Lição 6: A Lei, a carne e o Espírito
Data: 8 de Maio de 2016
TEXTO ÁUREO
“Dou
graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o
entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado” (Rm
7.25). [Comentário: Paulo sintetiza
aqui o estado de frustração que ele vinha descrevendo desde o versículo 14.
Paulo aprovava totalmente a boa lei de Deus e, no entanto, ‘na carne’, ele
ainda servia ao pecado. A nova vida no espírito é experimentada por indivíduos,
na mente, no corpo e no espírito, os quais continuam a estampar os sinais do
pecado.]
VERDADE PRÁTICA
A luta
entre a carne e o espírito é uma realidade na vida de todo crente, mas a
dependência da graça de Deus fará com que tenhamos uma vida vitoriosa.
LEITURA DIÁRIA
Segunda — Rm 6.2,3 - O poder do pecado foi aniquilado
por Jesus Cristo e não pela lei
Terça — Rm 6.11 - Nossa antiga natureza está morta,
agora estamos vivos para Deus
Quarta — Rm 6.12 - Não podemos permitir que o pecado
assuma o controle de nossas vidas
Quinta — Gl 5.13 - Não usemos da liberdade para dar
lugar à carne
Sexta — Gl 5.16-21 - Já não somos mais dominados pelas
obras da carne
Sábado — Gl 5.22 - O fruto do Espírito na vida do
crente
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Romanos 7.1-15.
1 — Não sabeis vós, irmãos (pois
que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o
tempo que vive?
2 — Porque a mulher que está
sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o
marido, está livre da lei do marido.
3 — De sorte que, vivendo o
marido, será chamada adúltera se for doutro marido; mas, morto o marido, livre
está da lei e assim não será adúltera se for doutro marido.
4 — Assim, meus irmãos, também
vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro,
daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus.
5 — Porque, quando estávamos na
carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros
para darem fruto para a morte.
6 — Mas, agora, estamos livres da
lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em
novidade de espírito, e não na velhice da letra.
7 — Que diremos, pois? É a lei
pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu
não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.
8 — Mas o pecado, tomando ocasião
pelo mandamento, despertou em mim toda a concupiscência: porquanto, sem a lei,
estava morto o pecado.
9 — E eu, nalgum tempo, vivia sem
lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri;
10 — e o mandamento que era para
vida, achei eu que me era para morte.
11 — Porque o pecado, tomando
ocasião pelo mandamento, me enganou e, por ele, me matou.
12 — Assim, a lei é santa; e o
mandamento, santo, justo e bom.
13 — Logo, tornou-se-me o bom em
morte? De modo nenhum! Mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em
mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse
excessivamente maligno.
14 — Porque bem sabemos que a lei
é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.
15 — Porque o que faço, não o
aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço.
HINOS SUGERIDOS
155, 432 e 491 da Harpa Cristã.
OBJETIVO GERAL
Mostrar que a luta entre carne e espírito é uma realidade
na vida de todo crente.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo,
os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada
tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos
subtópicos.
- I. Explicar a analogia do casamento ilustrada na Lei;
- II. Mostrar a analogia da solidariedade da raça ilustrada em Adão;
- III. Discorrer a respeito da analogia entre carne e espírito.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Na lição
de hoje estudaremos o capítulo sete da Epístola aos Romanos. Este capítulo
trata a respeito da libertação da Lei. Para que os romanos compreendessem bem o
assunto, Paulo faz uma analogia entre a Lei e o casamento. O apóstolo mostra
que enquanto o marido viver, a esposa está ligada a ele mediante a lei do
matrimônio. Mas, morto o marido a esposa se torna livre, podendo até mesmo
contrair novas núpcias. Com esta analogia, Paulo mostra que os salvos em
Cristo, pela fé, já estão livres da lei do pecado e agora pertencem a Jesus
Cristo. Em Cristo, estamos mortos para a lei do pecado. O apóstolo precisou
tratar deste assunto porque os judeus tinham dificuldades de se libertarem das
amaras da Lei. Livres da lei do pecado temos condições de nos relacionarmos com
Deus e vivermos uma vida de santidade. Segundo Lawrence Richards “a libertação
da Lei não promove o pecado, mas a justiça”.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Na lição
de hoje estudaremos o papel do cristão em relação à Lei, a carne e o Espírito.
Paulo apresenta um estudo a respeito desses temas no capítulo sete. Ele se
utiliza de três analogias para discorrer sobre os assuntos: a analogia do
casamento, a analogia de Adão no paraíso e a analogia da carne versus o
espírito. Como devemos nos comportar diante da lei? Como explicar, que mesmo
depois de já termos recebido a graça de Deus, passamos por conflitos
espirituais internos? O que isso significa? É o que vamos procurar responder
neste estudo. [Comentário: é importante que comecemos esclarecendo que este é um
dos capítulos de maior complexidade para se interpretar de toda a bíblia. Ao
longo dos séculos o capítulo sete da carta aos Romanos tem desafiado inúmeros
teólogos e estudiosos quanto à sua real interpretação. Uma correta
interpretação deste capítulo é essencial à compreensão de toda carta, e, para
interpretá-lo, precisaremos de todos os elementos que foram realçados através
das análises feitas nos capítulos anteriores. Assim, não vai ser com esta
concisa lição que elucidaremos o capítulo sete. Paulo expande agora o tema da
relação entre o crente e a lei. Embora a lei seja santa, justa e boa (v. 12), a
sujeição do pecador à lei resultou somente em condenação, visto que a lei, em
sua justiça, desvendava toda a transgressão e fracasso. Nesta seção, a relação
entre o pecador e a lei é comparada a um casamento. O ponto da comparação é que
a morte leva essas relações ao fim, e o cônjuge viúvo fica livre para entrar em
nova relação de casamento, Visto que o ‘casamento’ com a lei foi quebrado por
meio da morte, o crente não é um adúltero e nem pode ser condenado pela lei. O
crente morre ao ficar unido com Cristo em sua morte, quebrando a cadeia de
desobediência e morte que prendia o pecador a Adão e ao seu destino (5.12-21).
