23 de janeiro de 2011 |
TEXTO ÁUREO |
"Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um só corpo e um só Espírito [...]." (Ef 4.3,4).
- Note que ‘A unidade do Espírito’ não pode ser originada por nenhum ser humano ou entidade por ele criada. Ela é algo real e vivido apenas por aqueles que nasceram de novo e vivem o verdadeiro Evangelho, conforme o texto discorrido por Paulo em Efésios, capítulos 1 a 3. Aquela Igreja deveria guardar e preservar essa unidade, não mediante os esforços ou a própria igreja - enquanto organização - de Éfeso, mas pelo andar ‘como é digno da vocação com que fostes chamados’ (v. 1), isto é, esta unidade espiritual será mantida unicamente pela lealdade à verdade e o andar segundo o Espírito (confira Ef 4.1-3,14,15; Gl 5.22-26), jamais poderá ser obtida ‘pela carne’ (Gl 3.3). Sobretudo, unidade é a responsabilidade de cada crente e deve-se buscá-la com seriedade.
A Igreja é caracterizada pela comunhão que mantém com o Senhor Jesus Cristo e pela unidade espiritual de seus membros. |
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
- Definir o termo comunhão;
- Reconhecer a necessidade da verdadeira comunhão, e
- Saber que através da unidade a obra de Deus prospera.
PALAVRA-CHAVE
COMUNHÃO: - [do grego koinonia: ‘tendo em comum’ e do latim communione: ‘ter algo em comum’] Participação em comum; Participar das mesmas idéias, crenças e opiniões; Uniformidade (em idéias, opiniões, etc.); acordo, harmonia. |
COMENTÁRIO
Sem o relato histórico dos ‘Atos do Espírito Santo’ registrado por Lucas, teríamos uma grande lacuna na Igreja cristã. É através do livro de Atos, bem como de outros trechos do NT, que tomamos conhecimento das normas ou dos padrões estabelecidos para uma igreja governada pelo Cabeça Jesus Cristo no modelo primitivo. Antes de qualquer coisa, temos que entender que a igreja é o ajuntamento de pessoas com suas diferenças em congregações locais, unidas pelo Espírito Santo, que buscam um relacionamento pessoal, fiel e leal com Deus e com Jesus Cristo e, por conseguinte, com os irmãos (At 13.2; 16.5; 20.7; Rm 16.3,4). Note que é mediante o poderoso testemunho da igreja que os pecadores são alcançados e regenerados. Uma igreja que declara basear sua teologia, prática e missão, no padrão divino revelado no livro de Atos bem como noutros escritos do NT, deve primar com muita diligência pela comunhão entre seus membros, engajados uniformemente em idéias, opiniões, doutrina e ação. Nenhum volume de pregação, ensino, cânticos, música, animação, movimento e emocionalismo manifestarão o poder e presença genuína no Espírito Santo, sem a comunhão dos santos, mediante a qual os crentes devem perseverar harmonicamente em oração e súplicas. Boa aula!
(II. DESENVOLVIMENTO)
Koinonia (κοινωνία), ‘tendo em comum (koinos), sociedade, companheirismo’. É assim usado acerca das experiências e interesses comuns dos cristãos (At 2.42; Gl 2.9); da participação no conhecimento do Filho de Deus (1Co 1.9); do compartilhamento na realização dos efeitos do sangue (ou seja, da morte) e do corpo de Jesus Cristo, conforme é exposto pelos emblemas da Ceia do Senhor (1Co 10.16); da participação do que é derivado do espírito Santo (2Co 13.13; Fp 2.1); da participação dos sofrimentos de Cristo (Fp 3.10); do compartilhamento na vida e da ressurreição possuída em Cristo e, por conseguinte, do companheirismo com o Pai e o Filho (1Jo 1.3,6,7); companheirismo com Deus, realizado pelo Espírito Santo na vida dos crentes em resultado da fé (Fm 6) [1]. Aparece 20 vezes no Novo Testamento: em 12 ocasiões é traduzida por comunhão; em 4 por comunicação; 1 por dons; 1 por cooperação; 1 por dispensação e 1 por coleta. Mostra o ideal da fé cristã, onde não deve haver um povo com doutrinas divergentes, ideais divergentes, deuses diferentes... É o ideal de Atos 2.44: ‘Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum’.
