, reverente e
centrada na grandeza de Deus, ele carece da essência do Pentecostes bíblico.
Como ensina Antônio Gilberto: “O fogo que vem do céu purifica, aquece e sobe —
e só sobe aquilo que é aceito por Deus.”³ A primeira obra do Espírito no Pentecostes
não foi fazer os discípulos falarem em línguas, mas fazê-los adoradores
em espírito e em verdade (Jo 4.23). O som do céu foi apenas o
prenúncio de uma adoração celestial que, pela primeira vez, tocava a terra em
diversas línguas. O Pentecostes é, portanto, a resposta do Céu à fome do homem
por Deus — e o nascimento de uma Igreja cuja linguagem primeira é o louvor._______________
1.
KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary,
Baker Academic, 2012.
2.
MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A
Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.
3.
GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos
Apóstolos, CPAD, 2001.
4.
OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do
Novo Testamento, CPAD, 2003.
5.
Comentário Bíblico Beacon, vol. 8, CPAD, 2006.
6.
Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.
7.
Bíblia de Estudo MacArthur, Thomas Nelson, 2011.
8.
Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém –
Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.
9.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado
Versículo por Versículo, Hagnos, 2002.
2. Poder para
testemunhar. O Pentecostes
tem uma dimensão escatológica, pois aconteceu “antes de chegar o grande e
glorioso Dia do Senhor” (At 2.20). No entanto, essa realidade dos últimos
tempos não significa que a Igreja deve ter uma visão escapista, ou seja,
desejar fugir do mundo a qualquer custo. O Pentecostes não foi dado para que os
crentes se isolassem, mas para que fossem capacitados a testemunhar e viver no
mundo até a volta de Cristo. A Igreja deve aguardar com esperança, mas também
cumprir sua missão até o fim. Para cumprir essa missão ela necessita de poder
para testemunhar (Lc 24.49; At 1.8). De fato, é isso o que acontece depois do
Pentecostes (At 4.33).
- O Pentecostes é uma convocação para enfrentar o
mundo com ousadia. Ao citar Joel em sua pregação, Pedro declara que o derramamento
do Espírito ocorre “antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor”
(At 2.20). Isso posiciona o Pentecostes dentro do drama escatológico da
redenção: é um ato de Deus no tempo presente, preparando Seu
povo para viver entre o “já” da primeira vinda de Cristo e o “ainda não” da Sua
segunda vinda. Como bem destaca Douglas Oss, “o Pentecostes é o início dos
últimos dias, e seu propósito é empoderar uma Igreja que testemunha em meio à
tensão escatológica.”¹ Contudo, a consciência dos tempos finais não
deve gerar uma fé evasiva ou alienada. Pelo contrário, a promessa do Espírito
foi dada para capacitar a Igreja a permanecer no mundo — como sal, luz
e testemunha — até a volta gloriosa de Cristo. O Senhor Jesus foi
claro: “ficai… até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49),
e novamente em Atos 1.8: “recebereis poder [dýnamis], ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas…” A palavra grega para
“testemunhas” é mártyres (μάρτυρες), de onde vem “mártir” — termo que
carrega a noção de proclamar com a vida, mesmo até a morte. Após o Pentecostes,
não vemos discípulos escondidos, mas homens e mulheres inflamados pelo
Espírito, proclamando Cristo com intrepidez: “com grande poder
[dýnamis] os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus”
(At 4.33). A obra do Espírito é missão, e missão exige poder. Como afirma Craig
Keener: “O Espírito Santo não é apenas o dom que confirma a salvação — Ele é o
dom que capacita para a proclamação.”² O Pentecostes não foi para o cenáculo apenas;
foi para as praças, os tribunais, os areópagos, as prisões e os confins da
terra. Muitos, no entanto, incorrem no erro de buscar o Espírito apenas para
experiências internas ou êxtases litúrgicos. Mas um Pentecostes que não
desemboca em evangelização é incompleto. Um fogo que não se transforma em
proclamação se torna fumaça. Frank D. Macchia resume bem: “O batismo no
Espírito nos insere no coração da missão de Deus; é uma convocação ao mundo,
não um refúgio dele.”³ O propósito é claro: receber poder para
viver, sofrer, resistir, amar e pregar, até que o Rei retorne. O poder
prometido em Atos 1.8 não era meramente para sinais, mas para perseverança em
meio à perseguição. A Igreja nasce debaixo do fogo do Espírito, mas também sob
o fogo da oposição. Ela não é chamada a fugir do mundo, mas a transformá-lo. O
Pentecostes é, portanto, a unção do céu sobre os pés que caminham em terra
hostil — os pés daqueles que anunciam a paz, proclamam as boas novas e vivem em
santidade, cheios do Espírito, até que venha o glorioso Dia do Senhor._______________
1.
OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do
Novo Testamento, CPAD, 2003.
2.
KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary,
Baker Academic, 2012.
3.
MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A
Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.
SINÓPSE II
O propósito do Pentecostes
Bíblico é promover a verdadeira adoração e capacitar os crentes para
testemunhar.
III. CARACTERÍSTICAS DO PENTECOSTES
BÍBLICO
1. Uma experiência
específica. Em Atos
dos Apóstolos, o derramamento do Espírito no dia de Pentecostes é mostrado como
o “batismo no Espírito Santo” dos crentes (At 1.5,8). Naquele dia o Senhor
Jesus batizou quase 120 pessoas no Espírito Santo (At 1.15; 2.4). Essas pessoas
já eram regeneradas, isto é, salvas. Jesus já havia dito que elas já estavam
limpas pela Palavra (Jo 15.3); e que seus nomes estavam arrolados nos céus (Lc
10.20). Eram, portanto, crentes. Contudo, Jesus as mandou esperar pela
experiência pentecostal, isto é, o batismo no Espírito Santo (At 1.5). O Pentecostes
bíblico é, por conseguinte, distinto da salvação. Na verdade, a obra salvífica
de Cristo na Cruz proveu a bênção pentecostal (At 2.33).
- O Pentecostes bíblico é uma experiência
objetiva, concreta e específica na vida dos crentes. Em Atos 1.5, Jesus
afirma categoricamente: “vocês serão batizados com o Espírito Santo, dentro
de poucos dias”. A palavra usada por Lucas para “batizar” é baptisthēsthe
(βαπτισθήσεσθε), do verbo baptizō, que transmite a ideia de imersão
completa. Essa linguagem é decisiva: o batismo no Espírito Santo é uma imersão
espiritual dada por Cristo aos que já são salvos, como um revestimento
sobrenatural para uma nova dimensão de vida e serviço. Os cerca de 120
discípulos (At 1.15) que receberam o batismo no Espírito já haviam sido
regenerados. Jesus havia declarado: “vós já estais limpos pela palavra que
vos tenho falado” (Jo 15.3), e disse que seus nomes estavam “escritos nos
céus” (Lc 10.20), o que aponta para a certeza da salvação. Mesmo assim, Ele os
instrui a esperar: “Ficai… até que do alto sejais revestidos de poder”
(Lc 24.49). A conclusão é clara: o batismo no Espírito é distinto da
regeneração. Ele não é necessário para ser salvo, mas é indispensável
para viver uma vida cheia de poder, ousadia e frutificação ministerial. O
próprio Pedro afirma, em Atos 2.33, que a experiência do Pentecostes foi
possível porque Jesus, exaltado à destra de Deus, recebeu do Pai o
Espírito prometido e o derramou sobre a Igreja. A cruz proveu a
redenção, mas a exaltação de Cristo proveu o Pentecostes. Como observa Robert
P. Menzies: “O dom do Espírito é um presente escatológico dado pelo Cristo
glorificado para capacitar seu povo como comunidade profética.”¹
Isso significa que o batismo no Espírito Santo não é um acessório opcional, mas
o próprio sinal de que estamos vivendo na plenitude dos tempos
(Hb 1.1-2). Um erro recorrente é confundir o batismo no Espírito com a
regeneração. Embora o Espírito atue na salvação, o batismo no Espírito é uma
experiência posterior e distinta, com propósito específico: revestir o
crente de poder para testemunhar, orar, adorar e servir com eficácia
sobrenatural. Frank D. Macchia afirma: “O batismo no Espírito não é
apenas um incremento da espiritualidade — é uma experiência pentecostal que nos
insere na missão divina com fogo e voz.”² O Pentecostes, como experiência distinta da
salvação, também revela a lógica do Reino: Deus salva para depois
enviar, limpa para depois encher, e enche para depois incendiar o mundo com a
verdade. O batismo no Espírito é o selo visível de uma Igreja
invisível que age com autoridade, com paixão, com ousadia. É um altar em chamas
na alma do crente. É uma vida que não se contenta em ser apenas redimida, mas
clama por ser revestida._______________
1.