O outro lado da ilustração é que a união com Cristo, em sua ressurreição,
confere ao crente uma nova relação, segundo a qual uma verdadeira – embora
ainda não perfeita – obediência é prestada a Deus, em amor e gratidão. No novo
relacionamento com Cristo, a força do Espírito Santo assegura que haverá vida e
frutificação (7.4) – uma metáfora que aponta para um resultado ou conseqüência
natural.] Dito isto, vamos pensar
maduramente a fé cristã?
PONTO CENTRAL
Jesus
Cristo nos libertou do jugo da Lei, do pecado e das obras da carne, por isso,
podemos andar em Espírito.
Para ler o texto completo, clique abaixo:
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I. A LEI
ILUSTRADA NA ANALOGIA DO CASAMENTO (Rm 7.1-6)
1. A
metáfora do casamento. O apóstolo Paulo mostra que homem algum pode ser salvo pela Lei, até
mesmo aqueles que a guardam com zelo e devoção. Aqueles que já possuem uma nova
natureza também não serão guardados do pecado por observarem a Lei. A
insistência de Paulo, que se estende desde o capítulo seis com respeito à
função da Lei, agora o conduz a usar o casamento como uma analogia que
contrasta o viver através dos preceitos da Lei e a nova vida em Cristo (Rm
7.1). Paulo usou o casamento para mostrar o nosso relacionamento com a Lei. O
apóstolo ressalta que o contrato de casamento perde sua validade quando um dos
cônjuges morre. Segundo a Bíblia de Aplicação Pessoal, “ao morrermos com
Cristo, a Lei não pode mais nos condenar; estamos unidos a Cristo”. [Comentário: Após demonstrar que todos os cristãos foram batizados em
Cristo, ou seja, tornaram-se participantes da Sua morte, e que, por estarem
mortos, não havia como viverem no pecado, Paulo convoca os seus interlocutores
ao raciocínio (v. 1). A figura da mulher ligada ao marido é um exemplo claro de
que é impossível a alguém que morreu para o pecado permanecer no pecado é
apresentado através desta figura. Enquanto o marido viver, a mulher estará
ligada ao marido pela lei. Porém, morto o marido, qual o papel da lei? A viúva
deveria continuar submissa à lei mesmo após a morte do marido? É certo que,
morto o marido, a lei continuará a existir, porém, a viúva não mais será
alcançada pela lei, por mais que a mesma lei continue a submeter outras
mulheres casadas a seus maridos, ela não submeterá a viúva. Os leitores da
carta de Paulo deviam construir um paralelo entre eles, que morreram para o
pecado, e os não crentes, que permaneciam vivos para o pecado. Quem não foi
batizado (morreu) em Cristo, e que, portanto, não morreu com Cristo, permanece
vivo para o pecado e sob a égide da lei. Quem não é batizado em Cristo, mesmo
sem causa é transgressor "Na verdade, não serão confundidos os que esperam
em ti; confundidos serão os que transgridem sem causa" (Sl 25.3).]
2. A
metáfora da mulher viúva. Os versículos 2 e 3 do capítulo 7, concluem a analogia do apóstolo a
respeito do casamento. Paulo afirma que vivendo o marido, se a mulher se casar
novamente com outro homem, ela será considerada adúltera. Mas, se o marido
morrer ela está livre para se casar novamente. A intenção era mostrar que a
morte de Cristo na cruz, e os cristãos juntamente com Ele (Ef 2.5,6), rompeu os
votos de obediência aos preceitos legais da lei mosaica (Rm 7.4). [Comentário: Quem crê em Cristo, ou seja, quem espera na salvação providenciada
por Deus (esperam em ti), jamais serão confundidos. Porém, todos os que não
confiam em Deus serão confundidos, pois mesmo sem causa são transgressores (Sl
25.3). O que isto quer dizer? Ora, todos os nascidos em Adão são transgressores
por natureza, sem qualquer relação direta com questões comportamentais ou
morais. Mesmo quando não transgridem leis sociais, morais e comportamentais,
são transgressores diante de Deus. Quem confia no Senhor, morre para o pecado e
ressurge uma nova criatura, que jamais será confundida, pois a salvação
providenciada por Deus não advém das regras sociais, morais ou comportamentais,
antes, é salvo por ter sido novamente criado na condição de filhos de Deus. A
lei do marido só tem razão de ser enquanto o marido estiver vivo, pois tal lei
estabelece a sujeição da mulher ao marido, porém, após a morte do marido, a
viúva está livre da lei do marido.]
3. Mortos
para a lei. A
expressão “mortos para a lei pelo corpo de Cristo” é entendida pelos
intérpretes como uma referência à morte de Cristo e a nossa identificação com
Ele. O biblicista C. Marvin Pate observa que “Paulo usa a analogia da morte de
um cônjuge no casamento para ilustrar a morte do crente para a lei, pelo fato
de ele estar unido com Cristo (Rm 7.1-6)”. [Comentário: Paulo convida os seus interlocutores a pensarem e a
chegarem a uma conclusão. Enquanto o marido viver, a mulher será chamada
adúltera se for de outro homem, porém, após morrer o marido, a mulher estará
livre da lei, e não mais será adultera se for de outro homem. As figuras
utilizadas por Paulo, tanto da escravidão quanto da mulher ligada ao marido
pela lei são simples de entender. Diante da lei jamais um escravo seria livre
sem a aquiescência do seu senhor. Caso o senhor viesse a falecer, o escravo
simplesmente fazia parte dos espólios do seu antigo senhor, porém, não seria
livre. Somente a morte do escravo é que o tornava livre do seu senhor, uma vez
que a lei e o antigo senhor nada representavam para o escravo após a sua morte.