1. O que é a comunhão. Compartilhamento, uniformidade, associação próxima, parceria, participação, uma sociedade, uma comunhão, um companheirismo, ajuda contribuinte, fraternidade. O termo grego Koinonia é uma uniformidade realizada pelo Espírito Santo, somente os regenerados podem vivenciá-la em sua plenitude. Em Koinonia, o crente compartilha o vínculo comum e íntimo do companheirismo com o resto da comunidade cristã, é quase que uma união hipostática [*] entre os crentes e o Senhor Jesus Cristo, bem como nos une uns aos outros.
2. A unidade do Corpo de Cristo. Em João 17.21, Jesus orou em favor da união entre os crentes, não uma união de igrejas ou organizações, mas uma união espiritual, baseada na permanência em Cristo, no amor a Cristo, na separação do mundo, em santificação na verdade, em receber a verdade da Palavra e crer nela; na obediência à Palavra e no desejo de levar a salvação aos perdidos. Faltando algum desses fatores, não pode haver a verdadeira Koinonia que Jesus pediu em oração. “Jesus não ora para que seus seguidores "se tornem um", mas para que "sejam um". Trata-se do subjuntivo presente e significa "continuamente ser um". União essa que se baseia no relacionamento que todos eles têm com o Pai e o Filho, e na mesma atitude basilar que têm para com o mundo, a Palavra e a necessidade de alcançar os perdidos (cf. 1 Jo 1.7)” [2]. Paulo quando escreveu ao seu filho na fé, o jovem Timóteo, fez uma afirmativa que julgo relevante e muito contemporâneo, quando pensamos sobre a igreja e a unidade do Corpo de Cristo. Declara Paulo: ‘Para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade.’(1Tm. 3.15).
3. A comunhão da Igreja agrada a Deus. Paulo inicia sua carta aos Coríntios exortando-os quanto à unidade, anunciando sua preocupação primária acerca do que ele tinha ouvido ‘pelos da casa de Cloe’ concernente às divisões e pendengas daquela igreja (1Co 1.10). O primeiro problema abordado é a competição e rivalidade que resultaram devido as preferência por líderes religiosos com base em sua presumida sabedoria superior. Parece um assunto tão contemporâneo que chega a confundir-nos. Será que não aprendemos nada com as querelas daquela igreja? O que pode ser mais contemporâneo do que a competição, a rivalidade, as divisões e brigas pelo poder[leia este artigo]? A vida em Corpo da Igreja, não do crente independente, é a chave para a compreensão do comportamento divino no NT. Notemos que intentar criar uma união artificial por meio de reuniões, festividades, conferências ou organização centralizada, pode resultar num simulacro da própria união em prol da qual Jesus orou em Jo 1.7. Deus trata com a Igreja como um corpo e com os indivíduos como partes ou membros desse corpo. Precisamos lançar as preocupações do corpo [da congregação] acima dos nossos próprios. Isso resultará numa união espiritual de coração, propósito, mente e vontade dos que estão totalmente dedicados a Cristo, à Palavra e à santidade (Ef 4.3). Certamente Deus requer que os seus seguidores sejam unidos. Quando Jesus preparando-se para sua própria morte, uma das primeiras coisas que teve em mente foi a unidade dos seus discípulos: ‘Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste’ (Jo 17.20,21). Se realmente somos regenerados, devemos incentivar esta unidade entre os crentes: ‘Assim, pois, seguimos as cousas da paz e também as da edificação de uns para com os outros’ (Rm 14.19). Como templo e morada do Espírito Santo, deveremos trabalhar humildemente para manter a unidade: "[...]completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma cousa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vangloria, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros’ (Fp 2.2-4). Paulo, em sua preocupação com as perigosas querelas e cismas em Corinto, deixou-nos a fórmula prática para esta paz quando escreveu: ‘Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis a todos a mesma cousa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer’ (1Co 1.10).