MENZIES, Robert P. Empowered for Witness: The
Spirit in Luke-Acts, T&T Clark, 2004.
2.
MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A
Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.
3.
KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary,
Baker Academic, 2012.
4.
ARRINGTON, French L. The Acts of the Apostles: A
Theological Commentary, Hendrickson, 1988.
5.
GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos
Apóstolos, CPAD, 2001.
6.
OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do
Novo Testamento, CPAD, 2003.
7.
Comentário Bíblico Beacon, vol. 8, CPAD, 2006.
8.
Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.
9.
Bíblia de Estudo MacArthur, Thomas Nelson, 2011.
10.
Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém –
Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.
11.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado
Versículo por Versículo, Hagnos, 2002.
2. Uma experiência
definida e contínua. Como resultado do enchimento do Espírito Santo, os crentes
“começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia
que falassem” (At 2.4). A Escritura é clara em mostrar que a evidência inicial
do batismo pentecostal foi os crentes falarem em outras línguas. Não há dúvidas
de que outros resultados ou evidências do batismo no Espírito Santo se seguem.
Contudo, foi o falar em línguas, não o sentir uma grande alegria ou mesmo um
amor afetuoso demonstrado por eles, que deixou os crentes judeus convencidos de
que os gentios haviam recebido o batismo no Espírito Santo (At 10.44-46).
- O Pentecostes foi uma experiência definida e
verificável, com sinais inconfundíveis. Em Atos 2.4, Lucas registra: “Todos
ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme
o Espírito os capacitava.” A construção verbal usada no original grego — ἤρξαντο
λαλεῖν ἑτέραις γλώσσαις (ērxanto lalein heterais glōssais) — indica uma ação clara
e específica que teve início naquele momento. Ou seja, não foi algo subjetivo
ou apenas interior, mas uma manifestação concreta e perceptível. O batismo no
Espírito Santo não é apenas sentido — é vivido, reconhecido e ouvido.
Ao longo do livro de Atos, o falar em línguas surge como a evidência
inicial repetida e identificável do batismo no Espírito. Em Atos 10,
quando o Espírito desce sobre os gentios na casa de Cornélio, Pedro e os demais
judeus ficam convencidos de que eles haviam recebido a mesma experiência
pentecostal. Por quê? Porque “os ouviam falar em línguas e exaltar a Deus”
(At 10.46). O critério para o reconhecimento não foi um sentimento de alegria,
nem uma declaração subjetiva. Foi a mesma manifestação objetiva que
ocorrera no Pentecostes original. Como explica Anthony D. Palma: “O
falar em línguas serviu como evidência inequívoca de que os gentios haviam sido
igualmente batizados no Espírito, sem distinção.”¹ Isso não significa que o
batismo no Espírito se resume ao fenômeno das línguas. O Espírito Santo produz
muitos frutos e dons na vida do crente — poder para testemunhar, fervor na
oração, sensibilidade à Palavra, paixão pela missão e transformação moral. Mas
a evidência inicial física e perceptível, segundo o padrão
bíblico, foi e continua sendo o falar em línguas. Essa não é uma doutrina
construída por tradição, mas extraída de padrões consistentes nas Escrituras
(At 2.4; 10.44-46; 19.6). Um erro comum é tentar substituir essa evidência por
emoções subjetivas. Muitos confundem o batismo no Espírito com um “toque”, uma
comoção ou uma alegria passageira. Mas o Pentecostes não é um arrepio — é um revestimento
com propósito, selado por um sinal audível. Como ensina Frank D.