Como é sabido, o pecado é um senhor tirano que não concede liberdade a seus
escravos. Somente a morte deixa livre o pecador do seu tirano senhor, no
entanto, seguirá para a eternidade sob condenação eterna. O cristão
efetivamente morre com Cristo, e é por isso que o pecado deixa de exercer
domínio como senhor sobre ele. Quem morre (a morte natural) como servo do
pecado seguirá para a eternidade sob condenação, porém, aquele que morre com
Cristo, é julgado em Cristo para não ser condenados com o mundo. Quem morre
para o pecado em Cristo, ressurge uma nova criatura, e passa a viver para Deus.
O ponto principal que Paulo demonstra neste verso é que, após morrer o marido a
mulher está livre da lei do marido. Do mesmo modo, após o escravo morrer, livre
está do seu senhor. Por certo, ao morrer para o pecado e para a lei, o cristão
é livre da lei e do pecado. A figura da escravidão demonstra que o cristão é
livre do pecado (Rm 6.6), e a figura da mulher ligada ao marido pela lei, que o
cristão é livre da lei (Rm 7.4).]
SÍNTESE DO TÓPICO
(I)
Paulo
utiliza a analogia do casamento para mostrar que fomos libertos do jugo da Lei
e do pecado.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Livre
Um cônjuge não está mais ligado pela lei matrimonial com o consorte
falecido. A morte liberta a ele ou a ela dessa lei. Semelhantemente, a morte de
Cristo, que compartilhamos em nossa união com Ele, nos liberta de todas as
obrigações legais constantes na Lei de Deus.
Algumas pessoas ficam atemorizadas com a ideia de que o cristão não tem
obrigação alguma de guardar a Lei. Paulo deixa claro que precisamos estar
livres dessas obrigações. Por quê? A Lei diz respeito à nossa natureza
pecaminosa e proclama: ‘Não’. O resultado não foi uma repreensão do desejo de
pecar, mas o surgimento de nossas paixões pecaminosas. Pecamos, ao ‘produzir
frutos da morte’. Deus agora nos chama para nos relacionarmos diretamente com
Ele através do Espírito. O Espírito falará à nossa natureza, nos estimulando a
servir e, assim, a ‘produzir frutos para Deus’” (RICHARDS, Lawrence. Guia do
Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por
capítulo. 10ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.743).
II. ADÃO
ILUSTRADO NA ANALOGIA DA SOLIDARIEDADE DA RAÇA (Rm 7.6-13)
1. De
volta ao paraíso. Paulo
considerava Adão o cabeça e o representante da humanidade. A sua Queda levou
todos os homens a caírem com ele. Aqui o objetivo do apóstolo é vincular a
desobediência de Adão à humanidade. Adão pecou, logo todos pecaram. Uma leitura
cuidadosa das palavras de Paulo em Romanos 7 a 11 mostrará a estreita relação
que elas têm com os fatos ocorridos em Gênesis capítulo 3. Por exemplo, a
expressão não “cobiçarás” é uma alusão a Gênesis 3.1-6. Por outro lado, as
palavras de Paulo “eu vivi sem lei” (Rm 7.9), só têm sentido se aplicado na vida
de Adão, pois Paulo como fariseu e judeu que era vivia a lei desde a infância
(2Tm 3.15). Aqui Paulo, como ser humano, se via em Adão. As expressões “eu
morri” e o “pecado me enganou” ganham paralelo com Gênesis 2.17 e 3.13. [Comentário: Estamos todos juntos com Adão e Eva, pois herdamos deles
o veneno do pecado. Ele corre no nosso sangue. É isso o que os teólogos chamam
de pecado original. Adão incluiu a todos na sua decisão, e esta decisão foi
fatal para a raça. Adão agiu como nosso representante e, por essa razão, a sua
escolha nos atinge. Nesta questão não temos liberdade de escolha. A partir do
versículo 6, Paulo demonstra que os judeus não serviam a Deus, antes, só tinham
zelo, porém, sem entendimento (Rm 10.2). Por quê? Porque só é possível servir a
Deus em espírito e em verdade, ou seja, quando o homem é gerado do Espírito, o
mesmo que ser circuncidado no coração. Somente em Cristo é possível ao homem
alcançar a condição de servir a Deus em espírito (Jo 4.23). A condição ‘em
espírito’ só é possível quando o homem é gerado de Deus. É por isso que Jesus
disse a Nicodemos: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do
Espírito é espírito" (Jo 3.6). Somente após o homem ser gerado de novo
através da fé em Cristo torna-se possível servir a Deus (o Espírito Eterno) em
espírito. Os judeus pensavam servir a Deus, porém, a qualquer homem nascido de
Adão (nascido da carne) é impossível servir a Deus. Deus somente ‘conhece’
aqueles que o adoram em espírito e em verdade (Jo 4.24 ; Gl 4.9). Paulo estava
tratando diretamente com os judeus convertidos, como foi demonstrado
anteriormente, e aqui temos outra evidência: somente os cristãos judeus
tentaram servir a Deus através da velhice da letra (lei de Moisés), ponto
abordado por Paulo que não tem relação com os gentios. Só é possível servir a
Deus em novidade de espírito, e, somente Ele, é quem ‘renova’ (cria) no homem
um espírito reto (Sl 51.10). Só é possível ter novo coração e um novo espírito
quando o homem está livre da lei, ou melhor, quando morre para aquilo em que se
estava retido. Como é possível ao homem morrer para o que estava retido (lei)?
Através da circuncisão do coração! Quando Moisés apregoou a circuncisão do
coração ao povo de Israel, tal circuncisão só era possível através da fé em
Deus, Aquele que tem o poder de circuncidar o coração, ou seja, Ele mata o
homem gerado em Adão e concede um novo coração "E o SENHOR teu Deus
circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao
SENHOR teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas"
(Dt 30.6). Somente após alcançar novo coração (novo nascimento) o homem
compreende a palavra de Deus "Porém não vos tem dado o SENHOR um coração
para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de
hoje" (Dt 29.4).]
2.