[*] Teol. União hipostática (também conhecida como união mística ou dupla natureza de Cristo) é a doutrina clássica da cristologia que afirma ter Jesus Cristo duas naturezas, sendo homem e Deus ao mesmo tempo; União do Verbo com a natureza divina.
SINÓPSE DO TÓPICO (1)
A comunhão da igreja não é um mero ajuntamento de pessoas, é o relacionamento espiritual e pessoal dos santos, sob a ação do espírito Santo.
II. A COMUNHÃO CRISTÃ CARACTERIZA-SE PELA UNIDADE
Em princípio, podemos crer que a unidade da congregação seja importante, más praticá-la é coisa difícil. Mesmo que os métodos humanos possam parecer práticos e eficientes, o crente verdadeiramente regenerado procurará manter a unidade do modo que ele nos ensina nas Escrituras. John Stott afirma que a segunda marca de uma igreja viva que descobrimos na leitura de Atos é o amor e o cuidado mútuo entre os crentes. “A unidade do Corpo de Cristo permite a união dos desiguais: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. … E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, pois, há muitos membros, mas um corpo” (1Co 12.13,14 e 19,20). Paulo assim escreve para demonstrar que cada membro do corpo é diferente um do outro, mas forma uma unidade: uns são mãos, outros, pés, outros olhos, assim por diante – não somos todos apenas um membro do corpo, mas vários membros formando um só corpo: “E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; … Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele.” (vs. 21,22; 25,26)”[3]. Consideremos a base da unidade que agrada a Deus:
1. Unidade doutrinária. O cristianismo é, sobretudo, uma religião baseada na união – união de gregos e troianos, judeus e gentios, negros e brancos, ricos e pobres, todos unidos numa só fé – mas não tolera a conjunção entre o certo e o errado, a verdade e a mentira, a luz e a escuridão. Assim, a unidade cristã se dá PELA verdade bíblica universal, a Palavra viva, santa e imutável de Deus. Na sua oração pela unidade, Jesus disse: “Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam; … Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo 17.8,17). Se não for PELA Palavra de Deus não haverá unidade cristã verdadeira. Portanto, a unidade não deve ser meramente espiritual, mas também bíblico-doutrinária, mediante a uniformidade da fé. Muitos pastores e líderes buscam a unidade em meio ao erro doutrinário, o que contradiz a Palavra de Deus. Essa “unidade”, na realidade, agrada muito mais aos homens do que a Deus. Não falo das pequenas diferenças existentes no meio cristão (pois, como dissemos, cada membro do corpo é desigual), que não comprometem a sã doutrina, mas daquelas que possam afetar a verdade bíblica. “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Am 3.3) [3]. Na verdade, não estaremos isentos da insurgência de hereges que ensinam idéias e doutrinas sem base bíblica e que criam divisões nas igrejas e entre os crentes e é interessante que, para se manter a união faz-se necessário a divisão - se uma segunda admoestação for ineficaz para corrigir tais pessoas, devem ser evitadas, isto é, rejeitadas e excluídas da igreja. Aqueles que rejeitam as verdades da Bíblia e colocam em seu lugar as próprias idéias e opiniões, são pervertidos e pecaminosos e devem sim serem extirpados para não ‘levedar a massa’(Tt 3.10,11).