Macchia: “O falar em línguas é o alvorecer de uma nova linguagem para uma nova
humanidade; é a irrupção do Reino nos lábios do adorador.”² Poucos compreendem que o
Pentecostes foi definido no tempo, mas se desdobra continuamente na vida do
crente, através do enchimento -. Ser cheio do Espírito não é um evento único
como o Batismo, mas um chamado constante à renovação (enchei-vos do
Espírito — Ef 5.18). O mesmo Espírito que inaugurou o Pentecostes em Atos
2 continua a operar hoje com poder e sinais, batizando e enchendo, fazendo da
Igreja uma comunidade profética, adoradora e corajosa. O batismo no Espírito é
o selo de que pertencemos a uma geração do fim, que fala a linguagem do céu em
uma terra em convulsão._______________
1.
PALMA, Anthony D. The Holy Spirit: A Pentecostal
Perspective, Logion Press, 2001.
2.
MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A
Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.
3.
KEENER, Craig S. Acts: An Exegetical Commentary,
Baker Academic, 2012.
4.
ARRINGTON, French L. The Acts of the Apostles: A
Theological Commentary, Hendrickson, 1988.
5.
OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do
Novo Testamento, CPAD, 2003.
6.
Comentário Bíblico Beacon, vol. 8, CPAD, 2006.
7.
Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.
8.
Bíblia de Estudo MacArthur, Thomas Nelson, 2011.
9.
GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos
Apóstolos, CPAD, 2001.
10.
Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém –
Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.
11.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado
Versículo por Versículo, Hagnos, 2002.
3. As línguas e o
amor. A
evidência física e inicial ou sinal do batismo no Espírito Santo foi o falar em
outras línguas. Não foi uma grande alegria ou um amor afetuoso que evidenciaram
o batismo no Espírito Santo. Paulo, por exemplo, disse que “o amor de Deus está
derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). O
apóstolo escreveu para uma igreja Pentecostal e o amor aparece aqui não como
uma evidência de enchimento, mas de crescimento e maturidade em Cristo.
- O batismo no Espírito Santo, conforme o testemunho
claro e repetido das Escrituras, é inicialmente evidenciado pelo falar
em outras línguas, conforme o Espírito concede (At 2.4; 10.46; 19.6).
Essa evidência não é produto humano nem imitação — é resultado direto da ação
soberana do Espírito, que concede uma expressão sobrenatural como sinal do
revestimento espiritual. O fenômeno das línguas, portanto, não é periférico nem
secundário: ele é o sinal físico inicial da imersão no Espírito
prometida por Cristo (At 1.5; 2.33). É importante, porém, entender que
a evidência não é o fim do processo. O falar em línguas é o
início de uma vida espiritual transformada — e não o cume da espiritualidade.
Paulo, escrevendo aos romanos, afirma: “o amor de Deus está derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). O verbo
grego ekkechytai (ἐκκέχυται) — “derramado” — descreve uma ação
contínua e abundante. Contudo, observe: Paulo aqui não trata do batismo no
Espírito, mas da regeneração e do amadurecimento progressivo dos crentes em
Cristo. Esse texto mostra que o amor é fruto da presença do Espírito na
vida do regenerado, não a evidência do batismo pentecostal. O erro de
muitos intérpretes modernos está em confundir fruto com sinal.
O falar em línguas é o sinal inicial; o amor é fruto
do crescimento espiritual (Gl 5.22). O primeiro acontece no início da
experiência pentecostal; o segundo se desenvolve ao longo da jornada cristã.