Lembranças do Sinai. Outra
razão, no entendimento de muitos intérpretes da Bíblia, que levou o apóstolo a
se ver em Adão está na crença judaica de que o primeiro homem viveu os
princípios da Torá (lei), mesmo tendo existido muito antes da sua promulgação
no Sinai. De fato, essa é uma crença muito bem documentada na literatura
rabínica. Filo de Alexandria, filósofo judeu, por exemplo, dizia que a cobiça,
pecado praticado por Adão no paraíso, era a raiz de todos os males. [Comentário: Fílon de Alexandria (25 a.C. – 50 d.C.) foi um filósofo
judeo-helenista que viveu durante o período do helenismo. Tentou uma
interpretação do Antigo Testamento à luz das categorias elaboradas pela
filosofia grega e da alegoria. Wikipédia. A lei de Moisés (velhice da letra) não poderia
proporcionar o novo nascimento. Somente o evangelho de Cristo, que é a água
limpa aspergida pelo Espírito Eterno, faz nascer o novo homem para louvor de
sua glória (Jo 3.5 ; Ez 36.26). É através do evangelho que o homem recebe poder
para ser criado em verdadeira justiça e santidade (Jo 1.12 ; Ef 4.24 ). Após
declarar que os cristãos eram livres da lei (Rm 7.6), do mesmo modo que eram
livres do pecado (Rm 6.6), poderia surgir um entrave na mente de alguns
cristãos: acharem que Paulo estava equiparando a lei ao pecado (Rm 7.7).]
3. A lei
dada a Adão. O fato é
que Adão estava debaixo do mandamento, da ordenança de não comer da árvore do
conhecimento do bem e do mal (Gn 2.17). A intenção do apóstolo é fazer um
paralelo entre o Paraíso e o Sinai, entre a lei de Moisés e a ordenança que foi
dada a Adão. O mandamento que foi dado a Adão para trazer vida se converteu
através da ação da antiga serpente, personificação do Diabo, em morte. Da mesma
forma, a Lei de Moisés que foi dada para trazer vida, mas o pecado, como
personificação do mal, a transformou em um instrumento de morte. [Comentário: É possível inferir de Rm 2.12 que os que sob a lei
pecaram são os judeus, do mesmo modo, que os gentios pecaram sem lei. Isto
demonstra que Paulo estava escrevendo acerca da lei de Moisés, visto que, desde
Adão até Moisés todos pecaram, mesmo não tendo uma lei específica. Não é porque
os gentios não possuíam uma lei que não estavam sob condenação. Do mesmo modo,
não é porque os judeus possuíam uma lei, que não haveriam de perecer. Ou seja,
todos pecaram e estavam debaixo de condenação, e seguiam para a perdição (Rm 3.9).
Isto demonstra que a transgressão à lei mosaica não é o que subjugou a
humanidade ao pecado. Porém, Paulo demonstra que o homem ‘conheceu’ o pecado,
ou seja, passou a ter comunhão intima com o pecado através da lei (Rm 7.7), o
que indica que em Rm 7.7 ele não está se referindo a Lei de Moisés, antes fez
referência a lei perfeita da liberdade concedida ao homem no Éden (Gn 2.16 –
17). Ora, Adão perdeu a comunhão com o criador quando desobedeceu a ordenança
divina que foi dada no Éden, e por causa da ofensa dele, todos pecaram, tanto
gentios quanto judeus. Todos ficaram alienados da glória de Deus, ou seja,
‘conheceram’ o pecado. O pecado subjugou a humanidade por causa da
desobediência à lei dada no Éden. Ora, tanto os que estavam sob a lei de Moisés
quanto os gentios, ambos pecaram, o que demonstra que o pecado decorre da
desobediência de Adão. Desta análise é possível concluir que Paulo faz
referência a dois tipos de lei na sua carta. Uma refere-se à lei de Moisés, e a
outra à lei de Deus outorgada no Éden. Desta última decorre a penalidade
eterna: ‘certamente morrerás’, ou seja, o homem ‘conheceu’ a separação da vida
que há em Deus através da ofensa no Éden. Ora, se o pecado decorre da
desobediência à lei dada no Éden, logo, o ‘eu’ da qual o apóstolo faz alusão
refere-se a algo proveniente de Adão, e que é comum a todos os homens
destituídos da glória de Deus.]
SÍNTESE DO
TÓPICO (II)
Paulo mostra que Adão é o cabeça e
representante da raça humana.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
Professor, reproduza o esquema abaixo e utilize-o para enfatizar o que
dispomos como descendência de Adão e como filhos de Deus.
III. O
CRISTÃO ILUSTRADO NA ANALOGIA ENTRE CARNE E ESPÍRITO (Rm 7.14-25)
1. A
santidade da lei. Um
interlocutor atento poderia argumentar que o apóstolo estaria desqualificando a
Lei, reduzindo-a a algo extremamente mal. Paulo se adianta e responde: “Assim,
a lei é santa; e o mandamento santo, justo e bom” (Rm 7.12). Não há nenhum
problema com a Lei. A Lei é boa e seu propósito também. O problema, portanto,
não estava na Lei, mas naqueles que se regiam por ela. Como o apóstolo já havia
argumentado, o problema estava dentro do homem, no pecado que habitava nele, e
não na existência de uma lei externa (Rm 7.18). [Comentário: Paulo faz referência a carne e o Espírito como senhores
que lutam (cobiçam) entre si para ter domínio sobre o homem. Ora, por que lutam
(cobiçam)? A resposta é clara: eles se opõem um ao outro para que o homem não
faça o seu querer, antes façam o desejo daquele a quem se sujeitarem “Porque a
carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se
um ao outro, para que não façais o que quereis” (Gl 5.17). Quando gerado
segundo Adão, o homem é sujeito ao pecado, e não faz a sua própria vontade,
antes, por ser escravo, serve o pecado para morte ( Rm 6:16 ). O corpo do homem
sujeito ao pecado é instrumento de iniqüidade, ou seja, quem faz uso do corpo é
o pecado. O homem não passa de um instrumento a serviço do seu senhor (Rm 6.13;
Rm 6.19). Quando o homem é gerado de novo segundo o Espírito, é sujeito à
obediência, e não faz a sua própria vontade, antes, como escravo da obediência
para a justiça. O corpo do homem regenerado passa a condição de instrumento de
justiça, ou seja, a justiça faz uso do corpo daquele que lhe é sujeito. O homem
é instrumento nas mãos de Deus. Não há como o homem lutar contra a carne por
ser sujeito à carne como escravo. Quem luta contra a carne é o Espírito, e não
o homem. As obras da carne são próprias à carne por ela fazer o papel de senhor,
da mesma forma que, o fruto do Espírito é próprio do Espírito, e somente o
Espírito Eterno pode produzi-los naqueles que são servos da obediência. É por
isso que Jesus disse: "Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e
eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5).