2. Unidade na própria comunhão. O Evangelho de Jesus Cristo é constituído sobre relacionamentos: relacionamento com Deus e relacionamentos com as pessoas que Deus amou de ‘tal maneira’ que Ele enviou Seu Filho para salvar. Ele ainda deseja fazer isso hoje em e através de todos nós. A Bíblia coloca a nossa relação com Deus como prioridade: "Amarás o Senhor teu Deus com todo seu coração, alma, mente e força" (Lc 10.27). Jesus acrescentou o grande segundo mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Estas verdades irão impactar nossa caminhada diária com o outro. Nós os cristãos estamos unidos não só por nosso compromisso com Jesus Cristo, como também por nosso compromisso com a igreja de Jesus Cristo. Precisamos ter a mesma perspectiva da igreja que Jesus tinha, e redescobrir a visão de uma igreja viva, renovada pelo Espírito Santo, tal como foi nos seus primeiros tempos. O propósito de Deus não é salvar indivíduos e perpetuar seu isolamento. Deus se propôs edificar a igreja, uma comunidade nova e redimida. Planejou-a na eternidade passada, a está levando a cabo no processo histórico do presente, e será aperfeiçoada na eternidade que virá. A igreja esta no centro do plano de salvação. Cristo morreu não só para nos redimir de toda iniqüidade, mas também para reunir e purificar para si mesmo um povo entusiasmado pelas boas obras. Assim diz a Palavra: “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.” (Tito 2:14) Na eternidade, Deus nos reunirá aos redimidos por Cristo como um só povo, do qual o apóstolo João teve uma antecipação extraordinária: “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro.” (Apocalipse 7:9-10) [4].
3. Unidade do partir do pão. A Ceia do Senhor é descrita em quatro trechos bíblicos: Mt 26.26-29; Mc 14.22-25; Lc 22.15-20; 1 Co 11.23-32. Foi dado à Igreja como um memorial da morte de Cristo no Calvário, para redimir os crentes do pecado e da condenação (1Co 11.24-26; Lc 22.19) e é celebrado como um ato de ação de graças (grego eukharistía, agradecimento, gratidão, ação de graças) pelas bênçãos e salvação da parte de Deus, provenientes do sacrifício de Jesus Cristo na cruz por nós (1Co 11.24; Mt 26.27,28; Mc 14.23; Lc 22.19). João Calvino afirma que “Nossas almas podem obter deste sacramento (Santa Ceia) grande fruto de confiança e doçura, pois temos testemunho de que Jesus Cristo, de tal maneira é incorporado a nós, e nós a Ele, que tudo quanto é Seu podemos chamar de ‘’nosso’’. E tudo quanto é nosso, podemos dizer que é Seu”. Assim, o sacramento da Santa Ceia constitui-se num ato de comunhão (koinonia) com Cristo e de participação nos benefícios da sua morte sacrificial e, ao mesmo tempo, comunhão com os demais membros do corpo de Cristo (1Co 10.16,17). Note que a Ceia do Senhor só adquire essa importância acima mencionada, só passa a ter significado se chegarmos diante do Senhor com fé genuína, oração sincera e obediência à Palavra de Deus e à sua vontade. É notável que o primeiro fruto do Espírito seja o amor. Neste particular, a igreja primitiva cuidava dos seus pobres, compartilhava com eles suas possessões. Esta atitude deve ser a característica da igreja em todos os tempos. Essa característica logo foi deturpada, ‘[...] os coríntios se reuniam para suas refeições de confraternização, antes da Ceia do Senhor (cf. 2 Pe 2.13; Jd v.12), alguns se -reuniam em grupos pequenos e tomavam suas refeições à parte (vv. 18,19). Os pobres, que não podiam trazer refeição, eram desconsiderados e deixados com fome.’(1Co 11.21) [5]. A comunhão, a disposição de compartilhar, generosa e voluntariamente, é um princípio permanente. A igreja deveria ser a primeira entidade no mundo na qual se abolisse a pobreza.