Como afirma Gordon D. Fee: “O dom do Espírito é a entrada na vida do Espírito;
os frutos revelam sua continuidade.”¹ Paulo foi ainda mais incisivo em 1 Coríntios
13, ao corrigir uma igreja pentecostal e carismática, que falava em línguas,
profetizava e operava milagres, mas estava dividida por egoísmo e vaidade. Sua
exortação foi clara: sem amor, até os dons mais extraordinários perdem o valor
espiritual (1Co 13.1-3). Mas note: ele não nega os dons, nem os despreza —
apenas mostra que os dons não substituem o caráter. O
verdadeiro Pentecostes começa com línguas, mas deve prosseguir em vida
cheia de amor, humildade, compaixão e serviço. Poucos percebem que o
equilíbrio entre línguas e amor é o que sustenta a espiritualidade bíblica.
Línguas sem amor tornam-se barulho vazio; amor sem poder torna-se moralismo
impotente. O Espírito que enche os lábios com línguas novas é o mesmo que molda
o coração com o amor de Cristo. O Pentecostes autêntico, portanto, não é medido
apenas pelo que sai da boca, mas pelo que se revela no coração — e o amor,
nesse caso, não é o sinal do batismo, mas o selo da maturidade._______________
1.
FEE, Gordon D. God’s Empowering Presence: The
Holy Spirit in the Letters of Paul, Hendrickson Publishers, 1994.
2.
MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirit: A
Global Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.
3.
ARRINGTON, French L. The Acts of the Apostles: A
Theological Commentary, Hendrickson, 1988.
4.
OSS, Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do
Novo Testamento, CPAD, 2003.
5.
PALMA, Anthony D. The Holy Spirit: A Pentecostal
Perspective, Logion Press, 2001.
6.
Comentário Bíblico Beacon, vol. 8, CPAD, 2006.
7.
Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.
8.
GILBERTO, Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos
Apóstolos, CPAD, 2001.
9.
Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém –
Doutrina, Comunhão E Fé, CPAD, 2024.
SINOPSE III
O Pentecostes Bíblico é
caracterizado por uma experiência definida e contínua, na qual as línguas são a
evidência do enchimento do Espírito.
AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
FALAR EM LÍNGUAS
“Falar em línguas é o sinal
inicial do batismo com o Espírito. Serve como manifestação externa do Espírito
e acompanha o batismo ou imersão no Espírito. Para Pedro, o sinal milagroso
demonstra a plenitude do Espírito. Ele aceita línguas como a evidência de que
os cento e vinte foram cheios com o Espírito. Como sinal inicial, as línguas
transformam uma profunda experiência espiritual num acontecimento reconhecível,
audível e visível. Os crentes recebem a certeza de que foram batizados com o
Espírito. O próprio Jesus não falou em línguas, nem mesmo no rio Jordão. Sua
unção especial foi normativa para seu ministério, mas o derramamento do Espírito
em Atos 2 é normativo para os crentes. A distinção entre Jesus e os crentes é
que Ele inicia a nova era como Senhor” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento – Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.632).
CONCLUSÃO
Como vimos, o Pentecostes marcou o início da era da Igreja.
Jesus, agora glorificado, batizou os crentes no Espírito Santo (At 2.4), e o
Espírito Santo os inseriu no Corpo de Cristo, que é a Igreja (1 Co 12.13), cujo
nascedouro foi no Pentecostes. Esse evento é essencial porque mostrou que Deus
deseja uma Igreja capacitada para cumprir sua missão que é pregar o Evangelho
ao mundo, tanto por palavras quanto por ações. No entanto, essa missão só pode
ser realizada com êxito pelo poder do Espírito Santo.
- O Pentecostes não foi apenas o marco inaugural da
Igreja, mas sim, foi o ato soberano de
Cristo glorificado, que, exaltado à destra do Pai, derramou o Espírito Santo sobre os crentes
(At 2.33), batizando-os em poder (At 2.4). Naquele instante, uma nova
comunidade foi formada — não por afinidade
social ou étnica, mas pela ação sobrenatural do Espírito que os inseriu no
Corpo de Cristo (1Co 12.13). A Igreja nasceu não de uma organização
humana, mas de uma invasão divina; seu DNA é celestial, sua origem é
espiritual, e seu combustível é o Espírito Santo. Esse evento inaugural foi
mais que histórico — foi profético. Deus não queria apenas uma Igreja reunida,
mas uma Igreja revestida. Uma
Igreja que não apenas proclama com os lábios, mas que demonstra com a vida. Uma
Igreja que não apenas carrega uma mensagem, mas que é a mensagem viva. E para isso, Jesus não deixou seus
discípulos apenas com memórias, mas com poder.