Observe que Jesus refere-se ao fruto que as varas ligadas n’Ele produzem no
singular (o fruto), do mesmo modo que Paulo anunciou aos Gálatas. O fruto é
único porque pertence ao Espírito, que o produz naqueles que estão ligados a
Cristo, a videira verdadeira. Mesmo após o seu ‘eu’ morrer com Cristo, Paulo
continuou vivendo socialmente como qualquer outro homem, pois ainda dependia do
seu trabalho (At 18.3), tinha pertences pessoais (2Tm 4.13), fazia uso da
tecnologia da época (At 20.38), tinha sonhos e desejos (1Co 9.4 e 1Co 9.5 ) e
opinião própria (At 15.39). O homem desejar ter uma esposa ou a mulher ter um
marido não é ser carnal. O homem ter uma esposa ou a mulher ter um esposo não é
carnalidade (1Co 9.5). Ter opinião diferente, ou discordar de outro irmão não é
algo proveniente da carne (At 15.39). Ser repreensível não e o mesmo que ser
carnal (Gl 2.11). Jesus expulsou os que vendiam no templo, derrubou as mesas e
espalhou o dinheiro dos cambistas, porém, não era carnal. Jesus possuía
sentimentos, emoções, tais como alegria, tristeza, angustia, medo, coragem,
etc., e não era sujeito a carne e as suas paixões. Ter um corpo feito de
matéria (carne e sangue) não é o que vincula o homem ao pecado. Jesus veio em
carne, homem espiritual e espírito vivificante "Assim está também escrito:
O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito
vivificante" (1Co 15.45). Paulo crucificou a carne, o ‘eu’ sujeito ao
pecado, mas continuou de posse do seu tabernáculo terrestre (2Co 5.4). Considerar
que o cristão continua de posse da natureza pecaminosa após ter sido
justificado ‘em Cristo’ é depor contra as Escrituras. Deus declara o homem
justo porque Ele cria o novo homem justo e santo com um novo coração e um novo
espírito. A justificação em Cristo é justificação de vida, e não judicial, como
alguns pensam "Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos
os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça
sobre todos os homens para justificação de vida" (Rm 5.18). J. Sidlow
Baxter disse que: “Permanece, no entanto, um problema sério que precisa ser
resolvido para mim, pelo evangelho. O que desejo agora, além da retidão
judicial, é alcançar a retidão prática de motivo e conduta em minha vida
diária, através de um poder que irá libertar-me da escravidão deste tirano, o
‘pecado que habita em mim’” Baxter, J Sidlow, Examinai as Escrituras – Atos a
Apocalipse, edição. 1989, Ed. Edições Vida Nova, pág. 87. Para Baxter, o homem
desventurado diz de alguém que obteve libertação, porém, a libertação não é
plena, total. Falta ao homem desventurado poder para uma quarta libertação, ou
seja, ele segue a mesma linha de raciocínio que critica (velha escola
puritana), a de que o velho ‘eu’ há de seguir o homem regenerado até o amargo
fim. Ora, Jesus libertou os que crêem para que sejam livres de fato (Gl 5.1). O
poder que Deus concedeu aos seus é suficiente para que sejam criados filhos de
Deus (Jo 1.12). Cristo afirmou que Ele e o Pai estariam com os seus todos os
dias, porque viriam e fariam neles morada. Diante da declaração de Jesus, fica
impossível conceber que o pecado continue a habitar o crente, ou pior, que a
casa fique dividida entre dois senhores: a obediência e o pecado. O que se
percebe através da exposição de Baxter, é que há uma confusão quanto às
questões relativas à conduta do cristão. Ele esquece que todos os cristãos
tropeçam em muitas coisas (Tg 3.2), porém, aquele que não tropeça quanto a
exposição do evangelho, este é perfeito, visto que é participante da natureza
divina (Cl 2.10), sendo como Cristo aqui neste mundo (1Jo 4.17). Tiago avisou
do perigo que ronda aqueles que desejam ser mestres: o duro juízo de Deus
reservado para aqueles que prevaricarem quanto ao oficio de ensinar o
evangelho. O aviso é solene: todos tropeçamos. Ou seja, somos passíveis de
erros, mas aqueles que exercem o ministério como mestres não podem cometer
erros quanto a palavra da verdade. Só os perfeitos, ou seja, aqueles que estão
em Cristo não tropeçam na palavra que lhes concedeu a perfeição. Além de se
tornar perfeito em Cristo, o cristão tem poder para exercer domínio próprio
“MEUS irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais
duro juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em
palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg 3.1
– 2). Este texto foi extraído, na íntegra, sem alterações, do site http://www.estudobiblico.org/pt/detalhe/ver/romanos-capitulo-7-parte-ii-199]
2. A
malignidade da carne. Não há
dúvida que todo cristão entende bem essas palavras de Paulo em Romanos 7.22,23.