4. Unidade nas orações. Os primeiros cristãos não eram só fieis em conservar os ensinamentos dos apóstolos na comunhão uns com os outros. Também se reuniam uns com os outros. Também se reuniam e participavam juntos “no partir do pão, e nas orações” (Atos 2:42). As orações que se mencionam aqui não são as orações privadas mas sim as reuniões de oração. Paulo faz aos coríntios um apelo comovente (1Co 1.10). Depois de agradecer a Deus pelo enriquecimento dos coríntios em Cristo, lhes faz um chamado urgente, por causa do doloroso cisma que há entre eles. Acaba de lhes escrever sobre sua comunhão e agora tem que os exortar pela sua falta de comunhão. Contudo, Paulo segue se dirigindo a eles como irmãos e irmãs. Quiçá o faz de propósito, para os lembrar que pertencem à família de Deus e que com seu comportamento, em alguma medida estão contradizendo sua identidade. O salmista declara que se abrigarmos o pecado em nossa vida, o Senhor não atenderá as nossas orações (Sl 66.18; Tg 4.5). Eis a razão principal por que o Senhor não atendia as orações dos israelitas idólatras e ímpios (Is 1.15). Mas se o povo de Deus arrepender-se e voltar-se dos seus caminhos ímpios, o Senhor promete voltar a atendê-lo, perdoar seus pecados e sarar a sua terra (2Cr 7.14; Lc 18.14). A tendência natural do homem é opor-se a Deus e ao próximo, porém, essa tendência pode ser alterada pela graça de Deus pois alcança todos aqueles que humildemente aceitam a salvação em Cristo.
A unidade doutrinária, a unidade entre os irmãos, a unidade no partir do pão e a unidade nas orações é o que caracteriza a comunhão da igreja cristã.
III. OS FRUTOS DA COMUNHÃO CRISTÃ
A igreja é apresentada como o povo de Deus (1Co 1.2; 10.32; 1Pe 2.4-10), uma família formada pelo agrupamento dos crentes redimidos como fruto da morte de Cristo (1Pe 1.18,19). É um povo peregrino que já não pertence a esta terra (Hb 13.12-14), cujo primeiro dever é viver e cultivar uma comunhão real e pessoal com Deus (1Pe 2.5). A igreja é o corpo de Cristo (1Co 6.15,16; 10.16,17; 12.12-27). Isto indica que não pode existir igreja verdadeira sem união vital dos seus membros com Cristo. A essência desta família é o relacionamento entre os irmãos. É por isso que o salmista exclama: ‘Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos’ (Sl 133.1). Viver unido é viver em comunhão com o Pai e com os irmãos. Charles R. Swindoll afirma que uma família forte possui seis qualidades principais: é comprometida com a família, gasta tempo junta, tem boa comunicação familiar, expressa apreciação um ao outro, tem um compromisso espiritual e é capaz de resolver os problemas nas crises. Estas qualidades podem ser resumidas em duas palavras: comunhão e reciprocidade (Rm 12.5). Podemos resumir que reciprocidade é a vida que flui na igreja. Uma igreja que não desenvolve estas qualidades vive uma crise de comunhão. Quando a igreja vive esta reciprocidade, gera frutos:
1. Temor a Deus. Em Dt 6.1,2 encontramos o mandamento geral de “temer ao Senhor” (gr. phobos); inclui uma variedade de aspectos do relacionamento entre o crente e Deus. É fundamental, no temor a Deus, reconhecer a sua santidade, justiça e retidão como complemento do seu amor e misericórdia, isto é, conhecê-lo e compreender plenamente quem Ele é (Pv 2.5). Esse temor baseia-se no reconhecimento que Deus é um Deus santo, cuja natureza inerente o leva a condenar o pecado. Temer ao Senhor é considerá-lo com santo temor e reverência e honrá-lo como Deus, por causa da sua excelsa glória, santidade, majestade e poder (Fp 2.12). Paulo vê lugar para "temor e tremor" da nossa parte na salvação efetuada por Cristo. Todo filho de Deus deve possuir um santo temor que o faça tremer diante da Palavra de Deus (Is 66.2) e o leve a desviar-se de todo mal (Pv 3.7; 8.13). Note que o temor do Senhor não é de conformidade com a definição freqüentemente usada, a mera ‘confiança reverente’, mas inclui o santo temor do poder de Deus, da sua santidade e da sua justa retribuição, e um pavor de pecar contra Ele e das conseqüências desse pecado (Ex 3.6; Sl 119.120; Lc 12.4,5). Não é um temor destrutivo, mas um temor que controla e que redime e que aproxima o crente de Deus, de suas bênçãos, da pureza moral, da vida e da salvação (Sl 5.7; 85.9; Pv 14.27; 16.6). Quando Lucas destaca que ‘em cada alma havia temor’(At 2.43), demonstra a unidade do Espírito levando os crentes a crer e confiar exclusivamente nEle para a salvação. O salmista, na sua reflexão a respeito do Criador, declara explicitamente: ‘Tema toda a terra ao SENHOR; temam-no todos os moradores do mundo. Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu’ (Sl 33.8,9). Temer a Deus significa reconhecer que Ele é um Deus que se ira contra o pecado e que tem poder para castigar a quem transgride suas justas leis, tanto no tempo como na eternidade (Sl 76.7,8). Moisés experimentou esse aspecto do temor de Deus quando passou quarenta dias e quarenta noites em oração, intercedendo pelos israelitas transgressores: ‘temi por causa da ira e do furor com que o SENHOR tanto estava irado contra vós, para vos destruir’ (Dt 9.19).