Como ensinou Gordon D. Fee: “A missão da Igreja não é possível com apenas boa
teologia — é necessária a capacitação contínua do Espírito.”¹ O
Pentecostes é, portanto, a matriz da
missão. Ele declara que a tarefa de evangelizar o mundo — de Jerusalém
até os confins da Terra — não será cumprida com retórica humana, programas
vazios ou religiosidade inofensiva. Só
pelo poder do Espírito a Igreja pode impactar, transformar e permanecer fiel em
meio ao caos dos últimos dias. Por isso, o Pentecostes não é passado —
ele é presente contínuo. É a convocação de uma Igreja que ora como quem geme,
prega como quem arde, ama como quem foi incendiado. O Pentecostes não termina
em Atos 2. Ele continua em cada crente que, hoje, se entrega ao mover do
Espírito, busca o revestimento de poder e se torna testemunha viva do Cristo
ressurreto. A pergunta não é se o Pentecostes aconteceu — é se ele ainda acontece em você. Porque a Igreja
nasceu no fogo, e só pode viver e cumprir
sua missão se permanecer incendiada pelo Espírito de Deus._______________
1.
FEE,
Gordon D. God’s Empowering Presence,
Hendrickson Publishers, 1994.
2.
KEENER,
Craig S. Acts: An Exegetical Commentary,
Baker Academic, 2012.
3.
MACCHIA,
Frank D. Baptized in the Spirit: A Global
Pentecostal Theology, Zondervan, 2006.
4.
OSS,
Douglas. Comentário Bíblico Pentecostal do
Novo Testamento, CPAD, 2003.
5.
PALMA,
Anthony D. The Holy Spirit: A Pentecostal
Perspective, Logion Press, 2001.
6.
GILBERTO,
Antônio. A Bíblia Fala Hoje: Atos dos
Apóstolos, CPAD, 2001.
7.
Livro de Apoio Adulto: A Igreja Em Jerusalém –
Doutrina, Comunhão E Fé,
CPAD, 2024.
8.
Bíblia
de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.
9.
Bíblia
de Estudo MacArthur, Thomas Nelson, 2011.
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ministério aqui é um chamado do coração — compartilhar o ensino da
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REVISANDO O CONTEÚDO
1. Quais fenômenos registrados em Atos
2.2,3 são considerados teofânicos?
“Um som, como de um vento veemente e impetuoso” e “línguas
repartidas, como que de fogo”.
2. Segundo o apóstolo Pedro, qual
profecia do Antigo Testamento se cumpriu no Pentecostes, e como isso
demonstra o aspecto escatológico desse evento?
Pedro explicou que o Pentecostes foi o cumprimento da profecia de
Joel (Jl 2.28), que anunciava que Deus derramaria o seu Espírito sobre toda a
humanidade.
3. Cite um dos propósitos marcantes do
Pentecostes em Jerusalém, conforme Atos 2.11.
Um dos propósitos marcantes do Pentecoste em Jerusalém foi promover
a verdadeira adoração: “temos ouvido em nossas próprias línguas falar das
grandezas de Deus” (At 2.11).
4. Segundo Atos 1.8, para que a Igreja
necessita do poder do Espírito Santo?
Para cumprir essa missão ela necessita de poder para testemunhar
(Lc 24.49; At 1.8).
5. Por que o Pentecostes bíblico é
distinto da salvação, segundo Atos 1.5 e Atos 2.33?
Porque, na verdade, a obra salvífica de Cristo na Cruz proveu a
bênção pentecostal (At 2.33).