Essas palavras revelam o conflito entre a nossa nova natureza em Cristo e o
“velho homem” residente em nós. É a guerra entre a carne e o espírito. A quem
essas palavras de Paulo se destinam? O contexto parece não deixar dúvidas de que
Paulo tinha em mente os crentes que, pelo fato de serem cristãos, acreditavam
que poderiam viver vitoriosamente sem o Espírito Santo. Embora Paulo tenha
deixado para tratar sobre o ministério do Espírito Santo no capítulo 8 de
Romanos, ele já chama aqui a atenção para o viver “em novidade do Espírito” (Rm
7.6) como forma de vencer as inclinações da carne. [Comentário: Quando Paulo disse: “Eu sou carnal” ( Rm 7:14 ), ou:
“...e vivo, não mais eu...” ( Gl 2:20 ), a qual ‘eu’ ele se referia? Seu eu
psíquico? Histórico? Social? Quando lemos: “Porque eu sou o menor dos
apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a
igreja de Deus" ( 1Co 15:9 ), verifica-se que o ‘eu’ a que Paulo se refere
não é o ‘eu’ que foi morto com Cristo, mas sim ao ‘eu’ histórico do apóstolo.
Tudo que Paulo realizou no passado enquanto era chamado de Saulo, foi realizado
por ele mesmo, ou seja, o apóstolo dos gentios não nega o seu passado, ou seja,
sua história de vida. Isto porque o mesmo homem que perseguiu a igreja de Deus
passou a anunciar o evangelho de Cristo, ou seja, o perseguidor agora é
perseguido (Gl 1:23 ; 1Tm 1:13). Paulo também não renega o seu ‘eu’ social,
visto que, quando preso, apresentou-se como cidadão romano, e se defende com
base nas leis vigentes: "E, quando o estavam atando com correias, disse
Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito açoitar um romano, sem ser
condenado?" ( At 22:25 ; At 25:16 ). Paulo trazia na lembrança a sua
origem, visto que fora circuncidado ao oitavo dia, pertencente a linhagem de
Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreu, fariseu, cidadão romano, etc (
Fl 3:5 -6 ; At 22:28 ), tais relatos demonstram que, o ‘eu’ que morre com
Cristo não se refere a questões socioculturais. Então, qual ‘eu’ foi
crucificado com Cristo? O ‘ego’? (‘Ego’ diz da consciência inferior do
indivíduo. Resulta da soma total dos pensamentos, ideias, sentimentos,
lembranças e percepções sensoriais que tem por funções a comprovação da
realidade e a aceitação, mediante seleção e controle, de parte dos desejos e
exigências procedentes dos impulsos que emanam do indivíduo). Quando lemos as
cartas paulinas fica evidente que os seus pensamentos, lembranças, sentimentos,
percepção sensoriais, desejos, etc., permaneceram inalterados. Qual era o sentimento
de Paulo acerca dos seus compatriotas? Ele mesmo demonstra que desejaria ser
separado de Cristo por amor aos seus irmãos segundo a carne ( Rm 9:3 ). O que
isto quer dizer? Este amor pelos seus compatriotas demonstra que os
sentimentos, as lembranças e as emoções do apóstolo dos gentios não foram
alteradas após o seu ‘eu’ deixar de existir. O desejo de Paulo permaneceu
inalterado, mesmo após o seu ‘eu’ não mais viver ( Rm 10:1 ). Isto significa
que ‘morrer com Cristo’ não é o mesmo que ignorar as percepções sensoriais do
corpo, da existência e dos registros que possuimos na memória ( ‘Ego’ por
Jung). O ‘eu’ carnal, ou o ‘eu’ que ‘não mais vive’ não diz do “centro da
consciência superior do individuo, que é a soma total dos pensamentos, idéias,
sentimentos, lembranças e percepções sensoriais, extra-sensorial, e
não-sensorial, que também é nomeado pela psicologia moderna de ‘eu’”. Paulo não
estava renegando os impulsos instintivos da sua personalidade, ou estinguindo o
seu reservatório inicial da energia psíquica como indivíduo. O ‘eu’ que Paulo
faz referência não tem relação com o ‘ego’, o ‘id’ e o ‘superego’ da
psicanálise freudiana. O ‘eu’ descrito pela psicanálise compõe-se do ‘id’, que
é “instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes e regido pelo
princípio do prazer”. Exige satisfação imediata, é a energia dos instintos e
dos desejos em busca da realização desse ‘princípio do prazer’, e do
‘superego’, que representa a “censura das pulsões que a sociedade e a cultura
impõem ao ‘id’, impedindo-o de satisfazer plenamente os seus instintos e
desejos, e se manifesta indiretamente na conciência, sob forma da moral, como
um conjunto de interdições e deveres, e por meio da educação, pela produção do
"eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa”. Quando Paulo
anuncia que seu ‘eu’ morreu com Cristo, não se ocupa dos instintos e nem dos
impulsos orgânicos do homem. Ele também não escreveu acerca da moral e do
conjunto das interdições e deveres que tem o fito de tornar o homem virtuoso de
‘per si’. As obras da carne que Paulo enumera aos cristão da Galácia não
guardam relação alguma com os instintos e desejos do ‘id’ freudiano. Da mesma
forma, o fruto do Espírito não tem relação alguma com o ‘eu ideal’ proveniente
do ‘superego’ (Leia carne versus Espírito). O ‘eu’ a qual Paulo faz referência,
que é carnal ( Rm 7:14 ), não se refere a uma pessoa específica e nem diz de
uma personalidade com sentimentos e emoções. O ‘eu’ a que ele se refere aponta
uma condição. Como falar de uma condição? Ora, para falar de uma condição é
essencial associá-la a um objeto ou pessoa. Para falar acerca da condição do
‘eu’, ou da condição de sujeição ao pecado, o apóstolo fez referência ao seu
passado, utilizando o ‘eu’ como figura. Através do ‘eu’, Paulo ilustra, ou
melhor, demonstra a condição de todos os homens que não ‘conheceram’ a Cristo.