2. Sinais e maravilhas. O Espírito Santo foi derramado sobre a Igreja no dia de Pentecostes, cento e vinte almas naquele dia receberam o selo do Espírito Santo, que mergulhou suas vidas no poder celestial. Depois daquele dia jamais seriam os mesmos. Jesus cumpriu a sua promessa (At 1.5). Pedro cheio de poder anunciou a Palavra com muita intrepidez e três mil pessoas se converteram. Era a Igreja que nascia reunindo-se no templo e de casa em casa. Como podemos ver em At 5.42. É da vontade de Deus que a pregação do evangelho seja acompanhada de sinais miraculosos para confirmar a veracidade do evangelho (Mc 16.20). Dessa maneira, o Senhor coopera com sua igreja e dá testemunho da veracidade da mensagem do evangelho. Esta confirmação da graça de Deus, com sinais e prodígios, não é menos necessária hoje do que foi no início da igreja, à medida que enfrentamos os tempos difíceis dos últimos dias (1Tm 4.1; 2Tm 3.1-13).
3. Assistência Social. “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.” (Atos 2:44-45) Esta passagem nos perturba. Preferimos saltá-la para evitar o desafio que ela encerra. Devemos imitar literalmente estes crentes? Quis Jesus que todos seus seguidores vendessem suas possessões e repartissem o que obtivessem delas? Sem dúvida, o Senhor chamou a alguns de seus discípulos a uma pobreza voluntária total. Esse é o chamamento que fez ao jovem rico, por exemplo. A ele, Jesus disse expressamente que vendesse tudo e o desse aos pobres. Este foi também o chamado do frade Francisco de Assis, na idade média, e mais recentemente, o chamado de Madre Tereza, em Calcutá, ambos católicos romanos. Eles nos recordam que a vida não consiste na abundância dos bens que possuímos. Mas não todos os discípulos de Cristo são chamados a isso. A proibição da propriedade privada é uma doutrina marxista, não cristã. Mesmo na igreja em Jerusalém, a decisão de vender as propriedades e dar tudo foi uma questão voluntária. Quando passamos para o versículo 46, lemos que os crentes se reuniam “em suas casas”. Quer dizer, continuavam tendo casa e propriedades pessoais. Pelo visto, não haviam vendido todas as casas, seus móveis e suas propriedades! Contudo alguns tinham casas, e os crentes se reuniam nelas. Não obstante, não devemos evadir do desafio destes versículos. Alguns suspiram com alívio porque não sugeri que devemos vender tudo e repartir-lo. Mas, mesmo que não seja nosso chamado particular, todos fomos chamados a nos amarmos mutuamente como faziam aqueles cristãos. [6].