Desta forma, temos na argumentação paulina a condição do homem carnal
desempenhando o ‘papel’ principal. Através de uma análise da frase
(proposição): ‘Eu sou carnal’, utilizando ferramentas pertinentes à lógica, é
possível identificar três componentes distintos:
a) denotação: o estado de coisas que a
frase afirma ser o caso;
b) conotação: os sentimentos, idéias ou
emoções provocadas pela frase no auditor, e;
c) ênfase: a importância relativa que o
autor atribui aos diferentes elementos da frase.
O componente de maior
importância para a análise está na importância relativa que Paulo atribuiu aos
diferentes elementos da frase (ênfase): ‘Eu sou carnal’. O estado do ‘eu’ na
frase é a ‘carnalidade’ - denotação. A idéia que Paulo enfatiza é a sujeição do
homem ao pecado como escravo – conotação. Quando afirmou a condição do ‘eu’,
Paulo atribui maior importância ao predicativo (carnal) do sujeito (eu) -
ênfase. Portanto, durante a interpretação do verso: “Eu sou carnal”, devemos
atentar para o elemento de maior importância na preposição, o predicativo
‘carnal’, e considerar o ‘eu’ como elemento coadjuvante ou como figura, algo
essencial para se demonstrar a condição do homem sem Deus. Para explicar a
condição daqueles que estão divorciados do Criador, o apóstolo Paulo lançou mão
de uma figura, o ‘eu’, onde fosse possível demonstrar a realidade do homem sem
Deus. Como ele estava tratando diretamente com os cristãos judeus, havendo
entre eles alguns judaizantes, não era de bom alvitre dizer: ‘Vocês são
carnais, vendidos como escravos ao pecado’ ( Jo 8:33 ). Por amor aos seus
compatriotas, Paulo fez referência a sua antiga condição utilizando o ‘eu’ como
figura ( 1Co 4:6 ). Após afirmar qual era a sua antiga condição sob a égide do
pecado (Eu sou carnal), os compatriotas do apóstolo dos gentios teriam
elementos para concluir que, ser descendente de Abraão, israelita, hebreu de
hebreu ou pertencente à alguma tribo de Israel não livra o homem do jugo do
pecado. A proposição (afirmação) ‘Eu sou carnal’ tem a finalidade de apresentar
a condição pertinente à natureza gerada segundo o pecado, ou seja, a condição
do homem vendido como escravo ao pecado em decorrência da ofensa de Adão ( Rm
7:14 ). Todos os descendentes de Adão são carnais, visto que, ser carnal é
condição proveniente do nascimento natural. Para ser espiritual é necessário
nascer de novo segundo o último Adão, que é Cristo. A carne não é aniquilada
através do ascetismo pessoal. Para o homem livrar-se da carne é necessário ter
um encontro com a cruz de Cristo, diferente do ascetismo, que consiste na
negação de desejos físicos e psíquicos em busca da espiritualidade. Este texto
foi extraído, na íntegra, sem alterações, do site http://www.estudobiblico.org/pt/detalhe/ver/romanos-capitulo-7-parte-ii-199]
3. A
velha natureza. Nossa
antiga natureza está constantemente tentando rebelar-se contra Deus. Não temos
como lutar contra o pecado usando a nossa força. O Espírito Santo, que habita
em nós, ajuda-nos a vencer a velha natureza. [Comentário: Há uma guerra incessante acontecendo na vida de todos. Não
é a batalha da lei versus a graça. Esta já foi ganha por Jesus na cruz, mas a
guerra incessante é do Espírito versus carne: “Porque a carne milita contra o Espírito, e o
Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si...” (Gl 5.17). Neste
texto, carne não significa corpo ou matéria, não significa o palpável, o gerado
e concebido por uma mulher. Não é o corpo físico. Por isso é que o nosso corpo
não é a sede de todos os pecados. Quem pensa dessa forma está desvirtuando a
Palavra de Deus deixada para orientação de nossas vidas. Há cristãos que estão
equivocados com esta passagem da Bíblia. Para muitos, o seu corpo tem sido o
culpado vital de seus fracassos. Porém, esse texto faz alusão à natureza
humana. No contexto, os pecados mencionados como obras da carne são pecados
espirituais manifestados através do corpo (Gl 5.19-21). A origem, a sede é a
natureza humana; o corpo é apenas um instrumento que pode ser usado para
satisfação da carne ou do Espírito (Gl 5.16 e 24). Andar a partir do senso e
razão pessoal implica em viver sem a orientação de Deus, executar o próprio
querer sem se importar com o querer de Deus. E é justamente nesse ponto que
muitos cristãos têm tombado e perdido a guerra. Policiam tanto o corpo e se
esquecem de tomar conta de suas intenções e vontades. Não conseguem se render
inteiramente a Deus e ao Espírito Santo, que é o agente ativo na vida do
cristão. O campo desta batalha é a psiquê humana, isto é, a carne, as vontades
pessoais, a razão humana lutam incansavelmente contra o Espírito. São duas
vontades lutando em uma só mente. Por isso, o apóstolo Paulo escreveu: “Porque
eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer
o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro,
mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.18-19).]
SÍNTESE DO
TÓPICO (III)
Paulo faz uma analogia para mostrar a
luta da carne com o Espírito.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“O conflito entre a Lei e o pecado (7.14-25)
Esse conflito é inevitável. Duas leis se chocam — a lei do
pecado e a lei de Deus. Podemos chamá-las de lei carnal e lei espiritual.
Entretanto, esse conflito pode ser facilmente dominado pelo crente, se ele
dominar o pecado pela lei espiritual. O campo de batalha entre essas duas forças
é interior ao homem. Paulo ilustra o coração como o interior de nossas vidas
para mostrar esse conflito.
A lei é espiritual (v.14). Mais uma vez o apóstolo declara que
o problema não está na lei de Deus, mas na natureza pecaminosa do homem. Quando
ele declara ‘sou carnal’ está, na verdade, dizendo que ele é feito carne, isto
é, sujeito à lei do pecado que opera na carne. Ele diz, também, que é ‘vendido
sob o pecado’, ou, à escravidão do pecado. Significa que, queira ou não, está
na sua carne, a tendência pecaminosa que o escraviza a faz de sua natureza
pecaminosa a sede de operações para o pecado. Essa escravidão envolve toda a
personalidade do homem. Porém, esse envolvimento encontra uma barreira para o
domínio total do pecado, que é a lei espiritual.