4. Crescimento. A igreja cristã nasceu com uma vocação para crescer e se tornar católica [*]. O rápido crescimento da igreja, nos primeiros séculos, é algo empolgante e motivador. Sua trajetória foi marcada por um mover de Deus (Atos 2). Seu crescimento inspira a igreja a buscar e descobrir as estratégias para se alcançar este objetivo. Um estudo dos primeiros capítulos do livro de Atos mostra que aquela igreja não tinha nenhum tipo de inovação ou algo semelhante, mas, simplesmente, se colocou à disposição de Deus para trabalhar dentro do contexto de sua época. E é exatamente isso que precisamos fazer hoje. A descida do Espírito Santo, em cumprimento às palavras de Jesus (Lc 24.49), trouxe nova perspectiva de vida a sua igreja. A partir de Atos 2, percebe-se que ela avançou em sua tarefa de evangelização e que existem alguns requisitos essenciais para que a igreja hodierna faça Cristo conhecido a todas as nações (Mc 16.15). E o que se vê no livro de Atos é uma explosão no crescimento da igreja naqueles dias. Seu início foi com 120 pessoas, aumentando o número dos salvos para 3.000, passando para 5.000 e, em pouco tempo, os lugares mais distantes de Jerusalém já tinham recebido o evangelho (At 1.8). Com isso, aprendemos que a tarefa da igreja na terra não acabou, e que o seu crescimento não depende, unicamente, de recursos e estratégias humanas, mas de Koinonia – do crente com Deus através do Espírito Santo e entre os irmãos, através do amor que é derramado em nossos corações.
5. Adoração. Existem dois aspectos da vida de adoração da igreja primitiva que são desejáveis em uma igreja hoje. Aqueles cristãos mostravam equilíbrio nos dois sentidos. Por um lado a adoração era formal e informal. Isso aprendemos no versículo 46, onde nos é dito que adoravam nas casas e no templo. É interessante que os primeiros cristãos continuaram adorando no templo. Não abandonaram de imediato a igreja institucional; queriam reformá-la de acordo com o evangelho. Seguramente não participavam dos sacrifícios do templo, porque entendiam que os sacrifícios já haviam sido cumpridos definitivamente com a morte e ressurreição de Cristo. No entanto, continuaram participando das reuniões de oração no templo. Estas reuniões tinham certa formalidade, mas os cristãos as suplementavam com reuniões mais informais e espontâneas nos lares. Um segundo aspecto do equilíbrio que guardava a adoração na igreja primitiva era sua atitude de gozo e ao mesmo tempo reverente. A palavra que traduz “alegria” no versículo 46 descreve gozo exuberante. Deus havia enviado seu Filho ao mundo, agora havia derramado Seu Espírito em seus corações... Como não iriam estar alegres! O fruto do Espírito Santo é amor, e também é alegria. Podemos imaginar naqueles crentes um gozo muito menos inibido do que as tradições costumam nos permitir. Algumas reuniões de adoração parecem mais funerais. Todos estão vestidos de preto, ninguém sorri ninguém diz nada, tocam-se hinos com muita lentidão e toda atmosfera é lúgubre. Por que? Alegremo-nos no Senhor! Cada reunião deve ser uma celebração alegre. Contudo, a adoração da igreja primitiva também se caracterizava pela reverência. Seus cultos não eram irreverentes. Se em algumas reuniões o ambiente é funerário, em outros é demasiado leviano. Não refletem a presença solene e soberana de Deus. Os primeiros cristãos não conheciam esse erro. Quando o Espírito Santo renova a igreja, a enche de alegria e também de reverência ante Deus. [5].
SINÓPSE DO TÓPICO (3)
A verdadeira comunhão cristã gera frutos na vida da Igreja, tornando-a verdadeiramente o Corpo de Cristo.