O conflito entre lei e o pecado (v.15). Nestas palavras o
apóstolo se sente o centro do conflito no seu interior, e não consegue entender
porque pratica certos atos que contrariam sua real vontade. Ele vê o conflito
entre o bem e o mal, e, às vezes, esse conflito é tão intenso que ele não
consegue descobrir o ‘porquê’ desse conflito que o leva fazer certos atos”
(CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5ª
Edição. RJ: CPAD, 2005, pp.85,86).
CONCLUSÃO
Mesmo
vivendo debaixo da graça o crente experimenta o conflito entre sua antiga
natureza e sua nova vida em Cristo. Como viver uma vida nova, se a velha vida
ainda continua querendo ocupar seu antigo espaço? A resposta do crente está na
compreensão de que a solução a esse conflito está em responder positivamente à
nova vida espiritual, dependendo inteiramente da graça de Deus. [Comentário: Noa capítulo 8 e versículo 1º, Paulo nos dá a revelação
do que é andar com Cristo, do que é estar livre do pecado. Já não há acusação
sobre nós, pois temos o sangue de Cristo sobre nossas vidas para nos purificar,
porém, de forma incisiva e direta, tem uma condicionante para estar livre de
acusação: “...que não andam segundo a carne...”. Paulo coloca um condicionante,
e um condicionante que é determinante para ser Cristão: Andar no Espírito. Crendo N’Ele e buscando a Ele, temos a
inclinação para o Espírito Santo!]
“NaquEle que me garante: "Pela graça sois
salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”,
Francisco
Barbosa
Hoje, em
Campina Grande-PB
Maio de 2016
PARA REFLETIR
A respeito da Carta aos Romanos, responda:
O que Paulo desejava mostrar com a metáfora do casamento?
Paulo
desejava mostrar que homem algum pode ser salvo pela Lei, até mesmo aqueles que
a guardam com zelo e devoção. Paulo usou o casamento para mostrar o nosso
relacionamento com a Lei. O apóstolo ressalta que o contrato de casamento perde
sua validade quando um dos cônjuges morre. Segundo a Bíblia de Aplicação
Pessoal “ao morrermos com Cristo, a Lei não pode mais nos condenar; estamos
unidos a Cristo”.
Como pode ser entendida a expressão “mortos para lei pelo corpo de
Cristo”?
A
expressão “mortos para a lei pelo corpo de Cristo” é entendida pelos
intérpretes como uma referência à morte de Cristo e a nossa identificação com
Ele.
Segundo Paulo, quem é o cabeça da raça humana?
Paulo
considerava Adão o cabeça e o representante da humanidade.
Segundo Paulo, a lei e seus propósitos são bons?
Sim.
A Lei é boa e seu propósito também. O problema, portanto, não estava na Lei,
mas naqueles que se regiam por ela.
Quem pode nos ajudar no embate contra a velha natureza?
O
Espírito Santo, que habita em nós.
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
A Lei, a carne e o Espírito
Sobre o
papel da Lei —
Lembre-se sempre de que um dos métodos argumentativos do apóstolo em suas
epístolas é o de criar perguntas retóricas a fim de ensinar determinada
doutrina. Como por exemplo: se pela Lei eu conheço o pecado, então a Lei é má?
O apóstolo responderá imediatamente: De modo nenhum (Rm 7.7). Se a Lei é de
Deus, ela é boa e santa. Mas, então, ela se tornou morte para mim? — De modo
nenhum (Rm 7.13) — mais uma vez responde o apóstolo.
No
versículo 7, o que vemos é o apóstolo Paulo rejeitando a ideia de que a Lei é
má, ou é pecado. Pelo contrário, o apóstolo afirma que é pela Lei que
conhecemos o pecado. Ou seja, não que pela Lei consumamos o pecado, mas o
conhecemos. Aqui há uma diferença gigante entre o conhecer o pecado e o
praticar o pecado. Alguém pode perguntar: Então o que fez o ser humano pecar?
De pronto o apóstolo responde: “Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento,
despertou em mim toda a concupiscência: porquanto, sem a lei, estava morto o
pecado” (v.8). Logo, a Lei não é pecado.
No
versículo 13, mais uma pergunta retórica: a Lei tornou-se morte para mim? A
resposta do apóstolo é mais um vigoroso: De modo nenhum. Na sequência do texto
o apóstolo Paulo mostra que o que ocorre é exatamente o contrário: quem produz
a morte não é a Lei, senão o pecado. O pecado é quem produz a morte no ser
humano. A Lei o desmascara e sobre ele nos convence.
Lei e
Pecado — Lei e
Pecado são elementos diametralmente opostos. A santidade da Lei e em relação ao
pecado é de uma seriedade e solenidade na epístola de Romanos ao ponto de o
apóstolo deixar claro de que a Lei não é a ministradora do pecado ou da morte.
Digamos que ela agrava o Pecado.
Há um
ditado popular que diz: “Tudo o que é proibido é mais gostoso”. A partir do
momento em que o ser humano toma contato com a proibição é como se houvesse uma
revolta contra aquela proibição e uma necessidade imensa de violar aquilo que
está proibido. E nossa natureza pecaminosa. Se não quebrada a norma, nenhuma
consequência. Mas no caso da pessoa que viola tal norma, sofrerá ela as
consequências da norma. Por esse aspecto, podemos dizer que a norma agrava a
violação, pois se não houvesse a norma não haveria a violação. Se houvesse Lei,
não haveria o pecado. A graça de Deus apresentada pelo apóstolo Paulo implica
num compromisso muito sólido e vivo com a ética do Reino de Deus e sua justiça.