[*].(do grego καθολικος: katholikos; com o significado de "geral" ou "universal")
Nós os cristãos estamos unidos não só por nosso compromisso com Jesus Cristo, como também por nosso compromisso com a igreja de Jesus Cristo. Precisamos ter a mesma perspectiva da igreja que Jesus tinha, e redescobrir a visão de uma igreja viva, renovada pelo Espírito Santo, tal como foi nos seus primeiros tempos. O propósito de Deus não é salvar indivíduos e perpetuar seu isolamento. Deus se propôs edificar a igreja, uma comunidade nova e redimida. Planejou-a na eternidade passada, a está levando a cabo no processo histórico do presente, e será aperfeiçoada na eternidade que virá. A igreja esta no centro do plano de salvação. Cristo morreu não só para nos redimir de toda iniqüidade, mas também para reunir e purificar para si mesmo um povo entusiasmado pelas boas obras. Assim diz a Palavra: “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.” (Tt 2.14)
APLICAÇÃO PESSOAL
A vida cristã é viva no Espírito. Todos os cristãos concordam nisso com alegria. Seria impossível ser cristão, sem o ministério do gracioso Espírito de Deus. Tudo o que temos e somos como cristãos devemos a Ele. Assim, cada cristão tem uma experiência com o Espírito Santo desde os primeiros momentos da sua vida cristã. Para o crente, a vida começa com um novo nascimento, e o novo nascimento é um nascimento ‘no Espírito’ (Jo 3.3-8). Ele é o ‘Espírito da vida’, e é ele quem dá vida às nossas almas mortas. Mais que isto, Ele vem pessoalmente morar em nós, de maneira que a presença do Espírito é o privilégio que todos os filhos de Deus têm em comum. Paulo descreve com muita maestria a nova era iniciada por Jesus como ‘o ministério do Espírito’ (2Co 3.8). É instrutivo observar que a profecia de João Batista [Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo (Mc 1.8)], registrada pelos três evangelistas sinóticos como futuro simples (ele vos batizará), no quarto evangelho toma a forma de um particípio presente: ‘Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água, me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo’ (Jo 1.33). Este uso do particípio presente tira do verbo os limites do tempo. Ele não descreve o evento único que foi o Pentecostes, mas o ministério específico de Jesus: ‘Esse é o que batiza com o Espírito Santo’. Somente o Espírito Santo pode criar uma verdadeira comunhão entre os crentes através das escolhas e compromissos que fazemos. Paulo aponta esta nossa responsabilidade: Vocês estão unidos na paz por meio do Espírito. Esforcem-se, portanto, para continuar unidos desse modo. Podemos resumir que a igreja é um vínculo de amor a Deus e ao próximo no cultivo da comunhão verdadeira uns com os outros (amor o próximo). Qual tem sido minha preocupação com meus irmãos? Como temos demonstrado nosso amor? Apenas com palavras ou em atitudes práticas? Se não amarmos nossos irmãos, o amor de Deus não estará em nós (1Jo 4.20).
N’Ele, que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8),
Francisco A Barbosa
NOTAS BIBLIOGRAFICAS
- Lições Bíblicas 1º Trim 2011 – Livro do Mestre, CPAD, Atos dos Apóstolos – Até aos confins da terra;
[1]. Dicionário VINE, 1ª Ed., 2002, CPAD; pp. 485;
[2]. Adaptado de STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD; nota textual de Jo 17.21;
[3]. Adaptado de http://www.caminhocristao.com/2006/09/a-unidade-crista/;
[4]. STOTT, John. SINAIS DE UMA IGREJA VIVA, p. 4;
[5]. Adaptado de STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD; nota textual de 1Co 11.21;
[6]. Adaptado de STOTT, John. SINAIS DE UMA IGREJA VIVA
- HORTON Stanley M., Teologia Sistemática, 1ª ed. – Rio de Janeiro; CPAD, 1996.
1. O que é comunhão? R. Comunhão é o vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo.
2. Em que consistia a comunhão da igreja primitiva? R. Consistia na unidade doutrinária, na unidade na própria comunhão, na unidade do partir do pão e da unidade nas orações.
3. Cite 3 conseqüências da ausência de comunhão na igreja. R. Falta de temor a Deus, falta de crescimento e abandono da verdadeira adoração.
4. Existe alguma relação direta entre a comunhão do crente com Cristo e a comunhão do crente com seu irmão? R. Sim.
5.O que devemos fazer para que haja comunhão na igreja? R. Resposta pessoal. |
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